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Tio e avô foram presos por estuprar todas as crianças da família na cidade de Mundo Novo, em Goiás. O caso foi descoberto pelo pai de duas meninas, de nove e 12 anos, após estranhar a mudança de comportamento repentina delas. Um menino de oito anos também teria sido abusado pelos familiares.

Os crimes foram descobertos em abril de 2022, quando o pai desconfiou de uma das filhas que se tornou extremamente introspectiva e não queria sair do quarto. Ele buscou a psicóloga da igreja que frequenta e a profissional orientou que ele acionasse a polícia após identificar que as meninas poderiam ter sido vítimas de estupro.

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O pai registrou um boletim de ocorrência  na 26ª Delegacia de Polícia, em Samambaia, em Goiânia, e os acusados foram presos nessa segunda (4), pela Polícia Civil do Distrito Federal.

De acordo com a investigação, os abusos ocorreram durante uma temporada de férias na casa dos pedófilos, entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019. O Metrópoles teve acesso ao inquérito e indicou que a violência começou em uma noite em que as duas estavam com medo de dormir sozinhas e foram para o quarto do tio.

A irmã mais velha disse que chegou a ser levada para um local mais afastado e o tio teria forçado beijar sua boca antes ser violentá-la. Ele ainda teria obrigado que ela tomasse anticoncepcionais e pílula do dia seguinte após as relações sexuais.

De acordo com o pai, a mãe das crianças soube dos estupros em 2021, mas não tomou nenhuma providência. Além de violentar as meninas, o avô teria teria abusado de outro neto, um menino de oito anos, que morava perto da sua casa.

A Comissão OAB Mulher do Rio de Janeiro emitiu nota oficial para repudiar a manifestação do prefeito de Barra do Piraí, Mário Esteves (sem partido), que defendeu, na última quinta-feira (14), que as meninas da cidade deveriam ser "castradas" para controlar a população de crianças na cidade, que fica a cerca de 100km da capital fluminense.

Nota assinada pela presidente da comissão, Flávia Pinto Ribeiro, expressa "veemente repúdio" às falas do prefeito, "que sugeriu de forma desrespeitosa, afrontosa e debochada que as mulheres barrenses fossem "castradas" e que uma lei fosse apresentada na Câmara Municipal limitando o número de filhos por mulheres". O documento reforça que a Comissão tem "compromisso contínuo de combater atos preconceituosos e discriminatórios".

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A declaração da Comissão endossa a posição da 6ª subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Barra do Piraí, que já havia afirmado que "a fala é típica de ato de misoginia, e mais uma vez demonstra o total desrespeito do prefeito com as mulheres".

O prefeito, por sua vez, alegou não ter tido a intenção "de ofender quaisquer parcelas da população, muito menos as mulheres". Acrescentou ainda acreditar que o problema de sua fala foi "o equívoco" de usar o termo técnico "castrar", em vez de "laqueadura".

A lei federal nº 9.263, de 1996, proíbe a aplicação de medidas de controle demográfico, que incluem a limitação de número de filhos ou a realização forçada de operações como laqueadura ou vasectomia. A legislação sobre o tema estabelece que o planejamento familiar "orienta-se por ações preventivas e educativas e pela garantia de acesso igualitário a informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para a regulação da fecundidade".

'Tem que castrar essas meninas'

As declarações repudiadas pela OAB foram feitas pelo prefeito Mário Esteves durante evento em que anunciou a inauguração de uma creche na cidade. "O que não falta em Barra do Piraí é criança. Cadê o Dione [secretário de Saúde]? Tem que começar a castrar essas meninas. Controlar essa população. É muito filho, cara", disse.

Esteves defendeu também a criação de uma lei para limitar o número de filhos de cada família. "É no máximo dois. Tem que fazer uma lei lá na Câmara. Haja creche para ser construída ao longo dos próximos anos. Tem que ter um projeto federal, estadual e municipal, porque precisa sim desse controle. É muita responsabilidade colocar filho no mundo", afirmou.

Partido Solidariedade expulsa prefeito

A direção do partido Solidariedade no Rio de Janeiro decidiu expulsar dos quadros da legenda o prefeito Mário Esteves depois das declarações sobre "castrar" as meninas da cidade. A decisão foi unânime e, em um comunicado divulgado neste domingo, 17, o presidente estadual do Solidariedade, deputado Aureo Ribeiro, classificou a fala como misógina (preconceito ou ódio contra mulheres) e um "total desrespeito" a elas.

Com a palavra, Comissão OAB Mulher

Leia na íntegra a nota da Comissão OAB Mulher do Rio de Janeiro, assinada pela presidente Flávia Pinto Ribeiro:

A OAB Mulher do Rio de Janeiro vem por meio desta nota expressar seu veemente repúdio às recentes declarações do prefeito de Barra do Piraí, Mário Reis Esteves, que sugeriu de forma desrespeitosa, afrontosa e debochada que as mulheres barrenses fossem "castradas" e que uma lei fosse apresentada na Câmara Municipal limitando o número de filhos por mulheres.

Em consonância com nossos princípios de igualdade de gênero, respeito e promoção dos direitos das mulheres, anuímos integralmente à manifestação da Subseção de Barra do Piraí em condenação às palavras e atitudes que refletem misoginia, desrespeito e discriminação de gênero.

Nossa Comissão OAB Mulher reitera o compromisso contínuo de combater atos preconceituosos e discriminatórios, bem como de trabalhar incansavelmente pela construção de uma sociedade mais igualitária e justa para todas e todos.

Estamos unidos na busca por um ambiente onde todas as mulheres sejam respeitadas e tenham seus direitos preservados, endossamos a posição Subseção de Barra do Piraí e nos solidarizamos com seus esforços em prol dessa causa./i>

Com a palavra, a prefeitura de Barra do Piraí

A prefeitura emitiu uma nota oficial declarando que a fala do prefeito foi resultado de um "momento de descontração" e que ele "jamais teve a intenção de promover qualquer tipo de prática danosa ou preconceituosa às mulheres". Leia na íntegra:

O prefeito de Barra do Piraí, Mario Esteves, entende que a laqueadura seja um dos procedimentos para o incremento do planejamento familiar, assim como a vasectomia. Jamais teve a intenção de promover qualquer tipo de prática danosa ou preconceituosa às mulheres. Prova disso, são os investimentos que a prefeitura tem aplicado no Hospital Maria de Nazaré - a Pérola do Vale - e nos programas Saúde da Mulher e Saúde do Homem, onde o planejamento familiar é discutido. Foi um momento de descontração na inauguração de uma importante via de escoamento de produção e de desenvolvimento na cidade, tema central do evento e que é o principal destaque. Qualquer ilação com esse assunto mostra desconhecimento político, uma vez que castrar é esterilizar. A utilização da linguagem vai muito mais para quem quer difundir a confusão na mente do outro, quando deveria explicar.

Com a palavra, o prefeito Mário Esteves

Logo depois das críticas, o prefeito Mário Esteves se manifestou nas redes sociais e disse que errou os termos. "Reconheço o equívoco na troca do termo técnico - "laqueadura" por "castrar"', escreveu. "No entanto, isso não diminui a importância do assunto. O que deveria entrar em pauta era o planejamento familiar. Esse é o assunto que tem que estar nas manchetes - e não a troca num termo técnico. Infelizmente, hoje, qualquer palavra mal colocada pode se transformar em barbárie nas mãos de pessoas mal intencionadas".

No domingo, 17, voltou às redes. Com uma imagem religiosa e um título "Compreender Além das Palavras", pediu empatia e disse que nem sempre as palavras refletem as verdadeiras intenções. "Na era da comunicação instantânea, um simples mal-entendido pode desencadear um julgamento impiedoso. É crucial lembrar que as palavras nem sempre refletem as verdadeiras intenções", escreveu.

A quantidade de meninas apreendidas na cidade do Rio de Janeiro por suspeita de cometimento de ato infracional em 2019 dobrou na comparação com 2017. Segundo pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), o número passou de 155 em 2017 para 317 em 2019.

Ainda de acordo com a pesquisa, que será publicada em formato de livro neste ano, as jovens representavam 8% do total de adolescentes em conflito com a lei em 2017. Em 2019, esse percentual subiu para 14%.

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Para o coordenador da pesquisa, o professor da UFF Elionaldo Fernandes Julião, esse crescimento no número de apreensões de meninas apresenta um problema para o sistema socioeducativo fluminense.

“É algo importante para a gente poder pensar que muitas das unidades socioeducativas [onde infratores cumprem penas de internação], não só no Rio de Janeiro, como no Brasil todo, não são pensadas para poder atender a condição da mulher. São adolescentes e jovens mulheres em privação de liberdade”, explica Julião.

A pesquisa foi feita com base em entrevistas a cerca de 6,2 mil jovens, por membros do MPRJ em oitivas informais, ao longo de três anos. Além de constatar o aumento da apreensão de jovens do sexo feminino, também foram analisados os tipos de infrações que elas cometem.

Na soma dos três anos, a maioria das jovens foi detida por lesão corporal dolosa (26,5%), por furto (12,1%) e roubo (8,5%). Segundo Julião, a maioria das infrações cometidas por elas ocorreu em ambiente privado, enquanto entre os jovens do sexo masculino os atos infracionais ocorreram em vias públicas.

“Isso nos traz uma questão de que, muitas das vezes, o quanto dessas meninas estão sendo vítimas nos seus próprios ambientes familiares. É uma questão importante que a gente precisa olhar mais adiante para pensar em políticas públicas”, afirmou o pesquisador.

Outros dados

Além de perceber o aumento da apreensão de jovens do sexo feminino, a pesquisa da UFF também fez análises sobre o perfil dos suspeitos de infração de ambos os sexos, por temas como escolaridade, evasão escolar e tipo de infração cometida.

Em relação aos atos infracionais, o roubo foi o tipo mais comum entre adolescentes (somando-se homens e mulheres): 1.647 casos (ou 26,6% do total). Outras infrações comuns foram: tráfico, associação para o tráfico ou posse de drogas (1.034 casos ou 16,7%), furto (932 casos ou 15%) e lesão corporal dolosa (608 casos ou 9,8%).

Os homicídios representaram 55 casos, ou menos de 1%. Considerando todas as infrações, em 50,3% dos casos não houve uso de arma para o cometimento do ato, enquanto em 19% houve uso de arma. Em 30,6% deles não foi informado se houve uso de armamento.

Dentre o total de jovens entrevistados, 35,6% era reincidente, ou seja, já tinha praticado atos infracionais anteriormente, enquanto 62,8% deles nunca tinham sido apreendidos.  

“Está no imaginário social que os crimes são mais gravosos. E, na verdade, o que vemos é que a maioria é roubo, furto ou tráfico. Poucos são os homicídios. Essa é uma informação que a sociedade precisa ouvir. Nos últimos anos, vem se defendendo a redução da maioridade penal, sem entender uma série de questões como essa”, conta Julião.

A maioria dos detidos por atos infracionais tinha entre 15 e 17 anos (77,9%). Apesar de a escolaridade esperada para essa faixa etária ser o ensino médio, a maioria (55,7%) frequentava o segundo segmento do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano), ou seja, abaixo da escolaridade esperada.

A pesquisa revelou ainda que 45,7% estavam fora da escola, 22,5% do total há mais de um ano afastados. Os motivos são vários, mas principalmente a distância da escola, por terem sido expulsos ou por estarem trabalhando.

 

Um novo caso de envenenamento em uma escola para meninas foi registrado no Irã nesta terça-feira (4), o primeiro após as férias escolares das duas últimas semanas, informou a imprensa local.

Vinte estudantes de uma instituição na cidade de Tabriz (noroeste) foram levadas ao hospital devido a problemas respiratórios, informou a agência oficial de notícias Irna.

"Os serviços de resgate foram enviados ao local" depois que várias estudantes relataram ter "problemas respiratórios", explicou o chefe de emergência da cidade, acrescentando que nenhuma delas está em estado grave.

Desde o final de novembro, uma série de casos de envenenamentos por gases ou outras substâncias provocaram tonturas e desmaios em alunas de inúmeras escolas, a maioria para meninas.

Segundo as autoridades, "mais de 5.000 alunas" foram afetadas pelos incidentes em mais de 230 escolas em 25 das 31 províncias do país.

Os envenenamentos pararam depois de as autoridades anunciarem, no início de março, que haviam registrado uma centena de prisões relacionadas às intoxicações.

Dias antes, o guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, chamou os envenenamentos de "crimes imperdoáveis" e pediu "sentenças severas", inclusive a pena de morte, contra os responsáveis pelos atos.

Diante do aumento de casos, pais de alunos e cidadãos se mobilizaram para exigir maior reação do governo.

Os primeiros casos de envenenamento foram registrados dois meses após o início dos protestos em todo o país pela morte, em 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que faleceu sob custódia da polícia da moralidade depois de ser presa por supostamente violar o código de vestimenta do país.

O fundador de uma escola para meninas no Afeganistão foi detido em Cabul, informou nesta terça-feira (28) a ONU, que pediu às autoridades do governo Talibã que expliquem as razões da detenção.

"Matiullah Wesa, diretor da PenPath1 e defensor da educação para as meninas, foi detido na segunda-feira", publicou no Twitter a Missão das Nações Unidas no Afeganistão.

A missão pediu às autoridades afegãs que "expliquem onde ele está, os motivos da detenção e que proporcionem acesso a uma representação legal e contato com sua família".

O governo Talibã proibiu no ano passado as mulheres de frequentar o Ensino Médio, o que transformou o Afeganistão no único país do mundo que proíbe a educação das meninas depois do ensino fundamental.

Um irmão de Wesa confirmou a detenção e disse que aconteceu na segunda-feira à noite, quando ele saía de uma mesquita.

"Matiullah havia terminado suas orações e deixava a mesquita quando foi detido por alguns homens em dois veículos", disse Samiullah Wesa à AFP.

"Quando Matiullah pediu para ver os documentos de identidade dos homens, eles o agrediram e o levaram à força", acrescentou.

A organização fundada por Matiullah, que faz campanha por escolas e distribui livros nas áreas rurais, se dedicado a divulgar a importância da educação para as meninas entre os líderes dos vilarejos.

Mesmo com a proibição do ensino para as mulheres, Wesa prosseguiu com as visitas a regiões remotas para buscar apoio entre os moradores.

"Estamos contando horas, minutos e segundos para a abertura das escolas para as meninas. O dano que o fechamento das escolas provoca é irreversível e inegável", tuitou Wesa na semana passada, quando começou o ano letivo mo Afeganistão.

"Encontramos com os moradores e vamos seguir com nossa proposta, caso as escolas continuem fechadas", completou.

O regime Talibã impõe uma interpretação severa do islã desde que retornou ao poder, em agosto de 2021, quando as forças dos Estados Unidos e da Otan, que apoiaram os governos anteriores, deixaram o Afeganistão.

Os líderes talibãs, que também vetam o ensino universitário às mulheres, afirmam que as escolas para mulheres devem reabrir as portas após o cumprimento de algumas condições.

Eles dizem que não têm dinheiro nem tempo para adaptar os programas escolares de acordo com os preceitos islâmicos.

O regime Talibã fez promessas similares durante seu primeiro governo, de 1996 a 2001, mas as escolas para meninas nunca reabriram as portas nos cinco anos.

Analistas acreditam que a ordem contra o ensino para as meninas veio do líder supremo do Afeganistão, Hibatullah Akhundzada, e de seus conselheiros ultraconservadores, que expressam ceticismo sobre a educação moderna, em particular para as mulheres.

Além de gerar indignação internacional, o fechamento das escolas provocou críticas dentro do movimento, com alguns funcionários de alto escalão do governo de Cabul contrários à decisão.

No Afeganistão, um país profundamente conservador e patriarcal, as atitudes em relação à educação feminina mudam lentamente nas áreas rurais, onde suas vantagens são reconhecidas.

No Brasil, a maioria (67%) dos 69.418 estupros cometidos entre 2015 e 2019 tiveram como vítimas meninas com idade entre 10 e 14 anos. É o que destaca o estudo Sem deixar ninguém para trás - gravidez, maternidade e violência sexual na adolescência, do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), vinculado à Fundação Oswaldo Cruz Bahia (Fiocruz). Também assinam a pesquisa o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

O que subsidiou o levantamento foram dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan-Datasus), do Ministério da Saúde. No período de análise, adolescentes com idade entre 15 e 19 anos representam 33% do total de vítimas de estupro.

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Ainda sobre o perfil das vítimas, o que se constata é que prevalecem as meninas pardas (54,75%). Logo depois, aparecem garotas brancas (34,3%), pretas (9,43%) e, por fim, indígenas (1,2%).

Outro dado que se consolida mais uma vez, como em outros estudos, é o que diz respeito à relação entre as vítimas e os agressores. De acordo com a pesquisa, 62,41% dos autores do crime eram conhecidos das vítimas, contra apenas 17,22% de desconhecidos.

Por meio das notificações reunidas pelo governo federal, observam-se, ainda, três dados de relevância. O primeiro é o fato de que o estupro costuma acontecer na casa das vítimas. No total, 63,16% dos episódios se deram nesse contexto. Em 24,8% das vezes, o local era público e, em 1,39% dos casos, o estupro ocorreu em uma escola.

"Evidencia-se que adolescentes nem sempre encontram na família um lugar de proteção", mostra o estudo.

Para a gestora do Projeto Bem Me Quer, do Hospital da Mulher, psicóloga Daniela Pedroso, é preciso ter em vista que, assim como em relacionamentos entre mulher e companheiro, em que ele a agride, as emoções das vítimas menores de idade se misturam, quando o agressor é alguém de seu círculo. Em muitos casos, o agressor causa confusão de sentimentos na vítima, inclusive por propor que ela guarde para si o ocorrido, como se se tratasse de um acordo de confiança que não pode ser rompido, já que a consequência seria perder o afeto do agressor.

"Estamos falando de agressores conhecidos, pessoas que muitas vezes também provêm coisas boas, positivas para essas crianças. Por isso é que é tão importante cuidar disso, porque a gente está falando de algo que é tratado pelo agressor sexual como um segredo, algo que não pode ser contado", alerta.

"O abuso sexual da criança é crônico e recorrente. A gente está falando da pessoa que devia protegê-la. Esse é um dado que sempre surge e que ainda choca muito, porque é a ambivalência não só do sentimento da criança, mas também da ambivalência do comportamento do agressor", complementa Daniela, que hoje coordena o Ambulatório de Violência Sexual na unidade e que trabalha no local há 26 anos.

Na avaliação da psicóloga, a qualidade no atendimento é um fator capaz de definir a permanência das vítimas no hospital, conforme as recomendações. Segundo ela, além de oferecer o tratamento de profilaxia, que as protege contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e tem maior efeito em uma janela de 72 horas após o estupro, o Hospital da Mulher também oferece cuidados em outras áreas importantes. São eles o encaminhamento a assistentes sociais, que orientam e acolhem, e as consultas com pediatras ou ginecologistas da equipe do ambulatório e com psicólogos. As vítimas têm direito a ter atendimento mesmo sem apresentar boletim de ocorrência, ou seja, basta que se dirijam à unidade.

"A maneira como elas são recebidas pelo serviço vai impactar não só na adesão ao tratamento como também em todo o processo que passam com a gente", ressalta Daniela.

Sobre a contribuição dos psicólogos, a gestora avalia que se encontra em atenuar o sofrimento psíquico, a partir da transformação da memória em torno do estupro que se vivenciou. "As pessoas perguntam, a minha filha vai esquecer? A gente não consegue fazer com que se apague isso da memória dessa criança, dessa adolescente, mas a gente precisa trabalhar da melhor forma possível para que isso não se torne uma lembrança recorrente, cotidiana. Acho que isso é bem importante. E também que ela possa ressignificar esse trauma".

O Centro das Mulheres do Cabo (CMC) está promovendo uma busca ativa de meninas, adolescentes e jovens mulheres fora das escolas do município, localizado na Região Metropolitana do Recife. A ação integra a campanha Nenhuma Menina Fora da Escola.

“Estamos realizando uma busca ativa para que as meninas a partir dos 12 anos, adolescentes e jovens mulheres, que gostariam de voltar a escola e estão encontrando dificuldade, de se matricular, de acesso ou de permanência, ligue para 99937.0817 que vamos contribuir para que elas tenham acesso e permaneçam estudando e tendo seus direitos garantidos”, afirmou a ativista pela Educação do Fundo Malala, Cássia Jane, que atua no CMC como coordenadora do projeto. 

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Levantamento do CMC apontou que um dos principais motivos do abandono escolar foi o impacto direto da Covid-19. (Divulgação/CMC)

Em 2022, o CMC e o Fundo Malala lançaram um diagnóstico sobre a situação da evasão escolar de meninas no Cabo de Santo Agostinho. O material foi apresentado à prefeitura municipal junto com uma série de recomendações no sentido de prevenir a evasão escolar e orientar a busca ativa para o retorno dessas meninas e jovens mulheres à sala de aula, tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio.

O levantamento apontou que um dos principais motivos do abandono escolar foi o impacto direto da Covid-19. Nas entrevistas, 37,5% das mulheres indicaram que deixaram de estudar devido à falta de celular com internet, o que as impediu de acompanhar as aulas virtualmente.

A gravidez precoce também figura entre as principais causas de abandono escolar. Dentre as entrevistadas, 14,6% tiveram que trabalhar para gerar renda para a própria subsistência e de suas famílias. A interrupção das aulas presenciais foi avaliada como muita negativa pelas meninas, visto que 95,2% delas desejam voltar às aulas presenciais. Para 40%, as escolas não ofereceram a estrutura necessária para garantir segurança sanitária no contexto de pandemia. 

A senadora e ex-candidata à Presidência no primeiro turno Simone Tebet (MDB) definiu como "criminosas" as declarações do presidente Jair Bolsonaro (PL) feitas em um podcast sobre meninas venezuelanas menores de idade em suposta situação de prostituição.

Desde que a fala de Bolsonaro viralizou, tem havido uma enorme mobilização nas redes em torno desse tema. Enquanto a oposição compartilha o vídeo com a hashtag "Bolsonaro é pedófilo", aliados e apoiadores do governo fazem publicações defendendo o presidente. Como mostrou o Estadão, a executiva do PL gastou mais de R$ 140 mil em publicidades rebatendo as acusações de pedofilia.

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Na manhã deste domingo, 16, Tebet faz uma caminhada na praia do Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro, para pedir votos no ex-presidente Lula, que definiu como "único candidato da democracia" na disputa presidencial.

"Veja, o presidente Bolsonaro, quando sair da cadeira, vai descer e perder o foro privilegiado, ele vai ter que responder na Justiça. Em vendo um crime, ele não deu voz de prisão, não chamou as autoridades para que pudessem intervir", disse Tebet a jornalistas e apoiadores.

"Se ele (Bolsonaro) estava diante ali de uma situação que é considera crime pelo código penal e não denunciou, ele foi omisso e não respondeu por isso", continuou.

Em entrevista dada na última sexta-feira ao canal do YouTube Paparazzo Rubro-Negro, Bolsonaro deu um exemplo para falar sobre a crise na Venezuela e disse que, em viagem, "pintou um clima" entre ele e refugiadas venezuelanas menores de idade.

O ato de Tebet reuniu centenas de pessoas vestidas de branco, que empunhavam bandeiras com o nome do ex-presidente Lula, na estética da campanha do petista, mas também personalizadas nas cores branco, azul e rosa.

Sobre Lula, Tebet disse que pode ter suas diferenças com o petista, mas o que os une agora seria "infinitamente maior". Por isso, disse esperar que os votos que obteve no primeiro turno migrem para o ex-presidente.

Questionada sobre eventual ministério em um novo governo, ela foi direta. "Não preciso de cargo para servir ao Brasil", disse.

A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) gastou ao menos R$ 145 mil até o fim da manhã deste domingo (16), horas antes do primeiro debate do segundo turno da disputa presidencial, para promover anúncios com os dizeres "Bolsonaro NÃO é pedófilo".

O objetivo é rebater as acusações de pedofilia que viralizaram na internet graças a uma entrevista recente em que ele cita meninas venezuelanas e diz que "pintou um clima".

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A equipe do presidente promoveu três anúncios semelhantes, sendo que dois deles já foram exibidos mais de 10 milhões de vezes. A ferramenta de publicidade política do Google não informa o valor exato gasto pela campanha, somente a faixa de preço. Duas propagandas custaram entre R$ 70 mil e R$ 80 mil, e uma, entre R$ 5 mil e R$ 6 mil. As três foram exibidas em todo o território nacional, sem demais segmentações de público.

As propagandas redirecionam para um site chamado "Verdades do Bolsonaro", em que há um texto buscando explicar o episódio e afirmando que a declaração sobre meninas venezuelanas foi tirada de contexto. A polêmica começou após uma declaração do presidente a um podcast na sexta-feira, 14. Respondendo a uma pergunta sobre a hipótese de o Brasil se tornar comunista numa eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, ele insinuou que meninas venezuelanas têm de se prostituir no Brasil para "ganhar a vida". Bolsonaro relatou que, em 2020, estava andando de moto em Brasília quando viu meninas "arrumadinhas" de "14, 15 anos", até que "pintou um clima" e ele pediu para entrar na casa delas.

Site contém desinformação

O texto presente no site em questão cita uma pesquisadora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) analisando a conduta do deputado federal André Janones (Avante-MG) nas redes. O parlamentar tem se destacado como um dos principais influenciadores digitais da campanha petista. As aspas citadas são críticas à estratégia de Janones e afirmam que as publicações do deputado nas redes sociais configuram desinformação.

Contudo, a publicação faz parecer que a pesquisadora está se referindo a esse episódio em particular, sendo que as falas foram retiradas de uma entrevista concedida por ela ao jornal O Dia em 13 de outubro. Bolsonaro relatou o caso das meninas venezuelanas no dia 14 de outubro.

Ao Estadão, a pesquisadora Ana Regina Rego afirmou que sua fala foi "deslocada" pela defesa do presidente Bolsonaro. "Eles pegam a minha fala, deslocam a minha fala e colocam para justificar e culpar o Janones pela fala do Bolsonaro no dia 14, um dia depois da minha entrevista. A minha fala não teve nada a ver com a campanha do Bolsonaro, não pretende justificar aquilo que ele falou ou deixou de falar, a fala do Bolsonaro é posterior à minha e o que eles estão fazendo é se utilizar de uma fórmula de construção de desinformação para desinformar mais ainda", disse.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez transmissão ao vivo na madrugada deste domingo (16) para se defender de acusações de pedofilia. No sábado (15), um vídeo em que o chefe do Executivo cita meninas venezuelanas e diz que "pintou um clima" viralizou na internet, impulsionado pela oposição. Segundo ele, a fala foi tirada de contexto. "O PT ultrapassou todos os limites", afirmou.

A polêmica começou após uma declaração do presidente a um podcast na sexta-feira (14). Respondendo a uma pergunta sobre a hipótese de o Brasil se tornar comunista numa eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, ele insinuou que meninas venezuelanas têm de se prostituir no Brasil para "ganhar a vida". Bolsonaro relatou que, em 2020, estava andando de moto em Brasília quando viu meninas "arrumadinhas" de "14, 15 anos", até que "pintou um clima" e ele pediu para entrar na casa delas.

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"Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, de moto. Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas no sábado numa comunidade, e vi que eram parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na sua casa?', entrei. Tinha umas 15, 20 meninas sábado de manhã se arrumando. Todas venezuelanas. Aí eu te pergunto, menina bonitinha se arrumando sábado de manhã para quê? Para ganhar a vida", disse o presidente ao Podcast.

Na live desta madrugada, Bolsonaro afirmou que o episódio relatado por ele foi mostrado em uma transmissão ao vivo que fez em 2020. Ele disse ter mostrado "toda a sua indignação" naquela ocasião. "O PT recorta pedaços como se eu estivesse atrás de programas. Pelo amor de Deus. Fiz uma live para isso, foi demonstrado o que estava acontecendo. Que vergonha é essa? Que falta de respeito é essa? Sempre combati a pedofilia", afirmou.

"O que eu estava mostrando com aquilo (era) a minha indignação. Aquelas meninas venezuelanas que tinham fugido de seu país, tinham fugido da fome. Estavam se arrumando para quê? Mostrei toda a minha indignação ali", completou.

A fala original de Bolsonaro sobre as meninas gerou forte repercussão nas redes e entre a classe política. O deputado federal André Janones (Avante-MG) gravou um vídeo afirmando ser indefensável a declaração do presidente. "Não dá para defender pedofilia agora. Esse homem é casado, ele está confessando que criou um clima entre ele e uma menina de 14 anos", disse. "Se o presidente Bolsonaro comprovar que isso é armação, que é montagem, eu renuncio ao meu mandato de deputado federal".

Deputado pede investigação à PGR

O deputado distrital Leandro Grass (PV) encaminhou ofício à Procuradoria-Geral da República pedindo investigação sobre a conduta do chefe do Executivo. No documento, o parlamentar argumenta que "tão grave" quanto a declaração sobre ter "pintado um clima" foi o fato de o presidente ter identificado uma situação de exploração de menores e "não ter feito uma denúncia formal para as autoridades competentes".

"Se havia algum problema por ele verificado, deveria procurar as instâncias de controle, justamente para que providências fossem tomadas. Há, na região, Conselho Tutelar ativo e que exerce seu mister com bastante competência", diz o ofício.

Na linha de frente da campanha que roda o Brasil para atrair o voto das mulheres para o marido, a primeira-dama Michelle Bolsonaro chorou com o relato de meninas surdas em sua passagem pelo Tocantins, nessa quinta-feira (13). O próximo destino da esposa de Jair Bolsonaro (PL) será Pernambuco, onde o presidente esteve na quinta e teve uma baixa adesão de seus apoiadores na primeira agenda no nordeste após o primeiro turno.

Acompanhada da ex-ministra e senadora eleita Damares Alves, Michelle desempenha o papel de linha acessória da campanha de reeleição do marido. Enquanto ele participa de compromissos em determinado estado, ela viaja para outro e expande a capacidade de diálogo da campanha, principalmente com as mulheres.

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No vídeo publicado por Damares, Michelle chora quando duas meninas surdas contam que a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) passou a ser mais difundida no governo Bolsonaro, muito pelo interesse da própria primeira-dama.

Já na cerimônia de posse, ela saudou os eleitores com gestos em Libras e se mostrou sensível em propor que o governo federal facilitasse a comunicação com as pessoas surdas no país por meio de intérpretes.

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Nesta terça-feira (11), Dia Internacional da Menina, um grupo de meninas e adolescentes do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMR), foi recebido pelo prefeito Keko do Armazém, no gabinete do Centro Administrativo Municipal. Representando o Projeto Meninas em Movimento pela Educação, apoiado pelo Fundo Malala, a comitiva foi articulada pelo Centro das Mulheres do Cabo (CMC) com as meninas, adolescentes e jovens ativistas pelo enfretamento da evasão escolar no município.

A visita faz parte da Campanha Ocupa Meninas, uma realização do Projeto Meninas em Movimento pela Educação, que tem por objetivo levar as garotas a ocuparem os espaços de poder no município. A agenda da comitiva também incluiu visitas às secretarias de Educação, Mulher, Saúde, Programas Sociais, Finanças, Secretaria de Defesa Social e a Câmara de Vereadores/as do Cabo.

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Ativista pela Rede de Educação do Fundo Malala, Cássia Jane, ressalta a importância da ação. “Nosso intuito é fazer com que as jovens ativistas tenham acesso a esses espaços de decisão política, e que possam acompanhar a rotina dos gestores e gestoras dessas diferentes pastas em nosso município a fim de levar suas demandas no campo das políticas públicas”, afirma.

Já a estudante Thuézia Souza narrou a experiência de ter recebido a faixa prefeital de Keko do Armazém. “Foi uma experiência muito importante e gratificante, de poder estar ocupando aquele espaço e também estar lá representando o projeto e as meninas que fazem parte dele”, descreveu a garota, que estuda na Escola Rui Barbosa, na Praia de Suape.

 A secretária da Mulher do Cabo, Walkiria Alves também acompanhou o encontro. No dia 27 de outubro, a Câmara de Vereadores/as do Cabo realizará uma sessão solene que tornará o dia Internacional da Menina oficial no calendário municipal. Além disso, as participantes do projeto realizarão entrevistas através de lives, sobre temáticas como saúde das meninas, vida sem violência, direitos sociais com alguns secretários/as. O conteúdo ficará disponível no perfil do Instagram @centro.das.mulheres.

.O HPV (Papilomavírus Humano) é um dos principais causadores do câncer de colo do útero na mulher e do câncer do pênis ou do ânus no caso do homem. Essas doenças podem ser prevenidas de uma maneira muito simples: através da vacina distribuída gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e que deve ser aplicada em meninos e meninas dos 9 aos 14 anos, preferencialmente antes do início da vida sexual. 

Na capital pernambucana, mais de 150 unidades de saúde da Prefeitura do Recife ofertam a aplicação desta vacina de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h. O esquema vacinal para este imunobiológico é feito em duas doses, sendo a segunda aplicada com um intervalo de seis meses. O imunizante oferece proteção contra diversas variações do vírus HPV, incluindo para os tipos 6,11, 16 e 18.

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Esta vacina também pode ser aplicada em pessoas com condições clínicas especiais até os 45 anos (vivendo com HIV/AIDS, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos), uma vez que estes grupos apresentam baixa imunidade e estão mais suscetíveis a infecções. Para isso, é preciso apresentar uma solicitação médica que comprove a necessidade de receber o imunizante. 

A coordenadora do Programa de Imunização do Recife, Elizabeth Azoubel, reforça a importância de vacinar esses grupos, especialmente os meninos e meninas. “O SUS oferece a vacina contra o HPV de forma gratuita e na rede privada cada dose tem um valor muito alto. A eficácia desse imunizante é comprovada e traz resultados na prevenção e redução das doenças provocadas por este vírus. A evidência atual mostra que, com as duas doses da vacina, a proteção é prolongada e, por isso, precisamos elevar a cobertura vacinal - especialmente entre os meninos”, ressalta.

Essa faixa etária preconizada pelo Ministério da Saúde é explicada porque o organismo de crianças e adolescentes, normalmente, responde melhor às vacinas do que os adultos, principalmente antes de entrarem em contato com o vírus. É importante salientar ainda que a vacina contra HPV não trata as infecções causadas pelo vírus. Nos casos em que a doença já foi detectada, é preciso iniciar o tratamento específico para cada caso, buscando sempre orientação médica adequada. Outro fator a ser destacado é que, mesmo que o esquema vacinal esteja completo, o uso do preservativo nas relações sexuais não pode ser negligenciado. 

Para agilizar a vacinação, a Secretaria de Saúde (Sesau) do Recife recomenda que os usuários levem um documento de identificação, a carteira de vacinação e o cartão SUS ou CPF. 

DOENÇAS - O HPV é um vírus que infecta pele ou mucosas (oral, genital ou anal), tanto de homens quanto de mulheres, podendo provocar verrugas nas regiões genitais e do ânus, e câncer, a depender do tipo de vírus. É uma infecção sexualmente transmissível (IST) que, muitas vezes, não provoca sintomas. Em 2021, foram registrados 68 óbitos por câncer de colo do útero no Recife. Até junho deste ano, a cidade já soma 32 mortes causadas pela doença.

ÚTERO É VIDA - Ainda na linha de proteção contra o câncer de colo do útero, a Secretaria de Saúde do Recife iniciou, na semana passada, a implementação do Programa Útero é Vida, que está sendo desenvolvido pela Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) em parceria com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS). A ideia é ter uma maneira mais simples e eficaz para detectar o câncer de colo de útero e reduzir a mortalidade por este tipo de doença.

Para isso, o projeto vai realizar um novo tipo de exame que permite identificar de forma mais assertiva o DNA do HPV, (em especial HPV 16 e 18), vírus causador deste tipo de câncer, em mulheres entre 25 e 64 anos. Inicialmente, os testes serão aplicados em 1,5 mil moradoras dos Distritos Sanitários 2 e 7 da capital pernambucana. Posteriormente, o projeto será ampliado para 60 mil mulheres da cidade.

A melhor forma de prevenção do câncer de colo de útero é através da identificação precoce do vírus HPV e, atualmente, isso é feito por meio do exame mais comum, o papanicolau - que coleta uma amostra do órgão. Com o uso do Kit Nacional de Biologia Molecular, a forma de realização será mais simples: utilizando um swab (semelhante ao usado nos testes da Covid-19) que é introduzido na vagina para colher secreção sem necessidade de o instrumento tocar o colo do útero.

Da assessoria

Pesquisa inédita feita pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) com dados do Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde revela que o número de consultas de meninos adolescentes, de 12 a 18 anos, ao urologista é 18 vezes menor que o de atendimentos de ginecologistas a meninas da mesma faixa etária.

Em 2021, foram registrados 189.943 atendimentos femininos por ginecologistas na faixa etária de 12 a 18 anos, contra 10.673 atendimentos masculinos por urologistas nessa mesma faixa etária. Em 2020, foram 165.925 atendimentos de meninas por ginecologistas e 7.358 atendimentos de meninos por urologistas.

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Ampliando o levantamento para a busca por atendimento médico, as meninas entre os 12 e os 19 anos vão quase duas vezes e meia a mais ao médico que os meninos da mesma idade. Números de 2020 do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA) do Ministério da Saúde revelam que o acesso das meninas entre 12 e 19 anos ao SUS foi quase 2,5 vezes maior que o dos meninos: 10.096.778 de meninas, contra 4.066.710 de meninos.

Independentemente da faixa etária, o homem procura menos o médico para consultas de rotina, o que faz com que ele tenha uma expectativa de vida de menor. “As mulheres vivem, em média, sete a dez anos mais do que os homens. A gente percebeu que isso ocorre porque o homem não procura fazer os exames necessários, como as mulheres fazem”, disse o presidente da SBU, Alfredo Canalini, à Agência Brasil.

Para os médicos, não adianta fazer campanha apenas para o homem adulto, já que esse comportamento é reflexo de toda uma história de vida que começa logo depois que o menino larga o pediatra.

Canalini afirma que, ao contrário das meninas, que as mães levam à ginecologista para serem avaliadas tão logo entram na adolescência e menstruam, os meninos “ficam meio à deriva”. “O adolescente do sexo masculino não vai ao médico”.

#VemProUro

Neste mês, a SBU realiza a quinta edição da campanha #VemProUro, que enfatiza a importância de o menino ir ao médico na adolescência. Este ano, a campanha aborda a relevância dos cuidados com a saúde genital e reprodutora e visa, principalmente, os pais, para que tenham consciência da necessidade de levar não só as filhas, mas também os filhos, a um atendimento médico preventivo – e não apenas quando ficam doentes.

A campanha se engaja ainda na luta contra os cânceres provocados pelo HPV, incentivando os responsáveis a levarem seus filhos adolescentes para serem vacinados.

O coordenador da campanha, Daniel Suslik Zylbersztejn, acredita que, com o passar do tempo, a campanha contribuirá decisivamente para uma mudança de cultura de cuidados à saúde dos meninos, equiparando ao que vemos hoje nos cuidados à saúde das meninas adolescentes.

Durante o mês, serão realizadas ações online de esclarecimento à população no perfil da SBU nas redes sociais (@portaldaurologia). No site, a SBU também terá conteúdos voltados para os adolescentes.

Na avaliação do presidente da entidade, é preciso uma mudança de comportamento social. Sem o hábito de ir ao urologista quando jovens, os pais acabam não levando seus filhos homens para exames de rotina. “Investimento em saúde não é tratar mais doença, mas evitar mais doenças. Tratar da saúde de uma pessoa não é só curar essa pessoa quando ela está doente, mas é também prevenir que a doença ocorra”, avalia Canalini.  

Segundo o presidente da SBU, para cada R$ 1 gasto em medicina preventiva, economiza-se R$ 5 em tratamento de doenças avançadas. “Esse é um dado bom para a saúde pública porque significa economia do dinheiro público quando se faz um processo de prevenção de doenças e diagnóstico precoce”, alertou.

ISTs

De acordo com o coordenador do Departamento de Urologia do Adolescente, José Murillo Bastos Netto, é cada vez mais comum o atendimento, em consultório ou no serviço público de saúde, adolescentes com infecções sexualmente transmissíveis.  

Em 2020, pesquisa conduzida pela SBU com adolescentes constatou que 44% dos entrevistados não usaram preservativo na primeira relação sexual e 35% não usam, ou usam raramente, o preservativo. Quatro em cada dez meninos (38,57%) disseram não saber sequer colocar o preservativo.

“O sexo seguro passa pelo aviso de que o preservativo deve ser usado em todas as relações sexuais”, afirmou Canalini.

Entre as ISTs mais comuns estão sífilis, herpes simples, cancro mole, HPV, linfogranuloma venéreo, gonorreia, tricomoníase, hepatite B e C e HIV.

Sondagem divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em julho deste ano, mostra que, no período de 2009 a 2019, o percentual de escolares que usaram camisinha na última relação sexual caiu de 72,5% para 59%. Entre as meninas, a queda foi de 69,1% para 53,5% enquanto, entre os meninos, foi de 74,1% para 62,8%.

HPV

Meninos (de 11 a 14 anos) e meninas (de 9 a 14 anos) podem se vacinar contra o papilomavírus humano (HPV), a infecção sexualmente transmissível mais comum. A imunização ajuda na prevenção contra o câncer de útero nas mulheres e contra o câncer de pênis nos homens.

Dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI) revelam que apenas 36% dos meninos tomaram as duas doses da vacina, contra 56,2% das meninas. A vacina contra o HPV é ofertada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Podem se vacinar também contra o HPV homens e mulheres imunossuprimidos, de 9 a 45 anos, que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos.

Além do câncer de colo de útero e de pênis, o HPV está associado a cânceres de ânus e de orofaringe. O vírus tem uma prevalência mundial estimada em 11,7% e a faixa etária de maior prevalência é nos menores de 25 anos. Por ser uma doença na maioria das vezes assintomática e com remissão espontânea em até dois anos, muitas pessoas ignoram ter o problema e o transmitem a seus parceiros.

Consulta

Educação sexual é um dos assuntos tratados na consulta de um adolescente do sexo masculino com o urologista.

De acordo com a SBU, a consulta ao médico na idade dos 12 aos 18 anos é importante para avaliação de vários quesitos, entre eles, o desenvolvimento físico e a nutrição, condições gerais de saúde, noções sobre a higiene correta do corpo e dos órgãos genitais, identificação e medidas preventivas para o desenvolvimento de doenças futuras como os fatores hereditários e comportamentais, exame testicular e orientações sobre o autoexame para detecção de anormalidades como varicocele (veias dilatadas nos testículos que podem levar à infertilidade), hérnias, testículos mal descidos e tumores no órgão (cuja idade de maior risco começa por volta dos 14 a 15 anos).

Além desses temas, são abordadas orientações sobre ISTs, paternidade responsável e prevenção de gravidez indesejada, uso correto do preservativo, fimose, excesso de pele no pênis, dúvidas sobre sexualidade e desenvolvimento genital, avaliação da caderneta de vacinação, orientações a respeito do início da vida sexual, entre outros assuntos.

A Universidade de São Paulo (USP) está com inscrições abertas, até 29 de maio, para o curso gratuito de astronomia para meninas cis e trans entre 14 e 17 anos. A iniciativa faz parte do Projeto Astrominas, que incentiva o acesso de meninas na área científica e é organizado pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

Para participar do projeto, as estudantes devem estar matriculadas em escolas da educação básica. A seleção das candidatas será por meio de sorteio, previsto para 3 de junho. Ao todo, o Projeto Astrominas disponibiliza 400 vagas para a formação. Desse total, 20% são destinadas a estudantes pretas, pardas e indígenas, 60% para oriundas de escolas públicas e 20% matriculadas em escolas privadas.

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A terceira edição do projeto se realizará durante três semanas, entre os dias 2 e 22 de julho. As aulas contarão com as disciplinas de Astronomia, Ciências Atmosféricas, Geofísica, Geociências, Física, Oceanografia, Astrobiologia, Matemática e Ciências Humanas.

Além da parte teórica, as adolescentes participarão de experimentos, elaboração de murais, debates, entre outras ações.No decorrer da formação, as alunas deverão reservar até quatro horas diárias para a realização de atividades, que podem ser feitas de maneira remota.

A diferença do desempenho de meninas e meninos em matemática, na educação básica, diminuiu, segundo revela relatório da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), divulgado esta semana.

Ele analisa as diferenças de gênero em 120 países, entre eles, o Brasil. Segundo a publicação, a disparidade caiu nos últimos 20 anos, mesmo em países mais pobres e, em alguns locais, as meninas superaram os meninos nesta área. 

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Este o caso, por exemplo, da Malásia, onde a diferença é a favor das meninas em matemática: 7%. No Camboja, essa diferença é de 3%, é 1,7% no Congo e 1,4% nas Filipinas.

A publicação Deepening the debate on those still left behind, em português, Aprofundando o debate sobre os que ainda ficam para trás, é um documento de gênero anual da Unesco que analisou dados do ensino fundamental e médio, tanto de desempenho, quanto de permanência na escola. 

"Nos últimos 20 anos, avanços gigantescos foram feitos na educação de meninas e mulheres. Hoje, praticamente tanto meninas quanto meninos podem ter acesso à aprendizagem e completar os estudos – a diferença entre os gêneros é agora inferior a 1%", afirmou, no relatório, a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay. 

Em relação à matemática, os dados mostram que, nos primeiros anos do ensino fundamental, os meninos têm um desempenho melhor do que as meninas, mas essa diferença de gênero desaparece ao longo do percurso escolar.

Mesmo com a redução das disparidades, os resultados mostram que preconceitos e estereótipos ainda podem afetar os resultados da aprendizagem. Os meninos ainda têm muito mais probabilidade que as meninas de estarem entre os melhores desempenhos em matemática em todos os países. 

Outra área que evidencia desigualdades é ciências. Em países de renda média e alta, as meninas têm notas significativamente mais altas em ciências, mas elas ainda são menos propensas a optar por carreiras científicas, indicando, de acordo com a publicação, que os preconceitos de gênero ainda podem ser obstáculos para a busca de educação adicional nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. 

"De fato, para que todos os alunos sejam iguais, os atores da educação devem colocar a igualdade de gênero no centro de suas ações", ressaltou Audrey.  

Em leitura, o desempenho das meninas é superior em relação à matemática e ciências. Além disso, mais meninas atingem proficiência mínima em leitura do que meninos.

A maior lacuna na educação primária está na Arábia Saudita. Enquanto 77% das meninas atingem proficiência mínima em leitura na 4ª série, esse número é de 51% entre os meninos. Na Tailândia, as meninas superam os meninos em leitura em 18%, na República Dominicana em 11% e no Marrocos, em 10%.

Mesmo em países onde meninas e meninos estão no mesmo nível de leitura nas séries iniciais, como na Lituânia e na Noruega, a diferença em favor das meninas aumenta para cerca de 15% aos 15 anos.

O relatório apontou ainda violência de gênero, gravidez e casamento precoces como motivos para mulheres abandonarem ou atrasarem os estudos. Cerca de uma a cada cinco adolescentes na Nigéria e 10% das adolescentes em Serra Leoa estão afastadas da educação por conta de casamentos ou gravidez precoces. 

A pandemia de covid-19 pode também agravar as desigualdades. "Meninos e meninas não enfrentaram as mesmas consequências em todos os países em termos de acesso e uso de dispositivos e riscos de gravidez precoce", destacou o levantamento. 

Segundo ele alguns pais ou responsáveis em Bangladesh, Jordânia e Paquistão estavam relutantes em dar às meninas acesso a smartphones. Além disso, pesquisas por telefone com jovens de 19 anos durante a pandemia mostraram que, enquanto 70% das mulheres jovens na Etiópia passaram a dedicar mais tempo a tarefas domésticas, entre os homens esse percentual era 35%. No Peru, 42% das mulheres adolescentes passaram dedicar mais tempo ao cuidado de crianças, enquanto entre as mulheres e entre os homens jovens esse percentual foi 26%. 

Para a Unesco, o combate às desigualdades de gênero deve ser feito considerando os diversos dados disponíveis e envolvendo diversos atores sociais, como políticos, pais, comunidades, empresas e líderes religiosos.

"A reforma da igualdade de gênero na educação não pode ser feita apenas pelo governo sozinho, ela requer a atenção de todos os atores", assinalou a organização. 

Dezenas de mulheres e meninas se manifestaram, neste sábado, em Cabul, sob a palavra de ordem "abram as escolas" para protestar contra a decisão dos talibãs de fechar os institutos secundaristas horas depois de terem aberto esses colégios.

Em 23 de março, milhares de meninas chegaram alegres às escolas secundaristas no dia em que o Ministério da Educação estabeleceu para a retomada das aulas.

Porém, algumas horas depois, as autoridades anunciaram que reverteram a decisão, pela qual as jovens disseram se sentir traídas, o que gerou indignação dos governos estrangeiros.

"Abram as escolas!", gritaram as manifestantes, algumas delas portavam seus livros de aula.

Muitas levavam cartazes com a mensagem "A educação é nosso direito fundamental, não é um plano político", antes de se dispersarem após a chegada dos talibãs ao local.

Os talibãs não explicaram sua decisão, que se produziu após uma reunião de altos quadros na cidade de Kandahar, no sul do país, que é a capital de fato e o centro espiritual para esse grupo islâmico radical.

O plano de abrir as escolas para as mulheres foi produzido após meses de trabalho com governos estrangeiros para apoiar o pagamento dos professores.

As meninas e adolescentes afegãs estão sem acesso à educação há sete meses.

Desde seu retorno ao poder, em 15 de agosto, os talibãs reverteram décadas de avanços nos direitos das mulheres, que foram afastadas de muitos trabalhos no governo, impedidas de viajar sozinhas e obrigadas a seguir um código de vestimenta de acordo com uma interpretação rigorosa do Alcorão.

Meninas do ensino médio estão em casa em quase todos os lugares do Afeganistão, proibidas de assistir às aulas pelo Taleban. Mas há uma grande exceção. Durante semanas, as garotas da Província de Herat voltaram às salas de aula - fruto de um esforço único e coordenado de professores e pais para persuadir os administradores locais a permitir a reabertura. Fadieh Ismailzadeh, uma jovem de 14 anos, disse que chorou de felicidade com a notícia. "Havíamos perdido as esperanças de que as escolas fossem reabertas."

Funcionários do Taleban nunca aprovaram formalmente a retomada das aulas após a campanha, mas também não a impediram quando professores e pais começaram as aulas por conta própria, no início de outubro. "Pais, alunos e professores se uniram para fazer isso", disse Mohamed Saber Meshaal, chefe do sindicato de professores de Herat, que ajudou a organizar a campanha. "Este é o único lugar onde ativistas comunitários e professores correram o risco de conversar com o Taleban."

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O sucesso em Herat destaca uma diferença significativa no atual governo do Taleban em relação ao anterior, no final da década de 1990. Naquela época, os militantes eram intransigentes em sua ideologia linha-dura, banindo as mulheres da vida pública e do trabalho e proibindo todas as meninas de estudar. Eles usaram a força e as punições brutais para fazer cumprir as regras.

Mudança

Desta vez, eles parecem reconhecer que não podem ser tão cruéis em um Afeganistão que mudou drasticamente nos últimos 20 anos. Eles impuseram algumas regras antigas, mas foram ambíguos sobre o que é permitido e o que não é. A ambiguidade pode ter como objetivo evitar a alienação do público, enquanto o Taleban luta contra um colapso econômico quase total, a paralisação do financiamento internacional, o aumento alarmante da fome e uma insurgência perigosa de militantes do Estado Islâmico. Isso deixou pequenas margens onde os afegãos podem avançar.

Quando o Taleban tomou o poder, em agosto, a maioria das escolas foi fechada em razão da covid-19. Sob forte pressão internacional, o Taleban logo reabriu escolas para meninas da 1.ª à 6.ª séries, assim como para meninos em todos os níveis.

No entanto, eles não permitiram que as meninas do ensino médio voltassem, dizendo que, primeiro, eles devem garantir que as aulas sejam ministradas de "maneira islâmica". Quando os professores e pais de Herat pediram a reabertura, os funcionários do Taleban hesitaram, alegando que precisavam de uma autorização do governo em Cabul.

Em outubro, os professores sentiram que tinham o acordo tácito do Taleban de não atrapalhar. Os professores começaram a espalhar a notícia em páginas do Facebook e aplicativos de mensagens, anunciando que as escolas de ensino médio para meninas reabririam em 3 de outubro.

Resistência

Nem todas as alunas apareceram quando as escolas reabriram em Tajrobawai. Mas, à medida que os pais ficavam mais confiantes, as salas de aula foram preenchidas após alguns dias. Meshaal destaca que houve mudanças no Taleban e algumas facções são mais abertas. "Eles entendem que as pessoas resistirão na questão da educação."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Malala Yousafzai, que foi baleada pelos talibãs paquistaneses quando era estudante, pediu aos novos governantes do Afeganistão que permitam que as meninas voltem para a escola.

Há um mês, os talibãs, que retomaram o poder em agosto no país, proibiram as alunas de retomarem o ensino médio, enquanto os meninos foram autorizados a voltar às aulas.

Os talibãs disseram que vão permitir o retorno das meninas, depois de garantirem a segurança e a segregação estrita, conforme sua ultraconservadora interpretação da lei islâmica. Muitos duvidam, no entanto, de uma mudança de posição.

"Para as autoridades talibãs (...) revoguem a proibição, de facto, da educação de meninas e reabram imediatamente as escolas de ensino médio para elas", convocaram Malala e várias ativistas afegãs pelos direitos das mulheres, em uma carta aberta divulgada no domingo (17).

Malala pediu aos líderes das nações muçulmanas que deixem claro para os talibãs que "a religião não justifica impedir que as meninas frequentem a escola".

"O Afeganistão é agora o único país do mundo que proíbe a educação de meninas", disseram as signatárias, entre elas, Shaharzad Akbar, chefe da Comissão de Direitos Humanos afegã do último governo apoiado pelos Estados Unidos.

Elas também pediram aos líderes mundiais do G20 que forneçam fundos urgentes para um plano educacional para as crianças afegãs.

Malala Yousafzai foi baleada por militantes do Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), o irmão ideológico do Talibã afegão, em sua cidade natal, no Vale do Swat, quando estava em um ônibus escolar, em 2012.

Agora, com 24 anos, ela defende a educação das meninas. Seu Fundo Malala, uma organização sem fins lucrativos, já investiu US$ 2 milhões no Afeganistão.

As meninas voltaram para algumas escolas de ensino médio da província de Kunduz, no norte do Afeganistão, anunciou nesta terça-feira (5) um líder talibã, mas esta medida não se aplica ao resto do país.

Um vídeo publicado por Suhail Shaheen, porta-voz do Talibã, mostra dezenas de meninas que voltaram para a escola em Khan Abad, uma cidade e um distrito da província de Kunduz.

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A maioria delas usa o tradicional uniforme escolar: uma longa túnica preta e um véu branco, enquanto outras vestem um niqab preto que cobre todo o rosto, exceto os olhos. Estão sentadas em bancos e balançam bandeiras talibãs.

"As meninas vão à escola no ensino médio em Khan Abad", escreveu Shaheen, designado pelo Talibã como seu representante permanente nas Nações Unidas.

Já em Cabul, Mohamad Abid, um funcionário do ministério da Educação, explicou à AFP que as regras não mudaram. "As escolas de ensino médio permanecem fechadas para as meninas", declarou.

Em meados de setembro, as escolas de ensino médio afegãs voltaram a abrir, mas apenas para os meninos. As meninas já estão autorizadas a irem às escolas de ensino fundamental e às universidades privadas, contando com que não sejam aulas mistas e com a condição de que estejam com a cabeça totalmente coberta.

Alguns dias após a reabertura das escolas de ensino médio (para os meninos), o porta-voz do governo Talibã, Zabihullah Mujahid, afirmou que as meninias retornariam às aulas "o mais breve possível".

O governo deseja oferecer às meninas um "ambiente educativo seguro", de acordo com a interpretação rígida da 'sharia' pelos talibãs, que prevê que as aulas não sejam mistas, explicou.

A ausência das meninas nas escolas de ensino médio gerou indignação na comunidade internacional, que teme que o Talibã imponha o mesmo tipo de governo fundamentalista e brutal quando estava no poder entre 1996 e 2001.

Naquela época, as mulheres eram excluídas da vida pública e, com pouquíssimas exceções, não eram autorizadas a estudar nem trabalhar.

No novo governo, os talibãs também pediram para as mulheres que fiquem em casa e não voltem a trabalhar por enquanto, alegando motivos de segurança. Eles afirmam que elas poderão voltar a trabalhar depois, mas separadas dos homens.

Embora desde que retornaram ao poder em meados de agosto os talibãs tentem tranquilizar a população afegã e a comunidade internacional afirmando que serão menos rígidos que no passado, suas promessas são difíceis de acreditar.

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