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A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) usou suas redes sociais, nesta terça-feira (5), para rebater as críticas sobre uma declaração na qual ela comparou um filho autista a um problema. A fala, acusada de capacitista, foi feita por Michelle em um evento do PL Mulher.

“Agradeço a deus todos os dias, porque eu não precisei passar por nenhum problema, Adriana. Eu não tenho filho autista como você tem. Eu não fui abusada sexualmente”, disse Michelle no evento.

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Em um vídeo de quase três minutos, a ex-primeira-dama afirmou que “sempre teve carinho por pessoas com deficiência” e que seus opositores estão tentando “assassinar” a sua reputação.

“Por mais que tentem esconder, deturpar ou “assassinar” a verdade, ela sempre virá à tona! Não permitiremos que ciúmes, inveja ou interesses políticos escusos atrapalhem o nosso trabalho ou tentem manchar a nossa história de amor e dedicação às pessoas com deficiências, autistas, surdos, pessoas com doença raras e por todas as pessoas vulneráveis do nosso país”, escreveu em sua conta no Instagram.

O Instituto do Autismo (IDA) marcará presença na Corrida dos Morros, evento esportivo de rua que acontece no próximo sábado (25), às 7h, com partida/e chegada no Morro da Conceição, no Recife. Em movimento social de conscientização sobre os benefícios do exercício físico no desenvolvimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o IDA aportou o credenciamento de 100 crianças e adolescentes, que participarão do percurso estruturado de forma gratuita, e disponibilizará de translado especialmente para as famílias inscritas.

Com largada exclusiva, o percurso inclusivo terá trajeto de 300m. Na ocasião, a garotada fará o circuito em torno da Praça da Conceição, tendo como ponto de chegada o pórtico do evento. Coordenado pelo time do Instituto do Autismo, a programação contará com a presença de especialista que atuarão no suporte às famílias. Entre eles, terapeutas ocupacionais, aplicadores aba e psicomotricistas.

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“A etapa inclusiva da corrida será uma incrível vivência esportiva e de interação social para as famílias. Uma oportunidade ímpar de conscientização sobre os imensos ganhos que as pessoas autistas têm na prática regular da atividade física. Por isso, nossa satisfação não só por apoiarmos o evento, mas principalmente por aportarmos 100 inscrições para a garotada”, pontua Kadu Lins, diretor geral do Instituto do Autismo.

No dia do evento, as crianças e os adolescentes estarão acompanhados por seus respectivos responsáveis, que os acompanharão no percurso, juntamente com o time do IDA.

SERVIÇO Corrida Instituto do Autismo, na Corrida dos Morros

Data: 25 de novembro de 2023.

Horário: 7h (largada), 6h30 (concentração).

Local: Praça da Conceição, Morro da Conceição, Recife-PE.

Inscrição em lista de espera: Instagram @institutodoautismo.

OBS1: necessária a apresentação do laudo médico no ato da inscrição.

OBS2: inscrições limitadas, 100 vagas (com laudo médico).

Da assessoria 

 

Um policial militar que, também é professor temporário, é acusado de ter quebrado o braço de um adolescente autista no Centro de Ensino Especial 1 do Guará, no Distrito Federal. A agressão, que aconteceu na última terça-feira (7), fez com que o estudante precisasse ser levado ao Hospital de Base, para ser submetido a uma cirurgia para colocação de pinos de titânio.

O agente, identificado como Renato Caldas Paranã, de 41 anos, começou a ensinar na unidade de ensino em agosto, segundo o Portal da Transparência do Governo do Distrito Federal. De acordo com o portal Metrópoles, o terceiro-sargento da Polícia Militar estava na função para substituir uma professora de informática, que está afastada.

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No Boletim de Ocorrência, a mãe do adolescente informou que, no dia da violência, o menino estaria agitado e, mesmo com a proibição da vice-diretora, o professor-militar se aproximou dele e o segurou “com muita força pelos braços”. Em relato para a Polícia, a vice-diretora confirmou a versão da mãe. Além disso, a gestora disse que ao sair para pedir auxílio a uma psicóloga, ela ouviu um “grito muito alto”, que a fez voltar e encontrar o adolescente caído ao chão, com o braço quebrado.

Em nota, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) informou que o professor foi afastado e revelou como a escola procedeu ao caso. “Por meio da Coordenação Regional de Ensino do Guará, a direção realizou o primeiro acolhimento [do aluno] e, imediatamente, o Corpo de Bombeiros foi acionado, o qual prestou os primeiros atendimentos ao estudante. Em seguida, ele foi encaminhado para o hospital, acompanhado pela diretora, por uma professora e pela avó”.

A Polícia Militar do Distrito Federal considerou o caso um “acidente” e informou, através de uma nota, que a situação “ocorreu após o professor, concursado da Secretaria de Educação do Distrito Federal, ter sido chamado para ajudar na contenção de um aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível 3 não verbal”.

“[O estudante] estava em crise nervosa, agredindo outros alunos e funcionários. Durante o atendimento, ele teve uma segunda crise nervosa, desequilibrou-se e caiu. Antes da queda, o professor tentava acalmá-lo e, por isso, segurava o braço dele, visando impedir que se machucasse ou ferisse outro aluno. A lesão teria ocorrido nesse contexto. O professor, de imediato, realizou os primeiros-socorros e solicitou apoio do Corpo de Bombeiros Militar”, comunicou a PMDF.

O caso está sendo investigado pela 4ª Delegacia de Polícia da cidade onde aconteceu a violência física.

As Comissões de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular e de Educação e Cultura da Alepe aprovaram, por unanimidade, em reuniões realizadas na manhã desta quarta-feira (1), o envio de uma representação coletiva ao Ministério Público de Pernambuco para que se apure o caso da vereadora do Município de Arcoverde, Zirleide Monteiro. A parlamentar proferiu um discurso capacitista em uma solenidade da Câmara dos Vereadores, onde afirmou que uma mulher teria um filho com deficiência por “castigo de Deus”.

Além do MPPE, a Câmara Municipal também foi acionada, com o pedido de abertura de apuração dos fatos pela presidência e acionamento do Conselho de Ética da Casa. De acordo com a presidenta da CCDHPP, Dani Portela (PSOL), falas como essas não podem ser proferidas, nem toleradas na sociedade.

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“A Casa Legislativa Municipal é um espaço onde os representantes do povo precisam tratar de temas sérios e relevantes. Não é possível que a tribuna da Casa seja utilizada para propagação de uma fala criminosa”, explica. O capacitismo, que é o preconceito contra pessoas com deficiência, é tipificado como crime na Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146 de 2015), em seu artigo 88, com pena de 1 a 3 anos de reclusão.

O presidente da Comissão de Educação e Cultura, Waldemar Borges (PSB), também reforçou a importância da ação da Assembleia Legislativa neste caso. “O nosso repúdio à fala absurda da vereadora vai expresso em forma de uma ação concreta. É preciso deixar destacada a gravidade da fala em um espaço oficial, por uma representante do povo. Isso não pode mais acontecer”, finalizou.

A deputada Rosa Amorim (PT); e os deputados João Paulo (PT), Luciano Duque (Solidariedade), William Brígido (Republicanos) e Renato Antunes (PL) participaram das reuniões e aprovaram a ação por unanimidade.

*Da assessoria 

A Escola Municipal Hercília Moreira, em Salvador, Bahia, recebe a exposição Meu Jeito de Ver o Mundo feita pelo jovem de 10 anos, Gabriel Arcanjo. O artista mirim, que tem transtorno do espectro autista (TEA), apresenta seus desenhos de animais exóticos de todo o mundo na escola.

A exposição começou nesta segunda-feira (25) e conta com diversos trabalhos que utilizam lápis de cera coloridos, formas inusitadas e muita criatividade. Arcanjo também informa os visitantes com curiosidades sobre os animais apresentados. Os interessados podem visitar a mostra durante esta semana na Escola Municipal Hercília Moreira.

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O artista mirim recebeu a sua turma para apresentar seu trabalho, com animais diferentes como macaco-aranha, ornitorrinco e o falcão-peregrino, um dos seus animais favoritos. Gabriel levou uma semana para selecionar os desenhos que seriam expostos, mas o trabalho é acumulado de anos de interesse pelos animais.

Ao todo, são 30 obras apresentadas ao público, mas seu acervo pessoal possui ainda mais desenhos. Seu interesse pela natureza e pelos animais foi o que motivou o estudante a criar sua própria exposição: “Se estamos fazendo mal ao meio ambiente, fazemos mal a nós mesmos. Por isso, desenho os animais, porque devemos cuidar deles”, explica o jovem.

Sua colega de turma do 5º ano, Lara Raphaele Melo, de 11 anos, gostou da apresentação: “Ele não desenha só animais. Gabriel desenha as pessoas, ele mesmo, desenhos que ele assiste, tudo. Ele sempre foi uma pessoa muito legal, gosta bastante de agradar a gente dando os desenhos dele. Ele é corajoso e por isso eu queria parabenizar ele. Espero que lá na frente eu o encontre e ele seja um grande artista”, afirmou.

A mostra contou ainda com a presença da bisavó do estudante, Anete Maria Costa, que se emocionou ao ver os desenhos de seu bisneto expostos: “Achei muito interessante e muito bonita essa exposição, porque ele gosta muito de desenhar. O que ele vê ele quer desenhar. Gostei mais ainda porque a escola abraçou esse sonho e deu a oportunidade a ele de mostrar o que ele ama fazer. Foi iniciativa dele pedir ao diretor para fazer essa exposição e eu estou muito orgulhosa”, declarou.

O Transtorno Espectro Autista (TEA) alcança 1 a cada 36 crianças brasileiras aos 8 anos de idade, segundo dados do Monitoramento de Autismo e Deficiências do Desenvolvimento, do Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC), publicado em março de 2023. Apesar do número significativo, a inclusão destes jovens na educação, por muito tempo, não foi uma prioridade. 

“Eu tive muito pouco apoio da escola porque a escola não sabia o que ele tinha. Ninguém notava, só eu notava dentro de casa”, é o que relata Silvia Valéria Vidal, de 54 anos, auxiliar de laboratório e mãe de uma pessoa autista.

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Gabriel José Vidal Salgueiro, desde muito novo, demonstrou alguns sinais característicos do TEA, como a seletividade alimentar, dificuldade para interagir socialmente e desafios para se comunicar. Silvia conta que, apesar de notar essas atitudes, o único laudo que teve de seu filho até os seus 18 anos foi de TDAH, Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade.

“No maternal, a professora começou a me sinalizar o fato dele não socializar. (...) Acho que até o sexto ano, ele estudou em escola particular e não tinha apoio, entendeu? A alfabetização, ele teve que repetir de ano. Eu fiz questão que ele repetisse porque eu achei que era só dificuldade de escolaridade. E ele não tinha apoio em sala de aula, muitas vezes ficava isolado”, relembra a mãe.

Silvia Vidal e seu filho, Gabriel Vidal. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá.

Hoje, com 23 anos, Gabriel completou todo o ensino médio mas ainda não consegue ler. Silvia explica que ele consegue reconhecer algumas palavras por memória fotográfica, então memorizava algumas delas. Gabriel conhece as letras e consegue transcrever todas, mas não consegue ler os sons delas juntas.

“A escola nunca esteve preparada, nunca. A que ele fez particular, eles colocaram uma estagiária sem preparo nenhum para ensinar ele, ele não se identificou com ela. Era a maior dificuldade para ele ir para escola, ele não queria. Quando ele fez o segundo grau, tinha um acompanhamento à tarde, que a professora nunca ia”, destaca Silvia.

Silvia Vidal explica que, mesmo com 23 anos, Gabriel é como uma criança de 8. Para ela, é como viver com uma criança crescida dentro de casa, que precisa de acompanhamentos, de atenção e de coleguinhas para se divertir. Silvia se sustenta com um emprego, enquanto luta para conseguir clínicas que atendem autistas adultos para levar seu filho.

Silvia Vidal e seus filhos Gabriel e Clara. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá.

“Não foi fácil não, viu? Quando eu descobri (o autismo), eu não romantizei. Eu não tive tempo de pensar em nada, eu tinha que agir e eu tinha que correr atrás do desenvolvimento dele. Tudo isso eu fiz sozinha, porque eu nunca tive o apoio do pai. Minha luta, hoje em dia, é procurar tratamento para ele. Ele precisa de fono, precisa ocupar o tempo dele, porque não tá mais indo para escola, precisa de coleguinhas para brincar”, reforça a entrevistada.

Diagnosticado aos 18 anos, o psicólogo acredita que Gabriel possui grau 3 de TEA. A mãe de Gabriel destaca que o preparo das escolas era diferente de antigamente e, quando encontra uma mãe de um autista jovem, tenta aconselhar para que o cuidado com ele não seja tão desafiador quanto o que Silvia e seu filho tiveram juntos.

“Hoje em dia, a gente tem mais profissionais, tem pessoas capacitadas para identificar. Mas na época que eu corria nas clínicas com ele, eu não via esse preparo todo, entendeu? Eu não via. Então, eu não sei se por causa do tempo, o diagnóstico dele foi tardio, talvez eu pudesse ter mais sucesso com ele, mesmo com todas as minhas dificuldades”, declarou a auxiliar de laboratório.

Os avanços da aprendizagem inclusiva

Sandra Lúcia Araújo Pimentel é mãe de Miguel Pimentel da Silva, com 9 anos atualmente, Miguel foi diagnosticado com autismo com entre os 6 e 7 anos de idade. Apesar do laudo considerado cedo, Sandra passou anos acreditando que o único diagnóstico do seu filho era apraxia da fala (AFI).

Sandra Lúcia Araújo, mãe de Miguel Araújo. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

Miguel passou cinco anos sem conseguir falar e, quando começou, teve dificuldades na pronúncia de algumas letras. Essa também é uma característica do Transtorno Espectro Autista (TEA), mas Sandra não tinha conhecimento sobre estas particularidades. Foi quando decidiu colocar seu filho em uma nova escola, na Escola Municipal Severina Lira, no Recife, Pernambuco

Severina Lira possui uma prática de ensino inclusivo, com três professoras dedicadas ao Atendimento Educacional Especializado – (AEE). Este preparo ajuda mães como Sandra a conhecer seu filho e incluir ele para aprender com outras crianças.

Janira Oliveira é uma destas professoras do ensino inclusivo e trabalha nas AEEs, nas salas de Recursos Multifuncionais. Especialista em educação especial, Janira explica que o trabalho pedagógico do professor do AEE é feito no período de contraturno com crianças com algum tipo de deficiência ou transtorno. 

"Nós fazemos um trabalho de reforço, algumas estratégias que facilite a comunicação e a aprendizagem dela para que ajude o trabalho do professor na sala de aula comum. A gente sabe que as crianças, mesmo tendo transtornos iguais, eles têm formas de aprender diferenciadas", explica a professora.

Sandra lembra como as professoras da escola notaram rapidamente as características únicas de Miguel e indicou que ele visitasse um geneticista. Logo na primeira consulta, o médico diagnosticou Miguel com autismo com base no relatório das docentes.

"A professora atendeu ele, fez um relatório e me encaminhou para clínica, para o geneticista. Quando chegou lá, ele fechou logo: autismo. Até então, eu não sabia. (...) Foi quando eu consegui o diagnóstico dele, foi na primeira consulta. Quando ela leu o relatório, ela fechou na hora, e até então eu tava com esse menino sem saber o que ele tinha", conta a mãe.

Sandra Lúcia Araújo, mãe de Miguel Araújo. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

Antes deste diagnóstico, Sandra explica que não conhecia nada sobre o autismo e começou a estudar sobre, através de livros e de outras mães para entender mais do seu filho. Mas tudo isso, com a ajuda e apoio das professoras especiais da escola.

"O convívio na escola é uma riqueza para ele porque tá ensinando ele a viver sem preconceitos, a respeitar a diferença. Ele é diferente, o outro é diferente, o mundo é isso. (...) Hoje ele fala, com algumas dificuldades, mas fala pelos cotovelos", celebra a mãe.

Janira defende que a sala de recursos multifuncionais funciona por múltiplas razões. Além de um tempo a mais para socializar na escola, o espaço ajuda as crianças com deficiência ou algum transtorno a superar dificuldades que possam existir dentro da sala de aula comum e superar elas dentro do seu próprio desenvolvimento.

"Nós sempre estamos em contato com a professora da sala comum e sempre perguntamos qual a maior dificuldade que ela encontra para trabalhar com a criança, para que nós também possamos, na sala de recursos, dar esse apoio. (...) Muitas crianças que têm o Transtorno do Espectro Autista, elas têm dificuldade no aprendizado da leitura", detalha a docente.

Para atrair esses jovens, o trabalho da sala multifuncional mexe muito com atividades, brincadeiras e jogos lúdicos. Assim, conteúdos comuns podem tocar muito mais as crianças por ser uma linguagem natural da infância.

Janira Oliveira, professora e especialista em educação inclusiva. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

"Quanto mais você conscientiza, mais a coisa vai caminhando. Se você pensar em dez anos, não era como é hoje. O acesso que as crianças especiais têm hoje a tecnologia, a diversos recursos. Então se a gente olhar para trás um pouco, a gente vê que avançou, mas avançou pouco para a necessidade", afirma Janira.

A gerente de Educação Inclusiva do Recife, Adilsa Gomes, garante que trabalhos como este da Escola Severina Lira acontecem em todas as escolas da Rede Municipal. Além do trabalho das salas de recursos multifuncionais e do AEE, todos os professores passam por uma formação continuada para conhecer e aprender sobre a educação inclusiva.

"Muitas vezes as pessoas falam sobre inclusão, mas nós trazemos uma fala maior, uma fala mais ampla, que é a equidade. Que significa, dar oportunidade a todos, dentro das suas potencialidades, dentro das suas diferenças, mas também dentro das suas igualdades ", declarou Adilsa.

Outros projetos, além da formação dos professores, contam com o uso de tecnologia assistivas, como aplicativos de comunicação alternativa e aumentada que estão em tablets distribuídos para os alunos. Também é entregue um catálogo de jogos gratuitos que ajudam no desenvolvimento das crianças, disponíveis em ordem de faixa etária para que os pais possam baixar.

"Durante muito tempo o professor e a professora não sabiam trabalhar com as crianças com deficiência, porque a sua formação inicial não tinha esse olhar. Eu sou uma professor que, quando eu fiz magistério, quando eu fiz pedagogia, não tinha uma disciplina, nem um momento de reflexão sobre como trabalhar e como vivenciar as ações inclusivas", relembra a gestora.

Adilsa Gomes, gerente de Educação Inclusiva do Recife. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

Adilsa defende que a alfabetização está alinhada com o letramento e que é uma construção: "A alfabetização é uma construção que inicia na educação infantil e permanece por toda nossa vida porque a alfabetização é muito mais do que a gente ler textos, ler palavras, ler coletâneas. A alfabetização é quando a  gente consegue ler, conhecer, interpretar e fazer validar tudo que a gente aprendeu no mundo como um todo."

A gerente de Educação Inclusiva também é uma pessoa com autismo e descobriu de forma muito tardia. Foi só depois que ela se tornou professora, aos 33 anos de idade, que teve seu laudo fechado. Com sua experiência, Adilsa acredita que é preciso ter um olhar que todas as crianças conseguem e podem aprender, mas precisam de pessoas, profissionais e familiares, que estejam aptos a contribuir na educação destas crianças.

DTEA: Mais um avanço possível

O trabalho e o esforço para ajudar no desenvolvimento do ensino para crianças autistas também motivou Leticia Viegas Gomes, mestra em design na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a trabalhar e pesquisar sobre o assunto. 

Foi assim que a profissional desenvolveu o Dispositivo TEA (DTEA) focado em sistematizar o processo de alfabetização de forma lúdica e criativa para as crianças que possuem o Transtorno Espectro Autista. Leticia, que também é mãe, conta que a inspiração para esse projeto não veio de seu filho, mas sim de uma colega da escolinha dele:

"Eu tenho um filho de oito anos que, na época que eu comecei o projeto, ele tinha uma colega de classe que era uma aluna autista e a escola não estava sabendo muito bem ainda como lidar com essa nova educação, tinha sido a primeira aluna lá. E aí, calhou de estar próximo do projeto, eu pensei, como eu posso auxiliar essa criança e outras crianças também?"

Leticia Viegas Gomes, desenvolvedora do DTEA. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

Através da tecnologia e da curiosidade, Leticia começou a hipótese do seu projeto através de pesquisas de casos, de comunidades de pais e de crianças autistas. A ideia é criar um fluxo dinâmico que consiga se encaixar em diferentes perfis das diferentes crianças com TEA. 

Cerca de 50 crianças foram entrevistadas e estudadas para criar as proto-personas, os tipos de público que o projeto pode alcançar e como ele pode se encaixar em cada um deles. 

O projeto começa com a coleta de dados, em que os pais ou profissionais devem preencher um formulário com informações sobre aquela criança, em relação ao diagnóstico, se já é conhecido. Também é procurado saber o nível de alfabetização e aprendizado dessa criança, seguido pelas perguntas sobre os gostos pessoais e interesses individuais deles. 

"As crianças autistas possuem uma característica muito interessante que é o hiperfoco. Esse hiperfoco vai de acordo com temáticas diferentes, pode ser música, animação, números… Então a gente vai pegando essas características de hiperfoco para trabalhar as dificuldades dessa criança.", explica Leticia.

O ideal é que tenha um mediador responsável que tenha as informações sobre as capacidades atuais da criança e o dispositivo vai desenvolver atividades que possam ajudar a criança a se desenvolver para além do seu limite, sempre utilizando das habilidades e detalhes do foco e interesse individual da criança para chamar sua atenção aos exercícios. Pensando em como ele poderia ser utilizado em ambiente escolar, Leticia responde:

“Acredito que amplamente (o DTEA) dá para ser usado em escolas. Até de uma forma para a gente tirar um pouco a criança do padrão que a gente tem hoje em dia escolar, né? Eu vejo que a educação infantil, principalmente, ela é nesse sistema que a gente faz tudo igual para todo mundo. Só que cada criança tem um nível de atenção diferente, tem um nível de comprometimento diferente, tem hiperatividades diferentes, né?”, explica.

“Então dentro dessa dinâmica escolar, a gente consegue dar uma equalizada, sabe? A gente consegue medir a interação de cada criança, consegue medir a atenção dela e dar a ela o seu tempo de educação. Porque ela que vai estar jogando, ela que vai estar interagindo, ela que vai estar fazendo a dinâmica. Então acho que auxilia bastante, dentro do ambiente escolar, dar autonomia para a criança”, continua a jovem.

Leticia Viegas Gomes, desenvolvedora do DTEA. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

O sistema ainda é apenas teórico pois, segundo a criadora, não houve tempo e nem capital hábil para se tornar real. Apresentado em 2022, o projeto ainda tem chamado interesse de professores e pesquisadores que pensam em ampliar o projeto para autistas adultos também, por exemplo. A mestra em design ainda afirma que o projeto pode ser usado com crianças com outros tipos de transtornos também. 

“Eu tô em contato com alguns professores aqui da Universidade Federal que também querem desenvolver e amplificar para adultos autistas. Para a gente conseguir ver se alcança a alfabetização destes adultos. Então assim, é um projeto que está em andamento lentamente, mas ele ainda está sendo continuado”, declara a entrevistada. 

Quando perguntada sobre a importância do seu projeto, Leticia defende a capacidade de ensinar de forma divertida, lúdica e no tempo de aprendizado de cada criança. Tornando o estudo para estas crianças autistas mais autônomo e dinâmico.

“Eu acho que a gente dá autonomia para essas crianças, sabe? No autismo, a gente vê muita dependência. As crianças sempre acabam sendo dependentes por questão de comunicação, por questão de entendimento. Então a autonomia para elas é uma questão muito importante de ser desenvolvida, principalmente a autonomia na sua própria educação”, afirma.

“Muitos casos que eu vi dos pais foi que, por exemplo, que essa criança não conseguia pedir água, não conseguia pedir comida, não conseguia se comunicar. E a comunicação é o básico para o ser humano. Então você conseguir proporcionar isso para crianças que não estão conseguindo se desenvolver, que elas mesmas se sentem frustradas por não conseguir se comunicar. Isso é uma chave”, finaliza Leticia.

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Na próxima segunda-feira (31), pais e familiares de crianças em tratamento contínuo do autismo realizarão um ato, no Recife, contra o descredenciamento em clínicas credenciadas a planos de saúde e seguradoras de saúde. A mobilização acontecerá na Ilha do Leite, na área central da capital pernambucana e onde há um dos maiores complexos hospitalares do Nordeste. 

O objetivo é cobrar posicionamento e dissolução do descredenciamento em massa de clínicas multidisciplinares antes associadas à Unimed, neste mês de julho, afetando o tratamento de milhares de crianças e adolescentes no espectro autista. A mobilização começa às 15h30, na Avenida Lins Petit, em frente ao Centro Administrativo da Unimed. 

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Para preservar a saúde e sossego das pessoas hospitalizadas, a organização informou que o protesto será pacífico e silencioso. O grupo dará um abraço simbólico em volta ao prédio, com a proposta de sensibilizar a população e os administradores do plano para os prejuízos irreversíveis que a medida pode provocar. 

As famílias pedem a revogação do descredenciamento de cinco clínicas, oficializado pela Unimed no site no aplicativo, sem consultar previamente os familiares e responsáveis, nem informar antecipadamente, quebrando o vínculo terapêutico. Esse vínculo é construído a partir de uma relação de confiança entre o profissional e o paciente, e conquistado ao longo do tempo do tratamento. 

“A resolução 567/2022 da ANS garante que em caso de substituição de prestador, o plano precisa oferecer outro igualmente capaz de realizar o serviço. Ocorre que a clínica indicada pela UNIMED se recusa a comprovar sua capacidade técnica, bem como a UNIMED também se nega a realizar essa comprovação administrativamente, só fazendo em juízo.” declara o advogado Franklin Façanha, especialista em direito dos autistas. 

Outro serviço importante para as crianças com autismo, suspenso repentinamente pelo plano Amil, foi o de atendente terapêutico (ATs). O AT é um profissional capacitado sobre as demandas terapêuticas específicas da criança, como a falta de habilidade social. 

 

 

 

Nos dias 11 e 12 de ahosto, Recife sedia o 1º Congresso Autismo na Vida Adulta Nordeste. A iniciativa será no Centro de Eventos Recife, localizado na Imbiribeira, na zona sul da capital pernambucana. O evento reúne palestrantes locais e nacionais das áreas da educação, medicina, psicologia, financeira, entre outras.

As inscrições podem ser realizadas através do site do Instituto Integrarte Dimitri Andrade. Estão confirmados para o evento a psicóloga e diretora do Instituto Integrarte Frínea Andrade; o psicólogo e supervisor do Instituto Integrarte André Bezerra;  Flávia Cortinovis, administradora de empresas que desenvolveu metodologia aplicável para pessoas com deficiência intelectual; o neuropediatra Gustavo Holanda; o psiquiatra João Carlos Leitão; a fonoaudióloga Karla Correia Simão, entre outros nomes.

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"Esse é o primeiro congresso no Norte/Nordeste que traz esse tema tão importante. Nosso propósito com o evento é ampliar os olhares sobre o autismo na vida adulta e principalmente sobre o diagnóstico tardio. Queremos mostrar os três pólos do autismo, nos níveis 1, 2 e 3 de suporte, buscando gerar o interesse das pessoas por entender as necessidades do autista na vida adulta de acordo com as suas particularidades para atendê-los de uma melhor forma através da compreensão de como inseri-los na sociedade e proporcionar certa independência. Sem dúvidas é uma oportunidade imperdível, principalmente para os profissionais de saúde e educação e os familiares de pessoas autistas”, aponta Frínea Andrade, diretora do Instituto Integrarte, por meio da assessoria.

Há 13 anos o grupo de apoio para pessoas autistas Aspies for Freedom (AFF) instituiu o dia 18 de junho como o Dia do Orgulho Autista. Com o passar do tempo, a data se espalhou pelo mundo, aumentando as informações e a desmistificação do quadro para a sociedade, se juntando ao dia 2 de abril, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Dia da Conscientização do Autismo. Apesar da comemoração, e da conquista de direitos das pessoas com autismo nos últimos anos, ainda há muitas pessoas que conhecem pouco sobre o quadro, e famílias que são surpreendidas com o diagnóstico quando menos esperam.

É o caso da jornalista Danielle Cavalcanti, de 31 anos, mãe dos gêmeos Enzo e Heloísa, de recém completados 2 anos de idade. Após o primeiro ano de vida dos filhos, Dani, como é conhecida, começou a perceber alguns comportamentos muito distintos em Enzo, que destoava dos de Heloísa, e até de outras crianças da mesma idade. “Após o aniversário de um ano, aconteceu uma situação. Primeiro que Enzo começou a ficar diferente, ele já falava ‘papá’ quando era bebezinho, com uns dez meses, e ele começou a ficar calado. É muito comum que a criança autista perca habilidades que ela tinha. [Começou] a perder o olhar, ele começou a ficar muito fixado na televisão, então teve uma situação que a gente ficou chamando muito ele e ele parecia que não estava ouvindo, estava muito fixado em um brinquedo, e aquilo ali me chamou atenção”, lembra Dani.

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Com as mudanças de comportamento, foi necessário levar Enzo a um neuropediatra, e depois de diversos exames, foi apontado o Transtorno de Espectro Autista (TEA) de nível mediano, em janeiro deste ano. A partir daí, para Dani, tudo mudou. A rotina de Enzo consiste em sessões diárias de terapia ocupacional, psicologia, psicomotricidade, entre outras atividades, trazendo uma carga de responsabilidade para toda sua família. “É muito difícil continuar trabalhando [sendo] mãe de uma criança autista. Continuar trabalhando, continuar no mercado de trabalho”, desabafa Dani, que precisou se adaptar às demandas do filho, e ainda entende que tudo é muito recente.

Dani celebrando São João com Enzo. Foto: Arquivo Pessoal

Rede de apoio

Apesar da grande carga de esforço e energia desprendida para cuidar de Enzo, Dani, felizmente, não está sozinha. Sua rede de apoio inclui, além do esposo, os pais e os sogros, e a equipe médica que atende a criança durante a semana. Os profissionais são especializados no método de Análise do Comportamento Aplicada (ABA), cientificamente comprovado ser uma abordagem eficaz para o desenvolvimento social e cognitivo em pessoas com TEA.

Além dos cuidados profissionais, Dani afirma que nada teria acontecido se não fosse a atenção dela aos comportamentos de seus filhos. “É importante essa intervenção precoce, que os pais corram atrás disso, antes mesmo do diagnóstico. Tipo assim, eu não sei se meu filho tem autismo ou não, mas eu vou deixar ele sendo acompanhado porque independente do venha pela frente, ele já vai estar sendo estimulado”, explica.

A jornalista ressalta a importância fundamental que a família e amigos tiveram nos primeiros meses, e como ainda são essenciais para que todos os cuidados com Enzo sejam tomados. “Criar um filho hoje já é algo que é uma sobrecarga, é um desgaste, porque você está educando e você precisa de ajuda, você precisa dos avós pra te ajudar a educar, você precisa das suas amigas de conselhos, de tudo mais. Quem dirá quando a criança tem um diagnóstico desse, que tem suas particularidades, porque uma é totalmente diferente da outra. Não é uma coisa padronizada”, balanceia a mãe de Enzo.

Atendimento na educação

Por ainda não estarem na idade escolar, Dani não pensa muito em como vai ser a logística para essa fase, que já vai acontecer ano que vem. No entanto, ela já decidiu que vai matricular Enzo e Heloísa na mesma escola, para que eles tenham a convivência mais próxima.

A rede estadual de ensino recebe as matrículas de crianças e adolescentes com TEA. “Uma vez identificado o TEA, seja por laudo ou constatação por evidências contundentes, é garantido ao estudante o acesso a um profissional de Atendimento Educacional Especializado (AEE), que o atenderá em uma Sala com Recursos Multifuncionais. Caso haja a necessidade, também é disponibilizado um profissional de apoio escolar para acompanhamento em sala de aula”, afirma a Secretaria de Educação e Esportes (SEE) de Pernambuco, por meio de nota.

O órgão também é responsável pela elaboração do Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), feito para cada estudante pertencente ao quadro. “A partir deste, é desenvolvido um acompanhamento sistemático, tanto no contraturno como em sala de aula. O PDI ainda orienta os professores a efetuarem uma adequação curricular com vistas à construção de saberes no processo de ensino e aprendizagem do estudante”, complementa.

Enzo, de 2 anos. Foto: Arquivo Pessoal

Um novo mundo

Não é à toa que o símbolo do TEA seja um infinito. A ideia de pluralidade é constante para que as pessoas entendam que cada pessoa autista é única, com sua essência e personalidade. Para Dani, ter tido o laudo do quadro de Enzo nos primeiros anos de vida, é uma forma de se aprofundar e se aproximar ainda mais do filho. “É um diagnóstico que vai requerer mais atenção, que requer mais acompanhamento, mais proximidade ali com seu filho, mas em contrapartida é um diagnóstico que vai te trazer uma grande felicidade nas pequenas conquistas. Ensina mais a viver assim dia após dia. Então, no fim vai dar tudo certo, vai ficar tudo bem”, tranquiliza.

A deputada estadual Andréa Werner (PSB-SP) recebeu, pelo menos, 190 denúncias de que operadoras de plano de saúde estão cancelando, de forma unilateral, os contratos de famílias que têm um ou mais membros com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

As decisões são informadas por e-mail ou mensagens pelo aplicativo da empresa, sem uma justificativa clara. A denúncia atinge diretamente seis empresas. O material foi enviado para a Comissão das Pessoas com Deficiência da Assembleia Legislativa de São Paulo, presidida por Werner.

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"A gente começou recebendo, especificamente, denúncias de famílias que têm filhos autistas. Nós abrimos um canal de denúncia e as pessoas começaram a nos mandar esses cancelamentos. A gente encontrou pessoas em tratamento oncológicos, em tratamento de doenças crônicas graves", explicou a deputada.

Werner participou ao vivo do programa Central do Brasil desta quinta-feira (15) e reforçou que estes cancelamentos são ilegais. De acordo com entendimento do Supremo Tribunal de Justiça, os planos de saúde não podem encerrar o contrato de forma unilateral enquanto o paciente estiver realizando o tratamento.

Segundo Werner, o Ministério Público de São Paulo abriu inquérito para investigar especificamente a conduta de duas empresas denunciadas: a Unimed e o Bradesco.

Em audiência na Câmara dos Deputados, no final de maio, Marcus Teixeira Braz, diretor adjunto de fiscalização da Agência Nacional de Saúde Suplementar, afirmou que já foi realizada uma diligência in loco na sede de uma das empresas, a Unimed, mas que a análise ainda não foi encerrada. Até o momento, a ANS observou que os contratos cancelados eram coletivos, e não familiares ou individuais.

Em nota, a Unimed e a Federação Nacional de Saúde Suplementar afirmaram que a rescisão unilateral está prevista em contrato e nas regras da ANS.

A deputada, por sua vez, critica o comportamento da agência. Ela cobra um postura mais rigorosa na fiscalização da conduta das operadoras.

"É um agência reguladora, mas que tem se omitido em muitos casos. Entre as denúncias que recebemos, muitas pessoas disseram que abriram reclamação na ANS e foram informadas de que esse procedimento era regular, que era contratual e que bastava a pessoa fazer a portabilidade, o que está errado. A ANS deveria ter informado a estas pessoas que esses cancelamentos são ilegais".

Além disso, a parlamentar diz que a cobertura da grande imprensa tem se limitado a repetir os informes das próprias empresas, sem investigar a fundo os números. Recentemente, as operadoras afirmaram que estão em crise, depois de atingir lucros recordes durante a pandemia. Segundo a deputada, as empresas chegaram a lucrar R$18 bilhões em 2020.

"A minha pergunta é muito simples: onde foi parar esse dinheiro todo? O que a gente vê atualmente são as operadoras comprando hospitais, comprando clínicas, fazendo o que a gente chama de verticalização para ponderem elas mesmas fornecerem o serviço e assim aumentarem suas margens de lucro."

Da redação do Brasil de Fato

Sia surpreendeu os fãs ao revelar um detalhe íntimo. Durante o Rob Has a Podcast, a cantora de 47 anos afirmou ter sido diagnosticada com autismo. A cantora explicou que está no espectro e em recuperação, mas que passou a enxergar tudo de forma diferente. "Por 45 anos, eu pensei… 'Tenho que colocar meu traje humano'. E somente nos últimos dois anos eu me tornei totalmente, totalmente eu mesmo" disse.

Ainda no bate-papo, a artista australiana declarou: "Ninguém jamais poderá conhecê-lo e amá-lo quando você estiver cheio de segredos e vivendo com vergonha. E quando finalmente nos sentamos em uma sala cheia de estranhos e contamos a eles nossos segredos mais profundos, sombrios e vergonhosos, e todo mundo ri junto com a gente, não nos sentimos como pedaços de lixo pela primeira vez em nossas vidas".

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A estrela internacional é conhecida por colecionar hits memoráveis. Ela reúne no currículo clássicos como Chandelier, Elastic Heart, One Million Bullets e Unstoppable, além de parcerias com os astros Kendrick Lamar, Sean Paul e David Guetta.

Historicamente, o mercado de trabalho tem características, por vezes, segregadoras. Reflete preconceitos e exclusões que precisam ser superadas. Foi (e ainda é) assim com mulheres, com negros, com pessoas LGBTQIA+. Um outro grupo que ainda tem dificuldade de inserção profissional é o das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), muito pelas ainda existentes faltas de conhecimento e de preparo. Uma realidade que precisa estar no radar de empresas e poder público.

O mês de abril é marcado pelo debate sobre o autismo – temos o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a 2 de abril. Ainda há muito a se esclarecer sobre o TEA para a população no geral. O mais importante: autismo não é doença, mas uma condição, ou melhor, diferentes condições marcadas por perturbações do desenvolvimento neurológico, todas relacionadas com dificuldade no relacionamento social. O que não significa que uma pessoa com TEA não possa conviver, trabalhar, relacionar-se e desenvolver uma vida plena.

No mercado de trabalho, o panorama é preocupante. Estima-se que existam 2 milhões de pessoas com TEA no Brasil, e 85% dos adultos com autismo estão desempregados. A dificuldade de inserção esbarra na própria dificuldade de entendimento sobre essa condição. Caberia, portanto, aos departamentos de Capital Humano promover ações de conscientização e treinamento às equipes para que o ambiente de trabalho esteja pronto para receber profissionais autistas.

Vale lembrar que pessoas com TEA, normalmente (mas não obrigatoriamente, é bom ressaltar), têm mais facilidade de se adaptar a certos tipos de trabalho, como as atividades rotineiras e processos padronizados. Também é comum que tenham alta capacidade de memorizar dados e de cumprir normas, além de pensar de forma diferentes e poder dar respostas que fujam do pensamento convencional. Quando estimuladas e desenvolvidas da maneira correta, essas habilidades podem trazer benefícios tanto para a pessoa autista, quanto para a empresa.

O Transtorno do Espectro Autista ainda é objeto de estudo pela ciência e há muito a se entender sobre seus meandros. A realidade, no entanto, é que há um grande número de pessoas incluídas nessa condição que precisam estar inseridas nos diversos espaços da sociedade, como o mercado de trabalho. Essa é uma demanda urgente e importante, que deve ser atendida por empresas e poder público no sentido de ser mais um passo na construção de uma sociedade mais inclusiva e democrática.

Na próxima quarta-feira (12), a Clínica Ninho vai promover a palestra  “Descomplicando o Autismo nas Escolas”, no Hotel Jangadeiro, localizado em Boa Viagem às 19h. O encontro discutirá as dificuldades que as escolas enfrentam ao atender crianças com autismo, destacando a importância de oferecer o suporte necessário para atender adequadamente a essa população. As inscrições podem ser feitas de maneira gratuita através de um formulário na bio do Instagram da Clínica Ninho (@clinicaninho), ao todo 300 vagas estão disponíveis. 

A palestra conta com a participação de três palestrantes especialistas no tema: Carmo Pascoal, analista do comportamento e supervisora da Clínica Ninho, Emanuela Freire, psicóloga, mediadora escolar, terapeuta cognitiva comportamental e supervisora da Clínica Ninho; Suelma Santos, psicopedagoga da Clínica Ninho e a convidada e escritora Thallyta Mota. 

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A proposta é apresentar ferramentas que possam ser utilizadas pelos educadores para melhorar o atendimento aos alunos autistas, visando proporcionar um ambiente escolar mais inclusivo e acolhedor. “As escolas são um divisor de águas na vida dessas crianças, ou elas se integram ou vão ficar extremamente reclusas no futuro, por isso que a gente orienta aos profissionais da educação que se capacitem, para que a escola acompanhe a terapia”, afirmou a Dra. Carmo Pascoal,  analista de comportamento e supervisora da Clínica Ninho 

Serviço:

Especialistas em autismo discutem inclusão escolar em palestra gratuita no Recife

Quando: Quarta-feira, 12 de abril, às 19hs. 

Onde: Hotel Jangadeiro, Av. Boa Viagem, 3114 - Boa Viagem, Recife. 



 

No ano 2000, os Estados Unidos registraram um caso de autismo a cada 150 crianças observadas. Em 2020, houve um salto nos registros: um caso do transtorno a cada 36 crianças. As estatísticas são do órgão de saúde Centers of Disease Control and Prevention (CDC), que divulgou os dados atualizados na semana passada - já que eles sempre são anunciados pelo menos três anos após a coleta.  

No Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, comemorado anualmente no dia 2 de abril, cientistas que estudam o espectro detalharam que as principais hipóteses do aumento dos casos são: maior acesso da população aos serviços de diagnóstico; formação de profissionais capazes de detectar o transtorno; ampliação da conscientização do que é autismo e possíveis fatores ambientais que colaboram para a maior frequência de TEA.

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Apesar de não existirem estatísticas referentes à população brasileira, é possível usar os números do CDC como uma referência do que está ocorrendo aqui no país. “São números que podem ser extrapolados para o mundo inteiro”, garantiu o pesquisador na área de genética na Universidade da Califórnia (EUA), Alysson Muotri. 

ORIGENS DIVERSAS

O autismo tem causas genéticas e ambientais. Em geral, ele é poligênico, ou seja, mais de um gene afetado. “A lista de genes alterados que podem levar ao autismo tem crescido muito nos últimos anos. Saem trabalhos quase semanalmente sobre isso. Mas acho que estamos chegando perto de um platô: são cerca de mil”, explicou Muotri.

O transtorno pode ter origem hereditária, de mutação nova e de mutação por causa dos gametas. Os sinais são: não estabelece contato visual, não olha quando é chamado pelo nome, não gosta do toque, anda na ponta dos pés, tem seletividade alimentar, gestos repetitivos, entre outros. Apresentar um ou mais desses comportamentos não significa que a criança tenha autismo, mas levanta a necessidade de os pais procurarem o pediatra.  

A avaliação é multidisciplinar, a partir de uma sequência de consultas e observações clínicas com diferentes profissionais na área de saúde. É recomendado iniciar o tratamento o quanto antes. O tratamento comprovado cientificamente é a terapia cognitiva-comportamental (ABA), que busca dar ao indivíduo as habilidades necessárias para que ele seja mais independente. No entanto, há pacientes que respondem melhor a esses estímulos do que outros.

De acordo com um estudo feito no ano passado do Hospital Moinhos de Vento (Porto Alegre – RS), o autismo em meninos é quatro vezes mais frequente do que em meninas. Contudo, não há uma resposta única para explicar o porquê dos casos de autismo aumentaram nas últimas duas décadas.  

A luta pela conscientização acerca do Transtorno do Espectro Autista (TEA) celebra mais um ano neste domingo, 2 de abril, que tem peso nas comunidades nacional e internacional. No Brasil, aproximadamente dois milhões de pessoas convivem com o distúrbio do neurodesenvolvimento, estima o Ministério da Saúde. No mundo, os autistas representam entre 1% e 2% da população. 

No caso do autismo, os sinais costumam surgir sempre no primeiro ano de vida da criança, mas nem sempre o diagnóstico chega cedo. Por se tratar de uma condição que é levada por toda a vida, o autista continua a fazer parte do espectro com o avançar da idade, ainda que tenha desenvolvido melhor suas habilidades sociais e de aprendizagem. Apesar do diagnóstico tardio poder ser desafiador, descobrir o autismo tarde não é o fim do mundo: está sempre em tempo de buscar ajuda e trabalhar o neurodesenvolvimento. 

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“O Autismo na vida adulta parece improvável, mas é bem comum que pessoas cheguem à idade adulta sem saber que têm TEA. A condição de saúde é caracterizada por desafios na comunicação verbal e não verbal, habilidades sociais e comportamentais, como interesse restrito, hiperfoco ou movimentos repetitivos. O autista adulto, para viver melhor em sociedade, necessita da continuidade de um acompanhamento terapêutico que vai ajudá-lo a se desenvolver melhor em diversos eixos da sua vida, como na comunicação, educação, empregabilidade e sexualidade”, explica a psicóloga Frínea Andrade, diretora do Instituto Integrarte Dimitri Andrade. 

Os sintomas comportamentais do transtorno do espectro do autismo geralmente aparecem no início do desenvolvimento. Muitas crianças apresentam sintomas de autismo entre 12 e 18 meses de idade ou antes. Alguns sinais precoces de autismo incluem: 

- Problemas com contato visual; 

- Não responder ao ser chamado pelo próprio nome; 

- Problemas em seguir o olhar de outra pessoa ou apontar o dedo para um objeto (ou "atenção conjunta"); 

- Poucas habilidades em brincadeiras de faz de conta e imitação; 

- Problemas com a comunicação não verbal. 

Muitos pais não estão cientes desses sinais de autismo e não cogitam o autismo até que seus filhos não comecem a falar dentro da idade esperada. A maioria das crianças autistas não é diagnosticada antes dos três anos de idade, embora os profissionais de saúde possam observar problemas de desenvolvimento antes dessa idade. 

Estudos mostram que a detecção precoce e a intervenção precoces melhoram muito os resultados, por isso é importante procurar esses sintomas o mais cedo possível. 

Espectro autista 

“Existe o autismo de alto funcionamento, em que a pessoa costuma apresentar altas habilidades em uma determinada área e ter as habilidades do cotidiano comprometidas, como a comunicacional. Esse tipo só acontece em 13% da população autista e são esses indivíduos que possuem uma maior facilidade de serem inseridos no mercado de trabalho. Nos casos de autismo grave, que tem um maior comprometimento das funções pedagógicas, sociais e de linguagem, nós atuamos para oferecer as ferramentas para que este sujeito seja inserido na família e sociedade e aprenda atividades básicas, como tomar um banho, se vestir e se alimentar de forma independente”, acrescenta Frínea Andrade, que é especialista em cognição e comportamento. 

Apesar da intervenção terapêutica ser indicada para início ainda na infância visando facilitar o desenvolvimento das habilidades das pessoas atípicas, a psicóloga enfatiza: “nunca é tarde para começar. Não podemos pensar na educação de uma maneira formal, mas estar atentos às habilidades que esses jovens têm ou demonstram interesse. Se for pintar, a intervenção terapêutica com a família pode fomentar para que ele se torne um artista, se ele gostar de cozinhar, podemos ajudá-lo a se tornar um cozinheiro. O autismo em adultos é uma realidade que precisa ser visível para garantir plenitude e bem-estar."

Sinais comuns de TEA na pré-escola 

Com algumas crianças, os sinais de autismo podem não ser totalmente óbvios até que atinjam a idade pré-escolar, quando de repente a lacuna de desenvolvimento entre elas e seus colegas se torna mais evidente. 

Alertas na comunicação social 

-  A criança geralmente não aponta ou compartilha observações ou experiências com outras pessoas; 

- Pode haver ausência de fala ou padrões de fala incomuns, como repetição de palavras e frases (ecolalia), falha no uso de 'eu', 'me' e 'você' ou inversão desses pronomes; 

- Respostas incomuns a outras pessoas. Uma criança pode não demonstrar desejo de ser abraçada, ter uma forte preferência por pessoas familiares;

- A criança pode parecer evitar situações sociais, preferindo ficar sozinha; 

- Pode haver choro constante ou uma ausência incomum de choro. 

Alertas comportamentais 

- A criança frequentemente apresenta movimentos repetitivos marcantes, como apertar as mãos ou bater palmas, balanço prolongado ou rotação de objetos; 

- Muitas crianças desenvolvem um interesse obsessivo por certos brinquedos ou objetos, ignorando outras coisas; 

- A criança pode ter extrema resistência a mudanças nas rotinas e/ou em seu ambiente; 

- A criança pode ser resistente a alimentos sólidos ou pode não aceitar uma variedade de alimentos em sua dieta; 

- Muitas vezes há dificuldades com o treinamento do banheiro; 

- A criança pode ter problemas para dormir; 

- A criança pode ficar extremamente incomodada com certos ruídos e/ou locais públicos movimentados, como centros comerciais. 

 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA), por estar relacionado ao desenvolvimento neurológico e poder ser caracterizado pela dificuldade de interação social e comunicacional, parte da população acaba taxando as pessoas autistas com alguns mitos. Então, neste Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado neste domingo, 2 de abril, o LeiaJá preparou 11 mitos e verdades sobre o TEA. Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 1-4 milhões de pessoas são autistas no Brasil, apesar de o número não ser exato, tendo em vista que muitas não têm diagnóstico. 

Veja a lista:

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1. É mito que todos os autistas são agressivos. A agressividade pode ser, sim, uma característica de uma pessoa autista, mas não se pode generalizar esse comportamento a todas as pessoas. 

2. Autistas podem e devem frequentar as escolas. Muita gente acredita que autistas não podem frequentar a escola ou podem apenas instituições específicas para pessoas com autismo, mas esta afirmação é falsa. Há leis que garantem que, em casos comprovados de necessidade, o aluno autista matriculado em escola pública ou particular tem direito a um acompanhante especializado dentro da sala de aula.

3. Não existem exames para diagnosticar TEA. O diagnóstico é feito de forma clínica, com base em evidências científicas seguindo os critérios estabelecidos pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria (DSM-V), e pela Classificação Internacional de Doenças da OMS (CID-11). É feito através de uma avaliação do comportamento. 

4. É verdade que o diagnóstico precoce ajuda no tratamento. E, inclusive, é um dos grandes diferenciais da qualidade de vida das pessoas autistas. Muitas pessoas acreditam que o diagnóstico só pode ser realizado a partir dos três anos, mas ainda nos primeiros meses de vida é possível identificar sinais e iniciar com as intervenções precoces. 

5. É mentira que traumas psicológicos causam autismo. Apesar de as causas não serem totalmente conhecidas, sabe-se que o transtorno está ligado à genética e fatores ambientais estabelecidos antes do nascimento. 

6. É falso que todas as pessoas com TEA tenham inteligência acima da média. No entanto, é indiscutível que algumas pessoas com autismo possuem inteligência acima da média, assim como algumas pessoas neurotípicas, mas isso não é critério de diagnóstico de TEA. Cerca de 40% dos autistas apresentam algum grau de deficiência intelectual. 

7. Os autistas não se comportam da mesma forma. Não se pode generalizar o comportamento de pessoas com TEA; uns socializam mais que outros, são mais agressivos que outros. A mesma coisa acontece com as dificuldades que cada um apresenta para escrever, para números.

8. O tratamento do autismo é multidisciplinar. Uma pessoa autista precisa de diversos especialistas para acompanhar o tratamento, como médico, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicólogo, fisioterapeuta e vários outros. Tudo vai depender da necessidade da criança. 

9. É mentira que vacinas causam autismo. A Organização Mundial de Saúde garante que não há nenhuma evidência que comprove que vacinas causem TEA. Elas estão associadas à genética, fatores ambientais. 

10. Autismo não é doença. TEA é um grupo de condições neurodiversas que são caracterizadas por diferenças na comunicação e interação social. Pessoas autistas tendem a demonstrar interesses ou padrões de comportamento restritos e repetitivos. Tanto que, por lei, o autismo é considerado como uma deficiência, não uma doença. 

11. É falsa a informação de que autistas não têm empatia. Assim como os outros comportamentos já mencionados nesta lista, a empatia também vai de cada pessoa. Uns vão ser mais empáticos que outros. No entanto, por pessoas com TEA serem autocentradas, às vezes, acontece a má interpretação sobre a empatia.

O universitário Silvano Furtado da Costa e Silva, de 23 anos, estava no 8º período da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), quando teve seu diagnóstico de autismo, em 2020. Neste domingo (2), é lembrado o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo.

“No primeiro ano da pandemia, eu tive várias questões psicológicas, passei por alguns tratamento e tive meu diagnóstico de autismo. Fiquei um pouco vulnerável. Em uma reunião aberta entre os alunos e a representação discente da faculdade, eu disse à época que eu não pisaria nesse prédio novamente depois de  pegar meu diploma, caso a faculdade não mudasse a forma como lida com seus alunos neurodivergentes.” 

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A manifestação de Silvano fez com que ele fosse convidado a integrar a representação dos estudantes. “Assim, começamos a desenhar uma política de avaliações alternativas de acessibilidades pedagógicas dentro do Largo de São Francisco [local da faculdade]”, contou. 

O universitário colaborou na construção da Política de Acessibilidade Pedagógica (PAP) da Faculdade de Direito da USP, uma das mais antigas e tradicionais do Brasil. A PAP, implantada em agosto de 2022, é direcionada aos alunos diagnosticados com transtornos globais do desenvolvimento, como o transtorno do espectro autista (TEA). 

“A São Francisco é a única faculdade pública do Brasil a ter uma política assim, o que por si só é genial, pois tais normas, se cumpridas, dão conta de realizar a inclusão. Mas, ao meu ver, o grande mérito dessa política foi ter atuado contra a invisibilização de pessoas autistas no mundo acadêmico e colocado o debate na mesa acerca da neurodiversidade”, aponta Guilherme de Almeida, presidente da Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas (Ania/BR). 

Para o pesquisador, a Política de Acessibilidade Pedagógica é um potente regulamento em prol da garantia de direitos das pessoas neurodivergentes. Guilherme lembra que a PAP representa o cumprimento da Lei Brasileira de Inclusão, da Constituição Federal de 1988, e dos tratados internacionais de que o Brasil é signatário, em especial a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência de Nova York. 

Segundo dados mais recentes do Censo da Educação Superior, de 2021, no Brasil, estão matriculados em cursos de graduação presenciais e a distância 4.018 pessoas com  transtorno global do desenvolvimento (TGD). O transtorno do espectro autista (TEA) é um dos cinco tipos do TGD. Sendo assim, todos aqueles que têm algum grau de TEA possuem um TGD. 

O censo é realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), instituição vinculada ao Ministério da Educação.  Política “A Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, como sendo a primeira faculdade do Brasil, teria que, em termos de tradição, mostrar que é possível quebrar o ‘antiquadrismo’. Então começamos a trabalhar”, relembra Silvano. 

A PAP estabelece que os alunos que necessitem de atendimento pedagógico diferenciado poderão solicitar previamente adaptações de provas e demais atividades avaliativas e tempo adicional, local reservado ou assistência para realização das provas. Considerando as legislações brasileiras de inclusão, a política visa “superar limitações ordinárias e promover adaptações razoáveis destinadas a garantir condições de desempenho acadêmico”.

Para Silvano, a política é um dos passos para a inclusão das pessoas com o espectro autista. “É um elemento de permanência, existem outros, como o elemento avaliativo, que é necessário para terminar o curso. Mas eu creio que existem outras iniciativas que a gente ainda precisa lidar, por exemplo, o relacionamento discente. A gente sempre fala da relação professor-aluno, que é uma relação de poder, que pode ser conflituosa, mas existem conflitos horizontais entre os alunos, como o bullying, que para pessoas autistas é algo complicado, que nos atinge”, explica. 

Para ele, a maior barreira ainda são as atitudes das pessoas com os autistas. “Não são barreiras de engenharia. Dependem de mudanças de atitudes, as pessoas têm mais dificuldades de mudar atitudes do que o formato de um prédio”, acrescenta. Silvano tem esperança de que as gerações futuras possam ser, de fato, incluídas no ensino superior. 

“Espero que o número que a USP como um todo tem, de tão poucas pessoas com deficiência, se reverta em uma mudança real, que pessoas ocupem essas cadeiras e se sintam confortáveis em ocupar essas cadeiras, em ir à aula, em falar, em ser elas mesmas, sem o medo de serem ridicularizadas, sem o medo de serem tratadas como seres humanos de baixa qualidade, essa é uma das minhas esperanças.” 

Ele ainda está indeciso em qual área do direito vai atuar quando se formar. “Tenho duas áreas em mente, a primeira é criminologia e a segunda é direito digital, para não abandonar essa minha aptidão com a computação.”

O universitário explica que o direito não foi sua primeira opção. “Estava no meio do processo seletivo do Consulado do Japão para tentar ciências da computação na Universidade Imperial de Tóquio até que eu decidi que não queria mais o curso, nem ir para Tóquio. Decidi que queria direito e como é um curso que radica muito nacionalmente, acabei optando pela USP como primeira e a melhor opção”, conta. 

Inclusão com humanização

“A grande beleza de se discutir inclusão é que você não pode fazer isso de modo sectarista, identitário, afinal só se inclui envolvendo o todo”, afirma Guilherme de Almeida, presidente da Ania/BR, que também é pesquisador de educação inclusiva na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele tem 40 anos e se descobriu autista aos 37.

Guilherme explica que existem várias dificuldades que as pessoas autistas enfrentam para acessar o ensino superior.  “A começar pelo vestibular que não avalia de forma adequada e justa as habilidades e os conhecimentos dos alunos, pois se baseia em um único teste padronizado. A forma como autistas pensam e processam informação é absolutamente diversa do modo como pessoas não autistas o fazem.”

Outra barreira, segundo o presidente, “está em uma ideia contida na famosa frase ‘mas se você chegou até aqui, você não precisa de adequações’". "Para mim, isso supera a ignorância e beira o criminoso. Qualquer professor universitário, com o mínimo de sensibilidade, compreende o quão desafiadora uma faculdade pode ser para qualquer pessoa. Ansiedade e depressão, transtornos alimentares, abuso de substâncias, síndrome de Burnout são apenas alguns exemplos da realidade nas universidades. Se isso já é complicadíssimo para qualquer pessoa, para indivíduos autistas tem um potencial destrutivo muito maior, vale lembrar que o suicídio é a maior causa de morte não natural entre pessoas autistas”, alerta.

Para o representante da Ania/BR, falta humanização para que haja, de fato, a inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior. “A inclusão visa criar um ambiente onde todas as pessoas possam participar e se sentir bem-vindas. Para haver inclusão, falta humanização, falta comprometimento no desenvolvimento ético e social, falta partilha, falta união. Acessibilidade é ferramenta, inclusão é ‘inédito viável’, como queria Paulo Freire.” 

Direito à diferença

Durante a última semana, a Faculdade de Direito da USP sediou o 2º Simpósio Internacional de Inclusão no Ensino Superior - O Direito à Diferença. Promovido pela Ania/BR, o evento reuniu especialistas de universidades de diversos países e pessoas com deficiência em mesas-redondas e palestras sobre o autismo e sua relação com a sociedade brasileira.

Presente no evento, o professor César Nunes, titular de filosofia e educação na Faculdade de Educação da Unicamp, falou sobre a pedagogia humanizadora como instrumento de inclusão das diferenças. “Os autistas não encontram no conjunto das pessoas com deficiência nenhuma política especial de acesso e de garantia da qualidade humanizada e de permanência na instituição”, afirmou o professor, em entrevista à Agência Brasil. 

Ele explica que no ensino superior brasileiro há dificuldade de acesso para as pessoas autistas e, de modo geral, para as pessoas com deficiência.

“O acesso é diferente às universidades públicas e universidades particulares. As universidades públicas mantêm uma tradição um pouco mais rigorosa e muitas vezes é extremamente excludente, e as universidades particulares, com suas diferenças, têm um modelo de ingresso mais voltado para a questão econômica, comercial, flexibilizando o processo seletivo, mas ao mesmo tempo, mercenalizando o processo formativo.”

Para Nunes, a sociedade brasileira precisa superar as marcas e os preconceitos históricos. “Quando a sociedade for mais democrática e acessível, as instituições educacionais e escolares também o serão. As políticas públicas de acesso ao ensino superior deverão apropriar-se das características jurídicas, filosóficas, pedagógicas e democráticas da Constituição brasileira para promover uma educação onde haja espaço e lugar para todos. E as políticas de inclusão deverão considerar a especificidade da condição do autista”, opina.

O professor explica que a pedagogia, por sua natureza, já é um instrumento de inclusão das diferenças. “A pedagogia é uma ciência múltipla que trabalha as diversas dimensões do ato educativo, ela já deveria ser inclusiva, porque a pedagogia consiste em buscar compreender a condição humana, que é diversa em cada ser humano, e a partir da diferença, da diversidade, promover a inclusão e a permanência digna e humanamente qualificada de todos”, afirma o especialista.

No mês de abril, iniciam-se ações voltadas à conscientização e informação da população a respeito do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A Campanha ‘Abril Azul’ dá destaque ao distúrbio neurológico que pode afetar as áreas de comunicação, comportamento e interação social.

Preocupado com o tema, o prefeito Simão Durando recebeu em seu gabinete representantes da Associação de Amigos do Autista do Vale do São Francisco (AAMAVASF). Na oportunidade, o gestor firmou um conjunto de compromissos com as mães de crianças e adolescentes com TEA e anunciou a ampliação do atendimento e assistência para esse público.

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O encontro, que contou com os técnicos das secretarias de Saúde, Social e Educação, além do Transforma Petrolina, teve o objetivo de fechar parcerias para a realização de ações voltadas para a campanha de conscientização neste mês de abril. Além disso, ficou alinhado um conjunto de ações permanentes, garantindo uma assistência de qualidade para a pessoa com TEA.

Simão se comprometeu a aumentar o número consultas com diversos especialistas, entre eles, terapeuta ocupacional, fisioterapia, fonoaudiólogo, além da contratação de um neuropediatra para acompanhamento e fechamento de diagnósticos para o autismo. O gestor ainda disse que está aberto para contribuir da forma que for necessária para ampliar os debates e conscientização a respeito do tema. 

“O momento é de sensibilização e informação sobre esse tema tão importante para a sociedade. Nosso objetivo é conscientizar a todos e garantir os direitos dos autistas. Petrolina hoje já realiza um trabalho muito importante, porém, queremos avançar ainda mais e o caminho é conversando com quem vivencia isso todos os dias e conhecendo de perto as necessidades desse público”, destacou o prefeito. 

Educação 

Atualmente, a Rede Municipal atende cerca de 1.100 alunos com Transtorno do Espectro Autista(TEA). Em sala de aula regular, esses estudantes com TEA, contam com um profissional de Apoio Escolar, que  é  o assistente Educacional, para dar o suporte dentro das suas necessidades. Os alunos também contam com atendimento educacional especializado no contraturno escolar na sala de recurso multifuncional. 

Periodicamente, a prefeitura realiza aquisições de materiais pedagógicos como mesas interativas, quadro magnético, circuitos psicomotores, sacolas criativas, esquema corporal, rotinas para autistas, kits de desenhos adaptados, tangran, tapete sensorial, entre outros. Nas unidades que não possuem os equipamentos, os estudantes são remanejados para o Centro de Educação Inclusiva de Petrolina (CEIP).

*Da assessoria 

No próximo domingo (2), a 2ª Caminhada Pernambucana pela Conscientização do Autismo volta às ruas do Recife para reivindicar inclusão para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Organizado pela MobilizaTeaPE, o ato faz referência ao Dia Mundial da Conscientização do Autismo e terá concentração às 14h, no 3º Jardim da Avenida Boa Viagem, na Zona Sul.

Para a coordenadora geral do MobilizaTeaPE, Polly Fittipaldi, a caminhada é uma oportunidade para conhecer mais sobre o autismo e entender a necessidade da inclusão social dessas pessoas. “A união de todas as famílias e amigos de autistas é essencial para demonstrar à sociedade pernambucana que a conscientização sobre TEA é urgente. Todos estão convidados a participar e contribuir para a inclusão social das pessoas com TEA”, destaca.

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O TEA é uma condição neurológica que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento. “É fundamental que a sociedade se conscientize sobre a importância de inclusão e acessibilidade para essas pessoas. A caminhada é uma oportunidade para que a sociedade compreenda melhor as necessidades das pessoas com autismo e promova um ambiente mais inclusivo e acolhedor”, enfatiza Rodrigo Nery, diretor clínico do Grupo Ampliar, que apoia o evento. 

O Projeto de Lei 507/23 determina validade por prazo indeterminado ao laudo médico pericial que atestar Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) ou deficiência de caráter permanente, bem como as requisições médicas de tratamento. A proposta tramita na Câmara dos Deputados.

A autora do projeto é a deputada Yandra Moura (União-SE). Ela afirma que a medida visa proporcionar melhores condições de vida às pessoas que sofrem com deficiências ou limitações não transitórias.

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“Não se justifica que tenham de renovar laudos médicos periciais, bem como as requisições médicas para o seu tratamento ou acompanhamento, gerando um complexo sistema caro e burocrático”, disse Moura.

O projeto da deputada altera o Estatuto da Pessoa com Deficiência e a Lei de Proteção aos Autistas (Lei Berenice Piana). Já tramitam na Câmara propostas que tratam do assunto, como os PL 214/23 e PL 542/23. 

Tramitação

O projeto será despachado para as comissões da Câmara dos Deputados.

*Da Agência Câmara de Notícias

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