Professores comentam tema da redação da Fuvest

Prova da Fuvest foi aplicada nestes domingo (6) e segunda-feira (7), em várias cidades de São Paulo

por Camilla de Assis seg, 07/01/2019 - 17:56
Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo Tema da Fuvest retomou o passado para compreensão do presente Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

Com tema “a importância do passado para a compreensão do presente”, mais de 35 mil estudantes fizeram a redação da segunda fase da Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest), realizada nestes domingo (6) e segunda-feira (7), em São Paulo. Segundo professores, a temática foi uma forma de fazer os estudantes analisarem a complexidade da carga histórica no reflexo das conjunturas atual e futura.

Segundo o docente Felipe Rodrigues, o tema “abriu um leque” para que o estudante pudesse abordar diversos assuntos. “O estudante pode abordar a crise política, o avanço da indústria, então ele pode seguir por diversos ramos”, pontua o professor. Ainda segundo Rodrigues, o candidato que foi em busca de trazer a história por meio de filósofos e pensadores conseguiu ter sucesso na redação. “Bourdieu vai fazer um apanhado histórico, mas acho muito mais viável a gente falar sobre Emile Durkheim, quando ele vai falar um pouco sobre educação”, salienta.

Diferentemente da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segundo o professor Felipe Rodrigues, o estudante que fez a prova da Fuvest precisou finalizar a redação com um ar mais filosófico. “Seria legal fazer um apanhado da educação, para falar sobre novos métodos de educação, fazer um apanhado histórico. Em seguida, jogar a ‘educação bancária’ paulofreiriana, e fechar de uma forma bem filosófica. Se tratando de um tema da Fuvest, há essa exigência desse fechamento filosófico, diferente de um tema do Enem, que tem essa proposta de conclusão”, explica.

Já de acordo com o professor Diogo Didier, o tema da Fuvest resgata a “necessidade de se compreender as bases históricas para não cometer as mesmas atrocidades no presente e no futuro”. O diferencial, ainda segundo o docente, foi o fato de que a banca optou por aplicar uma frase afirmativa, não podendo o candidato negar a existência dos fatores históricos para compreensão do presente. “Caso ele tivesse feito isso, poderia certamente ser prejudicado na nota”, pontuou Didier.

O professor ainda considera que o atual cenário político trouxe uma “onda anti-intelectualismo” que nega pesquisas científicas e comprovações históricas. “Vale lembrar que o aluno poderia citar inclusive o recente e misterioso incêndio no museu nacional do Rio de Janeiro como propulsor dessa onda de negação do passado. Ainda caberia mencionar a invalidação da Ditadura Militar pelos negacionistas históricos atuais, bem como a exaltação de torturadores desse período, assim como de outras eras mais nefastas como o Holocausto na II Guerra Mundial”, sugere Didier.

Em comum acordo, os docentes ainda pontuaram a facilidade de discussão do tema, apesar de sua polêmica. “Foi um tema fácil de se discutir, apesar de delicado frente a polarização de posicionamentos políticos no país atualmente. Acredito que o único candidato que teve dificuldade foi aquele que não compreendeu ainda a importância do passado”, finalizou Diogo Didier.

O vestibular da Fuvest ofertou 8.362 oportunidades de ingresso na Universidade de São Paulo (USP), com vagas para ampla concorrência, escola pública e escola pública PPI (autodeclarados pretos, pardos ou indígena). A aplicação das provas foi realizada em 19 cidades de São Paulo, com duração de quatro horas cada dia.

Neste ano, o sistema da Fuvest mudou, sendo alterada a quantidade de dias de realização das provas. Antes com três dias consecutivos, a segunda fase era composta de provas de português e redação, no primeiro dia; disciplinas vistas no ensino médio, no segundo; e conhecimentos específicos do curso desejado, no terceiro. A partir deste ano, os candidatos realizam, em dois dias de prova, as disciplinas de redação e português, além dos conhecimentos específicos do curso.

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