Comprovante vacinal: restaurantes ainda descumprem decreto

Até 31 de janeiro, estabelecimentos devem cobrar passaporte vacinal de clientes, funcionários e prestadores de serviço. O LeiaJá visitou esses locais ao redor da capital para verificar o cumprimento da nova regra e o que pensam dela clientes e comerciantes

por Vitória Silva sex, 21/01/2022 - 16:02

Para frequentar e consumir em restaurantes locais, a população pernambucana precisa, desde o último dia 14, apresentar o cartão vacinal comprovando, pelo menos, duas doses de vacina contra a Covid-19. A medida tem como o objetivo frear, sem restringir o convívio social, quadros clínicos causados pelo coronavírus e pela H3N2, novo vírus da influenza que provocou um pico de infecções e internações em Pernambuco.  

Funcionários e prestadores de serviços também devem estar vacinados para circular nesses espaços, de acordo com o decreto estadual. As medidas têm caráter analítico e são válidas até o próximo dia 31, também em espaços culturais, como cinemas, teatros e museus de todo o estado. 

Em rondas durante esta semana, o LeiaJá visitou alguns restaurantes no Centro do Recife, para verificar o cumprimento da nova regra e o que pensam dela clientes e comerciantes. Foram visitados estabelecimentos do comércio, do mercado público da Boa Vista e do Shopping Tacaruna, na última quarta (19) e quinta-feira (20), por volta das 13h. Notou-se, em todos os casos, um conhecimento geral e aceitação das novas regras, mas nem sempre houve sinalização ou o cumprimento do decreto. 

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No Mercado da Boa Vista, que fica à Rua da Santa Cruz, não havia sinalização do novo decreto estadual, apenas placas exigindo o uso de máscara; o mesmo se viu nas dependências de cada um dos estabelecimentos. Como a maioria dos restaurantes no local abre apenas de quinta-feira a domingo, ontem (20) foi o primeiro contato de alguns deles com a regra. De acordo com comerciantes ouvidos pelo LeiaJá, o grande desafio será controlar o público e realizar a cobrança do passaporte aos sábados, dia de pico no mercado. 

O comerciante Otacílio Santos, de 41 anos, é proprietário de um restaurante no mercado público, que não apresentava sinalização sobre o decreto. Ele afirmou que recebeu um comunicado da Prefeitura do Recife sobre a regra, em um pedaço de papel. “Hoje é o meu primeiro dia, porque acabamos de abrir, mas ainda não precisei cobrar de ninguém. Acho que o pessoal vai aceitar bem, nunca tive problemas com clientes nem sobre o uso de máscaras, mas só vai dar para saber disso melhor no sábado. O domingo é bem tranquilo, vem mais família, e eles mesmo se prontificam por causa das crianças”, disse. 

Em outro bar, mesmo sem a sinalização, os clientes estavam com seus comprovantes à mão. As mesas do estabelecimento eram as mais cheias do local, tendo recebido um grupo de colegas de trabalho para a comemoração de um aniversário. Para conseguir dar conta de atender os clientes, o gerente do negócio, Arthur Alves, de 27 anos, separou o grupo por 10 em cada mesa, de acordo com as exigências sanitárias. No entanto, pelo pouco espaço disponível na área de alimentação do equipamento, o distanciamento não pôde ser cumprido. 

“A vacinação foi para a gente uma oportunidade de tentar, aos poucos, retomar as nossas práticas profissionais e sociais. Ela está trazendo essa liberdade, porém, sempre com cuidado e observando as questões epidemiológicas atuais. É muito importante a gente poder falar sobre essa apresentação do cartão vacinal, pois só a vacinação traz pra gente a liberdade de frequentar esses lugares. Acho que o decreto é válido, mas é preciso que os estabelecimentos comerciais realmente cumpram o decreto. Que peçam às pessoas e visualizem realmente que é o cartão da pessoa”, declarou a enfermeira infectologista Aracele Cavalcanti, de 41 anos, que estava comemorando o aniversário de um amigo junto aos demais colegas. 

O momento da checagem, como mencionado pela infectologista, também é a principal preocupação do comerciante Lenilson Ferreira de Santana, de 63 anos. Conhecido como “Leleu”, o autônomo hoje é proprietário de um ponto de venda e consumo de bebidas que está no mercado há mais de 50 anos. Lenilson disse que ainda não precisou cobrar de ninguém o passaporte e que a checagem pode dificultar o seu trabalho nos dias de maior movimento. Por outro lado, nota que a clientela, por iniciativa própria, mostra o cartão de vacina e mantém a máscara enquanto aguarda na área externa. 

"Eu creio que vai ter dificuldade do pessoal aceitar. É ruim para controlar, chegar na mesa e pedir. Uma alternativa seria fechar o portão [do mercado] e pedir na entrada; quem fosse entrar, precisaria mostrar. A maioria [dos clientes] aqui é consciente, perguntam o que estão pedindo, mas aqui não está funcionando muito, não. Ao mesmo tempo, pedir na entrada poderia prejudicar a gente, porque na mesa, pelo menos já estão consumindo. Imagina chegar uma turma, tem um ou dois que não têm [o cartão], vai voltar todo mundo”, compartilha. 

Demais visitas 

Além dos restaurantes do mercado público da Boa Vista, o LeiaJá foi a estabelecimentos onde imagens em vídeo não foram autorizadas. Em uma rede de restaurantes que possui unidades nas ruas Nova e Imperatriz Teresa Cristina, a checagem estava sendo feita regularmente, com todos os clientes, e o local dispôs de uma funcionária para higienizar as mãos dos consumidores na entrada. No momento da chegada da reportagem, o senhor Pedro Mota, de 63 anos, posou para a foto (ver galeria) mostrando o cartão de terceira dose. 

Em outros dois restaurantes visitados na rua Matias de Albuquerque, o decreto não estava sendo cumprido. Um deles possuía sinalização e uma funcionária, que pediu para não se identificar, disse que a documentação estava sendo exigida antes do consumo, o que não aconteceu. No segundo caso, o local não possuía placas informativas e a cobrança ainda não estava sendo feita por uma questão de adaptação, de acordo com o coproprietário Vinicius Braz, de 20 anos, que não quis gravar entrevista. 

No Shopping Tacaruna, localizado em Santo Amaro, todas as lojas em ambas as praças de alimentação estavam sinalizadas e cobrando o cartão de vacinação dos consumidores, junto à carteira de identidade, para a comparação dos dados. O LeiaJá também teve acesso a um restaurante do centro de compras, nos quais os clientes foram vistos em mesas com distância de dois metros ou mais, além da exigência de comprovação do documento. Nenhum questionamento, por parte dos clientes, foi presenciado pela reportagem (ver vídeo). 

 

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