Condições desumanas: realidade do Hospital Getúlio Vargas

Pacientes que precisam de atendimento na unidade convivem com a superlotação do local. Como bichos, idosos e jovens estão amontoados e desalojados nos corredores do hospital

por Jameson Ramos sex, 16/08/2019 - 20:21

A calamidade em que se encontra o Hospital Getúlio Vargas (HGV), localizado na Caxangá, Zona Oeste do Recife, só vem piorando a cada dia. Em visita à unidade de saúde na última quarta-feira (14), o LeiaJá sentiu de perto a situação degradante do espaço: pacientes literalmente jogados pelos corredores da unidade, praticamente amontoados um em cima do outro. Com poucos leitos disponíveis no local, devido tamanha superlotação, as ambulâncias que chegam com os pacientes tem que deixá-los “acomodados” na maca que poderia ser usada para socorrer outras pessoas.

A superlotação do HGV obriga que os pacientes, seja em estado grave ou não, tenham que ficar em cadeiras e até em pé, sem essa de prioridade, para tomar as medicações na medida do possível. Quem procura o hospital reclama da situação e diz que isso não deveria ser a realidade nem dos cachorros. “Eu estou aqui com a minha mãe que caiu e fraturou o osso do pé. Agora você vê a situação dela, uma fratura exposta, com a carne aberta capaz de pegar uma infecção por conta da realidade desse hospital - absurdo”, exclamou uma acompanhante que não quis se identificar.

Para além das dificuldades de leitos, macas e espaços para medicação dos pacientes, a unidade sofre de um mal cheiro muito grande, possivelmente por conta das feridas dos pacientes e a falta do ar-condicionado nos corredores que não deveriam estar tomados pelas pessoas. 

Dois vídeos mostram a realidade do HGV em 2018 e 2019, confira

Procurando atendimento na última quarta (14), uma idosa de 70 anos precisou ser atendida no chão, já que não conseguia se locomover e não tinha maca necessária para atender a demanda dela. Enfermeiros e médicos, diante dessa situação, também tentam se virar como podem para que, pelo menos, os atendimentos sejam garantidos em meio ao caos.

Sem querer se identificar, um profissional do Getúlio Vargas apontou que esse problema de superlotação não é exclusividade do HGV. “Se você for em outros hospitais do Recife, com toda certeza vai ver essa dificuldade dos pacientes. Não tem leito para todo mundo em lugar nenhum porque a demanda está grande. Muito disso se deve porque as pessoas não estão tendo mais condições de pagar planos de saúde e toda a demanda começa a voltar para o SUS”, relata.

A afirmação do profissional não bate com a última atualização da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). De acordo com o órgão, no mês de junho deste ano o setor de planos de saúde contabilizou em todo o país mais de 47 milhões de beneficiários. Os dados apontam crescimento em número de clientes na segmentação médica, em comparação ao mês de maio de 2019 e ao ano de 2018 - o que mantém a tendência de estabilidade. Pernambuco, por exemplo, saltou de 1.339.690 em junho de 2018 para 1.343.527 em junho de 2019. Isso representa um acréscimo de 3.837 ao plano de saúde.

A triste situação do HGV não é de pouco tempo, há pelo menos 10 anos pacientes reclamam da superlotação no local que é referência no atendimento de ortopedia em Pernambuco. O governo do Estado garante que vem fazendo o possível para amenizar a calamidade instaurada no local. No início de julho deste ano, 28 leitos foram inaugurados, com a instalação das salas vermelha e amarela para o atendimento aos pacientes mais graves na unidade de saúde. No entanto, tal “novidade” já apresenta problemas. 

Nas redes sociais, um paciente compartilhou um vídeo que mostra uma queda de água vindo de um ar-condicionado na ala vermelha, recém entregue pelo governo. Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco aponta que o aparelho apresentou falha no sistema de congelamento. 

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Confira a nota, na íntegra, da Secretaria de Saúde de Pernambuco

A Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) reconhece a grande demanda na emergência do Hospital Getúlio Vargas (HGV), mas informa que, mesmo diante da situação, a unidade vem garantindo o atendimento à população, priorizando os casos mais graves. É importante destacar, ainda, que o HGV está funcionando em sua plena capacidade e não recusa atendimento, garantindo a assistência a todos. Todos os pacientes são acompanhados diariamente e ficam em observação contínua para reavaliação de seus quadros e definição de conduta terapêutica.  

É importante explicar também que os pacientes internados na emergência da unidade são acomodados de acordo com a gravidade do quadro de saúde nas alas vermelha e amarela. Diariamente, recebem visita de equipe multidisciplinar, que avalia a necessidade de transferência para leitos internos ou de convênio de acordo com a disponibilidade de vagas, priorizando de acordo com o quadro clínico e gravidade do caso. 

Sobre o ar condicionado, a direção da unidade esclarece que o aparelho, recém-instalado, apresentou falha no sistema de congelamento, por isso precisou ser desligado para troca dos filtros e descongelamento do equipamento. A equipe de manutenção foi acionada e já realizou os reparos necessários. Vale ressaltar também que os aparelhos da unidade passam, periodicamente, por manutenção preventiva.

O Governo do Estado vem investindo fortemente no reforço das escalas na rede hospitalar. Desde 2015, foram 6,6 mil profissionais concursados convocados - o maior chamamento da história de Pernambuco. Para suprir a crescente demanda, qualificar a assistência e manter as escalas completas no Hospital Getúlio Vargas, mais de 500 profissionais, entre médicos e outras categorias de saúde, foram convocados para a unidade nos últimos anos.

Sobre a nova emergência, o Governo de Pernambuco inaugurou, no início de julho, mais 28 leitos, com a instalação das salas vermelha e amarela para o atendimento aos pacientes mais graves – sendo 14 em cada uma delas. A primeira fase da reforma foi concluída e entregue ainda no final de setembro de 2018. Foi realizada também a modernização da subestação de energia, promovendo um aumento de 50% em sua capacidade elétrica.

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