Corona nas Periferias: ação arrecada donativos no Recife

Campanha está aberta desde março de 2020, mas precisou investir em retomada mais incisiva, diante do agravamento da pandemia

sex, 26/03/2021 - 17:40
Arthur Souza/LeiaJáImagens Campanha do Brincante do Pina arrecada benesses para as periferias locais Arthur Souza/LeiaJáImagens

A Associação Artística, Cultural e Ambiental do Pina (AACAP), através da livroteca Brincante do Pina, dá seguimento à campanha ‘Corona nas Periferias’, que arrecada donativos para a comunidade do Bode, na Zona Sul do Recife, e também para comunidades adjacentes desde março de 2020. Com o agravamento da pandemia da Covid-19, a população que habita na região, que é de maioria pobre e ribeirinha, enfrenta desafios para conseguir sobreviver, seja pelo advento do crescente desemprego ou por questões de segurança alimentar.

Segundo explicou ao LeiaJá a articuladora social, advogada e moradora da comunidade do Bode, Jéssica Jansen, 29, que atua na presidência da AACAP, a campanha chega ao ano de 2021 como uma surpresa. No “melhor cenário possível”, a representante não imaginou que ainda seria necessário fazer a retomada da ação, de forma ainda mais intensa, também este ano.

“Diante da situação caótica atual, nós vimos a necessidade de retomar as atividades dessa campanha. Ela surgiu com o advento da pandemia, porque aqui no Bode, a gente tem muitas famílias ribeirinhas, compostas por marisqueiras, pescadores e pescadoras, que sobrevivem do trabalho autônomo, e que no dia a dia já é bem difícil. As pessoas que trabalham com a pesca têm um trabalho bem duro, bem intenso, e pouco retorno financeiro. Na pandemia, diminuiu mais ainda. É assim para as outras pessoas que são autônomas e trabalham com o comércio no geral. As famílias do Bode e a relação de trabalho que elas têm foi muito afetada pela pandemia. O Bode é a maior comunidade do Pina e estamos fazendo esse mapeamento para atender o máximo de pessoas possível”, explicou Jansen.

Além da comunidade do Bode, que possui cerca de 15 mil habitantes e é a mais populosa da Bacia do Pina, a campanha Corona nas Periferias também se estende às comunidades localizadas na região da Beira Rio. Apesar de circular há mais de um ano, a associação não conta com qualquer apoio ou patrocínio externo para veicular as suas ações, sendo o trabalho da AACAP completamente comunitário.

“A divulgação da campanha acontece a partir da mídia, minimamente. Nas redes sociais, a gente tem o perfill da livroteca e tudo também é divulgado pela rádio. Temos uma rádio comunitária chamada “A voz da lama”, desenvolvida pelo núcleo de comunicação Caranguejos Pensantes em parceria da livroteca com o Pão e Tinta e Coletiva Cabras. A partir desse núcleo temos o programa de rádio, difundido também pelo Spotify, Deezer e plataformas digitais, Youtube, Instagram da livroteca, como também na bike de som que rola na comunidade toda e pela barcoteca”, explica, ainda, a articuladora

A corrente de comunicação chega também às comunidades ribeirinhas mais afastadas. O programa de rádio comunitária aborda, além da campanha, questões como as de gênero, raça, saúde, meio ambiente e também a parte jurídica, da qual Jansen faz parte. Tudo em linguagem “acessível, popular e que chega a comunidade”, como confirma a divulgação.

“Ano passado também foi produzido um videoclipe no YouTube e no Instagram, chamado “Passinho da Prevenção”, parte do projeto Corona nas Periferias. Mobilizou toda a comunidade, seguindo todos os protocolos de segurança. É uma música, um passinho do brega funk que traz muitas informações e dados sobre a pandemia, sobre a necessidade de se prevenir e de lavar as mãos, mas também traz uma crítica social. A gente vê a necessidade e importância dessa campanha na comunidade, porque a gente entende o ‘fique em casa, lave as mãos, se higienize’, mas às vezes a pessoa não tem uma casa com estrutura, mora numa palafita, não tem água encanada, não tem saneamento”, continuou.

 

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 Quanto às necessidades mais urgentes da comunidade, a porta-voz menciona materiais de higiene, cestas básicas, alimentos ou “qualquer coisa que possa ajudar essas pessoas que estão sendo impactadas pela pandemia”. Jéssica Jansen menciona ainda a criação do “Vale Sururu”, uma iniciativa local, que se viu possível a partir dos recursos financeiros obtidos com as doações.

“Ano passado a campanha conseguiu atingir muita gente, o passinho da prevenção foi decisivo. Conseguimos várias cestas básicas e também o Vale Sururu. Com o dinheiro que recebemos, pensamos “como podemos fazer esse dinheiro movimentar a economia dentro da comunidade?”. A gente usou esse dinheiro para comprar da própria comunidade ribeirinha, pescadora e marisqueira os sururus. Criamos esse fluxo de renda na comunidade. Quem estivesse precisando, usava o vale e pegava cerca de um quilo do sururu. Era o sustento, o almoço, além de uma comida gostosa e nutritiva, e ia ajudar quem estava vendendo”, completou.

Como confirmado pela Fiocruz, com relação às desigualdades raciais e ao acesso a serviços de saúde, pessoas pobres e negras são as mais atingidas pela pandemia, assim como são componentes de peso nas regiões de maior vulnerabilidade social, como as favelas. A fala conclusiva da advogada mostra que, apesar dos esforços das autoridades, o suporte às favelas não tem sido suficiente e a população que sobrevive nesta região tem precisado de insumos, emprego e de uma perspectiva minimamente positiva.

“A pandemia já se estende por mais de um ano e isso torna tudo um pouco mais desesperador. Na comunidade, mais ainda, pois não existe tanto suporte psicológico. As comunidades acabam sendo um lugar mais esquecido. No ano passado a questão era mais desconhecida, mas esse ano já temos noção de como a doença é perigosa e pode afetar em diversos sentidos, mesmo a quem não contraiu o vírus, acaba sendo diretamente e psicologicamente afetado pelo que ela traz. Isso somado ao fato da comunidade do Bode e todas as favelas que existem serem esquecidas pelo Poder Público e até pela iniciativa privada. São lugares colocados de lado. Mesmo quem não adoece pelo Covid, adoece na mente. É uma perspectiva desesperadora”, finalizou, em entrevista.

A livroteca Brincante do Pina é uma associação independente. O apoio vem da população local, que se organiza e contribui com as campanhas lançadas, entra em contato com a imprensa e compartilha nas redes sociais. A própria comunidade do Bode, segundo Jansen, é responsável pela difusão de informações e produção de conteúdo da rádio.

Saiba como ajudar

A campanha não tem prazo para acabar. O espero é que ela possa ser prolongada, após a redução nos valores do auxílio emergencial, por parte do Ministério da Economia.

Doe pelo site: http://www.livrotecabrincantedopina.siteo.one/

Conta bancária CAIXA (Poupança)

José Ricardo Gomes Ferraz

CPF: 763 608814 20 / Operação: 013

Agência: 2193 / Conta: 9339 2

Chaves PIX: livrotecab@gmail.com / 763 608814 20

Ou entre em contato com os telefones (81) 98663 9252 e (81) 98743 5461.

 

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