Argentina: veja como fazer intercâmbio na terra do tango

A série 'Pós-pandemia: planejando a viagem' dos sonhos traz, neste domingo (2), um dos destinos mais queridos dos brasileiros

por Jennifer Buarque dom, 02/05/2021 - 14:30
Pixabay O Obelisco é um dos monumentos mais importantes da Argentina Pixabay

Não é novidade que dentro dos campos de futebol os argentinos costumam ser os maiores rivais dos brasileiros. Mas esse impasse termina nos estádios. Segundo a Global Visa, empresa de assessoria internacional, em 2016, a Argentina era o 6º destino mais procurado por brasileiros e o 1º da América do Sul.

 Engana-se quem pensa que com a pandemia o país deixou de estar entre os favoritos. Pelo contrário. Com a facilidade cambial, ausência de visto, familiaridade com a língua, permanência prolongada e, com a pandemia, um dos primeiros a abrir as fronteiras novamente para o Brasil, a Argentina mantém seu posto entre os favoritos dos brasileiros. Conheça a terra do tango, a pauta principal desta semana da série "Pós-pandemia: planejando a viagem dos sonhos", do LeiaJá.

Anaína Souza tem 22 anos e é graduada em ciências contábeis. Ela conta que escolheu a Argentina como seu segundo intercâmbio, e embora já tenha tido uma experiência prévia, não deixou de se sentir insegura. “Mesmo sendo o segundo intercâmbio, já fui por outro programa ao Canadá, surgiram muitas inseguranças, até dado momento somente eu iria para a Argentina e me sentia perdida. Mas, felizmente, fui colocada em um grupo de pós intercambistas e mais um brasileiro optou pelo mesmo país. Neste grupo, tirei muitas dúvidas em relação a universidade, estadia, passagens e etc.” conta.

A graduanda pontua que suas maiores dificuldades foram o espanhol e estudar as cadeiras do curso no idioma nativo. Anaína diz que saiu do Brasil com pouco conhecimento na língua, mas que a convivência em casa de família a ajudou muito. “Os donos da casa, conhecidos como Ana Maria Pando e Federico Abel, foram muito receptivos, nos tratavam como filhos e deram todo suporte na adaptação. Nesta casa, conviveram mais 3 argentinas, o que enriqueceu ainda mais a experiência e nos presenteou grandes laços fraternos” disse.

Hoje, Anaína relembra os "perrengues" que passou nos estudos como episódios divertidos. “O mais desafiador da experiência para mim foi estudar tudo em espanhol, entre as disciplinas me saí muito bem na Contabilidade Básica pelo que já tinha estudado no Brasil, porém o Direito Privado Argentino me custou noites em claro! Isso porque as provas eram orais e os conteúdos extensos, porém no fim, passei!” conta aliviada.

Com relação a adaptação à cultura e culinária, Anaína conta: “Fiquei exatamente na província de Tucumán, um lugar histórico, de verdes e montanhosas paisagens e bem acolhedor.[...] Não posso esquecer de falar das comidas argentinas, comi muito doce de leite, empanadas, medialunas (croissants), alfajor, pizzas caseiras, tomei Matte e etc., e sim, engordei uns quilinhos” relembra, aos risos.

Por que a Argentina?

Taylon Santana, turismólogo e consultor da WA Intercâmbio, pontuou ao LeiaJá os diferencias de escolher a terra dos hermanos como seu destino de intercâmbio. “O real consegue ser mais valorizado que o peso argentino e isso nos dá mais poder de compra no destino. Se você faz intercâmbio durante um mês, você gasta uns 2 a 3 mil reais em custos como alimentação, transporte e passeios. É um gasto bem parecido com São Paulo. Em outros destinos para o espanhol, você pode chegar a gastar 5 mil em diante. Vale salientar que as passagens são baratas saindo do Brasil e existem vários voos. Você chega a gastar em média  R$ 1.200,00 (ida e volta). Com certeza, você terá um intercâmbio completo, tendo em vista a variedade turística, a economia geral de gasto e aprimoramento no idioma espanhol garantido” disse.

Marina Motta, à frente da STB Recife há 15 anos, relembra que um ponto importante a ser considerado, nesse momento pandêmico, na hora da escolha é o fato dos países vizinhos serem os primeiros a abrir as fronteiras. “Neste momento de pandemia, o fato de que a reabertura das fronteiras tem uma tendência a evoluir primeiramente para países vizinhos. Por exemplo, Austrália já abriu pra Nova Zelandia, então eu acredito que quando os números do casos/mortes no Brasil estiverem melhores existem boas chances da Argentina ser o primeiro País pela facilidade/proximidade e por sempre ter sido um destino muito procurado pra turismo também.", aponta.

Com relação aos perfis de alunos que buscam a Argentina, Marina e Taylon apontam características. “O perfil costuma ser universitários na faixa dos 20 e poucos anos que decidem passar as férias aperfeiçoando ou aprendendo o espanhol em julho ou janeiro, férias da universidade. Mas as vezes adultos aposentados buscam também e também têm uma experiência incrível.” diz Marina. “Sem dúvidas é aquele que busca uma atmosfera parecida com a do Brasil em receptividade e clima, um universo turístico diferenciado, desde gastronomia, festas, monumentos e souvenirs, além de um menor investimento total no intercâmbio.“, pontua Taylon. 

O engenheiro civil Max Taylo conta sua experiência enquanto ainda estava cursando engenharia. “No dia 19 de fevereiro de 2018, desembarquei na cidade de San Miguel de Tucumán, capital da província. Fiquei hospedado na cidade de Yerba Buena, cerca de 10 km da capital do estado, na casa de uma família que nos recebeu.[...] Ter ficado em uma casa com nativos foi, de cara, a melhor experiência de todas, pois estava 24 horas por dia imerso no idioma e na cultura da Argentina. Isso facilitou e muito o aprendizado do idioma e a adaptação ao lugar.[...] De início é choque, por mais que você tenha estudado o idioma, o sotaque e a velocidade que eles falam são um desafio, principalmente durante as aulas que possuem muitos termos técnicos. Mas, com o tempo, essa questão se dissolve e o idioma fica a cada dia que passa, mais fluido", explica.

Durante sua estadia, o engenheiro diz que se sentiu em casa e teve a oportunidade de conhecer outros lugares. “Além de Tucumán, pude viajar e conheci quatro províncias: Jujuy, Salta, Córdoba e Santa Fé. A Argentina tem muitos encantos, que facilmente te apaixonam! A população, em todos os lugares que visitei, principalmente em Tucumán, é bastante calorosa e receptiva, eles sempre se mostravam entusiasmados em mostrar os lugares, as comidas e os costumes. Além de possuírem uma culinária deliciosa, que variava bastante de província para província, eles são muito patriotas, conhecem e valorizam bastante sua história, em todas as cidades que passei, meus amigos contavam as histórias relacionadas ao lugar, as construções e obras de arte", relembra.

Processos burocráticos e cuidados com a pandemia

O turismólogo e consultor de intercâmbio Taynon Santana, estima uma média de valores para pacotes de intercâmbio. “Depende de quanto tempo será o seu programa. Normalmente as pessoas fazem de 4 semanas por conta das férias de trabalho, faculdade ou escola, e nesse caso, pagando curso, acomodação e taxas, você encontra pacotes de 7 a 9 mil reais. Vale a pena dizer que existem intercâmbios de 2 e 3 semanas para aqueles que não consegues ficar o mês fora.“

Com relação ao visto, Taynon informa: “Os nossos hermanos são parceiros de Mercosul e isso ajuda os intercambistas brasileiros que podem ficar até 90 dias sem precisar de visto. Normalmente só apresentamos a identidade e estamos em solo argentino. Muitos de nós, procuramos universidades, principalmente de medicina, afinal existem várias universidades de alto nível no país, nesse caso você  fica mais de 90 dias, e será necessário o visto de estudante, na qual são apresentados alguns documentos como: passaporte, comprovante de matrícula, comprovante de antecedentes criminais e comprovante de pagamento da taxa de emissão obrigatória.”

O momento pandêmico que estamos vivendo pede cautela, os candidatos interessados a estudar na Argentina já podem começar a planejar a viagem dos sonhos, mas devem seguir acompanhando a situação da vacinação em ambos os países. Taynon aconselha: “Os brasileiros que queiram entrar na Argentina precisam fazer quarentena de 14 dias, porém, não é aconselhado que se faça viagens e intercâmbio se não for algo emergencial. O número de voos estão cada vez menores, e voltará a medida em que ambos os países cresçam em vacinação e diminuam em número de casos de Covid-19. Mesmo com a luta das autoridades argentinas em manter as aulas presenciais e que o setor turístico não sofra tanto, recomendo que os intercâmbios sejam planejados para 2022 ou 2023, em vista de uma melhor experiência."

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