Tempero de sons em novo CD da OPBH

Maestro Forró e Orquestra da Bomba do Hemetério lançam o disco #CabeçaNoMundo neste sábado (17), no Teatro Luiz Mendonça

por Marina Suassuna sab, 17/11/2012 - 00:08
Chico Peixoto/LeiaJá Imagens Em #CabeçaNoMundo, a Orquestra do Maestro Forró dialoga com os ritmos do mundo Chico Peixoto/LeiaJá Imagens

Coco, xaxado, frevo, forró, ciranda, chorinho, cumbia e até um maracatu funkeado fazem parte do caldeirão cultural que traduz o novo trabalho da Orquestra da Bomba do Hemetério (OPBH) intitulado #CabeçaNoMundo. O disco, segundo da carreira da OPHB, chega para celebrar os dez anos da orquestra, comemorados em grande estilo neste sábado (17) com o lançamento do CD no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu.

#CabeçaNoMundo nasceu do aprofundamento da filosofia de trabalho de Francisco Amâncio da Silva, o irreverente Maestro Forró, líder e fundador da orquestra. Pesquisa, manutenção (da pesquisa), releitura e interação de linguagens integram o mantra do maestro. Tão popular quanto acadêmico é o #CabeçaNoMundo, que se comunica com todo o mundo, à medida que "populariza o erudito e eruditiza o popular", como gosta de frisar o Maestro Forró.

O caráter universal do disco começa pela hashtag (#),incluída no nome do álbum. "Foi uma escolha que fiz porque além de fazer referência à potencialização da comunicação nas redes sociais, que ligam pessoas de todas as partes do mundo, é o mesmo símbolo do 'sustenido' na música. Ou seja, está tudo conectado", explica o maestro. As andanças da Orquestra, que este ano realizou turnês em Cuba, Europa e Estados Unidos, influenciaram diretamente na essência do novo trabalho, que eliminou qualquer tipo de fronteira entre local e universal. "Quando eu estava em Cuba, eu me sentia em casa, como se estivesse na Bomba (do Hemetério). É esse o sentimento que nós pensamos em transmitir através do disco, tratar todo mundo como cidadãos do mundo. Acredito que antes de ser uma comunidade do Recife, a Bomba é uma comunidade do mundo. O mundo está na Bomba e a Bomba está no mundo", atesta o maestro.

#CabeçaNoMundo é denso de informação, mas de curta duração. São 12 faixas, seis com letras e seis instrumentais. Ousadia não faltou no novo trabalho da OPBH. A começar pela primeira faixa, intitulada Frevo de Bolso, que além de inspirada em elementos circenses (outro símbolo cosmopolita), teve a tuba substituída por um piano de calda no acompanhamento. Ousadia maior foram as participações escolhidas para o disco. O ex-Cordel do Fogo Encantado, José Paes de Lira, o Lira, empresta sua voz para o frevo de bloco Recife Iluminado. "Para essa música, eu quis a forma peculiar do Lirinha cantar, essa voz teatralizada. Nessa faixa, eu vejo mais teatro do que música, ou tudo junto e misturado", reflete o fundador da Orquestra. Outra participação pernambucana é a de Fred04, vocalista do Mundo Livre S/A, que divide os vocais com o Maestro Forró na versão frevada de Meu Esquema, um dos maiores hits do Mundo Livre. O bandolinista e professor Marcos César completa o time de participações especiais do disco na faixa Formiguiando, dedicada ao Maestro Ademir Araújo, o Formiga. "Ele tem a ver com a história das orquestras populares, essa coisa inquieta, que tem tudo a ver com o nosso trabalho", diz Forró.

Outro momento inusitado é na terceira faixa, Tô Doidão, hit de Reginaldo Rossi que foi sucesso nas rádios nos anos 1970, e que, no disco, ganhou uma roupagem de frevo. Também de homenagens é feito o #CabeçaNoMundo. Além do Maestro Formiga e Reginaldo Rossi, Nelson Ferreira é lembrado na releitura de seu clássico Óia a virada. Segundo Maestro Forró, o compositor teve papel importante na caracterização do frevo enquanto ritmo. "Nelson foi o divisor de águas que transformou o frevo em frevo puro. Ele retirou do frevo algumas características que trazia do começo, quando o ritmo começou como marcha". Na última faixa, que leva o nome do álbum, o ouvinte se depara com todo o CD reunido em 1:11. Trata-se de um remix, assinado por Jorginho Manêro, com pequenos trechos e ruídos das músicas que compõem o disco.

Atualmente formada por 27 integrantes, dos quais 21 são músicos e seis são técnicos, a Orquestra da Bomba do Hemetério completa, com o novo disco, um ciclo de aprendizado fruto do contato com o mundo. "Estamos abertos a world music, música eletrônica. A ideia é trazer o que está distante para mais perto de nós", afirma Francisco Amâncio.

Na ocasião do show de lançamento, que conta com incentivo do Funcultura, assim como o disco, a OPBH toca o #CabeçaNoMundo na ordem, misturando teatro, dança e música, com direito à presença das participações especiais. #CabeçaNoMundo tem concepção e direção musical e artísticas assinadas pelo Maestro Forró, produção executiva de Alessando Guedes - que participou dos trabalhos anteriores da OPBH (CD e DVD Jorrando Cultura Ao Vivo) - e assistência de direção musical do instrumentista da Orquestra, Waltinho D'Souza. A arte da capa é de Eduardo Padrão. Segundo Alessandro Guedes, adequar a arte do disco com o som da OPBH foi um dos maiores desafios. "A produção da capa foi uma longa discussão, pois tivemos a preocupação de traduzir o sentimento do disco através de uma boa apresentação do produto".

Recentemente, o Maestro Forró e OPHB receberam das mãos da presidente Dilma Rousseff, em Brasília, a Ordem do Mérito Cultural, uma das maiores honrarias culturais do Brasil.

Serviço



Lançamento do CD #CabeçaNoMundo do Maestro Forró e da Orquestra Popular da Bomba do Hemetério (OPBH)



17 de novembro (sábado), às 20h



Teatro Luiz Mendonça - Parque Dona Lindu (Av. Boa Viagem, s\n, acesso pela Rua Setúbal)



Gratuito

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