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A atriz e jornalista baiana Maíra Azevedo, conhecida como "Tia Má", chegou ao Recife neste sábado (18) para comandar o painel da 2ª edição da Expo Preta, exposição autoral voltada ao afroempreendedorismo e empoderamento de pessoas negras. O evento, que acontece no mês em que a Consciência Negra é celebrada, é sediado no shopping RioMar, na Zona Sul da capital pernambucana. A programação é gratuita e se encerra neste domingo (19), às 21h.

Em entrevista ao LeiaJá, Tia Má celebrou a chegada ao Recife e disse estar ansiosa para conhecer o também jornalista e ativista negro Pedro Lins, que dividirá com ela o painel de exposições culturais e artísticas. 

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“Já conheço Recife e adoro o Recife. Sou apaixonada pelo Nordeste brasileiro. Sempre digo que sou muito bairrista, tenho orgulho de ser baiana e nordestina, e acho que a gente tem a melhor região. Conheço Pedro das redes sociais, e a gente sempre troca carinhos virtuais, mas é a primeira vez que a gente vai se encontrar pessoalmente. A ideia do painel é exatamente fortalecer essas pessoas, é um painel de exposição. Às vezes a gente esquece a importância de expor, de mostrar o trabalho da gente. Sempre falo, como comunicadora, que não basta ter o empreendimento, é preciso comunicá-lo. Anuncie a mercadoria, diga o que está vendendo. A comunicação é fundamental para quem empreende", disse a artista.

Para Maíra, empreender "é natural para gente preta". Formada em jornalismo e também atuante no teatro, Maíra Azevedo passou a receber destaque nacional após investir na criação de vídeos para as redes sociais. O que surgiu como uma atividade de lazer, para matar o tempo em que passava no trânsito, acabou se tornando uma ponte para trocar experiências com outras pessoas, dar conselhos e oferecer ajuda. O público da atriz é majoritariamente feminino e, em especial, formado por mulheres pretas. Assim, para ela, empreender tornou-se também sobre vender ideias e saber "se jogar" enquanto profissional e pessoa pública.

“Fui entendendo que eu não falava só do que me atingia; quando eu falo de violência contra a mulher, de combate ao racismo, de combate às diversas formas de opressão, não falo só de mim, falo de milhares de pessoas. No início, eu tinha muita resistência, levava sempre como uma brincadeira. A gente sabe que, antigamente, trabalhar com rede social por muito tempo era visto como algo ruim, pejorativo, "blogueirinha". Eu não queria ser uma blogueirinha, até entender o impacto e a força desse trabalho. É importante comunicar para além dos meios tradicionais. Poder falar com mulheres pretas, com a cara parecida com a minha, que elas não devem se sujeitar a qualquer coisa, pra mim, é um grande trabalho de comunicação", acrescentou a comunicadora.

Expo Preta RioMar

A segunda edição da Expo Preta começou nessa sexta-feira (17) e vai até o domingo (19), no Shopping RioMar Recife. O evento vai reunir mais de 50 afroempreendedores de várias partes da Região Metropolitana e uma rica programação cultural, contando este ano com a presença da rapper Negra Li, Tia Má e a grife Negra Rosa. A curadoria do evento é do Futuro Black. Como novidade na programação deste ano haverá um desfile de moda, comandado pelo estilista senegalês Lassana Mangassouba. 

Confira a programação completa 

Dia 17/11 (Sexta-feira)

13h, 14h e 15h – Oficinas de Afrobetização – Jogos de leitura e contação de histórias, com Gláucio Ramos   

16h – Apresentação de Jason MC 

16h30 – Apresentação de Alaka MC  

17h – Apresentação de Bione  

17h30 – Painel “Protagonismo feminino na arte”, com Tássia Seaba e Nathê Ferreira. Mediação de Rafaella Gomes. 

19h – Abertura oficial da Expo Preta RioMar, com show de Negra Li e apresentação de Pedro Lins 

19h às 21h – DJ Rainha do Recife 

Dia 18/11 (Sábado)

13h – Apresentação da Twerk Recife  

14h – Painel “Histórias que inspiram”, com Edna Dantas e Jarda Araújo. Mediação de Julio Pascoal.  

15h – Apresentação do “Maracatu Encanto do Pina” 

15h30 – Painel “Letramento Racial”, com Manoela Alves e Diogo Ramos. Mediação de Dayse Rodrigues  

16h30 – Apresentação do Afrobaile B2B Baile Charme, com DJ Boneka  e Phino  

17h10 – Desfile de moda africana com o estilista Lassana Mangassouba 

18h – Painel com Tia Má e mediação de Pedro Lins   

19h – Painel: “Educação Financeira”, com Viviane Silva 

20h às  21h – Apresentação do DJ Makeda 

Dia 19/11 (Domingo)

12h – Painel “Saúde Mental e Saúde Integrativa”, com Maria Beatriz e Andreza dos Anjos 

12h30 às 14h – Apresentação da DJ VIBRA 

13h30 – Desfile Moda Mangue  

14h – Apresentação “Toda Música tem história pra contar”, com Kemla Baptista 

15h – Painel “Comunicação antirracista”, com Sharon Baptista e Lenne Ferreira. Mediação de Thiago Augustto.    

16h – Painel ”Religiões de matrizes africanas”, com Neto de Osa e Janielly Azevedo. Mediação de Jamesson Vieira.  

17h – Apresentação das Sereias Teimosas 

17h30 – Pocket do Espetáculo “Território de Passos e Sonhos” do Balé Deveras 

18h – Pocket Show de Gabi do Carmo  

20h – Apresentação de Afromaica

Nesta quinta-feira (31), a fotógrafa e videomaker na Secretaria da Educação de Guarulhos, Camila Rhodes, participou do último dia do evento da Universidade Guarulhos (UNG) - “Encontros da Comunicação” e comentou sobre sua jornada profissional e apresentou seus projetos autorais de fotografia, como “Mulheres Marias”, ao lado do também fotógrafo, Sérgio Santoian, “Feito Tatuagem” e “As Fotos Que Eu Pinto”, para os alunos do curso de Comunicação. 

Camila conta que sempre gostou de arte e, antes de ser fotógrafa, escolheu a faculdade de moda em 2008, porém, algumas matérias têm um segmento para a área de exatas e o orçamento para fazer a faculdade de cinema era acima do esperado - então desistiu. Ela também afirma que foi a fotografia quem a escolheu. “Na época, a gente aprendeu com a fotografia analógica na faculdade e então foi quando consegui comprar minha primeira câmera”, comentou. Com o prosseguimento do curso e o início da carreira, Rhodes produziu fotografias dela mesma que retratavam sobre o despertar do antigo relacionamento abusivo.  

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Desde o começo de suas fotografias, uma das marcas evidentes e registradas de seu trabalho é a presença do corpo humano e o contato com a natureza e sua ancestralidade. “Como fotógrafa, eu costumo dizer que sou uma coletora de memórias e acabou sendo um pouco e às vezes de querer guardar e registrar certos momentos em um potinho. Mas eu costumo carregar muito dos meus ancestrais na minha vivência diária e o papel que eles desempenham são de muita força e garra. É onde eu me reconheço e consigo honrar cada passo da minha jornada, sabendo que estão sempre torcendo por mim e, principalmente as mulheres da minha família. Para mim, é honrar a memória delas”, explicou Camila sobre o papel da ancestralidade na sua arte.  

Em sua apresentação, a fotografia de Rhodes propõe um estudo sobre o instante como forma de manifesto atemporal, registrando atmosferas presentes no momento. Alguns dos trabalhos feitos por Camila são: “Produchama”, “Mulheres Marias”e “Emplanta”. Seus registros também são identificados no Portal Se Informe.

Mais de 30 nações e grupos de maracatu se reuniram no Pátio do Terço, no bairro de São José, nesta segunda-feira (20), para celebrar a Noite dos Tambores Silenciosos no Carnaval do Recife. O início dos desfiles foi feito pelo Maracatu Nação Linda Flor, que homenageou Oxum em sua apresentação.

A celebração é realizada toda segunda-feira de carnaval, como forma de marcar o sincretismo religioso que moldou a história do País. Nações de diversas partes da Região Metropolitana do Recife se reúnem para desfilar e honrar a ancrestalidade dos povos escravizados no Brasil. À meia-noite, os tambores emudecem e as luzes se apagam para dar início à cerimônia, onde se honra os Eguns, espíritos que protegem o povo negro no plano dos vivos.

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Nos próximos dias 10 e 11 de dezembro, o Terreiro Nagô Ilê Axé Orixalá Talabí, localizado na comunidade de Paratibe, em Paulista, realizará o Seminário Onje Omi: Comidas de Águas. Com o objetivo de fortalecer a ancestralidade das mulheres negras e de Terreiros, a atividade promove a transmissão e preservação dos saberes, fazeres e memórias, ligados à gastronomia tradicional dos Orixás.

Durante os dois dias, a Ìyábásè Rosimary Guedes convidará Iyabás de outros terreiros para compor o ciclo das vivências, sobre a importância histórica das narrativas igadas às Onje Omi, “Comidas de Águas”, pratos sacros litúrgicos ofertados as Orixás das águas, divindades do panteão Nagô de grandes popularidades no estado de Pernambuco.

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Além das pessoas afro-indígenas pertencentes a comunidades tradicionais de terreiro do estado de Pernambuco, moradores da Região Metropolitana do Recife que possuem interesse no universo da comida afro-brasileira de terreiro, também podem participar. Os interessados devem realizar a inscrição de forma presencial no primeiro dia do seminário, na Rua Orobó, 257.

Confira a programação abaixo. 

DIA 10 DE DEZEMBRO  13h– Inscrição do público participante; 13h30 – Abertura oficial e boas-vindas; 14h – Vivência com a Iyabasé Rosimary Guedes que receberá as Iyabás: Conceição Costa do Terreiro Obá Ogunté – Sítio de Pai Adão; Maria do Carmo do Ilê Axé Oyá Meguê - Terreiro Xambá;  Mãe Lú de Orixalá da Roça Jeje Oxum Opara Oxossi Ibualama; Barbara Costa do Ilê Iyemojá Ogunte; Iyalorixá Zefinha de Nanã do Ilê Omo Òrìsà Nanã-Buruku; 17h30 – Apresentação do espetáculo de dança Omi: Substância Ancestral; 18h –Encerramento do primeiro dia do seminário; 

DIA 11 DE DEZEMBRO  17h – Abertura oficial da Mostra de Culinária Onje Omi: Comidas de Águas com degustação gratuita de pratos ofertados as Iyabás (Orixás femininas); 18h - Apresentação do Espetáculo Omi: Substância Ancestral; 19:00 – Show do Afoxé Obá Iroko; 20h – Show do Afoxé Orixalá Baba Funfun; 21:00 – Show do Grupo Coco Verde e Melancia; 22h – Encerramento oficial do seminário.

*Da assessoria 

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Realizado no Museu do Estado do Pará (MEP), em Belém, o Festival de Saberes Ancestrais tem por objetivo promover a discussão em torno da população indígena e do ativismo no Brasil. O evento começou com a oficina “Etnomídia e Empreendedorismo Indígena”, ministrada pelo líder indígena e ativista Anàpuaká Muniz Tupinambá. No primeiro dia, após o encerramento da reunião, houve a abertura de coletivos com mestres e mestras do carimbó e com presença de coletivos MST, Quilombo África, Rede RAMA e Lacitata.

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Anàpuaká destacou o protagonismo do indígena na sociedade brasileira. Segundo o comunicador, essas populações estão presentes na sociedade desde sempre e disse que a comunicação é uma ferramenta de empoderamento para as sociedades originais.

Para o ativista, a elaboração de políticas públicas é inerente aos cidadãos indígenas. “Trazer eles para debater e fazer parte de conselhos de entidade de Estado, participar. A solução é construir e dialogar”, explicou. “Não esqueça da população indígena em políticas públicas de editais, cotas de acesso a serviço público e educação.”

Dentre os projetos que administra, Anàpuaká citou a rádio Yangê, fundada em 2013 por ele com outros três colegas, fundamentada no conceito que ele define como “etnomídia indígena”. Segundo o líder, é a “aplicabilidade da comunicação aos povos indígenas”.

“Eu não conseguiria fazer em outras mídias, tive que reformular um projeto e espaço de desenvolvimento na nossa própria tecnologia comunicacional”, detalhou. “Hoje nós estamos em mais de 90 países, temos três milhões de ouvintes e mais de 180 línguas em conteúdo na nossa grade da rádio.”

O festival ocorreu nos dias 20, 21 e 22, no Museu do Estado do Pará (MEP), em Belém.

Por Sergio Manoel (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

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O Festival de Saberes Ancestrais reuniu, em palestras e rodas de conversa, no Museu do Estado do Pará (MEP), em Belém, temáticas sobre os povos ancestrais. Em seu segundo dia de encontro, o festival contou com a presença de diversos nomes reconhecidos, como o líder indígena e ambientalista Ailton Krenak, a escritora e ativista Márcia Mura, o escritor e ativista da causa quilombola Nêgo Bispo e a ativista ambiental e cultural Claudete Barroso.

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Ailton Krenak realizou o ato decisivo para a inclusão do Artigo 231 na Constituição de 1988, conhecido como “Capítulo dos Índios”, na Assembleia Nacional Constituinte, em 1987. Enquanto discursava, o líder indígena pintava seu rosto com pasta de jenipapo. Ao relembrar do ato, Krenak afirma que a fala foi espontânea, mas baseada na sua experiência de mobilização política com povos originários.

“Eu não imaginava que a gente fosse ter o desenvolvimento da história brasileira recente de ter um presidente da República que ameaça o povo indígena, um genocida que fica dizendo que nós não teremos mais nem um milímetro de terra indígena demarcada. Essa gente que não gosta do povo indígena, o tempo deles passa rápido. Eles passarão, nós passarinho”, disse, citando o poeta Mário Quintana.

Durante a mesa de conversa, Krenak abordou a naturalização do consumo de alimentos industrializados pelos brasileiros e frisou sobre o direito à vida que todos os serem têm. “Belém é cheia de ofertas interessantes para a cultura, para quem está aqui na cidade participar de todo tipo de evento”, declarou.

O líder indígena, que é, também, autor de cinco livros, falou que não se considera um escritor, visto que vem de uma tradição oral e, assim, seus primeiros livros foram feitos: ele falou, os textos foram gravados e, posteriormente, publicados. “Quando eles me designaram para aquele prêmio literário, o Juca Pato, em 2020/2021, eu disse: ‘Vocês estão querendo premiar um escritor? Eu não sou um escritor, eu sou um contador de histórias’. Mas, mesmo assim, eu tenho um bonequinho Juca Pato na minha prateleira”.

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O futuro é agora, de acordo com Krenak e Márcia Mura. Para a ativista, o futuro depende dos antepassados, da ancestralidade e dos saberes. Márcia luta pela existência do seu povo, os Mura, apesar de todas as camadas de colonização. “O nosso modo de ser Mura está vivo. Enquanto houver uma Mura lutando, vai haver resistência. E é assim que eu sigo, nessa resistência”, ressaltou.

Para Márcia, o festival foi uma grande realização de fortalecimento que trouxe a presença de ensinamentos de seus “parentes”, o que lhe deu força. Ela relembra da importância da valorização de tecnologias ancestrais – como casas de palha, esteiras e panelas de barro –, visto que não representam atraso ou empobrecimento, mas, sim, bem viver e saúde.

“É essa força, de toda essa ancestralidade, junto com outras pessoas, que Namãtuyky (o grande criador, na cultura Mura), os ancestrais e as ancestrais colocam no nosso caminho, que faz a gente se sentir vivo, viva; e tenha força para que, apesar de toda essa colonização, esses projetos de morte, a gente continue lutando para que o nosso bem viver se mantenha e a gente continue conectado com esse ambiente inteiro”, frisou.

Nêgo Bispo, piauiense, ativista da causa quilombola e uma das principais vozes do pensamento das comunidades do Brasil, disse que participar desse encontro é reviver sua ancestralidade. O ativista afirma que o sentimento de dever cumprido é satisfatório.

“A minha alegria é saber que a geração neta está dialogando com a minha geração avó e eu faço parte desse elo de ligação, através das oralidades e das escritas. Então, isso me deixa com a sensação de que a minha passagem por esse mundo é resolutiva, e eu me sinto uma pessoa que está conseguindo cumprir sua missão”

Kauacy Wajãpi, representante de etnia que vive na região do Oiapoque, no Amapá, faz parte da associação multiétnica Hykakwara e ressalta a relevância do Festival de Saberes Ancestrais, que traz a importância da identidade indígena que ressurge a partir das lutas dos povos em retomada e reconexão com seus territórios.

“Nós temos parente à frente de um evento muito importante, agregando personalidades indígenas e negras, e de pessoas que estão falando muito sobre o ecossistema, sobre a questão da nossa sobrevivência, não só questão da região Amazônica, mas mundial”, disse.

Kauacy também falou sobre o processo de apropriação e identificação indígena que ainda está sendo contido.

“Quando nós tentamos lutar e tentamos avançar, novamente somos reprimidos com as mortes, invasões de terras e os estupros que acontecem quase que sempre. Então, dói muito para nós como povos indígenas dentro desse território não poder nos afirmar como indígenas”, ressaltou.

A ativista ambiental e cultural Claudete Barroso faz parte do projeto Alegria com Água Doce Mirim, que tem o objetivo conscientizar crianças e adolescentes e garantir a valorização do patrimônio cultural da ancestralidade dos povos através das músicas de carimbó.

“O carimbó é um estilo de vida, não é apenas uma dança, não é apenas uma música, ele é a vida, é ancestralidade, é o toque do coração no próprio curimbó, é a força histórica ancestral. A gente canta em nossas músicas a nossa vida, nosso lugar de pertencimento, isso é necessário”, concluiu.

Por Amanda Martins, Lívia Ximenes e Clóvis de Senna (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

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projeto “Moquém Mairi: diversos mundos, diversas economias” tem como objetivo debater e movimentar a economia a partir da cultura dos povos ancestrais, por meio das artes, pinturas, cultura alimentar, literatura e outras formas, trazendo como resultado uma economia coletiva que abraça e distribui saberes e a retomada de territórios. Em Belém, o encontro será realizado nos dias 20, 21 e 22 de outubro de 2022, no Museu do Estado do Pará (MEP), na praça Dom Pedro II.

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Com uma programação composta por palestras, rodas de conversas, vivências práticas e feira com produtos de cultura alimentar, o evento se volta para a sociobioeconomia em torno das produções indígenas, quilombolas, agroecológicas e culturais dos interiores.

Tainá Marajoara, idealizadora do projeto, é do povo originário Aruã Marajoara. Ativista e pensadora indígena, ela reforça a importância de manter viva a cultura e as técnicas dos ancestrais para o futuro: “No mesmo período em que batemos recorde de devastação da Amazônia e morte de lideranças, nós acendemos nosso moquém como um esperançar em defesa dos conhecimentos, saberes e de celebração da nossa existência enquanto artistas e fazedores culturais, que fazem do seu modo de vida os seus circulares econômicos”, declara.

Tainá também explica a escolha do nome do projeto criado em 2018: “Moquém chega para falar do tempo, da celebração da ancestralidade de ensinamentos para o futuro, vem para manter viva a técnica ancestral e o bem viver. E Mairi, por sua vez, celebra a permanência das culturas e a memória dos povos nessas terras”, finaliza.

Falar em culturas ancestrais é também falar de culturas alimentares, elas estão interligadas. O Moquém Mairi reafirma a importância de processos econômicos justos e descentralizados e da cultura alimentar para a justiça climática e defesa da Amazônia, com as raízes fincadas em comidas livres de agrotóxicos e transgênicos e repletos de sabedoria dos povos amazônicos. Durante o festival, haverá uma feira com produtos e alimentos elaborados com originalidade e afeto, produzidos por meio de base comunitária e agroecológica.

 Os participantes são lideranças indígenas, quilombolas, ativistas alimentares e renomados pesquisadores. Entre os convidados está o líder indígena, ambientalista e filósofo Ailton Krenak; a escritora e artivista Márcia Mura; Anapuaka Tupinambá, fundador da primeira rádio indígena do país; a pesquisadora e artista Naine Terena; o poeta e escritor quilombola Negô Bispo e muito mais.

A proposta do encontro é celebrar a ancestralidade, que cultiva as histórias originárias, populares e tradicionais, compartilhando saberes diversos e mantendo viva a técnica por meio de valorização das raízes da nossa cultura. E também pautar novos mercados, economias emancipatórias e novas formas de distribuição e geração de renda a partir dos ativos culturais

 O projeto é uma realização da Associação Folclórica e Cultural Pássaro Colibri de Outeiro e Ponto de Cultura Alimentar Instituto Iacitata Amazônia Viva e conta com apoio de Eliete Cozinha Paraense, Wika Kwara, Negritar, Ná Figueredo, Campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida, Prefeitura de Belém e Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SECULT).

Os interessados devem realizar a inscrição por meio de formulário, no link aqui. 

Serviço

PROGRAMAÇÃO NO MUSEU DO ESTADO DO PARÁ (MEP):

 DIA 20/10 

Sala Moquém Mairi.

15h-18h: Oficina Etnomídia e Empreendedorismo Indígena, com Anapuaka Tupinambá - No Pátio do Palácio. 

18h: Abertura Moquém Mairi com Márcia Mura, Iacitatá e REDE RAMA.

 DIA 21/10 - Moqueadas 

 1. Sala Moquém Mairi: Valentias Poéticas.

10h-12h Ailton Krenak (líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor),  e Márcia Mura (escritora e artivista).

 14h-16h: Cultura Alimentar, Sistemas Alimentares Justos, Sociobioeconomia ou a Sindemia Global.

 16:30 -18h: Artes Cosmopolíticas, Outras Economias e Justiça Climática (Célio Torino, Naine Terena, Joyce Cursino e Magno Cardoso, Miguel Chikaoka)

 18:15 - 19:30h: Confluências da Contra Colonização Nêgo Bispo e Mestra Laurene Ataíde.

DIA 22/10 - Moqueadas

 1. Sala Moquém Mairi.

 09 -11h: Comunicação e narrativas contra-hegemônicas: Joio e o Trigo, Rádio Yande, Comunicadores Populares. 

 11 - 13h: Palavra de Mestra: roda de confluências entre Mestres e Mestras de Cultura.

 Sala Moqueada de Futuros

10h - 12h:

Contra Narrativas de Arte e Consumo - Pesquisa sobre consumo e conceitos da arte indígena - Oficina Naine Terena.

 Feira dos Povos

Produtos de cultura alimentar e da Agroecologia, livre de agrotóxicos, transgênicos e produzidos de modo justo e com respeito ao meio ambiente.

20/10: 15h 20h

21/10: 09h - 19h

22/10: 09h - 13h 

 Da assessoria do evento.

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Sejam bem-vindos ao mundo místico do Tarô, o jogo de cartas cuja leitura ajuda a interpretar situações e mesmo criar um panorama da vida de quem o consulta. Nesta jornada mística, convidamos você a navegar com personagens emancipadas, em uma verdadeira releitura que traz como força a valorização das mulheres da Amazônia.

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Surgido na Itália no século XIV, o Tarô rapidamente ganhou popularidade. Desde então, artistas em todo o mundo fazem releituras do famoso baralho, composto por 22 Arcanos Maiores e 56 cartas de um baralho comum. 

O Tarô Amazônida é uma iniciativa das artistas Renata Segtowick, Ty Silva, Moara Brasil e Mandie Gil, viabilizado por meio do MAR (Mulheres ARtistas Pará), projeto de conexão feminina artística selecionado pelo edital Moda e Design da Lei Aldir Blanc Pará, organizado pelo Instituto Ágata, Secult, Governo do Pará, Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal.

“O tarô permite uma profunda conexão espiritual com os nossos ancestrais e guardiões. Então, fazer essa ponte com os seres encantados e com as culturas amazônidas, além de ser um processo de busca pela nossa ancestralidade, também reforça a necessidade de termos mais conteúdo produzido por artistas que vivenciam esse local e cultura”, conta Ty Silva, artista paraense e uma das ilustradoras e organizadoras do Projeto Tarô Amazônida.

O baralho, que inicialmente terá os 22 Arcanos Maiores, foi ilustrado totalmente com personagens femininos ou sem gênero definido. Com o objetivo de trazer o tarô para referências locais, 11 artistas paraenses ilustram as cartas. “Buscamos recriar os personagens com a cara das mulheres da amazônia, com sua diversidade étnica, valorizando nossos corpos, nossas cores, nossa cultura”, explica a ilustradora e designer gráfica Renata Segtowick.

Revisar o tarô de forma criativa e inovadora é a chave para que o trabalho artístico abra portas para discussão de vários temas como feminismo, descolonização e valorização de mulheres da amazônia. Através de pesquisa, produção de ilustrações e do lançamento de exposição em plataformas digitais (Instagram e website), seguido de debate, este material é mais um elemento de empoderamento e reflexão sobre várias questões do corpo feminino. "Essa é a primeira etapa do nosso projeto, que inclui apenas artistas participantes do MAR. A maioria é moradora da Região Metropolitana de Belém, mas, na sequência, com o financiamento coletivo, vamos poder chamar outras artistas, inclusive mulheres cis e trans de fora da nossa região, para dar maior diversidade ao projeto", reforça Moara Brasil, uma das ilustradoras envolvidas no projeto.

A coleção inspirada no Tarô Amazônida incluirá camisetas e canecas e será colocada à venda na loja online do MAR (www.mulheresartistaspa.com.br). Posteriormente outras peças também estarão disponíveis como recompensas na campanha de financiamento coletivo, criada para possibilitar o desenvolvimento das outras 56 cartas. As vendas servirão de fonte de renda para a equipe, composta exclusivamente de mulheres que vivem de sua arte e foram duramente atingidas pela crise resultante da pandemia da covid-19, além de reverter 15% do lucro para comunidades indígenas da região do Tapajós. “Projetos como este possibilitam que artistas continuem criando, pois o setor da cultura foi um dos mais atingidos com pandemia, e deveriam ter mais apoio e recurso”, reforça Moara.

Para saber mais sobre o projeto, siga o Instagram do M.AR (@mulheres.artistas.pa) e participe da live de lançamento, que será no dia 20, às 18 horas.

Conhecimento e acessibilidade

O Tarô Amazônida conta ainda com duas oficinas virtuais na área de design gráfico e arte: uma de Fundamentos de Aquarela com a artista Marina Pantoja e outra, de Teoria das Cores, com a artista Mandie Gil. As oficinas serão disponibilizadas gratuitamente no YouTube e tanto elas quanto a live de lançamento contarão com tradução simultânea em libras para deficientes auditivos.

Sobre o MAR

O MAR (Mulheres ARtistas Pará) é um projeto de conexão feminina que foi criado e organizado para dar visibilidade e divulgar o trabalho das artistas plásticas, grafiteiras, ilustradoras, game designers, profissionais de animação, profissionais de lettering, tatuadoras e quadrinistas da amazônia paraense. Hoje, o coletivo conta com mais de 100 inscritas.

Serviço

Tarô Amazônida

Live de lançamento: 20/05, 18h - Instagram: @mulheres.artistas.pa

Disponibilização de oficinas gratuitas no YouTube: 27/05.

Por Iaci Gomes, especialmente para o LeiaJá.

 

O novo trabalho produzido pela Multi Amazônia Brasil e Produtora e pelo Coletivas Xoxós ganha vida ao som do toque de tambores, enquanto as memórias e experiências de vida da atuante Andréa Flores se entrelaçam a uma pergunta subliminar feita ao público: “Quantas cabeças pensam o nosso viver? Quem nos pensa?”.

"Divinas Cabeças" traz o protagonismo de uma mulher negra, afroamazônida, e transita por assuntos como ancestralidades, negritude, espiritualidade, diferença e cura. Todos esses pontos se entrelaçam a partir da questão-desejo “Eu quero uma boneca que se pareça comigo! Que se pareça comigo...”, que se fez presente na infância da performer.

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As apresentações on-line serão nas próximas quartas-feiras, 21 e 28 de abril, de 22 horas à meia-noite. “Divinas Cabeças” é um projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc (2020), por meio da Secretaria de Estado de Cultura do Pará (Secult-PA). Estará disponível, em sua versão digital, no Facebook e Instagram do Teatro do Desassossego.

Serviço

Espetáculo “Divinas Cabeças”.

Onde: Facebook e Instagram do Teatro do Desassossego.

Quando: Dias 21 e 28 de abril de 2021, disponível de 22h à 0h.

Realização: Multi Amazônia Brasil e Produtora e Coletivas Xoxós.

Projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc (2020), por meio da Secretaria de Estado de Cultura do Pará.

FICHA TÉCNICA:

Performance e Dramaturgia: Andréa Flores.

Performance Musical: Leoci Medeiros.

Direção Musical: Leoci Medeiros e Thales Branche.

Direção vocal: Thales Branche.

Preparação vocal: Tainá Coroa.

Trilha Original: Thales Branche, Andréa Flores e Leoci Medeiros.

Iluminação: Vandiléia Foro e Coletivas Xoxós.

Ambientação Cenográfica e Figurino: Coletivas Xoxós.

Fotografia e Design gráfico: Danielle Cascaes.

Assessoria de Imprensa: Lucas Del Corrêa.

Gerenciamento de Mídia: Lucas Del Corrêa e Yasmin Seraphico.

Direção de Palco: Roberta Flores e Leoci Medeiros.

Produção Audiovisual: Grazi Ribeiro.

Direção Audiovisual: Alexandre Baena.

Encenação e Direção cênica: Wlad Lima.

Residência Artística: Teatro do Desassossego.

Realização: Multi Amazônia Brasil Produtora e Coletivas Xoxós.

Por Lucas Del Corrêa.

Uma parceria promovida pelo Centro de Referência em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (CERPICS), da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), junto às Universidades de Pernambuco (UPE) e Campina Grande (UFCG) lançou o curso de extensão 'Saberes Ancestrais e Práticas de Cura', que aborda saberes de povos tradicionais e práticas de cura. As inscrições estão abertas até esta quarta-feira (17).

Segundo o calendário das instituições, as aulas serão realizadas de 17 de março a 9 de junho, com transmissão pelo YouTube, sempre às quartas-feiras, das 16h às 18h. Os participantes receberão a certificação de 60 horas de atividades, divididas entre aulas síncronas e assíncronas.

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A inscrição é realizada por meio de formulário único on-line e só poderão participar do curso aqueles com o registro confirmado. Até o momento, a qualificação, que é aberta aos interessados de todo o País, contabiliza cerca de 19 mil pessoas inscritas, de acordo com a coordenação do Cerpics.

Esta é a primeira etapa do curso que, em sua carga horária completa, tem duração até o dia 27 de outubro. A segunda etapa tem previsão de início no mês de julho de 2021.

As aulas serão ministradas por líderes indígenas e de povos de terreiro, em alinhamento à necessidade de descolonização do conhecimento acadêmico e à aproximação dos saberes e práticas da medicina das florestas e dos terreiros. Os encontros do curso serão quinzenais e têm início com uma aula sobre “Práticas Indígenas de Produção de Cuidado”, ministrada pelo líder indígena, filósofo e militante dos direitos indígenas Ailton Krenak

O curso também terá aulas sobre temas como “Saúde e Interculturalidade”, que serão ministradas pela médica da Nação Quíchuas da Bolívia Vivian Camacho; e “Medicina Ancestral Indígena”, a ser abordado em aulas com o pensador e militante da luta pela demarcação de terras Álvaro Tukano; o doutor em Antropologia Social e líder indígena João Paulo Tukano; a diretora do Instituto Maracá, Cristine Takuá; e o presidente do Instituto Guarani da Mata Atlântica (Iguama), Carlos Papá, considerado um dos primeiros cineastas guarani mbya do estado de São Paulo.

Além disso, as aulas se encerram com o tema “Cuidado indígena: a força comunitária na prática de cura de cada indivíduo”, sob comando do pesquisador sobre Saúde Coletiva e formador em terapias indígenas Ubiraci Pataxó.

Com 12 encontros distribuídos em atividades on-line e presenciais em ambiente aberto, o curso ‘Dramaturgia dos Orixás' iniciará sua programação nesta segunda-feira (5), sob a condução da atriz, figurinista, diretora teatral e pesquisadora Agrinez Melo. A qualificação contará com aulas às segundas e quartas-feiras, das 19h às 20h30, até 18 de novembro.

O curso nasceu de uma pesquisa de Agrinez sobre a Orixá Oxum e seu imaginário, realizada em 2008 no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Na pesquisa, a matriz ancestral mãe, aliada ao movimento das águas, conduz as ações corporais. Essa pesquisa foi ampliada para outros Orixás, dessa vez em conjunto com o grupo ‘O Poste’ na pesquisa ‘O Corpo Ancestral Dentro da Cena Contemporânea’, em equivalência ao método de trabalho que o grupo já desenvolvia, criando possibilidades de interpretação cênica”, informou o release de divulgação do evento.

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A proposta da qualificação é fazer um resgate de um texto corporal muitas vezes “escondido” ou até mesmo desconhecido. “Com as práticas, fui sentindo necessidade de encontrar outros pontos mais ligados ao imaginário dos Orixás e, na necessidade de ampliar os estudos e formar um imaginário ancestral que mais se aproximasse dos participantes, fui pesquisar outros Orixás como Oxumaré que pertence a nação Jêjê, além de entidades da mata e algumas entidades de rua, chegando às pombas-giras”, explicou Agrinez.

Na programação do curso, serão realizadas oito aulas on-line, duas presenciais em área aberta e em contato com a natureza, além de dois encontros para ensaio e apresentação de performance. Atores, bailarinos, contadores de histórias, estudiosos, pesquisadores da matriz africana ou interessados em se aprofundar em um teatro ritualístico podem participar da capacitação.

Segundo Agrinez, o curso contará com atividades teóricas e práticas. “Percebendo que a necessidade do resgate da matriz ancestral para a escrita desse texto do corpo vai além da dramaturgia, resolvi incluir neste módulo um aprofundamento das práticas que se dará a partir do Owo Ti Ara Agbara (palavras em yorubá que significa texto do Corpo Ancestral), onde a imersão será através das influências míticas dos Orixás e seu paralelo com o mundo contemporâneo e que nesse momento se encontra doente. Uma pesquisa extensa, mas que possibilita ativação de consciência da tríade, mente, espiritualidade e corpo. As aulas terão uma abordagem prática, com inserções teóricas. Estão sendo ofertadas 10 vagas”, destacou.

Com consultoria da professora doutora Doutora Danielle Perin Rocha Pita, o curso conta com diversos locais de pesquisa: Terreiro de Mãe Amara, Ilê Obá Aganjú Okoloyá , orientados por Maria Helena Sampaio e Helayne Sampaio; Terreiro Cabocla Genoveva, orientado por Pai Caê; Terreiro Abassá de Oxum , orientado por de Mãe Danda.

O investimento custa R$ 80, que podem ser pagos por meio de transferência bancária, cartão de crédito, débito ou boleto. Outros detalhes informativos podem ser obtidos pelo e-mail agrinez@gmail.com ou pelo telefone (081) 99505-4201.

Contam os mais antigos, e alguns pesquisadores que se debruçaram sob o tema, que no início do século 20, quando a prática do candomblé era proibida no Brasil, diversos terreiros se refugiavam dentro de nações de maracatu de baque virado para se livrarem da repressão e continuarem existindo. Mesmo antes disso, os maracatus já serviam como instrumento para que a população negra pudesse louvar seus deuses sob a desculpa de estarem celebrando uma festa ao toque dos tambores.

A ligação do maracatu de baque virado com a religião de matriz africana existe desde a origem do brinquedo e se estreitou ao longo dos séculos. A manifestação cultural, reconhecida como Patrimônio Imaterial do Brasil, nascida em Pernambuco, atravessou gerações e, apesar de ter se moldado aos tempos modernos e se adaptado a inúmeras circunstâncias, mantém firmes seus fundamentos e tradições, sobretudo os religiosas. 

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Sendo assim, tocar maracatu pode significar algo muito maior do que apenas bater tambor. É o que garante Jobson José, de 22 anos. Ele toca há 10 anos e, há três, tornou-se integrante da Nação Aurora Africana, sediada em Jaboatão. Foi aí que tudo mudou. O jovem que havia conhecido o batuque através da igreja evangélica que frequentava aprendeu os fundamentos da nova casa e acabou se rendendo ao candomblé. "Saí da igreja e fui para a religião de matriz africana", diz ele. 

Jobson conta que no grupo percussivo que integrou na igreja, ele ouvia muitas críticas em relação à religiosidade nos maracatus nação e que quando chegou ao Aurora Africana um novo mundo se abriu para ele: "Foi um choque de realidade, eles me ensinaram lá que essas coisas eram malignas, quando cheguei aqui era totalmente diferente. O meio espiritual era outro, não tinha nada a ver com o que eles pregavam lá. Eu me identifiquei com isso, foi quando eu entrei pra religião, eu senti essa necessidade, quis agregar as duas coisas e abracei de coração os dois", conta. 

Hoje, Jobson ocupa um lugar importante dentro da nação. Ele é um dos responsáveis pelo 'bombo mestre', tambores maiores que têm o objetivo de guiar todo o batuque. Pelo tamanho de sua responsabilidade, esse batuqueiro precisa estar atento a alguns fundamentos religiosos que envolvem obrigações, tudo seguido à risca. "Faço resguardo total (antes de tocar), peço força ao meu Orixá primeiramente, e às calungas (bonecas que detém a ancestralidade da nação). Essas são minhas duas forças, além de Deus", garante.

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Depois de conhecer e entrar para a religião de matriz africana, o batuqueiro garante: sua relação com o maracatu mudou. Tocar tambor e levar o baque de sua nação adiante ganhou novo significado e isso repercutiu, inclusive, em sua vida pessoal: "A sensação é outra, a vibração é outra. A espiritualidade é mais forte, na hora de tocar, a concentração muda. Parece que você entra em um estado inexplicável. Lá (na igreja) eu tocava como se fosse por esporte, só por tocar. Agora o envolvimento é maior. Sinto que o meu espírito está mais próximo do tambor. Sinto que estou tocando para o orixá, não pra qualquer pessoa. É para alguém do outro lado, não só pra mim". 

Outro batuqueiro que passou por essa experiência é Josivaldo Romão, de 32 anos. Participando do maracatu nação há 15 anos, hoje ele integra a centenária Estrela Brilhante de Igarassu, Patrimônio Vivo do Estado. O jovem conta que após começar a tocar, sentiu a necessidade de buscar mais conhecimento e essa busca o levou às religiões de matriz africana e indígena, a Jurema: "(Foi) para aprender mais e mais sobre a grandeza dos elementos e a força contida dentro da ciência sagrada, para ser completo e conhecer todo o fundamento", explica.

Romão afirma nutrir grande respeito às "crenças que o rodeiam", e que a religiosidade mudou seu modo de ver o brinquedo e a própria vida: "a religião me abriu os olhos para o sagrado que o maracatu leva consigo, por ser um culto de egun (espíritos) que por muito tempo eu desconheci".

Já Ricardo Rocha, de 40 anos e batuqueiro desde os 15, entrar para a religião de matriz africana lhe deu o entendimento de coisas que aconteciam dentro da tradição que antes ele não tinha. Ele se descobriu no candomblé quando tocou na Nação do Maracatu Porto Rico. Lá, ele foi "suspenso", ou seja, designado como ogã (aquele que toca para os orixás) da casa, por Mãe Lêu, Oxum Pandá do terreiro, e desde então vem professando sua fé. 

Para o batuqueiro, hoje integrante da Nação Estrela Brilhante de Igarassu, além de entender melhor os fundamentos do maracatu de baque virado, ele tem em seu batuque um meio de comunicação com o sagrado: "Quando a gente toca, a gente faz um elo entre o profano e o religioso, o presente e o passado, quando a gente bate uma alfaia de maracatu a gente acorda quem tá dormindo, porque maracatu é uma música tocada para os eguns. Então, pra mim é uma coisa muito mágica, não é todo mundo que entende, tem gente que acha que tudo é ‘macumba’ mas não, cada coisa tem seu significado". 

Fundamentos

Fábio Sotero, presidente da Nação Aurora Africana, explica a ligação dos maracatus nação com a religião de matriz africana: "É devido aos antepassados. Quem fazia o maracatu eram as lideranças dos negros, que eram os babalorixás. Eles eram coroados como rei do Congo, depois passou a se evidenciar mais as rainhas, por isso que hoje temos tantas em destaque, começando a partir de Dona Santa (da Nação Elefante). Hoje temos outras figuras de extrema importância, como Mãe Nadja, do Leão da Campina, Marivalda do Estrela Brilhante do Recife, Elda, da Nação Porto Rico, são todas yalorixás e lideranças em seus maracatus".

O presidente afirma que as rainhas, bem como os reis, as damas de Paço (mulheres que carregam as calungas) e alguns batuqueiros, como os que levam o bombo mestre, são os responsáveis pelo bom andamento do cortejo e do batuque e, sendo assim, precisam estar atentos à sua religiosidade. "Essa é a pilastra que todo maracatu nação precisa ter para ser identificado como tal. Porque o maracatu em si é dos orixás. Quem rege isso é Dona Iansã e Xangô que é o dono de todos os maracatus. Mas cada um tem o seu orixá patrono. O Aurora é de Oxaguiã e de Xangô". 

Essas 'pilastras' precisam fazer algumas obrigações, como oferendas e resguardos de relações sexuais e bebida alcoólica antes de ‘ir pra rua’ e tocar. "A gente joga os búzios, eles (orixás) dizem o que precisa ser feito, e a gente dá esse conforto, faz essas oferendas pra essas lideranças. Graças a Deus a gente tem a compreensão deles e eles veem o que a gente pode fazer", explica Fábio.

Ele também deixa claro, que não é obrigatório ser da religião de matriz africana para integrar o maracatu nação. Aqueles que desejam fazer parte da brincadeira apenas para tocar e dançar, sem laços de fé e religiosidade, podem fazê-lo tranquilamente: "Não tem problema mesmo. No Aurora a gente abraça todo mundo, independente de religião, de gênero e de classe. Aqui todo mundo é tratado como igual, com ou sem religião. Mas a gente tem nossas pilastras, as pessoas ‘cabeça’ que colaboram para o maracatu ir pra rua". 

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Preconceito e intolerância

Hoje, em pleno 2019, as religiões de matriz africana já não enfrentam mais as proibições mencionadas no início desta matéria. No entanto, seus fiéis e adeptos continuam enfrentando a intolerância e o preconceito arraigados na sociedade em relação a essas tradições ancestrais. Os batuqueiros entrevistados pelo LeiaJá falaram a respeito do assunto. Josivaldo Romão conta que a vigilância precisa ser constante: “Estamos o tempo todo em luta contra a intolerância, sempre que vejo alguém que não tem a humanidade de buscar o conhecimento. Todos temos o sagrado”, afirma.

Jobson, que trocou a religião evangélica pelo candomblé, conta que precisa lidar com o preconceito dentro da própria casa, e que já chegou a ser chamado de "ovelha perdida". No entanto, o jovem não se abala e defende suas escolhas de cabeça firme: "Eu acredito que se você saiu de um canto que não estava se sentindo bem e agora está em um em que se sente bem, esse é o bom da vida. Se meu espírito está bem, então é porque estou bem com Deus e com os orixás. Depois que conheci os orixás a minha vida mudou. Meu espírito evoluiu, na minha cabeça houve uma evolução". 

Situação parecida enfrentou Ricardo, filho de mãe extremamente católica, ele precisou travar alguns embates com ela após entrar para o candomblé e o maracatu. Mas, o batuqueiro também não se intimida e procura entender a origem do preconceito: “É assim mesmo, quando a gente não conhece uma coisa, a gente sempre tem medo, fica receoso, porque o desconhecido faz com que você fique com medo. Mas quando você conhece, você percebe que não tem nada a ver”. 

Imagens

Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Reprodução/Facebook Josivaldo Romão

Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

O Museu do Estado de Pernambuco, localizado na Zona do Norte do Recife, recebe nesta terça-feira (23), o lançamento da exposição ‘Agô’, da fotógrafa Roberta Guimarães. A mostra fica disponível para visitação até o dia 2 de junho e exalta os terreiros de candomblé de Pernambuco.

Com 40 imagens, o trabalho é fruto de três anos de pesquisa realizada por Roberta em 14 terreiros de xangô do Estado. O trabalho também resultou no livro “O Sagrado, a pessoa e o orixá”, lançado em 2013. Nos registos, são mostrados particularidades dos rituais, respeitando a tradição e a religiosidade. “O xangô faz parte da nossa identidade, da nossa cultura, e nos ensina sobre amor, afeto e tolerância”, diz Roberta.

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A exposição contará com áudiodescrição para as fotos expostas, com libras e legendas, além de visitas guiadas direcionadas a pessoas com deficiência visual e auditiva. A entrada na abertura da exposição é gratuita. Nos outros dias, a entrada é o valor de acesso do museu: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia).

Serviço

Exposição 'Agô'

Terça a sexta | 9h às 17h; Sábados e domingos | 14h às 17h

 Museu do Estado de Pernambuco (Av. Rui Barbosa, 960 - Graças, Recife) 

R$ 6 e R$ 3 (meia)

Até meados do século 20, capoeira era assunto de polícia. Os praticantes eram perseguidos, presos, tidos como marginais e precisavam praticá-la escondidos, em virtude de sua proibição. Hoje, a capoeira é reconhecida como símbolo identitário da cultura afrobrasileira, tendo sido, inclusive, tombada como Patrimônio Imaterial da Humanidade, pela Unesco.

Com o passar dos séculos, a capoeira subdividiu-se em alguns estilos. Os principais são a Angola e a Regional e, agora, um ‘novo’ tipo de capoeira, a gospel, vem ganhando espaço e adeptos entre os fiéis da religião evangélica. Sendo usada como instrumento de evangelização, a Capoeira de Cristo tem dividido opiniões entre os capoeiristas mais tradicionais que alegam uma apropriação cultural das tradições de matriz africana.

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‘Capoeira, ora por mim’

"Salve, capoeira! A paz do Senhor". Assim se cumprimentam os capoeiristas antes da roda começar. Atabaques, pandeiros e berimbaus entoam o que parece ser uma 'ladainha' mas, na verdade, o que se ouve é um louvor cristão. O grupo Capoeiristas de Cristo, da cidade de Olinda, trabalha há 18 anos usando a capoeira como instrumento de evangelização. Eles garantem praticar a mesma capoeira feita em qualquer outro lugar, sem mudar suas tradições.

Pastor Jorge Santana, o Mestre Papa-Légua, é o responsável pelo grupo pioneiro no Estado. Praticante há 32 anos, convertido há 18, ele explica o que é a Capoeira Gospel: “Nós não somos mais capoeiristas. Eu sou um pescador, e a capoeira é a isca para atrair os jovens.” O mestre garante ensinar a mesma capoeira praticada em qualquer outro lugar, mas com algumas adaptações.

As músicas não podem mencionar algo que remeta ao candomblé, e a graduação dos alunos é feita a dois níveis: espiritual - o praticante precisa aprender alguns versículos da Bíblia para passar de nível - e o físico. Papa-Légua afirma que, além do cuidado com o corpo, através do esporte, a busca, em seu grupo, é pelo “cuidado com o humano”, afastando os jovens das ruas e das drogas.

Sobre as acusações de apropriação cultural, o mestre é taxativo: “A capoeira não tem religião. A religiosidade existe em mim, não na capoeira”. Ele até menciona o célebre Mestre Bimba, ao dizer que: “Na Capoeira Regional, você vê que já não tem muito o místico. A capoeira contemporânea é mais esporte mesmo”. José Paulo da Silva, o Mestre Duvalle, capoeirista há 43 anos, endossa: “As pessoas colocam que a capoeira tem coisa com o Candomblé e a Umbanda, mas isso não tem nada a ver. Isso é muito arcaico, as pessoas deveriam primeiramente conhecer a arte e a cultura.”  Demonstrando não concordar com a discussão, o Mestre Papa-Légua é conclusivo: “Quem faz essa polêmica quer apenas uma pretensão para discutir, mas não vemos nisso uma problemática. Capoeira é capoeira, religião é religião.”

 

 ‘De Angola veio no navio negreiro’

"Para mim, a capoeira é um ritual. Desde a música, desde quando a gente está no salão treinando, na roda...". Quem fala é Eduardo Albuquerque, o contramestre Baygon. Ele é capoeirista angoleiro, professor na Escola de Capoeira Angola, localizada no centro do Recife, onde desenvolve o trabalho iniciado pelo Mestre Cláudio, do grupo Angoleiros do Sertão. Praticante desde 1988, Baygon se refere à capoeira com reverência: "Para mim é uma filosofia de vida. Ela me faz viver mais, me faz ser feliz. Eu vivo capoeira".

O contramestre garante não ser contra o movimento da capoeira gospel, mas afirma que a ancestralidade tem um valor que não pode ser ignorado: "A gente vem de matrizes africanas. Eu não vou esquecer de onde eu vim, eu tenho que levantar minha cabeça e dizer: 'eu sou angoleiro'. Eu prezo pela raiz".

Sobre as adaptações feitas para a prática no meio gospel - como mudanças em alguns fundamentos e músicas - o capoeirista se posiciona: "A capoeira não pode perder sua musicalidade tradicional. Cada canto tem um significado, a música da capoeira é muito forte no jogo". O professor também comenta sobre o uso de cordas que indicam a graduação do aluno e que são recebidas no 'batismo' da capoeira regional, termo refutado entre alguns praticantes evangélicos: "A corda representa as cores dos orixás, então, como é que vão mudar isso?".

Já para 'Speedy Gonzales', o capoeirista Eudes Marques, aluno da escola de Baygon, o uso da capoeira em outros contextos é algo natural: "É muito difícil manter a tradição da capoeira em um mundo moderno como o de hoje. É uma tradição muito antiga e vai se renovando com o tempo". Para ele, o importante mesmo é manter a prática: "Sempre é a capoeira na frente, não importa se é regional, se é gospel ou angola". 

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