Karl Lagerfeld e a arte de se reinventar

O estilista foi responsável por três marcas, mas seu nome é principalmente associado à maison Chanel, para a qual ele organizou desfiles espetaculares

ter, 19/02/2019 - 12:50
PIERRE VERDY (1995) O estilista alemão Karl Lagerfeld, no encerramento de desfile da Chanel em Paris PIERRE VERDY

Embora em sua maneira pessoal de se vestir Karl Lagerfeld fosse facilmente reconhecido, suas criações eram caracterizadas por seu ecletismo e sua capacidade de se reinventar a todo tempo, capturando o espírito da época.

O estilista foi responsável por três marcas (Chanel, Fendi e a grife homônima), mas seu nome é principalmente associado à maison Chanel, onde ele não hesitou em revolucionar os códigos existentes e para a qual ele organizou desfiles espetaculares.

Com ironia, costumava dizer que Gabrielle Chanel "odiaria" o trabalho dele.

Quando chegou a Chanel, em 1983, a marca estava em um momento ruim.

"Todos me disseram: 'não mexe nisso, está morto, acabou' e foi isso que me divertiu, foi um desafio e funcionou cem vezes melhor do que eu pensava", afirmou Lagerfeld.

O estilista lembrava do que Alain Wertheimer, coproprietário de Chanel e seu irmão Gérard, haviam dito a ele: "Faça o que quiser. Eu venderei a maison de qualquer maneira, não funciona. E eu respondi: 'escreva isso em um pedaço de papel'".

Lagerfeld adotou os clássicos da marca, como os tweeds, as pérolas e as correntes de ouro.

"Ele foi o primeiro a repensar todos os códigos da casa para usá-los de outra maneira", explica a historiadora de moda Catherine Örmen.

Segundo ela, o toque de Lagerfeld era mais um estado de espírito do que um estilo reconhecível e estava em constante evolução.

"Na década de 1980, suas silhuetas tinham costas muito largas. Na década de 1990, elas eram muito 'skinny', sempre de acordo com a época", explica.

Em 2014, ele apresentou um vestido de alta-costura com bordados de concreto e, em 2015, ternos tridimensionais.

"No entanto, ele cometeu alguns sacrilégios", recorda Örmen, citando um modelo de alta-costura de 1986 com crinolina, aquelas armações sob as saias rodadas para dar volume.

"A senhorita Chanel certamente se revirou em seu túmulo!", acrescentou.

Mas a liberdade foi o que o estilista alemão sempre reivindicou para sua arte.

"Karl era insaciável, sempre curioso, tomando emprestado de diferentes áreas, especialmente a rua ou o universo dos motociclistas, do surfe", lembra a britânica Emma Baxter-Wright, autora de "Little Book of Chanel", que destaca "insolência" do criador.

Seus desfiles eram esperados como shows de Chanel e sempre tiveram cenários grandiosos.

Cada desfile tinha um tema e seu universo, recriado no Grand Palais de Paris, em um museu, um supermercado, um aeroporto, um jardim zen, uma floresta, um iate de luxo, etc.

Nos desfiles, Lagerfeld tinha a seu lado Virginie Viard, diretora do estúdio que supervisiona oito coleções por ano.

Uma fiel colaboradora com quem trabalhou por mais de trinta anos.

"Sem Virginie, o desfile não existiria. Ela está por trás de todas as coleções. É um dos elementos essenciais da Chanel, juntamente com Bruno [Pavlovsky, presidente de atividades de moda da Chanel] e Eric [Pfrunder, diretor de imagem]", assegurou o "Kaiser" em maio de 2018.

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