Adriano Oliveira

Adriano Oliveira

Conjuntura e Estratégias

Perfil:Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE - Departamento de Ciência Política. Coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE.

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A eleição em Recife e as clivagens eleitorais

Adriano Oliveira, | seg, 26/09/2011 - 09:24
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Não consigo perceber quais são os atores de oposição ao prefeito João da Costa. Identifico sim, os atores que reconhecem fragilidades na administração do prefeito João da Costa e em razão disto aspiram substituí-lo. Constato também, que os atores que afirmam militar na oposição ainda não se deram conta, ou não querem admitir este evento, que João Paulo poderá ser candidato pelo PV a prefeito do Recife.

Ações políticas precisam ser, necessariamente, racionais. Ações políticas precisam, necessariamente, determinar os alvos. Ações políticas racionais requerem estratégias eficientes com o objetivo de conquistar eleitores e derrotar adversários. Pesquisas adequadas, e não simplesmente intenção de voto, orientam as estratégias dos atores.

Os aspirantes a candidatos ao cargo de João da Costa partem da premissa simplista de que a cidade está mal administrada e, por consequência, os eleitores não aprovam a gestão petista.

Raciocino verdadeiro, mas limitado para quem deseja conquistar a prefeitura do Recife.

A oposição precisa, urgentemente, identificar quais as clivagens presentes no eleitorado recifense.

1.    Os que admiram João da Costa, admiram por quê?
2.    Os que reprovam a administração de João da Costa, reprovam por quê?
3.    O que os eleitores pensam de João Paulo?
4.    Por que João Paulo tem abundante capital eleitoral no Recife?
5.    Quais os principais problemas do Recife apontados pelos eleitores de João da Costa e pelos eleitores dos candidatos da oposição?

As respostas para as indagações apresentadas são adquiridas através de pesquisas qualitativas e quantitativas. Através delas, é possível identificar previamente, desconsiderando, inclusive, neste instante, a variável intenção de voto, qual candidato tem condições adequadas para derrotar João da Costa. Caso as respostas não sejam encontradas, a oposição do Recife poderá, mais uma vez, perder a eleição para João da Costa ou para João Paulo.

Quais as chances do meu sucesso eleitoral?

Adriano Oliveira, | sex, 23/09/2011 - 08:33
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São raros os candidatos que fazem a seguinte pergunta antes de decidirem pela candidatura: Quais as chances do meu sucesso eleitoral? Antes desta indagação, exista outra, a qual nunca é feita: quais as condições que tenho para obter sucesso eleitoral?

As perguntas sugeridas precisam fazer parte do pensar dos candidatos. O futuro é incerto. Concordo. Mas podemos prever, considerando o passado e o presente, o que poderá ocorrer no futuro. As chances do candidato dependem das condições existentes. Portanto, C (Chances) depende de CE (Condições existentes).

As chances de um candidato podem ser observadas através de pesquisas qualitativas e quantitativas e considerando as seguintes variáveis: imagem, aspectos emocionais, conjuntura, demandas do eleitor. Diante destas variáveis, é possível avaliar as chances do candidato e dos seus concorrentes.

Além disto, estas variáveis possibilitam a construção de estratégias eleitorais eficientes. As variáveis sugeridas também possibilitam a identificação das condições de sucesso eleitoral do candidato.

As pesquisas qualitativas e quantitativas permitem a construção de cenários eleitorais.  E orientam o candidato quanto a qual decisão tomar. A decisão pode ser ótima, subótima ou péssima.

É comum os candidatos tomarem decisões baseados na intuição. A intuição poderá possibilitar uma decisão ótima – Por exemplo: ser candidato. Mas também poderá possibilitar decisões subótimas ou péssimas – Ser candidato com reduzidas chances de obter sucesso eleitoral.

Quando indagado, friso aos candidatos que a intuição importa em campanhas eleitorais. Mas é adequado testar, por meio de pesquisas, se a intuição é verdadeira ou falsa.
A intuição pode apontar chances reais de vitória de um candidato. E, concomitantemente, o candidato acreditar que tem condições para tal. Com base na intuição, ele decide por ser candidato. Por azar, ou melhor, por falta de pesquisas e estratégias adequadas, perde a eleição.

Portanto, intuições e pesquisas importam na hora de decidir quanto a uma candidatura.

No Brasil não existe primavera. Apenas Ano Novo e Carnaval

Adriano Oliveira, | qua, 21/09/2011 - 09:00
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As recentes revoltas no mundo árabe, apelidadas de Primavera Árabe, contagiaram 2000 pessoas ou 4000 mil pessoas no Rio de Janeiro. Segundo relatos, três jovens cariocas decidiram imitar as ações dos jovens árabes (Mas não foram só jovens!) e convocaram através das redes sociais uma macha contra a corrupção na República brasileira.

A expectativa quanto ao sucesso da passeata era grande. Os seus organizadores e parte da imprensa especularam que cerca de 30 mil pessoas poderiam participar da passeata. Ontem à noite, na Rádio CBN, após a passeata, escutei: “Segundo a Polícia Militar, 2000 pessoas participaram. Segundo os organizadores, 4000 pessoas participaram”. Conclusão: 26000 ou 24000 pessoas deixaram de ir à passeata contra a corrupção.

Os cientistas sociais precisam perguntar sempre: qual é a razão de dado evento? Neste caso, por que apenas 4000 mil (Optei por ficar com a contagem dos organizadores) pessoas foram à passeata contra a corrupção? Uma causa óbvia: em várias regiões do Brasil, as quatro estações não existem de fato. Por exemplo: no Rio de Janeiro e em Recife só existem verão e inverno. Portanto, não é possível existir uma primavera brasileira ou uma primavera carioca.

Outra causa: qual é o tamanho do interesse brasileiro em enfrentar a corrupção? Em surveys, certamente, a maioria dos brasileiros vai afirmar que não admitem atos de corrupção.

Em pesquisas qualitativas, é possível identificar, ao cruzar os resultados da pesquisa qualis com a pesquisa quanti, que boa parte dos brasileiros é tolerante com a corrupção. Portanto, é politicamente correto ser contra atos de corrupção. Mas isto não significa que o indivíduo não pratique ou tolere atos de corrupção.

Não esqueçam: o Brasil é o País do “Jeitinho brasileiro”. Como bem mostra a antropóloga Lívia Barbosa, os brasileiros buscam costumeiramente o “jeitinho” para superar etapas burocratas e para conquistar vantagens. Portanto, estas práticas são caracterizadas como corrupção.

O Brasil é também um País hierárquico. Diante do conflito, como bem argumenta Roberto DaMatta, o “Sabe com quem está falando?” pode ser utilizado e, infelizmente, prevalecer. “O sabe com quem está falando?” é mais uma prática social caracterizada como corrupção.

Não tenho dúvidas de que somos solidários, principalmente em festividades como Natal e ano Novo. Nestas festas, damos presentes, praticamos filantropia. Somos plurais, igualitários e tolerantes, em particular no Carnaval. No Carnaval, os foliões se abraçam, se beijam, bebem e gritam, independente da profissão, da cor e da classe social.

Após os festejos do final de ano e o Carnaval, os brasileiros, ou melhor, partem deles, voltam a ser o que são: batalhadores (Características das classes C e D), estatistas sonhadores e hierárquicos (Características das classes B e A) e desprovidos de responsabilidades públicas (Características de todas as classes).

É óbvio que as características sugeridas por classes estão se transformando (Mutação de valores) em razão do desenvolvimento econômico dos últimos 20 anos. Entretanto, estas transformações ainda não foram suficientes para possibilitar a reunião de um grande contingente de pessoas contra a corrupção. Afinal, a corrupção atinge todos os brasileiros. Portanto, todos devemos agir contra ela.

Os dados qualitativos, o politólogo e o candidato

Adriano Oliveira, | ter, 20/09/2011 - 11:54
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Existe a ditadura da pesquisa quantitativa na Ciência Política brasileira e nas competições eleitorais. Variados cientistas políticos só acreditam em números. Não acreditam em palavras. Só os números são capazes de mostrar relações de causalidade. Palavras não mostram nem sugerem causalidade. Números explicam fenômenos. Palavras não.

Confesso que gosto dos dados quantitativos. Sistematicamente os utilizo. Porém, sempre que estou diante de um dado quantitativo, procuro mostrar as razões da presença dele. Ou seja: o que possibilitou a existência de dado número? Por exemplo: o candidato X tem 53% de intenção de votos. Então, quais os fatores que possibilitam tal percentual?

Muitos competidores raciocinam de modo semelhante a alguns politólogos. Desejam saber apenas a intenção de voto. O primeiro colocado na pesquisa será, sem sombra de dúvidas, o eleito. Frágil raciocínio, o qual não se sustenta empiricamente. Ou melhor, após uma sofisticada análise dos dados quantitativos.

A arte de construir estratégias eleitorais e de interpretar fenômenos políticos não pode depender exclusivamente dos dados quantitativos. Reconheço que os dados quantitativos geram inércia intelectual, pois o politólogo ou o suposto estrategista, junto com os candidatos, só dão importância aos números. O ato de decifrar e explicar fenômenos políticos e a construção de estratégias eleitorais dependem, também, da utilização de dados qualitativos.

Antes do candidato dizer que é candidato, ele precisa do Diagnóstico Estratégico. Neste Diagnóstico estão presentes as pesquisas qualitativas e quantitativas. Ambas não são concorrentes. Mas complementares. Ambas podem ser realizadas simultaneamente. Não existe uma justificativa cientifica para estabelecer ordem de preferências entre elas.

A pesquisa qualitativa busca decifrar os pontos obscuros trazidos pela pesquisa quantitativa. No caso, constatações não interpretadas adequadamente. Por exemplo: por que o candidato Y tem 26% de intenção de votos, mas num suposto segundo turno ele cresce pouco? Quais as possibilidades (condições) do candidato V crescer durante a campanha eleitoral? Por que parte dos eleitores associa o candidato T a tal imagem?

Por outro lado, a pesquisa qualitativa orienta a construção da pesquisa quantitativa. Por exemplo: qual é o percentual de indivíduos que associam o candidato X ao termo corrupto? Qual é o percentual de rejeição do candidato T? Qual é o percentual de eleitores que admiram determinada atitude do candidato V?

As pesquisas qualitativas e quantitativas caminham juntas. A realização de ambas antes do início da campanha eleitoral possibilita que o candidato crie estratégias eficientes de campanha e vislumbre o que poderá acontecer com ele após a abertura das urnas.

João Paulo e o novo pólo de poder

Adriano Oliveira, | seg, 19/09/2011 - 08:58
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Em janeiro deste ano, em artigo no Jornal do Commercio e no blog do IPMN (As opções de João Paulo – 22/01/2011), mostrei que a escolha ótima de João Paulo era a sua saída do PT. Naquela época, eu já vislumbrava o óbvio: João Paulo não teria espaço no PT para ser candidato a prefeito do Recife. E se não saísse do PT, ele não disputaria eleições majoritárias imediatas, e, por consequência, perderia capital eleitoral.

Noticias recentes dão conta de que João Paulo poderá ir para o PV ou o PC do B. A opção pelo PC do B, conforme frisei em 22/01/2011, é péssima. A opção pelo PV é ótima. O PV é uma legenda charmosa para os que a conhece. O PV está na base de Dilma Rousseff, mas poderá caminhar com o PSDB em 2014. A direção nacional do PV entregará o controle do partido a João Paulo. E João Paulo fortalecerá o PV eleitoralmente e politicamente.

A ida de João Paulo para o PV causará estragos ao PT e a João da Costa. O PT perderá capital eleitoral. João da Costa será, em algum momento da campanha, confrontado pelo seu criador. E, talvez (Isto depende do seu estrategista!), João da Costa não encontre estratégia eficiente para enfrentar João Paulo.

O rompimento entre João Paulo e João da Costa virá à tona em 2012. E, desconfio, que João Paulo alegará que foi traído pelo PT e por João da Costa. Saliento, ainda, que a saída de João Paulo enfraquece a candidatura de Humberto Costa ao governo do estado em 2014.

A oposição ficará, em parte, enfraquecida. Pois, neste instante, João Paulo aparece como favorito a vencer a disputa em Recife. Entretanto, se a oposição for sábia, e esquecer a intenção de votos, pensará estrategicamente e criará estratégias que visem enfraquecer a candidatura de João Paulo. Estratégias existem para tal!

Eduardo Campos, inicialmente, será um aliado de João Paulo. Friso, inicialmente. Mas caso João Paulo conquiste a prefeitura do Recife e as conjunturas econômica e política não favoreçam a reeleição de Dilma, as peças do xadrez poderão se movimentar radicalmente em 2013 e em 2014.

João Paulo, como prefeito do Recife, atrairá Armando Monteiro e atores do PMDB e PSDB. E ele poderá vir a ser candidato ao governo do estado em 2014 com o apoio de Marina Silva. Esta, inclusive, liderando um novo partido.

E se João Paulo perder a eleição para prefeito do Recife? O ator que for eleito prefeito do Recife se transformará automaticamente em uma nova e forte liderança em Pernambuco.

Brasil S/A

Adriano Oliveira, | qui, 15/09/2011 - 17:01
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Imaginem que o Brasil seja uma empresa privada comandada por Dilma, a principal executiva. Esta empresa é composta por 37 diretores e milhares de acionistas. Os diretores exigem lealdade de Dilma. E os acionistas esperam lucros da empresa. Pressionada, a executiva Dilma toma decisões equivocadas. E...

“Em nove meses, o Brasil S/A perdeu cinco diretores. Os diretores ocupavam posições importantes, inclusive, o segundo executivo da empresa, em razão das circunstâncias, solicitou demissão. Ou melhor: foi demitido. Mas a principal executiva, Dilma, não confirmou isto. Os acionistas, até o instante, não exigem explicação de Dilma, pois estão anestesiados com os lucros da gestão passada - Lula. Dilma, em nenhum instante, admite erros na condução da gestão. A saída de Palocci, o segundo executivo da empresa, possibilitou a vinda de uma executiva sem experiência no mercado. É possível que os acionistas comecem a reprovar a gestão de Dilma. Eles, em algum instante, sofrerão conseqüências em razão da queda do lucro da empresa - corte de investimentos e diminuição do poder de compra. Dilma, a principal executiva, não diz nada. Aliás, se encontra com os outros diretores e pedem para eles indicarem outro diretor. Os diretores não admitem que o novo membro da diretoria seja um técnico reconhecido do mercado. Sugerem uma pessoa do circulo de amizades deles. O tempo passa. Clientes somem. A Brasil S/A quebra. Mais uma empresa vai a falência no país do futuro”.   

Se o Brasil fosse uma empresa, certamente, Dilma já teria deixado o cargo de principal executiva. Ou, visão mais otimista: estaria com o cargo ameaçado. Mas o Brasil não é uma empresa. E os eleitores não são acionistas, apesar deles esperarem boas ações do governo. Em razão de o sistema político brasileiro ser presidencialista, os eleitores esperarão por cerca de três anos para decidir o que fazer com Dilma. Enquanto isto, novos ministros cairão. Só não irá ocorrer uma coisa: o Brasil não quebrará, mas poderá deixar de se desenvolver. 

Espero que Dilma faça um bom governo. Mas as conjunturas política e econômica me trazem pessimismo.

O contador de votos

Adriano Oliveira, | qua, 14/09/2011 - 12:36
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Os contadores de votos estão em toda parte. Na Academia, na imprensa e nos partidos políticos. Os contadores de votos fazem pesquisas e olham sempre e exclusivamente para a variável intenção de voto. O que importa para eles é o percentual do primeiro colocado.

Se o candidato X tem 38% e o segundo colocado (Y), 19%, o contador de votos afirma imediatamente: “O candidato X deve vencer a eleição”. Quanto mais próximo do pleito, maior a convicção do contador de votos. O contador de votos não trabalha com hipóteses. Ele parte da premissa única de que escolhas feitas, escolhas consolidadas.

Os contadores de votos desconhecem a trajetória do eleitor. Para eles, os eleitores não sofrem influência das estratégias eleitorais e de outros eleitores. Esquecem ou não sabem que indivíduos interagem, formam preferências e fazem escolhas. A interação, a formação das preferências e as escolhas ocorrem numa trajetória.

Geralmente, os contadores de votos se decepcionam, silenciam e mudam de opinião. Candidatos se decepcionam e responsabilizam os institutos de pesquisas. Frisam, quase sempre, que eles erraram. Alguns acadêmicos ficam em silêncio ou decidem fazer um estudo pós-eleição para explicar as variáveis que possibilitaram a derrota de dado candidato. E a imprensa muda rapidamente de opinião.

Algumas obras presentes na literatura mostram que os contadores de votos precisam ficar atentos. Recomendo dois excelentes livros: Emoções ocultas e Estratégias eleitorais, de Antônio Lavareda. E Campaign Communication & Political Marketing, de Philippe j. Maarek. Além do meu recente artigo: O lulismo e as suas manifestações no eleitorado – Estas obras mostram o papel/importância das estratégias eleitorais e da conjuntura junto ao comportamento do eleitor.

Eleições municipais ocorrerão no próximo ano. Os contadores de votos já começaram a contar.  Para eles, quem parte na frente ganha. Eles, infelizmente, não consideram os seguintes pontos:

1.    Prefeitos bem avaliados são reeleitos e perdem eleições.
2.    Prefeitos mal avaliados perdem e ganham eleições.
3.    As estratégias eleitorais importam. E elas, quando criadas adequadamente, podem mudar as escolhas dos eleitores.
4.    Boas ideias precisam ser ofertadas ao eleitor de maneira estratégica. Caso não, será uma boa ideia, mas sem efeito junto ao comportamento do eleitor.
5.    Pesquisas eleitorais revelam o instante. Mas podem possibilitar a construção de prognósticos eleitorais.
6.    Neste instante, o mais importante é identificar as condições de crescimento dos candidatos. Pesquisas sábias têm condições para tal.

As novas demandas do eleitor e estratégias

Adriano Oliveira, | ter, 13/09/2011 - 11:20
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Bons livros nos trazem boas ideias e novas abordagens. Conclui o livro “Radiografia de uma derrota – O cómo Chile cambió sin que La Concertacion se diera cuenta”. O livro é do sociólogo Eugenio Tironi. Recomendo este livro aos estrategistas políticos.

O livro de Tironi analisa a derrota da Concertacion no Chile na última eleição presidencial e o sucesso eleitoral de Sebastian Piñera na disputa. A principal tese de Tironi é que os eleitores do Chile mudaram. Em razão disto, a Concertacion perdeu a eleição para presidente da República.

Eleitores mudam? Sim, esta é uma tese que infelizmente não é tratada com atenção por parte dos estrategistas políticos. Os eleitores que elegeram FHC em 1994 tinham determinadas demandas. Hoje, estes mesmos eleitores, e outros que surgiram possuem outras demandas. O desenvolvimento econômico e o aumento do nível de instrução possibilitam a mudança dos valores (Novas demandas) do eleitor.

Se os eleitores mudam os seus valores, eles podem modificar as suas preferências. Os candidatos precisam atender as novas exigências do eleitor. Através de pesquisas quantitativas e qualitativas é possível identificar as novas demandas do eleitorado.

Certamente, o PSDB, após a era FHC, não descobriu as novas demandas do eleitor. O PT descobriu e ofertou soluções para as novas demandas. A herança positiva de FHC foi, por sua vez, incorporada também pelo PT. Ou melhor: por Lula. Com isto, nasceu o lulismo.

Com FHC, os eleitores iniciaram o processo de aumento do consumo. Na era Lula, os eleitores aumentaram o consumo e passaram a adquirir bens não antes adquiridos. E com Dilma, o que ocorrerá? Os eleitores que viveram as eras Lula e FHC desejam a manutenção das conquistas econômicas. E mais alguma coisa!

Tenho a hipótese de que a era Dilma será caracterizada pela demanda (Maioria do eleitorado) por beleza (Cabeleireiros, Academias), turismo e produtos mais luxuosos. Além dos produtos e bens já consumidos. O eleitor brasileiro não aceitará que alguém ameaçe o seu bem-estar econômico e o seu poder de consumo. E os que ainda não adquiriram este bem-estar, lutarão por ele.

Existem também outras demandas, quais sejam: melhoria da oferta de bens públicos – segurança, saúde e educação. Além de obras de infraestrtutura. Se Dilma tiver condições – o sucesso do seu governo depende, obviamente, das conjunturas econômicas e políticas – de manter as conquistas do eleitor e atender às novas demandas surgidas, ela será competitiva em 2014.

Dois aviões, duas torres e um evento

Adriano Oliveira, | seg, 12/09/2011 - 09:00
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Terroristas, em nome de alguma coisa, abordos de dois aviões, derrubaram duas torres nos Estados Unidos. Os atentados de 11 de setembro são lembrados até hoje. Ontem, 11 de setembro de 2011, a imprensa – televisiva e jornais – lembrou intensamente o atentado.

Em 2001, terrorista desejavam dar um recado ao mundo. E deram! Eles avisaram ao Ocidente que não toleram a cultura ocidental. E mostraram que a palavra tolerância não faz parte do seu vocabulário. O terror islâmico, o qual, vale salientar, é praticado por alguns, possibilitou que a aversão ao outro no Ocidente, mais especificamente aos islâmicos, possivelmente, tenha aumentado.

Bin Laden e variados terroristas deram o recado ao Ocidente. Mas não venceu o Ocidente, como alguns acreditam – Vejam matéria da Revista Carta Capital desta semana. Eles fizeram estragos, mas, por outro lado, possibilitaram guerras, destruição, xenofobia intensa, diminuição do exercício da liberdade, ódio.

Em alguns espaços, está presente argumento inconcebível, mas que precisa ser respeitado. Qual seja: o terror nasceu em razão das práticas do Ocidente, particularmente das práticas americanas.

É fato que os Estados Unidos já foram aliados dos que hoje fazem ou defendem o terror. É fato que existem benefícios econômicos advindos de guerras ocorridas em países como o Iraque e Afeganistão. Mas responsabilizar a América pelo surgimento das ações terroristas é delírio ideológico.

A ideologia exacerbada permite a discriminação do outro. Argumentos contrários não são aceitos. O diálogo não é possível. As diferenças não são respeitadas. As práticas de terrorismo surgem da ausência do diálogo e do respeito. O terror é, portanto, proveniente da ausência de democracia.

Uma pergunta básica: é possível democracia intensa em países dominados pelo Islamismo? Suspeito que não. E vou mais além: não devemos exigir que países islâmicos sejam democráticos. As suas escolhas precisam ser respeitadas. Se eles não desejam a prática democrática, que vivam sem ela, e arquem com as conseqüências, caso existam.

Porém, atores movidos por valores religiosos radicais não podem condenar os países do Ocidente e ameaçá-los com práticas de terror. Teoricamente, repito, teoricamente, o espaço territorial da Terra, possibilita a existência de valores radicalmente diferenciados.

Por que friso teoricamente? Não vislumbro um mundo sem capitalismo, sem mercados e sem liberdades. Não vislumbro um mundo fechado as redes sociais. Não vislumbro um mundo sem interações econômicas. Portanto, a ameaça terrorista tende a continuar, pois existem muitos que não vislumbra o que eu vislumbro.

Conselhos para os que desejam ser presidente da República

Adriano Oliveira, | sex, 09/09/2011 - 14:00
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Precisamos olhar com parcimônia os fatos da realidade brasileira. A pressa impossibilita uma análise apurada. Sem análise apurada, não conseguirmos compreender a realidade e prospectar quanto ao futuro. O futuro, às vezes, é incerto. Outras vezes, não.

Existe uma grande imprensa no Brasil? Acredito que sim. Mas esta grande imprensa não deve ser reconhecida como ruim. Mas como benéfica a democracia brasileira. Costumo afirmar que existem também os grandes articulistas brasileiros, os quais influenciam os leitores atentos – não são muitos – aos eventos políticos, institucionais e eleitorais.

A grande imprensa escolhe ou expõe a preferência por candidatos. Os grandes articulistas também. A escolha ou a preferência não condena a independência da grande imprensa ou dos grandes articulistas. Ao contrário, leitores e analistas políticos sábios descobrem que eles inserem uma agenda na opinião pública. E isto é legítimo num país democrático.

Não fere a democracia, o fato da grande imprensa e dos grandes articulistas escolherem ou preferirem dados atores políticos. Eles, inclusive, sugerem uma agenda para a opinião pública – função natural da mídia, pois ela informa e concede opinião sobre eventos.

Os candidatos que caminham contra a agenda escolhida tendem a sofrer da grande imprensa e dos grandes articulistas oposição no campo das ideias. E uma constante fiscalização. Os que conjugam com a agenda ofertada, tendem a receber atenção e elogios. Mas isto não significa que estão imunes à constante fiscalização.

Encontro na agenda da grande imprensa e dos grandes articulistas a reforma tributária, o controle inflacionário, a responsabilidade fiscal, a privatização, a defesa por maior investimento estatal em infraestrutura, a educação, a segurança pública, a transparência e a eficiência da máquina pública. Esta agenda foi construída em razão das opiniões dos seguintes atores: acadêmicos, mercado (Este reconhecido como um ator político), e profissionais do mercado.

Os temas apresentados vieram à tona lentamente no Brasil. O início da ebulição destes temas ocorreu na curta era Collor. E se consolidou na era FHC. Alguns dos temas foram incorporados na era Lula pelo PT. Outros não. No governo Dilma ocorre algo semelhante.

Em 2014 a agenda da grande imprensa e dos grandes articulistas não mudará. Os que desejam ser presidentes precisam conquistar a admiração e o respeito da grande imprensa e dos grandes articulistas.

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