O empreendedorismo negro e a relação com a oportunidade

Enquanto 71,5% da população branca abre um negócio com planejamento bem articulado, 55,56% da população negra começa com essa mesma estratégia

por Bruna Oliveira qua, 20/11/2019 - 10:27
Arthur Souza/LeiaJáImagens Alana Barbosa é proprietária do Brechó NUA Arthur Souza/LeiaJáImagens

Abrir um negócio não é fácil: além da ideia, o empreendedor deve realizar uma série de etapas que envolvem planejamento, definição de mercado, marketing, entre outras. No entanto, muitas vezes a necessidade bate à porta e, para prover o próprio sustento ou da família, essas etapas são esquecidas.

Em outubro, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), divulgou dados sobre empreendedores negros e brancos no Brasil. O levantamento revelou que 55,56% dos empresários afrodescendentes abrem um negócio por oportunidade, ou seja, realizaram um planejamento bem articulado. Já o percentual de brancos nesse mesmo contexto sobe para 71,5%.

“Os dados refletem os números díspares entre a população negra e branca que também existe nos dados sociais. O negro recebe menos que o branco, tem oportunidades inferiores, visto que a população branca possui um nível de qualificação maior. É de fato uma conjuntura que também vai refletir na questão do empreendedorismo”, declara o economista Rafael Ramos.

O panorama traçado pela Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que tem o apoio do Sebrae e mede a evolução do empreendedorismo, também aponta que entre os empresários que possuem renda familiar acima de três salários mínimos, 22,9% são negros e 42,4% são brancos.

Em 2003, o músico Sérgio Sombra, na época um jovem negro de 23 anos, resolveu unir o amor que tem pela música com a chance de possuir um negócio capaz de render o sustento necessário para si e seus dois filhos. “Não foi nada planejado, o estúdio de música era um espaço que tinha na casa dos meus pais, no qual eu estudava alguns instrumentos musicais e ensaiava com meus amigos. Só após alguns anos percebi que era algo profissional”, explica o empreendedor que é proprietário do Estúdio Raízes, localizado no bairro do Sancho, no Recife.

Ensino superior

A GEM também fez um recorte referente à escolaridade dos empresários, visto que de acordo com a pesquisa, a proporção de pessoas negras com nível superior completo é sempre a metade verificada entre os brancos. Os números indicam que na Taxa Total de Empreendedores (TTE), 6,6 % dos negros possuem graduação, enquanto entre os brancos o percentual sobe para 12,8%.

Foto: Arthur Souza/LeiaJáImagens

A dona do brechó NUA Clothing, Alana Barbosa, 23, é uma das pessoas que se encontram dentro da estatística dos negros empreendedores que possuem nível superior. “Fiz o curso de publicidade e propaganda, porém percebi que não queria ser publicitária, mas gostaria de trabalhar com vendas, então continuei trabalhando com artesanato, junto com a minha mãe”, explica.

A empreendedora também conta que, com o tempo, resgatou o sonho antigo de estudar e se formar no curso de design de moda, o qual, segundo ela, se trata de graduação burguesa e branca. "É muito raro ver uma pessoa negra dentro de uma universidade fazendo um curso superior nessa área", disse Alana. 

“Me fortaleci em outra amiga minha negra que também fazia moda e a partir daí passei a consolidar o meu brechó, que já existia a um tempo, já que eu morava sozinha e vendia as roupas que não utilizava mais para vender”, conta a empreendedora, que uniu publicidade e moda e faz com que seu empreendimento, localizado na capital pernambucana, conte com mais de oito mil seguidores no Instagram.

Conheça mais sobre a história da empreendedora Alana Barbosa:

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