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Até o fim de 2020, mais de 14 milhões de hectares de terras públicas estavam registrados ilegalmente como propriedade particular no Cadastro Ambiental Rural (CAR), sendo que 3,4 milhões de hectares já haviam sido desmatados.

Os dados constam do relatório de avaliação da atual política pública de regularização ambiental e os impactos gerados pela ocupação ilegal de áreas públicas na Amazônia Legal. De autoria do senador Fabiano Contarato (PT-ES), o texto foi aprovado na Comissão de Meio Ambiente (CMA) nesta terça-feira (1º) e será encaminhado à Mesa Diretora para divulgação. 

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O relatório, que teve origem em requerimento apresentado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), destaca ainda que o governo de Jair Bolsonaro promoveu uma ampla desorganização dos órgãos públicos ligados à defesa ambiental e à regularização fundiária, com destaque para a situação do Incra, a partir de cortes orçamentários e falhas na gestão do capital humano formado por seus servidores, além de ter desmobilizado ações ambientais que já estavam em processo de aperfeiçoamento. O documento, que apresenta algumas sugestões para o aprimoramento da política de regularização fundiária, também registra que o Brasil lidera o ranking entre os países que mais promovem desmatamentos ilegais desde a década de 1990. 

O relatório ressalta que o CAR tem sido utilizado como um caminho certo para legitimar a grilagem em terras públicas em todo país, sobretudo na Amazônia, apesar de constituir um importante instrumento de monitoramento e regularização ambiental dos imóveis rurais. 

“Por isso, a ligação entre a grilagem marcada pelo CAR e a retirada da floresta como meio de comprovar a posse sobre a terra, sem nenhum interesse imediato na produção ou no aproveitamento adequado da área, é um dos principais impulsionadores do desmatamento. Cerca de 66% dos casos ocorreram dentro do perímetro declarado ilegalmente como particular, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia”, destaca o documento lido pelo presidente da CMA, senador Jaques Wagner (PT-BA).

  Registros sobrepostos

Ao longo dos últimos anos, de acordo com o relatório da CMA, denúncias apontam que o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural tem recebido registros de propriedades ilegais em terras públicas destinadas e não destinadas. Trata-se de registros sobrepostos a Florestas Públicas Não-Destinadas (FPND), Terras Indígenas (TI) e Unidades de Conservação (UC) que não poderiam ser aceitos no sistema como propriedade privada ou mesmo posse legítima e, portanto, com direito de registro no CAR.

  "Como o CAR é autodeclaratório, grileiros cadastram no sistema supostos imóveis rurais nas florestas públicas não destinadas, para simular um direito sobre a terra que eles não possuem, conforme a legislação atual. E o aumento da grilagem de terras é apenas uma das muitas consequências nefastas desse processo, que envolve corrupção, formação de quadrilha, trabalho escravo, violência contra povos indígenas, roubo de madeira e mineração ilegal", disse Wagner ao ler o relatório. 

De acordo com o Laboratório de Inovação, Inteligência e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), foram identificados, a partir de dados do próprio Serviço Florestal Brasileiro (SFB), 2.789 cadastros sobrepostos a terras indígenas, somando mais de 380,5 mil hectares. 

"É fundamental compreender como os filtros do CAR estão sendo operados, bem como quais ações devem ser tomadas para impedir cadastros em terras públicas não destinadas, comunicando à população, e às demais nações, como os cadastros realizados de maneira irregular serão suspensos ou regularizados", afirmou Wagner. 

Desmatamento

Em 2004, foi lançado o Plano de Ação para Prevenção e Controle doDesmatamento na Amazônia Legal, cujos resultados foram positivos devido à articulação de três eixos temáticos: ordenamento fundiário e territorial; monitoramento e controle ambiental; e fomento às atividades produtivas sustentáveis. 

Entre 2005 e 2014, deixaram de ser desmatados mais de 11 milhões de hectares ou 22 bilhões de árvores adultas, sendo considerada a maior contribuição de um único país para toda estratégia de mitigação de emissões de gases de efeito estufa no planeta. Houve uma redução na taxa anual de desmatamento de 82% em função da implantação efetiva do plano de ação. 

Esse cenário mudou desde 2015, e uma das causas para a reversão da trajetória da década anterior foi o aumento progressivo nas taxas de desmatamento no bioma amazônico, particularmente em terras públicas, como resultado direto da grilagem para fins de especulação fundiária, ponto focal da atenção do relatório da CMA. 

Durante a leitura do relatório, Wagner lembrou que o Brasil assumiu, perante mais de 100 países na Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP26), realizada em 2021 em Glasgow, na Escócia, o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2028 e reduzir em 50% as emissões de gases de efeito estufa até 2030, por meio de ações coletivas para deter e reverter a perda florestal e a degradação do solo. 

"Entretanto, existe um movimento que pretende desconstruir a função precípua dos programas de regularização fundiária, os quais devem ser utilizados para reconhecer situações de fato consolidadas há muitos anos. Em lugar de empreender e aplicar a legislação em vigor, o governo federal e sua base parlamentar na Câmara e no Senado insistem em flexibilizá-la para facilitar a regularização de médias e grandes propriedades, quando deveria implementar a legislação vigente para viabilizar a entrega de títulos de terra para as ocupações antigas de pequenos posseiros, que correspondem a mais de 90% dos beneficiários na fila da regularização fundiária", disse o presidente da CMA.

  Política fundiária De acordo com o relatório da CMA, um dos maiores exemplos de paralisia no Incra foi o abandono da política fundiária de territórios quilombolas. 

"Lamentavelmente, percebemos fortes indicações de preconceito institucional, pois, enquanto o governo investe e comemora titulação precária de lotes de assentamentos, a regularização de territórios quilombolas sobrevive à míngua de recursos orçamentários e humanos. Portanto, corrigir esse rumo não é apenas questão de gestão, mas, principalmente, de resgate da dignidade e dos direitos fundamentais da população quilombola. A política de regularização fundiária precisa ser retomada e impulsionada no Brasil, mas sem que para isso estimule práticas predatórias, como a ocupação de áreas com vegetação nativa e desmatamento ilegal", destacou Wagner.

  O relatório recomenda que o Congresso Nacional, além de legislar, fiscalize o Executivo na implementação da legislação vigente e avalie a efetividade da legislação, antes mesmo de promover sua alteração, propondo medidas corretivas e de aprimoramento da política. De acordo com o documento, é necessária e urgente a análise da regularização fundiária como política pública, avaliando também sua interface com o controle e regularização ambiental e com a prevenção e redução de desmatamentos ilegais na Amazônia.

  "Terras públicas devem ser destinadas para finalidades de interesse público, como reforma agrária, criação e implementação de unidades de conservação da natureza, reconhecimento de terras indígenas e de quilombolas, concessão florestal, estratégias de segurança nacional, ou até mesmo para pequenos produtores rurais em ocupações antigas e em fase de consolidação, em áreas apropriadas para o desenvolvimento agropecuário", afirmou Jaques Wagner. 

Diálogo salutar

No início da reunião remota da CMA, Jaques Wagner comentou o resultado das eleições de domingo (30) e disse estar “esperançoso” em relação ao governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, no que diz respeito à questão ambiental. 

"Na condição de presidente da CMA, sinto-me esperançoso com o próximo governo. O compromisso do presidente eleito foi claro na trajetória dessa campanha. Não tenho dúvida de que teremos ambiente de diálogo mais salutar entre as duas Casas do Congresso. Logo voltaremos à tranquilidade total e me congratulo com todos os colegas, independentemente de posição. Na festa da democracia, os eleitores depositaram esperança no próximo governo. Foi uma disputa apertada, o que mostra que o próximo presidente terá que ter capacidade de diálogo muito grande e, para isso, pretendo, na condição de senador, contribuir para que tudo isso possa acontecer, e que o Brasil volte a estar na constelação internacional, particularmente na questão do meio ambiente e na questão social", concluiu o presidente da CMA. 

*Da Agência Senado

A atividade madeireira e a pecuária em grandes áreas de terras públicas não destinadas provocam a expansão das fronteiras do desmatamento na Amazônia. Em estudo publicado na revista “Regional Environmental Change”, pesquisadores de quatro instituições do exterior e do Brasil, entre elas o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), alertam para a falta de monitoramento e de ações do poder público para coibir o avanço do desmatamento ilegal.

A pesquisa foi realizada no distrito de Santo Antônio do Matupi, em Manicoré, localizado às margens da BR-230, a Rodovia Transamazônica. A região se tornou um dos grandes polos de desmatamento no sul do Amazonas nos últimos anos. Os pesquisadores observaram as terras públicas não destinadas da região de Matupi, que são áreas federais ou estaduais para as quais o governo não especificou qualquer uso específico, como terra indígena, unidade de conservação ou assentamento.

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“O sul do Amazonas é o palco de um rápido avanço do desmatamento que está saindo do tradicional ‘arco do desmatamento’ e migrando para o norte. A geografia dessa atividade deve mudar radicalmente com a planejada ‘reconstrução’ da Rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho), a AM-366, que sairia da BR-319 para abrir a vasta área de floresta intacta na parte oeste do Amazonas. Isto abrirá uma enorme área de terras públicas sem destinação para a entrada de grileiros, sem-terras, madeireiras, e outros atores. Os processos estudados no atual trabalho seriam repetidos em grande escala”, explica um dos autores do estudo, Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

Na Amazônia brasileira, o aumento da perda florestal está localizado principalmente em novas fronteiras de desmatamento que estão próximas a áreas de pecuária. Em Matupi, por exemplo, os estudos concluíram que os principais desmatadores são os ocupantes de terras com áreas maiores de 400 hectares.

Os autores também apontam que as terras ocupadas por grileiros, posseiros e grandes fazendeiros refletem o baixo nível de monitoramento e governança do país na área ambiental. De acordo com Philip Fearnside, o “desmatamento ilegal zero” prometido pelo Brasil na COP26 poderia ser alcançado com a interrupção dessas atividades. Mas, no atual cenário brasileiro, o caminho sendo tomado para cumprir essa meta é a simples legalização do desmatamento ilegal.

“O entendimento dos processos de ocupação e desmatamento nas terras públicas não destinadas é essencial tanto para desenhar melhores abordagens de controle quanto para subsidiar decisões mais acertadas sobre a construção das estradas que deslancham a ocupação e o desmatamento. Os impactos das estradas que abrem essas áreas são muitíssimo maiores do que os Estudos de Impacto Ambiental / Relatórios de Impacto Ambiental e os discursos políticos levam a crer”, destaca Philip Fearnside.

Fonte: Agência Bori

A Amazônia tem a maior devastação já registrada para os cinco primeiros meses de um ano. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), houve alertas de desmatamento para 2.032 km² entre janeiro e maio de 2020.

O valor é o maior para o período desde o início da série histórica do sistema Deter-B, em 2015, 34% maior que o do mesmo período no ano passado (1.512 km²) e 49% acima da média dos quatro anos anteriores (2016 a 2019), que foi de 1.363 km². 

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De acordo com o escritório brasileiro do Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Brasil), o cenário de aumento da devastação é ainda pior quando considerado o período que se estende de agosto do ano passado a maio deste ano, e que corresponde aos 10 primeiros meses do calendário de monitoramento do desmatamento do sistema Prodes/INPE. Nesse período, o desmatamento foi de 6.499 km², o que representa um aumento de 78% em comparação ao período anterior (agosto de 2018 a maio de 2019), quando foram desmatados 3.653 km².

Além disso, esse devastação é significativamente maior do que a média de 3,6 mil km² registrada nesse período desde o início da série histórica, sendo ainda mais preocupante porque exclui os meses de junho e julho, quando o desmatamento é historicamente mais alto.

Só em maio, a área sob alertas de desmatamento foi de 829 km², a maior dos últimos cinco anos e 12% acima do registrado em 2019. No mês anterior, tinham sido devastados 407 km², a metade.

"Os dados de maio preocupam e indicam uma tendência crescente de desmatamento no período, com níveis ainda maiores do que 2019, um ano já excepcionalmente alto. Estamos diante de um cenário de total catástrofe para a Amazônia, com a expectativa de mais áreas abertas, invasões e queimadas somadas ao triste cenário do alastramento da pandemia pelo bioma”, afirma Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil, em nota enviada à Sputnik Brasil.

Para Raul do Valle, diretor de Justiça Socioambiental da instituição, "o governo federal precisa parar de enviar sinais de que está do lado dos grileiros, garimpeiros e madeireiros ilegais, como tenta fazer com a ex-MP 910 e o atual PL 2633, que pode legalizar a grilagem".

Da Sputnik Brasil

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou uma desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Além da magistrada, outras quatro pessoas foram denunciadas suspeitas de participar de um esquema de venda de decisões judiciais para regularização de terras do Oeste Baiano, revelado pela Operação Faroeste.

Esta é a terceira denúncia apresentada pelo MPF no âmbito das investigações sobre negociação e venda de sentenças. A Procuradoria estima que os crimes tenham viabilizado a grilagem de cerca de 360 mil hectares de terra.

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Em maio último, a Corte, de forma unânime, deu início a um processo contra 15 pessoas - entre elas, cinco desembargadores do Tribunal de Justiça baiano e três juízes estaduais - por organização criminosa e lavagem de dinheiro. As investigações se iniciaram a partir da descoberta de indícios da existência de uma organização criminosa, que teria operado entre 2013 e 2019.

De acordo com os investigadores, o grupo era dividido em três núcleos: judicial, formado por desembargadores, juízes e servidores do Tribunal de Justiça da Bahia; causídico, composto por advogados responsáveis pela intermediação entre os julgadores e produtores rurais; e econômico, formado pelos produtores que pagavam pelas sentenças. Todos tinham a intenção de negociar decisões, em especial, para grilagem de terras no Oeste da Bahia.

Segundo o documento enviado na última sexta-feira (5) ao relator do caso no Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Og Fernandes, entre julho e novembro de 2013, a desembargado denunciada, com auxílio de uma sobrinha, solicitou, aceitou promessa e recebeu vantagem indevida no valor de R$ 1,4 milhão para proferir decisão judicial em favor de um grupo de empresários interessados na legitimação de terras no município de Formosa do Rio Preto (BA), num litígio envolvendo área de 800 mil hectares e cifras bilionárias. Já os crimes de lavagem de dinheiro ocorreram entre 2013 e 2019, tendo como propósito distanciar o dinheiro, fruto de crimes praticados de sua origem ilícita e dissimular sua real origem.

O MPF pede o recebimento integral da denúncia e, em caso de condenação, a decretação da perda função pública para a desembargadora. Além disso, quer o confisco dos bens frutos de lavagem de dinheiro no valor mínimo de R$ 991 mil e pagamento de indenização por danos morais coletivos, no valor equivalente a R$ 1,4 milhão, correspondente ao montante de dinheiro envolvido na decisão negociada.

A moradora está inquieta, anda de um lado para o outro dentro dos cômodos inacabados ainda com respingos de cimento pelas paredes de sua casa. Com as mãos muito trêmulas, ela segura uma xícara de café com alguma dificuldade. O olhar atento e o semblante de tristeza revela a angústia que Josefa Joaquina de Lima, 75, sente naqueles minutos de apreensão. Ela mora há mais de cinquenta anos nas terras do antigo Engenho Suassuna, dentro da Usina Jaboatão, desativada desde 1996 e atualmente com as ruínas em estado completo de abandono. Dona Zefa, como é chamada pelos mais próximos, é constantemente ameaçada de despejo e ao perceber a aproximação do carro da reportagem, associou o veículo como pertencente “aos homens” que alegam serem os novos donos das terras habitadas por ela e mais um grupo de pouco mais de 50 famílias sitiantes.

Zefa custou a acreditar que, na verdade, a aproximação da equipe de jornalismo seria para ouvi-la sobre os motivos pelos quais ela e seus vizinhos, companheiros de décadas, estariam sendo obrigados a deixarem suas casas ou vê-las sendo demolidas pelos temidos tratores, do dia para a noite, de maneira arbitrária. No terraço de casa, ela se senta na cadeira de balanço e aos poucos o tom de voz estremecido vai desaparecendo, mas não completamente. O nervosismo não é exclusivo da moradora, o sentimento também é partilhado, principalmente, pelos ex-empregados da usina e seus familiares. Eles apontam uma série de ilegalidades, violência psicológica e física contra os posseiros. Mas, apesar da descrença nas autoridades públicas, eles ainda resistem na contramão da especulação imobiliária em Jaboatão dos Guararapes.

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Há vinte e três anos, os antigos donos da Usina Jaboatão, também conhecida como Indústria Açucareira Antônio Martins de Albuquerque, que fica localizada no bairro de Muribequinha, decretaram falência e fecharam as portas. Josefa lembra bem das dificuldades que passou principalmente após o ano de 1996 ao lado de seu marido Octacílio José, já falecido, que era tratorista da usina. Ela conta que a empresa fechou e seu esposo não recebeu nenhuma verba trabalhista pelos anos trabalhados.

A situação deles é também a de centenas de ex-empregados que não tiveram créditos trabalhistas e rescisórios quitados, mesmo após acionarem a Justiça. As poucas exceções foram alguns funcionários que tiveram seus débitos pagos por meio de adjudicação de glebas de terra do engenho, tornando-se então os proprietários desses terrenos. Quem não recebeu nada, optou por permanecer nas terras do Engenho Suassuna, onde já residia com a família e passou a trabalhar na agricultura, plantando alimentos como macaxeira, laranja e verduras.

Mãe de seis filhos, dos quais dois morreram, Josefa continuou nas terras do engenho após o marido falecer. Nascida em Limoeiro do Norte, no Ceará, ela relembra que conheceu Jaboatão dos Guararapes porque vinha sempre à usina visitar um tio que prestava serviços para os latifundiários. Aos doze anos, em uma dessas viagens, conheceu o marido e se apaixonou. Não demorou para que Zefa e Octacílio se casassem. Eles vieram morar na Fazenda Suassuna porque ele trabalhava no local. É tanto tempo morando naquelas terras que Zefa já perdeu as contas exatas, mas ao observar alguma documentações e a carteira de trabalho, já muito surrada e cheia de remendos, de seu esposo, ela calcula que está naquela terra há mais de cinquenta anos.

Ela não morou sempre na casa atual, já de alvenaria. Precisou assistir três moradias feitas de taipa, doadas pela administração da usina na época, caírem por falta de estrutura. “Eram feitas de barro e não aguentavam o desgaste. Nessa última casa que estou morando agora, não foi a usina que me deu como nas outras vezes. Eles me disseram que estavam falindo e não tinha condições de construir mais uma casa para a gente. Eu vendi um terreno em Marcos Freire, na época, e consegui levantar esse meu cantinho de tijolo, mas nem consegui terminar direito, pode ir olhar”, diz Zefa, que busca em várias caixas bem guardadas a documentação para comprovar que seu marido trabalhou para a usina e mostrar que ela não é uma invasora de terra.

Josefa reside sozinha atualmente na Gleba 5, termo utilizado para fins do processo judicial. Para ela, esse novo termo pouco importa. Aquele pedaço de terra representa tudo que restou de uma vida de muito trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar ao lado do marido e nas cozinhas, quando trabalhou como doméstica no Recife. Ela relembra os momentos de abordagem para convencê-la a sair do seu pedaço de terra, a sua moradia. “Esses novos donos vieram negociar comigo perguntando se eu tinha vontade de sair da minha casa e se não aceitava um terreno fora daqui. Eu falei logo que não porque a minha vida é aqui, sempre foi e só saio é morta ou se o trator passar por cima do meu corpo”, complementa Zefa lamentando que esteja passando por isso após tantos anos de dedicação ao engenho. 

Para ela, a relação afetiva com a sua morada está acima até das relações familiares. “Todas essas pessoas que trabalhavam na usina moravam aqui, sabe? Eu gosto demais de morar nessa minha terra. Quando minha filha me leva para passar algumas semanas em outros bairros, eu fico doidinha e já quero voltar. Passo o dia lendo a palavra do Senhor perto da árvore e tudo aqui é uma paz. Muitas pessoas recebem ameaça aqui e eu ouço muito isso, só os vejo passando. Escuto os meus vizinhos dizendo que são os homens”, conta.

Segundo o pesquisador Gaston Bachelard, no livro ‘A Poética do Espaço’ a casa é nosso canto no mundo. “É um sucedâneo do útero, primeira morada, cuja memória talvez persista em nós, onde estávamos tão seguros e nos sentíamos tão a gosto (...)”. Para o estudioso, a moradia vai além do geométrico, é um espaço afetivo sempre envolto de emoções.

 

A advogada Mariana Vidal, representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e uma das profissionais à frente do caso, detalha que a área do Engenho Suassuna estava destinada a ser desapropriada para fins de reforma agrária, juntamente com mais três engenhos e o caso era acompanhado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e pelo Ministério Público Federal. “Após alguns anos, o Incra considerou que o imóvel como um todo tinha sofrido um processo de urbanização, ocupação e já tinha perdido o caráter de imóvel rural, embora algumas áreas ainda conservem essas características, como é o caso de parte dessa comunidade que estamos tratando’, explica Vidal.

 

Ela pontua que em meados de 2015 a CPT começou a acompanhar o caso porque os moradores da região passaram a receber visitas de homens armados, intimidando os moradores e sitiantes para que saíssem das terras. Casas e plantações foram destruídas por esses supostos proprietários. “A gente começou a atuar perante o MPF porque existia um processo que tratava sobre a área, já que antes a terra iria ser desapropriada e assim já se tinha um inquérito civil público a respeito dessa comunidade. Mas, como o Incra não iria mais desapropriar as terras, o MPF deixa de atuar porque o caso perde a atribuição federal e segue para o MPPE, a nível estadual”, resume a advogada.

Assim como parte da terra do Engenho Suassuna foi dividida em glebas para a partilha das terras entre os supostos novos proprietários, para fins didáticos, a reportagem também vai utilizar os termos do processo judicial. As duas áreas em questão são a Gleba 5 e a Gleba 1. (Não há informações sobre o tamanho exato dessas duas áreas, mas estima-se em mais de 60 hectares de terra). A primeira ainda tem caráter de zona rural, com características pouco alteradas ao longo dos anos, sendo composta por vários hectares de terras com sítios e agricultores que usam da terra para subsidiar a alimentação familiar e para comercializar essas os alimentos colhidos. Nessas terras moram cerca de cinquenta famílias há mais de cinquenta anos, em sua maioria, são ex-empregados da Usina Jaboatão e seus familiares.

 

Já a Gleba 1 sofreu muitas alterações físicas ao longo dos anos após o fechamento da usina. O local ganhou um aspecto de urbanização e tem até vias pavimentadas. Em sua maioria, as mais de 150 famílias que estão nessas terras mais populosas e menos rurais ocuparam as terras em meados de 1995 para reivindicar a reforma agrária na região, já improdutiva. Essas famílias também começaram a plantar roçados e apesar de características mais urbanas, também possuem plantações e curral com animais para as devidas necessidades de sobrevivência.

 

Mariana explica que na divisão das terras, a Gleba 5 foi destinada para o ex-funcionário José Batista de Arruda Filho e a Gleba 1 foi adjudicada para José Gonzaga David. Os dois venderam os dois terrenos para a empresa Destak Serviços e Empreendimentos Ltda. – EPP, pertencente aos sócios Auvandir Oliveira Pereira e Marília Gabriella Pedrosa de Sousa, em 2016. Na documentação consta que o imóvel foi adquirido para a posterior implantação de um empreendimento para moradia. Seria construído, exatamente na área da Gleba 5, o ‘Loteamento Village Jaboatão’.

“Os proprietários adquiriram as terras, mas a comunidade da Gleba 5 está lá há muitas décadas. Apesar de o local ter sido decretado pela Prefeitura como área de expansão urbana, o imóvel é ocupado e possui as características rurais. Essas família denunciam que a própria Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes e os novos donos da terra agem em conjunto para que eles saiam do local que vivem há décadas, sem ao menos um acordo coerente”, aponta Mariana Vidal.

 

O casal de aposentados Maria Severina, 71, e José da Hora Santiago, 77, construíram uma família no quintal do Engenho Suassuna, na Rua Tanque de Mel, que fica na Gleba 5. Eles se conhecem desde a juventude e após Zé da Hora ser efetivado para prestar serviços na Usina Jaboatão, passaram a morar na região. No início dos anos 2000 as indagações de quem era o verdadeiro dono da terra começaram. Visitas surpresas, ameaças nem um pouco veladas, arma de fogo para intimidar e a constante presença de homens alegando que se os sitiantes não saíssem teriam a única residência derrubada, mesmo estando ali por décadas e terem direito a exercer a posse do imóvel.

 

Essas ameaças e a derrubada de mais de dez casas se fortaleceram em 2015, pouco antes da terra ser passada para a Destak. Maria Severina tem medo de acontecer uma tragédia a qualquer momento, mas é firme e sabe dos anos que levaram para ter uma casa própria de alvenaria. Ao lado de seu marido, morou por muito tempo nos barracões do Engenho Suassuna, sem ao menos energia elétrica. Ela percorre os cômodos da casa e a relação afetiva com o local é vibrante. É o seu único espaço e da sua família. E nem lá conseguem ter paz.

“Somos posseiros e não invasores. A minha família já trabalhava aqui há muito tempo quando eu vim morar. O antigo usineiro, o doutor Guilherme era muito bom com a gente, mas os filhos dele não prestam. Não aguento mais ver todos os meus familiares sofrendo todos esses anos, eles nos ameaçam com maquinário. Nenhuma autoridade faz nada, a gente já registrou tanto boletim de ocorrência. É cada um que venha e diga que é o dono da terra, todo dia é uma fofoca”, lamenta a idosa, aos prantos com medo de colocar o pé para fora de casa e assisti-la sendo demolida.

O seu esposo, José da Hora, começou a trabalhar na Usina Jaboatão em 1957 porque a mãe arrumou o serviço com um conhecido. Foram anos ao lado da foice cortando cana para o engenho moer. “Também trabalhei como tratorista conservando a estrada da usina por todos os engenhos e carregando material para os pedreiros. O dinheiro era muito pouco e eu sempre fazia oias carregando vagão de açúcar para entregar a rede ferroviária”, relembra.

 

 

Só em até fevereiro de 1964 foi efetivado e teve a primeira carteira de trabalho assinada. “Eles viram que eu tinha disposição para trabalhar e me chamaram para formalizar meu documento. Lembro que pagava até o sindicato do açúcar”, conta Zé da Hora. Mas, em 1996, quando a empresa fechou as portas, ele foi mais um que não recebeu nenhum direito trabalhista. “Apareceu gente de todo canto para ganhar terras, mas os trabalhadores antigos não ganharam foi nada. E ainda querem tomar a minha casa. Tomaram já parte do meu sítio”.

José da Hora e Maria Severina passaram por muitos momento difíceis e choram ao lembrar das dificuldades para construir a primeira casa. “Passei muita fome. Largava de meia-noite da usina e não ia dormir. Pegava a foice e ia lá pra cima cortar mais cana porque tinha muito débito no barracão, que era onde eu morava na época. Quase não dormia. Minha esposa ia levar um rango para mim e me ajudava no serviço. Depois saia de lá às 10h da manhã e ia para a usina”, diz.

Uma vida inteira dedicada a um empreendimento que apesar da situação atual, ainda lhe traz boas lembranças do tempo do engenho e dos antigos patrões. A dedicação de Zé da Hora e Maria Severina agora corre risco de sumir. “Hoje eu não durmo pensando nisso e preciso tomar remédio controlado para conseguir me deitar. Fico pensando em ser jogado na rua sem ter onde morar até porque minha aposentadoria é pouca. O espaço que me restou planto inhame, abacate, um pé de planta e uma fruta. A enxada para mim serve como terapia também para entreter a minha mente”, avalia Zé. Apesar da lamentação, ele e a família ainda acreditam na vitória, que significa continuar na sua casa. “Daqui eu não saio”, conclui.

 

 

As pressões desses proprietários consistiam em derrubada de casas, ameaças e coação para que as famílias não mais plantassem na área que era tradicionalmente voltada para o uso coletivo da comunidade. Eles alegam uma série de violações dos Direitos Humanos e irregularidades cometidas contra os moradores mais antigos, principalmente. De acordo com uma série de boletins de ocorrências registrados na Polícia Civil, dentre as pessoas que passaram a intimidar e a violentar as famílias são citadas o sargento da Polícia Militar Ronaldo Severiano de Melo, José Gonzaga David, Amaury César Rezende Filho, Clenivaldo dos Santos Ribeiro e o comissário da Polícia Civil Eduardo Ferrer de Santana.

 

Os moradores afirmam que esses homens citados falavam que embora a casa fosse deles, a terra não era e iriam sair de qualquer jeito. Com medo após amigos perderem suas casas, essas famílias da Gleba 5, principal terreno em questão pelas características menos modificadas e onde teoricamente seria construído o loteamento, se uniram aos moradores da Gleba 1 e fundaram a Associação dos Moradores Sitiantes Agricultores da Fazenda Suassuna.

De acordo com a CPT, o único processo a respeito das terras do Engenho Suassuna que está na Justiça é movido pelos supostos novos proprietários justamente contra o presidente da associação, o réu Fábio Ferreira da Silva, morador da Gleba 1. Ele chegou para ocupar a área em 2007 e em 2015 ajudou na fundação da associação por ser uma das vozes de liderança na área. “Fui ameaçado de morte e tentaram tirar a minha vida de todo jeito porque eu lutava pelo direito desses ex-empregados. Eles têm o direito a essa terra e não estamos pedindo favor a ninguém”, comenta.

 

Ele denuncia que até policiais não param de pressionar a comunidade cometendo atos contra a legislação, com abuso de poder. Após uma série de ataques que sofreu, Fábio foi inserido no Programa Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PEPDDH), ligado à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco. “Já foram 19 casas derrubadas e até tentamos prestar queixas da polícia. Algumas conseguimos, mas outras só eram possíveis na presença de advogados porque eles tinham conhecimento das autoridades e simplesmente não registravam a ocorrência”, diz Fábio, que atualmente não pode mais entrar na Gleba 5 por causa do processo movido pela Destak.

 

O grupo imobiliário ajuizou uma ação de ‘interdito proibitório’ contra Fábio, alegando que ele liderava um grupo de pessoas residentes na Gleba 1 (sem determinar quem seriam tais pessoas) que se deslocavam até a Gleba 5 com o intuito de obstaculizar as obras de infraestrutura para implantação de um loteamento que a empresa estaria realizando no local.

O que a Destak diz para a Justiça é que as pessoas da Gleba 1 entram na Gleba 5 para construir casas e atrapalham o processo de construção do loteamento. Mas não existe obra nenhuma na região. Os moradores só observam os tratores quando chegam para demolir as casas. Não há movimentação por lá e já até filmamos isso para mostrar ao juiz”, explica a advogada Mariana. Ela diz ainda que a Destak nega, de qualquer forma, que existem moradores há décadas na Gleba 5, sendo esses pessoas vindas para atrapalhar a evolução do empreendimento.

Apesar da atuação da CPT em provar a existência de mais de 50 famílias de ex-empregados da usina, a Destak ganhou na Justiça uma liminar para manter Fábio e 'qualquer pessoa' do grupo dele longe da Gleba 5. “Sendo que isso foi muito arbitrário, já que não se especificou quem seriam essas pessoas”, avalia Mariana.

Em trecho retirado do Relatório de Monitoramento Presencial do PEPDDH, o órgão da gestão estadual afirma que já acompanha o caso.

"O Governo do Estado de Pernambuco acompanha o conflito fundiário do Engenho Suassuna por meio do Programa Estadual de Proteção a Defensores de Direitos Humanos (PEPDDH/PE), da Secretaria Executiva de Direitos Humanos de Pernambuco, desde 2016, em decorrência de violações do direito à moradia, à terra, ao trabalho e à alimentação, além da ocorrência de dano, ameaças e intimidações às cerca de 160 famílias residentes na área, e especificamente direcionadas também ao Sr. Fábio Ferreira da Silva, liderança comunitária local.

Instituído pela Lei Estadual no 14.912, de 27 de Dezembro de 2012, e nos moldes do Decreto regulamentar no 6.044, de 12 de Fevereiro de 2007, o PEPDDH/PE visa a proteger pessoas, grupos e entidades que tenham seus direitos ameaçados em decorrência de sua atuação na promoção ou na proteção dos direitos humanos no Estado. O caso em tela, especificamente, versa sobre a contraposição, de um lado, do direito à terra e à moradia de dezenas de famílias, garantidos constitucionalmente e por tratados e convenções internacionais dos quais o Brasil é signatário, e, de outro, interesses particulares, que, segundo relatos dos moradores, diversos Boletins de Ocorrência e Inquéritos Policiais instaurados, impõem-se por meio de ameaças, intimidações e derrubadas de casas sem ordem judicial. A área, na década de 1990, foi decretada apta à desapropriação para fins de reforma agrária, sendo posteriormente considerada área de expansão urbana. A despeito disso, diversas famílias ainda vivem da agricultura familiar na localidade, sendo que algumas delas foram forçadas a paralisar as atividades de plantio devido às ameaças referidas".

 

 

No dia 16 de agosto de 2018 por volta das 10h da manhã, o aposentado Antônio Manoel do Nascimento, 64, teve parte da vida destruída em alguns segundos. De acordo com os autos do processo, uma equipe de representantes da sociedade empresária, dentre eles Auvandir Oliveira Pereira, o advogado Francisco Assis de Lima, e Eduardo Ferrer de Santana, estiveram no sítio onde Antônio morava há mais de 23 (vinte e três) anos. Com um trator, empregados da Destak demoliram a casa de Antônio Manoel, com todos os móveis e eletrodomésticos dentro. No dia, as pessoas da família passaram muito mal e precisaram ser socorridas pelo SAMU, que compareceu ao local.

 

“Os prepostos da parte Autora procederam à destruição da casa sob pretexto de estarem cumprindo a ordem de interdito proibitório. Note-se, contudo, que um mandado de interdito proibitório não confere poderes para demolição de casas e destruição de plantações. É um mandado com finalidade meramente preventiva, e, no caso específico, destinava-se ao Réu (Fábio Ferreira) e outros que supostamente “estivessem sendo liderados por ele”) não impedisse a continuidade das “obras que estão sendo realizadas” pela Autora”, diz trecho do processo que corre na Justiça.

Antônio Manoel é ex-empregado da antiga Usina Jaboatão e também permaneceu nas terras após a falência. Ele estava há 23 anos exercendo posse sobre a terra onde residia e trabalhava, tempo suficiente para configuração da usucapião.

Na legislação brasileira, a propriedade é quando o imóvel tem registro em cartório e o indivíduo é dono de uma coisa, mediante comprovação. "O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha", trecho do art. 1.228 do Código Civil.

Já a posse significa ter, reter, ocupar, estar, desfrutar de alguma coisa e não necessariamente ter um registro ou documento comprobatório. De acordo com o art. 1.228 do Código Civil: "o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha".

“Quando as pessoas vão se defender, lutar pela casa, eles alegam que estão atrapalhando o seguimento das obras, que nem existem. Notificam como invasão e alegam que a pessoa não morava lá. Eles não podem cumprir essas decisões de derrubar as casas das pessoas que nem estão no processo. Já que o único nome posto no documento é o de Fábio, citado como um líder dos moradores. Eles simulam essa situação, invisibilizam essa comunidade que está ali há décadas para parecer que são invasores”, resume Mariana Vidal sobre a problemática nas Glebas 1 e 5.

A pesquisa 'A produção capitalista da habitação: o caso do mercado imobiliário do município de Jaboatão dos Guararapes (PE) baseado nas novas reconfigurações produtivas da RMR, realizada por Mariana Freire, do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU/UFPE), avalia os espaços urbanos e as transformações em mercadorias, na esfera da comercialização. 

"Já é possível observar o início deste processo no município de Jaboatão dos Guararapes, onde o grande investimento do capital tem sido a comercialização de habitações (não de interesse social, mas voltada para a reprodução capitalista), em virtude, principalmente, do crescimento do Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS) e a proximidade do município com relação a este empreendimento, levando aqueles que possuem poder aquisitivo a instalar-se em áreas próximas ao complexo", revela estudo. 

Moradores da região, inclusive, alegam que carros com a marca de 'Suape' foram vistos trafegando pelo engenhos junto aos policiais, nos dias em que casas foram derrubadas. "A gente não sabe exatamente o que esses veículos estavam fazendo lá, se estão planejando algo grande por lá e se há interesse econômico", complementa Mariana. 

Ainda de acordo com a pesquisa, a estudiosa detalha que esse é o modus operandi mais comum. "É dessa forma que vem acontecendo o fenômeno do aquecimento imobiliário em Jaboatão dos Guararapes, onde o espaço torna-se mercadoria à medida que ocorre o movimento da transformação do uso em troca e os agentes imobiliários transformam o espaço em mercadoria ao comprar e vender terrenos, dando início também a um processo de especulação imobiliária", trecho retirado do estudo.

 

Vídeo filmado pelos próprios moradores:

 

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A agricultora Márcia Maria de Lima, 47, uma das filhas de Josefa, também teve uma casa destruída quando morava na Gleba 5, nas proximidades da residência de sua mãe, que é enferma. Ela também é uma voz forte na região e tentou organizar os moradores por anos, seja com movimentos pelo direito à terra ou em pequenas reuniões. Mas, o tempo deixou Márcia descrente na resolução do problema. Ela assistiu sua casa ser destruída por policiais e precisou sair do território rural por medo de perder a vida.

 

Ela hoje mora em uma ocupação urbana dentro do terreno da Fazenda Suassuna, mas fora do perímetro da Gleba mais valiosa aos olhos dos empreendedores imobiliários. “Hoje eu sou sem teto porque eu não posso ficar perto da minha mãe por causa dessas ameaças desses latifundiários e grileiros. Eu tinha essa casa de taipa na beira do rio, já tinha metade de alvenaria. Aí o sargento Ronaldo e Amaury vieram e derrubaram tudo. Entrei em luta corporal com eles, prestei queixa na polícia. Mas, espero uma providência até hoje”, lamenta. O grileiro é a pessoa que se apodera ou procura se apossar de terras alheias, mediante falsas escrituras de propriedade.

Márcia alega que não há acordo com os donos da terra. “Não querem indenizar os moradores e o diálogo é na base da ameaça de despejo”, diz. Como agricultora ela foi muito afetada porque distante da área rural não há onde plantar. Agora precisa da renda do Bolsa Família para sustentar a família e não passar fome. “Fico muito preocupada com a minha mãe lá em cima. Tenho medo de ter um despejo e eles derrubarem a casa dela, sabe? Ela é muito atacada dos nervos”.

Mariana destaca ainda que um dos pontos que a defesa ainda está apurando, afinal a investigação do caso não chegou ao fim, é como esses dois trabalhadores, o Gonzaga e Batista, tão citados pela comunidade teriam ganho todos esses hectares de terra apenas por uma causa trabalhista. “O que os moradores nos contam é que eles trabalharam por poucos anos como seguranças e conseguiram um pedaço de terra de em média 60 hectares. Isso causa muito estranhamento e é provável que possam ser laranjas. Ganharam as terras e depois repassaram. Mas são poucas respostas sobre quem ganhou terra e quem não ganhou. Não descartamos fraudes, mas essas perguntas seguem sem respostas”.

O termos "laranja" designa a pessoa que intermedia transações financeiras fraudulentas, emprestando seu nome, documentos ou conta bancária para ocultar a identidade de quem a contrata.

 

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Os moradores da Gleba 5 contam que só ouvem ameaças de despejo e quando são questionados com acordo para deixarem as suas casas, esses não correspondem com a realidade dos sitiantes que vivem da terra. Mas, a advogada da CPT também esclarece que judicialmente a Destak diz que não há ninguém morando nas terras e caso seja encontrado alguém por lá, seria um invasor trazido por Fábio da Gleba 1. “São duas conversas, uma oficial e outra não. Quando esses empresários procuram os moradores, eles dizem que vão doar um pedaço de terra de 250m² na Gleba 1, mas tem morador com sítio medindo 2 hectares de terra, não é justo”, informa Mariana.

 

A Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes pouco tem atuado no sentido de mediar a situação e chegar a um comum acordo entre as partes. “A gestão se coloca ao lado da imobiliária porque eles têm interesse na construção desse loteamento e até nos negaram documentação”, complementa. Para o Direito, esses moradores estão exercendo posse e isso é protegido pela lei. Todos esse anos já poderia configurar o usucapião.

“Não é só a propriedade que importa. A prefeitura começou a pressionar o pessoal da Gleba 5 para aceitar o acordo feito por Auvandir e diziam que se eles não aceitassem, não teriam chance”, denuncia Mariana.

 

Atualmente, em março de 2019, o processo movido pela Destak está parado, sendo a última movimentação as de alegações finais, esperando apenas um pronunciamento do juiz. Ele pode dar uma sentença ou atender o pedido dos advogados da CPT, que é promover a citação dos outros moradores da Gleba 5, pelo menos um representante de cada família, já que só Fábio é réu e esses sitiantes estão invisíveis e seguem não sendo ouvidos.

O Ministério Público de Pernambuco já foi acionado inúmeras vezes pelos moradores, mas o órgão, na visão dos posseiros, não dá importância ao caso e tende a facilitar para os novos proprietários. Mariana aponta que a CPT não sabe o nível de informação que o órgão tem do assunto, mas o contato é constante para narrar as ilegalidades.

Procurado para se posicionar e esclarecer como tem avaliado as questões do Engenho Suassuna, o MPPE informou que a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo de Jaboatão dos Guararapes está acompanhando a situação dos moradores da Fazenda Suassuna.

“Na última semana, o MPPE se reuniu com representantes da Prefeitura de Jaboatão, que se comprometeram a apresentar relatório das tratativas adotadas pelo poder público a fim de mediar a relação entre os posseiros e as pessoas que compraram parte do terreno. No momento, o MPPE aguarda o envio do documento por parte da Prefeitura para designar nova reunião com todos os envolvidos”, diz a nota.

A reportagem também procurou a Polícia Civil para pedir explicações sobre o comissário Eduardo Ferrer e suas condutas com os moradores do engenho. Uma série de boletins de ocorrência foram registrados contra o agente. Também por meio de nota, a PCPE esclarece que em momento algum, houve negativa de registro de boletim de ocorrência, mesmo os moradores alegando isso.

“A Polícia Civil de Pernambuco, por meio da 6ª Delegacia Seccional de Jaboatão dos Guararapes, esclarece que, em momento algum, houve negativa de registro de Boletim de Ocorrência. Tanto é que a própria demanda da imprensa informa que quatro boletins foram registrados na Delegacia de Jaboatão Centro. Com base nesses registros, o policial civil também citado na demanda foi indiciado por abuso de autoridade. Cópia deste procedimento policial foi encaminhada para a Corregedoria da SDS para as medidas administrativas cabíveis. As matérias que tratam da posse de terra, do usucapião e de sua eventual reintegração já estão sendo tratadas na esfera cível, não sendo competência da polícia judiciária solucionar estes conflitos”.

De acordo com a assessoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), foi aberto um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) para investigar a atuação do policial no caso relatado. “O processo tramita sob sigilo, como é de praxe em procedimentos correicionais, sendo garantido o direito à ampla defesa e ao contraditório. A conclusão do PAD será publicada no Boletim Geral da SDS”.

Por telefone, a assessoria de comunicação da Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes disse que não iria comentar o caso porque o terreno é privado e a demanda compete apenas aos posseiros e donos. A reportagem também procurou a empresa Destak, mas o advogado comunicou que os donos do imóvel só falariam em juízo (em depoimento à Justiça).

 

 

 

De acordo com os registros históricos da biblioteca do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Usina Jaboatão foi fundada pelos irmãos Diogo Soares e Fernão Soares, no ano de 1573. O nome do engenho foi dado por causa do Riacho Suassuna, que cortava a região.

 

O antigo Engenho Suassuna encontra-se hoje em ruínas e sua casa-grande, datada de 1790, foi saqueada. É a mais antiga casa de engenho do município que ainda está de pé. Atualmente, famílias de ex-empregados da usina ocupam o local.

Em 1929, pertencia ao coronel Antônio Martins de Albuquerque. Tinha capacidade para processar 400 toneladas de cana e fabricar 4.000 litros de álcool em 22 horas.

O engenho possuía 13 propriedades agrícolas e pequenos sítios, uma via férrea de 40 quilômetros com diversas locomotivas e vagões. Foi posteriormente vendida a Antônio Martins de Albuquerque e atualmente pertence aos seus herdeiros.

Investigação do Ministério Público (MP) do Rio revela que, nos últimos dez anos, o vereador Marcello Siciliano (PHS) participou de pelo menos 80 transações imobiliárias envolvendo a cessão de terras em Vargem Grande, Vargem Pequena e Guaratiba, zona oeste carioca, áreas sob domínio da milícia. Siciliano é investigado como envolvido na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Segundo documento sigiloso do MP obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, uma das teses levantadas, ainda sem conclusão, é a de que Marielle foi morta por ter atingido algum negócio de supostos sócios milicianos do vereador. Ele nega a acusação, que chegou anonimamente pelo Disque-Denúncia. Outro inquérito, também sigiloso, apura os homicídios.

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Em dezembro, ao Estadão, o então secretário de Segurança do Rio, general Richard Nunes, disse que o caso Marielle está ligado a milícias envolvidos em grilagem na zona oeste. No dia seguinte, foram cumpridos mandados de apreensão em endereços ligados ao vereador.

O documento do MP reúne informações sobre Siciliano na tentativa de demonstrar seu elo com milicianos da zona oeste. Revela uma negociação entre Siciliano e um empresário de exploração de saibro, cujo irmão foi preso acusado de ser miliciano. O vereador admite que já trabalhou com saibro e confirma a sociedade nos negócios, mas nega envolvimento com milícias e afirma trabalhar de forma legal.

Investigação feita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), anexada ao inquérito, revela ainda que, em apenas de julho a dezembro de 2016, houve movimentação atípica na conta bancária do vereador. O valor - R$ 2.141.704 - foi considerado incompatível com seus rendimentos. Também foram identificados saques em espécie de valores altos, um deles feito pelo próprio Siciliano, de R$ 100 mil.

Siciliano, diz o MP, figura como sócio em cinco empresas, três de incorporações imobiliárias. O MP destaca o fato de que duas delas têm sede em endereço residencial. Outra não tem registro de funcionários, aponta o órgão. "As evidências permitem possível conclusão sobre existência de empresas de fachada", diz o MP.

Siciliano afirmou que suas negociações de terra são feitas em cartório e que sua mãe é sua única sócia, em duas empresas, pelas quais gerencia negócios imobiliários. Disse que outras duas empresas citadas já fecharam e que a quinta nem estaria no seu nome. "Tudo meu tem escritura, está declarado no Imposto de Renda." Ele também afirmou que era amigo de Marielle na Câmara. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

As suspeitas de grilagem de terra envolvendo o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, causaram apreensão no Palácio do Planalto. Embora o discurso oficial seja o de que Padilha prestou todas as informações sobre o caso da disputa de uma propriedade, no litoral do Rio Grande do Sul, nos bastidores o comentário é o de que a acusação é grave e põe o ministro na defensiva, num momento de fragilidade do governo.

No Planalto, auxiliares do presidente Michel Temer afirmam, em conversas reservadas, que Padilha também pode ser alvo das delações de executivos e ex-executivos da empreiteira Odebrecht à força-tarefa da Operação Lava Jato. O ministro é o braço direito de Temer e um dos responsáveis por articular a votação de assuntos de interesse do Planalto no Congresso, como a reforma da Previdência.

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O Estado revelou que Padilha alega ter direito, "por usucapião", a uma área de 1.929 hectares, no litoral gaúcho. A disputa do chefe da Casa Civil com integrantes da família Perdomini, que alegam ter comprado o terreno - equivalente a 12 parques do Ibirapuera, em nome da Edusa Edificações Urbanas - virou caso de polícia.

Ontem o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), minimizou as denúncias envolvendo o ministro da Casa Civil. "Padilha continua gozando da confiança do presidente Temer e de todos os partidos da base aliada", disse Moura.

'Gravíssimo'

A oposição aproveitou o caso Padilha - após a queda do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima - para voltar a carga a carga contra outro ministro com assento no Planalto.

O líder da oposição no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), criticou Padilha, acusado de grilagem no Rio Grande do Sul. "São muitas denúncias contra ele. Esse caso é gravíssimo. Um ministro da Casa Civil envolvido com grilagem? Onde chegamos?", questionou o senador petista.

Lindbergh destacou a acusação revelada pelo Estado de que Padilha, então deputado federal, teria pedido a interferência do ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para suspender projetos no local por meio da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Para o líder da oposição, Padilha pediu ajuda de um ministro para resolver uma questão que envolvia os seus interesses comerciais.

Segundo um dos vice-líderes do PT da Câmara, Henrique Fontana (RS), Padilha deverá ser o próximo a deixar o governo Temer por denúncias de irregularidades. "Há indícios bastante contundentes de que Padilha mistura negócios privados com a sua função pública".

O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), minimizou as denúncias envolvendo o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Homem de confiança do presidente Michel Temer, ele é acusado de grilagem no Rio Grande do Sul. "Padilha continua gozando da confiança do presidente Temer e de todos os partidos da base aliada", disse Moura.

Pelo Twitter, o líder do PSOL na Câmara, deputado Ivan Valente (SP), destacou a crise pela qual passa o governo Temer, que, em seis meses, já perdeu seis ministros, a maioria deles após denúncias envolvendo a Operação Lava Jato e outros escândalos de corrupção. Para ele, Padilha é "mais um ministro na corda bamba".

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Grilagem

Como o jornal O Estado de S. Paulo revelou, Padilha disputa uma área de 1.929 hectares, o equivalente a 12 parques do Ibirapuera, em São Paulo, com a empresa Edusa Edificações Urbanas, do empresário João Perdomini. Acusado de ocupar irregularmente a área em Palmares do Sul (RS), o ministro alega ter direito à propriedade por usucapião.

No dia 30 de agosto deste ano, Perdomini, de 76 anos, registrou na sede da Polícia Civil em Palmares do Sul boletim de ocorrência por "lesão corporal leve e ameaça" e informou ter sido agredido por "indivíduos que trabalham para Eliseu Lemos Padilha". Nesta sexta-feira, 9, o Estado também mostrou que Padilha, quando era deputado federal, pediu a interferência do então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para suspender projetos no local por meio da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O caso seria semelhante ao do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que é acusado de tráfico de influência por ter pressionado o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero a interceder junto ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para assegurar interesses pessoais.

O líder da oposição no Senado, Lindbergh Farias (PT-RJ), criticou o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), acusado de grilagem no Rio Grande do Sul. "São muitas denúncias contra ele. Esse caso é gravíssimo. Um ministro da Casa Civil envolvido com grilagem? Onde chegamos?", questionou o parlamentar.

Lindbergh destacou a acusação revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo de que Padilha, então deputado federal, teria pedido a interferência do ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão para suspender projetos no local por meio da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Para o líder da oposição, Padilha pediu ajuda de um ministro para resolver uma questão que envolvia os seus interesses comerciais.

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O caso se assemelharia ao do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que é acusado de tráfico de influência por ter pressionado o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero a interceder junto ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para assegurar interesses pessoais. "Esse governo já teve seis ministros afastados por denúncia de corrupção e pelo jeito Eliseu Padilha deve ser o sétimo", disse Lindbergh.

Na quinta-feira, 8, o presidente Michel Temer recuou da nomeação do deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA) para a substituição de Geddel. Lindbergh avaliou que a situação deixa o governo "muito fragilizado". "O entorno do Temer vai ser todo abatido. Não sobrará um. Temer hoje é refém do PSDB. O PSDB quer tudo. Até o lugar do (ministro da Fazenda) Henrique Meirelles", criticou Lindbergh.

Como o Estadão revelou, Padilha disputa uma área de 1.929 hectares, o equivalente 12 parques do Ibirapuera, com a empresa Edusa Edificações Urbanas, do empresário João Perdomini. Acusado de ocupar irregularmente a área em Palmares do Sul (RS), o ministro alega ter direito à propriedade por usucapião.

No dia 30 de agosto deste ano, Perdomini, de 76 anos, registrou na sede da Polícia Civil em Palmares do Sul boletim de ocorrência por "lesão corporal leve e ameaça" e informou ter sido agredido por "indivíduos que trabalham para Eliseu Lemos Padilha".

Braço direito do presidente Michel Temer, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, é processado em ação que contesta a posse de uma propriedade que ele reivindica em Palmares do Sul, no litoral do Rio Grande do Sul. Padilha disputa uma área de 1.929 hectares, o equivalente 12 parques do Ibirapuera, com a empresa Edusa Edificações Urbanas, do empresário João Perdomini. O terreno fica numa região de dunas, de frente para o mar, cobiçada por empresas do setor elétrico por ser ideal para construção de um parque eólico.

Dois empreendimentos que tentaram se estabelecer na área foram frustrados. Em outubro 2007, a Girassol Florestamento e Imobiliária, controlada por Padilha, firmou uma parceria com a empresa Elebras Projetos Ltda para construir e operar o que seria chamado de Parque Eólico de Tramandaí.

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Em 2011, as empresas Ventos do Cabo Verde I e Ventos do Cabo Verde II venceram um leilão realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para instalar três parques eólicos na terra, com investimentos avaliados, à época, R$ 341,7 milhões. As geradoras tinham firmado um acordo com a Edusa Edificações Urbanas, propriedade da família Perdomini, que trava a disputa judicial com Padilha pelo terreno no litoral do Rio Grande do Sul.

O litígio

Acusado de ocupar irregularmente a área em Palmares do Sul (RS), o ministro alega ter direito à propriedade por usucapião, instituto legal que ocorre quando a aquisição de uma propriedade se dá pela posse prolongada da terra, e não pela sua compra. A família Perdomini acusa o ministro de ocupar irregularmente as terras.

Segundo Giovani Perdomini, filho de João Perdomini, sua família comprou as terras no início dos anos 1970 e possui uma matrícula registrada em cartório que atesta a posse e permanência na área, documento que é contestado por Padilha.

Na Justiça, o empresário Giovani Perdomini acusa Padilha de ser grileiro. O processo tramita na 9.ª Vara Federal de Porto Alegre desde 2007. A disputa é acompanhada pelo Ministério Público Federal, que verificou que a área em litígio pode envolver terras da Marinha, ou seja, bens que pertencem à União e que, consequentemente, não poderiam ser tomados por usucapião, como requer o ministro. Por lei, é considerada faixa de domínio da Marinha toda área de 190 metros de largura, ao longo do litoral, contada a partir da praia.

"Nossa família comprou e defende a área desde 1973. Já foram dezenas de processos contra a nossa propriedade, de vários autores e todos foram perdidos", diz Giovani Perdomini. "Temos a concordância de todos os lindeiros (pessoas que vivem na fronteira com a área) em planta registrada no registro de imóveis. Então não há dúvida que somos os donos da terra", afirma.

Em 2012, quando era deputado do PMDB pelo Rio Grande do Sul e já disputava a área, Padilha apresentou projeto de lei na Câmara que estabelecia novos critérios para demarcação de terrenos de Marinha e autorizava a transferência da administração dessas áreas a seus municípios. O projeto foi arquivado em janeiro de 2015. A legislação não impede congressistas de apresentarem projetos que podem beneficiá-los.

A Justiça Federal determinou a realização de "prova testemunhal e perícia topográfica e planimétrica" da área que a Edusa e o ministro Eliseu Padilha alegam serem donos. O caso segue em análise.

Os empreendimentos

Apesar de o projeto da Girasol Florestamento e Imobiliária para erguer um parque eólico na terra em disputa ter malogrado, o ministro não descartou completamente ter novos projetos. Questionado pelo Estado se tinha interesse comercial na área, Padilha declarou que "por enquanto, não".

Para concorrer com o projeto eólico, as empresas Ventos do Cabo Verde I e II apresentaram as matrículas de imóvel cedidas pela Edusa, da família Perdomini. Os documentos foram analisados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), autarquia vinculada ao Ministério de Minas e Energia, que habilitou a participação dos projetos no leilão. Padilha, que à época era deputado federal, pediu a interferência do então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, seu colega de partido no PMDB. O objetivo era questionar a legalidade do resultado do leilão.

Lobão acionou, por meio de ofício, a EPE. O órgão, no entanto, voltou a garantir a legalidade dos empreendimentos, reafirmando que "houve observância das normas legais e regulamentares que regem o leilão", além de ser a decisão estar calçada em "documentação emitida por cartório de registro de imóveis, devidamente válida e vigente".

Ainda assim, no dia 11 de julho de 2012, Lobão ignorou o parecer da EPE e publicou um despacho no qual suspendia os projetos baseado exatamente no pleito de Padilha: "Em razão de denúncias a respeito da titularidade das áreas nas quais seriam construídos os empreendimentos", afirmou à época.

A partir daí, os projetos sofreram sucessivos adiamentos, até acumularem 540 dias de atraso e restarem completamente inviabilizados, conforme reconhecido pela Aneel.

Em maio deste ano, quando Padilha passou a ser ministro da Casa Civil, as donas dos projetos finalmente jogaram a toalha e "comunicaram a desistência dos pedidos de postergação dos cronogramas de implantação".

A Aneel avalia agora se essas empresas serão alvo de alguma punição financeira, por não terem entregado a energia que se comprometeram em gerar para o consumidor.

Defesa

Procurado pela reportagem, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou, por meio de sua assessoria, que "como advogado, promoveu muitas ações de usucapião" em Palmares do Sul (RS) e que "agora alega usucapião da área em disputa antes mencionada".

A respeito de ter apresentado um projeto de lei que tratava justamente de mudanças em terras da Marinha, a assessoria de Padilha afirmou que as alterações propostas "não teriam nenhum efeito na ação, onde o ministro Padilha é réu". "A área onde se situa o terreno em disputa não tem a demarcação da faixa de Marinha", informou.

O ministro também disse que "nunca ouviu falar nas empresas Ventos do Cabo Verde I e II. Por óbvio nunca falou com nenhum ministro sobre elas ou sobre leilões do interesse delas".

O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende o ex-ministro Edison Lobão, negou que ele tenha agido para atender aos interesses de Padilha. "A decisão foi tomada com base em análise técnica e jurídica como qualquer outro processo analisado no Ministério de Minas e Energia". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O Conselho Nacional de Justiça deve colocar em pauta na sessão desta terça-feira (8) um caso de suposta grilagem de terra na Bahia que se arrasta há mais de 30 anos na Justiça. Trata-se da disputa por uma propriedade rural em Formosa do Rio Preto, no oeste do Estado, com cerca de 340 mil hectares. De um lado da disputa, está a família de José Valter Dias, que alega ser o proprietário verdadeiro da área. Do outro, a família de Vicente Okamoto, que detém a maior parte da propriedade reivindicada.

A família Dias alega ser a proprietária da terra e vítima de documentos fraudados. Por sua vez, os Okamoto se baseiam em um inventário de uma pessoa falecida no século XIX, apontado como fraudulento, para provar que são os verdadeiros donos da área. Depois de anos de disputa, o caso foi parar no CNJ.

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O corregedor Nacional de Justiça, João Otávio de Noronha, alegando como fator de urgência o atual período de plantio da safra, insistiu no plenário do CNJ para que o caso fosse julgado, mas a discussão foi adiada e passou para a sessão desta terça-feira, 8. No final de setembro, Noronha concedeu uma liminar, que precisa ser ratificada pelo plenário, para manter na terra os atuais ocupantes - acusados pela outra parte de serem grileiros.

A história é longa. Embora iniciada na década de 80, apenas em 2007 o desembargador João Pinheiro, corregedor responsável pelo interior da Bahia, mandou cancelar em portaria duas escrituras falsas registradas com base no óbito registrado no século XIX e que eram a base da argumentação da família Okamoto.

Uma outra decisão ocorreu menos de 24 horas depois, proferida pela desembargadora Telma Brito - à época corregedora da capital. Em uma portaria, ela cancelou a decisão anterior, sob o argumento formal de que o Ministério Público não teria competência para propor a ação.

A decisão da desembargadora foi reformada em 2015, mas acabou sendo levada ao Conselho da Magistratura do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) num julgamento que só terminou neste ano, por unanimidade, em favor de José Valter Dias. A decisão do Conselho de Magistratura levou o juiz local, Sérgio Sampaio, a mandar o cartório anular as escrituras que beneficiavam Vicente Okamoto e determinar o retorno da propriedade à família que se declara verdadeira dona da terra, a dos Dias.

É a decisão do juiz local que chegou ao CNJ, contestada. Noronha suspendeu a determinação de reintegração de posse, com fundamento, entre outros fatores, que a retirada dos atuais ocupantes precisa ser discutida no plano judicial- para o ministro, a questão foi analisada no plano administrativo. A decisão de Noronha favorece o grupo chamado de "grileiros" pela família Dias.

Operação

Em agosto, o Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) deflagrou a Operação Oeste Legal, para investigar grupos que atuam na grilagem de terras’ nas cidades de Barreiras, Santa Rita de Cássia e Formosa do Rio Preto, no oeste da Bahia. O nome de Vicente Okamoto é um dos citados no ofício da polícia civil como integrante ao grupo ligado a grilagens.

A Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira, 21, proposta que aumenta a pena para quem parcelar ilegalmente terras da União, a chamada "grilagem" de terras. Conforme o texto, a pena passa a ser reclusão de quatro a oito anos.

Atualmente, conforme informou o portal da Câmara dos Deputados, a pena é de reclusão de um a quatro anos e multa. Além disso, se o infrator for funcionário público ou ocupante de cargo público, a pena fica mais rigorosa e passa a ser reclusão de um a cinco anos.

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A medida está prevista no Projeto de Lei 2592/15, do deputado Rogério Rosso (PSD-DF), que altera a Lei 6.766/79, que trata do parcelamento do solo urbano. O relator na comissão, deputado Thiago Peixoto (PSD-GO), recomendou a aprovação da matéria.

Peixoto concordou com o argumento de Rogério Rosso de que a grilagem de terras da União ocorre em razão das dificuldades de fiscalização enfrentadas pelo Poder Público. "Diversas dificuldades, como a falta de recursos e de pessoal, impedem o monitoramento constante dos terrenos e demais bens públicos, o que enseja a ocupação irregular", afirmou o relator.

Uma área com mais de 11 milhões de metros quadrados, em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, onde estão construídos alguns dos maiores condomínios de alto padrão da região, tem sido alvo de um grupo organizado, a "Turma do Zé do Ouro", que se diz dona de todo o terreno, nomeado por eles de "Sítio Barreiro".

Com uma certidão paroquial de 30 de maio de 1856 e uma escritura de cessão de direitos hereditários e posse, de 2 de julho de 1956, o grupo, de acordo com despachos de desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), vem aplicando sucessivos golpes no mercado imobiliário, causando prejuízos a várias construtoras, ganhando dinheiro e uma coleção de processos na Justiça.

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Na prática, os envolvidos fazem grilagem de terras. A atuação do bando está registrada em inquéritos policiais, em ações cíveis e criminais. Na esfera judicial, os processos envolvendo o grupo já são mais de 25.

O grupo tem como chefes José Gonzaga Moreira, conhecido como "Zezinho do Ouro", de 71 anos, e Francisco Fagundes de Lima, de 93. Todos são conhecidos da polícia em razão de suas inúmeras acusações criminais por formação de quadrilha, estelionato, uso de documento falso e contravenções penais (envolvimento com jogos de azar). O grupo, segundo a Polícia Civil, se dividiu, mas os golpes continuam.

Os golpes começaram em 2007 e têm sempre o mesmo padrão de ação: para fazer valer as certidões de posse e causar dúvida até nos verdadeiros proprietários, a quadrilha invade o terreno escolhido, cerca a área com muros ou cerca de arame e ainda coloca seguranças para evitar "novas invasões". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Entre as 15 pessoas que já foram detidas acusadas de participar de um esquema de grilagem de terras em São Desidério (BA), está, além do publicitário e empresário Marcos Valério, preso com três sócios em Belo Horizonte, a mãe do piloto de Fórmula 1 Luiz Razia, a ex-tabeliã do município de Barreiras, vizinho de São Desidério, Ana Elizabete Vieira Santos.

A Polícia Civil baiana, em conjunto com o Ministério Público da Bahia e de Minas Gerais, cumpriu 23 mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão expedidos pelo juiz da comarca de São Desidério, Gabriel Moraes Gomes, a pedido do MP, em três Estados (Minas Gerais, Bahia e São Paulo). As investigações duraram 17 meses. São dez presos na Bahia, quatro em Minas e uma em São Paulo - o empresário Marcus Vinícius Rodrigues de Martins.

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Os suspeitos, empresários, advogados e funcionários de órgãos públicos da Bahia, são acusados de falsificação de documentos públicos, falsidade ideológica, corrupção passiva e ativa e formação de quadrilha. Eles teriam montado um esquema de registro de imóveis inexistentes, que eram dados como garantia de transações financeiras. Os quatro presos em Minas e o preso em São Paulo devem chegar à Bahia ainda hoje, onde vão prestar depoimento.

A Polícia civil e o Ministério Público da Bahia (MP) informaram que foram presas 15 pessoas, além do empresário Marcos Valério, durante a Operação Terra do Nunca, desencadeada nos estados da Bahia, Minas e São Paulo.

De acordo com o delegado Carlos Ferro, da delegacia de Barreiras, na Bahia, 16 pessoas já foram presas, entre elas 11 em Barreiras, que já estão prestando depoimento. Outras quatro foram detidas em Minas, entre elas o empresário Marcos Valério, e um empresário do ramo de cerâmica, que foi detido no interior de São Paulo. Ainda de acordo com o delegado, todos os presos serão encaminhados para Salvador, onde devem prestar depoimento.

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Marcos Valério atuava em conjunto com advogados e oficiais de cartório de Registro Gerais de Imóveis e de Tabelionato de Notas na falsificação de documentos públicos, criando matrículas falsas de imóveis inexistentes e da União. Segundo o MP, o objetivo era entregar esses documentos para garantir dívidas das empresas de Marcos Valério.

A Polícia Civil em conjunto com o Ministério Público da Bahia prenderam na manhã de hoje o empresário Marcos Valério e três sócios em Belo Horizonte, durante a Operação Terra do Nunca, desencadeada nos Estados da Bahia, Minas e São Paulo, segundo a Polícia Civil.

Marcos Valério foi apontado pelo Ministério Público como operador do esquema do mensalão, como ficou conhecido suposto esquema de pagamento de propina a parlamentares em troca do apoio político no Congresso durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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De acordo com informações do MP, Marcos Valério atuava em conjunto com advogados e oficiais de cartório de Registro Gerais de Imóveis e de Tabelionato de Notas na falsificação de documentos públicos, criando matrículas falsas de imóveis inexistentes e da União. Segundo o MP, o objetivo era entregar esses documentos para garantir dívidas das empresas de Marcos Valério.

Os agentes estão cumprindo ao menos 23 mandados de prisão e de busca e apreensão nos municípios de Barreiras, Santa Maria da Vitória e São Desidério, no oeste baiano.

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