Pet PE: criador de ONG é acusado na web de assédio sexual

Delegada Gleide Ângelo se colocou à disposição para ajudar as denunciantes

por dom, 17/05/2020 - 15:15

Uma das ONGs de assistência a animais abandonados atuantes em Pernambuco, a PET PE, está no centro de uma polêmica após a publicação de inúmeras denúncias contra o seu fundador, o empresário Jaime Medeiros. Ele está sendo acusado de desvio de dinheiro, pedofilia, assédio sexual e maus tratos a animais, por pessoas que afirmam ter sido voluntárias e funcionárias na organização. O perfil Expondo Pet PE foi criado no Instagram, com uma série de relatos que indicam crimes supostamente cometidos por Medeiros. 

Atuando desde 2008, a PET PE funciona em uma casa no bairro de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, recebendo cães abandonados. Para custear o trabalho, a ONG conta com a ajuda de voluntários, doações e vendas de chocolates e CDs, essas realizadas por jovens contratados. Um bar, chamado Canil Bar, também teria sua renda revertida para a manutenção do lugar e cuidados com os animais.

A página Expondo Pet PE, criada no Instagram, vem publicando, desde a última sexta-feira (15), inúmeros depoimentos de pessoas que afirmam ser ex-funcionários e ex-voluntários da ONG, em sua quase totalidade mulheres, com graves denúncias em relação a Medeiros. As publicações trazem relatos de assédio sexual, desvio de dinheiro arrecadado para o trabalho voluntário e maus tratos aos cães. Veja o perfil:

Em um deles, a denunciante diz: “Não sei nem por onde começar. Mentiras, maus-tratos, ameaças, muito dinheiro envolvido, aliciamento de menores, envolvimento com armas. No quarto dele, ele tinha tudo que a criançada gosta, doces, videogames e etc. Meninas de 13, 15 anos entravam lá e passavam horas trancadas”. Em outro depoimento, a pessoa relata: “Ele fazia muito dinheiro, desviava tudo pra manter os luxos dele e proporcionar coisas para as meninas”. Num terceiro, uma ex-funcionária diz: “Na época, eu tinha uns 15 anos, nunca tinha tido relações sexuais. Ele ficava descrevendo o pênis dele e que podia me ensinar a transar, enquanto ele falava isso começava a ficar excitado. Ficava passando as mãos na minha perna. Me sinto culpada”. 

Em entrevista exclusiva ao LeiaJá, uma jovem ex-voluntária da ONG, que preferiu não ser identificada, falou sobre sua experiência com o acusado. Ela disse ter topado o convite de um amigo para ajudar a cuidar dos animais, mas que logo percebeu algo estranho no lugar. “Eu estive lá umas duas vezes, eu percebi que todo o trabalho de limpeza e cuidado quem fazia era os voluntários. Ele (Medeiros)  ficava lá sentado, brincando e conversando com as meninas e os voluntários trabalhando”.

A jovem também afrmou ter sofrido assédio por parte do proprietário da ONG e que, por esse motivo, decidiu se afastar. “O Medeiros pegou meu contato e ficava dando em cima, assediando, dizendo que eu era muito bonita, que eu podia ser modelo, que ele tinha contato com agências e poderaime fazer ganhar muito dinheiro. Eu nunca demonstrei interesse. Ele me convidou para fazer as ‘blitz’, que é essa divulgação da ONG nos bares, para vender produtos e arrecadar fundos pra ONG, segundo ele. Na época o valor da diária era R$ 70 e ele dizia que a gente tinha que ir de shortinho curto para chamar mais atenção do público. Eu não fui, mas ele continuou insistindo”, disse.

Procuradas pela reportagem, as criadoras da página não quiseram se pronunciar, por questões de segurança. Apenas informaram estar em contato com advogados e que se posicionarão quando fosse oportuno. Em uma postagem deste domingo (17), os moderadores asseguram que não param de chegar novas denúncias, algumas "muito pesadas". “Infelizmente os relatos que vocês acompanham aqui são os mais leves. A situação é muito mais delicada do que parece. Tem coisas muito mais sérias envolvidas e nós não postamos porque estamos preocupadas com a nossa segurança. Pedimos mais uma vez, formalizem seus relatos. Sem B.O. (boletim de ocorrência) ele vai continuar impune”, diz um dos trechos da página.

Caso de polícia

Também pelo Instagram, a delegada e deputada estadual Gleide Ângelo disse ter recebido algumas mensagens denunciando Jaime Medeiros, inclusive encaminhadas pela ex-modelo Luiza Brunet, e reiterou a necessidade da denúncia formal. Em um vídeo enviado ao LeiaJá, e também publicado em seu perfil oficial, neste domingo (17), a delegada diz ter recebido diversas denúncias a respeito do caso. Ela também conta ter encaminhado todo o material para a Polícia Civil.

"O chefe de Polícia Civil, Dr. Neemias Falcão, ligou para mim e ele me disse que por ter crianças e adolescentes envolvidas nesse fato, a delegacia responsável será a Delegacia de Polícia da Criança e do Adolescente de Jaboatão e a delegada responsável pela investigação será a delegada Vilaneida Aguiar. A Secretaria da Mulher disponibilizou também um telefone para que vocês mulheres denunciem", declarou Gleide. O telefone para denúncias é o 0800-2818187.

Jaime Medeiros também foi procurado pelo LeiaJá para que se posicionasse diante das denúncias, mas não foi encontrado. Os perfis das redes sociais, tanto do Canil Bar quanto da própria PET PE, foram encerrados para a criação de novas contas, ambas privadas. Em uma delas, a descrição diz: “Hackearam nossa outra conta, mas continuaremos firme e forte pelos nossos focinhos”. Também foram tentados contatos através de telefone e WhatsApp, ambos sem sucesso. 

O LeiaJá procusou a assessoria de imprensa da Polícia Civil de Pernambuco para apurarmos se boletins de ocorrência já foram registrados. A assessoria está levantando respostas.

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