Adriano Oliveira

Adriano Oliveira

Conjuntura e Estratégias

Perfil:Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE - Departamento de Ciência Política. Coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE.

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O PSDB deve negar a existência do PT?

Adriano Oliveira, | ter, 05/03/2013 - 09:54
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Em 1994, FHC foi eleito presidente da República com o auxilio do Plano Real. Em 1998, FHC foi reeleito por conta do Plano Real e da expectativa da população quanto ao aumento do consumo, pois a redução da inflação, proporcionada pelo Plano Real, possibilitava tal expectativa. Com reduzida aprovação, FHC encerra a sua era.

Para dar suposta continuidade a era FHC, o PSDB opta por José Serra, ex-ministro da Saúde de FHC, na eleição de 2002. Serra, diante da conjuntura econômica desfavorável, opta por não usar em seu discurso a expressão continuidade e sugere aos eleitores que o seu governo é de ruptura com a era FHC. Por outro lado, sabiamente, o PT utiliza, de modo discreto, em seu discurso, a continuidade, a qual foi expressada na Carta aos Brasileiros.

A Carta aos Brasileiros foi um adequado instrumento de comunicação, pois, mesmo diante do pífio crescimento econômico e da expectativa de aumento do consumo frustrada, parte dos brasileiros e o PIB nacional reconheciam a contribuição do governo FHC para a economia brasileira. Portanto, a opção do PT foi a utilização da continuidade das coisas boas no âmbito da economia e avanços na área social.

Lula é eleito presidente da República em 2002. Em 2006, após o escândalo do mensalão, o qual ocorreu em 2005, o PSDB escolhe Geraldo Alkmin para disputar com Lula. No auge do escândalo do mensalão, segundo semestre de 2005, variados membros do PSDB davam como impossível a reeleição de Lula. Mas Lula foi reeleito em razão do discurso baseado em três pilares: 1) “Não existiu mensalão, mas Caixa 2”; 2) “Caixa 2 todo mundo faz”; 3) “Deixe o homem trabalhar. Por que trocar?”.

Por sua vez, Alkmin optou por negar, assim como fez José Serra na eleição de 2006, a era FHC. Alkmin chegou ao ponto de ir contra as privatizações, mesmo diante de um contexto em que as pessoas viviam intensamente a democratização do uso de celulares. A redução da inflação foi esquecida pelo PSDB, mesmo o partido sabendo que a queda desta possibilitou o aumento do consumo na era Lula. Lula é reeleito em 2006.

Em 2010, o consumo brasileiro fervia. Indicadores sociais avançavam. Um clima de euforia estava presente na sociedade brasileira. Lula apresenta Dilma e mostra que com ela, as ações meritórias do seu governo continuarão. Mais uma vez, Serra é o candidato do PSDB. Ele opta por se associar a Lula, inicialmente. No segundo turno, ele escolhe fazer oposição a Lula.  Só na reta final da disputa eleitoral ele opta por mostrar que é mais capaz do que Dilma para governar o Brasil. Dilma é eleita presidente da República.

Aécio Neves deverá ser o candidato do PSDB na eleição presidêncial de 2014. Então,  qual será a estratégia do PSDB? Observo que os últimos atos de FHC e de Aécio tiveram o objetivo de ressuscitar a disputa histórica entre o PT e o PSDB. Estratégia equivocada, pois o PT, Lula e Dilma têm mais admiradores no eleitorado brasileiro do que o PSDB, FHC e Aécio. Então, qual deve ser a estratégia de Aécio?

Competência na realização da gestão. Críticas pontuais ao estado da economia. Além de propostas que contemplam às demandas da população, as quais são identificadas através de pesquisas. Estas são alternativas (hipóteses). Porém, observo que dois riscos rondam a candidatura de Aécio, quais sejam: 1) Tenho a hipótese de que Aécio não é mais o novo em virtude da polarização histórica entre PT e PSDB; 2) Se esta polarização voltar a ocorrer, Eduardo Campos poderá ser o beneficiado. Portanto, o PSDB deve fugir da disputa com o PT. A estratégia do PSDB deve negar o PT.  Este só deve existir em discursos pontuais.

Riscos ao PSB

Adriano Oliveira, | ter, 26/02/2013 - 11:48
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Após a reeleição do governador Eduardo Campos, construí a hipótese, a qual paulatinamente é comprovada, de que ele disputará a eleição para presidente da República em 2014. Esta hipótese está assentada em quatro possibilidades: A) possibilidade 1: Eduardo vice de Dilma Rousseff; B) Possibilidade 2: Eduardo candidato a senador ou a deputado federal; C) Possibilidade 3: Eduardo não é candidato a nada; D) Possibilidade 4: Eduardo é candidato a presidente. Mostrei em variados artigos, através da ferramenta Teoria dos Jogos, de que a melhor escolha para o governador de Pernambuco é a candidatura presidencial em 2014.

No início deste ano, apresentei outra hipótese: em razão de um cenário com variadas candidaturas, vislumbro a possibilidade de Eduardo Campos disputar o segundo turno contra Dilma Rousseff. As múltiplas candidaturas interferirão no crescimento da candidatura de Dilma e fragmentarão o eleitorado, por consequência, dois a três candidatos disputarão a ida para o segundo turno.

Analise eleitoral que se preza, não deve apenas se encantar com o entusiasmo gerado pelas notícias. Diante do entusiasmo, é adequado que a análise do futuro processo eleitoral apresente os riscos que ameaçam o sucesso da candidatura de Eduardo Campos à presidente da República em 2014. Através da identificação dos riscos é possível a construção de estratégias que inibam os efeitos destes ou os evite. Diante disto, observo quatros riscos iminentes à candidatura presidencial do PSB e o seu possível sucesso. Quais sejam:

1.      Tempo de televisão: No sistema eleitoral brasileiro, o tempo da propaganda partidária é construído a partir do número de partidos presente na coligação. Sendo assim, quanto partidos apoiarão à candidatura de Eduardo Campos à presidente? Neste instante, dois partidos aparecem como principais aliados: o PPS e o PDT. P orém, o primeiro também é disputado por Aécio Neves e o segundo está na base de Dilma e lá poderá permanecer. Observo que o PSD não é uma incógnita. Os eventos recentes mostram que ele apoiará a eleição da presidenta. Diante disto, constato que o diminuto tempo de propaganda na TV é um risco (ameaça) para o possível sucesso eleitoral do PSB na disputa presidencial;

2.      Efeitos do lulismo: Lula está na memória positiva dos brasileiros. Portanto, ele é uma lembrança positiva para parte dos eleitores. Contudo, tenho a hipótese de que o lulismo não mais incentiva parte da escolha dos eleitores. Ma s se esta hipótese não for fortemente verdadeira? Se assim for, diante da disposição de Lula em participar do projeto da reeleição de Dilma, o PSB terá dificuldades em se apresentar como um partido que ajudou Lula a governar o Brasil.

3.      Gestão de Geraldo Júlio: A ancoragem eleitoral proporcionada pelo apoio do governador Eduardo Campos contribuiu para o sucesso eleitoral de Geraldo Júlio na última eleição municipal. Em razão de um gestor mal avaliado, o atual prefeito do Recife assumiu a prefeitura diante da esperança e da expectativa positiva do eleitor recifense. O governador Eduardo Campos se apresenta para o País como um gestor moderno e que se preocupa com a eficiência da máquina pública. Portanto, caso em 2014 a gestão de Geraldo Júlio não esteja fortemente bem avaliada, a oposição nos âmbitos local e nacional o questionará e este questionamento poderá ter consequências junto à credibilidade do discurso do candidato Eduardo Campos;

4.      Candidato ao governo de Pernambuco: neste instante, o PTB, ou melhor, o senador Armando Monteiro, é um ator estratégico na disputa estadual de 2014 em virtude de que ele poderá conquistar variados apoios eleitorais, dentre os quais, o do PT e o do PMDB. Se Armando Monteiro for candidato a governador com o apoio destes dois partidos, ou apenas do PT, neste caso, com o forte apoio de Dilma e de Lula, vislumbro acirrada disputa eleitoral com o candidato do PSB. E desta forte disputa, não se deve desprezar a diminuição da amplitude da vitória (ou a vitória) em Pernambuco do candidato Eduardo na disputa presidencial. Não descarto a possibilidade de Armando conquistar o apoio do PSB. Mas observo que a sua candidatura ao governo é um risco, neste instante, para o PSB.     

Mitos eleitorais

Adriano Oliveira, | ter, 19/02/2013 - 10:13
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Explicações cientificas exigem comprovações empíricas, caso não ocorram, elas se transformam em mitos. Explicações cientificas também podem se tornar mitos quando os contextos em que fenômenos ocorrem são desconsiderados. Os contextos sociais importam para a explicação dos fenômenos, ou seja: em dado contexto, X possibilitou a origem de Y, mas em outro, esta relação causal não foi mais observada. Pode vir a ser mito a crença de que fenômenos se repetem independente do contexto em que eles acontecem.

Os estudos eleitorais no Brasil são abundantes e qualificados. Eles nos sugerem a existência de vários mitos que são criados diariamente por analistas e atores políticos. Ocorre fenômeno semelhante na economia, pois analistas econômicos fazem afirmações desprovidas de comprovações empíricas ou desconsiderando os contextos. David Orrell, em seu livro Economitos, revela isto.

Por muito tempo, os termos esquerda e direita fizeram parte das análises eleitorais. Era comum encontrar nas análises afirmações do tipo: “O eleitor deseja um candidato de esquerda para comandar o Brasil”; ou “O eleitor de esquerda não vota no candidato Z, o qual é de direita”. André Singer em variadas das suas excelentes obras mostrou qual é o papel e o tamanho do eleitorado ideológico no Brasil e em qual momento as eleições foram caracterizadas, em parte, pela fragmentação ideológica.

Bolívar Lamounier e Amaury de Souza mostram no livro A classe média brasileira que as eras FHC e Lula fizeram com que novos valores emergissem na sociedade, os quais enfraqueceram fortemente a contribuição da explicação ideológica para a escolha do eleitor. Ressalto que variadas obras e pesquisas revelam que eleitores não sabem definir o que é ser de esquerda ou de direita.

Na contemporaneidade são raros os analistas e atores políticos que insistem em explicar o comportamento do eleitor por meio de clivagens ideológicas. Desde 1994, a variável bem-estar econômico é utilizada predominantemente para explicar as escolhas dos eleitores nas eleições presidenciais. As competições eleitorais ocorridas no período de 1994-2010 mostraram que o estado da economia é um determinante do voto importante, pois fatores econômicos, como a queda da inflação (Plano Real), reduzido crescimento econômico e alta do consumo foram variáveis que contribuíram para o sucesso de FHC, Lula e Dilma.

Entretanto, diante do surgimento dos neodeterminantes do voto – emoções, sentimentos e âncoras eleitorais – não é adequado considerar a economia como fator exclusivo que determina a escolha do eleitor na eleição presidencial. Desconfio que se estes neodeterminantes estivessem presentes no maisntream dos estudos eleitorais no período de 1994-2010, certamente a economia não teria ocupado papel predominante nas análises.

Indivíduos sentem emoções e adquirem sentimentos. Portanto, independente da economia, eventos fortuitos ou originados das estratégias eleitorais podem vir a incentivar as escolhas dos eleitores. Por exemplo: os eleitores estão cansados da clivagem PT versus PSDB nas disputas presidenciais? Existe o sentimento de ressaca de gestãopara com o PT, o qual possibilitará o sucesso eleitoral de um competidor não petista?

Os efeitos de ancoragem (âncoras eleitorais) poderão ocorrer caso eventos ou atores provoquem sentimentos de admiração e merecimento entre os eleitores. Neste caso, Lula pode voltar a ser, mesmo diante de um contexto de reduzido crescimento econômico, o âncora de Dilma, e, com isto, contribuir para a sua reeleição. Porém, outro efeito pode ocorrer: a ressaca eleitoral para com o PT e o enfraquecimento do lulismo (âncoras) pode proporcionar o sucesso de um opositor de Dilma.

A dinâmica eleitoral cria mitos. Mas é papel da ciência desmistificá-los cotidianamente. Portanto, tenho a hipótese de que a economia não será variável suficiente para explicar de modo satisfatório as escolhas dos eleitores na eleição presidencial de 2014.

Qual será a agenda presidencial em 2014?

Adriano Oliveira, | seg, 04/02/2013 - 15:47
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Notícias diversas advindas de variadas fontes constroem agendas na opinião pública. Atores políticos, através da imprensa e redes sociais, têm condições de construir agendas e propiciar discussões em torno delas. As agendas têm dois caminhos, os quais interagem, mas não são semelhantes. No primeiro caminho o ator político é o sujeito principal, ou seja, ele dita a agenda. No segundo, é a imprensa ou a opinião pública que determina a agenda. Em dado momento, estes atores se confundem e a origem da agenda não é mais identificável.

Atores políticos sábios se posicionam estrategicamente perante a opinião pública e a imprensa. Neste caso, eles ditam a agenda. Com isto, adquirem condições de conquistar espaços na imprensa, nas redes sociais e na opinião pública, e fazem com que as suas imagens estejam associadas a temas que provocam o interesse dos atores que publicizam, reverberam e fortalecem a agenda.

Qual será agenda da eleição presidencial de 2014? A agenda posta cotidianamente pelo PSDB e por parte da imprensa é a econômica. Os atores que difundem tal agenda parte do raciocínio simplista de que a ausência de crescimento econômico retira o favoritismo de Dilma em 2014. Este raciocínio é coerente, pois os sucessos eleitorais de FHC, Lula e de Dilma foram motivados, em parte, pela variável econômica. Entretanto, outras variáveis podem preponderar no debate eleitoral da próxima eleição presidencial.

O governador Eduardo Campos, provável candidato à presidente, propõe, sabiamente, duas agendas. Um novo Pacto Federativo é a primeira agenda. A manutenção das conquistas trazidas pelos governos de FHC, de Lula e de Dilma e a necessidade de avançar em áreas que não sofreram avanços é a segunda agenda. A primeira agenda pauta os prefeitos, os quais estão ávidos por verbas e carentes de atenção. Mas esta agenda pode ser sufocada a qualquer instante por Dilma, basta ela anunciar pacotes de bondades para os gestores municipais.

A outra agenda proposta pelo governador Eduardo Campos é mais adequada, pois não apresenta fragilidades tal como a primeira. Além disto, o discurso da manutenção do que é bom adquirirá força caso seja identificado através de pesquisas a existência de “ressaca eleitoral” por parte do eleitorado para com a eterna disputa entre PT e PSDB.  Neste caso, os eleitores poderão optar por sair desta dicotomia e migrarem para o candidato do PSB.

Outra agenda, a qual não está posta de modo claro, mas que favorece Dilma caso seja, é a utilização da frase “força e coragem para tomar decisões”. Dilma, diante de um possível cenário de reduzido crescimento econômico, poderá optar pelo seguinte discurso: “O Brasil cresceu pouco em razão das dificuldades na economia mundial. Mas tive a coragem de reduzir os juros e a conta de energia elétrica com o objetivo de trazer de volta o crescimento econômico. E também não tive receio de combater a corrupção no meu governo”.

Portanto, observo, neste instante, que a agenda do PSB – manter o que é bom e avançar – é factível e poderá encontrar condições eleitorais para se fortalecer. O PSDB continua com uma agenda pouco criativa: reduzido crescimento econômico. E o PT está, no momento, na defensiva, pois responde diariamente à agenda trazida pela imprensa e pelo PSDB, qual seja: a economia brasileira não cresce. Certamente outras agendas surgirão, mas isto só ocorrerá caso os estrategistas sejam criativos, inclusive na identificação das demandas do eleitor.

O que sei de Lula

Adriano Oliveira, | seg, 28/01/2013 - 15:15
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Tomo emprestado de José Nêumanne o título deste artigo para mostrar as razões que levam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a não ser candidato à presidente da República em 2014. É óbvio que as escolhas dos atores políticos podem vir a contrariar a lógica. Mas nem todos os atores optam por contrariá-la, a não ser que sofram de miopia aguda.

O ex-presidente Lula não tem miopia. Ele consegue enxergar. O seus sistema 1, no caso a intuição, consegue vislumbrar cenários, os quais orientam as suas decisões. O ex-presidente é um caso a ser estudado, pois a sua intuição tem funcionado muito bem. Certamente, se o psicólogo Daniel Kahneman que estuda a intuição conhecer o ex-presidente Lula descobrirá que os sistemas 1 (intuição) e 2 (raciocínio) do ex-presidente interagem. Em razão disto, Lula enxerga além dos normais e raciocina de modo muito rápido.

Dilma será candidata em 2014, a não ser que um Cisne Negro (acasos) surja. Não vislumbro acasos na trajetória eleitoral de Dilma neste ano e nem em 2013. O que vislumbro são dificuldades, as quais são previsíveis. Alguns eventos tendem a trazer dificuldades para o desempenho eleitoral de Dilma, quais sejam: 1) Reduzido crescimento econômico; 2)Aumento da inadimplência; 3) Acomodação do mercado consumidor; 4) Apagões elétricos;5) Aumento da gasolina em 2014; 5) Desorganização da Copa do Mundo.

No âmbito político, Dilma terá que ter capacidade ímpar para costurar alianças políticas entre PT e PMDB nos estados. O PSB é uma arma letal para o sucesso eleitoral de Dilma. E se Eduardo Campos, Aécio Neves, Marina Silva e Fernando Gabeira vierem a ser candidatos, o segundo turno deixa de ser possibilidade remota e passa a ser factível.

Diante dos eventos mostrados, talvez alguém diga: então Lula é candidato, pois com ele o PT vencerá a eleição. Engano. Tenho a hipótese, a qual será certamente confirmada em pesquisas qualitativas e quantitativas, de que o ex-presidente está presente de modo positivo na memória dos eleitores brasileiros. Mas isto não significa que os eleitores o querem de volta. Ou seja: Lula já faz parte da História do Brasil.

Devemos considerar também que o Brasil é formado por variadas regiões e estados. Neste sentido, a votação de Lula na última eleição que ele disputou para presidente foi concentrada. Portanto, Lula não é uma unanimidade, como muitos sugerem. Lula sabe que corre o risco de disputar uma eleição recheada de incertezas, mesmo com a possível desistência de alguns candidatos.

Deste modo, o que sei de Lula é que ele não será candidato em 2014 a presidente da República, pois as evidências apresentadas sugerem que o risco de derrota é um cenário possível. Lula sabe também que em 2014 a dicotomia entre PT e PSDB poderá findar. Então, por não sofrer de miopia aguda, Lula apoiará Dilma, pois ele sabe que já faz parte, merecidamente, da memória positiva dos brasileiros.

Os partidos importam?

Adriano Oliveira, | seg, 21/01/2013 - 12:12
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A literatura da Ciência Política considera os partidos políticos como determinantes do voto. A preferência partidária dos eleitores orienta as suas escolhas. Porém, como costumo sempre frisar, os analistas não devem confundir coincidência entre variáveis com causalidade. Portanto, robusta análise empírica deve orientar as pesquisas que sugerem relação causal entre partidos e a escolha do eleitor.

Pesquisa do IBOPE no final de 2012 revela que 56% dos brasileiros não possuem preferência por nenhuma agremiação partidária. E 44% afirmam ter preferência por alguma legenda. Segundo o IBOPE, o percentual de eleitores que não preferem nenhum partido político aumentou. Portanto, a pergunta neste instante é: os partidos importam para explicar as escolhas dos eleitores no Brasil?

O PT, de acordo com o IBOPE, continua a ser o partido preferido do brasileiro. As razões para tal preferência são, aparentemente, inteligíveis. Alto percentual de eleitores aprovaram as administrações do ex-presidente Lula, além de admirá-lo. Por consequência, o lulismo surgiu e, também por consequência, o PT, partido do ex-presidente Lula, conquistou adeptos. Diante destas relações de casualidade, constato que o personalismo é o vetor causal que permite eleitores admirarem partidos políticos.

Se a hipótese apresentada for verdadeira, a importância dos partidos é diminuta para explicar o comportamento do eleitor, pois são as lideranças políticas que exercem força centrípeta junto aos partidos. Por sua vez, a lógica causal contrária talvez não seja verdadeira. Isto é: não são os partidos que exercem força centrípeta sobre as lideranças políticas. Então, os partidos dependem dos atores políticos para conquistarem admiradores.

A preferência para com o PT, como bem mostra a pesquisa do IBOPE, e o advento do lulismo, o qual representa a manifestação positiva do eleitor para com a liderança política Luiz Inácio Lula da Silva, surgiram em virtude da aprovação dos governos do ex-presidente Lula. Se os governos de Lula não fossem aprovados pela população, o PT liderava a preferência dos eleitores? Se o Lula não tivesse gestões aprovadas, o lulismo existiria?

Quanto à primeira indagação, considero que a figura do Lula, mesmo antes dele ser eleito presidente da República, as raízes sociais do PT (movimentos sociais, sindicalismo) e o seu discurso ideológico possibilitaram a conquista de admiradores. Entretanto, o surgimento do lulismo ampliou ou consolidou a preferência dos eleitores para com o partido.

Em relação à segunda indagação, a aprovação das gestões do Lula, em particular a aprovação decorrente do segundo mandato, fez surgir o lulismo. E as boas avaliações da gestão do Lula surgiram em virtude de aspectos sentimentais entre Lula e o eleitor e das políticas econômicas implementadas pelo seu governo voltadas para a proteção social e o aumento do consumo. Portanto, o bem-estar econômico dos brasileiros e sentimentos explicam a aprovação das gestões do Lula, a origem do lulismo e a preferência de parte dos eleitores para com o PT.  

Dilma é favorita em 2014?

Adriano Oliveira, | ter, 18/12/2012 - 10:40
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As últimas pesquisas realizadas pelo IBOPE e Datafolha revelam que 62% dos eleitores aprovam a administração de Dilma Rousseff (Datafolha). Em todos os cenários avaliados pelo Datafolha, a presidenta Dilma tem larga vantagem sobre os diversos adversários e se a eleição fosse hoje ela venceria a disputa no primeiro turno.  Segundo o IBOPE, 78% dos eleitores aprovam o modo de governar de Dilma. Os dados de ambos os institutos são complementares e coerentes entre si.

Em razão dos dados apresentados, os apressados, os quais estão costumeiramente postados, afirmam que Dilma é favorita a vencer a disputa presidencial em 2014. Os apressados estão falando o óbvio. Mas ao lado, próximo ou inerente a um quadro eleitoral óbvio, estão presentes ameaças, que caso sejam sintomáticas poderão enfraquecer o favoritismo de Dilma. Portanto, os admiradores do óbvio devem ampliar as suas análises.

Caso o crescimento econômico brasileiro continue lento, a variável econômica interferirá no comportamento dos eleitores. Os eleitores não fincam raízes na sociedade. Eles são dinâmicos, assim como as suas escolhas. Deste modo, a herança lulista, pautada exclusivamente na ampliação do consumo, ainda está presente nas classes A, B e C. Por sua vez, a classe D ainda está encantada com os benéficos programas sociais expandidos na era Lula.

Pois bem, os eleitores que hoje aprovam Dilma, os fazem, em parte, em virtude da herança lulista e não necessariamente em razão dos méritos do governo Dilma. Embora, o jeito de ser de Dilma tenha possibilitado que ela seja admirada pelos brasileiros. Sendo assim, Dilma hoje não é uma candidata que depende exclusivamente da economia para ser reeleita. O seu jeito de ser poderá garantir a sua reeleição.

Não se devem desprezar três pontos fundamentais que podem estar presentes na conjuntura de 2014. Na disputa presidencial de 2014, parte dos eleitores estará ressacada com o PT? É possível que sim, em razão de variados motivos, dentre os quais: 1) longevidade no poder por parte do PT; 2) e variados escândalos de corrupção. Este último é uma variável que certamente fará com que o PT perca admiradores nas classes A e B.

O sucesso das obras da Copa do Mundo beneficiará Dilma e os governadores. Mas efeito contrário ocorrerá caso o insucesso esteja presente. Portanto, não só será apenas a economia que influenciará a escolha dos eleitores em 2014, mas também a capacidade de gestão dos governadores e da presidenta. O que estará mais visível para os eleitores em 2014 são as obras da Copa, e eles associarão a realização de obras ao desempenho do gestor.

Outro ponto relevante: caso Eduardo Campos, Marina Silva e Aécio Neves disputem a eleição presidencial contra Dilma, existe a possibilidade de que o segundo turno venha a ocorrer.  Neste caso, a lógica é simples: mais candidatos, forte possibilidade de ocorrência do segundo turno. Portanto, os apressados devem saber que o óbvio sugere miopia na análise política. 

O método e a previsão

Adriano Oliveira, | qua, 05/12/2012 - 09:59
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Os atos de adivinhar e de achar são diferentes do ato de prognosticar. Adivinhar e achar não representam atividade científica. Mas o ato de prognosticar é atividade científica. O adivinho e o achismo é, por vezes, confundidos com prognósticos. Aliás, os prognósticos não fazem parte do cotidiano da análise política brasileira e quando alguém decide fazê-los é qualificado de adivinho.

Para o prognóstico ser uma atividade científica, ele precisa necessariamente do método.. O método existe na atividade de prognosticar. Para a sociologia da ação, os indivíduos agem intencionalmente e racionalmente. Neste caso, a ação dos indivíduos têm sentidos. O neoinstitucionalismo, estrutura teórica da Ciência Política contemporânea, considera que os indivíduos estão a caminhar numa trajetória, e nesta adquirem visões de mundo, recebem influência das instituições, formam preferências e realizam escolhas.

A Teoria dos Jogos, a qual faz parte do arcabouço metodológico da Ciência Política, quando utilizada com criatividade e considerando as premissas do neoinstitucionalismo e da sociologia da ação, contribui para decifrar e prognosticar a ação dos atores. Entretanto, para isto ocorrer, as seguintes premissas, construídas com base na sociologia da ação e no neoinstitucionalismo, precisam estar presentes: 1) atores têm preferências, mas nem sempre elas correspondem as suas escolhas; 2) Os atores fazem escolhas racionais, pois conseguem identificar, antecipadamente, as consequências das suas ações.

As duas premissas apresentadas estruturam teoricamente o método da previsão. Com elas e com criatividade empírica, pois uma indagação precisa estar presente na realização da previsão, é possível construir prognósticos nas arenas institucionais e eleitorais. Mas, faço uma ressalva: o prognóstico não é definitivo, pois cisnes negos, ou melhor, acasos, podem ocorrer, e modificar as escolhas dos atores. Portanto, prognósticos são realizados através da construção de cenários.

Um cenário eleitoral ou institucional não pode ser único. Cenários surgem diante de variadas possibilidades. Por exemplo: quais os cenários possíveis para o governador Eduardo Campos em 2014? Observo quatro possibilidades: 1) Cenário 1: ser candidato à presidente da República; 2) Cenário 2: ser candidato a vice-presidência da República na chapa do PT; 3) Cenário 3: ser candidato a vice-presidente da República na chapa do PSDB; 4) Cenário 4: ser candidato a Senador.

Através das premissas teóricas e da Teoria dos Jogos, e, claro, considerando as ações do governador Eduardo Campos e de outros atores, como Aécio, Marina Silva, Dilma e Michel Temer, constato que o cenário 1, neste instante, é o mais plausível. Aliás, desde 2010 esta plausibilidade já estava presente. Entretanto, acasos ocorrem na trajetória, em razão disto, o cenário 1 pode não vir a ser mais plausível em 2014.

Se a plausibilidade de hoje pode não ser a de amanhã, o ato de prognosticar se confunde com o achismo? Engano. As escolhas dos atores quando realizadas com base em cenários adquirem poder maximizador. Observem que Eduardo age hoje com desenvoltura na cena eleitoral, em virtude do cenário econômico pessimista para 2014, dentre outros fatores. Mas se o pessimismo não mais estiver presente em 2013, ele mudará, certamente, o seu comportamento.

Políticos sábios agem com base em cenários, os quais precisam ser construídos com abundante informação, Teoria dos Jogos e criatividade em razão da complexidade do contexto em que os atores agem.

O que ocorrerá em 2014?

Adriano Oliveira, | seg, 19/11/2012 - 15:10
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“Se as dinâmicas eleitorais e políticas fossem previsíveis, os atores políticos não cometiam erros em suas escolhas”. Ouvi esta frase, certa vez, de um político. Ao ouvi-la, retruquei: mas as dinâmicas são previsíveis. Porém, vocês não gostam ou não sabem fazer previsões. A previsão depende da conjuntura presente, mas desta nascem prognósticos para conjuntura futura.

Exercícios simples baseados na Teoria dos Jogos e na Lógica nos permitem construir prognósticos a partir da conjuntura presente. No exercício da Análise de Conjuntura fiquem sempre atentos as preferências dos atores e as suas possíveis escolhas, as quais, nem sempre, são baseadas na racionalidade pura. A racionalidade pura significa que o ator está num vazio social, portanto, emoções, sentimentos e visões de mundo não importam. Não sou adepto da racionalidade pura.

Ocorrerão em 2014 eleições para presidente da Republica e governador. Quatro perguntas conjunturais estão presentes neste instante: 1) A presidente Dilma terá condições de ser reeleita? 2) O governador Eduardo Campos será candidato à presidente da República? 3) O senador Armando Monteiro será candidato a governador? 4) Em Pernambuco existirá candidato de oposição ao governador Eduardo Campos?

As respostas para cada pergunta estão entrelaçadas em virtude de que o jogo ainda está intricado, mas não inteligível. Dilma tem condições de ser reeleita. Afirmo isto, por prever que os eleitores de Dilma não só avaliarão o seu desempenho por meio da variável bem-estar econômico, mas também através de variáveis emocionais como firmeza e ser mulher. Isto não significa que o bem-estar econômico não importará em 2014. Mas vislumbro que estratégias que busquem mostrar a firmeza de Dilma no enfrentamento à corrupção e na redução dos juros (entre outras) podem influenciar positivamente os eleitores.

Parece-me que o caminho de Eduardo Campos não tem volta, a não ser que ele peça aos eleitores que o esperem para 2018. Quais as opções de Eduardo em 2014? A opção ótima é ser vice de Dilma. E a opção péssima é não ser candidato à presidente. Portanto, caso a sabedoria continue a iluminar o governador, diante da impossibilidade neste instante dele ocupar o cargo de vice, ele deverá ser candidato à presidente – escolha subótima. Caso muitos candidatos disputem o pleito presidencial e diante do desempenho paralítico da economia, Eduardo poderá ir para o segundo turno.   

Imagine se o PTB opte por apoiar a candidatura presidencial de Eduardo Campos? Se assim ocorrer, é plausível pensar numa aliança entre Armando e Eduardo em Pernambuco. Mas se o PTB não apoiar o projeto presidencial do governador? É plausível ter como hipótese a aliança entre PTB e PT nos âmbitos estadual e nacional. Portanto, vislumbro que a candidatura de Armando ao governo com o apoio de Eduardo depende das escolhas do PTB no âmbito nacional.

A oposição em Pernambuco continuará pífia. Como acreditar numa candidatura de Júlio Lóssio a governador diante da aliança PMDB/PSB? A candidatura de Lóssio só poderá vigar, se, e somente se, uma rebelião no PMDB local ou nacional ocorrer provocada por cisnes negros. Mas caso isto não ocorra, qual é a razão do PMDB não apoiar o candidato do governador Eduardo em 2014?  

Os quadros de 2014 estão por demais previsíveis. 

Obviedades e prognósticos eleitorais

Adriano Oliveira, | seg, 29/10/2012 - 10:33
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O fim do período eleitoral sugere diversas obviedades, as quais já estavam postas desde o fim da eleição de 2010. Obviedade é aquilo que sabemos quando a identificamos. Deste modo, talvez muitos analistas e políticos não tivessem identificado o óbvio após o fim das eleições de 2010. Entretanto, após o período eleitoral de 2012, o óbvio se tornou nítido.

Desde 2010 era fato que PT e PSB não poderiam ocupar o mesmo lugar no espaço político. Certamente, variados atores que desenvolviam as suas análises com a visão restrita ao Sudeste se enganaram, pois não considerou que o governador Eduardo Campos, após ser reeleito em 2010, mostraria o seu desejo de ser candidato à presidente da República em 2014.

Os gestos de Eduardo Campos em Pernambuco sinalizavam para a ruptura eleitoral com o PT. E assim ocorreu. O governador de Pernambuco venceu a disputa eleitoral em Recife na eleição de 2012. Não se devem desprezar também os gestos do governador. Desde 2011, Eduardo Campos obtém espaços estratégicos na imprensa nacional e sugere agendas, as quais têm como objetivo a conquista do eleitor. Portanto, não é novidade o que hoje estão dizendo: Eduardo Campos pode ser candidato à presidente em 2014.

Hoje o PSB tem pressa para lançar candidato à presidente em virtude do sucesso eleitoral de Haddad em São Paulo. Se Haddad for um bom prefeito, ele tem condições de ser o candidato do PT em 2018. E se Dilma não for reeleita em 2014? Ele continua em condições de ser candidato à presidente em 2018. Ressalto que a maior vitória de Lula nesta eleição não foi o sucesso eleitoral de Haddad. A maior vitória do ex-presidente foi ele ter descoberto Haddad.

Recomendo que a análise sobre as consequências da eleição de 2012 não se resumam ao raciocínio quantitativo. É importante, claro, considerar quais partidos elegeram mais prefeitos. Existe associação e talvez causalidade entre número de prefeitos eleitos e eleições para deputados, governadores e presidentes. Porém, a análise deve ser ampliada, pois desta forma é possível prognosticar 2014.

O que me chama a atenção após o processo eleitoral municipal são os novos atores que surgiram e o desempenho dos que já existiam, quais sejam: Marcelo Freixo (PSOL), Haddad (PT), Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB). Estes atores, além de Marina Silva, ditarão o ritmo da competição presidencial de 2014.

Se Marcelo Freixo, Dilma, Eduardo Campos e Aécio Neves forem candidatos à presidente em 2014, é possível que a eleição finde apenas no segundo turno. Se assim ocorrer, crescem as chances de sucesso eleitoral de Eduardo ou Aécio. Se Dilma vier a perder a eleição, Haddad será alçado como a nova liderança nacional do PT e disputará contra PSB ou PSDB a reconquista da presidência da República.   

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