Sebrae: empresários negros foram mais afetados na pandemia

Levantamento do Sebrae em parceria com a FGV mostra, por exemplo, que entre os empresários endividados, os empreendedores negros são maioria

por Nathan Santos seg, 06/07/2020 - 17:56
Pixabay . Pixabay

Uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) revelou, nesta segunda-feira (6), que os empreendedores negros foram os mais impactados pelos efeitos da pandemia da Covid-19, entre os donos de pequenos negócios no Brasil. A partir das conclusões obtidas, o estudo indicou que 70% dos negócios conduzidos por negros estão situados em cidades que tiveram fechamento parcial ou total dos empreendimentos, enquanto 60% dos negócios comandados por brancos estavam em locais com restrições.

Realizado de 29 de maio a 2 junho, o estudo contou com a participação de 7.403 empresários entrevistados. Um dos recortes revelou que 39% dos empreendedores brancos têm empresas onde aconteceu maior reabertura, “ao contrário dos negros, que são apenas 29%”.

“A amostragem também identificou que 46% dos negócios liderados por negros tiveram que interromper temporariamente o funcionamento, enquanto 41% dos negócios mantidos por brancos tiveram interrupção temporária”, detalhou o Sebrae, por meio da Agência Sebrae de Notícias. O estudo, batizado de “O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, quarta edição, foi desenvolvido em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Ainda segundo a pesquisa, os negócios mantidos por negros sofreram mais impacto porque “não conseguiram funcionar”, principalmente, de acordo com o Sebrae, “por atenderem em sua maioria (45%) somente de forma presencial”. Quarenta por cento dos empresários brancos, por outro lado, continuaram com suas empresas com o auxílio de ferramentas digitais.

“A amostragem identificou ainda que, entre os empreendedores negros, a maior proporção (70%) é de Microempreendedores Individuais (MEI), em sua maioria mais jovem, formado por mulheres e com menor nível de escolaridade em comparação aos brancos”, acrescentou o Sebrae.

Internet

O levantamento traz também um recorte exclusivo sobre redes sociais. Segundo a pesquisa, os pequenos negócios dirigidos por negros usam menos esses recursos para vendas, no entanto, demonstram vontade em passar a utilizar a grande rede para efetuar suas transações.

“Enquanto 48% dos empreendedores brancos já vendiam com auxílio da Internet antes da pandemia, entre os negros são 45%. Por outro lado, entre os que não utilizavam ainda o ambiente online, 21% dos negros responderam que em breve pretendem utilizar, enquanto 17% dos brancos responderam que têm interesse. Entre os que conseguiram expandir as vendas, os negros venderam menos online (37%) do que os brancos (41%). No entanto, dos empreendedores negros que vendem pela Internet, a maior parte utiliza o Whatsapp (88%), enquanto entre os brancos, sites próprios e Facebook são mais utilizados”, detalhou o Sebrae.

Dívidas

Carlos Melles, presidente do Sebrae, revelou que os empresários negros são maioria entre os empreendedores endividados. Melles alertou para dificuldade de acesso a crédito enfrentada pelos donos de negócios. “A dificuldade de acesso a crédito é um grande obstáculo enfrentado pelos pequenos negócios no momento, atingindo com mais força os empreendedores negros que, além de mais endividados (69%), tiveram mais recusa dos bancos”, declarou o presidente do Sebrae.

Conforme o levantamento, 55% dos empreendedores brancos tiveram acesso a crédito negado. O percentual entre os empresários negros foi de 61%.

Os motivos que explicam as desigualdades entre empresários negros e brancos não foram revelados no texto de divulgação da pesquisa. A seguir, o Sebrae destaca as principais conclusões percentuais do estudo:

* Empreendedores negros foram mais afetados pelas restrições de circulação de pessoas, sendo 70% dos negócios localizados em municípios onde houve fechamento parcial (61%) e fechamento total (9%).

* Empreendedores negros tiveram mais interrupção temporária (46%) do que os brancos (41%).

* Entre os negócios conduzidos por negros, 45% não conseguiram funcionar por só existirem presencialmente, entre os brancos a proporção foi 36%.

* Entre as empresas que conseguiram funcionar, 40% são lideradas por brancos que fizeram uso de ferramentas digitais como site e aplicativos. Entre os empreendedores negros, 32% conseguiram funcionar com o uso desses recursos.

* Entre os que conseguiram expandir as vendas, os empresários brancos (41%) passaram a vender mais online do que os negros (37%).

* 87% dos negros e brancos acusam diminuição de faturamento. * Há entre os empreendedores negros, maior proporção de MEI, negócios mais recentes e que faturam menos (39% a menos).

* Entre os empreendedores negros, é maior a proporção de jovens, mulheres e pessoas com baixa escolaridade.

* Os negros utilizam menos redes sociais, aplicativos ou internet para vender, mas gostariam mais de passar a usar. Enquanto os negros usam proporcionalmente mais WhatsApp, os brancos usam mais Facebook e sites próprios.

* É maior a proporção de negros com empréstimos (69%). Entre os negros que têm dívidas, dois em cada três estão em atraso (relação maior que a dos brancos).

* Negros e brancos pediram empréstimo em bancos em proporção semelhante, mas os negros tiveram maior recusa (61%), enquanto para os brancos foi de 55%. O valor solicitado pelos negros (R$ 28 mil) é 26% mais baixo do que o solicitado pelos brancos (R$ 37 mil).

Com informações da Agência Sebrae de Notícias

COMENTÁRIOS dos leitores