Atletas que abandonam a escola têm futuro ameaçado

Muitos jovens buscam a profissionalização no futebol e acabam deixando de lado os estudos, ficando sem ter para onde correr quando a carreira no esporte acaba

seg, 29/03/2021 - 17:55

De acordo com pesquisa da Universidade do Futebol, o número de crianças que conseguem subir da divisão de base para o futebol profissional é baixíssimo. De três mil jovens que buscam alcançar esse sonho, apenas um consegue despontar. Pior: muitos abandonam os estudos.

A discussão sobre o prosseguimento da carreira acadêmica pelos jovens que se arriscam no esporte torna-se cada vez mais necessária. Para o professor Gabriel Augusto Batista, educador físico e ex-atleta da base do Clube do Remo, a necessidade de manter os estudos em dia, atrelados aos treinos, é a segurança daqueles que acabam não conseguindo realizar seu primeiro sonho. "Além disso, essa necessidade de manutenção dos conteúdos, paralelamente aos treinamentos, é muito mais do que um plano B. Existe uma grande relação da capacidade cognitiva com o rendimento em um jogo. Ou seja, desenvolver essa capacidade, a capacidade de raciocínio, como nós desenvolvemos na escola, estudando, é uma forma muito eficaz de desenvolver o potencial de jogo de um atleta", afirma.

O médico ortopedista Aderson Barroso, ex-jogador profissional que marcou época no Remo, com passagem também pelo Flamengo, diz que essa situação se dá pelo sucesso ou não que o futebol pode trazer. "Seria ótimo se todos os atletas mantivessem seus estudos projetando um futuro em outra profissão que não o futebol. As divisões de base, principalmente no nosso Estado, deveriam se preocupar um pouco mais em formar o ser humano e não somente um jogador, em vista que a carreira de atleta não deixa de ser curta", diz.

Gabriel Batista pontua a necessidade do incentivo familiar para que não ocorra o abandono da carreira acadêmica e para garantir o apoio que os treinadores, vistos como professores, devem passar para seus atletas. "Eu acho que esses deveriam ser os mais interessados e engajados na manutenção dos conhecimentos passados na escola", observa. Segundo ele, mesmo que muitas famílias necessitem e sonhem com uma ascensão econômica pelo esporte, nem sempre o filho ou filha se torna profissional.

Para Aderson, esse apoio é difícil pelo fato de muitos atletas virem de famílias mais humildes e a orientação de jogar e estudar não ser uma rotina na vida dessas pessoas. Segundo o ex-jogador, ao contrário das regiões mais afastadas, no eixo Sudeste-Sul a prerrogativa de estudo é inserida na formação dos atletas.

Apesar das dificuldades apresentadas, e das crises financeiras dos clubes da região Norte, Gabriel e Aderson consideram importante o investimento do clube na carreira acadêmica do atleta enquanto ele faz parte da instituição, auxiliando com bolsas estudantis e até com escolas dentro do clube, como faz o Vasco. "Se o atleta puder oferecer algo ao clube em outra função, acho muito interessante que seja dado esse apoio, essa oportunidade, porque serão profissionais que terão prazer e paixão de trabalhar naquele lugar, nesse ambiente", concluiu Gabriel.

Por Haroldo Pimentel e Roberta Cartágenes.

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