Ômicron: é seguro fazer intercâmbio em 2022?

Surgimento de uma nova cepa desperta o questionamento quanto à segurança de realizar uma viagem, a estudos ou trabalho, para um outro país

por Juliana Mamede qui, 23/12/2021 - 09:19
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Desde o seu surgimento, o novo coronavírus já infectou milhões de pessoas e ceifou a vida muitas outras, ocasionando um estado calamitoso de saúde a nível global. E, desde que foi anunciada a pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 11 de março de 2020, muitas mudanças foram impostas a fim de evitar a disseminação do vírus, como lockdown. Além disso, a educação também foi afetada, pois estudantes adentraram, abruptamente, no universo das aulas on-line e aqueles que pretendiam realizar intercâmbio tiveram de lidar com o fechamento de fronteiras.

Hoje, mais de um ano e nove meses após o início da pandemia, a vacinação avança e estão sendo aplicadas até mesmo as doses de reforço para os grupos que podem recebê-la. Em contrapartida, uma nova variante, a Ômicron, surge, e já deixa um questionamento: será seguro fazer intercâmbio em 2022 em meio à circulação dessa nova cepa? Para ajudar a entender esse cenário, a reportagem do LeiaJá conversou com a médica infectologista Silvia Lemos.

Mesmo com o surgimento da variante Ômicron, a médica infectologista Silvia Lemos sugere que sejam mantidas as medidas de barreira contra a Covid-19 que já vinham sendo utilizadas. “Alguns países, como pode ser ver, principalmente na Europa, voltaram a ter lockdowns, voltaram a ter fechamento de suas fronteiras e voltaram a colocar as pessoas todas em alerta. Sabe-se que a Ômicron tem uma transmissibilidade maior, apesar de termos vistos, até agora, poucos casos graves. Mas existem. Já foi até reportado caso de morte no Reino Unido. Portanto, o que temos que fazer é esperar, usar, ainda, as medidas restritivas, a higienização das mãos com álcool, com água, o uso das máscaras, principalmente em ambientes fechados”.

A médica destaca, também, a importância da vacinação. “Hoje, a grande diferença que temos do início da pandemia, é a vacinação, aonde observa-se que as pessoas que estão vacinadas elas podem se reinfectar, principalmente porque a vacina nunca foi proposta para evitar a contaminação pelo coronavírus, mas fazer com que o coronavírus tenha uma forma clínica mais atenuada. Mas é aquilo que a gente sempre aprendeu: que tudo vai depender da comorbidade das pessoas, porque depende também do estado de saúde de cada um. Isso acontece até mesmo com a gripe comum. Uma gripe comum em uma pessoa com comorbidade não tem a mesma evolução clínica que teria em uma pessoa sem comorbidades, então temos que observar”, explica.

Silvia Lemos detalha, no que diz respeito às viagens, que em outros países os cuidados a serem tomados devem ser os mesmos já praticados no Brasil. “Em relação às viagens, serão feitas de acordo com as exigências de cada país. Hoje, a gente observa que tem países que estão fechados totalmente. Quando eles vão abrir seus lockdowns, nós não sabemos. E os intercâmbios vão depender dessa abertura dos países para esse tipo de atividade. Mas os que estão abertos, deve-se ter os mesmo cuidados que estamos tendo aqui, espero que as pessoas estejam usando as medidas de barreira, evitando aglomerações, usando as máscaras, usando álcool gel para higienizar as mãos e lavando as mãos. É importante que as pessoas tenham consciência que a pandemia não acabou, incorporar todos esses hábitos ao seu dia a dia como uma coisa normal, sem rejeitar o uso da máscara nem esquecer a higienização das mãos.”

Esperança em 2022

Sobre a expectativa para 2022, levando em consideração o avanço da vacinação no Brasil, o CEO da WE Intercâmbio, Zezinho Neves, espera que no próximo ano haja um aumento significativo no crescimento do segmento de turismo. “Diferente de 2020, a expectativa do crescimento no setor de turismo é de 22% em 2021, ou seja, é aguardado um aumento de 30% em 2022", disse.

"No setor de intercâmbio, sentimos uma procura muito grande de outubro para cá e esperamos um crescimento significativo em 2022, e com o avanço da vacinação e reabertura de fronteiras nossos intercambistas já começaram a viajar desde novembro deste ano”, diz ele, que conta ainda que, no momento, os destinos mais procurados de viagens são os que já tem fronteira aberta para estudantes, como Canadá, Espanha, Londres e Estados Unidos.

De acordo com Zezinho, o surgimento da Ômicron não tem interferido na busca por viagens de intercâmbio. “Algumas escolas no exterior tiveram que segurar um pouco o recebimento de estudantes até se ter um estudo mais avançado da Ômicron. Não houve cancelamento de nenhum de nossos estudantes até então, e se tiver que remarcar, as escolas sabem do momento que vivemos e nós aqui damos todos o suporte pro estudante remarcando sem custo algum”.

No entanto, as buscas para intercâmbio na África do Sul diminuíram por causa dessa nova variante. “Até paramos de oferecer o destino até termos mais segurança sobre os estudos da nova variante”, explica o CEO da WE Intercâmbio.

A vida no exterior com a variante

Brasileira residente em Portugal, a atleta de Jiu-Jitsu Raquel Ferreira vem planejando, junto ao marido, desde janeiro deste ano, seu intercâmbio para a Austrália - que será em meados de 2022. “O principal motivo pelo qual eu escolhi a Austrália, é porque lá o estudante de idiomas, no caso o inglês, pode trabalhar. E a Austrália é, na minha opinião, completamente diferente de tudo que eu já vi, é um experiência cultural muito rica, do outro lado do mundo, então assim, vai ser muito enriquecedor poder ir para esse país, além de que o meu trabalho é muito valorizado lá. A luta, o Jiu-Jitsu, é extremamente valorizado na Austrália, então provavelmente eu conseguiria trabalhar com luta, com Jiu-Jitsu lá. Então, foram essas três situações: visto de trabalho também para estudante; o clima que é melhor do que Europa em si; e o mais forte é a possibilidade de trabalhar com o Jiu-Jitsu lá também. Então foram esses motivos”, detalha.

Raquel, que atualmente está passando uns meses na Suíça, conta que, devido ao coronavírus, provavelmente terá que adiar sua viagem de intercâmbio. “Não foi só esse novo surto (Ômicron), foi toda situação da Covid, desmotivou, sim, porque é muito difícil a gente viver sem poder fazer planos. Inclusive, o meu intercâmbio é para maio, provavelmente eu vou ter que adiar o intercâmbio, não porque eu não vou conseguir embarcar, mas porque eu tinha que fazer outras coisas antes de ir para lá que eu não consegui fazer por conta da Covid. Então, a Covid em si, esse novo surto também, atrapalharam muito tudo. Não só o intercâmbio, mas tudo”, lamenta.

Mesmo empolgada, a brasileira conta que o surgimento da nova variante interferiu na sua vontade de fazer a viagem de intercâmbio. “Tirou um pouco da minha vontade, sim, de ir para a Austrália porque como eu moro hoje em Portugal é um pouco difícil essa questão de não saber o dia de amanhã, de novas regras e tudo isso acontecendo muito rápido, fugindo do nosso controle. Eu morando em Portugal, já estando lá há quase três anos, é um lugar que eu sou muito familiarizada. Então eu pensava: imagina eu do outro lado do mundo, na Austrália, um idioma completamente diferente, uma cultura completamente diferente, com um visto de estudante, como é que vai ser? Então dá um pouquinho de receio, sim. E, realmente, isso influenciou demais, a pessoa fica na verdade com medo, a verdade é essa, a palavra certa é essa. Um pouco de medo porque a gente não sabe o que é que vai acontecer e estando longe demais assim de casa se torna ainda mais difícil”.

Raquel ainda afirma que não se sente totalmente segura para a viagem, diante do surgimento da nova cepa do coronavírus. “A gente não tem mais certeza de nada. Ainda mais aqui é um pouco diferente do Brasil porque o Brasil tem as medidas de segurança, mas a gente está perto da família, é diferente quando você já não está no seu país, já não está no seu continente. Então segurança é uma palavra que, nos últimos dois anos, ela está um pouco escassa, eu acho, na vida de todo mundo, na verdade, porque a gente não sabe se vai conseguir embarcar. A Austrália está fechada, a previsão é que abra em janeiro, sendo que como, primeiramente, a cepa chega na Europa, posteriormente, nas Américas (...), Ásia a gente sabe pouca coisa, mas Austrália normalmente é o último país a sentir a cepa, até porque está tudo fechado lá desde o início da Covid. Então não tem como saber agora a realidade de agora lá porque lá é outra realidade, a realidade que eu estou vivendo inclusive aqui hoje, na Europa, não é a mesma que as pessoas estão vivendo no Brasil e que as pessoas estão vivendo na Austrália. Então não dá para ter segurança, não”, pontua.

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