Recife: Após vazamentos, adesão em ato pró-governo é menor

Apesar de muita gente comparecer à Avenida Boa Viagem, o número de pessoas foi visivelmente menor neste domingo (30) comparado a atos anteriores, inclusive sem presença de figuras políticas

por Pedro Bezerra Souza dom, 30/06/2019 - 18:12
Chico Peixoto/LeiaJa Imagens Uma onda verde e amarela tomou conta da Avenida Boa Viagem Chico Peixoto/LeiaJa Imagens

A Avenida Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, mais uma vez foi palco neste domingo (30) para um ato em prol do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e de pautas defendidas por seus aliados no Planalto e no Congresso. Entretanto, desta vez, a adesão dos pernambucanos na rua foi consideravelmente menor.

Apesar de ainda reunir milhões de manifestantes na avenida - de acordo com a organização, 8 mil pessoas marcaram presença -, visivelmente se via bem menos gente se comparado ao último protesto, realizado no dia 26 de maio. As pautas de ambos os atos eram parecidas, a diferença é que o apoio ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, foi mais latente neste domingo.

O nome de Moro, inclusive, foi aclamado a todo o momento durante a passeata. Além dele, se falava na importância do projeto de reforma da Previdência, do pacote anticrime e da atividade de Bolsonaro à frente da Presidência. Já nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi utilizado como motivo de piada e critica ao longo do ato.

Os manifestantes faziam inúmeras referências ao petista com alusões ao álcool. “Luiz Inácio Cachaceiro da Silva”, denominavam o pernambucano. Uma performance de um homem enjaulado, com roupa de presidiário, máscara de Lula e uma garrafa de cachaça na mão foi um dos principais espetáculos levados pela organização.

O site The Intercept, responsável pelos vazamentos de troca de mensagens do então juiz federal Sergio Moro e procuradores da operação Lava Jato, foi execrado pelos manifestantes. Alfinetaram o trabalho da imprensa, justificaram parcialidade do site e questionaram a veracidade do material divulgado.

A imprensa, tão condenada no discurso dos porta-vozes do manifesto, foi também alvo de comportamento menos amistoso por parte dos presentes. A reportagem do LeiaJá passou por dois momentos de intimidação: na primeira vez, o repórter ouviu “piadas” enquanto gravava uma entrevista; na segunda, o repórter e o fotógrafo foram convidados a serem fotografados em forma de “registro” de presença.

Outra forte característica percebida na ocasião foi o uso de estrangeirismos. Dezenas de cartazes levavam mensagens em inglês. “In Moro we trust”, ou, no português, “Em Moro nós confiamos”, era um dos mais utilizados. “Colocamos em inglês porque é a língua universal. O mundo todo tem que entender e vai entender nossa mensagem”, explicou a advogada Célia Medeiros.

Quatro trio elétricos passaram pela Avenida Boa Viagem, um deles - o maior - era do movimento Vem Pra Rua. De acordo com a porta-voz do grupo, Maria Dulce Sampaio, o ato deste domingo buscou mostrar o apoio a Sergio Moro. “Se for preciso, viremos cem vezes às ruas. Nós não aguentamos mais tanta violência ao nosso governo. O que esse site (The Intercept) fez é criminoso, é um ato de desespero. Nós não vamos largar mão do nosso ministro”, disse.

“A partir de um determinado momento a sociedade deixou de aceitar o inaceitável e isso é graças à Lava Jato. Nós nos encontrávamos adormecidos por conta da gestão dos 14 anos do PT.  Não havia como nos desenvolvermos com o padrão que estávamos vivendo. Mas agora estamos mudando. Estamos vivendo as dores de uma transição. Estamos aqui para fortalecer o governo do nosso presidente Jair Bolsonaro e mostrar apoio ao nosso ministro Sérgio moro”, complementou Maria Dulce. 

Na manifestação do dia 26 de maio, houve a presença política dos deputados estaduais Marco Aurélio Meu Amigo (PRTB) e Clarissa Tércio (PSC). Desta vez, no entanto, nenhuma figura da política local compareceu à manifestação. Assim como no Recife, o ato deste domingo foi realizado em outras cidades do Brasil, em um chamado nacional.

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