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Eles tinham 20 anos, muitos sonhos e vontade de salvar o mundo. No turbilhão após o movimento estudantil de maio de 1968 na França, um pequeno grupo de médicos recém-formados descobre os horrores da guerra civil em Biafra.

"Foi um choque", recorda Bernard Kouchner. "Os feridos chegavam ao nosso hospital à noite, quando os bombardeios cessavam (...) Escolhíamos entre os que podíamos salvar e os que iam morrer. Jamais esquecerei", diz.

A Médicos Sem Fronteiras (MSF) nasceu em 1971 dessa experiência e da vontade de jovens idealistas como ele, que decidiram levar ajuda às populações em terremotos, fomes, epidemias e conflitos.

São cinquenta anos de missões e rebeliões, recompensados com o Prêmio Nobel de 1999 e marcados por rupturas e polêmicas que fazem da MSF hoje uma instituição tão inclassificável quanto essencial.

E uma fantástica aventura humana. "De um sonho fizemos um épico", afirma Xavier Emmanuelli, um dos veteranos da ONG, de 83 anos.

- Caos em Biafra -

O sonho começou com um pesadelo em Biafra.

Em 1968, rebeldes separatistas desta província nigeriana entraram em confronto com o Exército. As bombas matavam civis e o bloqueio das autoridades os levava à fome.

Em Paris, alguns médicos responderam a um pedido de ajuda do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Entre eles Bernard Kouchner, ex-chefe da União de Estudantes Comunistas, e Max Récamier. "Crianças morreram em massa porque o Exército bloqueou os suprimentos", lembra o Dr. Kouchner, de 81 anos.

"Denunciar essa situação era nosso dever como médicos."

Com seu colega Récamier, Kouchner, que mais tarde se tornaria ministro da França, decidiu quebrar o pacto de silêncio assinado com o CICV e expor a realidade do conflito.

"Biafra: Dois médicos prestam testemunho", noticiou o jornal Le Monde em novembro de 1968. A imprensa internacional finalmente se mobilizou e imagens de crianças negras famintas invadiram as telas de televisão. Foi o nascimento do trabalho humanitário moderno.

- "Improvisar" -

O início foi difícil. Quase sem recursos materiais, a ONG recém-criada serviu inicialmente como um grupo de pessoas com boa vontade.

Seu nome passou a ser reconhecido após uma campanha publicitária em 1977. "Crescemos com a mídia e a televisão", resume Xavier Emmanuelli.

As primeiras missões foram marcadas por complicações. Ao desembarcar na Tailândia em 1975, nos campos das vítimas do regime cambojano do Khmer Vermelho, o jovem médico Claude Malhuret rapidamente se desiludiu.

"Foi terrível. Não tínhamos nada. Tínhamos que administrar tudo. Recuperar material, montar acampamento, conseguir remédios, até comida", lembra.

"Quando voltei a Paris, contei tudo. Tratei-os como assassinos, por nos enviarem em uma missão como aquela, sem nada", diz o senador de 71 anos. "Foi um pouco excessivo, mas abalou a todos. Não dava para ficar improvisando", acrescenta.

- "Ruptura" -

A tensão cresceu na direção do MSF. Os médicos que atuaram em Biafra pretendiam continuar como um pequeno grupo e enfrentaram os "novos", dispostos a crescer.

O "barco ara o Vietnã", em 1979, mudou tudo. O então presidente da MSF, Bernard Kouchner, mobilizou a elite intelectual de Paris - começando pelos filósofos Raymond Aron e Jean-Paul Sartre - para fretar um navio encarregado de resgatar no Mar da China os refugiados da ditadura comunista de Hanói.

Os "recém-chegados" à MSF se irritaram com o ativismo e durante uma assembleia-geral, os deixaram em minoria. Kouchner bateu a porta e saiu para fundar a Médicos Do Mundo (MDM).

Quatro décadas depois, as cicatrizes da "ruptura" permanecem abertas. "Uma triste disputa de poder", de acordo com Kouchner, ex-ministro das Relações Exteriores da França (2007-2010).

"Ele teve a coragem e, acima de tudo, a vontade de se tornar alguém importante", critica Xavier Emmanuelli, ex-secretário de Estado da Ação Humanitária. "Isso nos serviu, no início. O pequeno príncipe da mídia. Mas a MSF à maneira de Kouchner era apenas conversa".

"Eles, os velhos, iam ao local para doar o alarme, esperando que os outros os seguissem", afirma também Rony Brauman, que na época era um jovem médico maoísta da ONG.

"Nós, a geração jovem, queríamos ação séria, meios e resultados."

A MSF então entrou na era da profissionalização. "Precisávamos de dinheiro para crescer. Viajei para os Estados Unidos para aprender a arrecadar fundos", lembra Claude Malhuret.

- "French Doctors" -

Apoiado pela independência oferecida pelo financiamento privado, a MSF não hesitou mais em denunciar.

"Seu modelo foi desenvolvido contra o princípio de neutralidade e respeito à soberania dos Estados defendido pelo CICV", analisa o advogado Philippe Ryfman, especialista no setor humanitário. "Eles falam para mobilizar a opinião pública".

Em nome dos direitos humanos, os "esquerdistas" da MSF denunciaram os excessos dos regimes comunistas no Camboja.

E trabalharam em missões clandestinas em meio aos rebeldes afegãos na guerra contra a ocupação soviética. "Fomos os únicos a ver os efeitos da guerra", explica Juliette Fournot, coordenadora das missões da ONG no Afeganistão até 1989.

Todos os dias amputavam crianças e tratavam agricultores queimados. "Prestar testemunho foi muito importante, até hoje os afegãos se lembram de nós", diz.

A ONG causou agitação em 1985 na Etiópia. "Nossos centros de distribuição de alimentos se tornaram uma armadilha", lembra a Dra. Brigitte Vasset.

"Eles serviram às autoridades para identificar os refugiados para transferi-los à força para o sul e despovoar as áreas rebeldes."

Diante da imprensa, Rony Brauman decidiu denunciar o governo etíope. A MSF foi expulsa. "A ajuda tornou-se um instrumento nas mãos de um regime criminoso do qual não queríamos ser cúmplices", justifica.

- Direito de interferência -

Correndo o risco de parecer arrogante, a MSF não hesita mais em denunciar distorções no setor humanitário.

Após a primeira Guerra do Golfo, os curdos do Iraque foram massacrados pelo regime de Saddam Hussein. A MSF foi em seu auxílio e denunciou um massacre.

Em 1991, o Conselho de Segurança da ONU autorizou uma operação militar ocidental para ajudar os deslocados e protegê-los de seu governo, algo nunca visto antes.

Naquela época, o secretário de Estado, Bernard Kouchner, saudava o início de um "direito à interferência humanitária".

A MSF se preocupava e criticava a mistura do humanitário com o militar. A polêmica continuou um ano depois na Somália, cenário de uma guerra civil e uma terrível fome.

Sob o mandato da ONU, as tropas e manutenção da paz dos EUA desembarcam em Mogadíscio para garantir a segurança da distribuição de alimentos.

Diante dessa situação, Rony Brauman denunciou a "armadilha" de uma operação em que soldados "matavam sob a bandeira da ajuda humanitária".

Quando chegou à capital de Ruanda em abril de 1994, Jean-Hervé Bradol foi rapidamente dominado pela escala dos massacres que levou a uma intervenção militar internacional. "Nós nunca tínhamos feito isso".

A denúncia da situação nos campos de refugiados de Ruanda no vizinho Zaire e os excessos das novas autoridades em Kigali custaram à MSF até 1997 as críticas da ONU e de outras ONGs.

- Prêmio Nobel -

A consagração veio com o Prêmio Nobel da Paz em 1999.

A recompensa passou a ser usada para financiar uma campanha de acesso a tratamentos para doenças tropicais e aids, um dos novos setores de ação.

Hoje, a pequena associação cresceu e se tornou gigante. Sob a égide da MSF-International, as 25 seções nacionais empregam 61.000 pessoas, das quais 41.000 estão implantadas em uma centena de operações em cerca de 75 países.

Com um orçamento anual global de 1,6 bilhão de euros (cerca de US $ 1,94 bilhão), 99% de fundos privados, a MSF atua em todas as frentes.

Da luta contra o ebola na África à ajuda aos deslocados pela guerra civil no Iêmen, ao resgate de migrantes no Mediterrâneo e à luta contra a aids na Malásia.

- O chamado MSF -

A ONG comemora 50 anos de sua criação e vê como a ação humanitária se transforma.

Os pedidos de ajuda continuam a aumentar, mas o acesso à população continua a ser negociado em duras discussões com as autoridades e a segurança do pessoal torna-se fundamental devido ao terrorismo jihadista.

"Cada vez mais países são capazes de organizar uma poderosa ajuda de emergência em caso de um desastre natural", diz Mégo Terzian.

"A MSF ainda será útil? Talvez evoluamos para uma fundação que apoiará as organizações locais", acrescenta.

Em todo caso, a ONG continua a despertar vocações. Logo após sua residência, Fanny Taudière, 29, desembarcou em março no sul de Madagascar, cenário de uma fome gigantesca.

"Aqui me sinto útil", confidencia a jovem médica de seu acampamento em Amboasary. "Isso dá sentido, intensidade à vida. Faz vibrar a vida, há encontros incríveis, uma aventura todos os dias, mesmo que haja dias em que nada seja fácil."

Uma segunda vacina contra o ebola foi introduzida de forma experimental nesta quinta-feira (14) no leste da República Democrática do Congo (RDC), dias depois da homologação oficial do primeiro tratamento.

Equipes da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) abriram dois centros de aplicação das doses do laboratório americano Johnson & Johnson (J&J) em Goma, uma grande cidade de Kivu do Norte de um a dois milhões de habitantes, na fronteira com Ruanda.

No bairro de Majengo, na manhã desta quinta-feira, duas pessoas foram vacinadas e 41 estavam na lista de espera, indicou à AFP um porta-voz da MSF.

Responsável pela implementação deste novo protocolo, a MSF quer chegar a "50.000 pessoas em um período de quatro meses", com 23.000 doses que já foram entregues na RDC, segundo cifras desta organização.

Uma segunda dose será aplicada daqui a dois meses, detalhou a MSF em um comunicado.

Trata-se de "comprovar o bom desenvolvimento da vacina em duas doses, em uma região onde a população é muito móvel e onde houve casos no passado", acrescentou.

Em julho e agosto, foram registrados em Goma quatro primeiros casos de febre hemorrágica. As autoridades médicas temeram uma propagação da doença nesta cidade populosa, centro de intercâmbios com Ruanda, Uganda e a província vizinha de Kivu do Sul.

Nenhum novo caso de vírus do ebola foi declarado em Goma desde agosto. O epicentro da epidemia se encontra 350 km ao norte, na região de Beni-Butembo.

Declarada em 1 de agosto de 2018, esta décima epidemia de febre hemorrágica em solo congolês deixou 2.193 mortos, e 1.067 pacientes se curaram.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a epidemia "emergência de saúde pública mundial" em 17 de julho, em um chamado para arrecadar fundos.

Esta é a primeira vez que vacinas são introduzidas de forma "experimental" (sem a autorização prévia de sua comercialização) para prevenir a doença.

A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) acusou nesta segunda-feira a Organização Mundial Saúde (OMS) de "racionar" vacinas utilizadas para tentar controlar a epidemia de ebola na República Democrática do Congo.

Em uma nota oficial, MSF aponta que "um dos maiores problemas reside atualmente no fato de que, na prática, a vacina (contra o ebola) é racionada pela OMS e muitas pessoas em risco não estão protegidas".

A organização criticou a "opacidade" da OMS na distribuição de vacinas e pediu a "criação de um comitê independente de coordenação internacional, para garantir a transparência sobre a gestão dos estoques e a distribuição de dados".

O comitê poderia ser integrado por entidades como a própria OMS e MSF, assim como a Cruz Vermelha e o Unicef, para "estimular discussões abertas com os produtores de vacinas".

Declarada no dia 1 de agosto de 2018, a 10ª epidemia de febre hemorrágica ebola na região do Congo já provocou a morte de mais de 2.100 pessoas.

Em julho, a OMS elevou o nível de ameaça do ebola para "urgência de saúde pública de alcance internacional".

No total, 225.000 pessoas receberam uma dose da vacina produzida pelo laboratório Merck desde 8 de agosto de 2018, "mas o número é amplamente insuficiente", afirma MSF em seu comunicado.

"Entre 2.000 e 2.500 pessoas poderiam ser vacinadas a cada dia, contra um ritmo atual de entre 500 e 1.000 pessoas", afirma no texto a diretora de operações de MSF, Isabelle Defourny.

"As razões por trás das restrições ainda são obscuras", afirma a organização.

A ONG SOS Mediterranée, em colaboração com Médicos Sem Fronteiras (MSF), retornou ao mar sete meses após a imobilização de seu navio "Aquarius" para socorrer os migrantes no Mediterrâneo, apesar da recusa dos portos europeus de aceitar navios humanitários.

O navio "Ocean Viking", com bandeira norueguesa, dirige-se desde 18 de julho "para o Mediterrâneo para liderar uma nova campanha de salvamento no Mediterrâneo central" - a rota marítima migratória mais mortífera -, anunciou a ONG em um comunicado.

"O navio irá patrulhar o Mediterrâneo central, de onde vem o maior número de pedidos de ajuda, mas sem nunca entrar nas águas territoriais líbias", informou Frédéric Penard, diretor de operações da SOS Mediterranée.

"Nossa presença no mar é para salvar vidas. Esperamos que os Estados nos entendam e se juntem a nós, porque não há outra solução", insistiu. "Dizer que são as embarcações de salvamento que incitam as travessias é falso. Mesmo sem os navios, as saídas continuam".

Pelo menos 426 pessoas morreram tentando atravessar o Mar Mediterrâneo desde o início do ano, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

O último naufrágio ao largo da costa da Tunísia causou 60 mortes.

Depois de quase três anos no mar, o "Aquarius", que resgatou 30.000 migrantes, teve que cessar suas atividades em dezembro de 2018, depois de ter sido privado de sua bandeira de Gibraltar e depois do Panamá.

O "Ocean Viking", de 69 metros de comprimento, foi construído em 1986 para a assistência a plataformas de petróleo. Mais de trinta pessoas estão a bordo. A capacidade de recepção não foi especificada.

Cada dia no mar custa 14 mil euros, segundo a ONG, que pede doações.

A nova campanha começará quase um mês após a detenção do "Sea Watch 3", barco fretado pela ONG alemã Sea Watch, e de sua capitã Carola Rackete na Sicília, um aviso das autoridades italianas às embarcações humanitárias.

A Itália denuncia que não há "partilha dos encargos" na União Europeia (UE), que a deixa sozinha na linha de frente da recepção dos migrantes.

"Chega das decisões tomadas apenas em Paris e Berlim. A Itália não está mais disposta a aceitar todos os migrantes que chegam à Europa", declarou neste domingo o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini.

A Europa parece incapaz de chegar a um acordo. Uma nova reunião de ministros do Interior e das Relações Exteriores de quinze países europeus está programada para segunda-feira em Paris.

A onda de frio que assola a Europa e já causou dezenas de mortes tem origem em uma massa de ar polar proveniente da Escandinávia. Não há dados oficiais sobre o número de mortos até o momento, mas estima-se que já são mais de 80. Grande parte das vítimas, cerca de 30 pessoas, foi registrada na Polônia, onde algumas regiões continuam a sofrer com temperaturas de até 20°C negativos.

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou, em comunicado, sobre o grave risco de hipotermia a que estão expostos milhares de refugiados nas ilhas gregas e nos países do Bálcãs. Eles estão retidos sob neve e chuvas congelantes, em campos superlotados, vivendo em tendas precárias e enfrentando temperaturas abaixo de zero.

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“As autoridades gregas devem parar de se vangloriar de seus feitos humanitários enquanto milhares de pessoas continuam abandonadas e em sofrimento em meio a um inverno rigoroso, esperando que suas solicitações de asilo sejam processadas. Nenhuma pessoa que busca proteção ou que foge de guerras, violência e tortura deve ser deixada desamparada no frio”, afirmou Clement Perrin, coordenador-geral da MSF na Grécia.

De acordo com jornal português Expresso, após as críticas feitas por agências humanitárias as autoridades gregas decidiram transferir para hotéis 250 pessoas que se encontravam em tendas no campo de refugiados da ilha de Lesbos. Além disso, um navio de guerra, com capacidade para receber 500 pessoas, teria sido enviado, ontem, ao local para acolher parte dos refugiados.

Diversos países têm registrado mortes de idosos e pessoas sem-abrigo, por hipotermia. Segundo o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, a principal preocupação é com os refugiados que se encontram entre a Turquia e o norte da Europa.

De acordo com o periódico espanhol El País, 24 pessoas morreram na Ucrânia e 10 na Bielorrússia por conta do frio intenso. Na Itália já seriam oito casos registrados; seis na República Tcheca; seis na Bulgária; três na Albânia; dois na Grécia; dois na Rússia; um na Sérvia; e um na Croácia.

De acordo com a MSF, mais de 7.500 pessoas estão retidas na Sérvia, vivendo em acampamentos superlotados. Em acordo com a União Europeia, o país concordou em abrigar 6 mil pessoas, das quais pouco mais de 3 mil estão em locais abrigados do frio. A organização afirma que, em Belgrado, cerca de 2 mil pessoas, provenientes do Afeganistão, Paquistão, Iraque e Síria, estão dormindo em prédios abandonados no centro da cidade enquanto a temperatura chega aos vinte graus negativos.

O mundo caminha para uma era "pós-antibiótica", em que infecções comuns podem matar. O alerta é do médico britânico Manica Balasegaram, diretor da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), recém-nomeado para coordenar o programa Pesquisa e Desenvolvimento de Antibióticos Globais (Gard, na sigla em inglês), lançado no último dia 27 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês). O objetivo do programa é financiar pesquisas para encontrar novos antibióticos.

O lançamento do Gard coincidiu com o anúncio do primeiro caso nos Estados Unidos de superbactéria resistente à colistina, o mais potente dos antibióticos, último recurso de infecções difíceis. A paciente é uma mulher de 49 anos, da Pensilvânia, internada em abril com infecção urinária pela bactéria E. coli. Ela não havia saído do país nos cinco meses anteriores ao surgimento da doença. A vítima não reagiu ao tratamento com colistina, considerado o último recurso em infecções difíceis de combater. Ela foi tratada com antibiótico menos potente e se recuperou.

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Em novembro de 2015, uma cepa da superbactéria já havia sido identificada na China. Desde então, foi localizada em mais de 20 países. O temor dos pesquisadores é que o gene que confere resistência à cepa se espalhe por outros agentes infecciosos.

O Gard já recebeu 2 milhões de euros doados por Alemanha, Reino Unido, Países Baixos, Conselho Sul-Africano de Pesquisa Médica e MSF para financiar três linhas simultâneas de pesquisa.

Balasegaram, que trabalhou como médico de campo do MSF na África Subsaariana e no sul da Ásia, estará no Rio nesta semana para participar da Reunião de Parceiros do DNDi, que discutirá o desenvolvimento de novos antibióticos para as doenças negligenciadas - aquelas pelas quais a indústria farmacêutica não se interessa e não investe, como tuberculose e malária.

Recentemente foi anunciada a descoberta de um paciente nas Américas com resistência bacteriana a todos os tipos de antibióticos. Que risco essa descoberta representa?

As bactérias resistentes aos medicamentos não só viajam geograficamente, mas também os genes resistentes podem viajar entre patógenos. Este é um grande problema. Bactérias resistentes aos medicamentos não estão presentes apenas em ambientes hospitalares, mas também na comunidade. Em outras palavras, ao nosso redor, incluindo na nossa alimentação. Portanto, a recente descoberta nos Estados Unidos é uma confirmação de que temos que agir imediatamente, antes de nos vermos diante de um colapso completo da medicina moderna como a conhecemos.

As bactérias multirresistentes emergiram a partir da automedicação, mas existem evidências de que o uso de antibióticos em animais, para aumentar a produção, está relacionado à resistência em humanos. Estas práticas precisam ser revistas?

A multirresistência a medicamentos resulta de vários fatores que vão muito além da automedicação. Faltam diagnósticos adequados, rápidos e de baixo custo para determinar a questão mais fundamental: se a infecção é decorrente de vírus ou bactéria. Até hoje, muitas vezes, isso leva à prescrição excessiva de antibióticos. Acontece em países ricos e pobres. O uso exagerado de antibióticos na agricultura e criação de animais é uma das principais causas da resistência, o que levou à necessidade urgente de diminuir ao mínimo essa aplicação. Desenvolver resistência aos antibióticos é basicamente o que as bactérias fazem, é sua natureza. Ainda assim, temos que tentar retardar ou combater a resistência com todas as armas de que dispomos, garantir acesso a antibióticos para quem precisa, assegurar os antibióticos certos nas doses certas, administrar formulações e combinações para as infecções. Também controlar o excesso de comercialização de remédios, implementando diretrizes a níveis local, nacional e global. Os setores da saúde humana e animal têm de trabalhar lado a lado. Simplesmente não temos novos tratamentos com antibióticos, com medicamentos novos ou existentes, e é isso que o Gard pretende resolver.

Mas em poucos anos haverá bactérias resistentes a estas novas drogas também.

É absolutamente necessário desenvolver novos antibióticos, mas, se não fizermos nada sobre como os antibióticos, já existentes e novos, são usados, controlados e acessíveis para as pessoas que necessitam, qualquer antibiótico novo vai encontrar resistência rapidamente. A luta contra a resistência antimicrobiana tem que ser um esforço imediato e global. As economias emergentes, como o Brasil, terão papel crucial a desempenhar, possuindo sistemas de saúde cada vez mais robustos, capacidade para desenvolver antibióticos e também muitos dos problemas globais que são causas da resistência.

Como os países devem agir para evitar a proliferação de bactérias multirresistentes? A adoção de regras restritivas para o uso dos antibióticos é suficiente?

Devemos ser claros sobre como restringir o uso. Isso só é apropriado onde há excesso de uso. Mais pessoas estão morrendo por falta de antibióticos do que pela resistência. Mesmo que possamos ver essa tendência se inverter, temos que nos preocupar tanto em garantir o acesso aos pacientes que necessitam de antibióticos quanto sobre como proteger a "vida" dos antibióticos pelo maior tempo possível.

Um ataque aéreo provavelmente lançado pelos EUA atingiu um hospital e matou membros da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras na cidade afegã de Kunduz na madrugada deste sábado (3). A organização disse que a unidade "foi atingida diversas vezes durante um longo bombardeio", que começou por volta das 2h (horário local).

O coronel do Exército norte-americano Brian Tribus, porta-voz das tropas no Afeganistão, disse que um ataque dos EUA "contra indivíduos que ameaçavam nossos soldados" atingiu a cidade de Kunduz no horário em que o hospital foi bombardeado, e que "pode ter resultado em danos colaterais a uma unidade de saúde próxima". O incidente ainda está sendo investigado.

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Os Médicos Sem Fronteiras afirmaram que nove funcionários afegãos foram mortos e 37 pessoas ficaram seriamente feridas. Segundo a organização, 185 pessoas estavam no local no momento do ataque, incluindo pacientes e médicos. Algumas ainda estão desaparecidas. Todos os estrangeiros que fazem parte da equipe passam bem.

O grupo humanitário disse ter informado todas as partes envolvidas no conflito sobre a localização exata da unidade, inclusive na última terça-feira. "O bombardeio continuou por mais 30 minutos após militares dos EUA e do Afeganistão em Cabul e Washington terem sido informados. Nós queremos clareza, com urgência, sobre o que exatamente ocorreu e como esse evento terrível pôde acontecer".

Kunduz tem estado no centro de um intenso combate ao longo da última semana. A cidade foi invadida pelo Taleban na última segunda-feira, levando os EUA a realizarem pelo menos 12 ataques aéreos contra os rebeldes para ajudar as forças do governo a reconquistar o controle da região. O governo afegão afirmou na quinta-feira que tinha retomado praticamente toda a cidade, mas os confrontos continuam.

Os EUA ainda mantêm uma pequena presença militar no Afeganistão, para ajudar as tropas locais com serviços de inteligência e promover ações antiterrorismo pontuais. O hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kunduz está lotado desde que os confrontos na cidade começaram. O ataque deste sábado destruiu boa parte do complexo.

A unidade trata todo tipo de pacientes e o Ministério do Interior afegão disse que provavelmente insurgentes do Taleban estavam no local no momento do ataque. "Nós acreditamos fortemente que eles entraram no hospital para se esconder das forças de segurança", afirmou o porta-voz Sediq Sediqqi. O Taleban nega.

Quando os insurgentes iniciaram o ataque a Kunduz os Médicos Sem Fronteiras decidiram continuar atuando na cidade após garantias das partes envolvidas no conflito de que o hospital seria protegido. A unidade permaneceu aberta mesmo após prédios do governo e outras entidades internacionais, incluindo os escritórios da ONU, terem sido evacuados. Fonte: Associated Press.

O Google criou um tablet com o sistema operacional Android para ajudar os médicos no combate contra o vírus ebola na África Ocidental. O aparelho pode ser higienizado com cloro e tem como objetivo transferir, de maneira mais eficiente, registros sobre pacientes infectados.

Antes, as informações sobre pacientes eram transferidas de maneira arcaica. Como as fichas médicas não podiam deixar as zonas de quarentena, devido ao alto risco de infecção, os médicos precisavam ditar os dados para profissionais que se encontravam foram das instalações.

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A resistência ao cloro permite que o aparelho seja higienizado ao entrar e sair de zonas de risco. Além disso, o tablet é envolto em policarbonato, um polímero durável usado frequentemente por conta de suas propriedades de resistência a altas temperaturas e a impactos.

O tablet permite, ainda, que os médicos transfiram informações através de rede sem fio. A tecnologia pode até parecer básica, mas no meio de uma epidemia de ebola na África Ocidental, onde o acesso à internet e a outras infraestruturas é limitado, ela atua de forma inovadora.

O aparelho foi desenvolvido a pedido de Jay Achar, um dos integrantes da organização Médicos Sem Fronteiras. De acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), a epidemia do ebola já matou mais de 10 mil pessoas. 

Mesmo com todas as medidas que estão sendo tomadas para proteger médicos e enfermeiros de serem contaminados por ebola, o risco de transmissão não está totalmente eliminado, declarou nesta sexta-feira a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF).

"O contágio está em todo lugar. Não há risco zero. Ainda assim, estamos todas as medidas possíveis para proteger nossos profissionais", disse um membro da direção da organização, em condição de anonimato.

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Craig Spencer, médico que trabalhou pela MSF em Guiné, um dos países mais afetados, foi diagnosticado com o vírus em Nova York e foi colocado em isolamento para ser tratado. O caso foi confirmado na quinta-feira.

A direção da Médicos Sem Fronteiras recusou-se a revelar onde e por quanto tempo Craig trabalhou em Guiné, onde a organização mantém dois centros de tratamento.

O grupo internacional Médicos sem Fronteiras (MSF) alertou nesta terça-feira (2) que o mundo está perdendo a batalha contra o ebola e lamentou que os centros de tratamento no oeste da África tenham se "reduzido a lugares onde as pessoas vão para morrer sozinhas", enquanto as autoridades lutam para conter a doença.

A presidente do MSF, Joanne Liu, disse que a organização está completamente esgotada pelo surto de Ebola nos países africanos. Ela afirmou que os centros de tratamento podem oferecer pouco mais do que cuidados paliativos e convocou os outros países para contribuir com médicos civis e militares familiarizados com desastres biológicos.

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A diretora da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, alertou que o surto mundial "ficará pior antes de melhorar" e que exigirá maior responsabilidade global. Ela agradeceu aos países que ajudaram, mas disse que é necessária mais ajuda, incluindo os países que ainda não contribuíram.

Novo infectado

Um terceiro missionário americano foi infectado com ebola enquanto trabalhava na Libéria e está sendo tratado em uma unidade isolada no hospital de Monróvia, onde trabalha, na capital do país africano.

O americano é obstetra e não trabalhava diretamente no tratamento da epidemia. Ele é o segundo missionário trabalhando pelo SIM USA, organização beneficente americana, a contrair a doença.

Não se sabe como o médico foi infectado, informou o SIM USA. Ele se isolou assim que sentiu sintomas e "está indo bem", de acordo com a organização. O grupo não informou mais detalhes sobre o médico, seu tratamento ou quando ele poderá ser retirado da Libéria.

Nancy Writebol, também missionária da SIM USA, e Kent Brantly, médico que trabalhava no Samaritan's Purse, outra organização beneficente, foram levados para uma área isolada no Hospital da Universidade de Emory, em Atlanta. Ambos se recuperaram da doença após tratamento experimental e receberam alta.

Enquanto não se sabe como o médico foi infectado na Libéria, seus colegas de trabalho estão em risco.

Profissionais que trabalham em centros de saúde gerais tem risco mais alto de contaminação do que os que atuam em centros de tratamento de ebola, segundo especialistas. Isso porque esses médicos tratam pacientes que ainda não foram diagnosticados com a doença e, portanto, não foram isolados.

O surto de ebola na África ocidental já matou mais de 1,500 pessoas na Guiné, Libéria, Serra Leoa e Nigéria. Fonte: Associated Press e Dow Jones Newswires.

Diretor de operações do grupo Médicos Sem Fronteiras (MSF), que está atuando na África Ocidental para socorrer os infectados pelo Ebola, Bart Janssens afirmou nesta sexta-feira (8), que "declarar Ebola uma emergência internacional de saúde pública mostra quão seriamente a Organização Mundial de Saúde está assumindo o surto atual, mas declarações não salvam vidas".

Ele defendeu uma "ação imediata em campo" da OMS. "Por semanas, MSF tem repetido que uma massiva resposta médica, epidemiológica e de saúde pública é desesperadamente necessária para salvar vidas e reverter o curso da epidemia. Vidas estão sendo perdidas porque a resposta é lenta demais", alertou.

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Janssens conclamou nações ricas a agir imediatamente: "Países que possuem as capacidades necessárias devem enviar imediatamente os infectologistas disponíveis e kits de socorro para a região. Está claro que a epidemia não será contida sem um envolvimento massivo destes Estados."

As necessidades são amplas, segundo ele: "Em termos concretos, tudo precisa ser radicalmente ampliado: atendimento médico, treinamento de profissionais de saúde, controle de infecção, rastreamento das pessoas que tiveram contato com pessoas infectadas, vigilância epidemiológica, sistemas de alerta e referência, mobilização comunitária e educação sobre o vírus."

O MSF tem 66 profissionais estrangeiros e 610 locais trabalhando na Libéria, na Guiné e em Serra Leoa, os três países mais afetados pela epidemia de Ebola. Desde março, 932 pessoas morreram, segundo a OMS. "Todos os nossos especialistas em Ebola estão mobilizados, nós simplesmente não podemos fazer mais", declarou Janssens. Nas últimas semanas, equipes observaram "um preocupante pico na epidemia", com aumento no número de casos em Serra Leoa e na Libéria.

Dezenas de rebeldes muçulmanos armados abriram fogo no fim de semana contra um hospital na República Centro-Africana, matando pelo menos 16 pessoas, incluindo três agentes de saúde locais do Médicos Sem Fronteiras (MSF), disseram autoridades do país. O ataque ocorreu em Boguila, no noroeste do país, perto da fronteira com o Chade.

Os rebeldes armados atacaram o complexo durante uma reunião dos trabalhadores de saúde com líderes da comunidade. "Enquanto alguns dos homens armados roubaram o escritório de MSF com uma arma e dispararam tiros para o ar, outros homens armados se aproximaram do local de encontro, onde a equipe de MSF e os membros da comunidade se reuniam em bancos", disse o grupo segunda-feira. "Sem ser provocados, os homens armados começaram a disparar fortemente contra a multidão, matando e ferindo gravemente várias pessoas."

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O grupo irá suspender atividades na cidade após as mortes, disse Stefano Argenziano, líder do MSF na República Centro-Africana. "Embora continuemos comprometidos em oferecer assistência humanitária para a comunidade, também temos que levar em consideração a segurança da nossa equipe", afirmou Argenziano. "Em reação a esse ato irresponsável, também estamos analisando se é viável continuar as operações em outras áreas."

Enquanto isso, uma porta-voz das forças de paz anunciou hoje que duas pessoas foram mortas em ataque a um comboio de mais de 1,3 mil muçulmanos que tentavam escapar da violência na capital na República da Centro-Africana, Bangui.

O major ruandense Patrick Fidodugingo disse nesta segunda-feira que granadas foram colocadas no comboio. Pelo menos duas pessoas morreram e outras seis ficaram feridas. Cerca de 20 caminhões deixaram a capital no domingo rumo a duas cidades perto da fronteira com o Chade. Fonte: Associated Press.

Cerca de 3.600 pacientes com "sintomas neurotóxicos" inundaram três hospitais da Síria no dia dos supostos ataques com armas químicas, sendo que 355 deles morreram, disse a organização Médicos Sem Fronteiras neste sábado, 24. Todas as vítimas chegaram em um período de menos de três horas.

De acordo com o diretor de operações do Médicos Sem Fronteiras, Bart Janssens, o padrão de eventos e os sintomas relatados "indicam fortemente a exposição em massa a um agente neurotóxico".

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"As equipes médicas que trabalham nesses locais forneceram informações detalhadas ao MSF sobre um grande número de pacientes que chegaram com sintomas como convulsões, excesso de saliva, pupilas comprimidas, visão turva e dificuldades respiratórias", disse ele.

A declaração segue alegações de que até 1.300 pessoas foram mortas em ataques químicos maciços perto de Damasco, na quarta-feira. Grupos de oposição acusam as forças do presidente Bashar Assad pela ação.

O governo sírio negou veementemente as acusações, mas inspetores da Organização das Nações Unidas (ONU) já estão no país para visitar os locais dos alegados ataques. Fonte: Dow Jones Newswires.

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