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Rodrigo Barbosa conquista clientes com cortes modernos e estilosos. Foto: Rafael Bandeira

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Em tempos modernos, o homem gradativamente passou a não considerar mais o mercado de beleza como algo estritamente feminino e adentrou nesse setor modificando todo um cenário estereotipado. As novas e mais modernas demandas de produtos e serviços para o cuidado com o corpo e a imagem masculina estão muito mais além do que barba, cabelo e bigode. 

Levantamento do Instituto Qualibest, realizado para a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Anihpec), revela uma conclusão que comprova a demanda constante de serviços de beleza entre os homens. De acordo com o estudo, oito entre dez homens afirmam que "foi o tempo em que só as mulheres se preocupavam com a beleza". A Anihpec ainda estimou que, em 2019, o mercado brasileiro masculino de cuidados pessoais movimentou 6,7 bilhões de dólares.

É comum vermos, por exemplo, estabelecimentos que oferecerem muito mais do que cortes de cabelos, adaptando o espaço com jogos, cervejaria, e, até mesmo, massoterapia e manicure. Essa atividades, outrora, eram vistas em salões de beleza exclusivos para o público feminino.

Paulo Barbosa, morador da Iputinga, Zona Oeste do Recife, revela que mensalmente corta o cabelo no famoso estilo degradê (fade) em uma das barbearias do seu bairro. Ele ainda destaca o número crescente de estabelecimentos desse segmento e como as barbearias estão deixando o estilo clássico e acrescentando novidades no corte em sua infraestrutura.

Rodrigo Barbosa da Silva, 29, é barbeiro há 3 anos no bairro da Iputinga, na comunidade do Detran, no Recife. Ele conta que concluiu seu curso no Centro Profissionalizante Osmar Soares, também localizado na capital pernambucana. Depois disso, começou a participar de outras especializações para aperfeiçoar seu corte. Através do arrecadamento mensal do salão, ele confessa que conseguiu pagar a formatura de sua filha.

“A profissão pede para que você se aperfeiçoe. Você quer fazer um corte melhor no cliente para que ele saia satisfeito. A maioria da terceira idade também pede o corte mais atualizado, eles não querem mais o tradicional, querem inovar, ficar mais jovem, querem o corte de cabelo no estilo degradê”, fala o barbeiro.

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Boom de barbearias

A aparência não engana: o número de barbeiros e de barbearias na Região Metropolitana do Recife (RMR) cresceu exponencialmente. O quantitativo de pessoas que procuram se especializar na área reflete um mercado que está lucrando positivamente.

Segundo balanço do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) em Pernambuco, profissionais que já atuam na área também buscam qualificação e formação holística em torno da atividade. O curso de barbeiro da instituição formou, de 2018 a 2019, 733 alunos. As aulas foram realizadas nas unidades do Senac de Recife e Paulista.

De acordo com Fábio Luiz Alves de Melo, barbeiro e dono da Naipe Barber Shop, o curso de barbeiro que concluiu no ano de 2014, no Senac Recife, o ajudou a pôr em prática seu sonho de abrir um negócio com seus amigos de infância. Seu atual ambiente de trabalho inclui músicas, uma pequena loja de roupas, e um atendimento tradicional à moda vintage que utiliza para atrair os clientes.

Segundo a especialista em beleza do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Romarcia Lima, o 'boom' de salões de beleza, de fato, é resultado da procura por serviços masculinos. "Desde de 2017, o aumento no mercado de beleza masculino é resultado das mudanças de comportamento do consumidor. Os homens andam mais vaidosos, buscando ser atendidos em locais específicos, com produtos para cabelos e barba", comenta a especialista.

O serviço recompensa

Sempre ouvimos dizer que quando fazemos algo com paixão, nos destacamos por isso. É o que anda acontecendo nos bairros nobres e periféricos do Recife com o trabalho dos profissionais de beleza. Os ambientes despojados com cervejaria, jogos e conversas situam os homens em uma realidade já conhecida por eles. Antes, cada programa de lazer tinha um endereço, mas, hoje, tudo está reunido em um só lugar: a barbearia. 

Rodrigo fala como é o serviço em sua barbearia e diz por que sua propaganda é o cabelo do cliente. “Não tem segredo, a não ser cortar bem o cabelo do cara, atendê-lo bem, e conversar com ele, pois todos temos uma história para contar. Às vezes eles estão passando por uma situação meio complicada dentro de casa com a família, e você acaba passando uma calmaria”, revela o barbeiro.

O barbeiro Fábio Luiz relata como é o procedimento em seus estabelecimentos: “Trabalhamos de forma tradicional no corte de cabelo, porém, na barba, nos preocupamos em ter todo um processo; ter uma toalha e uma espuma quente para ajudar o pelo e a pele, fora o massageador oster que utilizamos para reativar a circulação sanguínea para devolvermos a pele do cliente como ela chegou”, fala Fábio.

Assim como os profissionais que buscam trabalhar de maneira mais independente e personalizada, oferecendo os melhores serviços, os clientes possuem suas particularidades. Os profissionais vivem em uma era de desconstrução e quebra de tabus. Essa era também chegou aos estabelecimentos que outrora eram exclusivamente frequentados por homens. As novas e modernas barbearias abrem espaços para as mulheres que desejam o corte baixo, especialidade dos barbeiros.

O dono da Naipe baber shop diz que corta o cabelo de quem está afim e não se importa com o sexo da pessoa. Ele se surpreendeu com o número de garotas dispostas a frequentarem suas barbearias. “Semana passada a gente abriu a casa e tinha cinco meninas esperando; isso me surpreendeu porque muitas imaginam um ambiente masculino e tem esse bloqueio de achar que por ser uma barbearia só cortamos cabelos masculinos", destaca Fábio Luiz.

Mulheres também aproveitam o serviço do barbeiro. Foto: Naipe Barber Shop/Divulgação

Os cortes de cabelos variam conforme o estilo. Há o baixo e curto corte, médio, freestyle, degradê (fade), undercut, moicano, estilo americano, corte militar, entre outros. Cada um possui um valor médio que podem variar conforme o serviço.

As barbearias Naipe, localizadas nos bairros das Graças e Rosarinho, no Recife, além de Jardim Atlântico e Sítio Histórico, na cidade de Olinda, na RMR, normalmente cobram de R$ 30 a 40 por cada corte. Já a barbearia de Rodrigo, localizada na Iputinga, periferia recifense, cobra, em média, de R$ 10 a 20 reais por corte. Rodrigo e Fábio possuem rendimentos diferentes. O primeiro fatura em média R$ 3.500 mensais, enquanto os empreendimentos de Fábio faturam, mensalmente, de R$ 50 a R$ 70 mil

Passando o legado

Não somente as instituições como o Senac formam novos barbeiros. Profissionais que já atuam na área acabam preparando outras pessoas para o mercado. É o caso de Rodrigo, que  pretende abrir um curso para expandir o negócio e trabalhar com amigos que estejam interessados em aprender a como cortar cabelos. Já o dono da Naipe oferece cursos profissionalizantes.

Serviço

Barbearia Rodrigo Barber

Endereço: Rua São Mateus, sem número, bairro da Iputinga, no Recife

Segunda a sábado, das 9h às 20h, e aos domingos, das 8h às 12h

Contato: (81) 99691-3440

Acompanhe o Instagram

Naipe Barber Shop

Jardim Altântico - Olinda

Sítio Histórico - Olinda

Graças - Recife

Rosarinho - Recife

Veja os endereços das unidades

Contato: (81) 3429-7239

No próximo domingo (29) e na segunda-feira (30), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) realiza o Seminário  de Tendências Internacionais de Barbearia. O objetivo do evento é apresentar aos empreendedores e trabalhadores do ramo as novidades sobre as técnicas de beleza que têm atraído clientes no exterior.

Podem participar do encontro empresários e funcionários de salões de beleza e barbearias. Na ocasião, serão detalhadas técnicas de captação de clientes, além do aumento dos lucros a partir da conquista do público majoritariamente masculino. Outro foco é mostrar aos alunos os mercados disponíveis para exportação, entre outras atividades. 

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O Seminário será realizado no Hotel Grand Mercure, localizado no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, a partir das 14h. Os interessados devem se inscrever de maneira gratuita por meio do site do Sebrae. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones 0800-570-0800 e (81) 2101-8458  / 2101 8471. 

Números: Levantamento do Sebrae aponta que, de 2016 até o próximo ano, o mercado de barbearias apresentará um crescimento em torno de 7,1% ao ano em todo o Brasil. No último dia do seminário, será apresentado o Caderno de Tendências para o Setor da Beleza 2019-2020, da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), que trará as maiores tendências e experiências de sucesso do segmento, 

Programação

14h – Credenciamento

14H30 – Abertura

14h45 às 16h45 - Tendências Internacionais de Barbearias (Los French Barbers – Lito Rodrigues e Sérgio Martins)

17h30 – Coffee break e encerramento

SERVIÇO

Sebrae apresenta tendências internacionais de barbearia

Onde: Hotel Grand Mercure |

Quando: Domingo, 29, e segunda-feira, 30 de julho de 2018

Horário: 14h às 18h

Inscrições: pelo site do Sebrae

Outras informações: 0800 570 0800 | 2101 8458 | 2101 8471

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Maninho nunca soube desenhar no papel. O ano era 2009 quando ele, pouco conhecido pelo nome de batismo, Cláudio Emanuel de França Silva, descobriu seu maior talento por necessidade. “Sempre cortei cabelo do jeito tradicional, mas começou essa moda de desenho. O pessoal pedia de tribais a pica-pau, tive que me aperfeiçoar”, lembra. Olhando no caderno, o barbeiro era capaz de reproduzir uma gravura com perfeição, sem, até então, ter tido nenhuma orientação ou estudo no ofício. “Agora a moda mudou, para o degradê com algumas listrinhas. Chamamos de ‘freestyle’ o improviso dessas linhas”, explica.

Para o jovem barbeiro, de 26 anos de idade, uma das razões que tornaram o freestyle (do inglês, “estilo livre”) uma febre entre os jovens da periferia é a adoção do estilo por alguns dos jogadores de futebol mais famosos do mundo. “A comunidade é muito ligada ao esporte. Muitos meninos chegam na barbearia pedindo o cabelo de Neymar, Cristiano Ronaldo, Phillipe Coutinho e Pogba, por exemplo”, coloca. Seja pela imitação ou pela criação espontânea nas cabeças de jovens garotos de sua comunidade, o Caiara, na Zona Oeste do Recife, a Barbearia Boleragem, de Maninho, cresceu ao passo que também surgiu uma série de estabelecimentos concorrentes na área. “A gente procura sempre inovar e deixar o ambiente mais confortável. Temos videogame, Wi-fi, cerveja e ar condicionado para os clientes em espera”, afirma. 

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Para o barbeiro Maninho, a escolha dos cortes está relacionada ao futebol. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

Enquanto cede entrevista à reportagem, Maninho é motivo de gozação das duas fileiras de cadeiras completamente lotadas de clientes. No estabelecimento, por vezes, a relação comercial mistura-se à de amizade. “Maninho está famoso”, brinca um dos garotos. O ambiente da barbearia acaba funcionando como um local de entretenimento para seus frequentadores. Alguns deles, não necessariamente presentes no espaço para aguardar atendimento. Há quem leve os amigos para assistir ao corte ou simplesmente vá ao encontro de alguém.

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O vendedor Mateus Viana foi cortar o cabelo acompanhado de um grupo de amigos. “A gente sempre vem. Hoje escolhi fazer um degradê na parte de baixo do cabelo e cortar um pouco em cima. Prefiro esse porque é discreto pra ir pra escola e trabalho e povo não fica olhando tanto, ainda mais pra mim, que gosto de andar com camisa de torcida organizada”, comenta ele, que veste uma blusa da “Fanáutico”. 

Mateus opta por linhas mais discretas para fugir do preconceito. (Rafael Bandeira/LeiaJáImagens)

Preconceito

Maninho conta que são comuns as situações constrangedoras por que passam os clientes. “Sempre tem um segurança atrás de você numa loja de shopping. O povo da comunidade não liga tanto, porque aqui não tem aquele negócio de a turma ficar olhando e chamar a gente de maloqueiro ou bandido. É uma moda mesmo, o povo acha legal ”, afirma. O próprio barbeiro já foi vítima de discriminação da polícia. “Uma vez dei luzes. Estava na rua e também ia andando um menino da comunidade que sei que era envolvido com criminalidade, que estava sem nenhum penteado fora do padrão. Aí fui abordado pelos PMs e ele não. Fiquei achando que era por causa do meu cabelo”, lamenta. 

Maninho lembra que apesar da rejeição ao estilo no restante do ano, boa parte dos homens acha aceitável aderir ao cabelo desenhado no carnaval. “Eles falam, mas acabam usando. Eu não ligo não, porque o preconceito vem de gente que não conhece a realidade da gente. Isso é uma arte que os barbeiros nasceram com o dom de fazer. Deveriam valorizar nosso trabalho, porque é daqui que tiro o aluguel da barbearia, da minha casa e pago minha faculdade”, argumenta o barbeiro, que também estuda educação física. Os cortes custam a partir de R$ 15.

Rodrigo Barbosa também é barbeiro e usa Instagram como ferramenta de trabalho durante corte de Fabiano. (Rafael Bandeira/LeiaJáImagens)

O operador de separações Fabiano Evandro de Souza, fã do freestyle, também se queixa de discriminação. “As pessoas julgam muito a gente, mas graças a Deus sempre faço e alguns amigos acham bonito, perguntam onde fiz”, comenta. O barbeiro Rodrigo Barbosa, responsável pelo visual de Fabiano, conta que os cortes do cliente costumam durar entre 40 minutos e uma hora e que geralmente escolhe os penteados. Com um celular na mão, os perfis de freestyle no Instagram são seus maiores aliados no trabalho. “Vou olhando e fazendo com a navalha”, completa.

Homens mais vaidosos

“Antigamente os meninos queriam ser jogadores de futebol. Agora a gente quer ser barbeiro”, crava Caio Mendes, que aos 18 anos de idade, já é dono da própria barbearia em Monsenhor Fabrício, na Zona Oeste do Recife. O jovem atua na área há dois anos e vem buscando se especializar. “Como não tem faculdade para barbeiro, a gente precisa estar sempre se atualizando com os cursos que aparecem, aumentou muito a concorrência. Arrumei um emprego por causa dessa profissão e quero terminar minha vida na área”, comenta. 

Caio acredita que homens estão mais vaidosos. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

Para Caio, os homens estão mais vaidosos. “Antigamente existia esse preconceito de dizer que fazer a sobrancelha e cortar o cabelo de uma forma mais elaborada não era ‘coisa de homem’. Hoje em dia isso acabou, até colegas meus que veem meu cabelo ou me trabalho me perguntam onde fiz, ficam interessados”, opina. 

Tendência de mercado

Para a presidente do Conselho Regional de Economia (CORECON-PE), Ana Cláudia Arruda, existe um movimento crescente de influência da periferia nos centros, em função da lógica de empobrecimento da população. “O crescimento econômico, anterior à crise, dos últimos 15 anos criou um novo perfil de consumidor. As pessoas passaram a usar smartphone, marcas importantes e comprar seus próprios veículos. Esse processo permitiu que surgissem também novas exigências de consumo”, comenta a respeito do conforto apresentado pelas barbearias periféricas. 

A economista acrescenta ainda que uma grande característica desse novo cliente é a conectividade. “Ele procura o cabelo do jogador famoso porque o acompanha nas mídias digitais. Com o aumento da demanda surgiu também uma expansão dos minimercados, de pequenos negócios que dão sustentação a esse novo consumidor novo consumidor”, conclui. 

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