Livro reúne crônicas do jornalista Euclides Farias

"Rir é o melhor corretivo", edição póstuma, será lançado na quarta-feira (8), na Casa da Linguagem, em Belém, com show musical e exposição de fotografias e ilustrações

seg, 06/05/2019 - 11:06

Parentes, amigos, colegas de trabalho e admiradores do jornalista Euclides Farias, que morreu em agosto do ano passado, têm encontro marcado na quarta-feira, 8 de maio, na Casa da Linguagem, em Belém. Na ocasião, o governo do Pará, por meio da Imprensa Oficial do Estado, fará o lançamento de um livro póstumo do jornalista, “Rir é o melhor corretivo” (Ioepa, 133 pág., R$ 30,00), que reúne 45 crônicas de sua autoria. A sessão de autógrafos, sob a responsabilidade de Daniele Almeida, viúva do autor, vai começar às 18h30.

O livro vinha sendo planejado por Euclides Farias para marcar os 60 anos que completaria em novembro último. Três meses antes do aniversário, porém, Euclides perdeu a batalha contra a leucemia.

Para viabilizar a publicação, um verdadeiro mutirão de amigos do jornalista responsabilizou-se pela produção editorial antes que o livro entrasse no prelo da Ioepa. A pesquisa de conteúdo foi feita por Daniele Almeida, no arquivo pessoal do autor; o prefácio é do professor e doutor em literatura Paulo Nunes; a edição de texto e o posfácio são do jornalista Iran de Souza; as ilustrações – 12 ao todo –,  do cartunista JBosco Azevedo; e a capa é do também cartunista Biratan Porto.

No evento na Casa da Linguagem, haverá ainda exposição das ilustrações de JBosco e de fotografias que Euclides produzia, por hobby, nas horas vagas. O percussionista Paulinho Assumpção comandará uma sessão de chorinho em homenagem a ele, cujas paixões maiores foram a MPB, o jornalismo, a pesca e a literatura, com predileção pela poesia e pela crônica. 

“Euclides era uma daquelas figuras de quem era impossível não gostar. Trabalhou no principais jornais do Estado, tinha relação com pessoas dos mais variados segmentos da política, da academia, da cultura paraense. Lançar seu livro póstumo é uma forma de homenageá-lo e de preservar sua memória”, diz Jorge Panzera, presidente da Ioepa.

Euclides Farias foi jornalista por quase 40 anos. Trabalhou nos jornais Marco Zero (AP); A Província do Pará, O Liberal e Diário do Pará (PA); Folha de S. Paulo e Jornal da Tarde (SP); e também em agências de notícias, emissoras de tevê e de rádio. Além do zelo pela profissão, era conhecido pelo bom humor, pela fidelidade aos amigos, pelo gosto de viver e pelo prazer com que contava causos de pescadores e de caboclos da Amazônia, imitando-lhes o sotaque e os trejeitos.

Não por acaso, “Rir é o melhor corretivo”, embora traga também muitas histórias urbanas, tem seu ponto alto justamente nas narrativas rurais e ribeirinhas que o autor escreveu com muito estilo. “O livro é delicioso. Parece o próprio Euclides falando. Eu só posso dizer que foi uma grande alegria, uma satisfação editar suas crônicas, que aliás me deram pouco trabalho porque o Euclides escrevia muitíssimo bem”, comenta Iran de Souza.

Segundo a viúva Daniele Almeida, os amigos e a família de Euclides Farias estão mobilizados para a homenagem da próxima quarta-feira. Alguns de seus parentes virão de Macapá (AP), onde ele nasceu – e onde ainda vive a maioria dos Farias – especialmente para a ocasião. “Vai ser um momento muito especial para todos nós – para mim, para os filhos, para os colegas de trabalho. Desde já, estou muito emocionada e muito feliz de realizar um sonho do Euclides que se tornou meu também, e gostaria de agradecer a todos que colaboraram para que o livro fosse publicado”, diz Daniele.

Leia uma das crônicas do livro:

O comprador de queijo cuia

Um pescador freava a canoa todas as vezes que passava em frente ao comércio mais sortido da ilha. O comerciante espichava o olho lá do trapiche de sua empresa.

– Seu Raimundo, tem queijo cuia?!!

– Não!!

Um ritual. Era o pescador passar por lá e perguntava se havia queijo cuia.

Certo dia, o regatão encostou no comércio e seu Raimundo lembrou.

– Vosmecê tem queijo cuia? Tenho um freguês certo para o produto.

Tinha. E era caro, preveniu o regatão.

Os olhos do seu Raimundo brilharam.

No dia seguinte, o pescador fez maresia no rio, reduzindo as remadas.

– Seu Raimundo, tem queijo cuia?

– Hoje eu tenho – respondeu, todo felizão, o comerciante.

Pus’ quando o senhor vender, guarde a cuia pra mim tirar água da canoa.

E tacou remo no estirão, sumindo na curva do rio.

Da assessoria do evento.

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