Áudios revelam plano "paranoico" de Bolsonaro na Amazônia

Representante do governo cita que o Brasil precisa proteger suas fronteiras, principalmente com o Suriname, sob uma suposta ameaça de invasão chinesa

sex, 20/09/2019 - 09:09
Marcos Corrêa/PR Marcos Corrêa/PR

O governo de Bolsonaro estaria elaborando o maior plano de ocupação e desenvolvimento da Amazônia desde a ditadura militar. 

O projeto Barão de Rio Branco retoma o antigo desejo militar de povoar a Amazônia, sob o pretexto de desenvolver a região e proteger a fronteira norte do país.

Documentos, obtidos pelo jornal The Intercept, detalham o plano que incentivaria os grandes empreendimentos a atrair a população brasileira a povoar a região amazônica para elevar a participação da região norte no PIB do país.

Contrariando os pronunciamentos realizados em rede nacional por Bolsonaro, os documentos mostram que os planos do presidente são explorar as riquezas, fazer grandes obras e atrair novos habitantes para a Amazônia.

O plano foi apresentado pelo coronel reformado Raimundo César Calderaro, coordenador de Bolsonaro, em reuniões fechadas com políticos e empresários locais. Parte do conteúdo desta reunião foi revelada pelo portal Open Democracy.

A secretaria teria afirmado ter reunido a sociedade, academia e autoridades locais para receber opiniões e sugestões para dar sequência ao projeto, entretanto deixou de fora os indígenas, quilombolas e ambientalistas.

O governo Bolsonaro estaria visando as "riquezas" da Amazônia, como os minérios, o potencial hidrelétrico e as terras cultiváveis do planalto da Guiana. Além disso, há planos para a construção de uma hidrelétrica e uma rodovia e explorar as regiões de savanas.

Vale destacar que outros projetos semelhantes foram abandonados devido ao impacto socioambiental em comunidades indígenas e quilombolas, onde inclusive há o registro de tribos isoladas. Entretanto, o governo Bolsonaro ignora a questão socioambiental e estaria determinado a seguir em frente com o projeto, "custe o que custar".

Em áudios gravados durante a reunião fechada, o governo Bolsonaro cita que o Brasil precisa proteger suas fronteiras, principalmente com o Suriname, país que recebe investimento e imigrantes chineses. Já que eles acreditam que a China poderia fazer o mesmo em uma região pouco habitada do Brasil, o que facilitaria uma suposta "invasão chinesa".

Entretanto, Mauricio Santoro, professor de relações internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, afirmou que a China não tem uma política de imigração e que, na verdade, está atraindo de volta seus cidadãos capacitados que vive no Ocidente.

Os militares acreditam que a única forma de proteger o Brasil é desenvolver a região amazônica a qualquer custo, pois almejam elevar a renda do PIB do Brasil.

A realidade aponta que o projeto "causará impactos destrutivos e irreversíveis" para a região, para os povos indígenas e para os recursos naturais.

O governo Bolsonaro vem tentando aprovar o projeto desde janeiro, mas até agora não conseguiu, entretanto, o assunto segue secretamente em pauta.

Por coincidência, a Amazônia está sofrendo sua maior crise e desmatamento após incêndios que podem ter sido causados por apoiadores de Bolsonaro e seu projeto Rio Branco, escreve o The Intercept. Inclusive, a crise da Amazônia está favorecendo seu projeto de interesses na região, onde uma exploração e expansão estão em seus planos.

Ou seja, Bolsonaro e seu "exército" veem a crise da Amazônia como uma grande oportunidade para seguir com o projeto. Tanto é que a Secretaria Nacional de Assuntos Estratégicos admitiu que o governo deverá criar um Grupo de Trabalho Interministerial para discutir o projeto, expondo ainda mais a real intenção do governo Bolsonaro.

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Da Sputnik Brasil

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