Já especulada nos bastidores da política, a saída de Abraham Weintraub do Ministério da Educação (MEC) foi anunciada nesta quinta-feira (18). Em vídeo ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Weintraub comunicou o desligamento da pasta por meio do Twitter. Com a demissão divulgada, professores e categorias estudantis comentaram a decisão.
Professor de geopolítica, Benedito Serafim avalia a notícia com considerações boas, a princípio, porém, por outro lado, também demonstra receio quanto ao novo nome que assumirá o MEC. “Vejo um lado muito positivo, porque era um ministro que, de fato, não estava fazendo o seu papel de defensor da educação brasileira, já que como comandante desta pasta, ele deveria ser a pessoa que mais briga por recursos, mais briga para que a educação evoluísse. Mas, essa saída deixa nós, profissionais da educação, todos receosos para saber o quem vem por aí. Pelo menos, temos a saída de uma pessoa da pasta que tinha um comportamento que não estava à altura do cargo”, disse o docente, ao LeiaJá.
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Segundo o professor de redação Felipe Rodrigues, a saída de Weintraub indica pontos positivos. “Ela é boa no sentido dos alunos, docentes, no sentido do rumo que a educação estava tomando, cada vez mais sucateada". O educador alertam, no entanto, para um aspecto negativo. "Só que é um malefício no sentido amplo, no sentido internacional. Junto com essa troca-troca, esperamos que sejamos um espelho, mas agora não estamos sendo espelho algum. Estamos com um Enem defasado, com erros gráficos na última edição, erros de gabarito e nas redações”, criticou.
“Isso é muito ruim no sentido Brasil, mas ainda mais no sentido internacional. O que o governo está trazendo é mais instabilidade a um País que estava tentando se sobressair frente a diversos pontos da economia, diversos pontos sociais, mas junto à pandemia estamos retrocedendo em diversos fatores, principalmente na educação”, completou Rodrigues.
De acordo com a professora de Linguagens Lourdes Ribeiro, também existem prós e contras na saída do ministro Abraham Weintraub. “Há possibilidade de que muitas das coisas que ele tinha determinado não sejam feitas; coisas que seriam maléficas para a educação como um todo. Porém, a gente percebe também a instabilidade do governo, porque assim como mudou muito de ministro da Saúde, existe essa possibilidade com relação à Educação também”, pontua.
Categoria estudantil comemora
As bases estudantis comemoram a saída de Abraham Weintraub do comando do Ministério da Educação. De acordo com a diretora de Movimentos Sociais da União Nacional dos Estudantes (UNE), Dyanne Barros, o ex-ministro trazia retrocesso para a educação no Brasil. “Ele é o cara que nega as políticas afirmativas, que nega todos os tipos de avanço, acha que as pessoas não precisam falar de história nem ter reparos históricos dentro da educação. Para a gente é muito grande a vitória de ter Weintraub saindo”, disse, em entrevista ao LeiaJá.
Apesar disso, o clima não é de esperança para a categoria estudantil. “É com o coração na mão, inclusive, que a gente fica pensando. Imagina se é um militar que irá conduzir o MEC, como os estudantes vão se sentir confortáveis para voltar às universidades no pós-pandemia sabendo que a qualquer momento se faça um projeto que realize perseguição aos estudantes?”, refletiu Dyanne. “Apesar de comemorar a saída de Weintraub, fruto da luta estudantil, nós não nos sentimos confortáveis. Nós só vamos nos sentir confortáveis quando Bolsonaro cair. Para a gente, a luta não acabou ainda”, completa.
Enem
Em relação ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Dyanne diz que acredita que o Enem deve ser garantido a todos. “Weintraub tinha debatido sobre uma consulta popular, que a gente não acredita que tem que ser o máximo de tempo para a gente conseguir estabelecer a 'normalidade' da sociedade, para que as pessoas tenham acesso ao Enem de forma justa”, opinou.
O professor de redação Felipe Rodrigues espera que o próximo ministro traga mudanças benéficas para o Exame. “A gente espera que quem abarque essa cadeira tenha responsabilidade com todos os estudantes a nível nacional e que ele entenda os princípios básicos da educação. A gente já tem uma falha do MEC quando ele joga para votação, em última hora do jogo, para que o Enem seja adiado. E ainda não foi resoluto, ainda não temos data prevista para esse novo Enem e isso é um problema”, explicou o professor.
Já de acordo com a professora Lourdes Ribeiro, o Enem não sofrerá com os impactos da mudança de ministro. “Foi aberto o voto para os próprios estudantes, foi uma coisa amplamente divulgada, então é uma coisa que eu acredito que não tem como voltar atrás devido à participação da população", analisou.
Primeiros passos
Para Lourdes, as mudanças que o próximo ministro deve tomar é no acolhimento e assistências aos estudantes de escolas públicas. “Grande parte dos estudantes não tem acesso às aulas on-line, então seria primordial criar mecanismos para que esses estudantes não sejam tão prejudicados quanto eles vêm sendo até então”, disse, em entrevista ao LeiaJá.
Para o professor Felipe Rodrigues, as mudanças que o futuro comandante do MEC deve tomar seguem na mesma linha social. “Devem ser tomadas medidas de resoluções abrangentes para que todos sejam isonomicamente beneficiados com a educação brasileira. Do nível superior, a gente precisa de um cronograma específico, a gente precisa de aulas para os secundaristas, aulas remotas e inclusive pensar em quem não tem acesso a essas aulas on-line”, explicou.
Para Benedito Serafim, a primeira medida que o próximo ministro deve ter é um aparato da situação de todas as universidade públicas do Brasil. “Além disso, fazer o levantamento para saber como o dinheiro repassado pelo MEC está sendo utilizado pelas secretarias estaduais e municipais, ir em busca para verbas para a educação. Então, a primeira medida coerente que o ministro deve fazer é ver esse levantamento para saber como a educação está no País”, opinou.