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Em três dias, a campanha para arrecadar recursos para o tratamento de Pedro, filho do indigenista Bruno Pereira, assassinado em 2022, atingiu a meta de R$ 2 milhões. O menino, de cinco anos de idade, foi diagnosticado com neuroblastoma, câncer no estágio 4, e deverá ser submetido a um autotransplante de medula óssea. Após o transplante, necessitará do medicamento betadinutuximabe, importado e ainda não oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A mãe do garoto, antropóloga e diretora do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Beatriz Matos, comemorou o resultado. “Nós estamos muito felizes. Em apenas 3 dias, a campanha SalvePedro atingiu a meta de R$ 2 milhões. Isso é incrível! O remédio para o tratamento está garantido. Graças a todos que se engajaram e colaboraram com a gente”, celebrou.

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Beatriz Matos quer agora aproveitar a onda de solidariedade para ajudar mais pessoas. “Vamos aproveitar todo esse engajamento para fazer ainda mais. Continue doando. O dinheiro arrecadado além da meta será todo encaminhado para ajudar outras crianças que enfrentam o mesmo problema do Pedro, através do Instituto Anaju. Vamos salvar os amigos do Pedro. Fazer cada criança mais feliz”, disse

O que é neuroblastoma

Esse tipo de câncer é o terceiro mais recorrente entre crianças, depois da leucemia e de tumores cerebrais. É o tumor sólido extracraniano mais comum entre a população pediátrica, representando 8% a 10% de todos os tumores infantis.

O aumento do volume abdominal é um dos possíveis sintomas do neuroblastoma. Por isso, segundo especialistas, o tumor pode ser descoberto a partir da queixa de uma criança com dor na barriga, incômodo no tórax ou dor muscular. É mais comum que ocorra até os cinco anos de idade, incluindo os recém-nascidos.

O remédio betadinutuximabe, cujo nome comercial no Brasil é Qarziba, já tem registro na Anvisa e está em estudo na Universidade de São Paulo (USP) e no Hospital Israelita Albert Einstein. A pesquisa tenta reduzir para 20% a dose do remédio no tratamento, o que poderia tornar a medicação mais barata. O Qarziba ajuda o sistema imunológico a identificar possíveis novas células cancerígenas. 

A antropóloga Beatriz de Almeida Matos criou uma vaquinha virtual para ajudar no tratamento do filho Pedro, de 5 anos, que está em tratamento de um tipo de câncer. Beatriz é viúva do indigenista Bruno Pereira, considerado um dos maiores especialistas em povos isolados do País e que foi assassinado em junho de 2022 no Vale do Javari, quando realizava uma expedição com o jornalista inglês Dom Phillips, que também foi morto.

No ano passado, o menino foi diagnosticado com neuroblastoma estágio 4, um tipo de câncer muito agressivo. "Depois de 5 meses fazendo quimioterapia em hospital público, a luta do Pedro é para que o câncer não se espalhe. Isso só pode ser evitado com um medicamento caríssimo (betadinutuximabe), que tem de ser importado e não é oferecido pelo SUS", explicou Beatriz na descrição da plataforma de arrecadação Vakinha.

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A meta é conseguir R$ 2 milhões. Até a manhã desta sexta-feira (5), a campanha havia arrecadado pouco mais de R$ 650 mil, oriundos de cerca de 7,3 mil doadores. As doações podem ser feitas a partir do link www.salvepedro.com.

O neuroblastoma é um tipo de câncer que quase sempre atinge crianças até 5 anos de idade. A maioria dos neuroblastomas se desenvolve nas glândulas adrenais (próximas aos rins), mas pode atingir outros órgãos. No estágio 4, a doença já atingiu os gânglios linfáticos.

"Pedro é filho de Bruno Pereira, um dos indigenistas mais combativos do Brasil, assassinado covardemente em junho de 2022. Um crime que comoveu o mundo e indignou o país. Bruno dedicou a vida à Amazônia. Denunciou o garimpo ilegal e a pesca predatória. Combateu o desmatamento e a grilagem de terras. Enfrentou os invasores das áreas protegidas. Lutou pelos povos indígenas. Defendeu a floresta, o nosso futuro, o futuro dos nossos filhos. Agora, a batalha do Pedro, o filho do Bruno e da antropóloga Beatriz de Almeida Matos, é pela vida", escreveu Beatriz.

"Vamos salvar o Pedro. Entra nessa vaquinha. Colabore como puder. Pedro é filho do Bruno. Pedro é filho da Beatriz. Pedro é nosso filho. É filho do Brasil. Salve Pedro", acrescentou a antropóloga.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu a Ordem de Rio Branco, em uma homenagem póstuma, ao indigenista brasileiro Bruno Pereira e ao jornalista britânico Dominic Phillips, assassinados em junho de 2022 durante viagem pelo Vale do Javari, no Estado do Amazonas. A homenagem aos ambientalistas consta de decreto publicado no Diário Oficial da União (DOU) desta terça-feira (21).

Instituída no âmbito do Ministério das Relações Exteriores em 1963, a Ordem de Rio Branco tem o objetivo de "distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas" e, assim, "estimular a prática de ações e feitos dignos de honrosa menção". A comenda, criada em deferência ao Patrono da Diplomacia Brasileira, o Barão do Rio Branco, tem cinco graus: Grã-Cruz, Grande Oficial, Comendador, Oficial e Cavaleiro, além de uma medalha anexa à Ordem.

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Os homenageados receberam a insígnia pela categoria de "comendador". A Ordem é dividida em dois quadros - ordinário e suplementar - o primeiro destinado a agraciar diplomatas brasileiros da ativa e o segundo, diplomatas aposentados e demais pessoas físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras.

Além do decreto dos ambientalistas, o Diário Oficial desta terça traz um série de outros que concedem a medalha a outras autoridades e instituições. Em um deles, Lula homenageia a própria mulher, a primeira-dama do País, Rosângela Lula da Silva, a Janja. No mesmo ato, também são condecoradas a segunda-dama, Maria Lúcia Ribeiro Alckmin, esposa do vice-presidente Geraldo Alckmin, as ministras Margareth Menezes (Cultura), Simone Tebet (Planejamento) e Esther Dweck (Gestão) e vários outros ministros do governo federal. Todos eles receberam a Ordem de Rio Branco no quadro suplementar no grau Grã-Cruz.

Uma pesquisa realizada no Departamento de Zoologia do Centro de Biociências (CB) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) descobriu cinco novas espécies de lagartos amazônicos do gênero Iphisa. A novidade foi celebrada pela comunidade científica, e uma homenagem foi feita a ativistas ambientais que atuaram nas regiões onde as espécies foram registradas, entre eles Bruno Pereira e Dorothy Stang. 

A investigação científica, encabeçada pela pesquisadora Anna Virginia Albano de Mello, doutoranda em biologia animal na UFPE, teve como objetivo catalogar as novas espécies à medida que diferenças morfológicas foram identificadas. Das sete espécies catalogadas na pesquisa, cinco são a novidade na comunidade zoológica, e seus nomes científicos foram escolhidos para homenagear os seguintes ativistas: Dorothy Stang, Ivaneide Suruí, Alessandra Korap Munduruku, Kátia Pellegrino e Bruno Pereira. 

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Lagartos amazônicos levam nome de ativistas ambientais. Foto: Divulgação/UFPE 

“A nossa ideia era nomear os bichos de uma forma que fosse ajudar os cientistas a localizar cada um, mas diante da situação socioambiental do Brasil nos últimos anos, principalmente no que se refere à Amazônia, com invasões a Terras Indígenas e queimadas, a gente decidiu homenagear essas pessoas que defendem a Amazônia. A gente escolheu Dorothy Stang, Ivaneide Suruí, Alessandra Korap Munduruku, Kátia Pellegrino e por último já em 2022 a gente resolveu homenagear Bruno Pereira. Os nomes não foram aleatórios, eu escolhi homenagear as pessoas que foram atuantes nas áreas onde cada um dos bichos foi descoberto”, afirmou Anna de Mello em entrevista ao portal ((o))eco. 

A pesquisa foi realizada em parceria Universidade de São Paulo (USP) e o Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), na França. A orientação do trabalho foi feita pelo professor Pedro Murilo Sales Nunes. 

 

A Justiça Federal volta a ouvir nesta quinta-feira (27) os três réus acusados de participação nos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado; seu irmão, Oseney da Costa de Oliveira, o Dos Santos, e Jefferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha, prestarão depoimento ao juiz da Subseção Judiciária de Tabatinga (AM), onde corre o processo por duplo homicídio e ocultação de cadáveres.

Como os réus estão detidos preventivamente em presídios federais, em outros estados, a audiência é online, com a participação de seus defensores e membros do Ministério Público Federal (MPF).

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Em março deste ano, a Justiça precisou suspender os depoimentos dos três réus devido à interrupção da conexão com a internet nos presídios federais de Catanduvas (PR) e Campo Grande (MT). A oitiva foi remarcada para o dia 17 de abril, quando voltou a ser adiada, desta vez a pedido da defesa, que solicitou que seus clientes fossem ouvidos em videoconferência reservada. 

Amarildo, Jefferson e Oseney foram ouvidos pelo juiz federal Fabiano Verli em 8 de maio. Cabe ao magistrado, com base nas provas reunidas e nos depoimentos de testemunhas e dos réus, decidir se o julgamento irá a júri popular.

Bruno e Phillips foram mortos no dia 5 de junho de 2022, vítimas de emboscada, quando viajavam de barco pela região do Vale do Javari, no Amazonas. Localizada próxima à fronteira brasileira com o Peru e a Colômbia, a região abriga a Terra Indígena Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares (cada hectare corresponde, aproximadamente, às medidas de um campo de futebol oficial). A área também abriga o maior número de indígenas isolados ou de contato recente do mundo.

A dupla foi vista pela última vez enquanto se deslocava da comunidade São Rafael para a cidade de Atalaia do Norte (AM), onde se reuniria com lideranças indígenas e de comunidades ribeirinhas. Seus corpos foram resgatados dez dias depois. Eles estavam enterrados em uma área de mata fechada, a cerca de 3 quilômetros da calha do Rio Itacoaí.

Colaborador do jornal britânico The Guardian, Dom se dedicava a cobertura jornalística ambiental – incluindo os conflitos fundiários e a situação dos povos indígenas – e preparava um livro sobre a Amazônia. Pereira já tinha ocupado a Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Fundação Nacional do Índio (Funai) antes de se licenciar da fundação, sem vencimentos, e passar a trabalhar para a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Por sua atuação em defesa das comunidades indígenas e da preservação do meio ambiente, recebeu diversas ameaças de morte.

Identificados e detidos, Amarildo, Jefferson e Oseney foram denunciados por assassinar e ocultar os cadáveres das vítimas. Na denúncia, feita em julho de 2022, o MPF aponta que, inicialmente, Amarildo e Jefferson admitiram os crimes, embora posteriormente tenham mudado seus depoimentos. Ainda assim, para os procuradores, “os elementos colhidos no curso das apurações apontam que o homicídio de Bruno teria correlação com suas atividades em defesa da coletividade indígena. Dom, por sua vez, foi executado para garantir a ocultação e impunidade do crime cometido contra Bruno”.

 

A sessão solene para homenagear o indigenista Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips, realizada nesta segunda-feira (19) na Câmara dos Deputados, foi marcada pela defesa da necessidade de proteger os que ainda estão na região próxima ao Vale do Javari, no Amazonas, com a conservação da floresta e a garantia dos direitos dos povos indígenas. Bruno e Dom foram assassinados em junho do ano passado, quando navegavam na região. 

Procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, Eliésio Marubo desabotoou a camisa durante a sessão para mostrar o colete à prova de balas que precisa usar para se proteger. “Eu não quero acreditar que, em um Estado Democrático de Direito, isso aqui seja normal [bate no colete]. Isso não é normal. Andar com segurança do lado não é normal. Não é para ser considerado normal”, lamentou.

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A deputada Juliana Cardoso (PT-SP), que solicitou a sessão, disse que os povos indígenas já perderam muitas pessoas na defesa dos seus direitos e precisam ser cuidados. E citou Bruno e Dom. “Os legados deles vão continuar. Vão ecoar no mais alto tom não somente na Amazônia, mas em todo o nosso Brasil. A voz desta pauta, daqueles que lutam pela garantia dos direitos e da proteção territorial do nosso povo”. 

Em julho de 2022, o Ministério Público denunciou três pessoas pelos homicídios e ocultação de cadáveres. Em janeiro deste ano, a Polícia Federal apontou Ruben Dario Villar, conhecido como Colômbia, como o mandante dos crimes. Ele é suspeito de atuar com pesca ilegal no Vale do Javari. O Ministério dos Povos Indígenas criou um grupo de trabalho para promover a segurança na região. 

*Da Agência Câmara de Notícias

Um ano depois do assassinato do jornalista britânico Dom Phillips (1964-2022) e do indigenista brasileiro Bruno Pereira (1980-2022), a edição de 2023 da Feira do Livro abre os trabalhos nesta quarta-feira (7), com homenagens a ambos. Organizado pela Associação Quatro Cinco Um e pela Maré Produções, a Feira do Livro ocorre até o dia 11 de junho (domingo), na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo. 

Financiada com a Lei de Incentivo à Cultura, a entrada será gratuita para quem quiser acompanhar algumas das 94 tendas e 23 bancadas do evento ao longo dos cinco dias. Ao todo, serão 60 autoras e autores, e 144 expositores. Dentre eles, nomes conhecidos como o fotógrafo Bob Wolfenson, a professora Patrícia Hill Collins, o escritor Itamar Vieira Junior, e o também escritor Milton Hatoum.  

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A sessão de abertura da feira, que entra em segunda edição, contará com a participação do líder Yanomami Davi Kopenawa, que lançará um livro em colaboração com Bruce Albert e com o jornalista britânico, correspondente do jornal The Guardian no Rio de Janeiro, Tom Phillips. O encerramento da feira do ano passado quando os autores que se apresentaram prestaram uma homenagem a Bruno e Dom, cujos corpos haviam sido descobertos pela polícia, no Vale do Javari, Amazonas. 

Um ano após os assassinatos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, no Vale do Javari, no Amazonas, seis cidades brasileiras fazem atos nesta segunda-feira (5), em memória das vítimas. Os atos ocorrem no Rio de Janeiro, Brasília, Campinas, Belém, Salvador e Atalaia do Norte (AM). Também haverá manifestação em Londres, na Inglaterra.

No Rio de Janeiro, o ato foi na Praia de Copacabana, na zona sul da cidade, e reuniu a viúva de Dom, Alessandra Sampaio, seus familiares e amigos do jornalista.

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Alessandra Sampaio destacou que confia na Justiça brasileira para julgar os assassinos e mandantes do crime. Ela acredita que o julgamento seria um recado importante para as redes criminosas que atuam no Vale do Javari e em outras áreas da Amazônia. Ela também defendeu que é importante proteger as pessoas que vivem nesses territórios das organizações criminosas que atuam na Amazônia.

“Essa rede criminosa se aproveita da pobreza que existe na região, de uma falta de oportunidade de trabalho. Eles arregimentam pessoas para trabalhar no garimpo, para desmatar florestas. E quando a gente vai mudar isso? A gente vê isso desde sempre. Vai precisar morrer mais jornalista lá? Vai precisar morrer quantos indígenas? Quantos ativistas vão precisar ser mortos para se ter uma mudança real?”, cobrou Alessandra durante o ato, no Rio de Janeiro.

Vale do Javari

O líder indígena Beto Marubo, integrante da Organização Representativa dos Povos Indígenas da Terra do Vale do Javari (Univaja), também participou do ato no Rio de Janeiro.

Ele afirmou que, apesar da mudança de governo na esfera federal neste ano, nada mudou em relação à realidade daquela região.

“O governo brasileiro deve uma explicação para o mundo, e quais providências vão fazer a partir de agora. O que o Brasil vai fazer de fato? Não temos uma resposta oficial das autoridades ainda”, disse.

Segundo Marubo, durante a transição de governo foram apresentadas várias sugestões para melhorar a situação do Vale do Javari, mas até agora nenhuma dessas medidas foi adotada.

“O Estado brasileiro tem que ter responsabilidade e estar ciente de que uma ou duas instituições [sozinhas] não vão resolver o problema. Tem que ter uma atuação interagências, coordenada, com um planejamento técnico, em conjunto com Funai, Exército, Polícia Federal, Ibama e Força Nacional. Numa perspectiva de curto, médio e longo prazo”, defendeu.

Ele disse que as estruturas da Funai na região são muito precárias e a agência não tem hoje capacidade de enfrentar criminosos armados. “É preciso haver uma reestruturação dos equipamentos e infraestrutura na região. Não tem como enfrentar a situação no Vale do Javari com seu organograma totalmente desatualizado. É necessário regulamentar o poder de polícia da Funai. Como um órgão que detém a responsabilidade de proteger terras indígenas vai enfrentar pessoas armadas, por exemplo?”

Marubo também criticou a aprovação do Projeto de Lei do Marco Temporal para demarcação de terras indígenas (PL 490/07), pela Câmara dos Deputados.

“Esperamos que ela não venha a ser convalidada [pelo Senado], porque isso seria um retrocesso tremendo. É algo que vai afetar diretamente os povos indígenas isolados. Ela permite a usurpação das terras indígenas”, destacou.

Livro

Amigos e colegas jornalistas de Dom vão se reunir, a pedido de sua família, para concluir a livro do britânico. O projeto iniciou uma campanha de financiamento coletivo para levantar as 16 mil libras esterlinas (cerca de R$ 100 mil) necessárias para a conclusão do trabalho. Até a manhã desta segunda-feira, a campanha já tinha angariado cerca de 10,5 mil libras.

“Vamos imediatamente começar a enviar repórteres para sete locais remotos da bacia amazônica, que é 28 vezes maior que o Reino Unido. A maioria dos lugares onde precisar chegar só são acessíveis por barco, trilhas a pé que levam dias no meio da floresta ou pegando carona em um helicóptero”, informa o texto que anuncia a campanha.

“Os destruidores da Amazônia continuam extremamente poderosos e precisam ser responsabilizados por seus crimes”, alerta o documento.

Um ano

Bruno e Dom foram mortos em uma emboscada, quando o jornalista reunia informações para um livro que escrevia sobre a Amazônia. O livro Como Salvar a Amazônia buscava contar a história de defensores da floresta e dos direitos indígenas na floresta amazônica.

O indigenista foi morto com três tiros, sendo um deles pelas costas, sem qualquer possibilidade de defesa. Já Dom foi assassinado apenas por estar com Bruno, ou seja, para eliminar a testemunha do crime.

Três pessoas foram denunciadas à Justiça Federal por envolvimento no crime e na ocultação dos corpos: Amarildo da Costa Oliveira, Oseney da Costa Oliveira e Jefferson da Silva Lima. Eles alegaram legítima defesa, em depoimento à Justiça, em maio.

A Polícia Federal (PF) também indiciou outras pessoas, entre elas dois ex-dirigentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), por dolo eventual, ao não garantir a segurança de seus servidores na região.

A PF investiga ainda Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como Colômbia, que, suspeita-se, tenha sido o mandante do crime. Segundo a PF, a suspeita é que ele tenha planejado os assassinatos devido a desavenças com Bruno, já que o servidor licenciado da Funai atuava contra a pesca ilegal na região.

Um inquérito da PF contra a pesca ilegal também foi encerrado com o indiciamento de dez pessoas.

 

Conhecer e proteger alguém usando apenas os rastros que deixa pelo caminho - arcos, flechas, artefatos, vestígios de alimentos e itens de acampamentos provisórios. É dessa forma que trabalham indigenistas que se ocupam da defesa de povos em isolamento voluntário, como Bruno Pereira, que esteve à frente da Coordenação-Geral de Índios Isolados e de Recente Contato, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), e foi morto em junho de 2022, em uma emboscada que também custou a vida do jornalista britânico Dom Phillips, correspondente do The Guardian. Ambos pagaram o preço por denunciar crimes socioambientais praticados no Amazonas.

Um ano depois de os dois serem assassinados, restam, para muitas pessoas, dúvidas sobre as comunidades que buscavam proteger. Os povos isolados estão em maior número no Brasil do que em qualquer outro local no mundo, na Terra Indígena (TI) Vale do Javari, onde também vivem outros agrupamentos indígenas, inclusive alguns de recente contato.

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O isolamento é, em geral, uma escolha dessas comunidades. Elas preferem manter distância de não indígenas, e até mesmo de outras etnias, por diversas razões. Um dos principais motivos é a recusa em manter uma ponte com o Estado e a existir em conformidade com a lógica do lucro, uma vez que, na maioria das vezes, já foram vítimas dessa situação, tendo experimentado matanças de seus pares. Há possibilidade de ter havido um trauma oriundo de outras vivências, como a de choque com outros povos. Como destaca um livro do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Editora da Universidade Federal do Amazonas sobre o assunto, "a existência de grupos indígenas isolados, muitos enxotados de  suas  terras  e  em  busca  de  refúgio  em  lugares  de  acesso  muito difícil, alerta para o 'terrorismo do desenvolvimento', pensado em função de interesses externos, fora da Amazônia".

A obra do Cimi, de 2011, ressalta que o isolamento é mais comum na região amazônica por causa de suas características geográficas e ambientais. Contudo, outros locais, como o Cerrado brasileiro, o Gran Chaco, localizado entre o Paraguai e o Sul da Bolívia, e ilhas da Nova Guiné e do Sul da Índia também são lar de povos em isolamento voluntário.

Conforme esclarece o antropólogo Tiago Moreira, do Instituto Socioambiental (ISA), muitos povos deixam o isolamento para sinalizar que estão em apuros diante das ameaças à sua existência e ao seu modo de viver. O pedido de ajuda pode ocorrer mesmo que não seja de maneira explícita, e sim sutil. "Muitas vezes, esses povos têm contato intermitente, esporádico, com outros povos indígenas, por meio dos quais conseguem até ter acesso a instrumentos de metal, como facão, machado", afirma, em complemento à definição do que são os povos em isolamento voluntário.

O fundador do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), o antropólogo Gilberto Azanha, enfatiza que o número reduzido de rastros e indícios que os povos em isolamento voluntário deixam é proposital e calculado. "O que significa viver escondido? Viver escondido significa deixar pouca pista", diz ele, que atualmente é conselheiro consultivo do CTI. "São várias situações. Cada povo tem uma pequena história, profunda, sobre suas experiências de contato com outros, sejam os outros terríveis, como os agentes da nossa sociedade ocidental, sejam missionários, agentes da especulação imobiliária, madeireiros, e com outros povos indígenas da região, seu entorno. Todos construíram a sua, seja lá por que motivo. A gente só vai especular quando eles decidirem se apresentar e expor a sua história, por que se isolaram, por que passaram a viver escondidos. Isso a gente só pode especular."

O povo isolado que vive na TI Massaco, em Rondônia, diz Azanha, é um dos que têm demonstrado curiosidade de ver o que se passa em suas fronteiras. "Eles têm umas saídas, os especialistas costumam falar dos jovens, para observar o que se passa e nisso deixam algumas pistas que o pessoal da Funai acompanha e ativa um sistema de proteção mais eficaz nessas áreas onde têm aparecido, meio de repente."

Como não há, geralmente, uma comunicação verbal com os povos em isolamento, que poderia permitir maior entendimento sobre a cultura de cada, eles podem ser identificados a partir de seu ponto geográfico. Há nomes como "isolados do Alto Xeruã", "isolados do Rio Copaca/Uarini" e "isolados do Igarapé Lambança".

Alguns desses povos, explica Azanha, desenvolvem sofisticação em suas andanças e movimentos, tenho habilidades excepcionais, por exemplo, de caminhar na floresta à noite. Como o intuito é perambular despercebido, um deles até parou de fazer roçados, de abrir clareiras na mata e de construir casas mais permanentes.

Tiago Moreira comenta ainda que, nos anos 80, houve, em Rondônia ocorrências de povos isolados e de recentes contatos, que acabaram se deparando com pessoas que não pertenciam à sua comunidade e o resultado disso foi um elevado número de mortes. "A partir dos anos 80, também foi construída uma política de não contato, principalmente baseada no fato de que as experiências de aproximação eram desastrosas, as pessoas morriam, os grupos passavam por um processo de perda populacional muito grande. Então, a Funai, junto com os antropólogos, indigenistas, se reuniram para decidir o que fazer. Aí, foi indicada essa política de não contato e adotada uma série de protocolos, porque, eventualmente, esse contato teria que ser feito em caso de risco desse grupo [isolado].

Rede de proteção

O órgão que oficialmente faz o acompanhamento e registro dos povos em isolamento voluntário é a Funai. Contudo, outras organizações, como o Instituto Socioambiental (ISA), colaboram com essa função. A autarquia, afirma Tiago Moreira, busca vestígios e tenta manter distância segura desses povos". "É um trabalho muito minucioso e cuidadoso, porque encontrar os vestígios dessas populações na floresta é uma coisa realmente bastante difícil. E, ao mesmo tempo, não se pode ficar ali dando bobeira, porque pode-se encontrar com esses isolados. Já aconteceu, a gente perdeu um colega da Funai, o Rieli [Franciscato, coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau]. Ele estava fazendo uma ação de proteção na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, porque os isolados estavam sendo vistos fora da terra indígena. Tinham aparecido em uma fazenda, uma chácara, algo assim, que fica no limite da terra indígena, e foi para lá, a fim de tentar entender a situação e ver esses vestígios, para saber por onde estavam andando. Acabou sendo flechado por esses isolados. É um trabalho que é feito a distância", diz o antropólogo, completando que quando a área ainda não é demarcada, há um empenho para, pelo menos, interditar o território, com o objetivo de preservá-la contra invasores e ameaças.

Segundo Moreira, no caso do ISA, o monitoramento é feito com a ajuda de satélites. "Nesse caso, tentando mais monitorar as pressões ao território do que propriamente se os isolados estão ali, porque, pelo satélite, é quase impossível acompanhar a presença deles. Então, a gente faz um monitoramento das ameaças, principalmente do desmatamento", esclarece.

Para o antropólogo do ISA, os maiores inimigos, atualmente, dos povos em isolamento voluntário são o garimpo e o desmatamento. Além disso, enfrentam o narcotráfico, fazendeiros, caçadores, posseiros, madeireiros e a especulação imobiliária.

Moreira lembra que, no interior da TI Yanomami, há povos com esse perfil. "O que a gente viu nos últimos quatro, cinco anos foi que houve um crescimento do desmatamento em terras indígenas sem precedentes e que boa parte dele foi em terras indígenas com a presença de povos isolados".

PL 490/2007

Outra entidade que forma a rede proteção é o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), criado, conforme conta uma de suas integrantes, Luisa Suriani, durante o governo Bolsonaro, como reação ao aumento da vulnerabilidade dos indígenas. Muitas pessoas que fazem parte do observatório, relata ela, deixaram outras atividades com que estavam envolvidas para se dedicar exclusivamente a ele, após a morte de Bruno Pereira e Dom Phillips.

A mestranda em antropologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) diz que o Projeto de Lei (PL) 490/2007, aprovado na última terça-feira (30) na Câmara dos Deputados por 283 votos contra 155, contém trecho relacionado aos povos em isolamento que preocupa especialistas. O Artigo 29 da proposta, que trata do marco temporal na demarcação de terras indígenas, permite que haja contato com esses povos, "para intermediar ação estatal de utilidade pública". No último dia 26, o OPI e o Cimi já alertaram para esse aspecto, questionando o contato forçado e denunciando que, em nome de "suposto interesse público", grandes empreendimentos promoveram verdadeiros massacres, genocídios, como a construção de rodovias, hidrelétricas, projetos de mineração, colonização e agropecuária.

"Isso abala completamente a política do não contato, que é a da Funai. Ou seja, a gente respeita a autonomia dos povos isolados e entende que essa forma de viver é uma forma de recusar o contato direto. O Artigo 29 propõe uma coisa que vai contra a política do não contato, consolidada no Brasil, e impõe um problema muito grave", afirma Luisa.

Embora acredite que esteja em curso, pelo governo Lula, o que chama de "desintrusão da Funai", isto é, a troca de figuras com posição anti-indígena por indígenas e indigenistas com anos de carreira na autarquia, Luisa diz que a recuperação do desmonte, que se estende a limitações de orçamento, ainda provoca inquietude. "As frentes de Proteção Etnoambiental, que são bases da Funai por região e cuidam de registros de povos isolados, sofrem com falta de comida. Daqui a pouco, não vai ter comida para abastecer essas bases. É uma coisa muito elementar", afirma.

A noção de que poucas pessoas dominam conhecimentos sobre os povos em isolamento voluntário é uma percepção errônea, para a antropóloga. "No fim das contas, os verdadeiros especialistas são os próprios indígenas que compartilham os territórios com eles. Só que, durante muito tempo, a questão dos isolados ficou muito marcada como uma política da Funai. São dados muito sigilosos, até por essa questão de invasão. Então, há dificuldade de se acessar as informações justamente por causa da proteção desses dados. Muitas vezes, cria-se essa nebulosidade de que é algo que poucos sabem. Não, na verdade, quem está no campo, na base, que são os próprios indígenas, sabe disso muito bem. E acho que, dentro da antropologia, agora pensando em algo mais acadêmico, também para uma discussão política, é uma pauta que tem crescido, têm sido ampliado esses estudos mais antropológicos, sociológicos. Mas a expertise de fato é de quem está em campo, que são os próprios indígenas", defende a pesquisadora, para quem a devida remuneração e contratação dos indígenas que têm proximidade com os isolados deve ser uma prioridade da Funai.

A Agência Brasil procurou a Funai e o Ministério dos Povos Indígenas, mas não teve retorno até o fechamento desta matéria.

A Polícia Federal indiciou o ex-presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) Marcelo Xavier por dolo eventual nos assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, mortos em junho de 2022 em uma emboscada na região amazônica. O ex-vice-presidente da então Fundação Nacional do Índio Alcir Amaral Teixeira também foi indiciado.

Em nota, a Polícia Federal diz que Xavier e Teixeira tomaram conhecimento, em reunião da Funai no dia 9 de outubro de 2019, do “risco de vida dos servidores do órgão e não adotaram as providências necessárias para a proteção dos funcionários”. Bruno era funcionário da Funai e estava licenciado.

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De acordo com a PF, por não tomarem providências, Marcelo Xavier e Alcir Teixeira “teriam assumido o risco do resultado de suas omissões, que culminou no duplo homicídio”.

Marcelo Xavier foi exonerado do comando da Funai em dezembro de 2022. Ele assumiu o cargo em julho de 2019.   

Caso Bruno e Dom

Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos nas proximidades da Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas. Eles articulavam um trabalho conjunto para denunciar crimes socioambientais na região do Vale do Javari, onde há a maior concentração de povos isolados e de contato recente do mundo.

Na Terra Indígena Vale do Javari, encontram-se 64 aldeias de 26 povos e cerca de 6,3 mil pessoas.  As autoridades policiais colocaram sob suspeita pelo menos oito pessoas, por possível participação nos homicídios e na ocultação dos cadáveres.

A Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) decidiu nesta semana anular depoimento de três acusados pelos assassinatos. Pela decisão, devem ser anulados e colhidos novamente os depoimentos dos réus Amarildo da Costa Oliveira, Oseney da Costa Oliveira e Jefferson da Silva Lima.

Em depoimentos da semana passada, os réus voltaram atrás na confissão que haviam feito à polícia e passaram a sustentar uma versão segundo a qual agiram em legítima defesa. Foi a primeira vez que os três se manifestaram perante o juiz.

No final de outubro de 2022, o suposto mandante do assassinato, Rubens Villar Pereira, foi posto em liberdade provisória após pagar fiança de R$ 15 mil.

A Agência Brasil tenta contato com os ex-dirigentes da Funai, indiciados pela Polícia Federal.

A Diretoria do Departamento de Proteção Territorial e de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato será ocupada por Beatriz de Almeida Matos. Com a publicação no Diário Oficial dessa quinta-feira (16), a antropóloga entrou para o Ministério dos Povos Indígenas.  

Beatriz Matos é antropóloga e professora da Universidade Federal do Pará. Ela também já presidiu o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi). 

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"É uma honra fazer parte desse Ministério. Aceitei o desafio com esperança, alegria e saudade. Vou com ele e vários parceiros para fazermos o que sonhamos juntos", escreveu nas redes sociais 

Ela foi casada e teve dois filhos com Bruno Pereira. O indigenista que foi executado em junho do ano passado junto com o jornalista britânico Dom Phillips, durante uma expedição no Vale do Javari. Em janeiro deste ano, a Polícia Federal apontou como mandante dos homicídios, Ruben Dario da Silva Villar, conhecido como "Colômbia", responsável por fornecer munição aos executores. 

A primeira-dama Michelle Bolsonaro será condecorada com a medalha Mérito Legislativo, nesta terça-feira (6), pela Câmara dos Deputados. A honra também será prestada ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista Dom Phillips, assassinados em junho deste ano no Vale do Javari, terra indígena no Amazonas. Outras 28 personalidades receberão a insígnia no evento. 

A medalha é concedida a autoridades, personalidades, entidades e instituições que tenham prestado serviços relevantes ao Poder Legislativo ou ao país. Além de Michelle, Bruno e Dom, também serão contemplados o ministro Marcelo Queiroga (Saúde), o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, o vice-presidente do União Brasil, Antonio Rueda, e a presidente do Podemos, Renata Abreu e o padre Júlio Lancellotti. 

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Será a quarta vez que a primeira-dama recebe a medalha do Congresso. Em dezembro de 2021, Michelle foi condecorada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) com a medalha da Ordem de Rio Branco, em uma cerimônia realizada no Palácio Itamaraty, em Brasília. Os feitos que levaram à decisão pela condecoração não foram justificados. 

Além dela, aliados políticos e ministros, como o da Saúde, Marcelo Queiroga, e o da Justiça, Anderson Torres, além do procurador-geral da República, Augusto Aras, também receberam a condecoração da Ordem de Rio Branco no último ano. 

Segundo consta no regulamento de entrega da medalha, o objetivo da homenagem da Ordem de Rio Branco é "galardoar as pessoas físicas, jurídicas, corporações militares ou instituições civis, nacionais ou estrangeiras que, pelos seus serviços ou méritos excepcionais, se tenham tornado merecedoras dessa distinção". 

 

Foi aprovado nesta quarta-feira (30) o parecer final da comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha a investigação do assassinato do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, na região do Vale do Javari (AM). O documento pede a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar crimes praticados na região, entre outras medidas.

A relatora, deputada Vivi Reis (Psol-PA), destacou a “omissão planejada do governo em favor do crime organizado” e a falta de atuação de autoridades diante de "tragédia anunciada", referindo-se ao potencial de conflitos envolvendo diversos interesses na região.

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A principal conclusão do texto é a necessidade de aprofundamento das investigações.  “Até o momento, não foi dada uma resposta adequada, e não vamos deixar que um tão repugnante crime caia no esquecimento. É preciso fazer justiça e honrar a memória de Bruno e Dom”, reforçou a parlamentar.  

Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram no 5 de junho. Ambos estavam recebendo ameaças de pessoas que atuam ilegalmente na região. Até o momento, Amarildo da Costa, Osney da Costa e Jefferson da Silva foram denunciados e presos pela participação no assassinato, mas ainda não foram ouvidos em juízo.

A relatora observa que a princípio a Polícia Federal negava a a existência de uma organização criminosa, baseando a investigação na atuação exclusiva dos três denunciados. No entanto, com pressão de indígenas e indigenistas, as investigações passaram a envolver outros delitos, como o tráfico de drogas.

“Está nítida a existência de associações que não financiam apenas a pesca ilegal, mas que também podem estar utilizando essa prática para lavagem de dinheiro proveniente de tráfico internacional de drogas”, ressaltou Vivi Reis.

No entanto, o parecer aponta um retrocesso no caso: no início de outubro, uma decisão da Justiça Federal no Amazonas concedeu ao suspeito apontado como mandante do crime, Rubens Villar Coelho, o "Colômbia", o direito de cumprir prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica.  

A relatora reiterou que essa decisão intensificou o clima de tensão e medo na região. "A prisão do “Colômbia”  foi fruto do grito daqueles que não se conformaram com as conclusões precipitadas, daqueles que não aceitaram a afirmação do Ministro da Justiça de que se tratava de um caso isolado extremamente normal", frisou a deputada.

O relatório também pede a exoneração imediata do presidente da Funai, Marcelo Xavier da Silva, bem como a apuração, pelo Ministério Público Federal (MPF), de suposta ilicitude na conduta de Xavier e de outros gestores da fundação, que teriam atuado para viabilizar o garimpo e a pesca ilegal em territórios indígenas. 

"A manutenção de Marcelo Xavier na presidência é uma afronta aos servidores da Funai, aos colaboradores da União dos Povos Indígenas do Vala do Javari (Univaja) e de outras entidades indigenistas. É um ultraje a todos que se preocupam com a vida humana e com os povos indígenas da Amazônia", justifica a relatora.  O deputado José Ricardo (PT-AM), coordenador do colegiado, afirmou que o texto aprovado vai ser crucial para o novo governo, que assume em janeiro. 

“Todas essas medidas são muito importantes para que a gente cobre do próximo governo que realmente fortaleça todas as estruturas do Estado; além do ministério, temos todas as outras áreas que são importantes para atender aos povos indígenas”, defendeu o deputado. 

*Da Agência Câmara de Notícias

Pescadores ilegais que atuam na região remota da Amazônia onde o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram assassinados este ano ameaçaram de morte e abriram fogo contra um grupo de indígenas. É o que denunciaram nesta sexta-feira (18) organizações de direitos humanos.

O ataque é o mais recente episódio de violência no Vale do Javari, onde o brasileiro e o britânico foram mortos a tiros em junho, supostamente por um grupo de pescadores ilegais.

A região, próxima à fronteira com o Peru e a Colômbia, abriga a maior concentração de tribos isoladas do mundo, mas tem sido afetada por um aumento do desmatamento, da caça e da pesca clandestinos, além do tráfico de drogas.

A tribo Kanamari disse que cerca de 30 membros de sua comunidade estavam viajando em canoas em seu próprio território quando cruzaram com pescadores ilegais em barcos carregados de peixes e tartarugas.

Os pescadores tentaram suborná-los para que não os denunciassem por pesca predatória na reserva indígena, que é uma área protegida, informou a Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja) em um comunicado.

Segundo a Akavaja, quando uma líder indígena se negou, os pescadores a ameaçaram com uma arma de fogo.

“Por conta de atitudes assim que Bruno e Dom foram mortos pela nossa equipe e você será a próxima. Só não te matarei agora porque estamos na presença de muitas crianças”, teria dito um deles.

Os Kanamari relataram que os pescadores cortaram os cabos do motor de uma das embarcações indígenas e saíram a toda velocidade, atirando contra eles. Os tiros perfuraram tambores de gasolina dentro de uma das canoas.

Ocorrido em 9 de novembro, o incidente foi levado a conhecimento público esta semana. Os líderes indígenas dizem que pediram à polícia a abertura de uma investigação.

“A situação vivida pelos Kanamari demonstra que as investigações dos assassinatos de Bruno e Dom não podem ser consideradas encerradas”, declarou o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados (OPI) em nota.

“É uma indicação óbvia de que a violência voltou a escalar. O risco de novas mortes é concreto”, acrescentou.

Pereira, de 41 anos, e Phillips, de 57, estavam viajando pelo Vale do Javari em uma expedição de pesquisa para um livro quando foram emboscados e assassinados. Nove pessoas foram presas pelo caso.

Bruno Pereira já havia recebido ameaças de morte por seu trabalho em defesa da região e dos povos indígenas.

derechosjhb/msi/mel/dg/ic

A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, é uma das maiores riquezas naturais do planeta, pois encerra em si grande biodiversidade e tem importante papel até mesmo no clima, além de ser a casa de diversos grupos tradicionais indígenas. Fonte imensa de diversos tipos de recursos, a área é também alvo de interesses diversos, entre grupos econômicos e criminosos. O recente desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira reacendeu o alerta sobre a preservação e o cuidado de que a região necessita e que vem sendo deixado a segundo plano.

Com quase 7 milhões de quilômetros quadrados de área, a floresta amazônica se estende por nove países, sendo sua maior parte no Brasil. Um espaço tão grande vem sendo cada vez mais visado por grupos diversos, como o agronegócio e mesmo o narcotráfico. Outras forças também atuam na região e geram tensão e conflitos, os quais colocam em risco não só a biodiversidade local, mas também os povos originários indígenas, que veem suas terras cada vez mais ameaçadas.

O trabalho de Dom Phillips e Bruno Pereira era de investigar essas ameaças. Informações dão conta de que estavam tentando desvendar esquema de comércio ilegal de peixes, além de contrabando de drogas. Sumiram, e, até o momento em que escrevo este artigo, ainda não foram localizados. O caso, que já ganhou repercussão internacional, expõe uma dura realidade: a falta de proteção governamental sobre a Amazônia brasileira. Funai e órgãos ambientais vêm sendo sistematicamente enfraquecidos em nome de um “progresso” insustentável, cuja conta chegará no futuro. Com isso, o crime se estabelece com mais força na área, levando medo e destruição. Já passou da hora de uma ação mais enérgica e contundente. Defender nossas fronteiras e regular a exploração dos recursos naturais é obrigação com a vida do brasileiro. O que será de nós sem a floresta? O que será dos povos indígenas?

É claro que o desenvolvimento e o progresso são bem-vindos e necessários, pois não podemos permanecer estagnados. Eles não podem, no entanto, se estabelecer às custas da devastação e da morte. É possível incentivar setores produtivos, sem que se abram as portas para o desmatamento ou que se tomem as terras indígenas, por exemplo. É uma equação a ser cuidadosamente definida, com vistas a permitir um futuro sustentável e digno para todo o país. Esperemos que o trabalho de Dom e Bruno não seja em vão.

Beatriz Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira, assassinado no Vale do Javari (AM) ao lado do jornalista britânico Dom Phillips, em 5 de junho, cobrou uma retração do presidente Jair Bolsonaro e do presidente da Funai, Marcelo Xavier, por declarações que desabonam a atuação profissional e a memória de Bruno. Ela participou nesta quinta-feira (14) de audiência pública da Comissão Temporária sobre a Criminalidade na Região Norte.

“Gostaria que o presidente do Brasil, o vice-presidente do Brasil e o presidente da Funai se retratassem em razão das declarações ridículas que fizeram. O presidente da Funai falou em ilegalidade da presença deles ali. O presidente da República falou coisas que eu me recuso a repetir aqui. Isso não é uma questão menor. É uma questão muito séria”, disse Beatriz.

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Ela disse que não recebeu qualquer palavra de condolência do governo brasileiro e criticou a falta de apoio da presidência da Funai. Por outro lado, ela agradeceu as homenagens dos povos indígenas e o apoio de deputados e senadores.

Além de Beatriz, a comissão também ouviu o líder indígena e ex-coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) Jader Marubo. Ambos relatam um processo de desmonte  das estruturas de fiscalização na Amazônia. Indígenas e servidores da Funai vivem um ambiente de medo e ameaças por denunciarem a atuação ilegal de garimpeiros, pescadores, caçadores e do narcotráfico na região, relataram os participanes. Para Beatriz, que é antropóloga e também atua no Vale do Javari, o governo tem demorado a agir para enfrentar o problema.

“Que as mortes do Dom e do Bruno sirvam pelo menos para que se construa outra alternativa naquela região. Que seja possível transitar sem sofrer violência”, alertou.

O líder indígena afirmou que Bruno e Dom morreram por lutar pelos direitos dos indígenas e denunciar invasões e atividades ilegais na região. Jader aponta que o presidente Jair Bolsonaro é o responsável pelo desmantelamento da Funai e de órgãos de fiscalização e teria, portanto, parcela de responsabilidade pelas mortes.

“Em campanha mesmo o presidente Bolsonaro falou que iria ceifar a Funai. Hoje, entendemos o que é ceifar a Funai. Eles desestruturou a instituição. Se houvesse uma Funai forte, uma Funai atuante, uma Funai que fizesse o trabalho ao qual ela foi criada para fazer, hoje o Bruno estaria vivo”, disse Jader Marubo.

Jader alertou que as atividades irregulares ameaçam também a floresta e os povos indígenas isolados. O líder indígena respondeu a uma série de perguntas dos senadores como Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Nelsinho Trad (PSD-MS), Humberto Costa (PT-PE) e Leila Barros (PDT-DF), mas os parlamentares optaram por apresentar questionamentos mais específicos de forma reservada diante do risco à integridade física de Marubo.

“Tudo indica que pode acontecer isso [mortes] de novo, se nada for feito”, alertou Marubo.

Da Agência Senado

A Justiça Federal no Amazonas converteu em preventiva - sem data para acabar - as prisões de Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado; Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos; e Jeferson da Silva Lima, conhecido Pelado da Dinha - os três principais investigados pelos assassinatos a tiros do indigenista Bruno Pereira e Dom Philips, na região do Vale do Javari, na Amazônia, no início de junho.

A informação foi prestada pela Polícia Federal, que também indicou que Rubens Villar Coelho, o ‘Colômbia’, também teve prisão preventiva decretada, após ser detido em flagrante por uso de documento falso nesta quinta-feira, 7. Ele é apontado e investigado como um dos financiadores da pesca ilegal em terras indígenas e tem ligação com Amarildo, o Pelado, que confessou o crime e indicou o local onde os corpos foram enterrados.

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Segundo a corporação, os presos devem ser transferidos para Manaus, onde ‘permanecerão à disposição das autoridades policiais e da Justiça Federal’. A PF ainda investiga a suposta participação de mais cinco pessoas na ocultação dos corpos. Elas foram indiciadas, segundo informou a corporação em coletiva nesta sexta-feira, 8.

A conversão das prisões temporárias dos três principais investigados da chamada Operação Javari foi solicitada pela Polícia na quarta-feira, 6. O pedido foi analisado pela Justiça Federal, uma vez que a juíza Jacinta Silva dos Santos, da Comarca de Atalaia do Norte, no interior do Amazonas, declinou da competência do caso. A decisão atendeu um pedido do Ministério Público do Estado.

Ao analisar o relatório das investigações realizadas pelas Polícias Civil e Federal, a magistrada considerou que a motivação dos assassinatos de Bruno e Bom está diretamente ligada com os direitos indígenas, ‘cuja análise da matéria jurídica é de competência da Justiça Federal’, informou o Tribunal de Justiça do Amazonas.

Segundo a promotoria, a possível motivação do crime está ligada à defesa dos direitos indígenas decorrente da atuação do indigenista Bruno Araújo no combate a pesca ilegal dentro da reserva indígena do Vale do Javari.

A família do indigenista Bruno Pereira se manifestou por meio de uma nota durante o velório realizado, nesta sexta-feira (24), na Região Metropolitana do Recife. O texto escrito coletivamente foi lido pela cunhada dele, Thamy Rufino. Na nota, eles agradeceram pelo apoio e reverenciaram a memória do pernambucano.

--> Povos Xukuru de Pesqueira (PE) homenageiam Bruno Pereira

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Extremamente emocionada, Thamy leu a nota para a imprensa presente no Cemitério Morada da Paz, em Paulista (PE). Ela falou sobre a dedicação e amor dele pela causa indígena e agradeceu o apoio daqueles que estiverem ao lado dele durante o que chamou de “missão”.

"Bruno tinha uma missão e iluminou sua causa. Durante toda a última semana, indígenas de todo o país fizeram rituais de passagem em homenagem a Bruno. Agradecemos a todos... Somos eternamente gratos", diz parte do texto.

A nota também exaltava a vida de Bruno adjetivando o indigenista como corajoso e fiel à causa indígena. Por fim, a família afirmou que que este está sendo um momento dedicado ao "amor e oração".

Bruno Pereira foi morto ao lado do jornalista inglês Dom Phillips, durante uma expedição na região do Vale do Javari, no Amazonas. O crime aconteceu em 5 de junho, mas os corpos de ambos foram localizados somente 10 dias após o ocorrido. O inicial desaparecimento e as mortes dos pesquisadores tomaram proporção internacional e jogaram luz às situações de violência envolvendo indigenistas e membros dos povos originários na região da Amazônia.

O corpo de Bruno chegou ao Recife, capital pernambucana, na noite da última quinta (23), em um avião da Polícia Federal e foi levado em seguida ao cemitério onde acontece o velório. A cremação do corpo está prevista para as 15h no mesmo local. Momento deve ser restrito apenas aos parentes e amigos.

Uma comitiva vinda de Pesqueira, cidade localizada no Agreste de Pernambuco, esteve presente no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, Região Metropolitana do Recife, para o velório do indigenista Bruno Pereira. Liderados pelo cacique Marcos Xukuru, eles entoaram cânticos e tocaram maracás em homenagem ao pernambucano assassinado na Amazônia durante uma expedição na região do Vale do Javari no início do mês de junho.

Os indígenas entraram caminhando em silêncio no cemitério. O cacique Marcos, prefeito eleito de Pesqueira e filho do Cacique Chicão, assassinado em maio de 1998 por causa de problemas relacionados à posse de terras, falou sobre o trabalho de Bruno.

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"A luta dele não acaba aqui. Hoje ele se transformou em um encantado, é através deles que seguimos defendendo nossa mãe terra. Hoje ele se torna um mártir para as causas indígenas", declarou.

Em seguida, o grupo encaminhou-se à sala de velório onde continuaram cantando e tocando em volta da urna funerária. Eles também saudaram deuses da floresta e mestres e mestras da Jurema Sagrada enquanto eram aplaudidos pelos demais presentes. "Desde ontem estamos em rituais sagrados. Não poderíamos deixar de estar presente aqui hoje representado todos  os que não puderam estar aqui. E dizer que Bruno vive em cada um de nós", disse o Cacique Marcos.

Bruno Pereira foi morto ao lado do jornalista inglês Dom Phillips, durante uma expedição na região do Vale do Javari, no Amazonas. O crime aconteceu em 5 de junho, mas os corpos de ambos foram localizados somente 10 dias após o ocorrido. O inicial desaparecimento e as mortes dos pesquisadores tomaram proporção internacional e jogaram luz às situações de violência envolvendo indigenistas e membros dos povos originários na região da Amazônia.

O corpo de Bruno chegou ao Recife, capital pernambucana, na noite da última quinta (23), em um avião da Polícia Federal e foi levado em seguida ao cemitério onde acontece o velório. A cremação do corpo está prevista para as 15h no mesmo local. Momento deve ser restrito apenas aos parentes e amigos.

O indigenista Bruno Pereira, assassinado na Amazônia (AM), está sendo velado na manhã desta sexta-feira (24), no Cemitério Morada da Paz, no município de Paulista, Região Metropolitana do Recife (PE). Amigos, familiares e membros de movimentos indigenistas começaram a chegar ao local por volta das 9h para as despedidas finais.

Bruno Pereira foi morto ao lado do jornalista inglês Dom Phillips, durante uma expedição na região do Vale do Javari, no Amazonas. O crime aconteceu em 5 de junho, mas os corpos de ambos foram localizados somente 10 dias após o ocorrido. O inicial desaparecimento e as mortes dos pesquisadores tomaram proporção internacional e jogaram luz às situações de violência envolvendo indigenistas e membros dos povos originários na região da Amazônia.

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O corpo de Bruno chegou ao Recife, capital pernambucana, na noite da última quinta (23), em um avião da Polícia Federal e foi levado em seguida ao cemitério onde acontece o velório. Várias entidades indigenistas, de ensino e comunidades indígenas, como a Karapanam, o Instituto Nacional da Amazônia (INA), a Universidade Federal do Pará (UFPA) e o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, prestaram homenagens através de coroas de flores. A cremação do corpo está prevista para as 15h no mesmo local. Momento deve ser restrito apenas aos parentes e amigos.

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