Tópicos | mal do século

Pessoas do mundo todo passar por problemas de ordem psicológica. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

##RECOMENDA##

"Parecia uma intoxicação alimentar. Eu tinha crise vômito, náuseas, disenteria, tremores pelo corpo. A hora de dormir não era tranquila como para uma pessoa normal. Eu me deitava e sentia frio do pé até a nuca. Eu não conseguia comer porque colocava tudo para fora e todos os dias eram a  mesma coisa".

O relato da empresária Jéssica Nunes, hoje com 26 anos, ilustra os momentos em que ela mais sofreu na vida. Na infância, após a separação dos pais, ela precisou se mudar de São Paulo para a Suíça, onde enfrentou muitos desafios não só pela diferença da cultura das regiões, mas por ser uma criança negra em um país composto majoritariamente por pessoas brancas.

 Entre sete e quinze anos, os primeiros sintomas, até então desconhecidos, surgiram aos poucos. As náuseas e o enjoo constantes evoluíram para um medo de sair de casa por não saber se teria dores na barriga ou vontade de vomitar. “Tudo foi aumentando e eu tinha medo de ver as pessoas porque eu sentia receio de ter esse ataque. Não sabia o que era no momento, achava que a comida estava me fazendo mal ou poderia ter gastrite”, relembra Jéssica.

As constantes crises, nervosismo e apreensão ao dormir e ao sair de sua casa deixavam Jéssica muito cansada e ela com certa frequência era levada ao hospital para tomar soro e repor os nutrientes do corpo. Tudo se tornou um martírio e ela precisou conviver com o problema durante anos, sem entender pelo que estava passando. 

“Fiz todos exames para saber qual era o problema na minha barriga, não dava nada. Os médicos diziam que eu estava bem do estômago. Eles receitavam diversos remédios, mas nenhum profissional dizia que poderia ser psicológico”, lamenta a empresário. 

Anos sem entender as razões de seus problemas e uma coleção de traumas. Jéssica tinha 22 anos quando conseguiu finalmente o seu diagnóstico. “Busquei um profissional por indicação e ele me falou que talvez eu precisasse de um psiquiatra. O primeiro que fui me falou que era Transtorno de Ansiedade Generalizada e já me medicou com o antidepressivo. Eu não me adaptei muito bem, não queria acreditar que tinha uma doença mental tão jovem”, conta. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), metade das doenças mentais diagnosticadas no mundo todo começa aos 14 anos. O órgão calcula que um em cada cinco adolescentes enfrenta algum transtorno nessa fase da vida.

 No Brasil, não há muitos estudos para mapear os casos. Em 2015, o Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes apontou que 13% das pessoas entre 6 e 16 anos tinham transtornos mentais, sendo os mais prevalentes a ansiedade (7%), o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (4,5%) e a depressão (0,5%).

Já nos Estados Unidos, os dados são mais concretos. Uma pesquisa publicada no Journal of Developmental and Behavioral Pediatrics, em 2018, estimou um aumento de 20% nos diagnósticos de ansiedade entre 6 e 17 anos entre 2007 e 2012. 

Jéssica não arrisca dizer com certeza quais foram as causas para ser diagnosticada com ansiedade. Mas ela elenca possíveis acontecimentos em sua vida, quando ainda era muito jovem, que podem ter contribuído para o aparecimento da doença. 

“Eu me mudei para um país estrangeiro com a minha mãe e tudo isso me deixava apreensiva. Depois, precisei voltar ao Brasil, já com 14 anos. Morava praticamente sozinha e era muita responsabilidade e maturidade para uma garota tão nova. Não estava preparada para isso tudo e acabei tendo crises de pânico pela falta de proteção, acredito”, comenta Jéssica.

 Além da ansiedade, a empresária foi posteriormente diagnosticada com depressão. “O que a minha médica me falou é que minha depressão foi derivada do meu tempo sem tratamento. Por eu ter ficado por anos sem entender o que estava acontecendo, eu tive que me isolar muito e ficar dentro de casa, com pensamentos desagradáveis”, diz. 

Nos últimos dez anos, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%. Foto: Chixo Peixoto/LeiaJáImagens

A ansiedade e a depressão são problemas distintos, cada um com suas próprias características, e muitas vezes são até considerados opostos. Porém, na realidade, essas duas condições podem, sim, coexistir em uma mesma pessoa. É o que explica a psiquiatra Nadège Herdy.

“Ansiedade e depressão tem uma relação importante. O Transtorno de Ansiedade Generalizada, por exemplo, que é caracterizado pela preocupação excessiva há pelo menos seis meses, tem uma relação forte com a depressão. Quem tem esse diagnóstico corre o risco 33 vezes mais, do que a população geral, de apresentar transtorno depressivo”, analisa a pesquisadora. 

A médica aponta ainda que apresentar os dois transtornos complica o curso, torna a recuperação mais difícil. “Em geral o transtorno de ansiedade precede os transtornos depressivos, funciona como um fator de risco para depressão, ou acabam aparecendo juntos. É mais grave ter as duas condições”, complementa. 

[@#podcast#@]

Nos últimos dez anos, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%. Hoje, isso corresponde a 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população da Terra. Os dados vieram à tona em um relatório recente realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Ao todo, 5,8% dos brasileiros sofrem com a doença, a maior taxa do continente latino-americano. A faixa etária mais afetada varia entre 55 e 74 anos. O sexo feminino é o que mais sente as consequências. O total de 7,7% das mulheres são ansiosas e 5,1% são depressivas. A porcentagem cai para 3,6% em ambos os casos.

[@#video#@]

Fonte: Global Burden of Disease Study, 2015 - OMS (Organização Mundial da Saúde)

Diagnosticada com ansiedade e depressão e morando no Brasil, Jéssica procurou tratamentos para melhorar o seu quadro de saúde para concluir a faculdade de direito e posteriormente prestar o exame da Ordem dos Advogados do Brasil.

 “Eu estava precisando iniciar uma carreira em uma empresa e não conseguia viajar, não podia dormir, não ficava muito tempo fora de casa. Para ir a um barzinho tinha que pensar muito e saber se eu conseguiria me adaptar com isso. Estava muito magra e doente”, conta. 

O preconceito e o medo da reação das pessoas ao não entenderem a doença afastaram Jéssica, de certa forma, do convívio com amigos. Ela relata ainda que percebia as pessoas mais abertas para aceitar uma doença comum, como sinusite. "Ansiedade é pior ainda das pessoas acreditarem que é algo grave, a depressão também. A sociedade entende como uma frescura, desculpa para algumas situações”, lamenta.

"Me sinto razoavelmente curada, consigo viver uma vida normal". Foto: Arquivo Pessoal

Atualmente, ela mora em Portugal e é empresária do ramo de cabelos. Após quatro anos de tratamento, Jéssica pontua que hoje leva uma vida tranquila e além da medicação, os antidepressivos, pratica atividades físicas que a ajudam muito. Desde que encontrou uma médica de confiança no Brasil se sente mais confortável. “Eu moro fora hoje mas continuo com a mesma profissional. Fazemos a nossa conversa com a ajuda da internet”, explica. 

 Ela casou e conseguiu participar da festa sem passar mal ou ter problemas e crises de vômito. “Moro com meu marido, ele é fundamental na minha vida, assim como a minha mãe e irmã e meu pai. Hoje em dia consigo ir a um ambiente fechado, viajar. Antes, as crises me impediam. Me sinto razoavelmente curada, consigo viver uma vida normal. Só me preocupo um pouco com a saída do remédio no futuro. Por enquanto estou bem, mesmo estando dependente de medicação”. 

 De acordo com o psiquiatra Amaury Cantilino, ansiedade e depressão não necessariamente podem ser ‘curados’. Jéssica sabe disso, mas longe das crises e levando uma vida normal, ela aposta em um futuro positivo. “Isso não significa dizer que eu não vivo uma vida ansiosa, eu continuo com isso, mas hoje sou feliz pelas pequenas possibilidades que conquistei”, conclui.

Reportagem integra o especial “Ansiedade”. Produzido pelo LeiaJá, o trabalho jornalístico detalha como a doença afeta pessoas de todo o mundo, bem como mostra as formas de tratamento. Confira as demais matérias:

1 - 'Minha mente é um turbilhão de pensamentos irrefreáveis'

2 - Os brasileiros são os mais ansiosos do mundo

3 - Dependência tecnológica: ansiedade pode ser gatilho

5 - Muito além do divã: tratamento clínico pode ser integrado  

Na última sexta-feira (12), o humorista Whindersson Nunes revelou aos fãs, via Twitter, que estava triste com a vida há alguns anos. O artista, que é o maior youtuber do Brasil, desabafou na rede social dizendo que todos os dias é tomado por uma angústia. “É tão ruim ficar assim, por que eu já estive lá uma vez, não queria voltar pra lá pq é gelado e sem cor, e eu amo sorrir”, escreveu.

O relato de Whindersson foi considerado pelo fãs um claro sinal da depressão. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas vivem com a doença em todo o mundo e o Brasil é o campeão de casos na América Latina, com 5,8% da população acometida pela depressão. Considerado o ‘mal do século’, o distúrbio atinge qualquer pessoa e assim como Whindersson, outros famosos já enfrentaram a doença. Relembre:

##RECOMENDA##

Anitta

No final de 2018, Anitta concedeu entrevista ao programa Bem Estar, da Rede Globo, onde revelou ter enfrentado uma forte depressão após o lançamento de ‘Vai Malandra’, em dezembro de 2017. A cantora disse que a doença foi motivada pela competição no mundo artístico e falta de autoestima. “Eu nunca estava feliz com meu corpo. A celulite estava lá, ficava lutando contra elas, que não saía do meu corpo nunca. Mas hoje tenho várias outras coisas que compensam e tá maravilhoso”, enfatizou.

A doença foi tratada com auxílio de medicação e mudança na rotina da artista. “Tirei um pouco de trabalho, fui cancelando alguns compromissos enquanto dava, para poder ter um tempo para mim, viajar, descansar”, contou. A cantora já tinha enfrentado a depressão aos 18 anos, no início da carreira.

Marcos Mion

O apresentador de ‘A Fazenda’ também já enfrentou maus bocados. Em entrevista ao canal do André Vasco, no Youtube, ele falou sobre a depressão que sofreu antes de entrar na TV e como a arte salvou sua vida. Mion contou que ficou depressivo após a morte de seu irmão mais velho, que tinha 18 anos e morreu de forma acidental ao comemorar a aprovação no vestibular para Medicina na USP (Universidade de São Paulo).

"Eu simplesmente não fazia nada, nada. Não conseguia sair do quarto. Engordei mais de 20 quilos. Fiquei gordo, malzaço”, diz. Mion melhorou após a mãe o matricular em uma escola de teatro, onde ele descobriu seu lado artístico.

Padre Marcelo Rossi

O padre Marcelo Rossi enfrentou a depressão durante 19 anos da sua vida. Em entrevista ao Mariana Godoy Entrevista, da Rede TV, o religioso disse que achava que depressão era ‘frescura’ e tinha preguiça de rezar o terço. Ele percebeu que precisava se tratar quando recebeu uma visita do Papa Francisco e não cantou para o chefe da igreja católica.

“Durante a depressão, ser padre se tornou uma profissão. Não deixei de ir em nenhum compromisso, mas já não fazia com amor”, revelou.

 

Selton Mello

O ator revelou em entrevista à revista Veja que enfrentou uma forte depressão em 2008, após parar de tomar remédios para emagrecer. Com a suspensão dos medicamentos, ele chegou a pesar mais de 100 kg e pensou em desistir da carreira. “Vivi um inferno”, disse.

Recuperado da doença, o ator falou que não aceita mais papéis que exijam mudanças no corpo. “Não tenho mais interesse em engordar ou emagrecer para personagem nenhum. Minha vida vem em primeiro lugar. E não tenho mais vontade de fazer qualquer coisa. Dá um trabalho desgraçado, entende? É o teu corpo. Pode ser que eu vá me contradizer mais adiante. Mas aprendi a cuidar de mim e me botar em primeiro lugar. Depois estão os personagens e o trabalho. Essa é uma parte da sua vida, não é tudo”, contou em entrevista ao jornal 'O Globo’.

"Ansiedade: como enfrentar o mal do século". Foi como esse tema que o pesquisador e escritor Augusto Cury ministrou a sua palestra para centenas de pais e educadores, nesta quarta-feira (26). O encontro foi realizado no Colégio Damas, na Zona Norte do Recife. Durante o seu pronunciamento, Cury abordou diversos assuntos ligados ao pensamento e a ansiedade, em que intercalou com situações corriqueiras da vida pessoal, profissional e educacional dos convidados.

Segundo o pesquisador, a sociedade não consegue gerenciar os seus pensamentos. Além disso, ele enfatizou que por isso, muitos adoecem e se transformam em péssimos profissionais e educadores. "O bom educador e gestor é aquele que elogia em público e chama a atenção para o erro em particular", exemplificou. Ainda sobre esse aspecto, ele alertou os pais. "Nunca chame atenção do seu filho em público, converse, explique e oriente. Fale para ele das suas lágrimas, e ainda demonstre para ele que não há caminho sem tempestades", falou.

##RECOMENDA##

Na área profissional, Cury exaltou que os melhores profissionais não estão cuidado da saúde emocional. "Muitos são 'máquinas' de trabalhar, fazem e só pensam nisso! Lembren-se de cuidar dos seus pensamentos", explicou. Relacionado ao dia a dia dos profissionais, ele questionou:"quem não tem paciência com pessoas lentas"?. Mais de 90% dos presentes levantaram a mão e ele completou. "Nem as freiras têm paciência! Vocês não podem esquecer que cada pessoa tem seu tempo, sua habilidade e capacidade. Na vida, os 'aviões' são tão úteis como os 'tratores' lentos, na terra", comparou. 

O pesquisador também chamou a atenção dos pais para o uso excessivo dos celulares pelos filhos. "Ultimamente, as crianaças estão utilizando cada vez mais cedo os dispositivos móveis ou jogos eletrônicos e isso é péssimo. Muitos deles recebem e respondem mensagem de madrugada, ocasionando ansiedade, insonia e cansaço", concluiu. 

 

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando