Escritor Salomão Larêdo fala sobre o universo amazônico

“A minha literatura é a arma que eu uso pra defender a região”, afirmou. Novo livro é romance ficcional que se passa na área do Pedral do Lourenço, no rio Tocantins, sudeste do Pará.

qui, 17/12/2020 - 16:25
Blog do Salomão Larêdo Salomão Larêdo tem rica produção literária com inspiração amazônica Blog do Salomão Larêdo

Nascido no município de Cametá, Pará, no dia 23 de abril, Salomão Larêdo é escritor e um dos nomes mais influentes da cultura amazônica contemporânea. Dono de várias facetas - é advogado, jornalista, mestre em Teoria Literária, pela Universidade Federal do Pará (UFPA), poeta, contista e romancista -, é na literatura que deixa marcas.

Tem mais de 40 obras publicadas, que narram sobre a cultura, as histórias e o imaginário paraense. Em entrevista ao LeiaJá, às vésperas de lançar o novo livro, intitulado “Pedral, Canal do Inferno”, Larêdo fala da vida, da carreira e da inspiração para esse romance ficcional.

Com o lançamento previsto para começo de 2021, “Pedral, Canal do Inferno” é um romance que se passa no Pedral do Lourenço, formação rochosa no meio do rio Tocantins, sudeste do Pará, que impede a navegação durante a estiagem e inviabiliza a hidrovia do Araguaia-Tocantins. “A ideia para este romance eu tive lendo o livro de ‘Belém a S. João do Araguaia’, escrito pelo engenheiro cametaense Ignácio Moura", disse. A narrativa, segundo Larêdo, se desenvolve em torno do Pedral do Lourenço, revela o escritor.

Salomão Larêdo relata que, por ter nascido na vila do Carmo cametaense, à beira do rio Tocantins, a cultura e o imaginário amazônico influenciam totalmente sua literatura. “Ela é a personagem principal das personagens do meu labor literário. Eu procuro me valer das mitologias pessoais, da mitologia grega e das mitologias amazônicas para fazer esse entendimento ser cada vez melhor na literatura que eu faço”, explica.

Paixão de longa data, o escritor acredita que o amor pela literatura surgiu desde pequeno, com as histórias contadas pelos familiares sobre o lendário e as encantarias da Amazônia, e se recorda do pai. “[Meu pai] me ensinava, lia muito para mim, contava histórias, comprava livros – tanto quanto eram possíveis, porque as condições eram difíceis. Eu acho que fui me apaixonando”, diz.

O escritor conta que cedo teve contato com a literatura de Machado de Assis e passou a ser influenciado por ela. Depois começou a ler obras de Dalcídio Jurandir, Ildefonso Guimarães e outros autores locais. Em nível nacional, Larêdo diz que teve influência de Jorge Amado. Internacionalmente, de James Joyce. 

“Costumo ler Joyce como aprendiz, como quem está procurando o entendimento, o aprender, o exercitar, ver de que modo eu posso melhorar cada dia mais o meu texto e esse texto ser uma coisa gostosa, prazerosa. As influências são muitas, de todas as áreas, em diversos campos”, revela. “Eu sou apaixonado pela literatura universal e que se desenvolve em toda parte”, acrescenta.

Salomão Larêdo diz que a literatura regional brasileira, apesar de ser densa, de ter valores importantes e boa elaboração, ainda não é valorizada. “Por não conhecermos, nós não valorizamos. Então outras pessoas lá fora estudam mais, pesquisam mais, sabem do que nós estamos fazendo aqui e valorizam mais”, explica o escritor. Ele cobra incentivo e estímulo.

Novos leitores

O escritor também acredita que a formação do leitor deve ser trabalho de todo cidadão, não somente do escritor e do artista. “Todas as pessoas devem se preocupar em formar leitor crítico. Se quisermos ter uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais feliz, mais equânime, mais afetuosa, nós devemos investir em educação e cultura, o que passa pelo livro e pela leitura, pela formação do leitor”, afirma. 

Para Salomão Larêdo, democratização da leitura é colocar o livro à disposição do público. “Livrarias nós temos quase que nenhuma em Belém, com dificuldade elas se mantêm. Bibliotecas temos pouquíssimas. Espaços de leitura nas escolas, quase nenhum. Como formar leitores, como democratizar a leitura sem espaço de leitura, sem aquisição de obra do autor local, nacional e internacional?” questiona. “Nós precisamos ter um programa, um processo, políticas públicas de leitura, de aquisição de livros, de formação de leitor para que a democratização do livro (processo) se dê”, complementa Larêdo. 

O escritor ressalta a importância da leitura e da pesquisa para aqueles que pensam em se tornar escritores. “Como ser escritor? O primeiro escritor é leitor. Acho que tem que ler muito, estudar, pesquisar e exercitar muito o texto. Qualquer gênero que você opte por escrever, tem que estudar bastante, mas ler é o principal.”

Salomão enfatizou também a validação de participar de concursos literários, não só pelo reconhecimento e para vencer, mas também pela experiência que se ganha. “Depois é entrar em concursos literários, locais, regionais e nacionais. Há muito concurso importante, concursos sérios, que se deve mandar os trabalhos e não se chatear se o trabalho não foi premiado”, afirmou o escritor.

Carreira literária

Salomão revelou que não imaginava que iria escrever tantos livros, ainda mais com as dificuldades da época. "Há 10, 15, 20, 30 anos a gente não tinha as facilidades que se tem hoje no sentido de a pesquisa mais rápida, pesquisar no Google, de serviços de edição gráfica um trabalho mais aprimorado.”

O jornalista lembra que, especialmente em Belém, a dificuldade estava na ausência de recursos e incentivos à cultura. “Pra quem não tinha condições, e aqui não havia incentivos nesse sentido, as coisas foram pouco a pouco também aparecendo e me meti em concursos literários, realmente eu batalhei bastante para descobrir, fazer pesquisa, estudar, saber como se davam as coisas e queria fazer uma carreira. Depois disso, tomei consciência que era este o dom que eu tinha, de escrever e que deveria desenvolver.”

O autor fala sobre sua literatura ser uma arma a qual usa como para defender a região Amazônica, a cultura, o povo e a sua voz. “A minha literatura é a arma que eu uso pra defender a região, pra falar do meu povo, pra falar da nossa cultura, para defender que nós estamos presentes, pra ir em frente rompendo as dificuldades, pra ver se a nossa voz é ouvida, porque nós precisamos falar da Amazônia, dizer o que somos, como estamos, retratar o sofrimento do povo, as coisas que precisam ser melhoradas, defender a região, o meio ambiente e a natureza humana”, afirmou o escritor.

Leia mais sobre o escritor aqui.

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Por Carolina Albuquerque, Isabella Cordeiro e Rita Araújo.

 

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