Office-boy: profissão que se reinventa na era digital

Conheça histórias e desafios dos meninos do escritório em três gerações distintas da profissão

por Alex Dinarte sab, 13/04/2019 - 14:12

Disposição, agilidade e juventude sempre foram características dos office-boys, profissão que é comemorada neste sábado (13). O cargo, geralmente atrelado ao primeiro emprego, faz com que muitos jovens tenham a oportunidade de encarar as dificuldades da vida adulta, aprender e adquirir mais responsabilidades, já que transportam documentos, procurações e até mesmo valores em dinheiro, e ainda começar a planejar o futuro seja dentro ou fora da empresa.

Mas, ao longo dos anos, a profissão que lida diretamente com papéis, burocracias, filas de espera e otimiza a dinâmica de uma empresa encontrou uma barreira: a era digital. A possibilidade dos meninos do escritório serem banidos das firmas cresceu de maneira considerável, já que os serviços bancários passaram a ser feitos pela internet, e muitos documentos hoje são digitalizados e enviados por e-mail. As procurações e assinaturas também ficaram acessíveis no mundo virtual.

Mesmo diante de um mundo ao alcance de um toque, os office-boys encontraram uma maneira de se reinventar. Office-boy durante 10 anos em empresas de engenharia e corretoras de valores na década de 1980, Mauro Proença, 53 anos, recorda com bom humor do tempo no qual era normal sofrer com as brincadeiras dos quase 40 office-boys com quem dividia os serviços. "Lembro que, no dia que eu cheguei, a primeira coisa que me falaram foi para ir ao Departamento Pessoal pedir minhas férias. Na inocência, fui e fiz o pedido enquanto os outros riam da minha cara", recorda.

Hoje atuando como músico e fotógrafo, Proença ressalta que a dificuldade de comunicação era um grande empecilho na época, pois a tecnologia pouco se fazia presente naquele período. "O que existia era só ficha de telefone público, tínhamos que andar com fichas no bolso para falar com a empresa caso algum problema acontecesse durante o serviço", comenta.

Office-boy nos anos 1980, Mauro Proença hoje é músico e fotógrafo | Foto: Arquivo Pessoal

Os anos 2000 podem ser considerados como a fase de transição nas tarefas de um office-boy. Foi durante este período que o barman Denis Carvalho, 35 anos, teve a oportunidade de atuar como o "boy da firma" e encarar com seriedade as atribuições do cargo. "Portar documentos e procurações em meu nome para cumprir trâmites pela empresa em outros municípios eram procedimentos de suma importância e que exigiam responsabilidade", contra ele, que acredita que com a desburocratização, algumas atividades deixaram de ser prioridades no trabalho dos boys. "Hoje a entrega de documentos aqui e ali já não é mais necessária, tudo vai por e-mail. O office-boy acabou perdendo o valor perante às empresas".

Hoje reponsável por elaborar e preparar coquetéis para clientes cada vez mais exigentes, Carvalho acredita que aprendeu muito durante os sete anos que circulou com malotes de ofícios pelas ruas de São Paulo. "A facilidade de utilizar cálculos matemáticos, o aprendizado tecnológico, além de conhecer diversos lugares, pessoas e fazer viagens importantes que serviram tanto para a empresa quanto para o meu lado pessoal me ensinaram muito. Carrego comigo até hoje o que aprendi como office-boy", conta.

Office-boy nos anos 2000, Denis Carvalho hoje é barman | Foto: Arquivo Pessoal

Quem está vivendo na pele às adaptações dos office-boys na era digital é Danilo Gove, 21 anos, que trabalha desde 2015 em uma copiadora. O rapaz acredita que a tecnologia ajudou a reduzir a demanda de trabalho. "A função continua sendo a mesma, ainda vou aos bancos, faço entrega e retirada de materiais para os serviços que a empresa produz", conta.

Gove, que também é estudante de Radiologia, diz que o cargo ainda tem importância nas empresas, pois, mesmo quando o volume de serviço é reduzido, o jovem consegue adquirir conhecimentos, além de mostrar proatividade. "Ajudo no acabamento dos materiais, nas plotagens, minha chefe e outros funcionários com alguns favores particulares que, mesmo não sendo minha responsabilidade, são aprendizados importantes. Hoje faço de tudo um pouco dentro da empresa", fala. "Particularmente trabalho em uma região privilegiada e não preciso ir a lugares muito distantes, mas tenho amigos que seguem a rotina e as mesmas funções exercidas por office-boys de antigamente, como cartório, agências dos Correios, além das entregas e retiradas de documentos", complementa.

Office-boy nos anos 2010, Danilo Gove aproveita os aprendizados da profissão e já pensa no futuro cursando ensino superior | Foto: Arquivo Pessoal

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