Como a música auxilia em diferentes tratamentos

A harmonia das canções transmite a livre expressão e a comunicação, e ajuda a resolver conflitos pessoais e sociais

por Junior Coneglian qui, 05/11/2020 - 10:25
Pexels / Diva Placalaguna Pexels / Diva Placalaguna

Além da sonoridade, a música é capaz de atingir o ouvinte de diferentes formas. Inserida em modalidades da medicina, a harmonia dos sons de uma canção pode promover a interação de pacientes e aumentar a autoestima. "Quando utilizada para fins terapêuticos, com pessoas que tenham dificuldades de aprendizagem ou que apresentem déficits motores ou mentais, a música demonstrou obter resultados positivos em qualquer idade", comenta a psicóloga Ana Carolina Boian.

Utilizada em tratamentos complementares para casos de deficiência física, déficits sensoriais, síndromes genéticas e outros distúrbios, como esquizofrenia, depressão e transtorno obsessivo compulsivo, a música é composta de ritmo, melodia e harmonia. Cada um destes elementos apresentam uma determinada função: o ritmo está ligado ao corpo e aos movimentos, a melodia às emoções, e a harmonia ao intelecto. 

Em um recente estudo, o psiquiatra Rodrigo Almeida Ramos analisou 12 casos de tratamentos sobre o efeito das composições de Mozart (1756-1791), e verificou que ouvir o compositor resulta em reduções significativas na frequência de crises epilépticas e descargas epileptiformes. A mostra foi em comparação com um grupo que não ouviu a obra do compositor austríaco. "Os benefícios ficaram evidentes durante uma única escuta, apesar de a resposta ser maior com sessões de escuta diárias regulares. Quatro estudos, por exemplo, mostraram uma redução de 31% na frequência de crises e uma diminuição de 28% nas descargas epileptiformes interictais durante uma única audição", diz o pesquisador.

"A música tem caráter específico que induz ao indivíduo responder em nível fisiológico, neurológico, psicoemocional e psicológico", comenta a psicóloga Ana. Além de facilitar o aprendizado por ativar numerosos neurônios, a canção proporciona efeitos benéficos junto à atividade física, atuando de forma motivadora, minimizando esforços e distraindo sensações desagradáveis nos exercícios. A pulsação do ritmo da música auxilia na precisão dos movimentos corretos, como também na melhoria da resistência muscular. "O efeito contrário também é certo com melodias mais pesadas ou carregadas, em músicas tristes, por exemplo", complementa.

Thainá Santos Leite, 25 anos, diz que sua relação com a música precisou mudar quando um quadro de depressão começou a se desenvolver. Com a recomendação da terapeuta, ela cortou músicas tristes de sua playlist. "Sabe aquilo de sofrer à toa? Pois é, eu era super adepta. Indie, folk e emo dominavam minha biblioteca, porém tive que abri-la a novos sons quando minha terapeuta comentou que as músicas que eu ouvia poderiam agravar o quadro", conta. Thainá, que já tocava violão há anos, decidiu comprar um ukulelê e ressignificou sua rotina com a música.

Aliada da memória, a música transmite a livre expressão e a comunicação, e ajudam ao resolver conflitos pessoais e sociais e, consequentemente, proporcionar um envelhecimento saudável. "Muitos idosos relatam relembrar dos tempos de criança, da juventude, de outrora e de fatos ocorridos, como bailes, comemorações, cerimônias de casamento, de quando cantavam ao sentirem-se felizes com as pessoas e paixões", finaliza Ana.

 

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