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Cinco anos depois de acender a chama do movimento MeToo, a atriz americana Alyssa Milano diz que se sente orgulhosa de ver as mulheres se recusarem a "ser silenciadas".

"Muita coisa mudou", afirmou, em entrevista à AFP, lembrando seu famoso tuíte de 15 de outubro de 2017, quando pediu às mulheres que compartilhassem seus traumas de assédio sexual sob a hashtag #MeToo.

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A atriz, de 49 anos, que se tornou popular com programas como "Who's the Boss?" e "Charmed", admitiu que foi vítima de uma agressão sexual durante uma filmagem na década de 1990.

"O mais evidente é que nos recusamos a ser silenciados e unimos nossas vozes", explicou ela em Cannes, onde participou do festival de programas de televisão Mipcom.

Milano considerou positivas as novas leis nos Estados Unidos contra a discriminação de gênero e o assédio, assim como a criação de "coordenadores de intimidade" para ensaiar cenas de conteúdo sexual nos filmes.

"Para mim, não fazia sentido o fato de que, se houvesse um animal no 'set', fosse obrigatória a presença de um representante da Humane Society (organização de proteção aos animais), enquanto os atores têm de enfrentar situações de vulnerabilidade, não apenas as cenas de amor", sem ajuda, disse Alyssa.

Para ela, a recente decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que devolveu aos estados o poder sobre o direito ao aborto, é uma reação a esses movimentos pela emancipação das mulheres.

"Igualdade e equidade são aterrorizantes para muitos homens brancos no poder", denunciou.

"Tirar nossa autonomia é o caso mais extremo das tentativas de impedir nossa evolução e crescimento", explicou.

Alyssa Milano disse confiar muito nas novas gerações.

"Tenho grandes esperanças", afirmou, referindo-se às novas gerações "que não se contentam apenas em aprender que as meninas podem fazer as mesmas coisas que os meninos, mas que também vivem isso realmente".

O surgimento do #MeToo nos Estados Unidos desencadeou um movimento global que inspirou muitas mulheres a perder o medo de falar em público sobre violência sexual em seus respectivos países.

Confira a seguir alguns exemplos de como o MeToo se espalhou por todo o mundo com repercussões diversas:

- Suécia

Neste país, na vanguarda da igualdade entre homens e mulheres, o #MeToo sacudiu inclusive a respeitada academia sueca que concede o Nobel.

O Nobel de Literatura foi adiado por um ano depois da acusação, em 2017, de estupro e agressão sexual feita por 18 mulheres contra o francês Jean Claude Arnault, marido de uma acadêmica.

Desde julho de 2018, uma lei sobre o consentimento sexual considera estupro qualquer ato sexual sem consentimento expresso.

Esta lei pioneira deu lugar a um aumento importante das acusações e condenações por estupro, segundo as estatísticas nacionais.

- Espanha

Em 2018, a condenação por simples "abuso sexual" de cinco autores de um estupro coletivo em Pamplona, que filmaram a agressão e se vangloriaram online, levou às ruas dezenas de milhares de espanholas, gritando "Yo te creo hermana" (Acredito em você, irmã).

Os testemunhos com a hashtag #Cuéntalo (Conte o ocorrido) proliferam desde então nas redes sociais.

Em 2019, o Supremo tribunal reclassificou os atos de um "estupro em grupo" e aumentou as sentenças a 15 anos de prisão.

Em agosto de 2022, a Espanha incorporou em seu Código Penal a obrigação do consentimento sexual explícito.

- África do Sul

No verão de 2019, uma onda de indignação #AmINext (Sou a próxima?) agitou as redes depois do estupro seguido do homicídio de uma estudante em uma agência dos correios na Cidade do Cabo.

A luta contra a violência sexual foi declarada prioridade nacional neste país, onde uma mulher é morta a cada três horas e são registradas diariamente 110 denúncias de estupro.

- Tunísia

#EnaZeda ("Eu também") aparece em 2019 depois do vídeo de uma jovem que mostra o ex-deputado Zuhair Makhluf masturbando-se em seu carro. O deputado foi condenado a um ano de prisão.

A palavra-chave #EnaZeda provocou uma onda inédita de testemunhos de vítimas de assédio e agressões sexuais.

A ONG Aswat Nissa ("A Voz das Mulheres") difundiu no Facebook histórias anônimas e com o rosto descoberto. O ritmo dos testemunhos se acelera a cada agressão denunciada publicamente.

O movimento "impulsionou as mulheres a se atrever a falar e se defender e reduziu a tolerância com o assédio sexual", afirmou a ONG em 2021. Mas "não mudou realmente o olhar dos homens sobre o assédio e muito menos o olhar social sobre a sexualidade", afirmou.

- Israel

A revolução #MeToo abalou a comunidade hermética dos ultraortodoxos, em que associações como "Lo Tishtok" ("Não te calarás") dão voz às vítimas.

No fim de dezembro de 2021, Chaim Walder, escritor de sucesso e "ícono" ultraortodoxo, suicidou-se após acusações - que ele negou - de crimes sexuais contra cerca de 20 pessoas, entre elas crianças.

Anteriormente, outro nome do mundo ortodoxo, Yehuda Meshi Zahav, foi acusado de agressão sexual e estupro de adultos e menores. Ele morreu em junho após ter passado um ano em coma, depois de uma tentativa de suicídio.

- Irã

Em 2020, ao menos 20 mulheres acusaram um livreiro de Teerã de drogá-las e violentá-las, desencadeando uma onda de testemunhos sob a palavra-chave #tadjavoz ("estupro").

A vice-presidente de Assuntos da Mulher e da Família incentivou as mulheres a denunciar estes crimes.

Novas acusações estão aparecendo no Twitter, que afetam acadêmicos e artistas.

Em julho de 2022, o livreiro foi condenado à morte por crime de "corrupção na Terra".

- Chile

O coletivo LasTesis, criado por quatro mulheres de 34 anos, ficou conhecido durante as manifestações sociais de outubro, em 2019, graças a uma música e uma coreografia que viralizaram.

Seu hino, que proclama: "No fue culpa mía, ni dónde estuve ni cómo me vestí... el violador eres tú" (Não foi culpa minha, nem de onde estava, nem como estava vestida, o estuprador é você) correu o mundo, cantado por mulheres em Paris, Barcelona, Bogotá, México, Nova York, Rio de Janeiro e outras cidades.

Em 2020, a revista Time incluiu o LasTesis em uma lista das 100 pessoas mais influentes do mundo.

- Índia

No âmbito do #MeToo, J.J Akbar, ex-chefe de redação que se tornou ministro, foi acusado de assédio sexual por uma jornalista, Priya Ramani, a quem se uniram em seguida outras colegas no Twitter.

Forçado a se demitir, Akbar perdeu a ação por difamação em 2021.

Dezenas de homens foram pressionados a pedir demissão no jornalismo, na política, no teatro, no cinema e inclusive no críquete.

Desde então, o movimento estagnou sem conseguir mudar as regras em um país conhecido pela violência sexual e a raridade das condenações.

- Coreia do Sul

Em janeiro de 2018, a promotora Seo Ji Hyeon relatou na TV os entraves profissionais que encontrou ao denunciar o assédio sexual cometido por um superior.

Esta entrevista abriu as portas para numerosos testemunhos dirigidos a políticos, cineastas e escritores.

No mesmo ano, as mulheres protestaram todos os meses contra o "molka", um modismo voyerista que consiste em filmar as mulheres sem seu consentimento na rua, em banheiros públicos ou no escritório e divulgar as imagens roubadas.

Mas se seu presidente anterior, Moon Jae In, era sensível às revindicações feministas, seu sucessor, Yoon Suk Yeol, foi eleito em maio de 2022, sobretudo pela promessa de fechar o ministério de Igualdade de Gênero.

O movimento #MeToo levou muitas mulheres no mundo a reagir à violência sexista e às agressões sexuais. Seguem alguns depoimentos ouvidos pela AFP.

"Revelar meu segredo"

"Nunca imaginei que um dia explicaria minha história e revelaria meu segredo, mas depois de ter lido tantos depoimentos de mulheres vítimas de agressões sexuais, me motivei a dar este passo" explicou à AFP "L", tunisiana de 26 anos, agredida na infância.

"É como se tivesse desbloqueado algo em meu interior. Me motivou a mudar de vida, a ser feliz. Me tornei mais forte, já não quero ser a pessoa passiva que tem medo de tudo", afirmou.

Seus pais se opuseram fortemente à apresentação da denúncia por temer que sua filha fosse rejeitada "em uma sociedade infelizmente muito conservadora".

"L." decidiu falar em alto bom som o que aconteceu com ela. "Comecei com meus pais, minhas irmãs, minhas tias, minhas primas. Tentei fazê-los compreender que ter uma vítima de estupro (na família) não é nenhuma vergonha".

"Reavaliar meus anos de juventude"

"Fiz um estágio com um congressista nos anos 2000", explica à AFP Louise (seu nome foi alterado a seu pedido), uma americana de 36 anos.

Rapidamente um membro da equipe a convidou para jantar, ela recusou. Por anos, mantiveram uma relação de amizade, mas o homem costumava "fazer comentários inoportunos".

"Não dava importância, sempre encontrava desculpas", explicou.

Esse funcionário acabou sendo denunciado publicamente com a eclosão do movimento #MeToo. "Não me surpreendeu realmente", afirma esta americana, acrescentando que o episódio lhe deu a oportunidade de "reavaliar meus anos de juventude".

"Esta experiência me abriu os olhos. Eu estava tão acostumada aos comentários inapropriados dos homens que os dele pareciam normais".

"Atualmente trabalho em Washington, é difícil para mim entender a maneira como a mulheres são tratadas", explica. "Tenho a impressão que muitos pensam que podem fazer o que querem porque têm poder".

"Me deu forças para denunciá-lo"

Gabriela Ortiz, de 26 anos, foi agredida sexualmente no ano passado por um amigo de seu companheiro, com a cumplicidade dele, durante uma tarde no México.

O movimento #MeToo lhe deu forças para denunciá-los. "Começaram a surgir muitas denúncias e então compreendi que, ainda que possa parecer um clichê, não estamos sozinhas", disse à AFP.

Funcionária de uma empresa de serviços financeiros, Gabriela decidiu também denunciar seus agressores nas redes sociais.

"Mostrar que podemos falar sobre isso"

"Antes do #MeToo não era possível falar sobre estupros", explica à AFP Nazreen Ally, de 43 anos, moradora de Durban, na África do Sul.

Chefe de uma empresa de segurança, Ally foi estuprada aos 13 anos e relatou sua experiência no início do movimento.

"Quando comecei a falar, muitas mulheres dividiram suas histórias comigo e percebi que outras mulheres também sofriam em silêncio", descreve.

"Comecei a me abrir progressivamente sobre o tema, para demonstrar às mulheres que também poderiam fazê-lo".

"Aplicar os princípios feministas"

"Dentro de mim, me sentia feminista, mas não me atrevia a aplicar" essa ideologia, explicou à AFP Karine Zerbola, de 49 anos, gerente de um bar em Annecy, França.

Zerbola afirma que já não admite piadas sexistas.

O movimento #MeToo "me confirmou que os comportamentos de alguns homens foi durante muito tempo desrespeitoso e que isso não era normal", explica.

Essa reflexão a levou a "prestar muita atenção" à "paridade", diz.

"Contrato o mesmo número de homens e mulheres e todo mundo faz o mesmo trabalho", explicou.

O ex-produtor de cinema americano Harvey Weinstein, cujo abuso de mulheres desencadeou o movimento #MeToo em 2017, será acusado de agressão sexual no Reino Unido, anunciaram promotores britânicos nesta quarta-feira (8).

Weinstein, 70, um poderoso ex-produtor de Hollywood, é acusado de duas agressões sexuais a uma mulher em Londres em 1996, disse o Crown Prosecution Service (CPS).

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Os crimes teriam ocorrido entre 31 de julho e 31 de agosto daquele ano, informou a polícia, especificando que a suposta vítima tem agora cerca de 50 anos.

Em fevereiro de 2020, Weinstein foi condenado nos Estados Unidos por estupro e agressão sexual e sentenciado a 23 anos de prisão, em um veredicto histórico para o movimento #MeToo.

Na semana passada, perdeu em sua tentativa de que um tribunal de apelação de Nova York anulasse a condenação.

Weisntein, que foi um dos homens mais poderosos da indústria de Hollywood, aguarda ser julgado por outras acusações de agressão sexual na Califórnia.

Quase 90 mulheres, entre elas as atrizes americanas Uma Thurman, Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow e a mexicana Salma Hayek, acusaram Weinstein de assédio e agressão sexual, desde que surgiu o caso em 2017.

O produtor de filmes como "Pulp Fiction" (1994), "Shakeaspeare Apaixonado" (1998) e "Kill Bill" (2003) sempre defendeu que todos os seus encontros sexuais foram consentidos.

À medida que chegavam mais acusações nos Estados Unidos, a polícia britânica anunciou que também estava investigando uma série de denúncias de agressão sexual contra Weinstein no Reino Unido.

O CPS lida com casos criminais na Inglaterra e no País de Gales e autoriza a polícia a apresentar acusações após avaliar um caso contra um suspeito.

A chefe da divisão de crimes especiais do CPS, Rosemary Ainslie, disse que as acusações contra o ex-produtor americano são produzidas como resultado de "uma análise das provas" coletadas pela Scotland Yard.

O movimento #MeToo contra o assédio sexual está finalmente reformulando a cultura política sexista na França, onde dois candidatos nas eleições legislativas de junho foram forçados a se retirar por acusações ou condenações de violência contra mulheres.

Embora no espaço de 10 dias dois candidatos tenham renunciado, em plena pressão da mídia, especialistas e ativistas consideram que ainda há um longo caminho a percorrer em um país onde o escândalo Dominique Strauss-Kahn (DSK) estourou há uma década.

Na semana passada, Taha Bouhafs, de 25 anos, militante da esquerda radical, anunciou a retirada de sua candidatura a deputado, pouco antes de uma investigação interna de seu partido, França Insubmissa, sobre supostas agressões sexuais a mulheres, ser tornada pública.

Jérôme Peyrat, de 59, também renunciou na quarta-feira pelo partido centrista do presidente Emmanuel Macron, por uma condenação de setembro de 2020 a uma multa de 3.000 euros em um caso de violência conjugal.

Embora ambos os casos tenham provocado reações indignadas, especialmente nas redes sociais, de feministas e políticos da oposição, Peyrat, ex-assessor dos ex-presidentes Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e Macron, recebeu o apoio de seu partido até a reta final.

O líder do partido de Macron, Stanislas Guerini, gerou, inclusive, indignação ao minimizar a condenação. Peyrat "é um homem honesto, não acho que seja capaz de exercer violência contra as mulheres", disse à rádio FranceInfo.

"A cobertura da mídia da violência sexista e sexual evoluiu nos últimos anos a favor das mulheres", estima Mérabba Benchikh, doutora em Sociologia, que destaca "maior visibilidade de algumas denúncias contra eleitos, candidatos ou dirigentes políticos".

Para a especialista, "o surgimento e uso - facilitado e excessivo - das redes sociais são um elemento de primeira leitura", assim como a "quarta onda feminista que tem trabalhado para denunciar atos de violência contra as mulheres", como o MeToo.

- Precedente DSK -

Em dez anos, as reações aos escândalos de supostos estupros, agressões ou assédio sexual por políticos mudaram.

Em 2011, DSK, o então diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) e favorito para concorrer nas eleições presidenciais de 2012, foi preso em Nova York acusado de estupro. Seu partido socialista o defendeu abertamente. Mas desde então, a atitude mudou.

Personalidades como o ex-ministro de Transição Ecológica de Macron, Nicolas Hulot, acabaram se aposentando da vida pública após acusações de estupro ou assédio sexual.

Mas não é uma regra. O presidente centrista nomeou Gérald Darmanin ministro do Interior em 2020, apesar de ele enfrentar uma queixa por estupro. A Promotoria pediu em janeiro que o caso fosse arquivado.

Quase 300 mulheres de círculos políticos e universitários pediram em novembro passado o "afastamento dos autores de agressões sexuais e sexistas".

Certos grupos feministas também pedem que os políticos acusados sejam afastados enquanto a investigação durar, até o veredito.

O chefe de Estado centrista descarta a opção, alegando o princípio da presunção de inocência.

Embora Alice Coffin, feminista e assessora ecológica em Paris, considere que a situação mudou no que diz respeito à lei do silêncio na época do DSK, ressalta que um "contexto em que as coisas se resolvem" também não foi alcançado.

"Normalmente, deveria haver ação imediata. Estamos em algum lugar no meio", acrescenta.

Nessa linha, Fiona Texeire, cofundadora de um observatório sobre agressão sexual na política, considera que “a verdadeira vitória virá quando os partidos não investirem mais em ninguém acusado de sexismo ou violência sexual”.

Para Benchikh, apesar de várias organizações políticas terem criado "unidades de escuta e de denúncias", ainda há divergências quanto às ações.

"O campo político francês, por natureza androcêntrico e sexista, há muito exclui as mulheres", avalia a especialista, que destaca a ruptura com essas relações de dominação, embora esteja em sua "fase inicial".

Gionaira teve um colapso nervoso quando começou a ver centenas de denúncias de violência sexual na Venezuela que inundaram as redes sociais como eco do movimento mundial #MeToo.

"Me senti muito identificada, passei por um colapso nervoso, tive que buscar ajuda psicológica", conta à AFP Gionaira Chávez, estuprada aos 15 anos.

"Já era hora de levantar a minha voz", disse 13 anos depois esta estilista ao ler as denúncias de abuso e assédio sexual que começaram a circular em meados de abril e que atingiram grupos teatrais, bandas musicais e até o aclamado Sistema de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela.

Seu agressor era 10 anos mais velho. "Insistiu em me levar para casa" no final de um encontro em Caracas, lembra ela com a voz baixa e o olhar retraído. "Quando estávamos na altura do centro (...), essa pessoa... este... ele... me estuprou no carro. Depois me deixou em casa e nunca mais soube dele".

A onda de denúncias "me ajudou (...) a enxergar isso como um pesadelo que já passou e simplesmente seguir com a minha vida", afirma Gionaira.

O abuso sexual "está normalizado" em uma sociedade conservadora e patriarcal como a Venezuela, diz Abel Saraiba, coordenador da Cecodap, ONG de defesa dos direitos de crianças e adolescentes.

A violência sexual "está longe de estar contida ou em redução, pelo contrário, está aumentando", alerta.

Os dados oficiais são escassos, praticamente inexistentes, embora o procurador-geral Tarek William Saab relate que desde que assumiu o cargo em agosto de 2017 foram apresentadas na Venezuela 8.450 denúncias por crimes sexuais e 1.676 ordens de prisão.

Em apoio às vítimas surgiu o movimento #YoSíTeCreo, semelhante ao globalizado #MeToo que derrubou ídolos da indústria do entretenimento nos Estados Unidos.

O "Yo Te Creo Venezuela", movimento surgido paralelamente, recebeu mais de 600 denúncias de violência sexual.

- "Tirar minha virgindade" -

Carmela Pérez fez uma das primeiras denúncias. Foi uma das supostas vítimas de Alejandro Sojo, vocalista da banda de pop rock venezuelana Los Colores, acusado de ter abusado de menores de idade.

Ela tinha 15 anos e ele 23 quando começaram a sair.

Seus encontros se tornaram sombrios, conta Carmela, hoje com 20 anos. "Ele queria tirar minha virgindade e eu não queria", relata. "Foi tão insistente que eu disse a ele que estava menstruada. Essa foi a única forma de pará-lo".

As acusações de abuso vinculadas a Sojo são mais de 30, segundo o Yo Te Creo Venezuela.

A violência sexual neste país é penalizada com até 12 anos de prisão se houver "abuso de autoridade, de confiança ou das relações domésticas", estabelece o Código Penal.

Mas Ariana González, do Yo Te Creo Venezuela, alerta que muitos casos não chegam às denúncias formais devido à desconfiança na Justiça.

"A grande maioria das vítimas não quer que seu abusador seja preso, quer que alguém acredite nelas", diz outra ativista, Andrea Hernández.

Gionaira, hoje casada e com uma filha de três anos, denunciou: "Sei que não terei justiça (...) mas me dá um pouco de alívio pensar que posso evitar um futuro abuso".

"Não vou me calar": no Kuwait, as mulheres desafiam o conservadorismo da sociedade e a cultura da vergonha para denunciar pela primeira vez o assédio sexual, em uma campanha online lançada por uma famosa blogueira de moda.

Neste país do Golfo rico em petróleo, dezenas de relatos de mulheres assediadas ou agredidas invadiram a conta no Instagram recentemente criada "Lan Asket" ("Não vou me calar").

A blogueira e ex-modelo Ascia Al Faraj, que tem mais de 2,5 milhões de seguidores na rede social, foi a primeira a lançar a campanha com um vídeo explosivo na semana passada.

"Toda vez que eu saio, tem alguém me assediando ou assediando outra mulher na rua", comentou, emocionada, em imagens gravadas depois que um veículo acelerou para "assustá-la" enquanto caminhava até seu carro. "Temos um problema de assédio neste país e estou farta!", gritou.

O vídeo de Ascia Al Faraj desencadeou um movimento nacional em um país até então pouco afetado pela campanha #MeToo, nascida nos Estados Unidos em 2017 e que provocou um tsunami global.

Ativistas, advogadas e estudantes universitárias foram recebidas em programas de rádio e televisão para discutir a questão do assédio.

A embaixada dos Estados Unidos no Kuwait apoiou a campanha e até compartilhou seu emblema: um desenho que retrata três mulheres, uma sem véu, uma usando um hijab e outra com o rosto coberto, com o lema "Não a assedie".

- Inaceitável -

Shayma Shamo, médica de 27 anos - que estudou no exterior e voltou ao Kuwait no ano passado - lançou a plataforma "Lan Asket" após assistir ao vídeo de Ascia Al Faraj.

"Assim que abri a conta, começaram a chegar mensagens de mulheres e meninas que haviam sofrido assédio verbal, físico e sexual", explicou à AFP.

O Kuwait tem uma lei contra o assédio, mas a questão da violência de gênero continua tabu.

Em outro vídeo, Ascia Al Faraj revelou ter recebido "histórias intensas" de imigrantes indianas, paquistanesas e filipinas que trabalhavam no Kuwait.

"As expatriadas aqui são incrivelmente vulneráveis e assediadas em um nível que as mulheres do Kuwait nem imaginam", comentou.

Segundo as ONGs, as mulheres imigrantes, que constituem grande parte da população do rico Estado do Golfo, estão entre as mais vulneráveis, pois muitas delas trabalham em ocupações subordinadas.

Para Rothna Begum, pesquisadora da Human Rights Watch, as mulheres são colocadas em posição de destaque nas poucas ações da polícia. E a vergonha de ligar sua família a esse tipo de coisa costuma silenciar as mulheres.

"Esses depoimentos publicados são incrivelmente importantes para dar às mulheres do Kuwait uma ideia de como realmente é o assédio e dos terríveis danos que ele causa", disse Rothna Begum à AFP.

A palavra árabe "eib" ("vergonha") é um termo com o qual as mulheres crescem no Oriente Médio.

Ir à delegacia é "eib" e falar sobre assédio é "eib", reclama Shayma Shamo.

Hoje, as mulheres do Kuwait estão superando os limites do conservadorismo em um país que é, sem dúvida, uma exceção no Golfo, devido ao dinamismo de sua sociedade civil.

A atriz Lulu Al Aslawi, uma figura da mídia, revelou que também foi intimidada online por suas fotos de moda.

"As meninas não falam abertamente por medo de serem estigmatizadas", disse ela à AFP. "Mas não vamos parar até que tenhamos superado esse câncer da sociedade".

O ex-produtor de Hollywood Harvey Weinstein fechou acordos totalizando 44 milhões de dólares com supostas vítimas e credores, revelou nesta quinta-feira o Wall Street Journal.

Os acordos, ainda não assinados, buscam deter todas as ações civis iniciadas contra Weinstein, incluindo no Canadá e na Grã-Bretanha.

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Weinstein será julgado criminalmente em setembro por duas acusações de agressão sexual.

O ex-produtor - catalizador do movimento #MeToo - foi acusado por duas mulheres e corre o risco de pegar até prisão perpétua.

Os acordos informados nesta quinta-feira também envolveriam as ações promovidas pelo então procurador-geral de Nova York, Eric Schneiderman, para garantir a indenização das vítimas.

O valor acertado será pago por companhias de seguro, incluindo empresas que atendem a The Weinstein Company, fundada pelo produtor caído em desgraça.

A partir de outubro de 2017, Weinstein - até então um dos homens mais poderosos de Hollywood - foi alvo de uma enxurrada de acusações de assédio sexual, que incluiu atrizes como Ashley Judd, Angelina Jolie e Salma Hayek.

 Na noite da última terça-feira (9) foi realizado o evento Incredible Women (Mulheres Incríveis), promovido pela revista "Porter", que também comemorou a viralização do movimento #MeToo (EuTambém). A atriz de "Aquaman" Amber Heard leu uma carta aberta direcionada para o ex-marido, o ator Johnny Depp, acusado por ela de abuso físico e emocional.

O texto foi originalmente divulgada em 2016 pela revista e de acordo com a atriz o apoio da Porter foi essencial para ela. Antes de ler a carta, Amber falou que a narração era sobre "os momentos mais difíceis e dolorosos" de sua vida. A atriz também dedicou a carta às ‘irmãs silenciadas’, e explicou que na época achava que sua voz era sozinha.

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Emocionada, Heard começou a ler a carta. "Vamos começar com a verdade, nua e crua. Quando uma mulher fala sobre seu sofrimento em público, sobre injustiças, ela será recebida com hostilidade, ceticismo e vergonha, ao invés de ajuda, respeito e suporte. Seus motivos serão questionados e sua verdade será ignorada. Não importa o quão terrível ou aterrorizante seja sobreviver a um trauma, pode ser muito mais fácil em comparação com o que vem depois. Dá para imaginar porque tantas de nós sentimos que temos que ficar quietas ou tentar manter nossa própria segurança para não perder a dignidade. O medo de ser ostracizada pela sociedade é uma das perspectivas mais assustadoras que existe. Mas eu estou aqui para dizer que não há necessidade de fazer essa troca horrível. Não é fácil defender a si mesma e a sua verdade sozinha, mas nosso mundo está mudando. Do lado umas das outras como mulheres, nós compreendemos um exército de vozes e não podemos mais aceitar o silêncio."

A atriz manteve um relacionamento com Johnny Depp de 2012 até 2016, quando pediu o divórcio e logo depois o denunciou por agressão doméstica. O caso foi resolvido fora do âmbito judiciário e todo dinheiro arrecado no acordo por Amber foi doado a instituições que combatem e ajudam vítimas de violência doméstica.

Um golpe para o #MeToo ou um sinal de seu progresso? As denúncias de que uma de suas líderes, a atriz italiana Asia Argento, assediou sexualmente um menor de idade e pagou para não ser processada por isso lançam uma grande interrogação contra o movimento.

Argento foi uma das primeiras acusadoras do ex-produtor de Hollywood Harvey Weinstein, denunciando que ele a estuprou em um hotel durante uma edição do Festival de Cannes, quando ela tinha 21 anos.

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Mas o jornal New York Times revelou neste domingo que Argento aceitou pagar 380.000 dólares ao ator e músico Jimmy Bennett, 20 anos mais jovem que ela, quando este a ameaçou com uma ação judicial por tê-lo agredido sexualmente em 2013 - quando ele tinha 17 anos e ela 37 - em um hotel da Califórnia. A idade mínima do consentimento nesse estado é de 18 anos.

Argento admite o pagamento, mas nega as acusações de abuso sexual.

- "Imperfeitamente humanos" -

As acusações contra Argento lançaram um balde de água fria sobre o #MeToo, já criticado porque destruiu a carreira de homens poderosos após acusações de agressão ou assédio sexual que, na maioria dos casos, não foram verificadas pela justiça.

"As pessoas usarão estas novas informações de imprensa para tentar desacreditar este movimento. Não deixem isso acontecer", pediu após a notícia Tarana Burke, que fundou o movimento #MeToo há uma década.

"Disto se trata o movimento. Não é um esporte de espectadores. É gerado pelas pessoas", afirmou. "E somos imperfeitamente humanos e todos devemos ser responsáveis por nosso comportamento individual".

Para Burke, o #MeToo deve digerir agora "a incômoda realidade de que não há uma só forma de ser um perpetrador".

"A violência sexual é sobre o poder e o privilégio. Isso não muda se o perpetrador é sua atriz, ativista ou professor favorito de qualquer gênero", apontou.

A atriz Rosanna Arquette, outra acusadora de Weinstein, afirmou que sua colega italiana poderia ser ao mesmo tempo vítima e abusadora.

"Conheço muitas, muitas vítimas de estupro e de trauma que têm um comportamento sexual errático. Os estigmas que carregam são profundos", tuitou.

Argento, de 42 anos, afirmou na terça-feira que nunca teve relações sexuais com Bennett, mas admitiu que lhe pagou para ajudá-lo e para evitar "mais intrusões" dele em sua vida, a pedido de seu então namorado, o famoso chef Anthony Bourdain, que se suicidou em junho.

"A única conclusão razoável neste momento é que é possível que duas coisas horríveis sejam verdade ao mesmo tempo", disse Monica Hesse, uma jornalista que opina sobre gênero, no Washington Post.

"Deixem que as histórias sejam complicadas, porque isso não é uma coisa ruim. É a única forma de reconhecer que não há rótulos claros nestes casos, só seres humanos quebrados", escreveu.

- Êxito? -

Para Kara Alaimo, professora de relações públicas da Universidade Hofstra, as denúncias contra Argento não prejudicam o movimento, pelo contrário, são "prova de seu êxito", porque conseguiu fazer com que as vítimas se animem a denunciar seus abusadores poderosos, sejam homens ou mulheres, e porque foi um homem que fez a denúncia, superando os estigmas.

"Esperemos que isto crie um clima no qual homens e mulheres se sintam cômodos denunciando, se são vítimas de abuso sexual", disse Alaimo à AFP.

O advogado de Weinstein, Ben Brafman, criticou "a incrível hipocrisia" de Argento e afirmou que isto demonstra que as acusações contra seu cliente carecem de sustentação.

Mas para Bennett Gershman, professor de direito da Universidade Pace e ex-promotor, as denúncias contra a atriz não terão nenhum impacto no caso Weinstein, porque o produtor está sendo julgado por sua denúncia.

"Isto é claramente irrelevante em termos de evidência. (Argento) não foi testemunha de nada que o promotor estivesse investigando" e portanto não afeta o caso da promotoria contra Weinstein, opinou.

Todos os abusadores devem ser medidos com a mesma vara, disse à AFP Tori Van Pelt, presidente da Organização Nacional de Mulheres dos Estados Unidos.

"O movimento #MeToo é a exposição de abusos e assédios sexuais cometidos por aqueles que estão em posição de poder, e não importa quem são essas pessoas. É um crime", concluiu.

Mas acrescentou que nada muda a denúncia de estupro de Argento por parte de Weinstein. "O que lhe aconteceu, aconteceu, e não importa o que aconteceu depois".

Segundo o New York Times, a atriz italiana Asia Argento fez um acordo financeiro após ser acusada de assédio. A atriz foi uma das primeiras a denunciar Harvey Weinstein e faz parte do movimento #MeToo, para acabar com o assédio em Hollywood.

A acusação foi feita por Jimmy Bennett, ator e músico que atuou com Argento em "Maldito Coração" (2004). O caso teria acontecido há alguns anos, quando o ator ainda era menor de idade e a atriz tinha 37 anos. Ela teria entrado no quarto de hotel de Bennett, dado álcool a ele e feito sexo sem o seu consentimento. O acordo teria o valor de US$ 380 mil.

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Entre os documentos que  integram o processo há uma foto da atriz com o garoto na cama. Como parte do acordo financeiro, Bennett entregou a foto para a atriz, junto com todos os direitos de uso. Os documentos também apontam que o assédio causou problemas emocionais ao ator, que não conseguiu seguir carreira da mesma forma depois do caso, o que também gerou vários problemas financeiros.

Procurada pelo New York Times, Asia Argento não comentou o caso. O advogado de Bennett afirmou que o ator e músico não dará nenhuma entrevista e que ele continuará “focado na música”.

Após a divulgação do caso, a atriz ítalo-americana Rose McGowan se manifestou nas redes sociais: “Eu conheci Asia Argento há 10 meses. O que temos em comum é a dor de ser assediada por Harvey Weinstein. Meu coração está partido. Vou continuar meu trabalho em prol das vítimas em todos os lugares”.

2017 foi marcado por diversas denúncias, que começaram com acusações contra o produtor Harvey Weinstein. Depois disso, vários outros casos vieram à tona, incluindo o de Kevin Spacey, que foi demitido de "House of Cards" (série premiada da Netflix).

 No primeiro dia de 2018, 300 mulheres que trabalham em Hollywood, incluindo atrizes, diretoras, roteiristas e produtoras, formaram o "Time’s Up", uma iniciativa para lutar contra o assédio sexual na indústria do cinema e também em outras áreas de trabalho, como mecânica, construção, etc.

Um juiz federal decidiu nesta terça-feira, dia 14, que Harvey Weinstein enfrentará uma ação civil de uma atriz britânica que o acusou de violar as leis contra o tráfico sexual. Segundo informações da Reuters, a ação apresentada no ano passado por Kadian Noble alega que o produtor a convidou para um quarto de hotel na França e, ao entrar no local, foi agredida sexualmente.

O juiz Robert Sweet, de Manhattan, negou uma moção de Weinstein que pedia a rejeição da ocorrência. Ele afirmou que, embora o caso não seja uma ação arquetípica de tráfico sexual, as alegações estabelecem plausivelmente que o produtor violou a Lei de Proteção de Vítimas do Tráfico federal.

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Kadian é apenas uma de mais de 70 mulheres, a maioria jovens atrizes e funcionárias da indústria de cinema, que acusaram Weinstein de má conduta sexual. A ação civil movida por ela conta que o astro conseguiu forçar ou coagir Kadian a realizar atividades sexuais em seu quarto de hotel por lhe prometer um papel em um filme e usar influência a seu favor, em Cannes, na França, no ano de 2014.

Os advogados de Weinstein afirmaram que o caso deve ser rejeitado porque a lei de tráfico sexual foi criada para os atos sexuais considerados comerciais, o que não incluiu este suposto encontro com Kadian, já que ela não teria dado nada de valor. Além disso, eles alegaram que permitir que a ação prossiga é o mesmo que dizer que a lei cobre todas as atividades sexuais que ocorrem entre adultos nas quais uma parte tem uma posição superior de poder e influência.

O caso Harvey Weinstein ganha mais um capítulo. Segundo o site TMZ, depois de ser acusado por estupro, o produtor Harvey Weinstein diz possuir cerca de 40 e-mails provando sua inocência contra uma das acusações que recebeu.

Os advogados do produtor de 66 anos de idade apresentaram documentos dizendo que os e-mails das conversas entre Weinstein e a suposta vítima eram de carinho e eles tinham uma relação afetiva e consensual. Além disso, alegam que os e-mails possuem fotos do casal demonstrando afeto.

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Harvey usava o e-mail da The Weinstein Company, empresa da qual era dono, e não um e-mail pessoal para manter contato com a vítima. Depois de deixar a companhia, Weinstein não teve mais acesso à conta. Os advogados conseguiram o direito de acessar a conta, porém o juiz proibiu, por uma ordem de proteção, a divulgação dos e-mails. Os advogados querem utilizar as mensagens como prova para rejeitar a acusação.

Desde o ano passado, Harvey Weinstein foi acusado por estupro e agressão sexual dentro do ambiente de trabalho por diversas mulheres, incluindo atrizes como Agelina Jolie, Salma Hayek e Ashley Judd.

Apesar do sucesso dos movimentos #MeToo e Time's Up, as mulheres continuam ganhando menos que os homens em Hollywood. O último exemplo é Claire Foy, a rainha Elizabeth II de "The Crown", que ganha menos que seu príncipe consorte.

Os produtores da série Netflix admitiram que Foy, que atuou como a rainha nas duas primeiras temporadas, ganhou menos que seu colega Matt Smith, que interpretou o príncipe Philip de Edimburgo.

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A disparidade entre os salários de atores e atrizes em Hollywood não é novidade. A classificação dos atores mais bem pagos do mundo, publicada pela revista Forbes, demonstra isso a cada ano.

Em 2017, Emma Stone, a atriz mais bem paga do mundo, teria terminado em 15º lugar se a classificação fosse mista.

Mas, fora a Forbes, há poucos dados e estudos sérios, e o silêncio reina no assunto.

"Os agentes dizem que você não deve falar sobre o problema", diz Melissa Silverstein, fundadora do site Women and Hollywood. "Nós não compartilhamos essa opinião".

Mas nos últimos meses, graças ao impulso histórico com a defesa das mulheres no escândalo de Weinstein, começaram a surgir sinais de revolta e questionamento do status quo.

No início de janeiro, a imprensa dos Estados Unidos revelou que a atriz Michelle Williams recebeu mil dólares para regravar cenas do filme "Todo o dinheiro do mundo", enquanto seu parceiro de tela Mark Wahlberg pagou 1,5 milhão de dólares.

A controvérsia levou ao ator americano - o mais pago em Hollywood - a se comprometer publicamente a doar todo o valor recebido para o fundo de defesa legal da nova associação Time's Up, que combate o abuso sexual, nascida após o escândalo de Weinstein.

Para Silverstein, o simples fato de a questão ser discutida já é "revolucionário" e "um fator de mudança".

No caso Foy, a situação parece mudar, mas talvez tarde demais.

"A partir de agora, ninguém vai receber mais que a rainha", prometeu nesta terça-feira Suzanne Mackie, uma das produtoras-executivas da série.

Contudo, Foy será substituída por Olivia Colman, para interpretar uma rainha Elizabeth mais velha na terceira temporada.

Silverstein acredita que, mesmo assim, o anúncio é importante e que estúdios e produtores já não podem ignorar o debate.

"Devem subir no trem, porque ele está andando", afirmou. "É preciso avançar no sentido da história".

O ator e diretor americano Robert Redford disse nesta quinta-feira (18) que os movimentos #MeToo e Time's Up são um "ponto de inflexão" para uma mudança em Hollywood a favor da igualdade das mulheres e da intolerância a uma conduta sexual imprópria.

"Do meu ponto de vista, mudar é inevitável e a mudança está a caminho (...) estou muito motivado neste momento", disse o duas vezes vencedor do Oscar, de 81 anos, em uma coletiva no lançamento de seu Festival de Cinema de Sundance.

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"O que está provocando é que haja mais oportunidades para as mulheres e mais oportunidades para as mulheres no cinema para fazer ouvir suas próprias vozes e ter seus próprios projetos. Estou muito entusiasmado com isso", afirmou.

Redford disse que as mulheres estão se opondo ao assédio e reivindicando pagamentos iguais, obrigando o poder tradicional masculino da indústria do cinema a mudar.

"É uma espécie de ponto de inflexão porque está mudando a ordem das coisas, assim as mulheres estão fortalecendo sua voz", disse os repórteres.

"O papel dos homens agora seria escutar e deixar que as vozes das mulheres sejam ouvida e pensar sobre isso, para talvez discutir entre eles mesmos", acrescentou o ator.

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