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A pandemia está modificando a realidade do mundo todo e até as possibilidades do que pode vir a acontecer na corrida presidencial de 2022. Até lá, a covid-19 deve ter passado, mas a forma que ela foi enfrentada e os resquícios deixados definirão o cenário político. “Quanto mais tempo a pandemia dura, maiores são os impactos políticos, econômicos e sociais e isso tende a fustigar qualquer governo”, avalia o cientista político Elton Gomes.

Com vários pedidos de impeachment protocolados contra o presidente da República por conta das suas ações diante da pandemia e a acusação mais grave, feita pelo seu ex-ministro da Justiça Sergio Moro, de interferência política na Polícia Federal, para se apresentar para a reeleição Bolsonaro precisa conseguir terminar o seu primeiro mandato.

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O grande fator para que o presidente da República perca o seu mandato é a falta do apoio parlamentar. Se a estratégia de Bolsonaro não for bem sucedida e não conseguir angariar o apoio do centrão distribuindo cargos e verbas, como já começou a fazer dando o Banco do Nordeste, o DNOCS e outros postos federais para o centrão - que é composto por 14 partidos e 215 cadeiras no Congresso, pode não ter a chance de barrar o processo.

O cientista Político Elton Gomes aponta quatro forças para 2022. A primeira seria o próprio presidente da República, que busca reeleição. O outro candidato que tende a se colocar é um candidato da esquerda, e provavelmente, este candidato deve ser colocado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que é o principal partido da oposição e que é hegemônico na esquerda a despeito de alguns ensaios, como aquele que foi feito por Ciro Gomes, Marina Silva e outras forças que querem se colocar como alternativa mais à esquerda. “No entanto, eles não conseguiram fazer corpo político eleitoral e nem tem uma militância orgânica como o PT, que apesar dos pesares está muito fustigado, desmobilizando o seu principal chefe que é o ex-presidente Lula”, observou.

O estudioso também avalia que o ‘fator Lula’ pesa para a esquerda, mas talvez ele não consiga colocar seu nome na corrida eleitoral. “Ele sofre uma quantidade grande de processos que correm em paralelo e toda vez que ele consegue alguma vitória em um, o outro avança. São oito processos, ele já foi condenado em dois e a tendência que foi estabelecida pelo Supremo Tribunal Federal é que quando ele for condenado no STF, o que é muito provável, ele deve ser reconduzido para a prisão”, analisa Gomes.

Por isso, assim como o líder petista fez em 2018, a tendência é que endosse o nome de um outro candidato. “O problema é que os quadros do PT não têm mais aquela diversidade que tinha. Em 2018 lançaram a candidatura de Haddad, que era um candidato pouco performático, tinha perdido a campanha para a reeleição para a prefeitura de São Paulo, sendo o primeiro prefeito - desde a redemocratização - que não conseguiu ser reeleito na capital paulista”, salienta Elton.

O Senador da Bahia, Jaques Wagner, e o governador do Ceará, Camilo Santana, são os nomes que podem estar no radar do PT para disputar a corrida presidencial, mas nenhum deles até agora parece ser tão próximo de Lula ao ponto dele endossar.

O cientista político aponta ainda outra possibilidade forte para a corrida presidencial, um candidato de centro-direita, que pode vir de uma aliança entre o Democratas, PSDB, fora alguns elementos do centrão e do MDB, que é o maior partido representado no Brasil. Os possíveis candidatos dessa aliança podem ser: o governador de São Paulo, João Doria (PSDB); O governador do Goiás, Ronaldo Caiado (DEM);  ou até mesmo alguém que não está no radar, como o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).

“O próprio outsider pode ser o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que não tendo mais meios para se manter na área jurídica, a perspectiva é que entre para a vida pública. Mas acho pouco provável porque você não começa a sua vida política concorrendo à presidência da República”, pontua Elton.

Inclusive, segundo mostra um levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas, com Moro na corrida presidencial ele assumiria a segunda colocação com 18,1%, perdendo apenas para Bolsonaro, que teria 27% dos votos. Mesmo diante desse cenário, o que parece é que nada está definido para a próxima corrida presidencial. O principal nome da esquerda está impedido, pela lei da ficha limpa, de concorrer, Bolsonaro está passando por uma turbulência política e a ponto de passar por um processo de impeachment.

 

Antes de escolher quem seria o novo chefe da Procuradoria Geral da República (PGR), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) já havia afirmado que não indicaria “um inimigo” para ocupar o cargo. E o novo PGR, Antonio Augusto Brandão de Aras, realmente aparenta ser alinhado as defesas do presidente.  

No discurso de posse, Aras deixou claro que havia aceitado a indicação de Bolsonaro "possuído de fé inabalável nos valores cristãos que orientam esta nação". E ainda salientou que não conceberia um Ministério Público "contrário à nossa cultura judaico-cristã". 

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No mesmo sentido, antes ainda da posse festiva que aconteceu na última quarta-feira (2), ele fez questão de nomear para o comando da Secretaria de Direitos Humanos e Defesa Coletiva da instituição o procurador Ailton Benedito, considerado uma das vozes conservadoras do Ministério Público Federal (MPF).

Na pasta, Benedito deve assessorar o PGR na elaboração das manifestações jurídicas em processos que tramitem no Supremo Tribunal Federal e sejam da área. Ailton Benedito é conhecido por expressar suas opiniões nas redes sociais sobre diversos assuntos, entre elas, já se colocou contra a chamada ideologia de gênero nas escolas e a legalização do aborto. 

Ailton Benedito chegou a ser convidado por Bolsonaro para integrar a Comissão de Mortos e Desaparecidos do governo, entretanto, foi vetado pelo Conselho Superior do MPF, inclusive, com um voto decisivo da ex-procuradora-geral Raquel Dodge.

Apesar desses sinais, Augusto Aras já chegou a dizer que ser de esquerda ou de direita era uma questão superada na ciência política. E para tentar demonstrar um equilíbrio na sua postura, durante a sabatina no Senado argumentou ser contra a chamada cura gay e pregou a necessidade do casamento homoafetivo ser reconhecido pela Constituição Federal. Dois pontos rejeitados pelo presidente que, entretanto, declarou ter sido acometido por um “amor à primeira vista” com o novo chefe da PGR. 

Para o cientista político Elton Gomes, Augusto Aras é alguém que “há algum tempo chegou a se aproximar das ideias da esquerda progressista, mas mais recentemente adotou um discurso neoconservador” e, com isso, conquistou a confiança do presidente. 

“É alguém que tem um perfil hibridista. Alguém que, nos costumes, aproxima-se mais da direita… Augusto Aras ao ser indicado desagradou gente da esquerda e da direita. Os direitistas o veem com desconfiança, alguém que poderia ter um falso conservadorismo ou ser um bolsonarista adesista de ocasião”, ponderou. “Suas próximas movimentações é que vão dizer onde vai repousar a sua lealdade, se de mais alinhado ao governo ou de autonomia”, acrescentou.

Segundo Gomes, as últimas posturas do novo procurador-geral também deram a entender que ele tem “habilidade política” e “mesmo tendo um discurso recente mais conservador, que se aproxima do presidente e seu grupo político, reforça muito a importância de continuidade das operações de combate à corrupção”, como a Lava Jato, e outras iniciativas que atingem tanto políticos do PSL quanto de legendas da base governista. 

Ainda na ótica do estudioso, Augusto Aras “em certo sentido, quando você fala de questões identitárias esquerda holística, é muito refratário” e “não deve endossar ações” que tramitem no STF, por exemplo, visando modificar a atual legislação do país em temas como a legalização do aborto.

Como o mandato dele à frente da PGR dura até 2021, podendo ser prorrogado por mais dois anos, e sua gestão está apenas no início, resta aguardar para saber se sua postura seguirá mesmo a linha mais conservadora e governista ou não. 

A tradicional participação do Brasil na abertura da assembleia-geral da Organização Nações Unidas (ONU) tem atraído ainda mais holofotes neste ano. A expectativa é diante do teor que deve embasar o discurso do presidente Jair Bolsonaro (PSL), nesta terça-feira (24), uma vez que o perfil do chefe brasileiro é diferente do dos últimos gestores que conduziram as falas no evento internacional. 

Especialistas apontam que, apesar do perfil de confrontacionista, em Nova York Bolsonaro deve ressaltar a soberania nacional e a atuação do governo diante da Amazônia sem fazer ataques diretos e personalizar as críticas, como aconteceu nos últimos dias, por exemplo, com o presidente da França, Emmanuel Macron, com quem Bolsonaro trocou farpas públicas. 

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“O peso do discurso de Bolsonaro é alto, mas ele precisa fazer um que não seja tão ofensivo. A postura de Bolsonaro vai ser importante para a imagem que ele tem e vai construir do Brasil. Essas imagens estão um pouco descoladas, porque os ataques que estão sendo direcionados nos últimos tempos são a ele e não ao país. Ele pode melhorar ou piorar a imagem do Brasil, mas a ideia é que ele utilize essa tribuna para atuar na defesa dos nossos interesses e ter uma postura mais conciliatória”, observou o cientista político Antônio Henrique. 

Na mesma linha, o cientista político Elton Gomes salientou que o presidente “não fará um discurso confrontacionista” e sua fala “não vai ser de enfrentamento total”, mas “parte convidativo e parte protocolar”, com “suas pitadas de retórica” bem particular. 

Estudioso também da política internacional, Gomes ponderou acreditar que o chefe do Executivo brasileiro será “duro contra a Venezuela e o combate internacional à corrupção, mas vai fazer uma critica mais branda aos europeus”.

“Vai ser um discurso que ele vai querer mostrar que houve uma situação grave na Amazônia, que o Brasil esteve imerso em uma crise econômica, mas está saindo, como mostram os números, e o Brasil continua sendo um bom destino para prática de investimento. Não vai colocar nada que ataque a república da China e vai fazer um aceno aos EUA, país que ele está mais alinhado no ponto de vista da retórica política”, projetou o cientista político. 

“A nossa diplomacia é de comércio, não é baseada em questões ideológicas e securitárias, esses são temas menores. E quem faz comércio não pode ter aliados incondicionais nem inimigos declarados”, acrescentou Gomes.

A expectativa ainda é que a fala de Jair Bolsonaro na reunião com os líderes estadistas não seja extensa e a exposição dele seja menor do que os apresentados pelos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

Desde 1949, o Brasil abre o debate central da assembleia da ONU, mas nem sempre os discursos foram feitos pelos presidentes. De acordo com dados da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), Bolsonaro será o oitavo chefe de Estado brasileiro a discursar no encontro. O primeiro foi João Baptista Figueiredo, em 1982. Até hoje, foram 20 discursos presidenciais no evento.

A rara vitória célere do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Supremo Tribunal Federal (STF) contou com um peso: a articulação de lideranças e partidos políticos. De acordo com especialistas ouvidos pelo LeiaJá, apesar do respaldo constitucional que o STF tinha para garantir a continuidade de Lula na chamada Sala de Estado Maior, a movimentação nos bastidores de partidos e o apoio de lideranças como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi levado em consideração na urgência de apreciação do caso. 

Nessa quarta-feira (7), uma decisão do STF - por 10 votos a um - derrubou a determinação da juíza da 12ª Vara de Execuções Penais, Carolina Lebbos, de transferir o ex-presidente da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba para um presídio em São Paulo

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Na manhã do mesmo dia, a magistrada tinha decidido que Lula poderia cumprir a pena, apesar do direito à prisão especial, em presídio comum e em cela coletiva. E a Justiça Federal de São Paulo já havia designado que a transferência ocorresse para o presídio de Tremembé, famoso por alojar presos de crimes com grande repercussão.

“O fato de manter Lula na carceragem é mais política do que garantismo penal, no sentido de resguardar o ex-presidente. Do ponto de vista da celeridade do julgamento e do trâmite pesou a articulação política, mas havia e há embasamento jurídico”, avaliou o advogado e especialista em direito criminal, César Sales, ouvido pelo LeiaJá

“O direito do ex-presidente de ficar em uma sala de Estado Maior é constitucional, mas comumente os presídios do país não têm esse tipo de espaço, por isso a manutenção dele em uma sala improvisada em Curitiba”, acrescentou o jurista. 

Para o cientista político Elton Gomes, a situação da prisão de Lula é “muito particular” porque ele detém, como ex-chefe de Estado, informações que extrapolam o seu governo. “Qualquer pessoa que tenha exercido a Presidência já dirigiu o serviço secreto brasileiro e foi comandante das Forças Armadas. Ex-altas autoridades da República que são levadas a prisão são colocados em um regime penitenciário à parte, como acontece com Lula”, observou o especialista. 

“Mesmo aprisionado em uma cela individual, no presídio de Tremembé, ele teria como vizinhos chefes do PCC, homicidas contumaz e outros criminosos. Seria um desprestígio muito grande. O poder político que ele ainda tem parece ter contado para a decisão do STF neste caso. Inclusive, dos ministros que o julgaram ontem ele indicou alguns, como o atual presidente Dias Toffoli”, completou o estudioso.

Ao argumentar diante do Supremo, a defesa de Lula considerou a transferência para o estabelecimento prisional comum de Tremembé como "descabida" e "ilegal". Antes do julgamento no plenário, assim que tomaram ciência da decisão da juíza Carolina Lebbos, parlamentares de diversos partidos foram até a Alta Corte solicitar a intervenção jurídica. 

O despacho de Carolina Lebbos foi interpretada por alguns como um método para frear os impactos das revelações de conversas da Lava Jato envolvendo procuradores e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, na imprensa. As mensagens, inclusive, apontaram para articulações investigações contra membros do STF. Questionados se interpretavam a votação no Supremo como uma resposta aos integrantes da Lava Jato, os especialistas disseram que não.  

“Quem pedia a transferência do preso era a Polícia Federal. A polícia foi feita para realizar as funções de investigação e manter o preso provisoriamente, não para o cumprimento de pena. Só seria retaliação a Lava Jato se a Procuradoria tivesse dito que era ilegal que ele cumpra pena em uma delegacia”, ponderou Elton Gomes.

“Não foi retaliação a Lava Jato. É uma questão procedimental de uma outra fase, que é o cumprimento de pena. Já está numa fase extraprocessual”, corroborou César Sales.

Esperança 

A sinalização positiva do STF contra a transferência de Lula para Tremembé trouxe também aos petistas um ânimo quanto à futuras avaliações da Corte sobre o caso do ex-presidente - que vinha acumulando derrotas, muitas delas apertadas, na Segunda Turma do tribunal.

Apesar disso, alerta o advogado César Sales, é “temerário dizer que Lula terá um cenário mais positivo [no STF] pelo simples fato de ter conseguido esse congelamento de transferência”. “O julgamento se tratou de um procedimento, não diz respeito ao mérito do processo enfrentado por ele. Não se estava discutindo cumprimento de pena, mas onde ele está cumprimento de pena”, salientou o jurista.

A ponderação foi reforçada pelo cientista político. “Em relação ao mérito da causa não [há otimismo]. Além do triplex, já está avançado o caso do Sítio de Atibaia, que produz argumentos mais contundentes contra o ex-presidente. Mas do ponto de vista das medidas de progressão de penas sim, porque ele é cardiopata, tem mais de 70 anos. A tendência é que ele seja colocado em prisão domiciliar em breve. A grande questão que pode pesar, neste sentido, é se os processos não vão se avolumar produzindo o acúmulo de penas”, considerou Elton Gomes. 

A projeção inicial de perda de fôlego do candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), na campanha eleitoral não se consolidou e o postulante tem cada vez mais solidificado a liderança nas pesquisas de intenções de votos. E, segundo especialistas ouvidos pelo LeiaJá, tem “chances reais” de ser eleito para governar o país, apesar da sua postura conservadora e do movimento antibolsonarista que se formou, principalmente, entre as mulheres. 

Dados do levantamento Datafolha dessa terça-feira (2) apontam Bolsonaro com 32% da preferência dos entrevistados, enquanto o candidato do PT, Fernando Haddad, parou de crescer e ficou na casa dos 21%. Em terceiro lugar vem Ciro Gomes (PDT) registrando 11% das intenções, seguido por Geraldo Alckmin com 9% e Marina Silva (Rede) com 4%. 

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Com este cenário, estudiosos da ciência política têm apostado em um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, mas há quem não descarte uma vitória do deputado federal em primeiro turno. 

Para o cientista político Elton Gomes, a hipótese a partir do curso da disputa eleitoral, é de que com o “colapso do centro democrático” a “alternativa mais a esquerda populista e mais a direita populista” decidam, no segundo turno, a eleição e, apesar de Haddad ter Lula como puxador de votos, Bolsonaro é mais competitivo. 

“Em um segundo turno, Jair Bolsonaro tende a receber massivo apoio dos partidos do centrão, apoio dos setores evangélicos dentro e fora dos partidos, considerável parte do MDB deve seguir com ele, alguns tucanos, que já flertam com Bolsonaro, e ele tende a carrear o voto útil do antipetismo. A maior parcela não vai votar nele pelas suas ideias, até porque ninguém sabe as ideias que ele tem realmente. A eleição de 2018 assume um caráter de petismo e antipetismo versus bolsonarismo e antibolsonarismo”, ponderou Gomes.

Segundo ele, Haddad deve receber apenas os apoios formais dos candidatos Guilherme Boulos (PSOL) e Vera Lúcia (PSTU), enquanto Ciro Gomes deve se colocar como independente na disputa. E, ainda que o PT tenha fama de bom articulador eleitoral, os “principais negociadores estão fora do jogo”, como Lula, que está preso desde abril, José Genoino e José Dirceu, condenados por corrupção e cumprindo penas, e Jaques Wagner que está dedicado a sua campanha para o Senado na Bahia. 

O peso do antipetismo e do antibolsonarismo apontado por Gomes na disputa também foi corroborado pelo cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco, Adriano Oliveira. “O bolsonarismo é um fenômeno que representa o antilulismo e eu vejo que a candidatura de Bolsonaro representa um cisne negro, contrariou todas as variáveis [previstas]. Ele não tem tempo de TV, não tem candidatos fortes aos governos estaduais, apoio de lideranças políticas, mas mesmo assim deve superar Geraldo Alckmin e estar no segundo turno”, observou. 

Na ótica de Oliveira, contudo, não há favoritismos entre os dois concorrentes. “Haddad e Bolsonaro nessa disputa, não tem favoritos no segundo turno. Haddad tem a vantagem de ter as regiões Norte e Nordeste e as classes D e E, parte da classe C. As vantagens de Bolsonaro estão no fato de que ele tem as classes A e B, mas ela é diminuta, e mais fortemente a região sudeste e os evangélicos. Nessa disputa não vejo favoritismo”, argumentou. 

Um ponto crucial, segundo Adriano Oliveira, para a corrida presidencial no segundo turno será a disputa lulismo e antilulismo. “O maior desafio de Bolsonaro é reforçar e ampliar o antilulismo e o de Haddad é amenizar ou reforçar o lulismo. Quem ganhar essa guerra será eleito presidente da República”, salientou, pouco depois de dizer que “o antipetismo pode levar Bolsonaro a ganhar a eleição, assim como o lulismo pode levar Haddad a vencer a eleição”.  

A hipótese de eleição de Bolsonaro também foi comungada por Elton Gomes. “Há chances reais e elevadas dele ser eleito presidente da República. Alguns analistas fizeram projeções matemáticas mostrando que ele pudesse ser eleito no primeiro turno. Não se pode descartar nada, mas acredito ser pouco provável”, ressaltou, dizendo que a ascensão do candidato não é por méritos da campanha, mas por ter lançado a candidatura desde 2013, consolidando o título de “mito”, e por manter um “discurso de medo e ódio”, que “ganhou espaço no mercado eleitoral”.

A cinco meses das eleições presidenciais, os brasileiros estão tendo que absorver discursos e defesas diferenciadas de 16 nomes que já se colocaram para a disputa, considerada por estudiosos como a mais fragmentada desde 1989. A retórica dos pré-candidatos tem perpassado por temas como a efetivação de reformas, entre elas a da Previdência, questões indígenas, ambientais e de moradia, além das empresariais e de cunho mais conservador. 

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Entretanto, apesar da disposição dos pré-candidatos em apresentarem suas posturas nas andanças que têm feito pelo país, o desafio inicial deles quanto a absorção dos seus discursos, de acordo com a cientista política Priscila Lapa, é lidar com o “total desligamento do eleitor” e o “distanciamento da sociedade” com a classe política.    

Sob a ótica da estudiosa, com o espaço de tempo que ainda falta para a campanha eleitoral, a população ainda não está “prestando atenção” nos discursos dos presidenciáveis. Por outro lado, ao analisar o impacto das falas dos postulantes ao cargo de presidente da República a partir do início do período de campanha, ela ponderou que a expectativa será pela transformação das múltiplas exposições feitas em propostas concretas. 

“Quando falamos de eleição presidencial cabe tudo, desde as questões econômicas até as morais. Na última, por exemplo, teve um debate sobre o aborto. No contexto atual, que é um diferencial, as pessoas estão naquela de vamos ver onde tudo isso vai dar, ou seja, se o discurso se sustenta com propostas mais consolidadas ou não”, argumentou.

Como exemplo, Lapa pontuou a retórica do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que aparece em segundo lugar nas intenções de votos. Segundo ela, ainda não há uma proposta clara do pré-candidato. 

“Ele apresenta seu discurso, fala um monte de coisas, mas não consegue concretizar nada, não há uma proposta clara. O desejo de uma proposição viável e concreta que vá além da fala é uma característica apreciada pelo eleitor”, ressaltou a cientista política.

A advertência de Lapa pela ausência de propostas concretas também foi exposta pelo cientista político Antônio Henrique que, além disso, salientou que o nível de fragmentação dos discursos “deixa os votos mais pulverizados pelas diversas matrizes políticas e pensamentos econômicos” apresentados. 

Na análise do estudioso, a possibilidade de sucesso eleitoral é para o postulante que alinhar seu discurso com os anseios do chamado “eleitor mediano”. “Com este nível de fragmentação relativamente elevado a população pode ficar perdida, sem identificar exatamente a centralidade da candidatura de um presidenciável especificamente. A única certeza que nós temos, por hora, é que esta eleição é de dois turnos, por causa desta fragmentação elevada. Neste sentido, o candidato que tem maior chances de vencer o pleito eleitoral é aquele que vai se alinhar ao eleitor mediado, seus anseios e interesses”, explanou. 

Para Henrique, o presidenciável “que ficar colado a algum tipo de elite ou defenda a alguma área específica” deve ter poucos votos. “Qualquer candidato que passar esta imagem de rico, ligado a população mais abastada do Brasil, tende a ter uma quantidade de votos diminuída”, observou, citando o pré-candidato do Novo, João Amoêdo. 

“Assim como também os que defendem a redução de direitos, como por exemplo o caso da reforma trabalhista. Isso, inclusive, explica porque que a reforma da Previdência não conseguiu passar no Congresso ainda este ano, por ser muito mal avaliada, apesar de ser necessária para a manutenção da saúde e da conta do estado”, complementou o cientista político. 

Debate que predominará o pleito

Apesar das identidades defendidas pelos presidenciáveis, o cientista político Elton Gomes acredita que durante o debate eleitoral no período da campanha será predominado por dois pontos: segurança pública e corrupção. 

“Os discursos para candidaturas majoritárias passam pelo entendimento da classe econômica, mas nos últimos anos por conta da operação Lava Jato e do descontrole da segurança pública nos centros urbanos, fez com que se fortalecesse o discurso no ponto de vista da política. A pauta da corrupção e da segurança pública se exacerbaram no Brasil tornando marginal o histórico discurso sobre a estabilidade econômica, que funcionou nas campanhas durante esses últimos 20 anos”, disse. 

De acordo com Gomes, isso se justifica porque a retórica militante, apresentada pela maioria dos pré-candidatos, “não é interessante do ponto de vista do eleitor médio”. “O eleitor médio não é ativista e é ele quem define a eleição. Ele não vê isso como determinante”,  sustentou.

Efeito do discurso na escolha do voto

A cientista Priscila Lapa ainda fez um panorama sobre o efeito das múltiplas falas diante da escolha do voto pelo eleitor. Segundo ela, a absorção, que já não é tão intensa assim, varia de acordo com o perfil do eleitorado.  

“As discussões ideológicas não dominam o eleitorado, estão com quem tem maior instrução e renda, por exemplo. Já o segmento maior, com o menor grau de instrução, vai seguir a escolha pragmática: quem vai resolver o problema do país e como vai. A agenda ideológica perde espaço. O que tem decidido as últimas eleições majoritariamente é a questão econômica. A segurança e confiança na retomada do crescimento da economia”, ponderou, esclarecendo que “apesar das outras questões”, no pleito deste ano isso não vai ser diferente.

Desde 1999 alternando entre os cargos de presidente e primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin está prestes a renovar o mandato à frente do país. O presidente é favorito para as eleições que acontecem neste domingo (18). Segundo o cientista político Elton Gomes, o favoritismo é explicado pela figura de “líder forte” - característica posta historicamente como essencial para um presidente pelos russos - , além do fato de uma geração ter apenas a gestão de Putin como referência de governo depois da extinção da União Soviética. 

“Ele representa um tipo de autocracia. Nunca houve um sistema democrático no território russo e quando foi feito a transição do sistema socialista para capitalista a primeira experiência de gestão não foi de sucesso. Já Putin tem como escola o implacável serviço secreto da União Soviética, a KGB [sigla russa]; ele foi um dos diretores. Desde que assumiu o primeiro mandato está fazendo a receita dos líderes russos para chegar ao poder e permanecer”, salientou o estudioso.

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Apesar de ser alvo de acusações de outros países - como a de ter interferido nas eleições norte-americanas e envenenado o ex-espião russo Serguei Skripal na Inglaterra - e sofrer sanções punitivas quanto a esses fatos, Elton Gomes observa que “o mundo continuará tendo um líder russo que não ressuscitar a União Soviética e quer manter a Rússia como um país que tem o subsistema da região”. 

“Putin vem jogando duro na segurança internacional e no investimento de novas tecnologias militares com países orientais e o Estados Unidos. Ele esta disposto a exportar o poder da Rússia para além do leste europeu. No oriente médio, especificamente na Síria, ele apoia o governo de Bashar al-Assad. Com o novo mandato de Putin, Bashar al-Assad se torna mais confortável para ele vencer a guerra que ceifa milhares de vidas naquele país e tem gerado um número cada vez maior de refugiados”, observou o cientista político. 

Com o mote de campanha "Presidente Forte – Rússia Forte", Putin tem cerca de 70% das intenções de voto e segundo colocado nas pesquisas, Pavel Grudinin, tem apenas 7%. O que demonstra a dificuldade da oposição de fazer um nome para bater o presidente russo na disputa. Isso pode ser explicado pelo controle da mídia local, que está nas mãos do governo.

Eleito com uma coligação composta por 21 partidos, o governador Paulo Câmara (PSB) não deve ter a mesma adesão para a disputa eleitoral de outubro, quando tentará a reeleição. Da aliança firmada em 2014, cinco legendas já deixaram a Frente Popular de Pernambuco - PV, Podemos (antes PTN), PSDB, DEM e PRTB - , além da Rede Sustentabilidade que recebeu o registro da Justiça Eleitoral depois daquele pleito, mas já apoiava o palanque pessebista. 

Um sétimo partido também pode desembarcar do grupo aliado a qualquer momento: o MDB. A saída deste, porém, deve ser ainda mais sentida pois ocupa o posto de maior legenda de sustentação da base governista, depois do próprio PSB. 

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O desfalque pode acontecer porque parte da sigla, liderada pelo senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), defende uma participação protagonista na disputa eleitoral e o senador já se colocou como pré-candidato ao governo, entretanto para que se concretize ele terá que vencer uma briga judicial que enfrenta contra o atual vice-governador e presidente do MDB-PE, Raul Henry, que defende a continuidade na Frente Popular. 

Mesmo assim, Paulo Câmara ainda ostenta um grupo com 17 legendas (PCdoB/PSB/PTC/PRP/PR/PSD/PPS/SD/PPL/PHS/PSDC/PROS/PP/PEN/PSL/ PDT/PSC), a maior frente, até agora, para a corrida eleitoral. Dentre eles, PSC e PP também são incertos, pleiteiam vaga na majoritária e vêm se articulando tanto com o governador quanto com a oposição. Os dois partidos desejam postular o Senado com o deputado estadual André Ferreira e o deputado federal Eduardo da Fonte, respectivamente.

Perdas naturais 

O desembarque dos partidos da base aliada durante os últimos três anos e um mês, foi considerado natural pelo presidente estadual do PSB, Sileno Guedes. 

”Fizemos uma maior aliança em 2014, ou seja, é natural que dentro do processo, até porque cada partido tem suas estratégias e aspirações, tenha aqui a acolá alguma decepção. Não gostaríamos que isso acontecesse, gostaríamos de ter a aliança renovada, mas sabemos que nem sempre isso é possível. Dentro do universo de 21 partidos você perder alguns é natural, mas vamos lutar ainda. Tem tempo para isso”, garantiu.

O pensamento foi comungado pelo cientista político Elton Gomes que avaliou a situação pré-eleitoral do governador. “Em todo o processo de coalisão acontece o que muitas vezes chamamos de fadiga material, passado quatro anos de Paulo Câmara, que não tem mais a figura do líder Eduardo Campos, é natural que você tenha distensões”, considerou. “Esse racha envolvendo o PMDB é o principal, partido que tem o vice e abriu brecha para muitas dissidências”, completou.

De acordo com Gomes, além da aliança, ter a máquina pública nas mãos pesará muito na disputa. 

“A Frente Popular ainda muito potente, mas tem muita rachadura… Apesar desse racha o PSB e as demais agremiações que dão sustentação a Paulo Câmara continuarão com um exército de deputados e candidatos que vão pedir votos para o governador que tem vantagem diante da oposição pelo tamanho da aliança e a máquina nas mãos. Dos últimos governadores, apenas um não foi reeleito, o Mendonça Filho”, lembrou.

Paulo Câmara tem até agosto, quando registrará a candidatura, para manter ou conquistar novos partidos para a Frente Popular. A expectativa, nos bastidores, é de que mesmo com as perdas e o possível desembarque do MDB, o PT, antigo aliado do PSB, retorne a base de sustentação do governo e amplie o leque do pessebista com a adesão de movimentos populares que militam com a legenda petista. 

O neoconservadorismo tem pautado as disputas pelo comando de países da Europa - entre eles França, Holanda e Alemanha - e ampliado a defesa de pautas como o nacionalismo ultra radical, o ataque às minorias e práticas xenófobas. Esta nova onda de um pensamento surgido no século 18, de acordo com o cientista político Elton Gomes é de “dupla natureza” e “não deve atingir o Brasil” durante as eleições de 2018, uma vez que entre os nomes já postos no cenário nenhum se apresenta na defesa de ideias característicos do conservadorismo.   

Fazendo um panorama da conjuntura internacional, o estudioso salientou que o “neoconservadorismo em alguns momentos advoga em favor da lógica tradicional, contra as utopias políticas, e em outros se apresenta como uma espécie de ultra nacionalismo radical, xenófobo, contrário a determinadas inovações importantes”. Segundo ele, isso ocorre principalmente na Europa Ocidental, sobretudo na França com Marine Le Pen e a questão dos imigrantes, mas também na Holanda e na Alemanha. 

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Já quanto às posturas do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, cuja eleição trouxe à tona uma discussão mais intensa sobre o conservadorismo, o cientista político pontuou que não representam o pensamento em sua literalidade. “Ele é muito mais um populista de direita do que um conservador padrão, com a lógica tradicional”, classificou. 

Argumentando sobre a perspectiva conservadora internacional diante da conjuntura política brasileira e um processo eleitoral à vista, Elton Gomes observou que o país “não tem alguém que represente o verdadeiro conservadorismo”, o que faz com que ele descarte um possível peso do aspecto na corrida presidencial em 2018, mesmo com a recém ascensão de lideranças como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).

“Temos algumas alternativas com a retórica de força que, sobretudo, defendem pontos sobre a segurança pública, uma intervenção do Estado para questões consideradas importantes para a manutenção de valores tradicionais, como a igualdade de gênero, mas não é conservadorismo político no espectro liberal conservador”, frisou. “Temos um populista de direita isso sim. Jair Bolsonaro vem crescendo a partir da crise de segurança pública e do colapso moral [dos casos de corrupção]. Como ele, apesar de ter essa retórica confrontacionista, não foi arrolado em escândalos acaba conquistando um capital político interessante”, complementou.

Com seus discursos, Bolsonaro vem aparecendo em segundo lugar nas pesquisas de intenções de votos, variando entre 19% e 30%. Para o estudioso, entretanto, o eventual presidenciável não tem “recursos políticos que lhe permita ser competitivo”.  “Ele não tem um governador, um prefeito que lhe apoie e um tempo de TV pequeno. O que ele pode é fazer capital político para uma eleição seguinte”, observou.

Candidato conservador beneficiaria o país

O Brasil em si é conservador e isso não é novidade, mas um candidato a presidente da República que defendesse tais teses seria benéfico para o país, sob a ótica do cientista político Elton Gomes. 

“Seria benéfico que tivéssemos uma força política de esquerda bem libertária e uma de direita bastante conservadora. Isso ajudaria a saber que tipo de ideia os políticos defendem. No Brasil, os atores políticos são muito acomodativos, os princípios que eles defendem são alacarte. Quando convém defende a intervenção do Estado na economia, quando não o livre mercado. Uma hora são favoráveis as família tradicionais, na outra são defensores das minorias. Essas questões são difíceis de ser percebidas pelo eleitor médio que colocam todos em um patamar único”, argumentou. 

Para justificar o pensamento, o estudioso destacou ainda a diferença entre conservadorismo e reacionarismo. “Conservador é alguém que acha que existe uma experiência societária comprovada e precisa ser preservado. Reacionário é contrário a toda forma de mudança, principalmente aquele que está numa posição de poder e quer manter seu privilégio. O Brasil tem muito disso e acaba sendo confundido como conservador”, afirmou. 

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