Mandetta: Bolsonaro falta com respeito às vítimas da Covid

Segundo o ex-ministro, isso se dá pelo foco do presidente na economia. Mandetta ainda criticou a ausência de um titular na pasta da Saúde

ter, 23/06/2020 - 12:09
Marcello Casal/Agência Brasil Marcello Casal/Agência Brasil

Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta disse, em entrevista à televisão francesa France24, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vem chamando a atenção do mundo por preferir focar na economia e pela “falta de respeito à vítimas” da Covid-19. O Brasil já tem mais de 51 mil mortos pela doença.

"O presidente da República claramente optou por dar mais importância para o aspecto econômico que para o aspecto de saúde. Ele caiu em um falso dilema, como se essas coisas pudessem ser tratadas em separado, quando elas estão juntas," disse Mandetta, que foi demitido do cargo em 16 de abril.

"Não existe isso de sair forte de uma epidemia. Na história da humanidade, isso não é possível. Se tivéssemos optado pelo cuidado, nossa recuperação econômica seria muito mais precoce, como é demonstrado por qualquer análise econômica que é feita de qualquer tipo de epidemia. É uma questão muito mais pensando em 2022, quando acontecem as eleições", observou Mandetta, acrescentando que Bolsonaro age com motivações política.

Mandetta, que também já foi deputado federal, avaliou o fato do Ministério da Saúde não ter hoje um titular oficial. Quem está no comando da pasta, interinamente, é o general Eduardo Pazuello. Para o ex-ministro, não existe mais um Ministério da Saúde, mas sim uma ocupação militar na pasta. 

"Nós, que somos oriundos da saúde, trabalhamos sobre três pilares: proteção incondicional à vida, proteção ao nosso sistema de saúde, o SUS, e uma defesa intransigente da ciência como método principal de tomada de decisões. Lá no Ministério da Saúde tiraram os técnicos de segundo e terceiro escalão, e colocaram no lugar militares seguindo uma norma militar. Nós não temos hoje um Ministério da Saúde, temos uma ocupação militar do Ministério da Saúde”, criticou.

Mandetta ainda foi questionado se acreditava que o presidente será julgado por má gestão da crise sanitária. “É uma condução [de crise] que choca os outros países porque o mundo optou primeiro por vidas e depois recuperar a economia. E ele vai na contramão e vai falar assim: 'não, não vamos suspender a economia porque a economia vai ter mais danos do que essa doença'. E acabou sendo o único líder mundial a adotar esta linha. O Trump voltou atrás, Boris Johnson voltou atrás, o presidente do México voltou atrás. Somente o presidente do Brasil permaneceu e permanece até hoje com esse tratamento inadequado, e essa falta de respeito às vítimas", declarou.

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