Tópicos | Fernández

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, se reuniu na manhã desta terça-feira (21) com o presidente eleito, Javier Milei, para iniciar a transição para a próxima gestão presidencial, que se inicia no próximo 10 de dezembro.

Milei, que partiu de um hotel em Buenos Aires sem dar declarações à imprensa, foi eleito no domingo (19) pelo La Libertad Avanza, e obteve 55,69% dos votos, mais de 11 pontos porcentuais acima do governista e atual ministro da Economia, Sergio Massa. Fonte: Associated Press.

##RECOMENDA##

Em seu último discurso na Assembleia-Geral da ONU, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, defendeu nesta terça-feira, 19, uma reforma do sistema financeiro global, sob o argumento de que o modelo vigente impõe políticas econômicas ortodoxas que, segundo ele, aprofundam as desigualdades sociais.

Fernández, que não concorre à reeleição no pleito presidencial deste ano, exortou a comunidade internacional a trabalhar em uma nova estrutura para ditar a gestão de dívidas soberanas.

##RECOMENDA##

O líder argentino criticou o Fundo Monetário Internacional (FMI) por subir os juros cobrados em seus empréstimos todas as vezes que os Estados Unidos apertam a política monetária nacional. Na gestão de Fernández, o país latino-americano fechou uma reestruturação dos débitos que mantém com o FMI, em troca de compromissos fiscais.

Fernández também voltou a alegar que as Ilhas Malvinas são "direito legítimo e soberano" da Argentina. O território, conhecido em inglês como Falklands, é governado pelo Reino Unido, apesar das reivindicações argentinas. "Lamentamos que o Reino Unido se recuse a negociar", disse.

Entre outros temas geopolíticos, Fernández exortou os Estados Unidos a removerem as sanções em vigor contra a Venezuela e a suspenderem o bloqueio comercial contra Cuba.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse nesta segunda-feira, 26, que negociará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma pauta para fortalecer as relações entre Brasil e Argentina. Ele deu as declarações durante encontro com o presidente da Argentina, Alberto Fernández. A conversa foi transmitida nos canais do Senado.

"A Argentina é um grande parceiro comercial, e a Argentina tem no Brasil um grande parceiro comercial. Seria muito egoísta e pouco inteligente que o Brasil fechasse os olhos para os problemas da Argentina", disse Pacheco.

##RECOMENDA##

"Pedirei ao presidente Lula uma audiência específica para identificarmos como o Congresso Nacional brasileiro pode colaborar com as ações de fortalecimento das relações entre Brasil e Argentina", declarou o presidente do Senado.

"Há uma relação de amizade, de apreço, de consideração, mas há uma relação de interesse bilateral. E é evidente que o Brasil tem que contribuir para a solução da Argentina", disse o senador. "É inevitável a busca de auxílio à Argentina no momento de crise", declarou ele.

"Recentemente um grupo de industriais brasileiros solicitaram a nós que pudéssemos criar políticas de incentivos para exportações para a Argentina. Isso é fundamental para a indústria brasileira", afirmou Pacheco.

A conversa entre Pacheco e Fernández foi parte da visita de Estado feita pelo argentino. Também participaram os senadores Weverton Rocha (PDT-MA), Fabiano Contarato (PT-ES), Jaques Wagner (PT-BA) e Ivete da Silveira (MDB-SC).

A Argentina passa por uma profunda crise econômica e terá eleições no segundo semestre. Fernández não tentará reeleição.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, afirmou nesta segunda-feira, 26, que seu encontro com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, nesta segunda representa "mais um passo" na integração com o Brasil.

Fernández faz nesta segunda uma visita de Estado ao País e almoçou no Palácio do Itamaraty com Lula e ministros como Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Alexandre e Padilha (Relações Institucionais).

##RECOMENDA##

O vice-presidente Geraldo Alckmin também participou, assim como os líderes do governo no Congresso, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

Em uma rápida declaração à imprensa ao deixar o Itamaraty, Fernández afirmou que ele e Lula falaram dos temas que preocupam as duas partes.

"Vou embora com a felicidade de ver meu amigo de sempre", disse o argentino, que veio ao Brasil reforçar seu pedido de socorro para vencer uma crise econômica. Lula não fez declarações após o almoço.

Agora, Fernández segue para reuniões com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber.

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Alberto Fernández, vão se reunir pela quinta vez neste ano. Os governos dos dois países trabalham na organização de uma visita de Estado de Fernández a Brasília, no dia 26 de junho.

Essa será a quarta viagem do presidente argentino à capital brasileira, num intervalo de seis meses. Envolto em uma crise econômica e de popularidade, o presidente argentino desistiu de concorrer à reeleição, mas discute com Lula formas de apoio para reação do governante de esquerda.

##RECOMENDA##

A visita de Estado ocorrerá dois dias depois do prazo para confirmação dos candidatos presidente que disputarão o comando da Casa Rosada. O atual embaixador argentino em Brasília, Daniel Scioli, é pré-candidato. Lula já manifestou preocupação com o favoritismo do deputado de extrema-direita Javier Milei.

O governo brasileiro já pediu aos ministérios com temas relacionados à agenda bilateral para prepararem relatórios da evolução dos trabalhos. Lula e Fernández devem revisar os 84 pontos da declaração conjunta do primeiro encontro entre eles, em janeiro, em Buenos Aires. Uma das possibilidades é que haja encontro entre ministros dos dois países. A comitiva e o programa oficial ainda estão em elaboração.

Dois temas agregados mais recentemente foram o apoio do Brasil com financiamento de empresas nacionais que são exportadoras de bens e serviços para a Argentina, além do ingresso do país como integrante do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco dos BRICS. A instituição está em expansão.

O banco sediado em Xangai, na China, e presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff, foi fundado pelos cinco membros originais do grupo - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Entre os temas discutidos, o financiamento pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao gasoduto de vaca-muerta e o uso de uma moeda comum para transições comerciais na região, que pode ajudar a dependência do dólar, um dos problemas atuais da Argentina.

A ideia é que Fernández visite autoridades da cúpula dos três poderes em Brasília, entre eles o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber.

Encontros entre Lula e Alberto Fernández, desde a posse do petista

- 1º e 2 de Janeiro: viagem de Fernández para posse presidencial de Lula em Brasília e encontro bilateral no Palácio do Itamaraty

- 23 e 24 de Janeiro: viagem de Lula para a Cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos) e reunião bilateral em Buenos Aires

- 2 de Maio: visita de Alberto Fernández para reunião no Palácio da Alvorada

- 30 de Maio: viagem de Fernández para reunião dos presidentes de países sul-americanos e encontro bilateral no Palácio do Itamaraty

- 26 de Junho: futura visita de Estado do presidente argentino a Brasília

Com gols de Lionel Messi e Enzo Fernández, a Argentina superou o México por 2 a 0, no estádio Lusail, neste sábado (26), na segunda rodada da Copa do Catar. O resultado deixa a seleção sul-americana em segundo lugar no Grupo C, com três pontos, um a menos que a líder Polônia. Apesar disso, o grupo segue embolado, já que todas as seleções da chave ainda têm chances matemáticas de se classificar para as oitavas de final.

Apesar da maior posse de bola (67%), a Argentina não conseguiu no insosso primeiro tempo transformar em gols esta vantagem sobre os mexicanos. O panorama repetia-se na etapa final até que Lionel Messi acertou as redes do goleiro Guillermo Ochoa, com um chute rasteiro e cruzado de fora da área. Aos 35 anos e participando pela quinta vez de uma Mundial, Messi igualou-se a Maradona em número de jogos (21) e gols (oito) na competição.

##RECOMENDA##

Entretanto, o lance mais bonito da partida coube ao jovem Enzo Fernandéz, de apenas 21 anos. O volante do Benfica (Portugal) recebeu a bola dentro da grande área, driblou o marcador e acertou um golaço no ângulo, sem chances para Ochoa.

A definição do Grupo C ocorrerá na próxima quarta-feira (30), às 16h (horário de Brasília), quando simultaneamente a Argentina (três pontos) enfrenta a líder a líder da chave Polônia (quatro pontos), e a Arábia Saudita (tres pontos) encara o México.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a fazer menção à fala do presidente da Argentina, Alberto Fernández, que disse que os brasileiros vieram da selva, enquanto argentinos chegaram ao continente em navios. Bolsonaro minimizou a declaração do chefe de Estado do país vizinho. "Com todo respeito ao povo argentino, não tem vacina para curar o socialismo, essa visão retrógrada de Fernandez e Maduro. Eu levo isso aí que o Fernandez falou na brincadeira."

Durante a live, Bolsonaro soube que a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votava contra ações para impedir a realização da Copa América no Brasil. "O Supremo dessa vez até que foi bem", brincou. Já esperávamos. Vamos massacrar a Venezuela", disse, em referência ao jogo de estreia da competição.

##RECOMENDA##

O presidente Jair Bolsonaro ironizou, nesta quinta-feira (10), fala do presidente da Argentina, Alberto Fernández, sobre brasileiros e o comparou ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. "Presidente da Argentina falou que eles vieram da Europa, de barco, nós viemos da selva né?", perguntou Bolsonaro aos apoiadores na saída do Palácio da Alvorada. "Eu lembro que, logo depois que o Chávez morreu, assumiu o Maduro, e ele falava que conversava com os passarinhos que estavam encarnados na figura do Chávez. Acho que Maduro e Fernández, para eles não tem vacina", brincou em seguida.

Durante encontro com o premiê da Espanha, Pedro Sánchez, Fernández disse nesta quarta-feira que mexicanos vieram dos índios, brasileiros vieram da selva e argentinos, de barco da Europa. Depois, o presidente argentino se desculpou em sua conta no Twitter. "Eu não quis ofender ninguém", escreveu. Ainda nessa quarta-feira, Bolsonaro postou uma foto no Twitter ao lado de índios na Amazônia e escreveu "Selva!". Além de uma possível ironia a Fernández, a palavra é tradicionalmente usada como saudação por militares.

##RECOMENDA##

A apoiadores, Bolsonaro ainda disse ter conversado com o ex-presidente da Argentina Mauricio Macri por mensagem e minimizou possível atrito entre os países. "Troquei mensagem por 'zap' hoje do ex-presidente Macri, da Argentina. Não tem nenhum problema entre nós, e nem com o povo argentino. Rivalidade com a Argentina, só no futebol".

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e seu homólogo argentino, Alberto Fernández, tiveram uma conversa nesta segunda-feira, 5, seguindo o anúncio de que Fernández contraiu a covid-19, mesmo após ter recebido as duas doses da vacina russa Sputnik V. Em comunicado, o Kremlin afirmou que o presidente da Argentina expressou confiança e agradeceu pelo imunizante ter evitado uma manifestação mais agressiva da doença. Ambos ressaltaram o interesse em seguir a colaboração durante a pandemia, segundo documento.

Ontem, o chefe de gabinete do governo de Fernández, Santiago Cafieiro, anunciou a chegada de mais 497.745 doses da Sputnik V ao país. Em seu Twitter, Cafieiro afirmou que a Argentina conta com mais de 7 milhões de doses para lidar com a pandemia.

##RECOMENDA##

O Instituto Gamaleya, responsável pelo desenvolvimento da vacina russa SputnikV, respondeu ao tuíte do presidente argentino Alberto Fernández, no qual ele anunciou ter testado positivo para covid-19, reforçando sobre a eficácia da vacina. Fernández havia tomado as duas doses da Sputnik, em janeiro e em fevereiro.

"Estamos tristes de ouvir isto (o anúncio da infecção do presidente argentino). A SputnikV é 91,6% efetiva contra a infecção e 100% eficaz contra casos raros. Se a infecção de fato é confirmada e ocorre, a vacinação garante rápida recuperação sem sintomas severos. Desejamos a você (Fernández) uma rápida recuperação", afirmou o Instituto na postagem pelo Twitter.

##RECOMENDA##

Em entrevista à CNN que foi ao ar nesta manhã o médico Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Anvisa, afirmou que em 35 países a Sputnik ainda não teve aprovação de agências sanitárias. Procurado pela reportagem, o instituto não confirmou essa informação, mas reforçou que a Sputnik está aprovada para uso em 59 países e que é a segunda no mundo em número de aprovações por órgãos reguladores governamentais.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou neste sábado, por meio de sua conta no Twitter, que testou positivo para a covid-19. Fernández já havia sido vacinado com a vacina russa Sputnik V.

"No fim do dia de hoje, após ter registrado febre de 37,3 graus e uma leve dor de cabeça, fiz um teste de antígeno cujo resultado foi positivo. Aguardo a confirmação pelo teste PCR, mas já me encontro isolado, cumprindo o protocolo vigente e seguindo as orientações do meu médico", disse Fernández pelo Twitter.

##RECOMENDA##

No dia 21 de janeiro, o presidente argentino postou no Twitter uma foto sua na qual aparecia recebendo a vacina Sputnik.

Na postagem de hoje, Fernández informou também que entrou em contato com as pessoas com as quais havia se reunido nas últimas 48 horas para avaliar se seria necessário que também ficassem em isolamento.

"Estou bem fisicamente e, ainda que quisesse ter terminado o dia do meu aniversário (ontem, 2) sem esta notícia, também encontro-me bem de ânimo", continuou o presidente no Twitter hoje. Ele pediu ainda que os cidadãos mantenham os cuidados ante a pandemia.

"Devemos ficar muito atentos. Peço a todos e todas que se preservem e sigam as recomendações vigentes. É evidente que a pandemia não passou e devemos continuar nos cuidando", afirmou.

Contato: clarice.couto@estadao.com

Em um debate virtual na sexta-feira (26), o presidente argentino, Alberto Fernández, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defenderam o Estado forte, união da América Latina e o restabelecimento de seus organismos multilaterais para lidar com um cenário pós-pandemia. Os dois exaltaram políticas que "priorizam a vida, e não a economia", como única alternativa para superar a crise, um lema que Fernández repete desde os primeiros casos na Argentina.

O debate virtual foi promovido pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires (UBA), onde o presidente argentino foi professor, com o objetivo de discutir o futuro da América Latina após a pandemia. Também participaram da live o Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, a jurista da Universidade Federal do Rio de Janeiro Carol Proner e o ministro da Educação da Argentina, Nicolás Trotta.

##RECOMENDA##

Pouco antes do evento virtual, Fernández anunciou o endurecimento das medidas de confinamento em Buenos Aires e periferia, de 1º a 17 de julho, diante do aumento de contágios de Covid-19 nos últimos dias. "Vamos voltar a fechar a área metropolitana de Buenos Aires, para que a circulação diminua drasticamente, para reduzir os contágios e a demanda por leitos", disse o presidente, em mensagem gravada.

A decisão vem em meio a um crescimento nos contágios, com 1.167 mortes e 52.444 casos confirmados. A ocupação de leitos de UTI atingiu 54% na Região Metropolitana da capital, onde vivem 14 milhões de pessoas, quase um terço da população do país de 44 milhões de habitantes. Em outras províncias argentinas o isolamento social já foi relaxado.

Falando de São Paulo, Lula lembrou as relações de seu governo com outros líderes de esquerda e as iniciativas para a criação e o fortalecimento de organismos regionais. Um deles é a Unasul - o Brasil deixou o bloco, por iniciativa de Jair Bolsonaro, em abril de 2019.

"O que vai salvar a América Latina depois dessa pandemia é uma palavra: democracia. Precisamos recuperar a democracia na América Latina, porque um Estado eleito forte cuida do seu povo. O mercado não resolve nada, o mercado só cuida do seu umbigo. Quem cuida do povo é o Estado", disse Lula.

Depois de saudar e elogiar Lula, Fernández lembrou que o visitou na prisão em Curitiba e agora espera recebê-lo na Casa Rosada. Em sua fala, o argentino também defendeu o papel mais ativo do Estado na crise. "Nada é mais importante que a vida, que a saúde da população. Mas há alguns que acreditam que o mais importante são os negócios. É um falso dilema perguntar se queremos escolher entre a vida e a economia", afirmou Fernández.

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, disse na quarta-feira (6) que o descontrole da pandemia de coronavírus no Brasil é um risco para a toda a região. Em entrevista à Rádio Con Vos, de Buenos Aires, ele afirmou que o assunto vem sendo tema frequente de conversas entre chefes de governo de países vizinhos. "Já falei com Piñera (presidente do Chile) e com Lacalle (presidente do Uruguai). É claro que o Brasil representa um risco", disse Fernández.

Desde o início da pandemia, o presidente argentino adotou uma política oposta à do governo brasileiro. O primeiro caso de coronavírus no país foi confirmado no dia 3 de março, quando um homem de 43 anos, que havia voltado da Itália, testou positivo. Os casos seguintes também foram de pessoas que haviam chegado da Europa. Em 15 de março, Fernández impôs uma quarentena obrigatória para todos que regressavam à Argentina, com multa de até 100 mil pesos (cerca de R$ 8,5 mil) e prisão de 6 meses a 2 anos.

##RECOMENDA##

Em 20 de março, quando as autoridades argentinas registravam 128 casos e 3 mortes, Fernández endureceu ainda mais o isolamento, decretando uma quarentena compulsória e fechando as fronteiras. Foi a primeira medida radical no combate à pandemia, adotada no momento em que o Brasil contabilizava quatro mortes e o presidente Jair Bolsonaro tentava minimizar o problema.

Assim como no caso brasileiro, Fernández enfrentou resistência de alguns setores da economia. Grupos ligados à oposição convocaram para hoje uma marcha para violar a quarentena imposta pelo governo. A senadora Felicitas Beccar Varela e Patricia Bullrich, que foi ministra de Segurança Pública do ex-presidente Maurício Macri, acusam Fernández de usar o coronavírus como desculpa para fechar a economia.

Sempre que foi questionado, o presidente argentino rebateu. "Da morte não se volta, mas a economia se recupera", declarou, no dia 30 de março. Duas semanas depois, ele defendeu o isolamento, alegando que a escolha entre quarentena e economia era "um falso dilema". "Prefiro 10% a mais de pobres do que 100 mil mortos pelo coronavírus na Argentina."

O rígido distanciamento social parece ter dado resultados. Até ontem, as autoridades de saúde da Argentina registravam 5 mil casos e 264 mortes - 6 óbitos em cada milhão de habitantes. Enquanto isso, a disseminação do vírus avançou um pouco mais no Brasil, ultrapassando 120 mil casos e 8 mil mortes - 38 óbitos em cada milhão de pessoas.

Na entrevista de ontem à Rádio Con Vos, Fernández voltou a dizer que a preocupação do governo argentino passa pelo desleixo com o qual o Brasil trata a pandemia. "Eu não entendo como (o Brasil) age com tanta irresponsabilidade", disse o presidente. "O Brasil faz fronteira com toda a América do Sul, menos com Chile e Equador. Na Argentina, entram muitos caminhões brasileiros que vêm de São Paulo, que é o lugar mais infectado do Brasil."

No dia 30 de março, Fernández já havia criticado a estratégia de Bolsonaro em relação ao coronavírus. "Lamento muito que não se entenda a dimensão do problema", disse o presidente argentino, ao ser questionado sobre o esforço do governo brasileiro para retomar a atividade econômica. "Temo que, com esta lógica, o Brasil entre no mesmo espiral de contágios em que entraram Espanha, Itália e EUA, que declararam a quarentena quando já era tarde."

A preocupação de Fernández é compartilhada por outros vizinhos. Na terça-feira, Luis Lacalle Pou, presidente do Uruguai, mandou reforçar os controles sanitários na fronteira com o Brasil. Álvaro Delgado, secretário da presidência, disse que via com "preocupação" a disseminação de casos do lado brasileiro. "O governo do Uruguai está preocupado com a situação em algumas cidades do lado brasileiro", disse Delgado, após reunião de emergência do gabinete de Lacalle Pou, para tratar do assunto.

O Paraguai adotou medidas parecidas. Na segunda-feira, o presidente Mario Abdo Benítez esteve em Ciudad del Leste para supervisionar o controle na fronteira. Segundo o governo, 85% dos 2.810 paraguaios que voltaram ao país após o início da pandemia vieram do Brasil e foram responsáveis pela maior parte da disseminação da covid-19 no país. Em Pedro Juan Caballero, o Exército colocou arame farpado e cavou valas em alguns trechos da fronteira com o Mato Grosso do Sul.

Procurado, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil não respondeu aos pedidos de entrevista feitos pelo jornal O Estado de S. Paulo.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em menos de 100 dias de governo, o presidente Alberto Fernández já deu muitos sinais de ter começado uma nova etapa na política externa da Argentina, com mudanças não apenas em relação ao antecessor, Mauricio Macri, mas também ao último governo de Cristina Kirchner, sua aliada e vice-presidente.

Os últimos quatro anos de kirchnerismo (2011-2015) foram marcados pelo apoio ao regime chavista venezuelano, a Rafael Correa, no Equador, e ao Partido dos Trabalhadores (PT), no Brasil. Cristina se distanciou dos EUA, tentou fechar acordos com Rússia, Irã e se aproximar da China. Durante esse período, Fernández criticava a política externa argentina e defendia a volta da direção dada por Néstor Kirchner, de quem foi chefe de gabinete.

##RECOMENDA##

A diplomacia pós-Cristina não demorou muito a se desenhar. Fernández escolheu o México como o primeiro destino - quebrando a tradição do Brasil como primeira visita oficial. A segunda viagem, porém, foi a Israel, incluindo uma reunião com o premiê Binyamin Netanyahu, um duro crítico da relação de Cristina com o Irã.

No governo, Fernández lidera uma coalizão de kirchneristas, peronistas conservadores e progressistas não peronistas. Sua chegada à Casa Rosada, porém, teve mais a ver com o apoio de Cristina do que com a aliança entre esses diferentes grupos. No poder, o presidente trabalha para consolidar seu próprio estilo, navegando entre a ruptura com a diplomacia de Macri e tornando o mais evidente possível que ele não é Cristina.

Pragmatismo

A prioridade do governo de Fernández é renegociar a dívida com o FMI e com os detentores de títulos privados. Toda a estratégia econômica e diplomática é colocada a serviço dessa missão e está diretamente ligada com o esforço de passar uma imagem de uma nova era pós-Cristina.

"As duas grandes diferenças entre a política externa de Fernández e Cristina: a tomada de decisões, que antes era homogênea e tinha um perfil ideológico muito claro, agora ganhou uma visão mais pragmática e heterogênea", disse ao Estado Esteban Actis, professor da Universidade Nacional de Rosario. "Outra diferença é o contexto, em razão da economia atual, mais fragilizada, e do cenário global muito mais convulsionado."

A Venezuela é um dos temas mais quentes da região e um assunto no qual Fernández rompe com ambos, Macri e Cristina. Segundo Actis, a diferença principal é que agora o governo argentino vem condenando sistematicamente as violações de direitos humanos e o autoritarismo de Nicolás Maduro. "A Argentina vem tentando se descolar das posições mais radicais da esquerda latino-americana e adotar uma política que agrade às duas alas do governo. Fernández ocupa o espaço deixado pela Frente Ampla, do Uruguai (que acaba de perder as eleições)", afirma.

Para Actis, a relação com os EUA também é "totalmente diferente" agora, porque o presidente sabe que, sem a ajuda americana, será muito difícil obter um alívio da dívida. "Como maneira de resolver conflitos, Cristina aprofundava as contradições, dividia lados entre amigos e inimigos", afirma Actis. "Fernández constrói pontes que podem se chocar com a truculência do discurso de Cristina."

Dívida

Um exemplo foram as recentes negociações da dívida. No auge da tensão, Cristina exigiu publicamente que o FMI cancelasse a dívida argentina - e recebeu como resposta que não seria possível, em razão dos estatutos da instituição.

Fernández tem bons relacionamentos em Washington desde que era chefe de gabinete de Néstor. Quando decidiu viajar para Israel, segundo Acris, enviou uma mensagem a Donald Trump: a política externa argentina tem uma nova marca.

O novo chanceler, Felipe Solá, que se reuniu recentemente com o presidente Jair Bolsonaro, não respondeu aos pedidos de entrevista. Mas, no Palácio San Martín, sede da chancelaria argentina, existe um excesso de precaução para evitar ruídos que dificultem as negociações sobre a dívida.

Fontes próximas de Solá, no entanto, admitiram à reportagem que a nova política externa quer derrubar o mito do peronismo como "movimento antieuropeu e antiamericano" e passar a segurança de que a Argentina agora apoia "uma visão mais crítica sobre a Venezuela".

Nos bastidores, os diplomatas argentinos confirmam que a prioridade do governo argentino é a reestruturação da dívida e garantem que Fernández quer que o país retorne à sua posição tradicional de não interferência em assuntos internos de outros países.

De acordo com fontes do governo, a nova diplomacia argentina encontrou no papa Francisco um parceiro tático. A terceira viagem oficial de Fernández foi para o Vaticano. Jorge Bergoglio é próximo do peronismo e tido como uma "referência ética e moral".

Durante anos, Francisco teve em Cristina uma fiel aliada para bloquear a legalização do aborto. Agora, isso também mudou, já que Fernández já anunciou que apoiará a elaboração de uma lei que regularize a interrupção da gravidez na Argentina.

No Brasil, nos EUA e na China, Argentina manda mensagem de mudança

Alberto Fernández ainda está montando sua equipe de governo e indicando embaixadores. Mas três casos são um exemplo da nova diplomacia pós-Cristina Kirchner: os escolhidos do presidente para ocupar os postos em Brasília, Washington e Pequim.

No caso do Brasil, Fernández decidiu enviar o ex-vice-presidente e ex-governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, desafeto de Cristina por muitos anos e escanteado dentro do kirchnerismo. Embora não venha da carreira diplomática, ele tem experiência política, não tem vocação ideológica e está perto do poder.

Para os EUA, a Casa Rosada inovou com a indicação de um "superembaixador". Além do posto na embaixada, Jorge Argüello será uma espécie de coordenador de todas as delegações argentinas: OEA, FMI, Banco Mundial e BID. Argüello foi embaixador na ONU, é amigo pessoal de Fernandez e tem um perfil diferente de Héctor Timerman, escolhido por Cristina na época por sua retórica ideológica e de confronto.

O cargo em Pequim foi definido após uma disputa entre as duas alas do kirchnerismo. Os radicais apostavam em Sabino Vaca Narvaja, que perdeu a queda de braço para um diplomata de carreira, Luis Kreckler, ex-embaixador no Brasil, de perfil mais profissional e um aceno aos funcionários do Palácio de San Martín.

Ao Estado, diplomatas do alto escalão do governo, que pediram anonimato em razão da delicada renegociação da dívida, disseram que a necessidade de manter um boa relação com as grandes potências aproximam a política externa do ex-presidente Mauricio Macri com a de Fernández. "O governo precisará de simpatia e paciência", diz um diplomata que ocupou alto posto no governo anterior.

A relação entre funcionários dos dois governos - Macri e Fernández - é melhor do que se imaginava. Fontes da Casa Rosada disseram ao Estado que Fernández chegou a perguntar à ex-chanceler Susana Malcorra como responder os desaforos de Bolsonaro.

"O conselho que ele recebeu foi o que ele acabou fazendo: baixar o tom e não responder", disse um diplomata ligado ao presidente.

Segundo José Perego, do centro de estudos latino-americanos do Conselho Argentino de Relações Internacionais (Cari), as dificuldades econômicas devem conter a agressividade na relação entre os dois países. "Existe uma linha coerente de pragmatismo de Argentina e Brasil. A circunstância econômica obriga o governo argentino a buscar consenso, e não conflito", disse. "A agenda negativa, sem nenhum tipo de ganho, não faz sentido prático."

Ainda de acordo com Perego, Fernández também não deve se descuidar do Mercosul, já que as questões comerciais estão diretamente ligadas à recuperação econômica. "Não há nenhum presidente da Argentina, desde os anos 80, que não tenha apostado no Mercosul, porque uma região sem o bloco é inviável em razão da integração entre as economias."

Por enquanto, pelo menos publicamente, Fernández vem se esforçando para mostrar uma política externa diferente da de Macri, mas e também da de Cristina. Em gestos e pensamento, o presidente argentino parece seguir à risca o lema de seu ex-chefe, Néstor Kirchner, que costumava repetir sempre que precisava acalmar os empresários: "Não prestem atenção no que digo, mas no que eu faço". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou, nesta segunda-feira (17), que quer um "bom relacionamento" com a Argentina, mas tendo a "democracia e a liberdade acima de tudo". "Obviamente, o que nós queremos com a Argentina é o Mercosul, um bom relacionamento, mas tendo aí a democracia e a liberdade acima de tudo", disse.

A declaração foi dada quando Bolsonaro comentou o fato de que o presidente do país vizinho, Alberto Fernández, não deve comparecer à posse do presidente eleito do Uruguai, Luis Lacalle Pou.

##RECOMENDA##

Havia o plano de Bolsonaro e Fernández se encontrarem durante o evento.

"Tem um evento na Argentina nesse dia (da posse), e ele dificilmente compareceria. Eu disse: eu atraso minha vinda para cá caso ele vá prestigiar a posse. Parece agora que não vai dar tempo de cumprir essa agenda", disse Bolsonaro, que comentou ainda que um outro encontro dependerá dos chanceleres.

O presidente Jair Bolsonaro disse neste sábado, 2, esperar que seja mantido o comércio bilateral entre Brasil e Argentina, mas que não vai telefonar para cumprimentar o presidente eleito daquele país, Alberto Fernández, nem prestigiar a sua posse. Na avaliação de Bolsonaro, a "Argentina precisa" do Brasil, assim como o Brasil precisa do país vizinho.

"Não vou ligar pra ele (Fernández). Não vou cumprimentá-lo nem vou na posse dele. Não vai ter retaliação, espero manter o comércio", disse Bolsonaro a jornalistas. "Se alguém quiser ir lá (na posse de Fernández) é só falar comigo. Se tiver algum voluntário... tá livre. Argentina precisa da gente também. Nós (precisamos) deles, e eles (precisam) de nós."

##RECOMENDA##

A Argentina elegeu para a Casa Rosada, no último domingo, o peronista Fernández, que derrotou Mauricio Macri, aliado de Bolsonaro. O presidente brasileiro já havia lamentado o resultado e dito que não cumprimentaria a chapa vencedora.

"Lula livre"

Bolsonaro também ficou muito incomodado com uma imagem publicada por Fernández em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso desde abril do ano passado na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, após ser condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato.

Logo após a eleição, Fernández fez uma selfie ao lado de aliados com o gesto de "Lula livre" e pediu a libertação do petista. Na última segunda-feira, Fernández utilizou o Twitter para agradecer uma carta enviada por Lula e pediu novamente a liberdade do ex-presidente.

Em visita oficial ao Catar, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse que não gostou do gesto "Lula livre" protagonizado pelo presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández.

"É uma afronta à democracia brasileira. Ao sistema judiciário brasileiro. Uma pessoa condenada em duas instâncias. Outras condenações a caminho. Ele está afrontando o Brasil de graça no meu entender. Nós estamos aguardando seus passos para, talvez no futuro, tomar alguma decisão em defesa do Brasil. Decisões em defesa do Brasil", disparou.

##RECOMENDA##

Apesar da crítica, Bolsonaro reiterou que não pretende romper relações com o país vizinho, destacando que irá optar pelo diálogo. "Pretendo dialogar, sim. Não vamos fechar as portas. Agora, estamos preocupados e receosos tendo em vista até pelo gesto que ele fez de 'Lula livre", complementando que "muita gente do PT (segundo informes que recebeu), estaria na Argentina para comemorar a vitória dele".

Indagado sobre como ficará a posição no Brasil no Mercosul com a vitória de Fernández, Bolsonaro destacou: "Nós estamos preocupados, não há dúvida. A Argentina, em grande parte, faz comércio graças ao Brasil. Nós não queremos romper nada. Agora, eu digo aos meus ministros, cada um na sua pasta, nós temos de ter capacidade de nos anteciparmos a problema. Obviamente, se tiver algo mais contundente, nós buscaremos conversar com a Argentina para de fato saber qual é a posição deles, em função disso nós tomaremos a nossa posição".

Sobre o recente pleito na Bolívia, com a reeleição de Evo Morales para seu quinto mandato, Bolsonaro frisou: "Bolívia, sempre temos suspeitas, assim como no Brasil, sempre temos suspeitas nas eleições informatizadas. Nós estamos ultimando uma proposta para que as eleições no Brasil possam ser auditadas... Eu sempre digo... No ano passado, a eleição no Brasil foi polarizada, entre direita e esquerda e com muita fake news, tem razão, se não tivessem tantas fake news, eu teria sido eleito no primeiro turno."

A próxima etapa da viagem de Bolsonaro, depois de deixar o Catar, será Riad, na Arábia Saudita.

<p>No podcast desta segunda (28), o cientista político Adriano Oliveira faz uma análise da política brasileira em relação ao que ocorreu na eleição Argentina, que teve como resultado a vitória do candidato Alberto Fernández e sua vice, Cristina Kirchner. De acordo com o cientista político, o presidente eleito da Argentina não possui uma agenda clara. Já aqui no Brasil, o Ministro da Economia, Paulo Guedes, tem uma agenda claramente liberal - e, por ser uma agenda exacerbada e liberal, ele retira de seus discursos, o termo &quot;desigualdade social&quot;.</p><p>Adriano Oliveira destaca ainda que o Ministro Paulo Guedes tem como exemplo o Chile. Porém, nas últimas semanas, ocorreram intensas manifestações no País, surgindo assim, novas agendas. Dessa forma, Adriano ressalta que, apesar dos elogios do Ministro brasileiro ao Chile, o país que também apresenta uma agenda liberal, não soube lidar com a desigualdade social existente no País. &nbsp;</p><p>O programa Descomplicando a política é exibido na fanpage do LeiaJá, em vídeo, toda terça-feira, a partir das 15h. Além disso, também é apresentado em duas edições no formato de podcast, as segundas e sextas-feiras.</p><p>Confira mais uma análise a seguir:</p><p>
<style type="text/css">
p.p1 {margin: 0.0px 0.0px 0.0px 0.0px; font: 12.0px 'Swiss 721 SWA'}</style>
</p> <iframe allowfullscreen webkitallowfullscreen mozallowfullscreen width="350" height="50" src="https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/5fbc59e8b8b00ec07528... scrolling="no" frameborder="0"></iframe>

Os intermináveis discursos populistas de Cristina Kirchner ou a inflação mensal de 5% de Mauricio Macri. A expansão no gasto público promovida por ela ou aumento da pobreza registrado sob o governo dele. Em uma campanha em que argentinos não identificados com nenhum dos lados se viram levados a escolher o legado menos negativo, o advogado Alberto Fernández parece ter convencido até a parcela que rejeita Cristina a colocá-lo na presidência.

Sem nunca ter sido eleito para um cargo no Executivo, mas também sem histórico de submissão, Fernández foi escolhido em maio por Cristina para encabeçar a chapa presidencial peronista. Ele havia sido chefe de gabinete de Néstor Kirchner e da própria Cristina, com quem se desentendeu em 2008.

##RECOMENDA##

Em agosto, nas primárias que servem como simulado da eleição, o professor universitário de 60 anos surpreendeu ao abrir 16 pontos de vantagem sobre Macri. Uma diferença suficiente para vencer no primeiro turno. Na Argentina, ganha que obtiver 50% dos votos ou mais de 40% com 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

Levando-se em conta que Cristina historicamente tem o apoio fiel de cerca de 30% eleitorado, o fato de Fernández ter obtido 47% nas primárias indica uma parcela expressiva de votos que vão além da figura dela. Pesquisas recentes sugerem até uma ampliação da vantagem de 16 pontos sobre Macri.

Predomina entre os analistas, mesmo entre os mais críticos ao kirchnerismo, a opinião de que Fernández exercerá o poder se vencer. "Será um governo em que ele comandará, pois o presidencialismo é muito forte na Argentina. Mas o segredo dessa chapa é ter conseguido reagrupar o peronismo. Os governadores terão um papel fundamental, e Cristina também terá o seu", avalia o analista político Sergio Berensztein. Os governadores têm forte influência sobre o voto dos senadores argentinos, o que em geral é usado para aprovar projetos em troca de liberação de recursos.

Para Berensztein, o cálculo político de Cristina levou em conta também o resultado de eleições regionais em que ela apoiou candidatos radicais e perdeu, casos das províncias de Neuquén e Mendoza. "Ela viu que essa estratégia não daria certo. Não escolheu Alberto apesar de ele ter um estilo diferente do dela. O escolheu justamente por ser diferente, apresentar-se como moderado."

Acuada por denúncias de corrupção desde que deixou a presidência, Cristina tratou de manter uma vaga no Senado. O posto lhe dá imunidade parlamentar. Pesquisa das consultoras D'Alessio e Berensztein diz que 7 em cada 10 peronistas acreditam que Fernández mandará caso vença. Entre os macristas, a proporção é oposta.

"Esta é a eleição do menos pior, Alberto Fernández. Cristina roubou muito dinheiro e grande parte não votaria nela. Mas com Macri, agora, colamos uma foto de churrasco na parede e comemos polenta imaginando que estamos mastigando carne", desabafa o vendedor ambulante Román López, de 60 anos. Demonstrando certa raiva, ele afirma que o pior legado de Cristina no poder, entre 2008 e 2015, foi a concessão indiscriminada de benefícios sociais que fizeram o argentino "perder a cultura do trabalho".

Seja por estratégia ou contingência familiar, Cristina manteve-se discreta durante a campanha, considerando-se seu padrão expansivo de comportamento.

Sem correr riscos, Fernández comandou a campanha, cuja estratégia foi culpar Macri pelo desemprego de 10,6% e a pobreza de 35,4%. "Ele tentou não fazer nada que prejudicasse sua imagem", diz a analista política Mariel Fornoni. Macri dedicou-se a percorrer o país entoando seu lema "Sí, se puede", que será colocado à prova hoje.

Família troca recoleta por favela

A confeiteira Mariela Ayala costuma convidar as ex-vizinhas para conhecer sua nova casa, mas nem sinal delas.

É que a aristocrática Recoleta e a popular Villa 31, onde ela agora vive, têm indicadores e estilos de vida antagônicos, ainda que estejam separadas por apenas uma avenida e uma linha de trens.

A taxa de homicídios, por exemplo, é 11,3 vezes mais alta. São 6,7 mortos a cada 100 mil habitantes em toda Buenos Aires, ante 76 na favela, diz o Ministério da Segurança.

A crise aumentou a pobreza e afetou diretamente a qualidade de vida da classe média, extrato social mais emblemático do país. Famílias tiraram filhos da escola particular, renegociaram planos de saúde e buscaram aluguéis mais baixos, mas o caso de Mariela, de 46 anos, tem um simbolismo extremo.

Depois de perder o emprego na Recoleta, ela deixou de ter garantias exigidas para um aluguel. Ficou sem cartão de crédito e comprovante de renda. Recorreu à Villa 31, onde tais formalidades são dispensáveis e a localização é praticamente a mesma. Um quarto como o alugado na favela pelo Estado nesta cobertura eleitoral, dedicada a mostrar como parte da classe média mudou seu padrão, custa 5 mil pesos (R$ 350).

Mariela trocou o ambiente de palacetes pelo de casebres depois de enviuvar pela segunda vez, aos 38 anos (a primeira viuvez veio aos 28). Chegou há quatro meses a esta favela plana, distribuída em uma área equivalente a 32 campos de futebol. Diz não ter vergonha de agora ser um dos 40 mil habitantes.

"Muita gente nessa situação teria entrado em depressão, ido morar na rua. Nem todo mundo conseguiria superar. Levanto às 8h para trabalhar e às vezes durmo de madrugada. Acho que é um exemplo para os meus filhos, para eles saberem dar valor ao que têm e não se acomodarem", pondera.

Sem o oportunidade com carteira assinada, ela decidiu fazer tortas - principalmente para aniversários, Páscoa e Natal - e vendê-las pela internet. Assim, não paga impostos e tem uma renda 50 mil pesos (R$ 3,3 mil), o que a coloca com folga dentro da classe média.

Ao chegar à Villa 31, Mariela passou a pagar 18 mil pesos (R$ 1,2 mil) de aluguel por uma casa com três ambientes. Ela dorme no quarto com dois dos seus três filhos. Agora, está se mudando para um apartamento menor, mas mais novo, a duas quadras. Vai pagar 12 mil pesos (R$ 800).

O gasto total em um apartamento de duas peças hoje na Recoleta, para onde ela quer voltar, seria de 50 mil pesos (R$ 3,3 mil). "O aluguel não é muito mais caro, o problema na Recoleta é pagar condomínio, a luz, o gás e a água", afirma. Na favela, os serviços que não são "contrabandeados" são subsidiados.

Dos dois anos em que viveu na Recoleta, Mariela tem saudade principalmente de não se preocupar com a segurança dos filhos, que continuam frequentando a mesma escola pública no bairro nobre bonaerense. "Iam sozinhos ao catecismo, à natação", lembra. Na favela, eles saem somente acompanhados dos amigos.

Na sexta-feira, 25, Manuela observava seu filho do meio, Franco, tirar rugas de uma camisa em uma tábua de passar roupas. "Ele vai hoje para a primeira entrevista de emprego, no McDonald's", disse a confeiteira, com um orgulho que despertou certo constrangimento no filho, de 17 anos.

"Não acho que faça tanta diferença morar aqui ou na Recoleta. Já estamos acostumados com o ambiente", diz. Sua irmã, Victoria, tem opinião semelhante. "Temos nossos amigos aqui, não faço questão de me mudar. Nem de ter um quarto só para mim", diz a jovem de 15 anos.

Mariela sente falta de serviços básicos. "Aqui não chega o correio, não posso pedir comida, não entra táxi ou ambulância", lamenta. Por isso, ela não recrimina as amigas que ignoraram seus convites. "Eu também tinha medo daqui antes de me mudar", admite. "A clientela aqui na favela é muito melhor. Na Recoleta, o pessoal pede desconto, pechincha e pede mais prazos para pagar. Teria que manter minha clientela aqui."

Macri, o empresário liberal atropelado pela crise

Filho da elite empresarial, Mauricio Macri foi executivo do Citibank e presidente do Boca Juniors, entre 1995 e 2007, período de maior sucesso da equipe. Essa experiência serviu de trampolim para a carreira política, que começou como prefeito de Buenos Aires (2007-2015).

Foi eleito presidente da Argentina em 2015 como esperança do liberalismo em uma região marcada pelo populismo. Quatro anos depois, ele reconhece que suas medidas de austeridade foram duras, mas garante que o pior já passou e pede uma nova chance.

Engenheiro de 60 anos, Macri estudou nas melhores escolas e universidades. Entre seus colegas de classe, vários se tornaram seus ministros. Graduou-se na Universidade Católica e se especializou em Columbia, em Nova York. Sua carreira foi feita na empresa familiar, uma construtora. Com pinta de galã, Macri sempre esteve acompanhado de belas mulheres. Seus opositores o acusam de viver fora da realidade e de ser insensível às dificuldades da população.

As conexões familiares facilitaram seu bom relacionamento com o presidente americano, Donald Trump, que ele conheceu anos atrás em razão dos negócios de seu pai, Franco Macri.

Fernández, o peronista mais próximo da presidência

De baixo perfil e há anos afastado da política, Alberto Fernández se tornou a surpresa da campanha eleitoral da Argentina. Peronista moderado e pragmático, está prestes a chegar à presidência, impulsionado pela ex-presidente e companheira de chapa, Cristina Kirchner, e depois de obter 47% dos votos nas primárias de agosto.

Um resultado surpreendente para um advogado de 60 anos que disputou uma eleição popular apenas uma vez, em 2000, nas legislativas da cidade de Buenos Aires.

Seu maior destaque foi como chefe de gabinete de Néstor Kirchner (que governou entre 2003-2007 e morreu em 2010), assim como de Cristina, em 2008. Rompeu com sua agora vice ao fim do primeiro ano de mandato dela, com declarações duras, em meio ao embate da então presidente com os proprietários rurais e com os grandes meios de comunicação. Hoje, esse episódio surge como um argumento de demonstração da independência de Fernández, contra aqueles que o acusam de ser uma marionete de Cristina.

Seus críticos o consideram camaleônico por ter acompanhado setores ultraliberais, como o de Domingo Cavallo, e populistas de esquerda, como o casal Kirchner. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Diversas lideranças de centro-esquerda da Argentina divulgaram na segunda-feira, 19, um manifesto em defesa da libertação do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato há 500 dias. Entre os signatários estão a ex-presidente argentina Cristina Kirchner e o candidato à presidência Alberto Fernández.

Fazem parte do abaixo-assinado também a líder das Avós da Praça de Maio Estela de Carlotto, o ex-ministro da Fazenda de Cristina Axel Kiciloff e o ex-candidato à presidência Sergio Massa, entre outros senadores, deputados, sindicalistas, professores, jornalistas e artistas.

##RECOMENDA##

Durante a campanha para as primárias, que venceu com uma vantagem de 15 pontos para o presidente Mauricio Macri e o cacifou para eleger-se nas eleições de outubro, Fernández visitou Lula na prisão em Curitiba e defendeu sua libertação.

Críticas de Bolsonaro

A proximidade de Fernández com Lula provocou críticas do presidente da República, Jair Bolsonaro, que desde as prévias tem associado o presidente argentino com outras lideranças de esquerda do Brasil e da América Latina, como Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff, os venezuelanos Nicolás Maduro e Hugo Chávez e o ex-líder cubano Fidel Castro.

"Olha o que está acontecendo com a Argentina agora. A Argentina está mergulhando no caos. A Argentina começa a trilhar o rumo da Venezuela, porque, nas primárias, bandidos de esquerda começaram a voltar ao poder", disse o presidente em Parnaíba, no Piauí, onde participava de cerimônia alusiva a um projeto de irrigação.

Bolsonaro defende a reeleição de Mauricio Macri, apesar de, segundo analistas, o apoio ao presidente argentino não ser bem visto no país vizinho em consequência das declarações favoráveis à ditadura militar feitas pelo presidente brasileiro.

A Argentina viveu entre 1978 e 1983 uma das ditaduras mais violentas do continente, com mais de 30 mil mortos e desaparecidos.

Resposta a Bolsonaro

Fernández respondeu ao presidente brasileiro na semana passada. "Com o Brasil, teremos uma relação esplêndida. O Brasil sempre será nosso principal sócio. Bolsonaro é uma conjuntura na vida do Brasil, como Macri é uma conjuntura na vida da Argentina", disse Fernández em uma entrevista ao programa "Corea del Centro", da emissora Net TV.

"Agora, em termos políticos, eu não tenho nada a ver com Bolsonaro. Comemoro enormemente que fale mal de mim. É um racista, um misógino, um violento... O que eu pediria ao presidente Bolsonaro é que deixe Lula livre e pediria que se submeta a eleições com Lula em liberdade", acrescentou.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando