Adriano Oliveira

Adriano Oliveira

Conjuntura e Estratégias

Perfil:Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE - Departamento de Ciência Política. Coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE.

Os Blogs Parceiros e Colunistas do Portal LeiaJá.com são formados por autores convidados pelo domínio notável das mais diversas áreas de conhecimento. Todos as publicações são de inteira responsabilidade de seus autores, da mesma forma que os comentários feitos pelos internautas.

A Copa, cenários e a esperança de Dilma

Adriano Oliveira, | qua, 19/10/2011 - 09:40
Compartilhar:

Desde o início do mandato de Dilma, vislumbrei e continuo a vislumbrar cenários não tão promissores para a presidenta da República. Instabilidades política e econômica ocorrerão durante o seu mandato, as quais interferirão em suas condições eleitorais. Em razão disto, Dilma não terá condições favoráveis para ser reeleita em 2014.

O último escândalo do governo Dilma – Denúncias contra o ministro Orlando Silva – permite que Dilma comece a se preocupar com a sua reeleição e com a sombra de Lula. O recente escândalo provoca instabilidade política, pois partidos da coalizão partidária dilmista brigarão para indicar o substituto de Orlando Silva, caso ele venha a ser demitido. E permite a associação de duas características ao seu governo: 1) O governo Dilma combate a corrupção; 2) No governo Dilma existe corrupção.

Pesquisas revelam que a primeira característica apontada está presente na mente de vários eleitores. Além disto, a aprovação do governo Dilma continua estável. Entretanto, a segunda característica sugerida poderá vir a ser associada ao governo Dilma por parte dos eleitores. Isto é possível diante dos inúmeros e freqüentes casos de corrupção em seu governo denunciados pela imprensa em curto espaço de tempo.

Saliento que o novo escândalo de corrupção compromete sensivelmente a imagem do Brasil junto à imprensa internacional e a FIFA. Ambos, certamente, estão desconfiados do sucesso da Copa do Mundo no Brasil. E é importante e necessário frisar, que parte dos eleitores brasileiros também está desconfiada. A desconfiança, inclusive, está associada a uma palavra que é repudiada por qualquer indivíduo (Exagero?): corrupção.

Dilma, mais uma vez, esperará a imprensa para demitir o ministro Orlando Silva. Para ela, não existem provas contra o ministro. Apesar de existirem desconfianças. Ora, é adequado um ministro acusado de prática de corrupção continuar à frente de uma pasta ministerial co-responsável pela organização da Copa do Mundo? Não desprezo a capacidade dos eleitores de realizarem perguntas semelhantes a esta.

Dilma e os seus estrategistas trabalham cotidianamente na elaboração de cenários políticos, econômicos e emocionais. E um cenário ideal que Dilma sonha é este:

Ministros não mais são acusados de corrupção. A organização da Copa do Mundo é um sucesso. O Brasil volta a crescer a partir de 2013 a 5% ao ano. A oferta de crédito aumenta. As economias americana e da Comunidade Européia se recuperam.  A aprovação da sua administração ultrapassa 60% em março de 2014. Os partidos da coalizão partidária, em razão da aprovação da presidenta, não reclamam por mais espaços no governo. E o Brasil é campeão do mundo. Então, considerando a relação causa-efeito, Dilma é reeleita.

A nova agenda no debate eleitoral brasileiro

Adriano Oliveira, | seg, 17/10/2011 - 09:33
Compartilhar:

Em 1989, o debate na disputa presidencial entre Collor e Lula era: os que lutaram contra a Ditadura e os que foram favoráveis a ela. Esta era a discussão principal. Naquela eleição, ainda estava viva na memória política dos competidores que se diziam de esquerda a ditadura militar. O discurso era simples, diante das necessidades do Brasil: os que serviram à Ditadura não podem ser presidentes.

A eleição de FHC para a presidência da República, em 1994, enfraquece o debate entre os que serviram à Ditadura e os que lutaram contra ela. O enfraquecimento ocorreu em virtude de que FHC lutou contra a Ditadura.

Nesta época, outros debates também estavam presentes. O nacionalismo exacerbado, o qual condenava às privatizações, faziam parte da agenda da oposição. Outros temas da oposição eram: neoliberalismo, banqueiros, juros altos, aumento de salário para servidores públicos.

O PT, através de Lula, chega à presidência da República em 2002. E assume o poder com o compromisso de não contrariar os pilares da política econômica de FHC, os quais o partido tanto criticava. Lula publicizou a Carta aos Brasileiros. A Carta frisava de modo objetivo que o controle dos gastos públicos e a estabilidade da moeda seriam os objetivos do seu governo.

Lula, como qualquer outro governante que tivesse sido eleito, buscou construir uma ampla coalizão partidária. Nesta coalizão, os que serviram à Ditadura estavam presentes. Com isto, o debate em torno da Ditadura continuou a sofrer enfraquecimento.

Dilma, ao vencer a disputa presidencial em 2010, assumiu perante o eleitorado que o seu governo seria o da continuidade. Até o instante, algumas de suas ações contrariam tal promessa. Dilma trabalhou para a aprovação da Comissão da Verdade no Parlamento. A presidente sugere ao mercado que o crescimento econômico é prioridade, em detrimento da inflação. Dilma é defensora e mentora do capitalismo de estado, onde o BNDES é o principal sujeito.

Casos de corrupção existiram nos governos de FHC, Lula e Dilma (Este ainda não findou). Inclusive, o combate à corrupção era a bandeira principal do PT. Hoje não é mais, pois diversos dos seus atores contribuíram por desacreditar o PT no âmbito do combate à corrupção junto aos eleitores.

Ditadura, corrupção, inflação, controle dos gastos públicos e crescimento econômico. O tema ditadura está em desuso. Suponho que os eleitores não estão mais preocupados com tal temática. Corrupção é tema relevante. Mas os eleitores não acreditam que qualquer partido ou ator político possa enfrentá-la. Inflação, controle dos gastos públicos e crescimento econômico são temas atuais e precisam continuar a ser debatidos.

Porém, os atores políticos precisam incorporar na agenda pública brasileira novos temas, especificamente um: eficiência da gestão pública. O que precisa ser feito para o estado brasileiro ser eficiente? Os candidatos devem ter isto em mente e precisam ofertar esta discussão à opinião pública através de uma linguagem simples. Os candidatos ao Poder Executivo nas eleições de 2012 e 2014 que incorporarem esta temática de modo adequado adquirem condições para conquistarem o eleitorado.

As funções do estrategista

Adriano Oliveira, | qua, 12/10/2011 - 10:53
Compartilhar:

Com a aproximação das eleições municipais, as agências de publicidade e os candidatos iniciam processo de interação. Este processo, ao se consolidar, possibilita que ambos dialoguem sobre o que fazer numa dada campanha eleitoral. Costumeiramente, o publicitário cria as peças de campanha. E o político é o estrategista.

Não é ainda costumeiro, e talvez em razão disto candidatos competitivos percam a eleição, a interação entre o publicitário, o político e o estrategista. No mercado político americano, esta interação existe. No Brasil, a interação passou a ocorrer, mas ainda não é tradição.

Candidatos afirmam: “Eu desejo um bom marketeiro”. Entretanto, eles não salientam que precisam de “Um bom estrategista”. Criar estratégias, assim como ocorre no mundo empresarial, significa a busca de benefícios e o ato de posicionar adequadamente o competidor no mercado eleitoral.

Empresas privadas precisam de estrategistas para conquistar clientes. Candidatos precisam de estrategistas para conquistar eleitores. Um produto só adquire competitividade caso esteja adequadamente posicionado no mercado. Competidores só conquistam clientes caso estejam adequadamente posicionados no mercado político.

Os eleitores, assim como consumidores, estão diante de opções. Eles formam preferências e fazem escolhas. Fatores emocionais e racionais estão presentes na escolha que o eleitor ou o consumidor realiza. Lembro que eleitores escolhem candidatos. Consumidores escolhem produtos.

Boas ideias, as quais advêm do publicitário, são ferramentas que possibilitam a conquista de eleitores. Mas o que é uma boa ideia? A boa idéia é aquela que conquista eleitores e esta é construída a partir de estratégias pré-definidas, as quais estão a depender do posicionamento do competidor no mercado político.

Ressalto, ainda, que variadas conjunturas podem vir a interferir na escolha dos eleitores. Portanto, o estrategista precisa formular a estratégia considerando conjunturas atuais e as que estão por aparecerem. A boa ideia não é uma boa ideia sem estratégias.

Neste sentido, o estrategista numa campanha eleitoral tem a função de:

1. Definir quais os temas que devem ser abordados na campanha;
2. Vislumbrar cenários;
3. Definir alianças políticas;
4. Definir a imagem do candidato;
5. Estabelecer os fatores emocionais que devem ser explorados na relação candidato-eleitor,
6. Identificar os principais adversários;
7. Identificar as fraquezas e os pontos fortes dos competidores,
8. Definir os temas que devem estar associados às mensagens dos candidatos.
9. Desvendar às demandas do eleitor;
10. Analisar conjunturas;
11. Construir e interpretar pesquisas eleitorais.

O estrategista não é o formulador de slogans e nem atua com base no senso comum. O estrategista cria condições para que boas ideias e bons slogans surjam e, por consequência, sejam eficientes. O estrategista não despreza a pesquisa, pois sem ela, o senso comum prevalece. E nem sempre o senso comum e a intuição conduzem candidatos ao sucesso eleitoral.

A eleição presidencial de 2014

Adriano Oliveira, | seg, 10/10/2011 - 09:06
Compartilhar:

As eleições presidenciais brasileiras têm três características fundamentais desde 1994, quais sejam: 1) Eventos econômicos possibilitam o sucesso eleitoral do competidor; 2) Boas administrações elegem candidatos; 3) Presidente bem avaliado, em razão do bem-estar econômico dos eleitores, tem condições de eleger seu sucessor.

Em 1994, FHC foi eleito em razão do Plano Real, o qual gerou expectativas positivas junto aos eleitores quanto ao futuro do Brasil. Em 2002, FHC apoiou José Serra para presidente da República. A administração de FHC não estava bem avaliada e o momento econômico era ruim. Com isto, Lula foi eleito. O presidente Lula é reeleito em 2006, já que a sua administração estava bem avaliada e o momento econômico do País era bom.

Dilma é eleita presidenta da República com o apoio de Lula em 2010. O que motivou o sucesso eleitoral de Dilma? Presidente bem avaliado e bem-estar econômico do eleitor em razão do momento econômico.

Existe uma relação de causalidade e de correlação entre as seguintes variáveis: bem-estar econômico do eleitor e Avaliação da administração do presidente. Portanto, eleitores aprovam a administração do presidente quando estão satisfeitos com o seu bem-estar econômico.

Considerando o raciocínio simplista de quem bem-estar econômico possibilita a aprovação da administração dos presidentes da República, e em razão desta relação, presidentes podem ser reeleitos, adquiro condições de afirmar que: caso a administração de Dilma esteja bem avaliada em 2014, ela certamente será reeleita. Hipótese factível. Portanto, necessária, mas não suficiente para prognosticar o resultado da disputa presidencial de 2014.

Em 2014, o bem-estar econômico do eleitor importará. A aprovação do governo Dilma também. Mas outros fatores estarão presentes, os quais influenciarão a escolha do eleitor, quais sejam: 1) A ressaca do PT; 2) O fator Aécio Neves; 3) O fator Eduardo Campos; 4) O fator José Serra; 5) O fator Lula.

Considerável parte dos eleitores, mesmo diante do bem-estar econômico de uma administração bem avaliada, pode não mais desejar o PT no poder. Denomino este fenômeno de ressaca eleitoral. A ressaca eleitoral surge do longo tempo de um partido no poder. Em razão disto, os eleitores podem optar por um ator que venha a representar o novo, mas que não anule as conquistas do passado. Neste caso, Aécio Neves pode ser este novo ator.

Qual será a escolha de Eduardo Campos? O governador de Pernambuco pode ser vice de Dilma (Cenário remoto neste instante); Eduardo pode ser candidato à presidente (Cenário remoto neste instante); Eduardo pode vir a ser vice de Aécio (Cenário remoto neste instante).

Observem que não consigo definir, ainda, qual será a escolha de Eduardo Campos. Ressalto, entretanto, que se Eduardo for vice de Aécio, o candidato do PSDB ganha musculatura eleitoral, em razão das estratégias que podem ser criadas com o objetivo de explorar a associação entre Aécio e Eduardo.

Se José Serra for para o PSD? A possível candidatura de Aécio Neves será enfraquecida. Pois Aécio e Serra dividirão o mesmo universo de eleitores. Por isto, Serra precisa continuar no PSDB para fortalecer a candidatura de Aécio.

E Lula? Desconfio de que Lula teria a coragem, diante do possível não favoritismo de Dilma para reeleição, de apoiar uma terceira via na disputa presidencial. Quem pode representar a terceira via? Eduardo Campos. Caso isto venha a ocorrer, Dilma e Aécio perdem votos para Eduardo. Mas a indagação que surge é: é possível Eduardo desbancar eleitoralmente Aécio e Dilma? Neste instante não. Mas Cisnes Negros (Fatos não previsíveis) podem surgir.

Trajetória, saída, voz e lealdade

Adriano Oliveira, | qui, 06/10/2011 - 16:35
Compartilhar:

Eleitores fazem escolhas, as quais não são estáticas. Os eleitores estão numa trajetória. Nesta, eles recebem influências diversas. Eleitores interagem com outros eleitores e podem consolidar ou mudar as suas escolhas. Informações e fatos emocionais influenciam as escolhas dos eleitores.

O comportamento do eleitor reflete um trem nos trilhos. O eleitor e o trem estão numa trajetória em busca do destino. O destino do trem é a estação. O destino do eleitor é a urna. No decorrer da trajetória, o trem poderá escolher por parar em variadas estações. O eleitor na trajetória, em razão de variados vetores que influenciam as suas escolhas, poderá fazer diversas escolhas. Ou consolidar as escolhas já realizadas.

É comum, como por diversas vezes já abordei neste espaço, analistas de pesquisas e candidatos se preocuparem diante de uma pesquisa quantitativa com a posição dos competidores. Na análise, a qual aparenta ser superficial, o vencedor é o candidato que tem o maior percentual. Em nenhum momento, os analistas e competidores consideram que o eleitor está numa trajetória e, portanto, vulnerável a mudanças.

Estratégias eleitorais importam. Sábios são os competidores que reconhecem que estão numa trajetória e precisam conquistar eleitores ou evitar a saída deles. Estratégias eleitorais construídas com base em pesquisas possibilitam a conquista dos eleitores e evitam a saída destes.

Albert Hirschaman em seu livro Saída, Voz e Lealdade mostra como os consumidores deixam de comprar um dado produto. Revela que consumidores utilizam a voz para reclamarem de certo produto. E que consumidores são leais a dados produtos. As premissas de Hirschaman servem para o mercado político. Ou seja: eleitores deixam de votar em dado candidato, reclamam de candidatos e são leais aos candidatos.

Com base em Albert Hirschaman, constato que os eleitores na trajetória fazem escolhas. Portanto, eles podem abandonar o candidato, reclamar dele ou consolidar a sua lealdade a ele. As estratégias eleitorais são um dos vetores que possibilitam esta dinâmica.

Portanto, as escolhas dos eleitores não são estáticas. Elas mudam. Os que hoje são fortes eleitoralmente podem não ser amanhã.

A Teoria dos Jogos e a Frente Popular

Adriano Oliveira, | qua, 05/10/2011 - 09:26
Compartilhar:

A Teoria dos Jogos é um instrumento metodólogico utilizado pelos estrategistas políticos para decifrar o presente e prognosticar o futuro. A premissa fundamental da Teoria dos Jogos é que os atores são racionais. Portanto, buscam benefícios e evitam custos.

Em jogos simples da Teoria dos Jogos, os quais têm o objetivo de evidenciar o comportamento dos atores ou prognosticar as suas ações, o ato de cooperar ou não cooperar são as duas alternativas principais. Os indivíduos, por serem racionais, cooperam em razão da busca por benefícios. E não cooperam caso prevejam perdas.

Para a Teoria dos Jogos, os indivíduos podem fazer escolhas ótimas, subótimas ou péssimas. Em razão do pressuposto de que os indivíduos são racionais, as escolhas ótimas ou subótimas são as principais alternativas numa dada ordem de preferência. Os jogos da Teoria dos Jogos podem ser de soma zero ou de múltiplos vencedores. No caso do primeiro, só um vence o jogo.

Desta forma, afirmo que a Frente Popular não tem como caminhar unida até 2014, a não ser, e somente si, o PPS, o PMDB, o PSDB ou o DEM vencerem a disputa eleitoral do Recife e ofertar ao eleitorado um candidato competitivo em 2014. Caso isto não ocorra, os conflitos na Frente Popular irão ocorrer intensamente. E mesmo que a oposição vença a disputa em Recife, esta variável não será determinante para evitar o racha na Frente Popular.

Os três principais atores da Frente Popular – Eduardo Campos (Líder principal), Armando Monteiro e Humberto Costa – sabem que precisam de prefeitos. Caso prefeituras não sejam conquistadas, a competitividade dos candidatos diminui. Portanto, o PSB, o PTB e o PT buscarão ter candidatos em variados municípios.

Humberto Costa sabe que só será o candidato do governador Eduardo Campos caso o PSB, ou melhor, Eduardo Campos, seja alçado à vice de Dilma Rousseff. Caso não, Eduardo desejará fazer o seu sucessor. É reduzida a probabilidade de Armando Monteiro ser o candidato a governador de Eduardo Campos. Mas é alta a probabilidade de Armando Monteiro ser candidato a governador.

Ao contrário de muitos analistas, prevejo a desintegração lenta e gradual da Frente Popular. Ela hoje tem três pólos de poder internos – PT, PSB e PTB. No decorrer ou após 2012, os pólos poderão ser reduzidos a dois – PT e PSB versus PTB. Ou se desintregar por completo. Neste caso, PT versus PSB versus PTB.

Na Frente Popular a jogada ótima para todos tende a ser a não cooperação, pois os interesses dos principais atores são conflitantes. Portanto, o jogo na Frente Popular é de soma zero, caso novas condições não venham a surgir.

Qual é o futuro do PSD?

Adriano Oliveira, | seg, 03/10/2011 - 08:57
Compartilhar:

Gilberto Kassab criou sabiamente o PSD para ser uma alternativa de poder aos atores políticos nas disputas municipal (2012), estadual e presidencial (2014). Mas o PSD não será nestas competições o ator principal. Ele tende a ser coadjuvante nas eleições para prefeito de capitais, para governos e para a presidência da República. A partir de 2016, talvez o PSD venha a ser o ator principal.

Kassab constatou que variados atores políticos na Câmara dos Deputados não desejavam continuar a ser oposição ao PT. Por isto, precisavam de uma nova opção partidária. O prefeito de São Paulo constatou também que nas eleições municipais, atores políticos ficam à procura de espaços no Estado. No caso, de legendas que estejam próximas ao poder. Deste modo, o PSD passou a ser uma alternativa. Ou melhor: um instrumento utilizado por atores políticos para se aproximar do prefeito.

No Brasil é difícil praticar a atividade política distante do poder estatal. Em razão do tamanho do estado brasileiro, cargos e espaços no ente estatal são ofertados aos atores e estes servem como ferramentas para a conquista e a manutenção do poder.

Teoricamente, os atores que ocupam espaços no estado têm mais chances de vencer disputas eleitorais. Mas isto não significa que os atores que não ocupam espaço no estado, não tenham chance de obter sucesso eleitoral.

Em Pernambuco, o PSD surge como um partido aliado do governador Eduardo Campos. Esta aliança deve ser mantida até 2014. Após isto, embora eu tenha a premissa de que a expectativa de poder do Eduardismo seja até 2018, o PSD poderá caminhar com outras legendas, como, por exemplo, o PSDB.

No âmbito municipal, desconfio que o PSD caminhará com João da Costa. Caso ocorra a aliança entre PSD e PT, esta será em razão do PSB. Na disputa proporcional, o PSD será aliado do PSB ou participará de um grande chapão. Se assim ocorrer, alguns dos novos vereadores que se filiaram ao partido tendem a não renovar o mandato.

O PSD, por enquanto, não é oposição e nem aliado do governo Dilma. Caso a aprovação de Dilma na opinião pública se mantenha estável ou cresça, o PSD tende a fazer parte do governo Dilma. Caso ocorra um decréscimo na avaliação da presidenta, o PSD poderá ser uma alternativa de poder através de José Serra, ou se aliar ao PSDB.

O PSD deve continuar a crescer, em razão do seu hibridismo. Ou seja, o seu caminho será traçado pela expectativa de poder dos atores de outras legendas, não importando as cores ideológicas e partidárias.

João Paulo, escolhas e gatilhos emocionais

Adriano Oliveira, | sex, 30/09/2011 - 11:05
Compartilhar:

A minha tese era: João Paulo fora do PT é um candidato competitivo para vencer a eleição do Recife. A minha outra tese era: João Paulo candidato pelo PT a prefeito do Recife perde competitividade. A tese que prevaleceu, após a desistência de João Paulo de sair do PT, foi a primeira. Em razão disto, afirmo: a oposição (PMDB, DEM, PSDB e PPS)ganhou competitividade após a decisão de João Paulo.

João Paulo, caso seja candidato a prefeito precisa considerar o seguinte cenário: explicar ao eleitor a razão de ter escolhido João da Costa. Vejam que se João Paulo for candidato, João da Costa não se esforçará para recuperar a sua gestão (Cenário plausível), a qual é mal avaliada. Portanto, João Paulo disputará a eleição em circunstâncias não adequadas. E terá que explicar, caso seja provocado pela oposição, a administração de João da Costa.

Diversos atores estão raciocinando da seguinte forma: o peso de João Paulo possibilitará a reeleição de João da Costa. Eles, ingenuamente, estão somando a intenção de voto de João da Costa com a de João Paulo. Recomendo cautela! Pois a matemática carece de exatidão na dinâmica eleitoral, pois as emoções dos eleitores importam.

João Paulo, ao subir no palanque de João da Costa, dirá o quê? Se a oposição for sábia, e esquecer os números, e procurar identificar os sentimentos/emoções dos eleitores, criará o seguinte gatilho emocional: João Paulo “brigou” com João da Costa e o Recife foi esquecido. Gatilho emocional, vale salientar, não suficiente para garantir o sucesso eleitoral da oposição.

Mas se João Paulo for candidato pelo PT a prefeito? Outro gatilho emocional poderá ser utilizado pela oposição: Por que João Paulo, após indicar João da Costa, volta a ser candidato a prefeito no lugar de João da Costa? O que João Paulo e o PT dirão? O PT terá que contratar sábios estrategistas e investir em pesquisas qualitativas.

A oposição ganha com a permanência de João Paulo no PT, pois o petista poderá perder capital eleitoral. Hoje, vários cadeados prendem João Paulo, quais sejam: Eduardo Campos, Humberto Costa e Lula. Estes cadeados poderão possibilitar o enfraquecimento do capital eleitoral de João Paulo (Cenário).

Atores políticos precisam considerar cenários, antes de tomar decisões. O melhor cenário para João Paulo era a saída do PT. Mas isto não significa que ele não será mais prefeito ou governador. Cisnes Negros (O inesperado) surgem. Portanto, neste instante, João Paulo precisa torcer para que Cisnes Negros apareçam, pois ele fez a pior escolha. Enquanto isto, neste instante, a oposição pode comemorar!

Aproveito para lembrar outra tese: João da Costa é o melhor candidato do PT neste instante.

O que é voto de estrutura?

Adriano Oliveira, | qua, 28/09/2011 - 09:19
Compartilhar:

Desconheço na Ciência Política brasileira a utilização do termo voto de estrutura. Barry Ames, autor do livro Os entraves da democracia no Brasil, fornece indícios do que seja o voto de estrutura. Embora ele não utilize no decorrer do livro tal termo.

Sou adepto da ideia de que a Ciência Política brasileira precisa ser criativa. No caso, construir novos problemas empíricos e se afastar do lugar comum. São variados os problemas empíricos que são exaustivamente pesquisados na Ciência Política nacional. Novos objetos empíricos não surgem costumeiramente. E quando surgem, sofrem discriminação.

A expressão “Eu tenho voto de estrutura” é costumeiramente utilizada por candidatos em disputas proporcionais e majoritárias. O candidato se dirige ao estrategista ou a outro político do seguinte modo: “Tenho voto de estrutura. Por isto, não preciso de estrategista e nem de pesquisa”. Outras vezes, ele afirma: “O voto de estrutura garantirá a minha vitória”.

De tanto ouvir a expressão “Tenho voto de estrutura”, passei a me interessar pelo voto de estrutura. O voto de estrutura é um objeto empírico presente na dinâmica eleitoral, e desconhecido dos cientistas políticos. O voto de estrutura é um novo objeto da Ciência Política.

Antes de analisar qualquer objeto, é necessário defini-lo. Deste modo, indago: o que é voto de estrutura? Através da intuição empírica e da concepção teórica do papel do estado na sociedade, afirmo: voto de estrutura é a utilização do Estado e de recursos financeiros na conquista do eleitor. Neste caso, os vetores que incentivam a escolha do eleitor são: Estado e recursos financeiros.

A utilização do estado ocorre por meio da oferta de benefícios, os quais são produzidos pelo poder estatal. Daí surge a relação clientelista entre candidato e eleitor. A utilização de recursos financeiros para a conquista do eleitor significa a compra do voto. Isto é: por um determinado valor ou benefício o eleitor vota em dado candidato.

O termo voto de estrutura pode ser também qualificado como a utilização da máquina pública em busca da conquista do eleitor. Mas este conceito não aborda o uso do poder econômico. Portanto, o voto de estrutura nada mais é do que a utilização do estado para fins privados e a compra de votos com recursos privados. Esta é a realidade, inclusive, de variadas disputas eleitorais no Brasil.

É proibido falar em gestão no Estado brasileiro

Adriano Oliveira, | ter, 27/09/2011 - 09:12
Compartilhar:

O estado brasileiro nestes últimos 21 anos se transformou. Transformação lenta, mas que sugere o surgimento de um novo estado.  Ruptura com a ordem X, ainda não ocorreu. Embora ela possa surgir. Não sei quando!

O Plano Real, idealizado por FHC, permitiu a criação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Esta Lei impõe normas aos gastos dos estados. Antes da Lei de Responsabilidade, gestores gastavam, e não se preocupavam com o déficit no orçamento. Considero a Lei de Responsabilidade Fiscal a principal inovação institucional ocorrida no estado brasileiro.

A Controladoria Geral da União surgiu. Ela atua no combate à corrupção dos agentes públicos. Além de fiscalizar outros desmandos do corpo de funcionários do estado. A Controladoria contribui para o aperfeiçoamento do estado brasileiro.

Apesar da Lei de Responsabilidade e da Controladoria, características patrimonialistas ainda estão presentes no estado brasileiro. Observando atentamente as práticas presentes no corpo estatal, a confusão entre o público e o privado ainda permanece. A ausência de metas e remuneração variável entre os funcionários públicos não são características das instituições do estado brasileiro.

Ultimamente, constato a explosão de concursos públicos. O ex-presidente Lula tinha o hábito de afirmar que o estado brasileiro é pequeno, frágil. Em razão disto, precisava de mais funcionários públicos. São diversas as prefeituras, em particular no Nordeste, que promovem concursos públicos. São ofertados considerável número de vagas. O raciocínio falso é: mais funcionários públicos, maior eficiência estatal.

Quando um funcionário público é contratado, a União passa a ser responsável eternamente por ele. No arranjo institucional brasileiro existe a estabilidade. Esta garante a eternidade do servidor público no estado, mesmo que ele não atenda satisfatoriamente as demandas da sociedade.

É proibido no estado brasileiro falar em gestão. Tenho a impressão de que esta palavra não é bem vinda junto a variados prefeitos, governadores e presidentes. Gestão, para alguns funcionários públicos e políticos, sugere neoliberalismo. E este representa a falência do estado. Sempre pergunto: será que o neoliberalismo existiu no Brasil? Considero que não!

Se o estado não atende as demandas de modo eficiente, clama-se por mais verbas. Por consequência, mais impostos. Em nenhum instante, clama-se por metas, fim da estabilidade de dadas categorias de servidores públicos, accountability (Prestação de contas) e remuneração variável.

O estado brasileiro precisa incorporar a palavra gestão em seu vocabulário e se transformar radicalmente.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

LeiaJá é um parceiro do Portal iG - Copyright. 2024. Todos os direitos reservados.

Carregando