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O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu novas convocações de candidatos aprovados nos concursos públicos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso. O motivo, mais uma vez, é a cota de gênero: os editais previam um número limite de mulheres que poderiam integrar as corporações por meio do concurso.

Os editais limitam o ingresso de mulheres a 20% dos cargos de soldado e a 10% das vagas para oficial. Há duas leis no Estado que permitem essa distinção, o que, no entendimento do ministro, se choca com o princípio da isonomia entre os gêneros estabelecido na Constituição Federal.

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O ministro do STF acolheu argumentos de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O órgão alega não existir regra constitucional autorizando a limitação das vagas para um gênero e que os editais do concurso aplicam um tratamento injustificado que privilegia homens e promove "prejuízo, preconceito e discriminação à população feminina".

Na decisão, Zanin argumentou que a Constituição proíbe diferenciação de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. Os editais ficarão suspensos até o julgamento do mérito da ação da PGR.

Em outubro, o ministro já havia suspendido um concurso da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) por limitar vagas para mulheres em 10% do total. No final daquele mês, Zanin liberou a retomada do concurso com a retirada da regra de gênero.

Em novembro, o ministro autorizou a retomada de outro concurso da PM, desta vez no Rio de Janeiro, que também limitava a 10% o acesso das mulheres às vagas. O concurso foi retomado e as mulheres puderam concorrer entre as vagas de ampla concorrência.

Outro concurso também foi suspenso pelo STF por ferir os mesmos princípios. O ministro Dias Toffoli suspendeu em novembro a aplicação de provas dos concursos públicos da Polícia Militar do Estado do Pará (PM-PA). O concurso limitava a 20% as vagas destinadas a mulheres, totalizando 880 vagas para elas, enquanto 3.520 ficariam para os homens.

Os candidatos que saíram cedo do primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, neste domingo (5), garantiram que a prova foi tranquila. A exigência interpretativa e os textos extensos continuaram na edição deste ano, mas as temáticas atuais teriam ajudado nas questões de Linguagens e Ciências Humanas. 

Os estudantes comemoraram a ausência do vocabulário rebuscado de anos anteriores e se depararam com abordagens contemporâneas, como as pautas de gênero e raciais. A atualidade presente nas questões foi um ponto positivo para os participantes, que deixaram os locais de aplicação às 15h30. 

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"Eu achei a prova bem tranquila, ela só tava um pouco cansativa pela quantidade de textos. Em questão de conteúdo, essa [foi] mais atualizada, puxando assuntos mais atuais e a maioria [das questões] remete àquilo que agente tá vivendo em sociedade atualmente", comentou o estudante de Engenharia Eletrônica Samuel Elias, de 23 anos, que quer migrar para o curso de Análise de Desenvolvimento.

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A prova vai até às 19h e conta com 90 questões de Ciências Humanas e Linguagens, além da redação. No próximo domingo (12), os estudantes encaram mais 90 questões de matemática e Ciências da Natureza. A prova será aplicada das 13h30 às 18h30. Confira a cobertura completa do Enem 2023 no www.vaicairnoenem.com. 

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, nesta terça-feira (26), uma resolução para promover a paridade de gênero nos tribunais de segunda instância de todo o País. A medida cria uma lista de promoção só com juízas, que deve ser alternada com a lista mista (formada por homens e mulheres), para preencher os cargos na segunda instância.

A ministra Rosa Weber, presidente do CNJ e do Supremo Tribunal federal (STF), pautou a resolução a menos de duas semanas de sua aposentadoria. Ela buscava deixar um legado para as magistradas. Rosa deixa a Corte nesta quinta, 28.

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A proposta é mais modesta do que aquela apresentada pela relatora Salise Sanchotene. Os conselheiros não chegaram a um consenso e, pouco antes da sessão, ela concordou em fazer adaptações no voto para fazer avançar o texto. "Não querendo me distanciar de um acordo coletivo do CNJ, eu ressalvo meu entendimento. Poderíamos ter ido muito mais longe para que elas pudessem também ir mais longe", afirmou o conselheiro Vieira de Mello Filho.

A redação original da resolução previa que listas formadas exclusivamente por mulheres fossem alternadas com listas mistas para promoção na carreira. A diferença é que a regra valeria tanto para promoções por merecimento quanto por antiguidade, até que os tribunais alcançassem a paridade.

Intermediária

Após debates acalorados nos bastidores, os conselheiros consentiram com uma solução intermediária, que retirou a antiguidade do pacote. O conselheiro Richard Pae Kim foi o primeiro a se manifestar nesta terça e acabou se tornando o porta-voz do voto de consenso. Ele defendeu que o CNJ não poderia interferir no critério da antiguidade por considerar que o parâmetro previsto na Constituição é objetivo.

"O critério de antiguidade é objetivo, inexistindo espaço para que seja aferido com base em gênero. Esse é o texto. O constituinte não previu para o legislador infraconstitucional nenhuma margem de ação, nenhum espaço para jogos, muito menos autorizou os tribunais ou este conselho a atuarem de forma discricionária, a exercerem controle constitucional de todos os futuros editais de promoção para os respectivos tribunais, como pretendido", argumentou.

Rosa endossaria o voto original, mais abrangente, mas concordou com o recuo em nome do consenso. "Às vezes nós temos de ir mais devagar", afirmou. "Sinto esse resultado como uma verdadeira vitória."

O último Censo do Judiciário, elaborado a partir de consultas a todos os tribunais do País, apontou que 59,6% dos magistrados são homens. O desequilíbrio aumenta nas instâncias superiores.

Pressão

A resolução do CNJ contrasta com declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, anteontem, afirmou que gênero e cor não serão critério para as escolhas que ele vai fazer para o STF e para a Procuradoria-Geral da República (PGR). Com isso, Lula tenta afastar a pressão que apoiadores seus têm feito em favor da indicação de uma mulher negra para o Supremo.

Embora Lula diga que não tem pressa em fazer as indicações, a vacância dos cargos também é fonte de pressão. Rosa Weber entrega amanhã a presidência do STF ao ministro Luís Roberto Barroso, e deixa também a Corte - ela completará 65 anos, idade da aposentadoria compulsória dos ministros, na próxima semana. O mandato de Augusto Aras à frente da PGR encerrou-se ontem. A partir de hoje, a subprocuradora-geral Elizeta Maria de Paiva Ramos responde pela instituição, interinamente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Emplacar um hit nas plataformas musicais é o sonho de artistas e compositores. No entanto, a capacidade de criar uma música que se destaque, conquiste o público e se torne um sucesso é um desafio que requer talento, estratégia e um toque de sorte. Para alcançar a popularidade desejada e entrar para a história de músicas de maiores sucessos, alguns componentes são indispensáveis. No entanto, não há uma fórmula garantida para criar um hit.

O sucesso na música é subjetivo e depende de vários fatores. Foco na autenticidade, qualidade musical e conectividade com o público são fundamentais para aumentar as chances de criar um hit. De acordo com o expert de produtos digitais e mentor de influenciadores e empreendedores, Waltinho Foguete, existem diversos elementos essenciais para criar um hit, mas um dos principais é uma melodia cativante. “Uma melodia pegajosa e fácil de cantar é muitas vezes o que torna um hit memorável e popular”.

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A letra marcante também desempenha um papel crucial. “Letras que são fáceis de cantar e com frases ou refrões pegajosos têm mais chances de ficarem na mente do ouvinte”, pontuou o especialista. O ritmo contagiante é outro fator importante, pontuou o mentor. “Um ritmo envolvente e cativante é fundamental para fazer as pessoas dançarem e se sentirem atraídas pela música”, complementou.  

Além disso, a produção de qualidade é essencial. Waltinho explica que uma produção bem-feita, com um bom equilíbrio de instrumentos e elementos sonoros, contribui para a qualidade do som e para chamar a atenção do público. A originalidade também é valorizada. “Embora muitos hits sejam baseados em fórmulas populares, aqueles com uma abordagem única ou com elementos inovadores têm mais chances de chamar a atenção e se destacar", esclareceu Foguete. 

Outros fatores importantes, segundo o mentor, são: conexão emocional, marketing eficaz e um pouco de sorte. “Músicas que evocam emoções nos ouvintes têm mais chance de se tornarem hits, pois as pessoas se sentem conectadas e podem se identificar com a música”, disse. Escolher o gênero musical adequado para criar um hit requer considerar alguns aspectos importantes.

É necessário pesquisar as tendências musicais atuais, conhecer o público-alvo, identificar suas próprias habilidades e recursos, colaborar com produtores e compositores talentosos e experimentar diferentes gêneros musicais. “Observe quais estilos musicais estão em alta nas paradas musicais, rádios e plataformas de streaming. Valorize suas habilidades musicais, estilo de voz e talentos pessoais e a partir disso, trabalhe com produtores e compositores com experiência em hits. Explore e misture elementos de diferentes estilos para criar uma sonoridade original que chame a atenção do público”, relatou o especialista.

O esforço para indicar mulheres ao secretariado não se manteve para nomear pessoas pretas no alto escalão de Pernambuco. Convidada ao Roda Viva que foi ao ar nessa segunda (26), a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), revelou que encontrou dificuldades encontrar mais pessoas pretas para participar da gestão.   

Depois de assinar o Estatuto da Igualdade Racial, Raquel prometeu uma reflexão permanente sobre o combate ao racismo e um legado de oportunidades. No entanto, a primeira governadora do Estado, que nomeou maior secretariado feminino da história, admitiu que a diversidade racial ainda é insuficiente no Palácio do Campo das Princesas.  

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Raquel observou que é preciso um esforço maior para encontrar pessoas pretas para assumir postos de gestão: "eu preciso chegar a elas", assumiu. "Eles não estão colocados, não são os primeiros nomes, como não são de mulheres. A gente vai buscar uma indicação, as vezes recebe um currículo, dois, três, se a gente não olhar o nome, todos eles vão ser de homens brancos e, de mulheres, na maioria das vezes, também brancas. Eu me coloco como alguém que precisa ainda garantir mais participação", considerou. 

Deputada indica conivência com o racismo

O discurso não foi bem recebido pela líder da oposição na Assembleia Legislativa (Alepe), a deputada estadual Dani Portela (PSOL). Em seu perfil nas redes sociais, ela afirmou que o processo de invisibilidade pontuado pela governadora faz parte do racismo estrutural que ela diz querer enfrentar.  

"Raquel Lyra afirmou em cadeia nacional que teve dificuldade de encontrar pessoas negras para ocupar espaços de relevância em seu governo. Invisibilidade é racismo estrutural, mas a branquitude não vê", criticou a deputada.

O próprio entrave com os deputados da Alepe foi levado à mesa. Sem conseguir apoio em pautas importantes do governo e, após algumas derrotas na Casa, a governadora passou a ser chamada de "autoritária" e "controladora". Ela encarou as tensões como naturais, e indicou que os adjetivos partem da cultura machista.

"Adjetivos como esses não são utilizados com homens. O homem é controlador? Não, ele é firme. A gente tem muito de um machismo estrutural muito forte", comentou Raquel. "Eu gostaria de chegar a um momento em que eu não fosse avaliada pelo meu gênero", prosseguiu. 

No muro

Sobre a estratégia de se distanciar da polarização da Política nacional, a gestora entende que teria um caminho mais fácil à eleição se tivesse se escorado em uma das candidaturas e declarado apoio a Lula ou Bolsonaro. "O que se fala de uma falta de posição é uma posição", resumiu.

Ela agradeceu ao presidente Lula pela solidariedade ao lhe defender do mar de vais durante sua última passagem por Pernambuco e permaneceu em cima do muro quando questionado sobre o processo que pode culminar na inelegibilidade de Jair Bolsonaro. 

"Eu lamento muito que um ex-presidente esteja sendo julgado e possa se tornar inelegível", sintetizou sem indicar se é favorável ou discorda da eventual perda dos direitos políticos do ex-presidente. 

Machismo, feminismo, cultura LGBTQIA+. Esses são conceitos trabalhados durante a eletiva ‘Introdução ao Estudo de Gênero’ ofertada na Escola Estadual de Referência em Ensino Médio (EREM) Frei Caneca, localizada no município de Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife. Com ementa própria, idealizada pela educadora de apoio e professora de história Myllena Lyra Valença, a eletiva traz conceitos básicos de gênero e sexualidades a serem trabalhados com os alunos do ensino médio inscritos na disciplina. No projeto, também estão as professoras Alessandra Lyra Valença, que leciona química e fora responsável pelo núcleo de estudos de gênero na instituição de ensino, e Jéssica Pereira da Silva, docente da disciplina de língua portuguesa.

“A temática é muito importante e os alunos precisam ter acesso a ela. Na eletiva, os estudantes conseguem problematizar e é possível trazer esses conteúdos para dentro da carga horária dos professores. Nesta eletiva, a gente começa com alguns conceitos básicos: patriarcado, machismo, a sigla LGBTQIA+, o que é cada uma dessas categorias. É algo muito dinâmico e a gente parte também do conhecimento que parte delas e deles [alunos]. As próximas etapas da eletiva, que provavelmente será no segundo semestre, terá feminismo negro, teoria queer e transfeminismo”, explica Myllena Lyra à reportagem.

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Educadora de apoio e professora de história Myllena Lyra Valença. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

O acesso a essas temáticas nas escolas estaduais de Pernambuco é uma premissa que existe desde o surgimento das Escolas de Referência com a implantação dos Núcleos de Gênero. Em entrevista ao LeiaJá, a coordenadora da Unidade para as Relações de Gênero e Sexualidades (UNERGS), vinculada à Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE), Aline Malta, calcula que cerca de 300 escolas da rede estadual possuem esses núcleos. Além disso, apesar do retrocesso nacional vivido nos últimos seis anos, ela ressalta que Pernambuco foi na contramão ao dar continuidade aos debates no ambiente escolar.

“A discussão acerca de gênero e sexualidades sempre existiu e vai existir. No entanto, essas questões não podem ser pautadas pelo 'achismo', é preciso ter embasamento. Muitas pessoas, para deslegitimar essa discussão, alegam que a escola não é espaço para isso e que os pais devem assumir esse debate. Entretanto, é necessário destacar que as escolas são espaços para essas discussões, as escolas são espaços para debater ciência, entre outras coisas”, frisa.

Diante desses 'achismos' e preconceitos sobre a temática, as professoras da EREM Frei Caneca apontam que poucos alunos ficaram interessados pela eletiva, que possui uma dinâmica de que, para ter acesso à disciplina, o estudante precisa realizar uma inscrição. De acordo com Alessandra Lyra, o tímido quantitativo de adolescentes que optaram pela iniciativa reflete na participação no debate em sala de aula. “É sempre o mesmo grupo que participa das discussões”, salienta.

A docente também ressalta que muitos discentes foram surpreendidos pelo formato e conteúdos da eletiva. “Muitos alunos chegaram a dizer que ficaram surpresos com a disciplina porque acharam que era uma coisa quando, na verdade, é outra. Tem também os que dizem que a eletiva está sendo a melhor e que não esperavam que a gente iria discutir esses temas de uma forma diferenciada. É nesse momento que a gente vê que, apesar da resistência, eles estão engajando os debates e espero que a repercussão seja grande ao ponto deles realmente escolherem a eletiva”.

Professora Alessandra Lyra Valença. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Questionada sobre os motivos das temáticas serem trabalhadas por meio de uma eletiva, Aline Malta afirma que conteúdos que abordam gênero e sexualidades estão previstos nas normativas educacionais do Estado em “todas as disciplinas de forma integrada, nas trilhas [em consonância ao Novo Ensino Médio] e devem estar presentes no Projeto Político Pedagógico (PPP) das escolas”.

Ademais, à reportagem, a coordenadora da UNERGS esclarece que as Gerências Regionais de Educação (GREs) trabalham por demanda, o que justifica a ausência do tema e de Núcleos de Gênero em algumas unidades de ensino de Pernambuco. “Nem todo mundo quer discutir”, expõe.

Ao LeiaJá, Aline Malta salienta que o Estado promove um debate qualificado acerca dos temas e, mais uma vez, reforça a importância da discussão no ambiente escolar. “Não há ilegalidade nas ações do Estado. Todo esse debate está previsto em Leis e normativas. Pernambuco está entre os 10 estados com o maior índice de violência, o período de pandemia colocou mulheres e crianças em situações de vulnerabilidade. Elas estavam sucintas à violência doméstica. Trabalhar gênero e sexualidade nas escolas vai muito além dos conteúdos. É nesses espaços que, muitas vezes, há essa percepção de violência, a denúncia”.

Um tabu em casa, mas um espaço de acolhimento na escola

Bia, Lara, Luana e Pilar* estão inscritas na eletiva. Em um primeiro momento, a iniciativa não foi uma escolha de Bia e Lara. “Quando eu escutei gênero, achei que tinha relação com gêneros textuais, do português, mas, eu vi que não tem nada a ver”, disse Bia.

A mesma justificativa foi dada à reportagem por Lara. “No meu primeiro contato com a eletiva, eu vi que não era o que eu pensava. Eu não escolhi a eletiva, mas estou gostando dela. Falei sobre ela para Bia, que é muito feminista, porque achei a cara dela”, disse.

Parte das estudantes ouvidas pela reportagem se autodeclaram integrantes da comunidade LGBTQIA+ e destacam que a eletiva de ‘Introdução ao estudo de gênero’, oferecida na Erem Frei Caneca, tornou-se um espaço de acolhimento e acesso à temas que, muitas vezes, não são debatidos em casa. Das quatro discentes, três alegaram que não chegaram a comentar com os pais ou responsáveis que estão inscritas na disciplina. “Não falei para minha mãe, principalmente, porque ela tem uma filha da comunidade LGBTQIA+”, lamenta uma delas.

Estudantes que participam da eletiva na Erem Frei Caneca. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Se em casa o tema é encarado como tabu, na sala de aula, as adolescentes vivenciam um espaço de acolhimento. Já para as professoras, a eletiva também é um sinônimo de troca. “A gente também aprende com eles [estudantes], é uma troca. Muitas vezes, eu levo para a sala de aula um determinado conceito, mas, a partir das colocações deles, o debate toma outro direcionamento. Uma vez, Bia* trouxe um depoimento bem forte que norteou as discussões daquele dia da eletiva”, relembra Jéssica Pereira da Silva.

Professora Jéssica Pereira da Silva. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Após a fala da professora, Bia* relatou que desde cedo sentiu o peso do machismo e da violência doméstica. À reportagem, ela comentou que, durante a infância, foi abusada sexualmente pelo primo e também foi vítima de comentários machistas por parte do pai. ''Ele queria que eu cuidasse da minha avó, que é a mãe dele. Eu tinha 10 anos na época e ele nunca teve essa responsabilidade porque dizia que mulher dele e as filhas tinham que fazer tudo para ele, ser submissa. Falei umas coisas para ele e, a partir daquele momento, passei a morar com a minha mãe". 

A adolescente conta ainda que, ao expor os episódios durante a eletiva, sentiu-se aliviada e percebeu também que não estava sozinha. "Quando eu relatei isso, percebi que outras colegas passaram por algo semelhante. Percebi que não estava sozinha". Atualmente, Bia* mora apenas com a irmã.

Mudança na comunidade escolar

Os debates promovidos na eletiva vão além da sala de aula. De acordo com Myllena Lyra, os efeitos desses dois meses da disciplina na Erem Frei Caneca refletem também na comunidade escolar como um todo. "É muito interessante que essas questões ultrapassam a sala de aula e chegam a todos os cantos da escola. Hoje, a gente já vê uma mudança de comportamento dos alunos, como também de professores. Muitos alunos da eletiva já promovem um diálogo, uma orientação quando percebem um discurso machista, homofóbico. Os professores estão revendo os discursos e posturas".

Atividade desenvolvida na eletiva leva a comunidade escolar a perceber o machismo na publicidade. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Ainda longe de ser o ideal, Myllena observa que debater gênero e sexualidades nas escolas não pode, por exemplo, ficar restrito à eletiva ou determinada disciplina. "Há tantas maneiras de se trabalhar o tema de forma transversal. Em matemática, a gente pode questionar os papéis de gênero. Por que Maria sempre está cozinhando, com uma boneca ou no supermercado e Joãozinho está jogando bola ou com bolas de gude?"

Apesar disso, para as estudantes, a eletiva é comemorada. "Se eu não tivesse essa eletiva, teria que buscar coisas na internet. Para mim, foi uma surpresa vê gênero e sexualidades em uma escola, principalmente, se tratando de uma escola pública. Eu acho importante e quero continuar nela", diz Luana.

*os nomes utilizados na matéria não são os reais para preservar as identidades das adolescentes entrevistadas.

A Prefeitura de Petrolina, através da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SEDESDH), desenvolve, desde junho de 2021, o programa “Retifica Petrolina”, que garante a retificação do registro civil, permitindo a alteração do nome e do gênero em todos os documentos.   

Nesta quarta-feira (22), mais cinco pessoas trans tiveram seus direitos garantidos em Petrolina. “Realização de um sonho”, foi assim que Monalisa Araújo da Cunha, 34 anos, descreveu a emoção ao receber a nova Certidão de Nascimento. “Agora tudo será diferente, não terei que passar por constrangimentos em nenhum lugar”, disse Monalisa.  

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“Estou muito feliz, é uma sensação muito boa. É um sentimento de renascimento, de olhar a certidão e ver que é o meu nome escrito aqui, o nome que eu sempre quis ter”, relata Marcos Eduardo da Silva, 23 anos, um dos contemplados com a retificação.  

De acordo com a secretária executiva de Direitos Humanos da SEDESDH, Rosarinha Coelho, até o momento, 50 pessoas realizaram o sonho de receber a nova Certidão de Nascimento. “Nosso papel como poder público é justamente facilitar e assegurar esse direito garantido por lei”, explica.  

A iniciativa conta com a parceria do Cartório do Registro Civil e do Cartório do 1º Ofício de Notas e de Protestos de Petrolina, que tem como titular o Dr. Marcos Timóteo Torres e Silva. Para ter acesso ao programa “Retifica Petrolina” o público trans deve procurar a Secretaria Executiva de Direitos Humanos. A sede do órgão fica na Avenida Gilberto Freire, S/N°, Vila Mocó. Mais informações através do telefone: (87) 3862-1508. 

Da assessoria 

 

Fotos falsas mostrando a primeira-dama da Ucrânia tomando sol de topless, legendas incorretas difamando feministas paquistanesas por "blasfêmia", vídeos em câmera lenta mostrando um falso estado "bêbado" da democrata Nancy Pelosi. Toda uma avalanche de desinformação paira sobre as mulheres na esfera pública.

Os pesquisadores dizem que a “desinformação de gênero” – quando o sexismo e a misoginia se cruzam com notícias falsas online – visa manchar as reputações de mulheres em todo o mundo, minar sua credibilidade e, em muitos casos, prejudicar suas vidas.

Os verificadores de fatos da AFP desmascararam mentiras contra mulheres na política ou vinculadas a políticos proeminentes, incluindo campanhas online com informações falsas ou imagens manipuladas com conteúdo sexual.

No ano passado, uma foto falsa da primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, sem sutiã em uma praia em Israel, viralizou no Facebook e atraiu fortes críticas. Uma análise da imagem feita pela AFP mostrou que a mulher na foto era, na verdade, uma apresentadora de TV russa.

A ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, e a atual francesa, Brigitte Macron, também foram alvo de postagens falsas alegando que nasceram homens, provocando uma avalanche de insultos e comentários transfóbicos.

Jacinda Ardern, da Nova Zelândia, que anunciou sua renúncia como primeira-ministra em janeiro, também enfrentou uma enxurrada de desinformação.

“As mulheres – especialmente aquelas em posições de liderança e visibilidade – são um alvo excessivo de desinformação online”, escreveu Maria Giovanna Sessa, pesquisadora do EU DisinfoLab, em um relatório no ano passado.

- "Efeito assustador" -

Outra tática que disparou o alarme em 2020 foi um vídeo em câmera lenta da democrata Nancy Pelosi, então presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. O efeito a fez enrolar as palavras e dar a falsa impressão de estar bêbada.

"Baseadas em estereótipos sexuais e divulgadas por má-fé, as campanhas de desinformação de gênero têm um efeito assustador sobre as mulheres que visam", disse Lucina Di Meco, especialista em igualdade de gênero e coautora de um estudo publicado no mês passado.

A desinformação geralmente gera "violência política, ódio e desencoraja mulheres jovens a considerar uma carreira na política", de acordo com o estudo intitulado "Monetizando a misoginia".

Nas táticas de desinformação, as mulheres na política são muitas vezes estigmatizadas como não confiáveis, muito emotivas ou promíscuas para cargos públicos.

Quando a atual ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, estava concorrendo à chancelaria em 2021, ela foi alvo de desinformação que lançou dúvidas sobre se ela estava preparada para o cargo.

Uma dessas campanhas apresentava imagens de uma modelo nua, simulando que fosse a política, e sugeria que ela havia sido trabalhadora do sexo.

A desinformação de gênero representa uma ameaça à segurança nacional, pois pode ser explorada por estados autocráticos para tentar influenciar o exterior, de acordo com vários pesquisadores.

Também pode ser usada para subjugar a oposição.

“Quando há líderes autocráticos no poder, a desinformação de gênero é frequentemente usada por atores alinhados ao Estado para minar a oposição de mulheres líderes e também os direitos das mulheres”, alerta Di Meco em seu estudo.

- "Ataques à dignidade" -

Mulheres em todo o mundo estão lutando contra falsidades que reforçam estereótipos sobre sua inteligência ou eficiência.

Em 2021, viralizou nas redes sociais que a atiradora esportiva egípcia Al-Zahraa Shaaban havia sido excluída das Olimpíadas de Tóquio por ter atirado em um árbitro. Isso gerou uma onda de comentários ridicularizando as mulheres e questionando suas habilidades esportivas.

Questões também foram levantadas contra seu envolvimento nas forças armadas após a queda no ano passado de um caça F-35 em um porta-aviões dos EUA no Mar da China Meridional. Publicações falsas atribuíram o acidente à primeira mulher do mundo a pilotar um F-35, mas o piloto envolvido era um homem.

Essas falsidades humilhantes podem ter um efeito silenciador sobre as mulheres, dizem os pesquisadores, pois elas são levadas a se autocensurar e até evitar profissões dominadas por homens, até mesmo cargos políticos.

Em 2020, dezenas de legisladores dos Estados Unidos e de outros países enviaram uma carta ao Facebook, que, junto com outras plataformas, é obrigado a dispor de amplificação algorítmica de conteúdo odioso e falso contra mulheres.

Em um comunicado, o Facebook admitiu na época que o abuso online de mulheres era um "problema sério".

"Não se engane, essas táticas, usadas em sua plataforma para fins maliciosos, buscam silenciar as mulheres e, em última análise, minar nossas democracias", disse a carta.

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As mulheres enfrentam mais dificuldades no acesso ao mundo do trabalho do que se pensava anteriormente, e a diferença de salários e condições permaneceu quase inalterada nas últimas duas décadas, alertou a Organização Internacional do Trabalho (OIT) nesta segunda-feira (6).

A OIT afirmou ter desenvolvido um novo indicador que mede melhor a taxa de desemprego e detecta todas as pessoas sem emprego à procura de alguma atividade.

Isso projeta "um panorama muito mais sombrio da situação das mulheres no mundo do trabalho do que a taxa de desemprego mais comumente usada", disse esta agência da ONU em um comunicado, a dois dias do Dia Internacional da Mulher.

"Os novos dados mostram que as mulheres continuam tendo muito mais dificuldades para encontrar trabalho do que os homens", disse a agência.

Segundo dados da OIT, 15% das mulheres em idade ativa no mundo gostariam de ter um emprego, mas não têm, contra 10,5% dos homens.

"Essa desigualdade de gênero permaneceu praticamente inalterada por duas décadas", observou a organização.

Em contraste, as taxas oficiais de desemprego para homens e mulheres são muito parecidas.

Isso se deve, segundo a OIT, ao fato de que os critérios usados para determinar se alguém deve ser considerado oficialmente desempregado tendem a excluir de forma desproporcional as mulheres.

De acordo com o relatório, as responsabilidades pessoais e familiares, incluindo o trabalho de cuidado não remunerado, afetam desproporcionalmente as mulheres.

Esse tipo de atividade impede as mulheres de trabalhar, procurar emprego ativamente ou estar disponíveis com pouca antecedência.

"A brecha (de gênero) no trabalho é especialmente grave nos países em desenvolvimento, onde a proporção de mulheres que não conseguem encontrar um emprego chega a 24,9% nos países de baixa renda", disse a agência.

O acesso ao emprego não é o único problema. A OIT observou que as mulheres tendem a estar super-representadas em alguns empregos vulneráveis, inclusive em negócios familiares.

"Essa vulnerabilidade, junto a índices de emprego mais baixos, tem impacto sobre as rendas das mulheres", disse a agência.

A OIT concluiu que "a nível mundial, para cada dólar de renda do trabalho ganho pelos homens, as mulheres ganham apenas 51 centavos".

A Meta, matriz do Instagram e Facebook, disse, nessa terça-feira (10), que não permitirá mais a segmentação de anúncios para adolescentes com base em seu gênero, em meio a um combate às acusações de que suas plataformas são prejudiciais aos jovens usuários.

A gigante das redes sociais informou aos anunciantes, principal fonte de receita da empresa, que a partir de fevereiro só poderão usar segmentos de idade e localização para campanhas publicitárias voltadas para adolescentes de forma geral.

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Outra mudança é que as atividades anteriores dos adolescentes que usam os aplicativos da Meta não serão usadas para determinar quais anúncios verão, indicou a empresa.

Em seu blog, a Meta publicou que as mudanças ocorrem porque reconhece "que os adolescentes não estão necessariamente tão prontos quanto os adultos para tomar decisões sobre como seus dados online são usados para publicidade". As mudanças refletem o feedback de pais e especialistas.

A empresa, anteriormente conhecida como Facebook, enfrenta uma pressão e multas crescentes para restringir sua prática de veicular publicidade altamente direcionada a seus usuários, um modelo que rendeu bilhões de dólares a cada ano.

A Meta foi multada em US$ 413 milhões na semana passada como parte de uma longa disputa legal com a União Europeia relativa à publicidade.

O Google e a Apple também enfrentaram investigações e multas de reguladores por violar as leis de privacidade por meio da publicidade segmentada.

Nos Estados Unidos, a Meta e outras companhias de mídia social enfrentaram o escrutínio das autoridades locais, com leis nacionais bloqueadas devido ao forte lobby das gigantes da tecnologia e um Congresso politicamente dividido.

Além da saudação tradicional a homens e mulheres, o governo Lula passou a adotar o pronome neutro ‘todes’ em eventos e cerimônias oficiais. "Boa tarde a todos, a todas e todes", disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ao abrir o discurso de posse nesta terça-feira, 3, gesto que se repetiu em outros atos ao longo da semana.

O uso de uma expressão que não abarca nem o gênero masculino e feminino busca atingir pessoas trans e não-binárias e retirar a predominância do gênero masculino da língua portuguesa. Um exemplo comumente usado é como se referir a um ambiente composto por nove mulheres e um homem: usa-se "todos" e não "todas". O uso de "todes" buscar aglomerar todos os gêneros, de forma neutra - algo que acontece em outros idiomas, mas que não está previsto na gramática normativa do português.

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O fenômeno também acontece no setor privado. A Braskem lançou em 2018 um guia de "comunicação inclusiva" para melhorar o relacionamento entre funcionários no ambiente de trabalho. Para falar com pessoas de gêneros "não-binários", o guia recomenda o uso dos artigos "x/ile/dile", ao invés de "a/ela/dela" ou "o/ele/dele". "Respeite sempre o nome social das pessoas trans e nunca pergunte ‘qual o seu nome ‘verdadeiro’? Isso é indelicado e causa um constrangimento desnecessário", recomenda.

O material também, por exemplo, orienta os funcionários a evitarem expressões como "homossexualismo" (o sufixo "ismo" indica doença) e "opção sexual" e a utilizarem, por outro lado, os termos "homossexualidade" e "orientação sexual".

Ainda assim, há apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que criticam o uso da linguagem. "Não preciso nem dizer que se o governo federal adotar o uso do pronome neutro em cerimônias oficiais, eles vão alimentar cada vez mais o bolsonarismo, né?", questionou um influenciador petista com mais de 200 mil seguidores no Twitter. "Nada contra, mas temos 1001 problemas pra resolver nos próximos 4 anos, e um deles é evitar dar narrativa pra essa gente."

Ao longo de 2020, deputados apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro adotaram uma postura contrária à linguagem neutra e investem, no Legislativo, na promoção de leis que proíbam o seu uso. O projeto de lei 5198/20, de autoria do deputado Junio Amaral (PL-MG), "proíbe instituições de ensino e bancas examinadoras de concursos públicos de utilizarem o gênero neutro para se referir a pessoas que não se identificam com os gêneros masculino e feminino, como a população LGBTI". O texto da ementa argumenta que a "nova forma de flexão de gênero e número" atua "em contrariedade às regras gramaticais consolidadas". O texto tramita lentamente na Câmara dos Deputados e não apresentou nenhum avanço significativo até o momento.

Tramitaram em todos os Estados do País, com exceção de Roraima, Piauí e Tocantins, projetos de lei que buscam proibir o uso da linguagem neutra. Propostas também avançaram em diversas Câmaras Municipais pelo Brasil.

Em 2021, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin viu "censura prévia" e suspendeu lei de Rondônia que vetava a linguagem neutra em escolas e concursos. A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, vinculada ao Ministério Público Federal, publicou uma nota ténica em fevereiro de 2022 que diz que a "vedação do uso da linguagem inclusiva" incorre em "inconstitucionalidade e inconvencionalidade, por indevida censura prévia".

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou nesta sexta-feira, 16, partidos políticos que usam candidaturas laranja para driblar a cota de gênero.

Em uma tentativa de ampliar a participação feminina, a legislação definiu a reserva de um mínimo de 30% e máximo de 70% para candidaturas de cada gênero.

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"Eu agora me me vejo uma juíza brasileira, 200 anos depois [da Independência], lutando para que os partidos políticos não fraudem os registros de atos partidários e garantam a cota que é de gênero, mas que nós sabemos que é para as mulheres", desabafou a ministra.

Carmen Lúcia se tornou uma das principais porta-vozes da igualdade de gênero no Judiciário. Ela foi a segunda mulher a assumir uma cadeira no STF e presidiu o tribunal entre 2016 e 2018. Recentemente, reagiu a seguidas interrupções de colegas homens em uma sessão de julgamentos no plenário.

A ministra participou mais cedo de um evento organizado pela Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro e falou também sobre o machismo como uma das causas de violência contra a mulher.

"Nós achamos que, quando conseguimos que os direitos fundamentais fossem restabelecidos na década de 1980, todo mundo acreditava mesmo que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos da Constituição e isso será respeitado. Está aí o número de feminicídios com que todos os dias nós somos estapeados para mostrar que nem todo mundo acredita nisso", destacou.

Ela falou ainda que meninas e mulheres continuam sendo invisibilizadas no "cumprimento de suas vocações".

"Duzentos anos depois, o Brasil nem perguntou se havia mulheres lutando pela Independência brasileira. Elas estavam lá. Estavam lá Maria Quitéria, Felipa, Dona Hipólita, a baianinha de dez anos escrevendo cartas para a coroa portuguesa e lutando para que tivesse liberdade e para que as mulheres tivessem o direito a estudar e a se educar", disse. "Algumas coisas transformaram-se em vinte anos e outras não mudaram em duzentos."

Cármen Lúcia fez uma apresentação sobre a relação entre a Constituição Federal e o Código Civil, que completa duas décadas em 2022. Ela defendeu que a igualdade de gênero é um dos temas que ainda precisam ser "transformados na interpretação das normas brasileiras".

A ministra também disse que o STF vem tentando manter o Código Civil atualizado, "nem passando a frente de um tempo, porque é a sociedade que vai dar o sentido de Justiça em cada tempo, nem impedindo que a sociedade cultive novos direitos".

"Quando dizem, e repetem tanto isso como quase um jargão, que o código já nasceu velho porque ele vem depois da Constituição de 1988, eu não acho que os códigos envelheçam se a jurisprudência conseguir fazer com que eles cada vez mais se rejuvenesçam no sentido de atualizar. O pensamento de uma sociedade muda, o Direito tem que ser o que a sociedade pensa e o que ela quer que seja aplicado como a sua ideia de Justiça", defendeu.

Um dos exemplos usados pela ministra foi o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo. O julgamento histórico aconteceu em 2011.

"O Supremo conseguiu reinterpretar normas segundo um caldo histórico que foi transformador. Todo mundo tem o direito na sua condição livre de ser humano de viver a orientação sexual que se quer", comentou. "A dignidade humana está no respeito ao ser humano integral, o ser humano integral é a sua liberdade na extensão mais plena, portanto nós não podemos desconsiderar que uniões afetivas e identidade de gênero não sejam também espaços de liberdade."

As mulheres são 53% do eleitorado brasileiro. Apesar disso, a participação feminina nos parlamentos é bem menor, entre 15% e 20%. Se analisarmos os cargos executivos, como governos estaduais e prefeituras, esse percentual é ainda menor. 

Mesmo baixos, esses números são recordes na realidade brasileira e só foram possíveis depois que o Congresso Nacional aprovou leis que garantem a participação feminina na política. É crime assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por qualquer meio, candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo. 

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Para ajudar o Brasil a tomar conhecimento da lei, a Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados, em parceria com outras instituições como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), lançou campanha de combate à violência política contra a mulher. As denúncias podem ser feitas pelo Ligue 180, por formulários disponíveis no site da ouvidoria do TSE e na sala de atendimento ao cidadão do Ministério Público Eleitoral.  A existência de leis, no entanto, não é garantia de sua aplicação. Pesquisadoras e políticas concordam que é preciso fortalecer uma cultura de combate à violência política contra mulheres. 

Ataques

Em período eleitoral, nas redes sociais, muitas candidatas a algum cargo político se deparam com ataques, em geral, relacionados à aparência e à conduta moral. Termos cruéis são usados, como: gorda, burra, feia, prostituta, doida. Mas por que a política é um dos universos hostis para as mulheres no Brasil?  Para responder a essa pergunta, estudos científicos apontam que é preciso entender de que forma as mulheres são socializadas.

“A gente vive num país sexista", diz a professora Valeska Zanello, do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de Brasília. "A gente aprende como mulher que a coisa mais importante na nossa vida, que a gente deve priorizar, é ter um companheiro, fazer uma relação e ter uma família. Estar sempre disponível para atender no dispositivo materno as necessidades, desejos e anseios dos outros." 

Por outro lado, continua a professora, política é debate. "Você tem que às vezes subir o tom. Você tem que dizer: não entre aqui, este não é seu espaço. Então, as mulheres na socialização não são preparadas para o jogo da política como ele é exercido hoje”, explica Valeska. 

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) já foi vítima desse tipo de violência. “Nós precisamos de mais mulheres na política, mas as mulheres muitas vezes não se sentem seguras o suficiente. Nas suas comunidades, elas são atacadas. São colocados impropérios, inverdades, mentiras sobre suas vidas, atacam os seus filhos. O que mais preocupa a mulher é quando atacam seus filhos e filhas”, afirma a parlamentar. 

Quando a violência política atingiu o filho da deputada Joice Hasselmann (PSDB-SP), ela conta como se sentiu fragilizada. “Meu filho recebeu montagens pornográficas com a própria mãe. Quando aquilo chegou ao miolinho da minha família, mexeu comigo. Me deixou muito fragilizada. E eu não tenho vergonha de dizer isso. Sou uma mulher muito forte, mas tenho o direito também de ser frágil, de estar frágil e eu estava muito fragilizada naquele momento”, relembra Joice.

  Importunação sexual

Além de ataques à aparência das mulheres e a difamação delas, há outras formas de violência. Como a que ocorreu na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), quando a deputada Isa Pena (PCdoB) foi vítima de importunação sexual pelo deputado Fernando Cury (União) em plenário. 

O parlamentar foi flagrado por uma câmera da Alesp abraçando a parlamentar por trás e passando a mão no seio dela. O deputado foi julgado pelo Conselho de Ética e teve o mandato suspenso por 180 dias. 

Mas casos de cassação de mandato nos conselhos de ética do Poder Legislativo por causa de violência política de gênero são praticamente inexistentes. Segundo a professora Valeska Zanello, a não punição desse tipo de abuso é uma proteção para os homens. 

“Essa casa dos homens, ela se reproduz em várias instituições. No Judiciário, inclusive. Acho que em todas as instituições de poder. Geralmente nessas instituições, a gente vai ter como público majoritário homens e homens brancos. São os primeiros a barrar aquilo ali como denúncia, porque eles se identificam não com a mulher que sofreu o assédio, a humilhação, mas com o homem que assediou.” 

Lei O combate a violência de gênero virou lei virou lei em 2021 (Lei 14.192/21), com pena de reclusão de um a quatro anos e multa. Caso a discriminação ou menosprezo seja em relação a cor, raça ou etnia, a pena aumenta em um terço até a metade. 

O projeto que deu origem a lei é de autoria da deputada Rosângela Gomes (Republicanos-RJ), que relembra violências sofridas no ambiente político de todos os tipos. 

“Fui vereadora na cidade de Nova Iguaçu (RJ) e também encontrei uma casa onde há mais de três legislaturas não tinha uma representação feminina, uma vereadora. E, quando eu cheguei, cheguei com muita dificuldade, muita luta, enfrentei muitas humilhações a ponto de ser chamada de macaca, de ser chamada de analfabeta, ao ponto de ter a última cadeira, a última mesa. Não tinha direito a gabinete”, recorda a parlamentar.

  Caminho

No Congresso Nacional, as parlamentares trabalham para tornar natural a participação feminina na política, como pontua a deputada Joice Hasselmann.

“O grande papel de nós mulheres no poder, chegando ao poder, é tornar mais fácil o caminho daquelas que vêm depois de nós. O meu sempre foi difícil, o de tantas mulheres também", lamenta a parlamentar.  Apesar das dificuldades, a deputada Maria do Rosário diz que desistir da política não é uma opção. “Minha obrigação aqui é não desistir. Desistir não está no meu vocabulário. Desistam eles, os machistas. Eu vim aqui para fazer o meu trabalho.” 

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*Da Agência Câmara de Notícias

O desenho animado Peppa Pig vez ou outra rende polêmicas e divide a opinião dos telespectadores. No recente episódio exibido nesta terça-feira (6), no Reino Unido, foi apresentada uma família de pais do mesmo sexo. 

No episódio, intitulado "Famílias", a colega de classe de Peppa, Penny Urso Polar, fala com suas duas mães sobre o que torna cada uma delas especial. No momento, Penny faz um desenho e diz: "Eu moro com minha mãe e minha outra mãe. Uma mãe é médica e uma mãe cozinha espaguete. Eu amo espaguete."

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Peppa Pig estreou em 2004, no Reino Unido, e conta com sete temporadas. Atualmente, o desenho é um fenômeno, exibido em 180 países e traduzido para 40 idiomas.

 

Este ano, o Senado Federal será alvo de mais candidaturas femininas, de acordo com os dados divulgados pela Agência Senado. Serão 53 mulheres disputando os assentos congressistas em outubro, o que representa 22,5% do número total de registros de candidatura. Homens, porém, seguem liderando a Câmara Alta com folga: são 181 candidatos (77,5%), em uma Casa onde a maioria dos eleitos também é masculina, sendo 65 contra 16. 

O perfil médio do candidato ao Senado permanece o mesmo das últimas eleições: homem, branco, casado, com nível superior e mais de 50 anos. O número de representantes do gênero choca com o perfil do eleitorado brasileiro, que é 53% (82 milhões) feminino. Este ano, há uma tendência à diminuição da presença feminina no Senado, já que a maioria das eleitas não concorrerão à reeleição.  

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Nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo menos três senadoras têm interesses voltados ao Palácio do Planalto. Simone Tebet (MDB-MS) e Soraya Thronicke (União-MS) disputarão a Presidência, enquanto Mara Gabrilli (PSDB-SP), disputará como vice-presidente na chapa de Tebet. Leila Barros (PTB-DF) disputará o GDF; Mailza Gomes (PP-AC) disputará o vice-governo do Acre na chapa de Gladson Cameli; e Nilda Gondim (MDB-PB) e Maria do Carmo Alves (PP-SE) não concorrerão a um cargo. 

Da bancada feminina, apenas três possivelmente disputarão a reeleição ao Senado Federal: Kátia Abreu (PP-TO), Rose de Freitas (MDB-ES) e a líder da bancada, Eliziane Gama (Cidadania-AM). 

Legislação e gênero 

Como Alta Casa do Poder Legislativo federal, o Senado tem papel de revisor e representa as unidades da federação, ao contrário da Câmara, que deve representar interesses diretos da população. Os três senadores de cada estado (26 unidades federativas e o Distrito Federal) possuem muitas atribuições privativas, que não passam pelos deputados federais. 

Entre elas, está o julgamento de crimes de responsabilidade por parte do presidente da República e a aprovação de nomes indicados ao Supremo Tribunal Federal (STF), e a procurador-geral da República, além dos presidentes e diretores do Banco Central (BC) e de agências reguladoras. Outra atribuição dos senadores é autorizar operações financeiras externas da União, estados e municípios. Ou seja, são ações mais distantes do clamor popular. Assim, de que forma as senadoras podem atuar pelas demandas de interesse da mulher? 

Em março deste ano, o Senado aprovou 16 medidas que garantem avanços na atualização de leis de proteção e apoio às mulheres. Os projetos vão desde iniciativas contra a violência doméstica e de incentivo ao empreendedorismo feminino à derrubada do veto presidencial à distribuição de absorventes para mulheres de baixa renda.  

Um deles foi o PL 3.342/2020, da senadora Rose de Freitas, que garante acesso a crédito especial de até R$ 20 mil a mulheres empreendedoras das áreas de beleza, estética, vestuário, alimentação e comércio de artigos femininos afetadas pela pandemia da covid-19. Outra iniciativa, do senador Eduardo Braga (MDB-AM), volta a atenção às mães solo, estabelecendo que elas terão prioridade de atendimento em políticas sociais e econômicas (PL 3.717/2021). 

Atuação da bancada feminina

O MDB, apesar de ser um partido do Centrão, é uma das legendas mais ativas do Senado se tratando dos interesses de gênero, ao menos através da bancada feminina. Outros partidos que se destacam são o Cidadania, o Progressistas e o PSDB, que na majoritária sequer dialogam diretamente. Há também representações da bancada que não se atentam às questões de gênero com frequência, como é o caso de Kátia Abreu, que é mais voltada às questões econômicas e ao agronegócio, além de ser mais lida como centro-direita. 

Este ano, esses espaços devem correr mais perigo. Nas pesquisas, apenas duas mulheres aparecem com expressividade, uma para primeiro mandato e outra para reeleição. São elas Rose de Freitas, que surgiu com 22% na pesquisa do IPEC para o segundo mandato pelo Espírito Santo; e Teresa Leitão (PT-PE), candidata da Frente Popular, com 12% das intenções de voto na mesma pesquisa.

Outras candidatas da ala progresissta como Bárbara Sinedino (PSTU-RJ) e Carol Vigliar (UP-SP), pontuaram apenas 2%. A primeira tem como adversário principal Romário (PL), que detém 31% das intenções de votos e é aliado bolsonarista. 

A representatividade no Senado Federal é digna de seus questionamentos, uma vez que nem toda senadora tem atividade política dedicada aos interesses das mulheres. Do princípio democrático, essa dicotomia é interessante, mas no sentido prático, há problemas na existência de uma representatividade rasa. O LeiaJá convidou a pesquisadora Luciana Santana para comentar o tema. Confira abaixo. 

 — Luciana Santana, doutora em Ciência Política e professora na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) 

LeiaJá: Qual o impacto da presença de mulheres no Senado Federal? É uma movimentação positiva, independente das pautas levadas ao Congresso? 

LS: Ter mais mulheres nos espaços legislativos, seja no Senado ou na Câmara e nas Assembleias, faz com que tenhamos mais representatividade na qualidade das políticas públicas discutidas e decidida nesses lugares. Faz com que a gente tenha menos problemas em termos de quantidade e qualidade, e maior garantia de que essas políticas públicas estarão relacionadas às demandas, de fato, da população feminina. Estudos políticos já mostram que onde a mulher está, ela consegue qualificar o debate e levá-lo a uma realidade que, muitas vezes, homens não conseguem estar. Na qual eles decidem, mas sem saber se estão adequadas às diferentes realidades. 

LeiaJá: De forma macro, a representatividade feminina na política do Brasil é um movimento existente?  

LS: Representatividade tem relação com as caraterísticas da população e aquilo que a gente tem em termos de representantes nos estados legislativos. Na prática, existe, sim, uma baixa representatividade de mulheres no âmbito dos legislativos, de forma geral, e até nos governos. Se a gente tem 53% do eleitorado feminino, o esperado é que a gente também tivesse essa mesma proporção de mulheres dentro desses lugares, buscando construir políticas públicas que tenham uma simetria com as demandas da população feminina. O mais correto é falar em representatividade. A garantia de uma equidade de gênero, equilíbrio entre homens e mulheres, tal qual temos na população brasileira. 

LeiaJá: O que o perfil divulgado pelo Senado Federal diz sobre a distribuição dos espaços e assentos políticos do país?  

LS: Quando vemos esses números, reafirmamos o que foi mencionado: há um desequilíbrio entre homens e mulheres, tanto na competição, como entre os eleitos e eleitas. Dentre essas candidatas temos perfis muito variados. Temos as mais progressistas e alguns perfis mais conservadores, o que não necessariamente significa que sejam de famílias tradicionais na política, mas por defesa mesmo, ideológica, de posicionamentos mais conservadores. 

LeiaJá: É importante que as mulheres no espaço legislativo sejam progressistas? 

LS: É extremamente necessário que as mulheres estejam no Legislativo. No mundo ideal, seria bom que tivéssemos mulheres comprometidas com causas que atingem diretamente as mulheres de diferentes de perfis. Hoje a gente sabe o que isso tem causado, especialmente em mulheres que demandam políticas públicas e de assistência social, geralmente bandeiras mais feministas ou igualitárias, que também contemplam a violência e a distribuição igualitária e social do trabalho, o que é mais defendido por partido mais à esquerda e mais progressistas. 

LeiaJá: Mulheres de perfil conservador ou fundamentalista podem representar regresso em pautas de gênero ou a representatividade não deve ter a ver com pautar gênero?

LS: Com certeza o perfil mais conservador pode apresentar retrocessos. Significa que há mulheres, mas não necessariamente que elas têm como prioridade uma agenda que defenda efetivos direitos e que garantam a equidade. Temos que considerar que há mulheres que mantém e defendem posições mais machistas e conservadoras. Essas mulheres devem representadas? Democraticamente, sim, mas pensando em termos de política, considerando o que é necessário hoje, seria um retrocesso. 

 

As principais mudanças nas regras para as eleições de 2022, aprovadas pelo Senado no ano passado, visam aprimorar a representação popular no Parlamento, reduzindo a fragmentação partidária e aumentando a diversidade racial e de gênero dos eleitos. O pleito servirá como teste da eficácia desse esforço, mostrando se serão necessárias outras alterações para as eleições seguintes. 

Algumas das maiores novidades para este ano são a elevação da "cláusula de desempenho" (o mínimo de votos necessário para se ter acesso ao fundo partidário e ao horário gratuito de rádio e televisão); e o incentivo a candidaturas femininas ou de pessoas negras (incluído na Emenda Constitucional 111, dando peso maior aos votos nessas candidaturas no cálculo da divisão do fundo partidário e do fundo eleitoral). Além disso, a Lei 14.208, também de 2021, instituiu as "federações partidárias", associações entre dois ou mais partidos por um período mínimo de quatro anos. A intenção é evitar a formação de coligações meramente eleitoreiras, como ocorria até as eleições de 2018. 

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"Só o tempo dirá, mas a intenção dessas mudanças é justamente a redução da fragmentação partidária e, no caso das federações, uma união mais duradoura dos partidos com afinidades programáticas", afirma a senadora Zenaide Maia (Pros-RN).

"Mulheres e negros são maioria na população brasileira e minoria nos parlamentos e no Executivo. Para mudar isso, é preciso menos discurso e mais ação, inclusive dentro dos partidos". 

Federações

A instituição das federações foi criticada por parte dos especialistas, porque, segundo eles, isso seria uma espécie de recriação das coligações, dificultando a redução do número de partidos. Porém, para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), as federações possibilitam “a sobrevida de legendas políticas históricas”: "Nós não estamos falando de legendas políticas de aluguel. Estamos falando de legendas políticas que têm identidade programática, como é o caso do meu partido", disse Randolfe por ocasião da discussão do respectivo projeto em Plenário. 

Durante a discussão do texto, o senador Carlos Fávaro (MT), agora licenciado, atacou a proposta: "Diante da coerência que estamos mantendo, acabando com a coligação no Brasil, [deveríamos] sepultar, definitivamente, as coligações para os partidos políticos nas [eleições] proporcionais", declarou ele. 

Antes de ser transformado na Lei 14.208, de 2021, essa proposta tramitou no Senado na forma do PLS 477/2015 e na Câmara na forma do PL 2.522/2015. 

Atualmente há 30 partidos representados na Câmara dos Deputados. No Senado, há 17: Avante, Cidadania, MDB, PDT, PL, Podemos, PP, Pros, PSB, PSC, PSD, PSDB, PT, PTB, Rede, Republicanos e União. Muitos cientistas políticos consideram essa fragmentação, uma das maiores do mundo, prejudicial à governabilidade, por aumentar o esforço necessário para negociar uma maioria parlamentar que aprove as pautas de interesse do governo. 

Emenda Constitucional 97

Além dos textos aprovados em 2021, outra emenda constitucional, a 97, ainda traz novidades para as eleições deste ano, mesmo tendo sido promulgada em 2017. Ela prevê, desde as eleições municipais de 2020, o fim das coligações nas eleições proporcionais e uma "cláusula de desempenho" (paulatinamente mais rigorosa, com um mínimo de votos para que os partidos possam ter acesso aos fundos eleitoral e partidário e ao tempo de propaganda no rádio e na televisão). Essa "barreira", em 2022, será de 2% dos votos válidos e 11 deputados federais eleitos. A ideia é que isso resulte em um número menor de partidos, mais robustos eleitoralmente. 

Autor de um texto para discussão que analisa a fragmentação partidária, o consultor legislativo do Senado Clay Souza e Teles acredita que as mudanças criadas pela Emenda 97 estão entre "as mais substanciais" das últimas décadas, e que seus efeitos serão plenamente percebidos no longo prazo. 

"Eu acredito que os dois, juntos, têm o poder de diminuir a fragmentação. Essa diminuição será significativa? Não dá para garantir. Na eleição passada já vimos um leve enxugamento do quadro partidário. A cláusula de barreira, por si só, estimulou as fusões e incorporações de partidos. Agora estamos vendo uma dinâmica diferente. Os partidos começaram a se juntar em federações; temos agora três. Outra dinâmica: os partidos estão querendo colocar alguns candidatos de peso na Câmara dos Deputados, justamente para assegurar a cláusula de barreira. Potenciais candidatos a cargos majoritários devem [mudar de ideia e] se candidatar a deputado federal, atuando, assim, como puxadores de votos em seus partidos",  analisa o consultor. 

Diversidade Souza e Teles vê com "otimismo" a regra criada pela Emenda Constitucional 111, que duplica o peso dos votos a mulheres e pessoas negras no cálculo dos fundos partidário e eleitoral.  "A Emenda 111 entra em um ponto muito importante para os partidos, que é a distribuição de recursos públicos. Agora, contando em dobro, vai interessar ao partido ter candidatas mulheres e candidatas e candidatos negros com potencial de votação mais expressiva. Não é conveniente para o partido registrar uma candidatura apenas para preencher o percentual mínimo exigido em lei", explica. 

Futuras mudanças

Quaisquer que sejam os resultados práticos das novas regras, a maioria dos especialistas no sistema eleitoral aponta distorções que exigiriam uma reforma mais ampla. Esta, porém, esbarra na dificuldade de se encontrar um consenso no Parlamento para alterações mais profundas.

Por esse motivo, nos últimos pleitos a Justiça Eleitoral tem tomado decisões normatizando lacunas da legislação, como a regulamentação das pesquisas de intenção de voto.  Para a senadora Zenaide Maia, uma das questões mais urgentes é a das fake news: "Para mim, a atitude mais importante nem é uma nova mudança na legislação eleitoral, mas um investimento pesado no combate às fake news. As mentiras que já estão envenenando as campanhas corroem a democracia, porque tiram do cidadão e da cidadã o direito à informação verdadeira". 

O consultor legislativo Clay Souza e Teles acredita que o período de pré-campanha exige um regramento mais detalhado. Para ele, a tendência a encurtar o período oficial de campanha (este ano, a partir de 16 de agosto) sob o argumento do barateamento leva a pré-campanhas com quase nenhuma regulamentação:  "É como se a campanha fosse uma maratona, e esse período a partir de 16 de agosto fosse a reta final. Reduziu-se o período de propaganda no rádio e na TV, mas antes disso há memes, vídeos e até outdoors estampando o rosto de pré-candidatos em datas comemorativas... A lei permite algumas condutas, desde que não envolvam o pedido explícito de votos, mas muitas vezes há dúvidas sobre o que é permitido ou não. Diante do silêncio da legislação, o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] vem construindo uma jurisprudência em cima disso", ressalta ele. 

Confira as principais mudanças nas regras para as eleições de 2022

Contagem em dobro para a distribuição dos fundos

Os votos dados a mulheres e pessoas negras serão contados em dobro para efeito da distribuição dos recursos do fundo partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (conhecido como fundo eleitoral) nas eleições de 2022 a 2030. A intenção é estimular os partidos a aumentarem as representações feminina e negra no Legislativo.

Coligações partidárias

Proibidas nas eleições proporcionais pela Emenda Constitucional 97 (a contar do último pleito municipal, em 2020).

Federações partidárias

Criadas para "substituir" as coligações por um sistema mais duradouro. Dois ou mais partidos podem se associar para disputar eleições, mas não podem deixar a federação por um período mínimo de quatro anos.

Cláusula de desempenho

Estabelecida pela Emenda Constitucional 97 para determinar como se dá o acesso aos fundos eleitoral e partidário, foi de 1,5% dos votos válidos e nove deputados federais eleitos nas eleições de 2018. Em 2022, será de 2% e 11 deputados eleitos, e continuará subindo nas próximas eleições (2,5% e 13 eleitos em 2026; 3% e 15 eleitos em 2030).

Distribuição das "sobras" eleitorais

A Lei 14.211, de 2021, mudou o critério para preenchimento das vagas que "sobram" no sistema proporcional. Só podem concorrer a elas os candidatos com pelo menos 20% do quociente eleitoral e os partidos com pelo menos 80% do mesmo quociente (número de votos válidos dividido pelo número de vagas). A intenção é evitar que candidatos com votação irrisória se elejam graças a um "puxador de votos" no partido.

Fidelidade partidária

Deputados federais, estaduais e distritais e vereadores que saírem do partido pelo qual tenham sido eleitos não perderão o mandato se a legenda concordar com a saída. Hoje, ao trocar de partido, esses parlamentares mantêm o mandato apenas em caso de “justa causa” — que inclui, segundo a Lei 9.096, de 1995, mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário; grave discriminação política pessoal; e se o desligamento ocorrer durante o período de 30 dias que antecede o prazo de filiação exigido em lei para disputar a eleição.

Incorporação de partidos

A legenda que incorpora outras siglas não será responsabilizada pelas punições aplicadas aos órgãos partidários regionais e municipais e aos antigos dirigentes do partido incorporado, inclusive as relativas à prestação de contas.

Consultas populares

A Emenda Constitucional 111 também prevê a realização de consultas populares sobre questões locais junto com as eleições municipais. Essas consultas têm de ser aprovadas pelas câmaras municipais e encaminhadas à Justiça Eleitoral em até 90 dias antes da data das eleições. As manifestações dos candidatos sobre essas questões não poderão ser exibidas durante a propaganda gratuita no rádio e na televisão.

Nova data de posse

Presidente da República e governadores eleitos este ano terão mandatos alguns dias mais longos que seus antecessores, devido a uma mudança na data de posses futuras. A partir de 2027, a posse do ou da presidente da República passa a ocorrer em 5 de janeiro, e a de governadores e governadoras, no dia seguinte. Hoje ambas ocorrem no dia 1º de janeiro, o que cria dificuldades de organização das cerimônias, em razão da coincidência com as festas de fim de ano. 

*Da Agência Senado

Durante o lançamento da competição, que envolve merendeiras de escolas públicas brasileiras, na última terça-feira (8), o ministro da Educação, Milton Ribeiro, posicionou-se contrário à educação sexual de gênero nas instituições de ensino do país.

Na ocasião, Ribeiro se dirigiu às merendeiras afirmando que, além da questão alimentar, elas também são responsáveis para que as crianças não sejam "incentivadas" a mudar de gênero. Para ele, a educação sexual, destinada a alunos dos seis aos 10 anos, é "coisa errada".

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"Nós não vamos permitir que a educação brasileira vá por um caminho de tentar ensinar coisa errada para as crianças. Coisa errada se aprende na rua. Dentro da escola, a gente aprende o que é bom, o correto, o civismo, o patriotismo. Por isso que tem um grupo da população que, infelizmente, me critica, mas, tenho certeza que as merendeiras, mães, avós estão comigo", afirmou o responsável pela pasta.

"Não tem esse negócio de ensinar: você nasceu homem, pode ser mulher. Respeito todas as orientações, mas, uma coisa é respeitar, incentivar é outro passo", completou.

Na fala, o ministro da Educação lembrou do processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República, que investiga colocações de cunho homofóbico de 2020. Na época, Ribeiro atrelou a homosexualidade ao desejuste familiar.

"Meu processo já está lá no STF. Não tenho vergonha de falar isso. Não tenho compromisso com o erro. Temos que respeitar todos, nosso país é laico, mas tenho certeza que as merendeiras do Brasil que cuidam das nossas crianças também têm esse cuidado todo especial. Não apenas com o que se come, mas com o que se aprende intelectualmente", afirmou.

Pela primeira vez no México, uma pessoa com gênero não binário conseguiu na Justiça o direito de alterar o registro civil no estado de Guanajuato. A sigla 'NB' foi colocada no campo 'sexo' da sua certidão de nascimento.

Fausto Martínez, de 26 anos, deu entrada no processo judicial no dia 24 de setembro do ano passado. O pedido foi enviado ao Instituto Nacional Eleitoral (INE), que possui protocolo para pessoas transgênero, mas recusou a solicitação.

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O órgão alegou não que não havia outro documento oficial para confirmar o gênero não binário. Com a negativa, Fausto decidiu recorrer à associação Amicus e foi beneficiado pela Justiça no último dia 11.

Os 32 estados do México são responsáveis pelos registros dos seus moradores e apenas metade têm lei de identidade de gênero para pessoas trans. Guanajuato é um dos estados que não tem normas específicas para a retificação de gênero em documentos oficiais.

Um projeto de lei ordinária visa censurar a circulação de conteúdos sobre gênero e diversidade sexual em escolas públicas e particulares de Pernambuco. A PL de nº 003061/2022 consta no Diário Oficial da última quarta-feira (9) e é de autoria do deputado estadual William Brigido (Republicanos), bispo da Igreja Universal.

Se aprovada, a nova norma vedaria a circulação escolar de “todo conteúdo impresso ou digital, de caráter audiovisual como filmes, músicas, pinturas, murais, folhetos, pôsteres expostos e/ou exibidos dentro do ambiente escolar, tendentes a induzir ou instigar a exposição ou manipulação genital, bem como a experimentação sexual individual ou não, de qualquer tipo, especialmente a relacionada aos transtornos parafílicos, que institua qualquer política e/ou propaganda que disseminem conceitos que propiciem a identidade de gênero que exponha qualquer diferença social, econômico, comportamental, político, cultural e outras compartilhadas por determinados indivíduos e grupos sociais”, conforme o texto do PL.

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De acordo com a proposta, os dirigentes, coordenadores, professores e demais agentes escolares que permitam a difusão de tais conteúdos devem ser afastados do ambiente de trabalho e responder a processo administrativo. Retirado de suas funções, o profissional de educação correria ainda o risco de ter seus rendimentos prejudicados durante a sindicância.

Sem nenhum tipo de abordagem técnica, o texto se resume a dizer que as restrições pedagógicas justificam-se pela seguinte inferência: “sabendo que crianças estão em estágio de desenvolvimento moral, a família deve ser o norteador de determinadas orientações. Não é dever de o Estado (sic) interferir nas organizações familiares, e sim dar sustentação a liberdade que a família têm em desenvolver moralmente suas crianças conforme o que acreditam. Instituir Políticas ou Propagandas sobre diversidade ou ideologia de gênero, em sujeitos em formação, estimulará curiosidades e discussões que não condizem com sua idade, nem necessariamente irá em encontro com os valores estipulados pela família."

Por fim, o deputado cita o artigo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual dispõe que “é direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral”. Desde 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reconhece o casamento entre pessoas do mesmo gênero.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) comemorou, nesta quinta-feira (27), que pautas relacionadas ao que ele chama de "ideologia de gênero" tenham ficado sob a relatoria do ministro André Mendonça, indicado por ele para o Supremo Tribunal Federal (STF). Em conversa com apoiadores, o mandatário reiterou estar satisfeito por honrar o compromisso de conduzir alguém "terrivelmente evangélico" para a Corte, e disse já ter em mente o perfil dos próximos indicados caso seja reeleito.

"Não quero saber da vida particular de quem quer que seja, mas na escola não dá", afirmou o chefe do Executivo. Ele disse acreditar que, atualmente, a maior parte da comunidade LGBT não concorda com as pautas de gênero.

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Evangélico, Mendonça herdou a relatoria de uma ação sobre o ensino de questões de gênero em escolas. Movida pelo PSOL em 2018, a ação pede a derrubada de leis dos municípios de Garanhuns e Petrolina, em Pernambuco, que vedam a abordagem de informações sobre gênero nas políticas de ensino.

Bolsonaro destacou que o próximo presidente eleito terá direito a indicar dois ministros para o STF em 2023, referindo-se às vagas que serão abertas com as aposentadorias dos ministros Ricardo Lewandowski e Rosa Weber, ambas previstas para o ano que vem. Perguntado por um apoiador se já tem os nomes "na ponta da língua", o mandatário deu a entender que, se for reeleito, vai indicar perfis parecidos com o de Mendonça.

Em dezembro, o plenário do STF abriu julgamento sobre o uso da "linguagem neutra" em instituições de ensino e editais de concursos públicos. A Corte analisa se referenda a decisão do ministro Edson Fachin de suspender uma lei de Rondônia que proibia o uso de palavras adaptadas para excluir a demarcação de gênero - "elu" em vez de "ele" ou "ela", por exemplo - no Estado.

À época, Bolsonaro afirmou que essa forma de se comunicar "estraga a garotada". "Cada um faz o que bem entender com o seu corpo. Mas por que a linguagem neutra dos gays? O que soma para a gente em uma redação? Estimula a molecada a se interessar por essa coisa para o futuro. Vai estragando a garotada", disse.

Como mostrou o Estadão, Mendonça terá papel determinante em julgamentos sensíveis à agenda conservadora defendida por Bolsonaro. Um deles é o que analisa se detentas transexuais e travestis têm direito de optar por cumprir a pena em presídios masculinos ou femininos. Essas resoluções representam uma "prova de fogo" para o ministro, que durante sua sabatina no Senado prometeu priorizar o entendimento constitucional sobre o religioso em sua atuação na Corte. "Na vida, a Bíblia. No Supremo, a Constituição", afirmou ele.

As relatorias de processos no STF são definidas por sorteio; Um ministro do Supremo Tribunal Federal não pode escolher os processos que vai julgar. Mendonça "herdou" o processo das questões de gênero nas escolas e das detentas trans do gabinete do ministro Marco Aurélio Mello, que se aposentou da Corte em julho do ano passado, abrindo a vaga para o indicado de Bolsonaro.

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