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Fazendo parte da nova geração de coquistas do Estado e carregado de grandes referências do ritmo, Juninho do Coco lança, no dia de São Pedro, seu primeiro disco.

Intitulado Meu Axé, o álbum traz faixas como "Papagaio Louro”, do cancioneiro sagrado da Jurema, que contou com participação de Rubens França, "Lá no meu terreiro" e “A barra da lua cresce".

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O disco será disponibilizado nas plataformas digitais e YouTube. Para o lançamento, Juninho realizará uma live, às 20h, para falar um pouco sobre o processo criativo do primeiro disco, além de apresentar algumas faixas ao público.

Meu Axé foi viabilizado através do incentivo da Lei Aldir Blanc de Pernambuco (LABPE) e contou com a direção musical e fonográfica de Alexandre L’Omi L’Odò.

Joana Belém era uma escrava fugida do cativeiro que sentou morada na Vila dos Pescadores, em Olinda, no fim do século 19. Naquele verdadeiro quilombo urbano, a diversão dos moradores eram as brincadeiras de roda acompanhadas por tamancos de madeira que batiam como se fossem instrumentos, o que hoje conhecemos como coco. Nesse meio nasceu e cresceu - livre - Maria Belém, filha de Joana. Ela tornou-se uma das grandes coquistas do lugar, que anos mais tarde tornou-se a comunidade de Amaro Branco.

Maria Belém não ia para as sambadas sozinha, levava a tiracolo a filha pequena Maria da Glória. Juntas, as duas tocavam e cantavam o ritmo que tornou-se referência daquele povo e lugar. Glória cresceu sambando e recebeu da mãe a missão de dar continuidade às suas tradições. E assim vem fazendo Dona Glorinha do Coco, agora aos 84 anos de idade, desde a partida da matriarca, na década de 1990. Hoje, a coquista de maior idade em atividade em Olinda, após criar 12 filhos, superar maridos ciumentos e a falta de visibilidade e apoio financeiro, se prepara para lançar o segundo disco de sua carreira, Noite Linda

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Dona Glorinha já é tatatravó mas a pisada do coco é o que dá ritmo à sua vida. Prestes a completar 85 anos, ela é capaz de passar madrugadas inteiras nas sambadas e ainda dá conta do serviço de casa. "Só não lavo roupa porque tem a máquina, a roupa já sai e é só botar no varal. Uma máquina dessa é uma mãe", conta. Viúva há mais de 20 anos, ela relembra como precisou lidar com o ciúme dos maridos - ela teve três - na hora de fazer o que mais gostava. "Minha mãe chegava e dizia: 'Glorinha, o coco começou, num vai não?'; ele (marido) dizia: 'já chegou a outra pra chamar ela pra ir sambar'; mãe dizia: 'Você não gosta de samba mas eu gosto e ela gosta e a gente vai". E eu ia, quando eu chegava ele tava com a cara feia".

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A mãe, grande influência da mestra, deixou para a filha todos os ensinamentos e a missão de dar continuidade ao legado da família. "Eu sempre gostei, ela (a mãe) dizia que eu com três anos já ficava pulando num pé só e batendo palma. Tá na raiz, né"? E seguindo o exemplo da matriarca, Dona Glorinha já garantiu a manutenção da tradição familiar através de uma das netas que já faz coco também. Mais uma mulher dessa linhagem de resistência e pertencimento.

A roda de coco é o que deixa a mestra feliz. Ela diz que não gosta nem de pagode, nem de brega, mas se a convidar para uma sambada ela irá de muito bom grado. "Eu vou pra cantar, tanto faz eu ganhar cachê, quanto ganhar nada". E é aí que a coquista fala sério, quando o assunto é dinheiro. Ela é mais uma griô pernambucana que carece de assistência nesse tocante.

Dona Glorinha reclama da demora no recebimento dos cachês que já são os menores praticados no mercado. "E quando se fala em aumentar o cachê vem os embarreiramentos de comprovações, documentos. E o mérito artístico e cultural dessa mulher que tem essa idade, que tá aqui empoderada fazendo coco dentro da comunidade dela e incentivando outras gerações? Eles não tem olhos pra enxergar esse tipo de inclusão dentro das comunidades", acrescenta Isa Melo, produtora da artista.  

A mestra complementa: "O pequeno artista como eu sou, vive lá embaixo". Mas, apesar das dificuldades, o samba não para e Dona Glorinha não esmorece, nem pensa em desistir. Octogenária, a coquista só lamenta um único detalhe a essa altura da vida: "O que tá me entristecendo agora é que a velhice tá chegando, tá me acompanhando e eu tô com ela, né". 

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Noite Linda

O segundo disco de Dona Glorinha do Coco, Noite Linda, é fruto do Prêmio das Culturas Populares, edição Leandro Gomes, de 2017. O álbum traz nove músicas, a maioria da própria mestra que se vale das pequenas situações do cotidiano para compor, ou como ela mesma diz “tirar o coco”.

A direção musical do álbum é assinada por Viola Luz ao lado de Isa Melo, que também cuidou da produção. A capa é a reprodução de um grafite, feito no muro da sua casa, pela artista Mari Lúcio. O produto final é resultado do esforço de diversas mulheres que estão trabalhando para a manutenção da arte e do legado dessa mestra. 

Para celebrar a chegada de Noite Linda, será realizada uma grande festa na rua dos Pescadores (Amaro Branco), endereço de Glorinha, que receberá alguns convidados para o lançamento como Cila do Coco, Coco do Amaro Branco, Coco do Pneu, Coco das Estrelas, A Cocada, Viola Luz e Forró do mestre Ulisses da Tabajara. A sambada começa às 20h e promete ganhar a madrugada.

Serviço

Lançamento do disco 'Noite Linda' - Dona Glorinha do Coco

Sexta (25) - 20h

Rua dos Pescadores - Amaro Branco (Olinda)

Gratuito (os discos estarão à venda no evento)

 

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