Morte de Marielle revela uma parte da sociedade apática

Enquanto um grupo protestava contra a morte da vereadora durante ato, no centro do Recife, uma outra parte reclamava e se mostrava incomodada pelo ato

por Taciana Carvalho qui, 15/03/2018 - 20:47

É emocionante de ser ver, durante protestos sobre temas diversos, uma onda de “todos juntos” por um ideal. Não foi diferente o que aconteceu, no final da tarde desta quinta-feira (15), no centro do Recife, durante o ato marcado em manifestação ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), que aconteceu na noite dessa quarta (14), no Rio de Janeiro. O protesto, que teve concentração na Câmara Municipal de Vereadores, saiu em caminhada até o Palácio do Campo das Princesas. Em um só tom, os que participaram do ato, em sua maioria jovem, clamavam por justiça e repetiam com insistência a frase “não vão nos calar”. 

No entanto, os militantes, manifestantes e até colegas de Marielle tiveram durante a caminhada dar cara a cara com o outro lado da história: a apatia. Se, de um lado, o momento era de dor e comoção onde muitos se abraçavam, do outro, não raro, foi visto pessoas que passavam reclamando a começar pelos motoristas que, impedidos de passar, de forma agressiva ressaltavam que travar o trânsito é algo “injusto”. 

Mais a frente, enquanto caminhavam, muitos dos que passavam a pé também pareciam incomodados. Na hora em que os líderes pediram um minuto de silêncio, um cidadão que provavelmente voltava do trabalho gritou sem pensar: “Isso tudo aqui não resolve nada”. O outro chegou a dizer: "Palhaçada". Os manifestantes calados continuaram como que já conformados com esse tipo de tratamento. 

No exato momento, uma das que discursaram na hora do silêncio, disse que existe luta enquanto há homens que “planejam” a morte dos que incomodam. “Todos querem o nosso silêncio, o silêncio da nossa liberdade, o silêncio do nosso corpo, mas não nascemos para a dor, não nascemos para o silêncio. O silêncio já não é mais um caminho. Não venha nessa de chamar uma mulher de vagabunda e engole esse assobio”, desabafou uma mulher que se definiu como uma “Marielle Presente”, em referência que todas representam a vereadora. 

No final do ato, que terminou em frente do Palácio do Campo das Princesas, foi mostrado uma outra face: o tumulto gerado pela “ausência” do Estado. Uma fileira de policiais e uma grade separou os manifestantes do palácio, o que gerou revolta por parte de alguns. “Cadê o governador que não vem falar com o povo”, indagou um dos presentes, apesar do horário avançado. “Para que esta grade?”, perguntou outro. Uma confusão iniciou quando alguns tentaram avançar derrubando as grades, mas a reação foi imediata: spray de pimenta contra o grupo. 

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