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Costas decotadas, recortes nos quadris, vestidos que evocam roupas íntimas: a tendência do ultrassexy e dos corpos nus ganhou espaço na alta-costura.

Nesta quinta-feira (26), último dia da semana de alta-costura parisiense, a Fendi apresentou uma coleção toda em luz e transparência, com vestidos inspirados em lingeries. "É o mundo interior que sai para o exterior, nos sentidos figurado e literal, e as roupas íntimas se tornam roupas para sair à noite", explicou a britânica Kim Jones, diretora artística das coleções de alta-costura da marca.

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Diante das cantoras Courtney Love e Rita Ora, que estavam na primeira fila, desfilaram modelos em vestidos fluidos, cinza claros, calçando escarpins com salto de pedraria.

- "Sou sexy" -

Para confirmar a tendência, o americano Casey Cadwallader, estilista da maison Mugler, infiltrou-se na noite desta quinta-feira na alta-costura com seu desfile de prêt-à-porter, um ano após a morte do extravagante fundador da marca, Thierry Mugler, cuja imagem da mulher sexy, glamourosa e poderosa marcou várias gerações de estilistas.

O desfile terminou em uma discoteca para todos, misturando modelos e convidados. "Vamos nos divertir! Mugler sempre foi assim! Moda não é andar reto com o rosto triste, é algo caloroso e excitante", exclamou Cadwallader.

A estilista espanhola Juana Martín também apostou no glamour e na nudez. Um vestidinho preto ou miniconjunto branco transparente com mangas volumosas em formato de leque, sua marca registrada, apareceram com sandálias de salto agulha prateadas.

O denim tie-dye é o principal material dessa coleção, recheada de recortes e aberturas. Recortes nos quadris das saias e calças feminizam as silhuetas. "A alta-costura às vezes é desconfortável, mas faz coisas que fazem você se sentir super leve por dentro, é super etérea", disse a estilista à AFP.

- Liberação pós-Covid -

"Tem muita nudez nas roupas. Está sempre em ondas, estamos saindo de uma pandemia, as pessoas querem sair, exibir-se, celebrar juntas", declarou à AFP Christian Louboutin, que desenhou sapatos de sola vermelha para o desfile de moda de Juana Martín.

Alexis Mabille desenhou vestidos longos com recortes enormes nas laterais, enquanto tiras de tecido mal cobriam os seios em um vestido de noite rosa de Haider Ackermann para Jean-Paul Gaultier.

A estilista marroquina Sara Chraïbi, que estreou em Paris nesta quinta-feira, apresentou uma coleção opulenta, que jogava com comprimentos, decotes e franjas. "Queria ter dois pontos de vista: sobre a liberdade de se cobrir ou de se descobrir", disse à AFP.

Um dia, preveem os defensores da moda digital, as pessoas poderão passear por enormes armazéns virtuais, escolher roupas de cores, ou designs, impossíveis, comprá-las e vesti-las instantaneamente, jogá-las fora e começar de novo.

Um sonho para os fãs, mas talvez um pesadelo para os fabricantes.

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A moda digital é um fantasma que ronda as passarelas da Fashion Week de Paris, um desafio evocado com muita cautela pelas casas de alta-costura, mas que ferve nas redes sociais e entre os mais jovens.

A pandemia da Covid-19 significou o influxo de transmissões de coleções sem público, inclusive da moda virtual, com roupas que se moviam no vazio, para substituir a magia da passarela ao vivo.

A Semana de Moda de Paris, que termina nesta terça-feira (6), confirmou que esta tendência híbrida veio para ficar.

Mas o confinamento mundial trouxe outro fenômeno que ameaça desestruturar completamente o setor do luxo: as criações para serem usadas exclusivamente nas redes, ou em videogames.

Roupas futuristas, encomendadas a criadores muito jovens, a partir de fotos de corpo inteiro. Os preços vão de algumas dezenas de euros, dólares, ou bitcoins, até milhares, se o cliente quiser exclusividade mundial, guardar em uma carteira digital, graças aos NFTs, os "tokens não fungíveis".

E, no caso dos mais ousades, roupas para vestir a "skin" (pele) de seu avatar favorito, sem precisar revelar sua identidade.

Um mundo repleto de imagens sintéticas, de pessoas com grossos óculos escuros, que se movem ou gesticulam dependendo do que surge nesse "metaverso" paralelo, narrado pelo diretor Steven Spielberg em seu filme "Jogador n. 1" (2018).

- Uma roupa de luz -

"Nós acreditamos totalmente na ausência de fisicalidade. E a moda é, acima de tudo, uma experiência. Não precisamos necessariamente experimentar de forma física a emoção de usar uma roupa fabulosa", explicou assessora de imprensa da empresa da firma digital holandesa The Fabricant, Michaela Larosse, em entrevista por Zoom à AFP.

Com vários artistas gráficos e designers, The Fabricant começou a criar roupas digitais em 2018. Mas foi com a pandemia e com o confinamento que seu faturamento "disparou", afirma Larosse.

The Fabricant tem relações com marcas conhecidas, como Puma, ou Tommy Hillfiger. Desenham suas roupas em três dimensões, o que ajuda a reduzir os custos de produção.

Mas a proposta desta empresa recém-nascida vai muito muito além, e passa pelo "metaverso", que é "uma coleção de universos virtuais", reflete Larosse.

Equipado com sua identidade virtual e seus óculos, o cliente poderá falar com dependentes que também serão virtuais. Será possível comprar, ou revender suas roupas, seu NFT, para outro consumidor, instantaneamente.

Tudo isso sem necessidade de usar matéria-prima, nem de fabricar, nem de emitir CO2, a grande obsessão de alguns jovens, lembra Larosse.

"Se você pensar nisso como uma expressão de identidade, todos nós vamos fazer isso de alguma maneira. E, se você escolher ficar nu, também não tem problema", explica ela.

"Ou talvez você escolha uma roupa de luz, ou use um chapéu de fumaça", acrescenta.

Isso implica imperiosamente ter uma identidade digital.

"Pessoas com menos de 20 anos não se lembram de um mundo não digital", ressalta Larosse.

- Silêncio das grandes marcas -

Para as grandes marcas de luxo, porém, que baseiam sua identidade no artesanato, no cuidado extremo com a matéria-prima, este desafio implica uma mudança radical.

Três grandes marcas de luxo que voltaram com orgulho às passarelas de Paris esta semana se recusaram a explicar seus planos no "metaverso", ao serem questionadas pela AFP.

No entanto, esses planos existem. Como no caso de Balenciaga, que fez uma incursão no popular videogame Fortnite, propondo roupas e tênis para mais de 250 milhões de jogadores.

O francês Jean-Paul Gaultier, que quebrou os moldes da moda, disse à AFP que não está mais interessado.

"Estou muito feliz com minha aventura. Eu sou muito tátil. No fim das contas, criar uma roupa virtual é outro trabalho. É quase como fazer um filme. E não me interesso por videogames", explicou.

Que preço um cliente está disposto a pagar por uma roupa digital de uma grande marca? O mercado é muito recente para se ter uma resposta, reconhecem os pioneiros.

Fundada há apenas um ano em San Francisco, a DressX optou por adotar a linha de empresas como o Spotify, ou a Netflix.

Por meio de seu aplicativo, por um preço inferior a dez dólares por mês, propõem centenas de vestidos, joias digitais, obras de arte, explicou uma das duas fundadoras, Daria Shapovalova, à AFP, por videoconferência.

Há problemas a serem resolvidos, admite sua sócia, Natalia Modenova.

"Existem problemas de compatibilidade. Quando você está no mundo real, você pode ir para todo o lugar com sua roupa, mas não no metaverso", acrescenta.

Mas é o futuro, elas insistem.

"É como o início da Internet: algumas marcas relutavam a pôr seus produtos à venda on-line", lembra Shapovalova. Mas, "quanto mais cedo você se posicionar, melhor".

"Eu inventei tudo", gostava de afirmar o estilista Pierre Cardin, que faleceu nesta terça-feira (29) aos 98 anos, e que deixa um legado como pioneiro do prêt-à-porter, do estilo futurista e da diversificação mundial de sua marca.

Sua empresa, ao lado do Palácio do Eliseu, onde exibia fotos que o mostravam ao lado de Fidel Castro ou Louis Aragon, assim como antigos artigos de imprensa e diversos objetos, é um testemunho da excepcional trajetória deste personagem histórico da moda francesa.

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Filho de imigrantes italianos, ele nunca pensou na aposentadoria e conseguiu levar a alta-costura às ruas, com o lançamento de uma linha de prêt-à-porter desde 1959.

Antes de muitos outros, ele abriu um "posto de venda" em uma grande loja de departamento e incluiu homens nos desfiles. Além disso, adotou um sistema de licenciamento em larga escala que assegurava a presença da marca em todo mundo. A estampa de seu nome passou a ser vista em produtos variados, que incluíram gravatas, cigarros, perfumes, ou água mineral.

Ele foi o pioneiro na Ásia desde cedo, região em que teve grande notoriedade: viajou ao Japão em 1957, depois organizou desfiles a partir de 1979 na China.

O estilista, cujos ternos sem colarinho inspiraram os que foram usados pelos Beatles, também era um homem de grande cultura e um mecenas comprometido com o teatro, a dança e a música, por meio do Espaço Cardin em Paris e do festival de arte lírica e do Teatro Lacoste, em Lubéron (sul da França).

Multifacetado, ele também embarcou na criação de móveis, assim como na indústria hoteleira e no setor de restaurantes, com a rede Maxim's.

- Vestido bolha e cosmocorps -

Embaixador honorário da Unesco, ele foi também foi o primeiro estilista acadêmico.

No fim de novembro de 2016, na grande sala de reuniões da Academia de Belas Artes ele apresentou aos 94 anos um dos desfiles intermináveis com os quais estava acostumado, por ocasião dos 70 anos de carreira.

Incansável, em julho de 2016, pouco antes de apresentar uma nova coleção, ele explicou que sempre tinha a "necessidade de se expressar".

Nascido em 2 de julho de 1922 perto de Veneza, Pierre Cardin se mudou da Itália para a França aos dois anos com os pais, que fugiram do fascismo. Depois de estrear como aprendiz de alfaiate em Saint-Etienne e de trabalhar como contador para a Cruz Vermelha em Vichy durante a guerra, ele desembarcou em Paris em 1945.

Depois de trabalhar com Paquin e Schiaparelli, se uniu a Christian Dior, com quem participou na revolução do "New Look", antes de criar a própria marca.

Criador da estética futurista, assim como André Courrèges e Paco Rabanne, Pierre Cardin fez sucesso desde o início com seu 'vestido bolha'. Ele usou materiais inovadores, cores e formas geométricas, desenhou vestidos inspirados na "op art", vestidos moldados, calças elipse, casacos coloridos e ternos masculinos com gola Mao.

Fascinado pela conquista do espaço, se inspirou na aventura para criar trajes unissex "cosmocorps".

- Um legado essencial -

O sistema de licenças, contratos que encomendavam a fabricação de produtos a uma terceira empresa em troca de royalties pelo uso do nome, rendeu uma fortuna (ele possuía quase 350, contra 900 no auge do sucesso, em uma centenas de países).

A diversificação extrema teve o efeito de popularizar seu nome, mas também de desvalorizar a marca e provocou o desprezo de alguns de seus colegas.

Tanto que atualmente, com exceção de Jean-Paul Gaultier, que trabalhou com Cardin no início da carreira, nenhuma figura importante da moda menciona sua contribuição, que de qualquer maneira é essencial. De fato, ele recebeu, por exemplo, três "Dés d'or" (Dedal de ouro), prêmio da moda francesa concedido até o início dos anos 1990.

Pierre Cardin foi até o fim um grande trabalhador que controlou 100% de seus negócios, o único de sua geração que permaneceu independente. Em 2011, anunciou que pretendia vender seu império por um bilhão de euros, mas não encontrou comprador.

Em 2019, o Brooklyn Museum de Nova York organizou sua primeira grande retrospectiva em 30 anos, uma maneira de contribuir para a revalorização da imagem do estilista.

O empresário também era alvo de controvérsias. As múltiplas obras de restauração em Lacoste provocam polêmicas há vários anos entre os moradores. O mesmo aconteceu em 2012 com seu projeto faraônico do Palais Lumière de Veneza, que nunca viu a luz do dia.

O estilista não teve filhos. "Eu era atraente, muito bonito (...) Tive muito sucesso com os homens, com as mulheres", contava Pierre Cardin, que teve como companheiro seu assistente André Oliver e viveu uma história de amor de quatro anos com a atriz Jeanne Moreau.

A moda está de luto: o alemão Karl Lagerfeld, ícone global da alta-costura que relançou a maison Chanel e estilista extravagante de visual único e desfiles espetaculares, morreu nesta terça-feira aos 85 anos.

A Chanel, da qual foi diretor artístico por 36 anos, confirmou à AFP informações do site Purepeople, que anunciou seu falecimento no Hospital Americano de Neuilly, nos subúrbios de Paris, onde foi internado de emergência na noite de segunda-feira.

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Em frente ao número 31 da rua Cambon, onde Chanel abriu sua loja nos anos 1920, os admiradores, muitos deles jovens, levaram rosas brancas para homenagear seu lendário herdeiro.

"Era uma lenda, um mastodonte, salvou a Chanel, reinventou a marca", afirma Mathieu Cipriani-Rivière, de 20 anos, ex-estudante de moda.

Virginie Viard, diretora do estúdio de design de moda da Chanel e braço direito de Karl Lagerfeld, com quem colaborou durante mais de 30 anos, assumirá a direção criativa da grife, informou a maison em um comunicado.

Sua musa de longa data Inès de La Fressange, uma das primeiras top models, disse à AFP que ele "nunca descansou sobre seus louros, nunca fazia a mesma coisa duas vezes".

"Eu o vi desenhar cercado por 15 pessoas. Ele era o oposto do grande costureiro que tinha que sofrer para criar. Ele não fazia nada além de trabalhar, mas se recusava a fazer com que parecesse trabalho", acrescentou.

"Hoje o mundo perdeu um gênio criativo. Sentiremos sua falta, Karl! #QEPDKarl Lagerfeld", tuitou a primeira-dama americana, a ex-modelo eslovena Melania Trump, junto com uma foto na que aparece ao lado do estilista, usando uma de suas criações.

O presidente do grupo LVMH, Bernard Arnault, disse estar "profundamente entristecido com a morte de seu querido amigo".

"Moda e cultura perdem uma grande inspiração. Ele ajudou a fazer de Paris a capital da moda do mundo e da Fendi uma das casas italianas mais inovadoras", afirmou o diretor do grupo que possui a marca italiana, da qual Lagerfeld também era o diretor artístico.

Alain Wertheimer, coproprietário da Chanel, prestou homenagem ao "gênio artístico de Karl Lagerfeld, sua generosidade e sua intuição excepcional", a quem "deu carta branca no início dos anos 80 para reinventar a marca".

"Teu gênio tocou a vida de muitas pessoas, especialmente Gianni e eu. Nunca esqueceremos teu incrível talento e inspiração infinita, sempre aprendemos contigo", escreveu Donatella Versace no Istagram.

Serge Brunschwig, presidente e diretor executivo da Fendi (grupo LVMH), indicou que admira "profundamente a imensa cultura de Karl (...). Nos deixa um enorme legado, uma fonte de inspiração inesgotável para continuar".

"Hoje o mundo perdeu um gigante. Karl era muito mais que nosso maior e mais prolífico estilista, seu gênio criativo era assombroso", afirmou Anna Wintour, chefe de redação da revista Vogue.

Lagerfeld viu sua saúde se deteriorar consideravelmente nas últimas semanas, a ponto de não aparecer ao final da apresentação da coleção primavera-verão 2019 para saudar o público, algo que ele nunca deixou de fazer desde sua estreia na Chanel, em janeiro de 1983.

Com seus cabelos brancos sempre presos em um rabo de cavalo, os eternos óculos escuros, os colarinhos altos, as luvas e a forma típica de falar, o "Kaiser" tinha um estilo reconhecido no mundo todo.

- "Sem funeral!" -

Ele dirigia três marcas (Chanel, Fendi e sua grife de mesmo nome), mas seu nome estará para sempre ligado à Chanel, cujos códigos mudou constantemente, reinventando clássicos como os ternos de tweed e bolsas acolchoadas.

Gabrielle Chanel "teria odiado", afirmou o "Kaiser" ("imperador" em alemão), conhecido por suas declarações provocativas que eram um misto de narcisismo e autodepreciação.

Sempre sintonizado com os novos tempos, ele organizou desfiles com encenações surpreendentes e espetaculares, em supermercados, galerias de arte ou ao ar livre, fazendo a festa nas redes sociais.

Nascido em Hamburgo, Lagerfeld sempre manteve uma aura de mistério em torno de sua data de nascimento. Vários jornais alemães, baseados em documentos oficiais, afirmam que ele nasceu em 10 de setembro de 1933.

Ele afirmou ter nascido em 1935, em uma entrevista à revista francesa Paris-Match em 2013, quando revelou que sua mãe havia mudado a data de seu nascimento.

Ele teve uma infância feliz, mas monótona em uma área remota da área rural alemã durante o nazismo, com um pai industrial sempre viajando e a mãe de personalidade forte, grande leitora, mas pouco afetuosa, que, no entanto, incutiu no filho a paixão pela moda.

O pequeno Karl desenhava vestidos e sonhava com Paris, para onde se mudou na adolescência.

Em 1954, ele ganhou um concurso organizado pela Sociedade Internacional da Lã, empatando com Yves Saint Laurent, com quem ele simpatizou antes de se tornarem grandes inimigos.

No início dos anos 1960, trabalhava como estilista autônomo, colaborando com diversas maisons.

"Eu sou o primeiro a fazer um nome com um nome que não era meu. Devo ter uma mentalidade mercenária", costumava dizer.

Ele sabia melhor do que ninguém como capturar o momento da moda.

Como em 2004, quando ele criou toda uma coleção prêt-à-porter para a gigante sueca H&M, uma atitude depois imitada por muitos criadores.

Viciado em trabalho ("Nunca pensei em aposentadoria", dizia ele), combinava a criação das coleções com seu trabalho com fotografia.

O "Kaiser" tinha o talento para descobrir top models: a francesa Inès de la Fressange, que assinou um contrato exclusivo com a Chanel em 1983, assim como a alemã Claudia Schiffer, a britânica Cara Delevingne ou a franco-americana Lily-Rose Depp.

Ele ainda queria que elas fossem magérrimas, apesar das crescentes demandas por diversidade.

"Ninguém quer ver mulheres gordas nas passarelas (...) São as mulheres gordas sentadas como sacos de batatas diante da televisão que dizem que as modelos magras são horríveis", afirmou à revista alemã Foco em 2009, o que o fez ser denunciado por uma associação de defesa de pessoas com excesso de peso.

Sobre sua própria morte, também tinha, como em outros assuntos, uma opinião consolidada.

Questionado pela revista Number se ele queria um funeral espetacular, afirmou: "Que horror, não haverá funeral".

"Eu só quero desaparecer como os animais da floresta virgem", afirmou, em outra ocasião, em uma entrevista à France 3.

Paris apresenta a maior exposição já realizada da marca francesa Dior, cujos 70 anos de história estão intrinsecamente ligados a seu fundador, Christian Dior, para quem a base da alta-costura era a arte.

Trezentos vestidos confeccionados entre 1947 até a presente data, mil documentos e dezenas de obras de arte serão exibidos a partir desta quarta-feira (5) no Museu de Artes Decorativas.

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Nascido em uma família de industriais franceses, Christian Dior (1905-1957) foi um homem de grande cultura, que trabalhou em uma galeria antes de se transformar em um dos estilistas mais celebrados da moda.

"Não foi alguém que se interessasse pela arte depois de fazer fortuna. Dior partiu da arte para a alta-costura", lembrou Olivier Gabet, diretor do museu e curador da exposição junto com a historiadora Florence Müller.

Amigo de artistas, como Jean Cocteau, Max Jacob e Picasso, abriu uma galeria em Paris com um grupo de sócios, defendendo "a arte moderna e contemporânea mais vanguardista", contou Gabet.

"Foi quem apresentou pela primeira vez em uma galeria gente como Alberto Giacometti e Salvador Dalí", acrescentou.

- O New Look

Na exposição, como não poderia deixar de ser, homenageia-se o "New Look", o estilo que Dior concebeu em 1947, depois da Segunda Guerra Mundial. Esse estilo deu um "novo ar" à mulher, com cinturas ajustadas, saias longas e rodadas e ombros naturais.

O "New Look" influenciou não apenas os estilistas contemporâneos de Dior, como continua inspirando os estilistas atuais, assim como os seis diretores artísticos que lhe sucederam na direção de sua maison.

- Saint Laurent, o sucessor

Depois da morte de Christian Dior, aos 52 anos, o jovem Yves Saint Laurent assumiu as rédeas. Sua primeira coleção, "Trapézio", valeu a ele o apelido de "O Pequeno Príncipe da moda".

Também foi determinante sua coleção "Beatnik", inspirada nos motoqueiros e em suas jaquetas de couro, que chocaram as clientes da época.

- Marc Bohan e o 'Slim Look'

Apesar de ficar 29 anos - um recorde - à frente da direção artística da Dior, o francês Marc Bohan parece ter caído um pouco no esquecimento.

"A extravagância de seus sucessores ofuscou um pouco seu período, mas ele teve muito êxito na época", afirma Müller.

Com Bohan, as saias ficaram mais curtas, e ele foi o inventor do "Slim Look", uma silhueta adolescente e mignon, muito em sintonia com os anos 1960. Entre suas clientes, destacou-se, por exemplo, Grace Kelly.

- Ferré e Galliano, a exuberância

Sob a batuta do italiano Gianfranco Ferré, o marca voltou às origens, com vestidos elegantes e finamente bordados, além de plumas e flores.

John Galliano irrompeu no mundo da alta-costura com sua excentricidade à inglesa e também foi fiel ao fundador da Dior, com "uma visão da feminilidade muito exacerbada: a cintura estreita, os quadris amplos, o busto em destaque", segundo a curadora.

- Raf Simons, o minimalista

O belga Raf Simons tinha fama de ser minimalista, mas a exposição é a ocasião para desmentir isso, ressalta Müller.

"Pode dar a sensação de que é muito simples, mas, de perto, pode-se observar a complexidade do trabalho", enfatizou, mostrando um bordado em três dimensões e um vestido confeccionado inteiramente com pequenas plumas.

- Maria Grazia Chiuri, a 'prima donna'

Nomeada em 2016, a italiana Maria Grazia Chiuri é a primeira mulher a chefiar a criação artística da Dior. Os vestidos expostos mostram uma visão delicada da mulher, com muitos bordados recobertos por tule.

"Esta exposição não fala apenas da maison Dior. Fala de cada época e de suas mulheres. É isso que me fascina", conclui a diretora artística.

As flores invadiram as passarelas da Alta-costura em Paris para a temporada primavera-verão 2015, que marcou também a volta do vestido de noiva e se inspirou no exotismo das viagens.

Primavera florida

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Na Dior, as flores apareceram estampadas como em negativo sobre capas de plástico transparente ou bordadas em vestidos que lembram exatamente o conceito da "mulher-flor", imortalizado pelo lendário Christian Dior, fundador da marca.

No decorado jardim tropical da Chanel, as flores se abrem como em um livro tridimensional infantil. Fazem conjuntos multicoloridos nos ombros dos vestidos ou terminam na bainha de jaquetas amplas. Outras versões são tão curtas que deixam o umbigo à mostra, prontas para um verão tórrido.

Na versão Viktor & Rolf, as flores aparecem em babados em 'looks', combinados com chapéu de palha e chinelos. Valentino pôs flores em suas princesas renascentistas e na Armani Privê a natureza aparece em estampas de bambu.

Volta do vestido de noiva

Um clássico dos desfiles para fechar uma coleção com chave de ouro é o vestido de noiva branco. Mas nessa temporada, terminada nesta quinta-feira, a Alta-costura foi além dessa antiga tradição que caiu um pouco em desuso.

Um vestido de noiva com cauda florida apareceu na passarela da americana Molly Blair e uma modelo de beleza futurista, quase extraterrestre, encerrou o desfile da Chanel vestida de noiva.

Jean Paul Gaultier transformou todo o seu desfile em uma divertida festa de casamento. É tradicional que a noiva se faça esperar e só apareça no final do desfile, mas neste caso foi o primeiro modelo da coleção, de branco... com bobes na cabeça. O vestido de noiva apareceu em outras interpretações ao longo do aplaudido desfile, onde segundo disse o próprio Gaultier em entrevista à AFP, "para todas as formas de casamento, todas as idades e a quantidade de vezes que quiserem".

O exotismo das viagens

A coleção de Elie Saab foi uma homenagem à Beirute de sua infância, quando a capital libanesa era conhecida como "a Paris do Oriente Médio" antes de ser devastada por 15 anos de guerra civil.

Com estampas de tulipas, vestidos de seda leve como o ar e que brilharam com os mil flashes, a coleção se inspirou em uma foto da mãe do estilista.

Gustavo Lins também evocou em sua coleção formas envolventes e suaves do seu Brasil natal, 28 anos depois da sua chegada à Europa. Em um detalhe inesperado para a Alta-costura, Lins incluiu vários modelos masculinos em um gênero tradicionalmente reservado à moda feminina. Valentino explorou o folclore russo com vestidos que demoraram em alguns casos 3.500 horas de trabalho. Não se pode esquecer que o exotismo na Alta-costura também está em uma clientela de ricas mulheres russas, asiáticas ou do Oriente Médio que procuram as 'maisons' de Paris para comprar seus vestidos de festa.

Celebridades na primeira fila

Com Donatella Versace nunca faltam famosas na primeira fila: em temporadas anteriores foram Lady Gaga e Jennifer Lopez e este ano, as americanas Goldie Hawn e sua filha Kate Hudson, próximas da cantora britânica Ellie Gouding.

Uma das musas de Raf Simons para a 'maison' Dior, Natalie Portman, assistiu ao desfile com o marido, o coreógrafo Benjamin Millepied. No dia seguinte, foram ao desfile da Chanel no Grand Palais Kristen Stewart, Vanessa Paradis, Anna Mouglalis e Inés de la Fressange.

A diva burlesca Dita Von Teese aplaudiu Alexis Mabille, Elie Saab e Jean Paul Gaultier, para quem desfilou muitas vezes e que contou, entre outras convidadas, com Catherine Deneuve, Arielle Dombasle, Catherine Ringer, Amanda Lear e a ex-primeira-dama francesa Carla Bruni-Sarkozy, que também admirou os modelo da coleção Schiaparelli.

O classicismo de Valentino e a exuberância festiva de Jean Paul Gaultier mostraram duas visões muito diferentes nas coleções de primavera-verão de Alta-costura em Paris.

Enfeitada com flores, Naomi Campbell foi o ponto alto do desfile de Gaultier, apresentado na forma de um festa de casamento. Para Valentino, os estilistas Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli trouxeram para a passarela mais uma vez uma homenagem sublime à beleza feminina.

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A festa de Gaultier

Usando como pano de fundo o famoso tema do casamento igualitário, gritos de entusiasmo e aplausos acompanharam todo o desfile de Gaultier, que anunciou no ano passado sua aposentadoria do prêt-à-porter para se concentrar na Alta-costura.

Catherine Deneuve, Carla Bruni-Sarkozy, Dita Von Teese, Conchita Wurst e Arielle Dombasle assistiram na primeira fila em cadeiras brancas, como em uma festa de casamento.

Com o tom inconformista e divertido que desde os anos 80 caracteriza o estilista que aos 62 anos os franceses continuam chamando de "enfant terrible da moda", não faltaram smokings, saias de tule, corpetes e jaquetas assimétricas.

Naomi Campbell encerrou a festa adornada com um ramo de orquídeas, coberta em plástico simulando celofane transparente com uma fita na cintura, como um buquê. "É o casamento para todos, afinal de contas!", disse Gaultier após o desfile. "Para todas as formas de casamento, todas as idades e a quantidade de vezes que quiserem", brincou.

"Na Alta-costura vemos muitos vestidos de noiva, eu nunca me dediquei a isso em especial. Eu pensei: depois de tudo ainda é a essência da moda, então eu disse: por que não me debruçar sobre o casamento e fazer vestidos de noiva, imaginando o que é um vestido de noiva hoje?". "Pode ser muito romântico, com branco, bordados, tule, gaze, mas também algo mais masculino, às vezes bissexual, outras, bipolar", diz o estilista. "Queria mostrar que no final das contas, você pode estar vestida de noiva de muitas maneiras!", prosseguiu.

Segundo Gaultier, abandonar o prêt-à-porter lhe permitiu "aperfeiçoar ainda mais a técnica e todo o trabalho do ateliê".

A aura de Valentino

Difícil imaginar algo mais longe do histrionismo de Gaultier que a atmosfera de beleza renascentista que reinou na passarela de Valentino. Chiuri e Piccioli comandam desde 2008 a 'maison' fundada por Valentino Garavani, ainda adorado pelos italianos aos 81 anos como "l'ultimo imperatore" da moda.

As silhuetas da coleção 2015 são impalpáveis e longilíneas, com uma profusão de bordados que lembram os trajes tradicionais das camponesas eslavas, transparências angelicais e veludo vermelho, o famoso "vermelho Valentino". O resto das cores são neutras: giz, marfim, azul-celeste e verde-água.

Um conjunto de vestido e blusa de linho era bordado com ponto cruz, no estilo das roupas folclóricas russas, e levou 3.500 horas para ser bordado.

O desfile foi dedicado a nada menos que "o amor" e inspirado na obra do pintor russo Marc Chagall. Uma nota entregue aos convidados explica: "No centro da celebração desse sentimento está a protagonista, a mulher, criatura sublime que gera um sentimento de elevação". Estamos em pleno universo de Valentino.

Os convidados que encheram os salões de uma mansão que pertenceu à família Rothschild aplaudiram durante vários minutos até que os estilistas saíram para saudar a plateia.

Com uma coleção primavera-verão que evoca o Brasil, onde nasceu, Gustavo Lins voltou nesta terça-feira à passarela de Alta-costura de Paris, lugar privilegiado e exclusivo que apenas alguns estilitas em todo o mundo podem dividir.

"Hoje faz exatamente 28 anos que cheguei à Europa, em 27 de janeiro de 1989", disse em entrevista à AFP o estilista de Belo Horizonte, após o desfile organizado nos salões do Museu de Artes Decorativas, no palácio do Louvre.

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Descendente de uma família de europeus que imigraram para o Brasil no século XVI e que se miscigenaram com os indígenas, Lins explicou que "tudo isso aflorou nesta coleção, a antiguidade das pedras preciosas, a inspiração na fluidez do ar, a água e os cavalos dos campos do Brasil".

Muito leve, a coleção de Lins —que no ano passado ficou ausente dos desfiles parisienses— incluiu formas envolventes e suaves. Os casacos aparecem sem estrutura, quase como batas.

Lins abriu sua coleção com modelos masculinos usando confortáveis sobretudos com lapela larga e um poncho de lã. "Há uma verdadeira diversidade entre homens e mulheres, muitas roupas de homens são usadas por mulheres e vice-versa: eu tinha vontade de misturar os gêneros", disse.

Após sua chegada à Europa há quase três décadas, Gustavo Lins se instalou em Paris, onde em 2004 fundou sua marca de prêt-à-porter, antes de ser admitido também na Alta-costura, primeiro como convidado e depois como membro permanente, a partir de 2011.

Arquiteto de formação, começou na indústria nos ateliês de John Galliano, Kenzo e Jean Paul Gaultier, entre outros.

No total, 24 maisons de Alta-costura —14 na lista oficial que inclui Lins e os convidados especiais— desfilam esta semana em Paris.

Diferente das semanas de prêt-à-porter organizadas em Nova York, Londres e Milão, Paris é a única capital da moda que organiza desfiles de Alta-costura, duas vezes por ano, em janeiro e julho.

Um clube muito exclusivo

Esta especificidade parisiense é protegida juridicamente por uma comissão do ministério da Indústria francês em função de critérios muito precisos. Recompensa em particular o trabalho feito sob medida nos ateliês do estilista.

Confeccionada à mão, implica também no uso de material de ponta, como bordados e rendas, acompanhado de pedras preciosas ou acessórios.

Lins disse que considera a Alta-costura "como um laboratório de pesquisa e de observação, de 'savoir-faire' e de excelência".

Em 2012, incluiu em seu desfile um vestido feito com porcelana de Sèvres, muito tradicionais.

As 'maisons' francesas mais famosas, como Christian Dior e Chanel, dizem ter cada um cerca de 1.000 clientes de Alta-costura.

"Antes da Primeira Guerra mundial, o primeiro cliente de Alta-costura no exterior era a Inglaterra e o segundo a Argentina", disse à AFP Didier Grumbarch, ex-presidente da Federação Francesa de Costura.

Os Estados Unidos alcançavam apenas o sexto lugar, atrás da Suíça, mas depois da guerra as norte-americanas passaram ao primeiro lugar, que hoje começa a ser disputado por mulheres da China, Índia e Oriente Médio.

"A clientela da Alta-costura aumentou", comentou Grumbach. "Há muito mais clientes que nos anos 1960, mas que também compram prêt-à-porter", acrescentou o especialista.

Gustavo Lins disse à AFP que além de sua marca de prêt-à-porter tem atualmente, no total, "cerca de 15 clientes" para seus modelos de Alta-costura, que visitam seu ateliê parisiense vindas da Rússia, Cazaquistão, Estados Unidos e Alemanha.

Com uma coleção super sexy de Versace que teve Jennifer López na primeira fila, a alta-costura iniciou, neste domingo (6), seus desfiles de outono-inverno 2014-2015, que contará com a apresentação do brasileiro Gustavo Lins.

O glamour e a sensualidade marcaram presença entre os mármores da Câmara de Indústria e Comércio de Paris, perto do Arco do Triunfo, para o desfile do Atelier Versace. Minutos antes do início do desfile, a chegada da estrela Jennifer López, deslumbrante em um vestido-bustiê branco, causou rebuliço entre os fotógrafos.

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As roupas de festa do Atelier Versace, geralmente monocromáticos em preto, branco ou azul, revelaram muito, como o modelo bustiê preto brilhante, tão colado ao corpo quanto um maiô, sobreposto por um drapeado de seda lilás. Opulentos abrigos em organza de seda e retalhos de vison azul foram arrematados com correntes de cristal, criadas pela casa Swarovski especialmente para a coleção. Outros modelos integraram colares metálicos aplicados diretamente no decote do vestido.

"A provocação consistiu em eliminar quantidade de tecido para acentuar a modernidade da alta-costura", explicou a estilista Donatella Versace em nota aos convidados.

- Duas estilistas francesas -

Além de Versace, desfilaram as coleções de duas estilistas francesas: Stéphanie Coudert, uma costureira de bairro que entrou para o clube exclusivo da alta costura, e Fred Sathal, ex-criadora de figurinos de ópera. "Costureira particular" há anos em sua loja-ateliê em Belleville, bairro popular do norte de Paris, Stéphanie Coudert levou para as passarelas uma amostra excelente de elegância à francesa, sem cair no óbvio.

Suas modelos se apresentaram mais lentamente que o habitual, permitindo apreciar melhor os cortes inovadores da primeira coleção "couture" de Coudert, descoberta por um empresário da moda que apostou em seu talento. Suas criações são femininas, mas não sexy. Os vestidos são confortáveis e associam elementos esportivos e sofisticados, com uma mistura de texturas, do jersey ao neoprene.

Após oito anos ausente, a marselhesa Fred Sathal trouxe para Paris uma coleção de 36 modelos totalmente bordada - no verso e reverso -, com muitas lantejoulas e tecidos artesanais que brincam com a luz. Para os dias muito frios, a sugestão foi um incrível poncho composto unicamente de caudas de raposa.

Esta semana e até a quinta-feira (10), o programa oficial de desfiles inclui as 'maisons' mais famosas: Chanel, Valentino, Dior, Jean Paul Gaultier... Os desfiles acontecerão em cenários às vezes deslumbrantes, em alguns dos mais belos edifícios da capital francesa.

Paralelamente ao programa oficial, estão previstas dezenas de desfiles e apresentações privadas "off", entre os quais estão previstos este ano o do brasileiro Gustavo Lins, o do mexicano Antonio Ortega, o do peruano Alexandre Delima e o do venezuelano Óscar Carvallo.

A alta-costura só desfila em Paris duas vezes por ano e reúne oficialmente uns 20 membros. É um apelo protegido por critérios estritos: os modelos devem ser obra do criador permanente da casa e confeccionados em ateliês com, pelo menos, 20 funcionários.

Os vestidos demandam dezenas ou centenas de horas de trabalho e são vendidos por dezenas de milhares de dólares a mulheres que os exibem nos tapetes vermelhos de Hollywood, Cannes ou em festas privadas no Brasil, na Rússia, na Ásia ou no Oriente Médio. Para as grandes casas, como Chanel e Dior, a alta-costura é, acima de tudo, uma vitrine que favorece as vendas de suas coleções de prêt-à-porter, que por sua vez, fazem o marketing de seus perfumes e acessórios, especialmente as bolsas.

O tempo parece ter parado no ateliê Gérard Lognon, em pleno centro de Paris, onde, desde a metade do século XIX, artesãos plissam tecidos com os mesmos gestos e técnicas, um trabalho muito valorizado pela alta-costura. Quatro gerações da família Lognon aprenderam o ofício desde que Emile fundou o ateliê em 1853. Apesar disso, no último verão, seu bisneto Gérard-George se aposentou sem deixar sucessor. Os ateliês foram comprados pela Chanel, junto a uma dezena de técnicas dos artesãos (bordado, plumas, etc.), que passaram a integrar a Paraffection, filial da marca de luxo francesa.

No ateliê, situado entre a Ópera Garnier e a Place Vendôme, três plissadores colocam mãos à obra, cercados por moldes de papelão dispostos sobre estantes. O lugar parece não ter mudado em décadas. Gérard-George Lognon se considerava um "enobrecedor de tecidos", já que nas mãos desses artesãos o tecido liso pode adotar formas diferentes. "É uma escultura da vestimenta", diz Leopoldine Pataa, uma jovem mulher de 34 anos que até pouco tempo trabalhava para Lemarié, empresa que também foi vendida e passou a integrar a Paraffection.

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Existe o plissado "sol", perfeito para vestidos amplos, o plissado chato, o plissado acordeão e outros mais fantasiosos, batizados por Lognon: "Gaspard", "Auguste", "boa", etc. Os mesmos nomes designam seus moldes respectivos. Alguns lembram origamis japoneses pela complexidade de pregas de papelão necessários para chegar ao molde final, um labirinto de zigue-zagues. São cerca de 2.500 moldes para aproximadamente 2.000 plissados diferentes.

Restam 5 ateliês de plissado na França

Léopoldine Pataa estende um molde em uma grande mesa para fazer um plissado "sol". Desliza minuciosamente a tela entre dois papelões e volta a fazer pregas. O molde será colocado depois em um aquecedor, entre 85º e 100º, durante 2 a 5 horas, segundo o tipo de tecido. Então deve se deixar o tecido repousar por várias horas. "Uma peça de tecido leva um dia inteiro de trabalho", explica Nadine Duffat, diretora da Lemarié. Algumas podem ser plissadas também em uma máquina.

Para os desfiles de Alta-Costura que terminam nesta quinta-feira em Paris, os plissadores trabalharam a todo vapor para confeccionar tecidos para as marcas Chanel, Dior e o venezuelano Oscar Carvallo, que apresentou na terça-feira uma coleção inspirada na obra do pintor cinético Carlos Cruz-Diez.

Segundo Carvallo, trabalhos como o de Lognon são "importantíssimos" para a Alta-Costura. "Eu me apóio muito nesse tipo de artesão", explicou o venezuelano em entrevista à AFP. Para a coleção primavera-verão "quis experimentar em que se inspira a arte cinética plissada", acrescentou. "Os plissamos em pirâmides e o resultado é maravilhoso: ficou como se fosse um pavão!" Lognon também fez prêt-à-porter para Chanel e Vanessa Bruno. Os famosos "carré" Hermes de seda passam por Lognon quando são plissados.

"É um trabalho único que deve ser conservado, (...), indispensável para a Alta-Costura e o prêt-à-porter de alta classe", disse Nadine Duffat. Principalmente porque restam apenas cerca de cinco ateliês de plissado na França. "Nosso objetivo é desenvolver esse tipo de ateliê, acrescentou Duffat, porque na realidade há muita demanda.

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