Cinco livros sobre o Brasil que podem te ajudar na prova do Enem

Obras literárias trazem aspectos importantes da cultura, sociedade e do contexto histórico do País
Uma das obras citadas é 'Casa Grande e Senzala', de Gilberto Freyre - Rachel Andrade/LeiaJáImagens

Os estudantes que estão se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 têm, além dos assuntos pertinentes às disciplinas, outras formas de construir conhecimento. Uma delas é pela leitura de obras, que pode ajudar a compreender situações da realidade e alguns contextos históricos. 

Para ajudar os candidatos do Enem na montagem de um pequeno acervo literário, a professora de redação Fernanda Pessoa montou uma lista com cinco livros que nos ajudam a entender o contexto histórico, político e social do Brasil. Os assuntos apresentados nas obras podem ser aproveitados para diferentes disciplinas, assim como pode  ajudar na redação, a depender do tema. Confira a lista:

Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre

Foto - Rachel Andrade/LeiaJáImagens

Publicado originalmente em 1933, o livro apresenta os contextos principais da formação social do Brasil. As temáticas são patriarcado, miscigenação e formação do povo brasileiro. “‘Casa Grande’ é uma sugestão para ler junto com ‘Raízes do Brasil', de Sérgio Buarque de Holanda, e com ‘A Elite do Atraso’, de Jessé Souza. O primeiro livro mostra a miscigenação como um projeto tranquilo, que não foi! É um livro muito bom para entender de onde vem a nossa forma romântica de entender a construção do Brasil e tentar repensar o nosso presente a partir do nosso passado”, comenta Pessoa.

A professora faz a ressalva de ler a obra juntamente com livros mais atuais, visto que alguns conceitos expressos por Freyre já são considerados ultrapassados, como a ideia da democracia racial, por exemplo.

Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda

Foto - Rachel Andrade/LeiaJáImagens

A obra se debruça sobre as origens culturais do Brasil. De acordo com a docente, Holanda apresenta reflexões e ideias em relação aos ‘defeitos’ do brasileiro nos dias atuais, “Sérgio Buarque faz questão de falar sobre um Brasil que tem uma síndrome do colonizador muito grande, uma necessidade de burlar as regras para tomar proveito de tudo, e isso como se fizesse parte de um processo estrutural histórico. E aí ele deixa muito claro que não é uma questão genética do brasileiro com dificuldade para lidar com leis e regras, mas é um processo histórico, ligado a uma visão autoritária e histórica. Tem um capítulo muito bom dele que eu indico para todo mundo que é chamado ‘O homem cordial’”, ela exemplifica.

A docente comenta que muitos confundem o significado do título do capítulo, ligando a palavra “cordial” à cordialidade. No entanto, o autor explica no texto que o “cordial” utilizado vem do latim “cordalis”, que tem relação com o coração, razão pela qual os brasileiros não saibam lidar tão bem com regras, leis, normas, pois está muito mais ligado à questão dos afetos.

O povo brasileiro, de Darcy Ribeiro

Biblioteca F Montojos/Flickr
Biblioteca F Montojos/Flickr

Dividindo os capítulos em diferentes ‘Brasis’, Ribeiro trabalha os temas da formação étnica e cultural do País, tentando responder à seguinte pergunta: Por que o Brasil não deu certo? A professora Fernanda Pessoa ainda faz um comparativo com as obras anteriores, mostrando que as ideias apresentadas pelos três autores são ligadas ao contexto do Século XX, e ela relaciona as discussões ao cenário do Século XXI.

“Nós sempre comentamos que todo presente está cheio de passado. Então, vivemos um presente cheio de passado e não conseguimos entender muito bem o passado, consequentemente não conseguimos entender muito bem o presente”, analisa Fernanda Pessoa.

“Nós sempre comentamos que todo presente está cheio de passado. Então, vivemos um presente cheio de passado e não conseguimos entender muito bem o passado, consequentemente não conseguimos entender muito bem o presente”, ela analisa.

Torto arado, de Itamar Vieira Júnior

Rachel Andrade/LeiaJáImagens

Publicado no Brasil em 2019, a obra tem como temática principal a escravidão. A reflexão proposta pelo autor é sobre o constante erro do Brasil em “não acertar as contas com o passado”, mesmo depois de 130 anos da abolição oficial do regime escravocrata no País. Para a professora, a obra tem sua importância por abordar o racismo sob o viés de um sistema “ainda de rancho escravista, patriarcal, burguês, tecnicista, preconceituoso".

"Para quem gosta de romance é uma leitura muito interessante, porque não foge de todo processo histórico de desigualdade”, ela sugere.

Brasil, uma biografia, de Heloisa Murgel Starling e Lilia Moritz Schwarcz

Biblioteca IFSP Jundiaí/Flickr
Biblioteca IFSP Jundiaí/Flickr

As autoras trazem como temática central o Brasil como anti-herói, traçando uma linha do tempo desde a chegada dos portugueses à costa até a redemocratização pós-ditadura militar. Como comenta a docente, o objetivo é criar uma narrativa histórica do País distante do olhar do colonizador.

“A ideia é, de fato, entender o século XXI a partir de tudo que já aconteceu. E quando as autoras comentam a biografia, é porque elas falam de um biografado, no caso um Brasil muito complexo. Elas fazem várias análises a partir de marcadores sociais de diferenças, que são coisas que socialmente foram construídas como forma de segregar, por exemplo, o conceito de região é um marcador social diferença, porque temos, de fato, um país construído com base na desigualdade”, Pessoa complementa.

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