Tópicos | apr 2019

Em 1989, a banda de Ratos de Porão (RDP) lançava o quarto álbum da carreira, 'Brasil'. O disco chegava como precursor no meio do punk - por misturar o estilo mais cru com o heavy metal - e com letras contundentes que denunciavam problemas sociais e econômicos do país que lhe dera título. Com esse trabalho, os integrantes do RDP entrariam para a história da música nacional.

Agora, em 2019, a banda decidiu celebrar os 30 anos de 'Brasil'. A comemoração vai relembrar a realização de um clássico que espantosamente - ou não - mostrou-se mais atual do que nunca, diante do momento pelo qual o país tenta atravessar. Neste sábado (20), o grupo sobe ao palco do festival Abril pro Rock para tocar na íntegra o disco que há três décadas vem denunciando as adversidades nacionais. As mesmas. Em entrevista exclusiva ao LeiaJá, João Gordo falou sobre a celebração e sobre o que ele espera de 'Brasil', e do país,  para os próximos anos.

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LJ -  O RDP é quase uma 'prata da casa' no Abril pro Rock, não é? Como é vir tocar aqui?

João Gordo - A gente já tocou umas três ou quatro vezes no Abril, eu acho. Eu adoro tocar aí. A gente já toca no Recife há muitos anos, é sempre uma festa, encontramos vários amigos. Gosto muito de Pernambuco.

LJ - Vocês estão trazendo o show comemorativo de 'Brasil', que se mostrou tão atual mesmo tendo 30 anos. Vocês ficam mais felizes em terem feito um clássico ou mais tristes ao perceber que os problemas do país continuam os mesmos?

João Gordo - (Esse disco) tem vários clássicos, tem umas letras mais descompromissadas, mas tem letras que são muito atuais. É até meio sinistro, tipo Face Nacionalista, Retrocesso, S.O.S País Falido, Terra do Carnaval, Máquina Militar, são letras que parecem que foram feitas ontem e tem músicas que fazem mais sentido hoje do que naquela época, isso aí é até assustador.

LJ - Você acha que o público, a 'molecada', reage à música desse disco de maneira diferente da 'molecada' de 30 anos atrás?

João Gordo - Hoje eles pegam a música de um jeito diferente, no YouTube ou no Spotify, ela fica eterna e mais acessível então eles não se interessam tanto, a música ficou mais descartável. Antes era mais difícil. Mas quando o cara vira fã da banda e tenta ver a letra, ele se interessa. O que mais tem nesse mundo é fã de Ratos que não sabe o que a gente canta, que não sabe que eu não sou 'bolsominion', os caras gostam mas não sabem nem o que eu tô falando, não sabem da minha história nem nada, é muita desinformação, muita ignorância.

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LJ - Há 30 anos, você e seus colegas de banda eram garotos de 20 e poucos anos. O que mudou, na visão de vocês, a respeito desses temas de 'Brasil'?

João Gordo - Cada momento é um momento, essa música reflete a época e tem música que reflete a minha condição mental da época. Eu estou com 55 anos, então há um amadurecimento. Você pega os discos e há letras sensacionais e letras ingênuas, mas a métrica é a mesma. A gente vai começar a fazer um material novo agora, a gente tem muita coisa.

LJ - Diante dessa onda de conservadorismo misturada com uma censura meio velada que o país enfrenta, você acha que reviver esse álbum pode trazer algum problema para vocês?

João Gordo - É diferente hoje, é tudo muito aberto, tudo em tempo real, todo mundo com celular na mão, então acho que não vai haver esses bagulho de ser preso, ter sumiço, ser torturado ou ser expulso do país, o perigo é ser assassinado.

LJ - Você acredita que 'Brasil' um dia vai ser só a lembrança de tempos sombrios e o país vai ter um cenário melhor?

João Gordo - Não vai melhorar nunca, vai sempre piorar, só vai piorar e com um rastro de sangue. Como o brasileiro é bunda mole, nunca vai melhorar, vai ser sempre a elite branca dominando e enganado os burros, por isso que os caras querem escola sem partido, essa palhaçada, é pra deixar o povo no cabresto. Vai demorar bastante pra acontecer alguma coisa, não tenho esperança de nada. Eu vou morrer e vai continuar tudo a mesma merda.

Na próxima quinta (18), o Abril pro Rock promove um debate sobre ativismo, arte e feminismo. Participam da mesa Jamille Pinheiro Dias, tradutora do livro Um Guia Pussy Riot para o Ativismo; e a arquiteta Mônica Benício, ativista de Direitos Humanos e companheira da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em março de 2018. A conversa acontece às 15h, no auditório do Cais do Sertão.

O debate pretende somar ao line-up da 'Noite das Minas', na sexta (19), que vai reunir bandas como Pussy Riot, Letrux, Sinta a Liga Crew e Arrete, na 27ª edição do festival. O objetivo é reforçar o protagonismo feminino na sociedade atual.

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Ainda participam do debate a jornalista e produtora Lenne Ferreira; a co-fundadora do Mete a Colher, Renata Albertim; e de Mãe Beth de Oxum. Além disso, a poetisa Isabelly Moreira e a MC Lillo fazem uma performance para o público. A entrada é gratuita.

Serviço

Debate sobre ativismo, arte e feminismo - APR 2019

Quinta (18)  | 15h

Cais do Sertão (Bairro do Recife)

Gratuito

 

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