Tópicos | favelas

Um estudo da Universidade Federal Fluminense (UFF) revelou que as favelas brasileiras não são áreas homogêneas e apresentam segregação econômica mesmo dentro de seus próprios territórios. A pesquisa, publicada na revista Cities, mostra que há disparidades racial, de renda e de acesso a serviço nessas áreas.

Os pesquisadores Camila Carvalho e Vinícius Netto, professor do Departamento de Urbanismo da UFF, analisaram 16 assentamentos informais em nove cidades, selecionadas nas cinco regiões do país: Rio de Janeiro, Campinas, Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza, São Luís, Porto Alegre, Manaus e Belém. 

##RECOMENDA##

Segundo Camila, a ideia do estudo era verificar se os padrões de segregação que existem nas cidades, em termos de desigualdade entre bairros, também existiria dentro das favelas, em termos de disparidades entre setores censitários localizados no interior dessas comunidades. 

Com base nos dados do Censo de 2010, o estudo verificou, nas 16 favelas, a existência de setores que concentram famílias com renda mais alta em determinadas áreas dessas comunidades, ao mesmo tempo em que há setores que reúnem pessoas com renda mais baixa (ou seja, com renda per capita em média 60% mais baixa).

No Rio de Janeiro, por exemplo, esse padrão foi verificado nos complexos do Alemão e da Maré, na zona norte da cidade do Rio. O estudo constatou ainda que nas áreas com renda mais alta da favela, há maior percentual de pessoas brancas (36%) que nas áreas mais pobres (27%).

Há ainda disparidades na oferta de serviços públicos, principalmente na coleta de lixo e no esgotamento sanitário. Enquanto nas áreas de renda mais alta, os percentuais de coleta de lixo e de esgoto sanitário de 83% e 62%, respectivamente, nas áreas de renda mais baixa, os percentuais são de 68% e 48%.

“A gente conseguiu detectar essa reprodução do padrão que a gente vê na escala da cidade, então a gente viu que tinha menos pessoas brancas morando nas áreas de mais baixa renda mesmo dentro das favelas e a gente também viu que a infraestrutura, o acesso aos serviços era mais baixo nas áreas de mais baixa renda das favelas”, afirma Camila.

Segundo a pesquisadora, o estudo não se debruçou sobre os motivos pelos quais há uma segregação dentro das favelas, mas acredita-se que isso e deva a diversos fatores, como a valorização imobiliária em áreas mais urbanizadas. 

Por exemplo, em áreas com ruas mais largas, casas melhores, mais iluminação pública e oferta de saneamento básico, os imóveis custam mais caro (tanto em termos de compra quanto de aluguel), atraindo pessoas com renda relativamente mais alta.

Há ainda áreas menos favorecidas dentro da própria comunidade. Nos casos dos morros, as áreas mais elevadas e com maior dificuldade de acesso, por exemplo, os imóveis costumam ser mais desvalorizados.

“Em outro artigo, a gente viu a relação entre a topografia, ou seja, as áreas mais altas e mais baixas, com a renda. Então a gente conseguiu detectar que as áreas mais altas nas favelas de topografia mais acidentada, de difícil acesso e tudo mais, são áreas de mais baixa renda. Onde as pessoas mais altas renda vão ficar? Nas áreas de melhor acesso, onde se consegue entrar e sair mais fácil”, explica Camila.

Segundo ela, é importante que a sociedade e o poder público entendam que existe segregação nas favelas e que essa questão seja levada em consideração no planejamento de políticas públicas.

“Só investir na favela, não significa nada, se você vai concentrar investimento numa área que já tem uma boa infraestrutura. Tem partes das favelas que a gente não consegue diferenciar da área formal da cidade, porque é muito similar. Qual o sentido de concentrar investimento nessas aí, se existem áreas muito mais precárias [nessas mesmas comunidades]?”, conclui a pesquisadora.

Previsto para ser lançado na próxima quarta-feira (28), o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) esteve a um passo de ser comprometido. A falta de apoio para acesso dos recenseadores a áreas remotas ou carentes e resistência de alguns cidadãos abastecidos por notícias falsas por pouco fizeram o equivalente a quase um estado do Rio de Janeiro deixar de ser contado.

  Ao longo dos últimos três meses, sucessivos mutirões do IBGE e do Ministério do Planejamento conseguiram reverter a situação. Uma série de forças-tarefas incluiu, de última hora, 15,9 milhões de brasileiros no censo. Ao todo, foram três operações especiais. A primeira buscou alcançar brasileiros na Terra Indígena Yanomami, que nunca tinham sido recenseados. As outras procuraram reduzir a taxa de não resposta em dois ambientes opostos, mas com resistência a recenseadores: favelas e condomínios de luxo. 

##RECOMENDA##

“Nesta semana, vamos deixar para trás informações de 13 anos atrás, do Censo de 2010. Para formular políticas públicas, conhecer as demandas da população e atuar em emergências, precisamos de informações atualizadas. O recenseamento é essencial para conhecer quem somos, quantos somos e como somos hoje. Não como éramos”, diz o assessor especial do Ministério do Planejamento, João Villaverde. 

Indígenas

Realizado em março, o recenseamento na Terra Indígena Yanomami incluiu 26.854 indígenas no censo, dos quais 16.560 em Roraima e 10.294 no Amazonas. O mutirão foi essencial para atualizar a população indígena no Brasil, estimada em 1,65 milhão de pessoas segundo balanço parcial apresentado em abril. O número completo só será divulgado em julho, quando o IBGE apresentará um balanço específico do Censo 2022 para a população indígena. 

A operação na Terra Yanomami foi complexa, mas conseguiu, pela primeira vez na história, recensear 100% da etnia no território. Por envolver dificuldades de acesso a aldeias aonde só se chega de helicóptero, o mutirão foi coordenado por cinco ministérios e reuniu 110 servidores federais dos seguintes órgãos: Polícia Rodoviária Federal, que forneceu os helicópteros; Ministério da Defesa, que forneceu o combustível; guias do Ministério dos Povos Indígenas; servidores da Secretaria de Saúde Indígena da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai); além dos próprios recenseadores do IBGE. 

Realizado de 7 a 30 de março, o mutirão foi necessário porque o recenseamento tradicional não conseguia chegar a todas as aldeias yanomami. Por causa das operações para retirar os garimpeiros e do remanejamento de helicópteros para as ações de resgate humanitário, o censo teve de reduzir o ritmo em fevereiro, quando cerca de apenas 50% da população do território havia sido contabilizada.

  Favelas

Nas favelas, o censo esbarrava em outras dificuldades. Além da falta de segurança em alguns locais, muitos moradores não queriam abrir a porta para o recenseador porque tinham recebido falsas notícias de que teriam benefícios sociais cancelados.

Outro problema, principalmente em áreas mais densas, era a falta de endereços nas comunidades. Muitas vezes, os recenseadores não tinham informação sobre novas moradias surgidas nos últimos anos, como puxadinhos e lajes num mesmo terreno. 

“O que impedia a entrada dos recenseadores na favela era a falta de conexão dos recenseadores e do Poder Público com as pessoas que moram lá. Além disso, havia a falta de conscientização das pessoas por falta de uma explicação que alcançasse os moradores das favelas da importância do censo e de respostas sinceras e objetivas”, analisa o Marcus Vinicius Athayde, diretor do Data Favela e da Central Única adas Favelas (Cufa), que auxiliou o IBGE no mutirão. 

O mutirão começou no fim de março, com o lançamento de uma campanha na Favela de Heliópolis, em São Paulo, do qual participou a ministra do Planejamento, Simone Tebet. A operação ocorreu em 20 estados e registrou aglomerados subnormais (nomenclatura oficial do IBGE para favelas) em 666 municípios. O número de habitantes só será conhecido em agosto, quando o IBGE divulgará um recorte do Censo 2022 para as favelas. 

Segundo Athayde, a Cufa ajudou primeiramente por meio de uma campanha chamada Favela no Mapa, que usou as lideranças estaduais da entidade para conscientizar os moradores de favelas da importância de responder ao censo. Em seguida, a Cufa recrutou moradores de favelas e lideranças locais para atuarem como recenseadores e colherem os dados das comunidades onde moram. Também houve mutirões de respostas em eventos comunitários. 

“Responder ao censo traz benefícios de volta para o morador da favela, para seus vizinhos, para sua família, na medida em que o governo e as políticas públicas atuarão de forma mais adequada para essa população”, destaca Athayde. 

Condomínios

Por fim, o último flanco de resistência a recenseadores concentrava-se em condomínios de luxo, principalmente em três capitais: São Paulo, Rio de Janeiro e Cuiabá.

“Historicamente, a taxa de não resposta, que é o morador que não atende ao recenseador, fica em torno de 5%. Isso em todos os países que fazem censo. Nessas três cidades, a taxa estava em 20% em condomínios de alto padrão”, conta Villaverde, do Ministério do Planejamento. 

No Censo 2022, a média nacional de não respostas estava em 2,6% segundo balanço parcial divulgado em janeiro. No estado de São Paulo, alcançava 4,8%, principalmente por causa da recusa de moradores de condomínios de renda elevada. 

Para contornar os problemas, o Ministério do Planejamento e o IBGE promoveram uma campanha maciça em redes sociais. Parte das inserções foi direcionada a sensibilizar porteiros, que obedecem a regras restritas para entrada de estranhos. Outra parte esclareceu que síndicos não têm o poder de proibir o morador de receber o IBGE.

“Muitas pessoas queriam atender ao censo, mas não sabiam que o recenseador não tinha vindo porque o síndico vetava”, recordou Villaverde. Também houve reportagens de quase 10 minutos em televisões locais sobre o tema. 

Segundo o assessor especial do Planejamento, a mobilização foi um sucesso.

“Em uma dessas três capitais, conseguimos reduzir a taxa de não resposta para menos de 5% em condomínios de alta renda”, diz. A operação para os condomínios começou em 14 de abril e estendeu-se até 28 de maio, último dia de coleta de dados para o Censo 2022. 

Entraves

A realização do Censo 2022 enfrentou diversos entraves. Inicialmente previsto para 2020, o recenseamento foi adiado por causa da pandemia de covid-19. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) obrigou o governo anterior a realizar o censo em 2022.  Na época, o Ministério da Economia autorizou R$ 2,3 bilhões para o censo, mesmo orçamento de 2019 que desconsiderava a inflação acumulada em dois anos. Com a coleta de dados iniciada em 1º de agosto, o Censo 2022 inicialmente estava previsto para encerrar-se em outubro do ano passado. Com dificuldades para a contratação, o pagamento e a manutenção de recenseadores, o fim do censo foi primeiramente adiado para fevereiro deste ano. 

Com falta de verba e alta proporção de não recenseados, o governo atual decidiu fazer uma suplementação orçamentária de R$ 259 milhões ao IBGE. O Ministério do Planejamento também decidiu seguir a recomendação do Conselho Consultivo do IBGE, formado por ex-presidentes do órgão, demógrafos e acadêmicos, e estender a coleta de dados até o fim de maio. Em abril, uma série de remanejamentos internos no órgão evitou um novo pedido de verbas pelo IBGE. 

Desde 29 de maio, o IBGE está rodando os dados, para a divulgação na próxima quarta-feira. “No início do ano, o ministério tomou a difícil decisão de seguir 100% das recomendações do Conselho Consultivo porque os dados colhidos até então não garantiam a qualidade do censo. Agora, com as operações especiais e o tempo extra de coleta, temos a certeza de que o recenseamento está robusto e em linha com os parâmetros internacionais de qualidade”, diz Villaverde.

Nesse Dia das Mães, a Agência Brasil ouviu histórias de mães que lutam pela verdade e pela memória de seus filhos, perdidos na guerra velada que ocorre todos os dias nas periferias das grandes cidades brasileiras. São casos emblemáticos que representam um desafio a ser enfrentado e superado, segundo especialistas ouvidos pela nossa reportagem. 

O Dia das Mães deste ano não vai ser comemorado pela pedagoga Ana Paula de Oliveira, de 46 anos, moradora da favela de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Ela é mãe de Johnatha de Oliveira Lima, assassinado com um tiro nas costas aos 19 anos de idade. Em 14 de maio, há 9 anos, o jovem não voltou mais para casa. 

##RECOMENDA##

“Meu filho não estava no lugar errado, não estava na hora errada, não tinha feito nada de errado, simplesmente era mais um jovem preto dentro de uma favela.”

E, para ela, foi morto pela polícia por ser negro, pobre e morador da periferia. Essa é a maior ferida de Ana Paula Oliveira. Ela conta que no dia do crime o jovem voltava para casa de sua família, após deixar um pavê na casa de sua avó e levar a namorada em casa. O trajeto era curto, pois todos moravam na mesma comunidade, mas o que aconteceu no caminho mudou a vida deles para sempre.  

Uma discussão entre policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e moradores da comunidade, indignados com a truculência policial, terminou com tiros sendo disparados para o alto e na direção das pessoas que protestavam. O jovem, que apenas passava pelo local, sem sequer estar envolvido no conflito, foi atingido e morreu. 

“E aí quando eu recebo essa notícia eu fico perguntando por quê? Por que que a polícia matou meu filho?”, conta a mãe Ana Paula Oliveira. Aparentemente, não havia uma explicação razoável para uma morte tão banal. Demorou um tempo até que ela conseguisse se reerguer para lutar por justiça pelo seu filho.  

Ao participar dos primeiros atos contra a letalidade policial no estado do Rio de Janeiro, a pedagoga se deu conta de que havia algo em comum entre tantas mães, de tantas comunidades diferentes, não só do Rio, mas de todo o Brasil: mães negras vestindo camisetas com fotos dos filhos negros mortos pela polícia. Não era uma mera coincidência.  

Passados 9 anos do crime, Ana Paula continua aguardando uma resposta da Justiça para o crime. “Desde o assassinato eu encontrei outras mães e impulsionadas por uma mesma luta, que é a busca pela verdade e por justiça, por nossos filhos, a gente acabou formando o movimento das Mães de Manguinhos”, explica a pedagoga. 

Brasília (DF) - Gabriela Ashanti ampara uma mãe Foto: Arquivo Pessoal

Rede de apoio 

A quantidade de coletivos de mães que tiveram os filhos assassinados pelo Estado é um indicador de que existe um preconceito estrutural na sociedade, seja pela truculência policial ou pela conivência do Poder Judiciário com tantas mortes sem punição. É o que afirma a jornalista e doutoranda em Direitos Humanos e Cidadania pela Universidade de Brasília (UnB), Maíra de Deus Brito. 

“Existe um racismo estrutural e uma truculência policial que o Estado permite que aconteça. A partir do momento que a gente não vê investigações sérias, a gente não vê punição. Enquanto sociedade, estamos deixando isso acontecer. Estamos, literalmente, perdendo nosso futuro quando a gente permite que esses jovens partam tão cedo, de maneira tão violenta e abrupta”, conclui Maíra Brito. 

Na Bahia, essa rede de apoio às mães que perderam seus filhos para a letalidade policial também está muito presente. O projeto Minha Mãe Não Dorme, do grupo Odara – Instituto da Mulher Negra, com sede em Salvador, busca sensibilizar a sociedade brasileira e baiana para os danos e impactos causados tanto pela violência policial quanto pelo tráfico de drogas na vida de adolescentes, jovens negros, suas mães e familiares. A ação tem como foco o apoio, articulação, fortalecimento e diálogo com as mães de jovens assassinados em decorrência da violência urbana. 

“É importante que jovens e mães tenham noção da sua realidade porque nós não podemos naturalizar esses níveis e esses tipos de violência que têm sido perpetrados contra a comunidade negra historicamente. Então, não é porque são violências que ocorrem há muito tempo, eu diria até que são violências seculares, que elas devem ser normalizadas, naturalizadas”, afirma Gabriela Ashanti coordenadora do projeto Minha Mãe Não Dorme. 

Quando essas mães encontram outras que perderam filhos em circunstâncias muito parecidas, explica Gabriela Ashanti, elas se dão conta de que não foi um caso isolado, não foi um acidente ou algo aleatório. “Elas começam a se dar conta ou ficar mais atentas a essa violência policial e a essa letalidade como um fenômeno social que precisa de estratégias pra ser combatido”.  

Outro objetivo, segundo a coordenadora do projeto, é de dimensão subjetiva e psicossocial, ao buscarem estratégias para se fortalecerem emocionalmente justamente em um momento em que estão fragilizadas pela perda e, sobretudo, pela forma como elas sofreram essa perda.   

“A forma como esses filhos são tirados delas faz com que emocionalmente fiquem mais fragilizadas, fiquem com um luto que vai sendo acrescido de indignação, de revolta, de uma série de outros sentimentos e sensações e emoções, que faz com que esse luto se agrave, se intensifique, se estenda inclusive. Então, quando elas se encontram vão buscando as estratégias de se fortalecerem e se sustentarem, inclusive emocionalmente, uma vai apoiando a outra e uma vai se espelhando na outra também nas formas de resistir emocionalmente”, detalha Gabriela Ashanti. 

Supressão de direitos 

Uma das mães atendidas pelo Instituto da Mulher Negra é Edineide Barbosa do Carmo. Em 2017, ela e a filha, Mirella do Carmo Barreto, de apenas 6 anos, estavam estendendo roupas em casa, no bairro São Caetano, em Salvador, quando policiais militares supostamente entraram no bairro em busca de criminosos que teriam roubado um celular. Testemunhas, no entanto, alegam que os policiais chegaram atirando, sem nenhum motivo aparente, e que um dos disparos atingiu a pequena Mirella, que morreu horas depois na UPA de San Martin. 

Brasília (DF) - Edineide Barbosa do Carmo com sua filha Mirella do Carmo Barreto. Foto: Arquivo Pessoal/Divulgaçāo

Após 6 anos, o crime permanece sem solução e a Justiça realizou apenas uma audiência de instrução. “O sentimento de passar o Dia das Mães sem a minha filha, nesse ano de 2023, é algo muito doloroso. Ao lembrar do aniversário de 13 anos dela, que estaríamos juntas comemorando o Dia das Mães, igual a todas as mães. E de mim foi tirado esse direito”, afirma Edineide. A primeira audiência de instrução aconteceu em 2018, e, após longos 5 anos, a segunda audiência deve ocorrer no próximo dia 30 de maio. 

A vendedora ambulante Bruna Mozer teve seu filho de 18 anos executado, em 2018, na comunidade do Miquiço, no Rio de Janeiro. Ela conta que o filho tomou um tiro no ombro, mas se entregou para a polícia militar (PM), mas mesmo assim deram outro tiro fatal. No inquérito policial, os PMs alegaram auto de resistência seguido de morte. “Meu filho Marcos Luciano Mozer foi assassinado pelo Estado do Rio de Janeiro. Eles poderiam ter levado meu filho preso. Que auto de resistência é esse que a pessoa leva um tiro nas costas e um na cabeça? Ele não morreu em troca de tiros, morreu deitado no chão, já rendido”, questiona. 

Para piorar, explica Bruna Mozer, o Estado enterrou o filho dela como indigente. Mesmo se apresentando ao Instituto de Medicina Legal (IML) com a certidão de nascimento e CPF, ela não conseguiu a liberação do corpo e nem o atestado de óbito do filho. Por isso, teve que entrar com pedido de retificação com apoio da Defensoria Pública do Rio. “Até hoje, 5 anos e 5 meses depois, ainda não me deram essa retificação e continuo lutando e aguardando”, lamenta Bruna Mozer.  

Meu filho tem nome 

O ponto comum entre tantas histórias de violência policial contra jovens negros é a tentativa de desumanizar e criminalizar as vítimas, retirando direitos básicos fundamentais, na tentativa de justificar essas práticas violentas do braço armado do estado, afirma Ana Paula Oliveira. 

Ela lembra que o filho dela tem nome e tem sobrenome. “Ele tem uma mãe, ele continua sendo meu filho, e vou lutar por ele até o fim. Nós, mães pretas, já educamos nossos filhos a ter que sair com a identidade, a ter que o tempo todo que se identificar, e ter que comprovar que são produtivos, que estudam, que trabalham. Olha meu filho, olha, mostra a carteirinha da escola, mostra que é você, né? E mesmo assim eles não têm a vida garantida”. 

Fórum Brasileiro de Segurança

Dados da 16ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados em 2022, mostram que ao menos 43.171 pessoas foram vítimas de ações de policiais civis ou militares de todo o país, desde 2013, ano em que esse monitoramento começou a ser feito. Os números não incluem as mortes por intervenções de policiais Federais e Rodoviários Federais. 

O relatório aponta que a letalidade policial diminuiu 6,5%, em 2021, mas a mortalidade de negros se acentuou. Enquanto a taxa de mortalidade entre vítimas brancas retraiu 30,9%, a taxa de vítimas negras cresceu em 5,8%. Segundo o documento, oito em cada 10 vítimas são pessoas negras e a metade delas, jovens entre 12 e 29 anos - mais de 90% são homens. “O percentual de pretos e pardos vítimas de intervenções policiais é ainda mais elevado do que supúnhamos, chegando a 84,1% de todas as vítimas com raça/cor identificados”, aponta a 16ª edição do Anuário. 

“Essa política de segurança pública é genocida e tem um alvo. Então, comecei a ter esse entendimento, e isso vai causando uma revolta ainda maior, uma vontade de seguir na luta, de continuar denunciando toda essa violência do estado”, afirma Ana Paula Oliveira, ao relembrar que o policial que matou seu filho já respondia por triplo homicídio e duas tentativas de homicídio na Baixada Fluminense. A vítima não tinha antecedentes criminais e estava apenas caminhando pela rua. 

Com a finalidade de reduzir mortes e a violência contra a juventude negra, além de enfrentar o racismo estrutural, o Governo Federal, por meio do Decreto Presidencial nº 11.444/2023, publicado em 21 de março, instituiu um grupo de trabalho para a elaboração do Plano Juventude Negra Viva. O prazo para conclusão dos trabalhos é de 7 meses.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está revisitando todos os lugares que ainda apresentam índices altos de entrevistas não realizadas, por ausência dos moradores ou por recusa, para o Censo Demográfico 2022. Segundo o IBGE, nas áreas de favelas e comunidades urbanas, além de ausência e recusa, há outros desafios: muitas vezes não existe endereço, o que dificulta o percurso dos recenseadores e o registro dos domicílios.

“Nas áreas mais densas, a coleta também pode ser dificultada, pois há maiores chances de omissão de domicílios (de fundos ou na laje) por parte do recenseador. Há ainda problemas de acesso e circulação em algumas comunidades por causa de desconhecimento do recenseador e receio do morador em receber [o recenseador]”, informou o instituto.

##RECOMENDA##

“Para que todos os domicílios sejam visitados, o IBGE está fazendo ampla divulgação da coleta em favelas e comunidades urbanas, para que os próprios moradores recebam e auxiliem o recenseador, indicando as melhores rotas e o local de moradias”, acrescentou o órgão.

Este mês, o IBGE fechou parceria com o Instituto Pereira Passos (IPP), órgão de pesquisa da prefeitura do Rio, para reduzir o percentual de domicílios que não responderam ao Censo nos aglomerados subnormais da cidade, que está em torno de 9%. 

A parceria envolve a contratação de ex-agentes de Territórios Sociais, programa da prefeitura com o ONU-Habitat - Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, em que são realizadas pesquisas domiciliares em grandes favelas do Rio, como Rocinha e Maré.

“Ter informações qualificadas das favelas da cidade é de suma importância para o desenvolvimento de políticas públicas efetivas, baseado em dados e evidências. Por isso o Censo é tão importante. O IPP já tem uma parceria de longa data com o IBGE e apoiá-lo nessa corrida final é dever da casa”, afirmou, em nota, o presidente do Instituto Pereira Passos, Carlos Krikhtine.

“Com nossa experiência com o Programa Territórios Sociais, formamos recenseadores comunitários muito especializados no território carioca. Além disso, podemos apoiar o IBGE com uma rede de conhecimentos locais institucionais muito potentes”, acrescentou.

Os novos recenseadores trabalharam em fases anteriores do Territórios Sociais e têm experiência com pesquisas domiciliares nas localidades prioritárias. Na semana passada, eles foram treinados pelo IBGE para um conhecimento mais profundo sobre o questionário utilizado no Censo.

“Territórios é um programa que visa encontrar as famílias mais vulneráveis e, por isso, precisa estar diariamente nessas comunidades. Temos uma excelente articulação nesses territórios, os nossos agentes de campo são moradores e conhecem muita gente. Além de disponibilizar uma lista de pessoas experientes para trabalhar, estamos oferecendo todo suporte ao IBGE, deslocando nossos coordenadores de campo para acompanhar as equipes com o objetivo de alcançar as famílias que ainda não responderam ao Censo”, informou, em nota, a coordenadora técnica de Projetos Especiais do IPP, Andrea Pulici.

Desde quinta-feira (16), eles estão indo a campo na última fase da operação censitária, a etapa de apuração, que abrange os trabalhos de análise dos dados coletados. Assim, eles irão buscar por moradores que estavam ausentes no momento da visita ou que se recusaram a responder o questionário.

Data Favela

A pesquisa Data Favela 2023, divulgada sexta-feira (17), mostrou que se as favelas brasileiras formassem um estado, seria o terceiro maior do Brasil em população. Segundo o estudo, o número de favelas dobrou na última década, totalizando 13.151 mapeadas pelo país. São estimados 5,8 milhões de domicílios em favelas com 17,9 milhões de moradores. 

A pesquisa quantitativa foi realizada entre 6 e 13 de março de 2023 e entrevistou 2.434 moradores de favela distribuídos em todas as regiões do país.

“A favela já é um território claramente invisibilizado e ficar fora do Censo seria aumentar esse cenário, além de não possibilitar que políticas públicas que atuam na redução da pobreza e promoção de oportunidades cheguem nesse território. É exatamente por isso que nós enxergamos que o Data Favela e o IBGE podem trabalhar em parceria para o correto mapeamento das favelas brasileiras pelo Censo”, disse o fundador do Data Favela, Renato Meirelles.

Ele atribui o problema do IBGE em recensear nas favelas à dificuldade de conhecer um território que muitas vezes não tem CEP, rua e saneamento básico. “São locais que estavam fora do mapa. O estigma de medo em relação às favelas também é uma das razões, além da falta da presença do Estado nas favelas”, completou Meirelles.

O Brasil tem 11.403 favelas, onde vivem cerca de 16 milhões de pessoas, em um total de 6,6 milhões de domicílios, segundo uma prévia dos dados do Censo Demográfico 2022, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado significa uma expansão de cerca de 40% no número de brasileiros morando em favelas nos últimos 12 anos. O Censo Demográfico de 2010 tinha contado 11,426 milhões de habitantes em favelas naquele ano.

##RECOMENDA##

A favela mais populosa do País atualmente é a Sol Nascente, em Brasília, com 87.184 moradores. A carioca Rocinha, que liderava o ranking em 2010, ficou em segundo lugar em 2022, com 67.199 moradores. Em terceiro lugar, figurou Cidade de Deus/Alfredo Nascimento, em Manaus, com 55.361 pessoas, seguida por Rio das Pedras, no Rio de Janeiro, com população estimada em 54.793.

O instituto pondera que os dados referentes a 2022 são preliminares, "sujeitos a revisões até a divulgação dos resultados definitivos" do Censo Demográfico, atualmente ainda em campo.

O IBGE comunicou que está fechando parcerias com a Central Única de Favelas (Cufa) e diversas associações de moradores para completar o recenseamento dos domicílios localizados em favelas de todo o País. A Prefeitura do Rio de Janeiro também informou nesta sexta-feira, 17, que participaria, através do Instituto Pereira Passos, de uma "força-tarefa para auxiliar na reta final da contagem populacional nas favelas cariocas do Censo Demográfico 2022".

"Agentes e ex-agentes de Territórios Sociais, programa do município e ONU-Habitat que atua na identificação de famílias em situação de vulnerabilidade social, ajudarão a reduzir o porcentual de domicílios que não responderam ao Censo nos aglomerados subnormais da cidade, que está em torno de 9%", divulgou a Prefeitura, em nota à imprensa.

Apesar do anúncio oficial feito pelo IBGE de que o Censo Demográfico 2022 havia encerrado a coleta, recenseadores ainda estão em campo tentando reduzir a proporção de não recenseados na população. No que deveria ser a etapa de apuração e conferência de informações prestadas, trabalhadores contratados pelo instituto têm tentado ampliar a cobertura com visitas a mais domicílios. Há Estado com mais de 20% da população ainda não recenseada.

Até o último dia 15 de março, 190,523 milhões de brasileiros tinham sido recenseados, o equivalente a aproximadamente 89,3% da população, segundo a prévia estimada pelo IBGE e enviada ao Tribunal de Contas da União (TCU), no fim de 2022.

No Amapá, 20,8% da população não tinha sido ainda recenseada. Em São Paulo, ainda faltava recensear 16% dos habitantes, e no Rio de Janeiro, 15,1%. Outros estados com lacunas de dois dígitos no recenseamento são Rondônia (17,3% da população não recenseada), Espírito Santo (13,4%), Tocantins (11,8%), Pará (11,7%), Acre (11,6%) e Distrito Federal (13,9%).

Os Estados com maior cobertura foram Santa Catarina (98,1% da população recenseada), Piauí (97,2%), Paraíba (95,8%) e Roraima (94,5%).

O IBGE tem alertado sobre a dificuldade de recenseamento em residências de alta renda, mas a força-tarefa em favelas mostra que há lacunas também nas demais faixas de rendimentos. Moradores têm recebido notificações com ameaças de multa por não terem respondido ainda ao levantamento.

A coleta do Censo, iniciada em 1º de agosto de 2022, se estenderia inicialmente até o fim de outubro do ano passado. Após uma série de dificuldades para contratação, pagamento e manutenção de recenseadores atuando no trabalho de campo, o prazo foi prorrogado sucessivas vezes. A coleta tem como data de referência as condições em que vivia a população brasileira no dia 31 de julho de 2022.

"Correndo tudo como planejado, o IBGE tem previsão de divulgar os primeiros resultados do Censo no final de abril", informou o IBGE ao Estadão/Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).

Duas décadas depois do primeiro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a favela cresceu e os problemas continuam os mesmos, aponta Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa), organização presente e reconhecida em todo o Brasil. Para ele, a desigualdade econômica no País segue em crescimento e o problema habitacional é ainda maior. Se em 2011, 11,1 milhões de pessoas moravam nas favelas, o número chegou aos 17 milhões no ano passado.

Em entrevista ao Estadão, Athayde destaca a necessidade de se criar um ministério das favelas. Um núcleo dentro do governo que saiba interagir e entenda os problemas que a população periférica vive. "Não é uma apologia para uma maior quantidade de ministérios, mas uma provocação para haver um setor que possa olhar essas pessoas com uma visão diferente", afirma. "São pessoas que vivem sob gestão não do poder público, mas de um poder paralelo".

##RECOMENDA##

Athayde, que também é criador da Favela Holding, primeira holding social no mundo, que reúne mais de 20 empresas focadas em negócios de favela, acredita que, diferente da gestão Jair Bolsonaro (PL), haverá diálogo do novo governo com as periferias, mas ainda faltará representatividade do setor nos principais cargos que podem influir na vida de milhões de pessoas.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que os 17,1 milhões de pessoas na favela representariam o quarto Estado mais populoso do Brasil, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Uma das soluções para melhorar a vida nas favelas, aponta Athayde, é o estímulo ao empreendedorismo e à criação de uma "zona franca", com isenções fiscais aos empregadores que venham da região. Ele foi eleito empreendedor de impacto e inovação pelo Fórum Econômico Mundial neste ano. Confira os principais trechos da entrevista.

Quais desafios se impõem ao novo governo Lula em relação às favelas?

Nesses últimos 20 anos, o mundo mudou. Ainda que Lula tenha reduzido a desigualdade econômica no primeiro governo, nas favelas, ela cresceu neste período. O primeiro desafio que eu acho que ainda existia e que ele continua havendo é como resolver o déficit habitacional. O Minha Casa Minha Vida não foi capaz de dar respostas objetivas para essas milhares de pessoas que vivem nesse território. O outro desafio é estimular o empreendedorismo na base da pirâmide.

Por que o estímulo ao empreendedorismo é importante?

Quando eu falo de empregabilidade e de empreendedorismo, eu falo de combate à desigualdade econômica porque é geração de renda. Uma pessoa que trabalha na Cidade Tiradentes (bairro da zona leste de São Paulo) e trabalha no centro da cidade leva duas horas para ir ao trabalho e mais duas horas para voltar para casa. Se essas pessoas ganharem o mesmo valor e não precisarem gastar quatro horas num ônibus, mais autoestima, mais felicidade. Até por isso, quando se cria um projeto efetivo para melhorar a vida desses empreendedores, isso contribui para o avanço dessa agenda nas favelas.

A favela ainda sente a ausência do Estado?

É importante a existência do Estado, óbvio, mas ele não é capaz de atender a necessidade das favelas. Pessoas morrem de doenças causadas por falta de saneamento básico. Mas problemas do tipo acontecem também em outros setores. O mundo corporativo não olha para a favela e não tem responsabilidade de resolver todos os problemas. No terceiro setor, das ONGs e movimentos sociais, são movimentos que criminalizam o lucro. Quando você transforma o lucro em pecado, você diz que na favela é preciso se viver com escassez e não com abundância. Não digo que eles não são do bem. Mas geralmente são movimentos de fora das favelas. As ONGs das favelas não têm dinheiro, não têm CNPJ e não conseguem pagar os impostos.

Qual a solução neste caso?

Uma das propostas que a gente tem é transformar a favela numa zona franca, onde os empregadores das favelas tenham menos encargos e tenham maior facilidade para empreender. Assim, as empresas recebem incentivos fiscais em municípios para desenvolver aquela cidade.

Como o Estado e o novo governo podem se aproximar das favelas?

Há dois meses disse na ONU que seja qual for o governo ele precisaria pensar no ministério das Favelas. Estamos falando de uma população de 17 milhões de pessoas. Se você transformar todas as favelas em um Estado, ele seria o quarto maior do País em termos populacionais. Sendo que, segundo os critérios do IBGE, algumas favelas nem são consideradas favelas. O número pode ser muito maior. É uma população que mobiliza R$ 180 bilhões por ano e não são percebidas pelas empresas. Aqui não é uma apologia para uma maior quantidade de ministérios, mas uma provocação para haver um setor que possa olhar essas pessoas com uma visão diferente. São pessoas que vivem sob gestão não do poder público, mas de um poder paralelo.

Já imaginou um evento que reúne startups de periferias do Brasil inteiro no mesmo lugar? Entre os dias 07 e 08 de dezembro acontece o Investe Verso, o primeiro evento do país no Metaverso para investimentos em startups de territórios periféricos e favelas. Vinte startups de todo o Brasil vão expor seus negócios no mundo virtual e quatro delas serão selecionadas para receber investimento, além de um processo de aceleração e mentoria com grandes nomes do mercado.

No segundo dia, uma banca examinadora composta por Eduardo Ourivio (Co-fundador do Grupo Trigo, Marta R. Pereira Poit (Co-fundadora do Investe Favela), Mario Chady (Fundador do Grupo Trigo, Empreendedor Endeavor & Co-fundador Investe Favela), Victor Taveira (CEO na Acrux Capital Management ; Co-fundador Investe Favela e Mentor Endeavor) Investe Favela e Empreendedor Endeavor),  irá avaliar as entregas das startups e definir as quatro empresas selecionadas para aceleração em 2023.

##RECOMENDA##

Na segunda fase, todo o processo de aceleração, treinamento e mentoria também acontecerá no Metaverso e será uma experiência única, completamente imersiva e com ícones do mercado de investimentos em startups como Rafael Duton, (co-fundador do grupo do iFood), Eduardo Ourivio (co-fundador do Grupo Trigo), Gabriel Guerra (Vice Presidente Global de Digital Ventures na Shell) e vários outros nomes.

Um pool de soluções tecnológicas será oferecido para que todos os empreendedores participem com as mesmas condições de equipamentos e internet. Óculos de realidade virtual e espaços de co-working serão disponibilizados para os participantes.

A ideia de realizar esse evento no Metaverso surgiu para aproximar e integrar os participantes. “Normalmente, essas empresas ainda estão com projetos muito embrionários e muitas vezes não possuem sede ou endereço fixo. Por isso a ideia de realizarmos esse evento no Metaverso. Dessa forma conseguimos aproximar e conectar empreendedores periféricos de todas as partes do país no mesmo espaço”, comenta Kelpo Gils.

“Nosso objetivo é potencializar esses empreendedores e suas histórias. Com o evento, pretendemos construir uma comunidade independente e autônoma que seja capaz de produzir o que eles quiserem”, diz Liza Simões, do Investe Favela.

“Existem muitas empresas com potencial relevante de crescimento e geração de valor nesses territórios. Porém, elas não conseguem acessar o mercado bancário e de investimento tradicional simplesmente por pertencerem às margens.”, comenta Lisa Simões, CEO do Investe Favela.

Parceira de longa data do Investe Favela, a Booming - um hub de desenvolvimento de startups -  também está entre os idealizadores do Investe Verso. "Nosso objetivo é conectar os melhores negócios das favelas do Brasil com os maiores mentores do mercado de investimentos em startups, tornando o evento uma experiência única e transformadora para cada participante.”, comenta João Braga, CEO da Booming.

Também idealizadora do evento, a Abrakazum Entretenimento é a responsável pelas inovações tecnológicas que fazem um evento no Metaverso acontecer. “O uso da tecnologia sem propósito é como um corpo sem alma. E vimos nesta oportunidade um propósito fundamental da tecnologia, que é promover o bem comum.”, ressalta Kelpo Gils, CEO da Abrakazum.

No primeiro dia do evento, as 20 startups participantes farão uma exposição dos seus negócios no Metaverso, com entrada gratuita ao público e qualquer pessoa poderá conhecer os projetos e votar naqueles que mais gostar e se identificar. Basta acessar o site do evento para maiores informações (www.investeverso.com.br).

*Da assessoria 

 

Moradores das comunidades do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio, recebem neste sábado (26) mais de 5 mil livros do projeto social criado pelo jornal Voz das Comunidades. O nome do projeto, Invasão de Livros, que está na sua terceira edição, faz uma alusão à ação de pacificação realizada pelas forças de segurança do estado, em 2010, que ocupou as duas comunidades.

Os livros serão distribuídos gratuitamente em ruas e vielas do Alemão e da Penha. A ação é um protesto contra a falta de investimentos nas favelas do Rio.

##RECOMENDA##

O fundador do Jornal Voz das Comunidades, René Silva, que lançou o jornal quando tinha 11 anos de idade, disse que, durante a ocupação, o governo só entrou com a polícia, numa forma de repressão.

“A Biblioteca Parque está desativada há seis anos, mesmo tempo em que o teleférico parou de funcionar e levava os moradores às partes mais altas da comunidade”, critica.

René disse ainda que o projeto Invasão de Livros, criado em 2020, é uma forma de protesto contra as promessas feitas e não cumpridas pelo estado.

Cerca de 70 voluntários vão participar da distribuição dos exemplares voltados, em sua maioria, para o público infantil.

As comunidades beneficiadas com a ação são: Morro do Adeus, Fazendinha, Inferno Verde, Favela da Galinha, Casinhas, Mineiros, Campo do Sargento, Central, Favelinha da Skol, Alvorada, Nova Brasília, Merendiba, Terra Prometida, Vacaria e Vila Cruzeiro.

De cada 100 hectares construídos de favela entre 1985 e o ano passado, cerca de 15% foram em áreas de risco, conforme estudo do MapBiomas sobre a urbanização das cidades, realizado com base em imagens de satélite. As áreas informais totalizaram 106 mil hectares. Regiões de risco são caracterizadas por condições inadequadas de moradia e maior suscetibilidade a desastres ambientais, bem como falta de acesso a serviços públicos básicos.

Nesses 37 anos, a malha urbana do País cresceu 2,5 milhões de hectares, resultando na perda de 558,5 mil hectares de formações vegetais naturais. O crescimento urbano, frente ao aumento populacional, é inevitável, mas é preciso pensar na maneira como essa urbanização se dá, a fim de reduzir a precarização da vida humana e impactos ambientais, destaca o levantamento do MapBiomas, projeto que reúne universidades, organizações ambientais e empresas de tecnologia. As imagens de satélite mostraram que a ocupação urbana em áreas de risco, no geral, aumentou três vezes entre 1985 e 2021. Considerando favelas, o avanço foi maior, de 3,4 vezes.

##RECOMENDA##

A ocupação de áreas de risco ocorre de forma desproporcional e se concentra em algumas cidades. Apenas 20 respondem por 36% do crescimento urbano nesses locais dos últimos 37 anos. Salvador (BA), Ribeirão das Neves (MG), Jaboatão dos Guararapes (PE), São Paulo (SP), Recife (PE) e Belo Horizonte (MG) são as seis primeiras da lista.

Áreas de risco, de acordo com o engenheiro ambiental Edimilson Rodrigues, membro da equipe Áreas Urbanas do MapBiomas, são localidades nas quais não existem condições adequadas para moradia, como encostas e locais com alta declividade. Essas regiões podem ser mais suscetíveis a inundações e mais afetadas por desastres ambientais, explica o pesquisador.

"Salta aos olhos perceber que, depois de tanto tempo e com avanços da política urbana brasileira, ainda exista insuficiência de atendimento de habitação e política urbana adequada que atenda toda a população", afirma ele.

Rodrigues indica que as ocupações nessas regiões são fruto de uma política urbana inadequada, que, em suma, empurra a população para essas áreas, onde o preço da terra é mais barata. "A população não ocupa arbitrariamente esses locais. Lacunas de políticas (urbanas e habitacionais) impõem essa necessidade."

Além da falta de acesso a serviços básicos, como educação, saneamento e transporte, por exemplo, a população que vive nessas regiões é afetada desproporcionalmente pelas alterações do clima. "Estudos mostram que existe uma sobreposição entre as populações que vivenciam esse tipo de vulnerabilidade social, como populações sujeitas às mudanças climáticas de forma mais aguda", acrescenta o engenheiro.

As consequências do avanço das construções sobre áreas de risco podem ser nefastas. Ele cita Petrópolis (RJ) como um "exemplo típico" desses perigos: fortes chuvas que castigaram o município em fevereiro e março, com desabamentos e inundações, causaram mais de 240 mortes.

VEGETAÇÃO NATURAL

Nos últimos 37 anos, a malha urbana do País saltou de 1,2 milhão de hectares para 3,7 milhões. Boa parte dessa urbanização ocorreu em áreas de uso agropecuário (67,8%). No entanto, 22,2% delas se tratavam de formações vegetais naturais.

Só os Estados de São Paulo e Rio, localizados na Mata Atlântica, perderam quase 38 mil hectares de vegetação nativa para a expansão urbana. Cada um perdeu, respectivamente, 26.655 e 10.982 hectares.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Poderia dizer Neymar ou Vinícius Junior, mas quando o adolescente Yan Araújo é perguntado sobre seus ídolos, ele responde sem hesitar: "Nobru e Cerol", dois jogadores de Freefire, um videogame que está na moda nas favelas brasileiras.

Longe da bola no país onde o futebol é rei, cada vez mais jovens como Yan sonham em se tornar profissionais dos games, ou E-Sports, atraídos pelos suculentos lucros que uma carreira nesse meio pode proporcionar.

##RECOMENDA##

Com a destreza de um guitarrista virtuoso, ele desliza os dedos pela tela do celular. Não é apenas um jogo de Free Fire, mas um treinamento para construir o seu sonho.

"Tenho um sonho que é esse... jogar Free Fire, ser conhecido e poder ajudar outras pessoas", diz Yan, de 15 anos, à AFP.

Junto com outros cinco jovens de "P" Sul, favela a meia hora do centro de Brasília, ele foi campeão do Distrito Federal do Free Fire 2021, na Taça das Favelas, torneio organizado pela ONG Central Única de Favelas (CUFA).

No Free Fire, até 50 jogadores saltam de paraquedas em uma ilha em busca de armas e artefatos e devem, em equipe, eliminar os demais jogadores.

Os requisitos são simples: basta um celular com conexão à internet. O jogo foi desenvolvido em 2017 por uma empresa vietnamita, e o Brasil está entre os três principais países com mais downloads.

- Fonte de renda -

"Os jovens estão loucos (pelo jogo)", resume Carlos Campos, coordenador da CUFA em Brasília. No ano passado foram 80 mil inscritos de favelas competindo no torneio de Free Fire, e eles esperam superar a marca em 2022.

Um estudo do Instituto Data Favela em 2021 mostrou que 96% das crianças de até 15 anos de favelas queriam ser profissionais de games e, para 29%, fazer carreira era o maior sonho de suas vidas.

"Muitos viram que existe uma profissão e que é um meio de ganhar dinheiro", conta Campos. Em 2021, o torneio da CUFA distribuiu 100.000 reais para a equipe vencedora.

Mas os torneios são apenas uma das formas de gerar renda.

O jogo transformou os melhores em profissionais e influenciadores.

Alguns como Bruno "Nobru" Goes, que tem 13 milhões de seguidores no Instagram, transmitem seus jogos online, atraindo o interesse de marcas e gerando dinheiro com visualizações e patrocínios.

Aos 21 anos, "Nobru", nascido em uma favela de São Paulo, ganhou tanta notoriedade que ficou conhecido como o "Neymar do Free Fire" e, sendo o mais popular do Brasil, a mídia local noticiou que graças a suas transmissões fatura dois milhões de reais por mês.

"(Nobru) é praticamente um Neymar do jogo. Ele veio de uma favela pequena, trabalhou muito e isso deu resultado. Há muito trabalho e esforço, de madrugada jogando, e hoje ele está aí", explica Yan Araújo, sem esconder a admiração.

- Tomando espaço do futebol -

Nas favelas, onde surgiram jogadores talentosos como Vinícius Junior, do Real Madrid, ou Gabriel Jesus, atacante do Manchester City, os treinadores percebem um maior desinteresse pela bola.

"Alguns não vêm treinar mais porque ficam jogando Free Fire", diz João de Oliveira, técnico da "Toque de Bola", uma escolinha de futebol em um bairro nos arredores de Brasília. "É cedo para dizer que a maioria está ficando com o videogame, mas a cada dia ele ganha mais espaço."

Os games estão conquistando inclusive um lugar dentro de clubes tradicionais como Flamengo e Corinthians, que já possuem seus times profissionais de Free Fire.

Matheus da Silva, parceiro de Yan Araújo, garante que treina para um dia ser como "Bak", apelido do brasileiro Gabriel Lessa no Free Fire. "(Bak) ganhou sete campeonatos nacionais. Ele é como (Lionel) Messi, que tem sete Bolas de Ouro".

No início, a mãe desse adolescente, Claudia, desaprovava que o filho passasse tantas horas na frente do celular, mas com o campeonato conquistado no ano passado, algo mudou.

"(O Free Fire) Não é só um jogo. Vamos ver se no futuro (Matheus) vai ser um excelente jogador e viver disso", diz ela.

Um levantamento feito no conjunto de favelas da Maré, no complexo do Alemão e na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, apontou que 83% dos moradores dessas comunidades ouviram tiros de dentro de suas casas durante a pandemia. Além disso, sete em cada dez informaram terem presenciado ou souberam de operações policiais nessas áreas durante o período. O estudo mostrou ainda que quase três quartos dos moradores afirmaram sentir que houve aumento do número de casos de violência doméstica desde o início da pandemia.

Os dados fazem parte da pesquisa "Coronavírus nas favelas: a desigualdade e o racismo sem máscaras". Realizada pelo coletivo Movimentos, a pesquisa contou com apoio do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) e entrevistou 955 moradores das três regiões.

##RECOMENDA##

Em junho do ano passado, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), restringiu operações nas favelas do Rio enquanto houver pandemia. As ações só podem ocorrer em "casos excepcionais".

O levantamento também apontou que 93% dos moradores dessas favelas teve ou conhece alguém que contraiu o coronavírus. E a dificuldade em manter isolamento social pode ter contribuído para isso.

Segundo a pesquisa, mais da metade dos moradores entrevistados (54%) informou que não conseguiu manter o distanciamento social. Na média, três pessoas têm de dividir o mesmo cômodo das casas nas favelas entrevistadas. Na pesquisa, 55% dos que responderam informaram morar com alguém que integra grupo de risco.

O uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 foi incomum entre os moradores das favelas. Apenas 4% disseram ter usado ivermectina e hidroxicloroquina como "tratamento precoce" à covid-19. Entre os que responderam ao estudo, 76% declararam ter algum distúrbio do sono; 43,1% informaram ter algum nível de depressão; e 34% disseram que a ansiedade é o sentimento mais presente em relação à pandemia.

Uma pesquisa realizada pelo Outdoor Social Inteligência, Instituto de Pesquisas especializado na classe C, constatou que os moradores das favelas do Brasil podem gerar R$ 75 milhões para instituições de ensino, estudando em cursos superiores, e R$ 84 milhões, com os cursos regulares, popularmente conhecidos como cursos técnicos.  Além disso, o levantamento mostra que o potencial de consumo anual geral das 14 maiores comunidades do País chega aos R$ 9,9 bilhões. Os dados foram divulgados pelo G10, bloco das favelas com maior potencial econômico do Brasil. 

A pesquisa revelou que maioria dos entrevistados (60%) está matriculado nos cursos técnicos. Além disso, 47% tem bolsa ou estudam em instituição pública, e os outros 13% pagam pela formação.

##RECOMENDA##

Os que cursam faculdade são 40%, sendo 17% bolsistas ou matriculados em universidades públicas e 23% estão pagando pelo ensino. Outros destaques da pesquisa são as áreas cursadas. Quase metade (48%) está em um curso de Humanas, 31% na área de Exatas, 20% em Saúde e biológicas e 1% na área agrária.

“A maior procura por cursos técnicos tem como motivação uma capacitação de curto prazo, já voltado para o mercado de trabalho. Contudo, 40% é um ótimo índice em relação às faculdades que seguem uma crescente. Temos notado que, cada vez mais, as pessoas desses territórios têm buscado uma vida acadêmica”, conta Emília Rabello, fundadora do Outdoor Social Inteligência.

A Pesquisa foi realizada de forma presencial no mês de maio de 2021. Foram ouvidas 435 pessoas residentes em 15 comunidades do Brasil. O perfil dos ouvidos na pesquisa é composto 58% por mulheres e 42% por homens.

Considerada a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, a ação policial na favela do Jacarezinho, zona norte da capital fluminense, nessa quinta-feira (6), deixou 25 mortos e mais uma mancha no histórico de despreparo da segurança pública carioca. O caso, que segue enfrentando grande repercussão e críticas, chegou com força à mídia internacional, que não poupou palavras ao descrever e relembrar episódios de violência policial no Brasil.

No novo triste episódio, segundo a Polícia Civil, 24 suspeitos de integrar o crime organizado foram mortos durante o conflito com traficantes. As identidades ou circunstâncias das mortes ainda não foram reveladas, embora a corporação fale em baixas conflituais, o que entra em conflito com os relatos da população, que menciona execução e abuso policial.

##RECOMENDA##

Também perdeu a vida durante o confronto o policial civil André Leonardo de Mello Frias, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod). Outros dois agentes foram baleados e dois passageiros do metrô ficaram feridos após serem atingidos dentro de uma composição.

Repercussão internacional

O massacre na favela carioca teve repercussão imediata no exterior. Na mídia britânica, as manchetes que mais repercutiram foram do The Guardian e The Independent. Na Argentina, o La Nación também noticiou o ocorrido. Veículos franceses como o Le Monde Diplomatique ou catarianos, como o Al Jazeera, integraram a cobertura internacional sobre o caso. Em todas as publicações, classificações como “carnificina”, “violência policial”, “banho de sangue” dão o tom necropolítico que descreve a ação policial no Rio de Janeiro.

A publicação francesa se baseia em texto da agência de notícias AFP e fala em "banho de sangue", trecho em destaque na reportagem. O Le Monde cita depoimentos de moradores da região sobre corpos em poças de sangue no chão e outros sendo levados para veículos blindados das forças de segurança, assim como depoimentos que falam em execução.

“Moradores relataram ter visto cadáveres caídos na calçada em poças de sangue e vários corpos retirados de um veículo blindado da polícia, disse uma autoridade da comunidade local, pedindo por razões de segurança que seu nome não fosse publicado”, diz o texto.

O The Guardian foi o primeiro veículo internacional a noticiar o massacre. Com tom altamente crítico, o britânico menciona “comemorações” da Polícia Civil e chama de “carnificina” o ocorrido, citando falas polêmicas de figuras brasileiras sobre a operação.

“Policiais e suas animadoras de torcida nos tabloides cariocas celebraram a missão como um ataque essencial às gangues de traficantes que há décadas usam as favelas como suas bases. “Seria ótimo se a polícia pudesse lançar duas operações como essa todos os dias para libertar o Rio de Janeiro dos traficantes, ou pelo menos reduzir seu poder”, disse o apresentador do Balanço Geral, um popular programa policial de televisão, aos telespectadores saudando o que ele chamado de ataque ‘cirúrgico’”, escreveu o jornal.

Na rede de notícias Al Jazeera, do Catar, a reportagem traz o termo “carnificina” no título (foto de capa). "A mídia brasileira aplaudiu amplamente a operação, dizendo que foi uma repressão justificada ao tráfico de drogas e outros crimes violentos na comunidade."

Após diversas publicações sobre o assunto, o espanhol La Nación dedicou um dos textos para falar dos relatos de abuso policial durante a operação. Na foto, se destaca o registro da fotógrafa Silvia Izquierdo, da AP, que mostra uma jovem do Jacarezinho gritando em direção aos policiais durante o conflito.

“Ecos de um tiroteio sangrento de várias horas em uma favela do Rio de Janeiro duraram até sexta-feira: as autoridades disseram que a operação policial matou com sucesso duas dúzias de criminosos, e moradores e ativistas denunciaram abusos dos direitos humanos. Pouco depois do amanhecer de quinta-feira, dezenas de policiais civis do estado invadiram o Jacarezinho. Eles procuravam traficantes de drogas de uma das organizações criminosas mais conhecidas do país, o Comando Vermelho, e os corpos se amontoaram rapidamente”, relatou o veículo.

Para auxiliar na resposta ao enfrentamento da pandemia da covid-19 e seus efeitos nas comunidades, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou nesta quarta-feira (24) a Chamada Pública para Apoio a Ações Emergenciais de Enfrentamento à Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro.

A iniciativa conta com o aporte financeiro de R$ 20 milhões doados pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro no ano passado.

##RECOMENDA##

A chamada pública irá financiar projetos em todo estado do Rio que contribuam para ampliar a participação social na vigilância em saúde de base territorial nas favelas fluminenses. O regulamento e a ficha de inscrição estão disponíveis até o dia 29 de abril. O resultado final será divulgado no dia 7 de junho.

As propostas poderão se encaixar em quatro faixas de orçamento: até R$ 50 mil; até R$ 150 mil; até R$ 300 mil e até R$ 500 mil . Além disso, poderão se vincular a duas ou mais das sete áreas de interesse: apoio social; comunicação e informação; saúde mental; proteção individual e coletiva; apoio à testagem, rastreamentos e isolamento; educação e promoção de territórios saudáveis e sustentáveis.

Segundo a Fiocruz, inicialmente, a chamada pública selecionará para financiamento imediato os primeiros 41 projetos aprovados com o montante de R$ 4,5 milhões.

“Podem se candidatar as organizações da sociedade civil sem fins lucrativos com existência comprovada há pelo menos um ano, localizada em favela ou que seja atuante na favela, com histórico comprovado de trabalho junto às favelas e também os coletivos sem personalidade jurídica baseados e atuantes em favela, desde que os projetos sejam apresentados por instituição parceira legalmente constituída”, informou a Fiocruz.

 

Líderes comunitários das dez maiores favelas do Brasil vão lançar um banco para ajudar empreendedores e moradores destas localidades carentes, que sofrem com o desemprego e a redução das doações em meio à pandemia do coronavírus.

O "Banco do G10", que deve entrar em funcionamento no final do mês, facilitará o acesso de empreendedores ao microcrédito e permitirá aos residentes obter um cartão de débito.

A iniciativa surgiu da coordenação entre duas favelas do Rio de Janeiro, duas de São Paulo e seis de outras regiões, que formaram um "G10 das Favelas", com projetos que vão da distribuição de cestas básicas à prestação de assistência médica, além da assistência jurídica. Agora sua atuação se estende à área financeira.

Segundo uma pesquisa da consultoria Locomotiva, 45 milhões de brasileiros (aproximadamente um em cada três adultos) não possuíam conta em banco em 2019; isto se deve, principalmente, à desconfiança entre os bancos e as pessoas de baixa renda ou desempregadas.

E obter um empréstimo também é difícil para famílias ou pequenos empresários das favelas, que nestes tempos de crise poderiam utilizá-los para manter seus negócios funcionando.

É o caso do restaurante "Bistrô Mãos de Maria", no coração de Paraisópolis (a segunda maior favela de São Paulo, com mais de 100 mil habitantes).

"A gente se juntou ao G10 das Favelas para a produção de marmitas solidárias, que são doadas diariamente na comunidade desde o início da pandemia. De lá para cá, a gente já distribuiu 1,3 milhão de marmitas para a comunidade", mas desde dezembro as doações caíram, conta Elizandra Cerqueira, fundadora do estabelecimento.

- "Visão mais adaptada" -

Para manter sua atividade e continuar a pagar os salários das funcionárias, Elizandra precisa de um empréstimo.

"Os bancos tradicionais exigem um critério de comprovações, de histórico econômico, de movimentação de faturamento. O diferencial do G10 vai ser justamente esse: ter um olhar voltado para o público da periferia e da favela", ressalta Elizandra.

Além de dar empréstimos a juros baixos aos empreendedores das favelas, o novo banco pretende dar aos moradores um cartão para compra de produtos essenciais nas lojas da região no valor equivalente a uma cesta básica.

O Banco G10 terá um capital inicial de R$ 1,8 milhão, aportado por "investidores anônimos" e receberá assessoria de economistas e especialistas em finanças.

Um terço dos seus lucros irá para financiar programas sociais criados durante a pandemia.

A iniciativa se inspira em experiências locais, como a do pioneiro Banco Palmas, em Fortaleza, e nas teorias e ações em Bangladesh de Muhamad Yunus, Prêmio Nobel da Paz e pioneiro do microcrédito por meio do banco Grameen.

"Acreditamos muito no potencial de transformação que foi feito em Bangladesh, mas atuando em uma perspectiva ainda maior, porque nós temos a nosso favor uma comunidade organizada, e o momento tecnológico que pode facilitar alavancar essa iniciativa", destaca o coordenador do "G10 das Favelas", Gilson Rodrigues.

- 40 anos, 12 filhos e avó -

Depois do fim do auxílio emergencial pago pelo governo a quase um terço dos brasileiros de abril a dezembro, grande parte da população conta com a solidariedade como único recurso.

Uma fila serpenteia todas as manhãs em uma entrada de Paraisópolis, que reúne gente esperando por comida.

Célia da Costa Gomes, mãe de 12 filhos e agora avó aos 40 anos, carrega cinco ou seis caixas de alumínio que mal dão para alimentar a todos.

"Para roupa vivo de doação, cesta também vivo de doação, mas falta a mistura, o leite, quebra uma sandália tenho que comprar, cresce o cabelo tem que cortar, fica difícil. Agora se voltasse o auxílio (do governo) ia ajudar porque emprego não tem, sumiu do mapa", conta.

Naldo Matos, de 42 anos, nem conseguiu o auxílio. Ele vivia de bicos, mas com a pandemia eles acabaram e todo dia ele recorre à 'marmita solidária'.

"Estou passando muita necessidade, muita necessidade. Por exemplo, agora se eu quisesse 1 real para comprar um pão, não teria", explica.

"A gente sente que agora é o momento em que as pessoas mais precisam (de ajuda). É urgente", ressalta Gilson Rodrigues, coordenador do G10 das Favelas.

Uma parceria entre a Central Única de Favelas (Cufa) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) ofertará cursos de qualificação para empreendedores formais e informais em favelas de Pernambuco. O objetivo é fomentar o ambiente de inovação e negócios nas comunidades. 

As aulas serão ministradas por analistas do Sebrae partir de quarta-feira (18) até o dia 25 deste mês, durante a Semana Global do Empreendedorismo. Todas as capacitações serão on-line e transmitidas através do app Microsoft Teams sempre das 19h às 21h. Para participar, é preciso se inscrever gratuitamente através do site da iniciativa, telefone 0800-570-0800 ou pelo WhatsApp do Sebrae: (81) 9194-6690. Cada curso terá o limite máximo de 100 inscritos. 

##RECOMENDA##

“A retomada das atividades econômicas nas favelas devem passar pela qualificação e melhora no serviço e produto ofertado pelos empreendedores. A CUFA Pernambuco aposta nas oportunidades oferecidas pela Semana Global do Empreendedorismo realizada pelo Sebrae/PE para um momento de integração, atualização e troca de forma que os moradores das favelas pernambucanas integrem os conhecimentos adquiridos e dêem um gás nos seus negócios já existentes ou que ainda serão lançados”, disse Altamiza Melo, presidente da Cufa PE, à assessoria de imprensa.

Edielsen Lins, analista do Sebrae, destacou a realização da Semana Global de Empreendedorismo como fator de aproximação com a CUFA. “Estamos trabalhando para construir uma forte parceria entre SEBRAE/PE e CUFA/PE para 2021. Essa ação é apenas o começo de muitas para o novo ano que se aproxima.”

LeiaJá também

--> Sebrae recebe inscrições feira internacional de negócios

O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira, 4, que irá disponibilizar R$ 1,2 bilhão para ampliar a rede de vigilância a casos leves da covid-19 e criar locais de atendimento em favelas e comunidades. Desde o começo da crise sanitária, o governo federal é cobrado para aperfeiçoar o tratamento da covid-19 em locais mais pobres.

São dois novos serviços custeados pelo governo federal. Para o "Centro de Atendimento para Enfrentamento à Covid-19", serão reservados R$ 896,6 milhões. Cada unidade de saúde habilitada nesta modalidade receberá de R$ 60 a R$ 100 mil mensais.

##RECOMENDA##

Já o programa de "Centro Comunitário de Referência para Enfrentamento à COVID-19", busca ampliar atendimentos em comunidades e favela, com orçamento de R$ 215,3 milhões. A ideia é repassar de R$ 60 mil a R$ 80 mil mensais a cada unidade de atendimento, que pode ser montada, inclusive, em centros comunitários.

As prefeituras devem solicitar credenciamento ao serviço para o recurso ser liberado. As unidades de atendimento devem ter à disposição médicos, enfermeiro e técnico ou auxiliar de enfermagem.

Os recursos podem custear serviços em novos locais de atendimento ou em espaços já ativados. O mesmo município pode ser habilitado os dois tipos de serviço de atendimento. O horário de funcionamento de cada estabelecimento é de 40 horas semanais.

Para a criação das unidades de atendimentos em comunidades e favelas, o município deve reservar local com ao menos 4 salas. Segundo o Ministério da Saúde, há 196 cidades com áreas de "aglomerado subnormal", uma classificação do IBGE, que podem receber a verba da Saúde nesta modalidade.

O Ministério da Saúde ainda repassará R$ 85,69 milhões para 323 municípios melhorarem serviços de atenção básica, atualizando informações cadastrais e reforçando a busca ativa e monitoramento de casos da covid-19. O recurso chegará a prefeituras com pessoas de comunidades e favelas cadastradas em dados do governo. A ideia é custear serviços de busca ativa por casos da covid-19 e monitoramento de contatos de infectados, entre outros.

Contato: mateus.vargas@estadao.com

Um levantamento feito pela ONG Redes da Maré aponta indícios de subnotificação de infecções e mortes pelo novo coronavírus na comunidade da zona norte carioca, onde vivem mais de 140 mil pessoas. Segundo a organização, até 18 de maio foram registrados na região 193% mais doentes e 65% mais óbitos do que a contagem da Prefeitura. A Secretaria Municipal de Saúde afirma desconhecer a metodologia do trabalho.

Os números da Redes reforçam a suspeita de que nas áreas mais pobres do Rio a doença tem dinâmica peculiar. Impulsionada por más condições sanitárias e pela descrença da população, o vírus pode ter avançado mais do que se supõe oficialmente. "Não há testagem", disse Eliana Sousa, diretora e fundadora da ONG.

##RECOMENDA##

"Pode ser que algumas pessoas estejam morrendo e o diagnóstico não seja conclusivo. Muitas mostram (o atestado de óbito e dizem): 'Olha, não está dito que foi covid, porque não houve testagem, mas está dizendo que a pessoa morreu por complicação respiratória.'"

Segundo dados oficiais, na Maré, até a segunda-feira da semana passada, havia 89 infectados e 23 mortos. A Redes contrapôs a contagem que apurou até então no bairro: 261 infectados e 38 mortos. Nos dois casos, considerou tanto confirmados por testagem como casos suspeitos. O levantamento apontou que 47% dos óbitos estavam sob investigação, e 80% dos pacientes com sintomas não foram testados. Os dados foram compilados a partir de informações passadas pelas redes sociais e checadas por equipes da ONG, que foram às casas de moradores com sintomas. "Alguns moradores que também apresentaram sintomas sequer buscaram atendimento, pois foram orientados a ficar em isolamento em caso de sintomas leves", indica boletim da Redes.

Moradora da comunidade Marcílio Dias, uma das 16 da Maré, Valdineide Bernardo foi uma das pacientes sintomáticas que buscou ajuda médica e recebeu orientação para voltar para casa. Ela contou que a filha Gabriela, grávida e com 17 anos, teve tosse por três dias. Depois, quem começou a tossir foi Valdineide, diabética. Vieram febre, dor de garganta. Ela foi ao Centro Municipal de Saúde João Cândido, onde a médica receitou um antibiótico. Não houve encaminhamento para exame. Na pequena casa, o pai de Valdineide também adoeceu.

"Aqui é um cubículo: um quarto, uma sala, um banheiro. Então, provavelmente deve ser (covid-19). E não mandaram fazer o teste", queixou-se. Ela reclamou que levou o pai, idoso e diabético, que tinha sintomas, três vezes para ser examinado. Mas disseram que ele estava bem, sem nada na garganta. "E meu pai piorando." Sem ambulância, levou-o em um carro de aplicativo ao Hospital Getúlio Vargas, onde foi internado e aguarda resultado do teste.

Eliana diz que orientações sobre a covid-19 - como ficar em casa se sintomas forem leves - foram inadequadas para moradores de comunidades. Ela também reclamou do que chamou de "sucateamento" das unidades de saúde e da falta de recursos. "Não tem oxímetro (aparelho que mede oxigenação) nas Clínicas da Família." Erros de endereço - a Maré é bairro desde 1994 - também estariam engordando números dos vizinhos Bonsucesso e Ramos.

Dados oficiais

A Secretaria Municipal de Saúde ressaltou que "os dados que divulga são de casos confirmados por exames laboratoriais". Também informou que o registro por bairros considera a notificação com o endereço informado pelo paciente. A pasta ainda negou sucateamento das unidades de atenção primária nas comunidades do Rio.

A secretaria afirmou que pacientes internados com suspeita de Síndrome Respiratória Aguda Grave "são testados logo nas primeiras 24 horas da internação ou até antes". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Prefeitura do Rio confirmou neste domingo os primeiros casos de coronavírus na Rocinha, na zona sul do Rio. Segundo o Painel Rio Covid-19, da Secretaria Municipal de Saúde, quatro moradores (três homens e uma mulher) da favela foram diagnosticados com a doença.

Além da Rocinha, já há confirmações de contaminação em outras comunidades do Rio como Cidade de Deus (1), Vidigal (1), Complexo do Alemão (1), Vigário Geral (2) e Mangueira (1).

##RECOMENDA##

A cidade do Rio já contabiliza 1.068 casos confirmados de covid-19, em 106 bairros. De maneira isolada, a Barra da Tijuca, na zona oeste, tem o maior número de pacientes contaminados (115). Por região, a zona sul concentra mais pacientes diagnosticados com o vírus, num total de 424.

Hoje 74 pessoas estão internadas em hospitais da rede municipal com a doença, um aumento de 13 casos em relação ao sábado. Nove óbitos foram confirmados nessas unidades de saúde.

Os moradores das periferias brasileiras estão muito preocupados com o coronavírus e acreditam que a quarentena é o melhor remédio para combater a pandemia da doença no País. Segundo pesquisa feita pela agência da publicidade Responsa - especializada em ações de marketing para comunidades - mostra que 96% dessa população acredita na eficácia do isolamento social para conter a contaminação. O levantamento mostrou ainda que 90% dos entrevistados disseram sentir que o governo não está realizando ações eficazes para ajudar os mais pobres nesse momento.

A pesquisa ouviu 525 pessoas de várias partes do Brasil, com 40% de concentração em São Paulo, entre os dias 25 e 28 de março. Todos os entrevistados pertencem às classes C, D e E.

##RECOMENDA##

Segundo o chefe de criação da agência, Samuel Gomes, que vive na Vila Guarani, na zona sul de São Paulo, a preocupação é explicada pela estrutura da vida em comunidades de renda mais baixa. "Todo mundo vive muito junto na periferia - avós, pais, filhos e tios. E sabemos, por enfrentarmos a realidade do SUS e do transporte público, que a transmissão da doença vai afetar principalmente a gente."

O temor da falta de dinheiro e do desemprego também aparece com força no levantamento. Segundo a pesquisa, apenas 52% das pessoas estão trabalhando normalmente ou em home office. O restante se divide entre os que já não trabalhavam (30%), empregados que deixaram de receber salário (11%) e demitidos por causa da crise (4%).

Diante dessa realidade de desencanto com a ajuda oficial, Gomes - conhecido no mercado publicitário como Samuka - diz que as empresas podem ocupar o vácuo de assistência deixado pelo governo. A pesquisa mostrou que 81% dos entrevistados acreditam que as marcas podem fazer alguma coisa para ajudá-los nesse período de confinamento, seja com doações de alimentos e álcool em gel ou com informações e entretenimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando