Casos de ansiedade e estresse aumentam na pandemia

Especialista explica que as mudanças repentinas nas atividades cotidianas acarretaram repercussões emocionais negativas

qui, 09/07/2020 - 19:27
Pixabay . Pixabay

O Brasil já era considerado um país ansioso mesmo antes do coronavírus, com 18 milhões de brasileiros convivendo com o transtorno, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Por causa da pandemia, os relatos de pessoas com ansiedade só têm aumentado.

Segundo pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), por meio de um questionário on-line durante os dias 20 de março e 20 de abril, que contou com a resposta de 1.460 pessoas de 23 Estados, os casos de ansiedade e estresse tiveram um aumento de 80%. Além disso, a pesquisa revelou que as mulheres são mais propensas do que os homens a sofrer com ansiedade e estresse durante esse período.

No início da pesquisa (entre 20 e 25 de março), o percentual de pessoas que relataram sintomas de estresse agudo era de 6,9%. O número subiu para 9,7% (entre 15 e 20 de abril). Os casos de crise aguda de ansiedade apresentaram um salto de 8,7% para 14,9%.

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O psicólogo Raimundo Neto, pós-graduado em Neuropsicologia e especialista em Avaliação Psicológica, explica que, por sua natureza, o ser humano está acostumado a sobreviver em grupo. No entanto, com a obrigação do isolamento social, tudo precisou ser modificado, inclusive a rede de apoio social, os familiares e amigos. Reencontros e um simples abraços precisaram ser substituídos por contato virtual.

As transformações de atividades cotidianas repentinamente provocaram uma série de impactos e repercussões emocionais que podem ser interpretadas negativamente e aos quais as pessoas não estavam acostumadas.

De acordo com o psicólogo, os primeiros sinais de uma ansiedade, com episódio depressivo ou estresse acima do normal, são notados em atividades cotidianas como arrumar a casa, ir ao banco e não conseguir produzir no trabalho.  “A capacidade de memorização, de atenção e uma mudança abrupta de humor são alertas para buscar uma avaliação profissional”, observa Raimundo Neto.

“Para driblar os pensamentos negativos é importante primeiramente uma autoanálise sobre aquilo que anda ‘alimentando’ a mente. Consumir o dia inteiro noticiários televisivos, acompanhando o número de óbitos e infectados, pode trazer um impacto negativo para a saúde mental. Uma vez que constantemente se está falando sobre o assunto, ele começa a fazer parte maior do cotidiano. É importante buscar outras fontes de informações, não implicando se alienar do que está acontecendo, mas não permitir que tudo seja assimilado de maneira passiva”, explica o especialista.

As práticas diárias de exercício físico, meditação, tarefas vistas como espirituais, música, leitura, assistir filmes e seriados podem ser consideradas estratégias para a diminuição da ansiedade e a promoção de saúde mental.

A universitária Thainá Ramos confessa que no início da pandemia teve muitas crises de ansiedade. Antes de começar o isolamento social, a jovem já tinha parado de tomar remédios que ajudavam a controlar a angústia, mas teve que voltar porque passava noites em claro com falta de ar. “Pensava no que poderia acontecer daqui a um ou dois meses. Tentava imaginar como iria ficar o mundo, os meus familiares e amigos. Cheguei até imaginar que poderia está com os sintomas”, relata.

Thainá buscou ajuda com uma psicóloga on-line para aprender a lidar melhor com a situação atual.  Deixou de assistir os noticiários, caçar informações na internet e de entrar tanto nas redes sociais, porque sempre tinha algo relacionado à pandemia.

Com auxílio de uma profissional da saúde, a universitária montou uma rotina de exercício físico, começou assistir filmes e seriados, colocou o planejamento de abrir a doceria que desejava e se dedicar mais a si. “Hoje, me sinto bem melhor e não tomo mais remédio. Quando percebo que estou prestes a ter uma crise, procuro ocupar a minha mente e não entrar naquele jogo da ansiedade. Procuro fazer e ver coisas que vão me deixar alegre, danço, ouço música e converso com meu namorado e minha família, eles me ajudam bastante a lidar com tudo isso”, conta Thainá Ramos.

A rotina de trabalho da assistente social Tayane Ramos se modificou durante o período de pandemia. Ela começou a trabalhar um dia sim e o outro não. Com a ajuda de terapia on-line, que mantém há mais de um ano, e de remédios, tem conseguido ficar estável, mas no início da quarentena, afirma, as crises se intensificaram e ela enfrentou noites de insônia e falta de apetite.

Hoje, Tayane tenta perceber quais são os gatilhos que podem despertar as crises de ansiedade. “Tento me acalmar e repetir que vai passar igual das inúmeras vezes. A partir do momento que vou me acalmando e respirando fundo, vai ficando tudo melhor. Eu acho importante sentir e lidar com as crises”, afirma a assistente social.

Além de assistir a seriados, conversar com as amigas e a família, a internet tem sido muito útil para a jovem. Ela conta que compartilhava nas redes sociais o que sentia e percebia que muitas pessoas passavam por isso também, e de alguma forma buscava ajudar e ser ajudada. “Nós precisamos fazer isso, enfrentar a situação e conversar com pessoas que têm ansiedade, ler textos que confortem, mas é fundamental a ajuda de um profissional, saber se deve tomar remédio ou não. É necessário levar a saúde mental como prioridade e buscar ajuda. Apesar da dor que sentimos e dos sintomas, somos fortes e capazes de conseguir vencer”, conclui Tayane Ramos.

Por Amanda Martins

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