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Os Estados Unidos anunciaram, nesta quinta-feira (5), que chegaram a um acordo com o governo do presidente Nicolás Maduro para a "repatriação direta" de venezuelanos ao seu país.

O presidente americano, o democrata Joe Biden, candidato à reeleição nas presidenciais de 2024, está sob forte pressão, não só dos republicanos, que o acusam de ter provocado uma crise migratória na fronteira com o México, mas também de alguns democratas que administram cidades sobrecarregadas pela chegada de migrantes.

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Segundo dados oficiais, entre maio e o fim de agosto deste ano, a patrulha fronteiriça interceptou venezuelanos mais de 100.000 vezes na fronteira com o México. Nesse mesmo período do ano anterior, o número foi de cerca de 43.000.

Diante deste panorama, Biden ofereceu um amparo migratório a 472.000 venezuelanos durante 18 meses para que podem obter permissão de residência e trabalho. Mas este só se aplica aos que chegaram ao país antes de 31 de julho de 2023.

Aqueles que chegaram depois desta data e não têm "base legal" para permanecer nos Estados Unidos serão expulsos.

"Os Estados Unidos vão retomar as repatriações para a Venezuela de venezuelanos que não têm base legal para permanecer nos Estados Unidos", afirmou em um comunicado o Departamento de Segurança Interna (DHS), assegurando que "as autoridades da Venezuela" deram seu aval.

Em um comunicado, o governo Maduro confirmou o acordo que permite "a repatriação ordenada, segura e legal de cidadãos venezuelanos a partir dos Estados Unidos através do programa 'Volta à Pátria'".

A deportação começará "rapidamente", afirmou, durante coletiva de imprensa telefônica, um funcionário americano que pediu para ter sua identidade preservada.

"Já identificamos as pessoas sob custódia que serão expulsas rapidamente nos próximos dias", disse um funcionário, ressaltando que todas elas "não conseguiram demonstrar que têm uma base legal para permanecer nos Estados Unidos".

- Sanções -

O alto funcionário não quis entrar em detalhes sobre as negociações com o governo de Maduro, submetido a sanções de Washington, que considera fraudulenta sua reeleição em 2018.

Fazendo referência às sanções americanas, Caracas atribui a migração à "aplicação de medidas coercitivas unilaterais e ao bloqueio" da economia.

O governo americano se mostrou disposto a suspender de forma progressiva as sanções financeiras que impôs ao país se Maduro e a oposição chegarem a acordos para as eleições previstas para o próximo ano.

Washington exige que as eleições, nas quais Maduro vai tentar um novo mandato, sejam "livres e justas".

Cerca de 7 milhões dos 30 milhões de venezuelanos deixaram seu país em consequência de uma crise que provocou uma redução de 80% do PIB em dez anos.

O governo americano adotou uma série de "vias legais" para que os migrantes entrem no país e insta os venezuelanos a usá-las.

"Centenas de milhares de venezuelanos" entraram no país mediante um mecanismo humanitário ou agendando uma entrevista através de um aplicativo móvel, informou o DHS.

O anúncio desta quinta-feira ocorre após uma cúpula migratória regional sediada no México, que contou com a participação do país anfitrião, de Estados Unidos, Colômbia e Panamá.

"A imigração irregular é um desafio regional que requer uma resposta regional", destacou o DHS.

O papa Francisco viaja nesta sexta-feira (22) para Marselha (sudeste da França) para fazer mais um alerta sobre o drama dos migrantes no Mediterrâneo, em um momento de debate na Europa sobre a recepção dos refugiados.

Os migrantes são uma prioridade para o pontífice, que expressa com frequência sua dor pelas tragédias que afetam estas pessoas.

"Esperamos palavras muito fortes do papa e que sua voz influencie muito mais que a nossa", afirmaram François Thomas e Sophie Beau, diretores da ONG SOS Méditerránée, com sede em Marselha e que resgata migrantes no mar com o barco "Ocean Viking".

A rota do Mediterrâneo, que Francisco chamou de "cemitério" em agosto, é considerada a mais perigosa do mundo. Mais de 28.000 migrantes desapareceram em suas águas desde 2014, durante tentativas de chegar ao continente europeu a partir da África, segundo a Organização Internacional para Migrações (OIM).

O jesuíta de 86 anos prestará homenagem aos migrantes mortos no mar perto da basílica de Notre-Dame de la Garde (Nossa Senhora da Guarda), em um dos momentos mais aguardados da viagem.

Após uma oração na basílica, conhecida como "Bonne Mère" (Boa Mãe), Francisco visitará o memorial com vista para o Mar Mediterrâneo, que já contemplou em visitas anteriores, para pedir a acolhida dos e migrantes.

"Não vem para culpar ou dizer aos Estados o que devem fazer. Ele afirma: sejam responsáveis, há sofrimento", afirmou antes da viagem o arcebispo de Ajaccio (sudeste da França), François Bustillo.

A visita coincide com a chegada de milhares de migrantes há alguns dias à ilha de Lampedusa, o que obrigou a União Europeia (UE) a adotar um plano para ajudar a Itália a administrar a rota migratória que começa no norte da África.

Boubacar (pseudônimo), que chegou a Marselha há 10 dias, recorda as dificuldades que enfrentou antes de desembarcar em Lampedusa: "Passamos 24 horas no mar sem comer, sem beber, sem fazer as nossas necessidades".

E, agora, o adolescente de Guiné vive na rua, ao lado de 30 menores de idade não acompanhados.

Francisco afirmou que sua viagem à segunda maior cidade da França não é uma viagem oficial ao país. Sua finalidade é encerrar um encontro entre bispos e jovens do Mediterrâneo, que tem como principais temas as desigualdades, o diálogo inter-religioso e a mudança climática.

O papa Francisco visita Marselha (sudeste da França) esta semana, onde deve fazer um apelo pela compaixão para com os migrantes que arriscam sua vida no Mediterrâneo para chegar à Europa.

A viagem do pontífice argentino, na sexta e no sábado, coincide com um aumento no número de chegadas de migrantes à Itália, o que reacendeu o antigo e amargo debate sobre as políticas de asilo dos países europeus.

Entre segunda e quarta-feira passadas, quase 8.500 migrantes chegaram à ilha de Lampedusa (sul) a bordo de quase 200 barcos, o que alimentou as críticas da extrema direita europeia. Mas, durante sua visita, o papa deve pedir mais tolerância em relação aos migrantes, apesar do risco de irritar uma parte dos católicos franceses, particularmente conservadores, que consideram excessivas as suas mensagens de compaixão.

"Não concordo totalmente com o papa, quando ele diz que devemos acolher todos os migrantes", diz Yvette Devallois, de 69 anos, de Marselha.

"Damos as boas-vindas aos migrantes, mas também não podemos acolher toda a miséria do mundo", acrescenta.

O papa vai lembrar os horrores que muitos sofrem no Norte da África em acampamentos brutais, ou abandonados no meio do deserto, e destacará as causas do fenômeno, que vão da pobreza à mudança climática.

"O problema que me preocupa é o problema mediterrâneo (...) A exploração dos migrantes é criminosa”, disse há algumas semanas.

Aos 86 anos, Jorge Mario Bergoglio faz sua segunda viagem em apenas um mês, depois da Mongólia, com um estado de saúde debilitado e consciente de que as visitas já não são tão fáceis. Apesar dos problemas ele continua a viajar com frequência, concentrando-se no que o Vaticano chama de periferias: pequenas comunidades de católicos em países distantes.

"Irei para Marselha, mas não para a França", advertiu o pontífice neste sentido em agosto.

Na cidade portuária, ele pretende participar de um encontro de bispos e jovens católicos da região mediterrânea.

Marselha é um destino importante para muitos migrantes no norte de África. Também apresenta alguns dos bairros mais pobres do país, muitos deles tomados pelo tráfico de drogas.

- "O Mediterrâneo é um cemitério" -

O evento Encontros Mediterrâneos de Marselha Mediterrâneo abordará questões como a desigualdade econômica, a migração e a mudança climática. O pontífice deve falar com os bispos do norte de África para abordar, em particular, os desafios nessa área.

Mais de 2.300 migrantes morreram desde o início do ano tentando atravessar o Mediterrâneo, saindo do norte de África, segundo estatísticas das Nações Unidas.

"O Mediterrâneo é um cemitério. Mas não o maior: o maior cemitério é o norte da África", disse Francisco à imprensa em agosto.

O papa começará sua visita pela Basílica de Notre-Dame de la Garde, um monumento simbólico, onde fará uma oração na tarde de sexta-feira. Depois, haverá um momento de meditação com representantes de outras religiões em frente ao memorial dedicado aos navegantes e aos migrantes que morreram no mar.

Na manhã de sábado, ele participará na sessão de encerramento dos encontros no Palácio Pharo, antes de presidir uma missa no estádio Vélodrome com cerca de 57 mil fiéis. O presidente francês, Emmanuel Macron, comparecerá à missa final.

Macron e o papa já se encontraram três vezes. Francisco será o primeiro chefe da Igreja Católica a visitar a França desde Bento XVI, em 2008.

Durante a visita, o pontífice estará acompanhado do arcebispo de Marselha, Jean-Marc Aveline, um bom amigo de Francisco, que o nomeou cardeal no ano passado.

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, se declarou "chocado com a indiferença" diante dos milhares de migrantes que morrem a cada ano no planeta nas rotas migratórias.

Ele também fez um apelo por ações rápidas diante da mudança climática.

"Não precisamos de mais avisos. O futuro distópico já está aqui. Precisamos de medidas urgentes agora", afirmou.

"A mudança climática está levando milhões de pessoas para a fome. Está destruindo esperanças, oportunidades, lares e vidas. Nos últimos meses, os alertas urgentes viraram realidades letais de maneira repetida em todo o mundo", disse Türk no discurso de abertura da 54ª sessão do Conselho dos Direitos Humanos em Genebra.

Türk fez as declarações após o fracasso do G20 no fim de semana em aprovar uma declaração com um pedido pelo fim do uso das energias fósseis.

O Alto Comissário também criticou a indiferença com os milhares de migrantes que morrem durante as tentativas de conseguir uma vida melhor.

"Estou chocado com a indiferença que se manifesta diante das mais de 2.300 pessoas que foram declaradas mortas ou desaparecidas no Mediterrâneo este ano, incluindo mais de 600 em apenas um naufrágio nas costas da Grécia em junho", afirmou.

"É evidente que um número muito maior de migrantes e refugiados morrem, sem notificação", acrescentou, antes de mencionar o Canal da Mancha, o Golfo de Bengala e o Caribe, áreas onde "pessoas em busca de proteção" são expulsas, denunciou.

Türk também criticou a situação na fronteira entre Estados Unidos e México, onde as expulsões e processos de devolução acelerados provocam muitas dúvidas.

Uma mulher e quatro crianças migrantes, incluindo um bebê de 11 meses, morreram nesta segunda-feira (28) em dois naufrágios na Grécia, informou a porta-voz do governo, Pavlos Marinakis.

O primeiro naufrágio aconteceu durante a madrugada perto da ilha de Samos, no Mar Egeu, perto da costa da Turquia.

Um barco patrulha da Guarda Costeira socorreu 37 pessoas - incluindo uma mulher já morta -, informaram a polícia portuária e o porta-voz do Executivo grego.

Horas mais tarde, outro barco patrulha da Guarda Costeira "localizou e resgatou 22 estrangeiros diante da ilha de Lesbos", incluindo quatro falecidos", informou a polícia portuária em um comunicado.

As vítimas são um menino de oito anos e três meninas, de 11 meses, oito anos e 14 anos, afirmou Marinakis em uma entrevista coletiva.

O número de chegadas de migrantes pelo mar à Grécia aumentou este ano, em particular no mês de agosto.

O canal público ERT informou, com base em dados do governo, que 1.100 pessoas chegaram à Grécia pelo mar em agosto, contra 789 em julho e 608 em junho.

No total, 10.790 migrantes e refugiados chegaram às costas gregas desde o início do ano, contra 5.216 no mesmo período em 2022, segundo o ERT.

A polícia portuária grega, com a ajuda da agência europeia de vigilância de fronteiras, Frontex, patrulha cm frequência esta zona do Mar Egeu que faz fronteira com a Turquia, onde muitos migrantes se arriscam para tentar chegar à Grécia e, deste país, seguir viagem para a Europa Ocidental.

Com os dois filhos nos ombros, Wilfredo e Nataly deixam a costa mexicana em direção ao Rio Grande. Com a água na cintura, eles evitam a linha de boias que o estado do Texas colocou para bloquear a passagem de migrantes e seguem rumo aos Estados Unidos.

Eles atravessam Piedras Negras, no estado de Coahuila, e buscam chegar à margem oposta de Eagle Pass, uma cidade no sul do Texas cujo governador, o republicano Greg Abbott, militarizou para conter o fluxo de migrantes.

No Rio Grande, uma fronteira natural entre este estado americano e o México, as boias laranjas se estendem por aproximadamente 300 metros. Elas são projetadas para girar caso alguém tente segurá-las, e em cada lado há discos de metal serrilhados.

Nas últimas semanas, dois corpos foram encontrados no local.

A família de Wilfredo Riera, um venezuelano de 26 anos, atravessa o rio com mais de uma dezena de migrantes, longe das boias.

"Nos alertaram [sobre as boias], mas disseram que não marcavam todo o território, que havia uma forma de acessar", afirma.

Eles levaram cerca de dez minutos para ir de uma margem à outra, até se depararem com uma barragem interminável de arame farpado afiado. Mas encontraram um ponto vulnerável e conseguiram passar.

- "Queremos nos entregar" -

"Queremos nos entregar", diz Wilfredo. Mas ainda não há guardas à vista. À frente deles, uma cerca de aproximadamente três metros de altura possui arame farpado em seu topo, que os migrantes cobrem com as roupas para atravessarem ao outro lado.

Nataly Barrionuevo, uma equatoriana de 39 anos, morava com o marido Wilfredo e seus filhos, Yeiden, de dois anos, e Nicolás, de sete, no Equador. Saíram de lá há um mês e meio, em busca de trabalho e melhores condições de vida, e no caminho cruzaram a floresta de Darién, da Colômbia ao Panamá.

Um veículo da polícia de fronteira para no local e pede que mostrem os documentos.

Eles revistam apenas os homens e colocam todos em um veículo, com destino a um centro de detenção. Lá, avaliarão se é viável processar o seu pedido de asilo. Caso seja aceito, entrarão temporariamente no país, até que um juiz analise o seu caso. Do contrário, serão deportados.

"Queremos trabalhar, criar um futuro para eles", diz Nataly, apontando para seus filhos.

- "Zona de guerra" -

Ao pular a cerca, os migrantes chegam em Heavenly Farms, propriedade privada do casal Urbina, agricultores de nozes.

A fazenda, que tem acesso direto ao rio é totalmente cercada e vigiada pelos militares do Texas. Embora não gostem, não têm escolha senão aceitar, confessa Magali Urbina, de 52 anos.

"Meu marido e eu não acreditamos em fronteiras abertas. Mas também não acreditamos que devamos tratar as pessoas de forma desumana. Gostaríamos que o governo federal fizesse mais para que isso não aconteça", disse ela.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos ordenou ao Texas que retire as boias, que considera um problema humanitário e também diplomático, pois vai contra os tratados fronteiriços com o México.

O governo do Texas, por sua vez, justificou que está protegendo a área.

"Estamos autorizados a fazer o que estamos fazendo, proteger a fronteira", disse Abbott, que culpa a administração do presidente americano, Joe Biden, pela crise migratória no país.

Governadores de outros estados conservadores, que consideram esta parte do Texas uma "zona de guerra", enviaram tropas para apoiá-lo.

Abbott "criou um cenário aqui para fazer com que parecesse uma zona de guerra", diz Jessie Fuentes, proprietário da Epi's Canoe & Kayak Team, que oferecia passeios no rio e teve que fechar seu negócio. "Peço respeito pela humanidade e pelo rio", acrescentou.

Já Robie Flores, que nasceu e cresceu em Eagle Pass, recorda um passado em que os habitantes dos dois lados da fronteira podiam até mesmo se cumprimentar à distância, cenário que mudou com a implantação de barreiras de contêineres.

"Essa não é a nossa comunidade. E também não é assim que tratamos as pessoas. É muito triste ver isso. Os imigrantes são pastoreados como gado. Somos uma comunidade fronteiriça e isto", diz ele, apontando para os fios, "não é quem somos".

Mais de 30 migrantes são considerados desaparecidos após os naufrágios de duas embarcações na costa da ilha italiana de Lampedusa, segundo os depoimentos dos sobreviventes, informou neste domingo (6) a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Vinte e oito passageiros de um dos barcos e três do outro desapareceram no mar, depois que as embarcações naufragaram devido às condições meteorológicas, afirmou a agência da ONU.

Os barcos provavelmente iniciaram a viagem na cidade tunisiana de Sfax na quinta-feira.

Após ouvir os sobreviventes, "acreditamos que mais de 30 pessoas estão desaparecidas", confirmou Flavio di Giacomo, porta-voz da OIM.

Uma investigação foi iniciada para determinar as circunstâncias da tragédia em Agrigento, na ilha vizinha da Sicília.

O chefe de polícia de Agrigento, Emanuele Ricifari, afirmou que as previsões meteorológicas indicavam mar agitado.

"Quem permitiu, ou os forçou, a sair com este mar é um criminoso lunático, sem escrúpulos", declarou à imprensa.

"A previsão é de mar agitado para os próximos dias. Esperemos que eles parem. Com o mar desta maneira é como enviá-los para o matadouro", acrescentou.

Apesar do tempo ruim, as equipes de emergência planejavam uma operação ainda no domingo para resgatar mais de 20 migrantes bloqueados em uma área rochosa na costa de Lampedusa.

O grupo está nestas condições desde a noite de sexta-feira, quando violentas rajadas de vento empurraram a embarcação na direção das rochas.

A Cruz Vermelha forneceu alimentos, água, roupas e cobertores térmicos aos migrantes, mas a Guarda Costeira não conseguiu resgatar o grupo devido às ondas.

Se o vento não perder intensidade, as equipes de resgate tentarão retirá-los pelo barranco, de 140 metros de altura, segundo a imprensa italiana.

A travessia do Mediterrâneo central, a partir do norte da África até a Europa, é uma das mais letais do mundo.

Mais de 1.800 pessoas morreram desde o início do ano tentando completar a viagem, segundo Di Giacomo, o que significa 900 a mais que no ano passado.

"Na realidade o número é, provavelmente, muito maior", disse. "Encontramos muitos corpos no mar, o que sugere que há muitos naufrágios dos quais não ouvimos falar".

O número de cadáveres encontrados no mar aumentou, em particular na chamada rota tunisiana, uma travessia cada vez mais perigosa devido ao tipo de embarcação utilizado, explica Di Giacomo.

Os traficantes enviam os migrantes subsaarianos "em barcos de ferro que são mais baratos que os habituais barcos de madeira, mas que são totalmente inadequados para a navegação no mar", disse. "Eles quebram e afundam".

Em muitos casos, os migrantes sofrem com motores roubados no mar para que sejam reutilizados pelos traficantes, acrescenta.

Quase 800 migrantes que tentavam chegar à Europa ilegalmente morreram afogados na costa da Tunísia durante os primeiros seis meses do ano, disse à AFP o porta-voz da Guarda Nacional tunisiana, Houcem Eddine Jebabli.

O porta-voz afirmou que "789 corpos de migrantes foram recuperados do mar, incluindo 102 tunisianos, os outros eram estrangeiros e pessoas não identificadas".

De 1º de janeiro a 20 de junho, 34.290 migrantes foram interceptados e resgatados, incluindo 30.587 "estrangeiros", principalmente da África subsaariana, em comparação com 9.217 pessoas interceptadas ou resgatadas no mesmo período de 2022 (incluindo 6.597 estrangeiros), especificou Jebabli.

As unidades da Guarda Costeira realizaram 1.310 operações nos primeiros seis meses de 2023, mais que o dobro do número (607) registrado em 2022, afirmou.

Algumas zonas do litoral tunisiano estendem-se a menos de 150 quilômetros da ilha italiana de Lampedusa, razão pela qual se registra regularmente a saída de imigrantes, principalmente da África subsariana.

Segundo Roma, mais de 80 mil pessoas cruzaram o Mediterrâneo e chegaram às costas da península italiana desde o início do ano, contra 33 mil no mesmo período do ano passado, a maioria vinda das costas da Tunísia e da Líbia.

O Mediterrâneo central - entre o norte da África e a Itália - é a rota migratória mais perigosa do mundo em 2023, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), que registrou mais de 20 mil mortes desde 2014.

Em 22 de junho, uma semana depois que uma embarcação de pesca da Líbia virou perto do Peloponeso, deixando pelo menos 82 mortos e centenas de desaparecidos, um barco cheio de migrantes de Sfax (Tunísia) virou perto de Lampedusa, deixando cerca de quarenta pessoas desaparecidas.

Um clima crescente e abertamente xenófobo se espalha na Tunísia desde que o presidente, Kais Saied, que assumiu o poder em julho de 2021, decidiu combater a migração ilegal em fevereiro.

Centenas de imigrantes foram expulsos de Sfax (leste), a segunda maior cidade da Tunísia, após confrontos que mataram um tunisiano em 3 de julho.

Desde o golpe de Estado do presidente Saied, as tentativas de saída dos tunisianos, desesperados devido à crise econômica que afeta este país do norte da África, continuam em ritmo constante.

Cerca de 40 migrantes estão desaparecidos desde o naufrágio, nesta quinta-feira (22), de uma embarcação em frente à ilha italiana de Lampedusa, uma nova tragédia anunciada hoje pela ONU, após as ocorridas dias atrás na Itália, Grécia e Espanha.

Um recém-nascido está entre os desaparecidos, apontou à AFP a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) na Itália, Chiara Cardoletti.

O barco, que zarpou de Sfax, Tunísia, transportava 46 migrantes procedentes da África subsaariana (Costa do Marfim, Burkina Faso e Camarões), explicou um porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Flavio Di Giacomo. Devido às condições meteorológicas desfavoráveis de vento e a ondas fortes, a embarcação, de ferro, capotou. "Alguns sobreviventes foram transportados para Lampedusa, e outros, para a Tunísia", disse Di Giacomo.

"Entre os desaparecidos estão sete mulheres e um menor. Os sobreviventes são todos homens adultos", acrescentou, destacando a fragilidade das embarcações de ferro, mal soldadas, que afundam na primeira avaria.

- 'Um desastre no verão' -

"Há naufrágios dos quais não ficamos sabendo", lamentou Di Giacomo, pedindo "patrulhas de barcos europeus para monitorar a rota tunisiana e a rota líbia. "Do contrário, seremos testemunhas de um desastre neste verão", advertiu.

A porta-voz do Acnur na Itália concordou: contar com "um mecanismo de resgate no mar coordenado e compartilhado entre os Estados é uma questão de consciência", afirmou. "É inaceitável seguir contando mortos às portas da Europa", denunciou Chiara Cardoletti, referindo-se aos últimos naufrágios mortais de migrantes ocorridos na Itália, Grécia e Espanha.

Localizada a 145 km do litoral tunisiano, Lampedusa é um dos principais portos de entrada para os migrantes que atravessam o Mediterrâneo.

- Reforço das fronteiras estrangeiras -

Os naufrágios de embarcações aumentaram nos últimos meses, enquanto o número de entradas de migrantes na UE pelo Mediterrâneo central detectadas "mais do que dobrou" em 2023 em relação ao mesmo período do ano passado, indicou, em meados de junho, a agência europeia de fronteiras, Frontex.

Na madrugada de 14 de junho, um cargueiro velho e sobrecarregado procedente da Líbia naufragou no litoral da península do Peloponeso, na Grécia. Mais de 80 corpos foram resgatados, mas os depoimentos dos sobreviventes sugerem que havia centenas de pessoas a bordo, cujos corpos não foram encontrados.

Nesta semana, uma embarcação afundou a aproximadamente 160 km das Ilhas Canárias, pertencentes à Espanha, onde morreram dois migrantes e poderiam ter morrido outras dezenas, segundo uma ONG local, que monitora os naufrágios.

Em meio a um drama migratório que só aumenta, a UE fechou há poucos dias um acordo para reformar seu sistema de asilo, que prevê a criação de centros além das fronteiras do bloco, para devolver mais facilmente a terceiros países "seguros" os migrantes cujos pedidos de asilo forem negados.

A Comissão Europeia apresentou, em setembro de 2020, um Pacto sobre a Migração e o Asilo, um pacote de reformas que espera ver aprovado na primavera (norte) de 2024. O pacto prevê uma solidariedade "obrigatória", mas flexível, entre os países-membros na atenção aos solicitantes de asilo, e um reforço das fronteiras estrangeiras.

A Grécia prosseguia nesta quinta-feira (15) com as buscas por sobreviventes do naufrágio de uma embarcação de migrantes no Mar Jônico, uma tragédia que matou 78 pessoas.

Dois barcos de patrulha, um helicóptero e seis navios foram mobilizados para as operações no mar, ao oeste da península do Peloponeso, uma das zonas mais profundas do Mediterrâneo.

A Guarda Costeira informou que recuperou 78 corpos do naufrágio, que aconteceu na quarta-feira (14) e pelo qual a Grécia declarou três dias de luto.

Na véspera, a Guarda Costeira havia anunciado o balanço de 79 cadáveres recuperados.

Uma fragata da Marinha grega deve atracar nesta quinta-feira com os cadáveres, segundo a Guarda Costeira.

"Esta pode ser a pior tragédia marítima dos últimos anos na Grécia", disse Stella Nanou, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), ao canal público ERT.

As autoridades anunciaram o resgate de 104 pessoas, mas temem que centenas continuem desaparecidas, com base nos depoimentos dos sobreviventes e no fato de que não há mulheres e crianças entre eles.

"São todos homens", disse uma fonte da Guarda Costeira a respeito dos sobreviventes.

O porta-voz do governo da Grécia, Ilias Siakantaris, afirmou na quarta-feira que, de acordo com relatos não confirmados, quase 750 pessoas estavam a bordo do barco de pesca.

- Superlotado -

"Não sabemos o que está por vir (...) mas sabemos que muitos traficantes prendem as pessoas para manter o controle", declarou Siakantaris ao canal estatal ERT.

Um sobrevivente disse aos médicos do hospital no porto de Kalamata que viu centenas de crianças no porão do navio.

"O pesqueiro tinha de 25 a 30 metros de comprimento. O convés estava lotado de pessoas e presumimos que o interior também estava cheio", declarou o porta-voz da Guarda Costeira, Nikolaos Alexiou, ao canal ERT.

A Frontex (Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira) detectou a presença da embarcação na terça-feira, mas os passageiros "recusaram ajuda", de acordo com um comunicado divulgado pelas autoridades portuárias gregas na quarta-feira.

Também informaram que, no momento do naufrágio, ninguém a bordo usava colete salva-vidas.

Tudo indica que o barco partiu da Líbia e tinha a Itália como destino, segundo as autoridades. Os sobreviventes são, em sua maioria, da Síria (47), Egito (43) e Paquistão (12).

Eles ainda aguardam a identificação e entrevista com as autoridades gregas, que investigam a presença de um possível contrabandista de pessoas.

"É realmente espantoso", declarou à AFP Erasmia Roumana, da agência de refugiados da ONU. Os sobreviventes estão em "péssima situação psicológica".

Uma imagem de baixa qualidade divulgada pela Guarda Costeira mostra o barco de pesca azul em péssimas condições e com pessoas aglomeradas. Alguns migrantes estavam no teto da cabine.

O motor da embarcação apresentou problemas durante a noite de terça-feira e o pesqueiro naufragou a 87 km de Pilos, no Mar Jônico, afirmou Siakantaris.

Um jovem começou a chorar. "'Preciso da minha mãe' (...) Essa voz está nos meus ouvidos e continuará para sempre", declarou Ekaterini Tsata, enfermeira da Cruz Vermelha em Kalamata.

A maior tragédia de migrantes na Grécia aconteceu em 3 de junho de 2016, quando 320 morreram ou foram declaradas desaparecidas após um naufrágio.

Ao menos 78 pessoas morreram, e mais de 100 foram resgatadas, após o naufrágio de uma embarcação com migrantes perto da península do Peloponeso, sul da Grécia, informou a Guarda Costeira nesta quarta-feira (14).

A embarcação, que estava com centenas de migrantes de acordo com uma fonte do Ministério grego das Migrações, afundou em águas internacionais, a 47 milhas náuticas (87 quilômetros) da costa da Grécia.

Após uma ampla operação de resgate, dificultada pelos fortes ventos, 104 pessoas foram resgatadas. Quatro delas estavam em condição crítica e foram transportadas de helicóptero para um hospital de Kalamata, no sul do Peloponeso.

O número de mortos pode aumentar, segundo a Guarda Costeira, que já atualizou três vezes o balanço da tragédia.

Os canais de televisão gregos exibiram imagens de sobreviventes, com mantas nas costas e máscaras no rosto, quando desciam de um iate com a palavra Georgetown, capital das Ilhas Cayman.

As autoridades gregas informaram que, no momento do naufrágio, nenhuma pessoa a bordo usava colete salva-vidas. As nacionalidades das vítimas não foram divulgadas.

Um avião de vigilância da agência europeia Frontex detectou a presença da embarcação na tarde de terça-feira, mas os passageiros "rejeitaram a ajuda", de acordo com um comunicado divulgado pelas autoridades portuárias gregas.

- Grande operação de resgate -

A operação de resgate teve a participação das patrulhas da Guarda Costeira, de uma fragata da Marinha grega, de um avião e um helicóptero da Força Aérea, além de seis barcos que já estavam na região.

"A partir das primeiras horas da quarta-feira, uma grande operação de resgate foi iniciada em Pilos, depois que um barco de pesca naufragou com um grande número de migrantes a bordo", afirmou a Guarda Costeira grega.

Tudo indica que o barco partiu da Líbia e tinha a Itália como destino, segundo as autoridades.

Também nesta quarta-feira um veleiro em dificuldades, com 80 migrantes a bordo, que navegava nas proximidades de Creta também foi resgatado e rebocado pela Guarda Costeira até o porto de Kaloi Limenes, no sul da ilha, perto da Líbia, informou a polícia portuária grega.

Grécia, Itália e Espanha são os principais destinos de dezenas de milhares de pessoas que tentam chegar à Europa, partindo da África e do Oriente Médio.

Com uma longa fronteira marítima, a Grécia é uma rota frequente de imigrantes procedentes da vizinha Turquia. O país enfrenta crescentes tentativas de entrada por vias próximas das ilhas Cíclades a até o Peloponeso, para evitar as patrulhas no Mar Egeu, mais ao norte, cenário de muitos naufrágios, muitas vezes fatais.

A Grécia é acusada, com frequência, de rejeitar "ilegalmente" a presença de barcos de migrantes.

As autoridades da Flórida, no sudeste dos Estados Unidos, confirmaram, nesta terça-feira (6), à AFP que organizaram os dois voos que levaram migrantes da fronteira sul do país, no Texas, até Sacramento, na Califórnia, na semana passada e na segunda-feira.

A Divisão de Gestão de Emergências da Flórida afirmou em comunicado que os dois grupos de migrantes embarcaram nesses voos de forma "voluntária" e que a empresa contratada para o transporte os deixou sob os cuidados da ONG Catholic Charities.

A agência da Flórida também enviou um vídeo no qual várias pessoas são vistas lendo documentos com uma caneta na mão, sorrindo para a câmera ou dizendo que foram bem tratadas.

No entanto, segundo a PICO California, um grupo dedicado a ajudar migrantes, eles concordaram em voar atraídos por ofertas de emprego.

Ron DeSantis, governador da Flórida e candidato à nomeação republicana para as eleições presidenciais de 2024, tem promovido há meses uma política rigorosa contra a imigração ilegal e culpa o presidente democrata, Joe Biden, por negligenciar a fronteira com o México.

Em fevereiro, ele aprovou uma lei que autoriza seu governo a transferir imigrantes em situação irregular para outro estado, mesmo que eles vivam fora da Flórida.

Mais de uma dezena de cidadãos da Colômbia e da Venezuela desembarcaram em Sacramento na sexta-feira, segundo a imprensa americana.

O segundo grupo, composto por cerca de 20 pessoas, a maioria venezuelanas, chegou três dias depois, de acordo com o The New York Times.

Sua chegada indignou o governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom: "@RonDeSantis homem patético e insignificante, acusações de sequestro?", tuitou na segunda-feira.

A Divisão de Gestão de Emergências da Flórida respondeu nesta terça-feira.

"Para os prefeitos esquerdistas de El Paso (Texas) e Denver (Colorado), a realocação daqueles que cruzam ilegalmente a fronteira dos Estados Unidos não é algo novo. Mas, de repente, quando a Flórida envia estrangeiros ilegais para uma cidade santuário, isso se torna detenção ilegal e sequestro", escreveu em seu comunicado.

Não é a primeira vez que as autoridades da Flórida transportam migrantes indocumentados da fronteira para um reduto democrata. Em setembro, enviaram 48 migrantes do Texas para a ilha de Martha's Vineyard, um local de férias muito apreciado pela alta sociedade americana, localizado no leste do país.

Segundo o Miami Herald, naquela ocasião, os imigrantes foram atraídos para os voos com falsas promessas de trabalho e oportunidades.

Anastasia Domini e sua esposa Anna Domini andavam de mãos dadas em um recente dia ensolarado na capital da Argentina, enquanto seus quatro filhos agitados brincavam por perto.

É uma cena comum em um país onde o casamento entre pessoas do mesmo gênero foi legalizado há mais de uma década. O casal, porém, que se casou logo depois de chegar a Buenos Aires no começo do ano passado, ainda se lembra do medo que sentiu quando decidiram pela primeira vez dar as mãos em público depois de sair da Rússia, que proibiu expressamente os casamentos homoafetivos em 2020.

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"Foi muito assustador", disse Anastasia Domini, mas "olhávamos ao redor e realmente ninguém estava olhando".

Para as Domini, que alteraram seus sobrenomes para poder se passar por irmãs na Rússia de forma mais convincente, o passeio foi um bom exemplo do quanto suas vidas se alteraram desde a mudança, unindo-se a um número cada vez maior de russos LGBTQ+ que decidiram deixar sua terra natal e se estabelecer na Argentina para fugir da discriminação e da guerra contra a Ucrânia.

Ao longo da última década, tornou-se cada vez mais difícil viver abertamente como membro da comunidade LGBTQIA+ na Rússia.

Em dezembro de 2022, o presidente russo Vladimir Putin sancionou uma lei que ampliou substancialmente as restrições sobre atividades vistas como promoção de direitos LGBTQ+ no país, com base em uma lei que já estava em vigor desde 2013, apontada por pesquisadores independentes como causa de um aumento na violência contra as minorias sexuais e de gênero.

Mais recentemente, o Kremlin chegou a enquadrar a invasão à Ucrânia em fevereiro de 2022 em parte como uma tentativa de defender valores conservadores contra a promoção de direitos de pessoas gays e trans pelos países ocidentais.

A Federação Argentina LGBT recebeu cerca de 130 consultas, ao longo do último ano e meio, de russos interessados em buscar refúgio na Argentina, mais do que qualquer outra nacionalidade.

"O conflito entre Rússia e Ucrânia acelerou a decisão de muitas pessoas que já estavam em situação de vulnerabilidade", diz Maribe Sgariglia, que coordena o departamento de relações internacionais da organização.

Integrantes da comunidade LGBTQIA+ não são os únicos russos chegando à Argentina. Em janeiro, 4.523 russos entraram no país, mais de quatro vezes os 1.037 que chegaram no mesmo mês do ano passado, segundo dados do governo. Em 2022, aproximadamente 22.000 russos entraram na Argentina, inclusive um grande número de mulheres grávidas que chegaram ao país para dar à luz, em parte na tentativa de obter um passaporte que abra mais portas.

A Argentina, porém, não era a primeira escolha de alguns dos russos que chegaram ao país.

Mark Boyarsky, um homem trans de 38 anos que deixou Moscou com a esposa e dois filhos, de 5 e 8 anos, logo depois da invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado, mudou-se primeiro para o Nepal, na tentativa de obter um visto britânico. Depois de vários meses infrutíferos, decidiram se mudar para a Argentina em setembro.

"Tenho uma sensação de muita segurança aqui", diz Boyarsky, observando que ainda não contou aos filhos que é trans porque "parecia muito perigoso para eles" saber isso no país de origem, considerando-se a crença geral de que "não existem gays na Rússia".

O casamento igualitário se tornou lei na Argentina em 2010; dois anos depois, o Congresso aprovou uma pioneira Lei da Identidade de Gênero, que codificou os direitos dos indivíduos transgênero, inclusive a possibilidade de alteração de nome sem necessidade de avaliação médica.

Boyarsky trabalha como fotógrafo autônomo e frequentemente tira fotos de casamentos homoafetivos envolvendo imigrantes russos. Ao menos 34 casais de russos do mesmo gênero se casaram na Argentina em 2022, e 31 este ano até agora, segundo a Federação Argentina LGBT.

Recentemente, Boyarsky fotografou o casamento de Nadezhda Skvortosova, de 22 anos, e Tatiana Skvortosova, de 29, que se casaram menos de um mês depois de se mudarem para Buenos Aires. O casal também mudara os sobrenomes na Rússia para poderem se passar por irmãs.

"É um momento muito importante para nós. Estamos esperando há muito tempo para sermos oficialmente uma família", disse Nadezhda Skvortosova após se casar em um cartório de Buenos Aires.

Muitos dos russos que chegam à Argentina sabiam pouco sobre o país antes da mudança.

"Tango, Che Guevara, e que era uma colônia espanhola", brinca Nikolai Shushpan, um homem gay de 26 anos que se mudou para a capital argentina em outubro, quando começou a ter medo de ser convocado para a guerra.

Shushpan atualmente divide um apartamento no centro de Buenos Aires com Dimitry Yarin, outro russo que ele conheceu em um aplicativo de relacionamento.

Yarin, de 21 anos, conta que há muito tempo tinha planos de se mudar para um país mais tolerante, mas "a guerra acelerou essa decisão".

Por causa da discriminação que enfrentam no país natal, muitos dos russos que chegam à Argentina solicitam o status de refugiados, um processo que pode levar até três anos.

As autoridades aumentaram o controle sobre migrantes russos depois da recente prisão de dois supostos espiões russos com passaportes argentinos na Eslovênia, no final do ano passado.

Por enquanto, Shushpan está gostando de viver abertamente como homem gay pela primeira vez. Em seu país, sempre havia tensão e a sensação "de que algo poderia acontecer".

"O único país onde não senti isso é aqui. Você não precisa ficar preocupado o tempo todo. A única coisa com que você precisa se preocupar são os preços", diz Shushpan, referindo-se à taxa de inflação na Argentina, de cerca de 110%, uma das maiores do mundo.

Depois de pouco mais de um ano na Argentina, as Domini compartilham dessa sensação de alívio.

Na cidade de Petrozavodsk, no noroeste da Rússia, Anastasia, de 34 anos, e Anna, de 44, não contavam a quase ninguém sobre seu relacionamento e seus dois pares de gêmeos, de 3 e 6 anos de idade. Havia um medo constante de que as autoridades levassem seus filhos e os colocassem em um orfanato, diz Anastasia Domini.

Elas agora vivem sem precisar se preocupar que alguém possa tomar seus filhos ou colocá-las na prisão.

"Estamos totalmente acostumadas à nossa situação de mulheres casadas que são mães de muitos filhos, e a podermos ser livres aqui", diz.

A norma sanitária que permite expulsar a maioria dos migrantes que chegam à fronteira entre Estados Unidos e México expira nesta quinta-feira (11), mas solicitar asilo pode ser tão difícil quanto antes para muitos deles a partir de sexta-feira (12).

Às 23H59 horário de Washington (0H59 de Brasília, sexta-feira) o governo suspenderá a norma conhecida como "Título 42" , uma política ativada durante a pandemia para supostamente impedir a propagação da Covid-19, mas que na prática bloqueou a possibilidade de solicitação de asilo.

As autoridades americanas utilizavam esta norma para impedir a presença de centenas de milhares de migrantes que tentam entrar nos Estados Unidos com a esperança de escapar da miséria ou fugir da violência e corrupção.

"Título 42" chega ao fim depois das idas e vindas nos tribunais, onde os republicanos, que acusam o presidente democrata Joe Biden de ser negligente, fizeram o possível para que a norma continuasse em vigor.

O governo americano se prepara há mais de um ano para o momento, com uma série de medidas que incluem recompensas para os migrantes que iniciam os trâmites de seus pedidos antes de chegar à fronteira por meio do aplicativo CBP One, dos programas de reencontro familiar ou das permissões humanitárias para cotas de venezuelanos, haitianos, nicaraguenses e cubanos.

- "Atravessar não é uma opção" -

Mas também há punições, como a maior dificuldade de acesso ao asilo para os que não adotam as "vias legais" ou não iniciam os pedidos em um país de trânsito na viagem para os Estados Unidos. Uma decisão que rendeu a Biden comparações com o antecessor, o republicano Donald Trump, partidário de uma política migratória rígida.

Em duas cidades fronteiriças do lado mexicano, Ciudad Juárez e Matamoros, as travessias de migrantes aumentaram esta semana.

Mas alguns venezuelanos que viajam em grupo preferem aguardar para marcar uma consulta pelo aplicativo CBP One. O horário será ampliado na sexta-feira e passará a funcionar 23 horas por dia.

"Atravessar o rio não é uma opção porque vamos perder todos os direitos de um processo legal caso nos concedam a oportunidade de entrar nos Estados Unidos. Podemos entrar, mas eles podem nos expulsar automaticamente porque entramos ilegalmente", disse o venezuelano Andrés Sanchez.

Ele faz referência ao aplicativo do 'Título 8', que já está sendo utilizado e permite expulsar qualquer pessoa que entrar no país sem visto ou a documentação necessária.

O secretário de Segurança Nacional, Alejandro Mayorkas, insistiu na quarta-feira: "Aqueles que não usam vias legais para entrar nos Estados Unidos não são elegíveis para asilo".

Com poucas exceções, os migrantes serão expulsos para seus países de origem e, no caso de cubanos, nicaraguenses, haitianos e venezuelanos, para o México.

Um ativista, que pediu para não ser identificado, declarou à AFP que muitos migrantes que conseguiram entrar nos últimos dias foram expulsos para o México pela fronteira da Califórnia, a quase 1.000 quilômetros de distância.

Mayorkas repete há vários meses que "a fronteira não está aberta", mas as autoridades preveem um aumento do fluxo durante os próximos dias.

- "Eu tive sorte" -

"Será caótico por algum tempo", admitiu Biden. O governo mantém mais de 24.000 policiais na fronteira, ao lado de outros 1.100 novos coordenadores de patrulha fronteiriça.

O prefeito de El Paso, cidade americana na fronteira, concorda com o presidente.

"Vai ser algo difícil, muito difícil todos os dias. Temos que seguir nos preparando para o desconhecido", declarou Oscar Leeser.

Nem todos revelam nervosismo. Alguns migrantes estão felizes.

"Foi uma viagem com muitos problemas, tivemos que dormir no chão, passamos fome, mas não perdemos a fé em Deus e estamos aqui (...) Na primeira vez me devolveram (deportaram) e não perdi a fé e tentei novamente", declarou à AFP o venezuelano Cleiber Colmenares, 26 anos, pai de dois filhos, em Brownsville.

Eibor Tovar recebeu a intimação para comparecer a uma audiência com um juiz da imigração em novembro.

"Eu tive sorte, recebi a intimação antes dos outros, Algumas pessoas foram convocadas para 2026. Estou feliz porque agora posso continuar, o que eu quero é trabalhar", declarou à AFP em El Paso.

"Uma luz no fim do túnel", conclui.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, e chefes dos 16 estados do país concordaram nesta quarta-feira (10) com novas medidas para conter o aumento da imigração.

"Controlar e limitar a imigração irregular é uma prioridade para a Alemanha", assinalou Scholz em entrevista coletiva.

O acordo inclui a modernização dos sistemas de informática para agilizar o processamento dos pedidos de asilo, que demoram, em média, 26 meses, o que poderá acelerar as expulsões dos que são recusados. Também foi ampliado o período máximo de detenção de migrantes, de 10 para 28 dias.

Nos primeiros quatro meses de 2023, 101.981 pedidos de asilo foram apresentados na Alemanha, um aumento de 78% em relação ao mesmo período de 2022.

Quase 218.000 pedidos foram apresentados no ano passado, o maior número desde 2015-16, quando o país recebeu um grande número de migrantes da Síria e do Afeganistão. Além disso, mais de 1 milhão de pessoas chegaram da Ucrânia após a invasão russa àquele país.

A Alemanha também buscará formar "novas alianças migratórias" com os países de origem dos recém-chegados, disse Scholz em entrevista coletiva, acrescentando que estes acordos irão facilitar a chegada de "pessoal qualificado" dos países relevantes, em troca do retorno dos migrantes irregulares.

O papa Francisco fez um apelo à acolhida de migrantes, neste domingo (30), em uma missa ao ar livre em Budapeste, com a presença de milhares de pessoas, no terceiro e último dia de sua visita à Hungria.

"Por favor, abramos as portas!", pediu o papa, defensor do acolhimento aos refugiados, diante de um grande público e na presença do primeiro-ministro húngaro, o nacionalista Viktor Orbán, que defende uma linha dura contra os migrantes.

"É triste e dói ver as portas fechadas: as portas fechadas do nosso egoísmo para com quem caminha conosco todos os dias (...), as portas fechadas da nossa indiferença para com os que estão mergulhados no sofrimento e na pobreza”, afirmou.

Ao longo de sua visita à Hungria, Francisco fez um discurso crítico sobre a política de Orbán, que justifica sua oposição ao acolhimento de migrantes ou refugiados defendendo a “civilização cristã”.

O pontífice argentino havia pedido na véspera "erradicar os males da indiferença" durante um encontro com refugiados, em sua maioria ucranianos.

- "Cumpramos com nossa missão cristã" -

O papa chegou por volta das 9h locais(4h no horário de Brasília), a bordo de seu "papamóvel", à praça central de Kossuth Lajos, na capital húngara.

Desde as primeiras horas da manhã, os fiéis começaram a se aglomerar, sob um sol de primavera, em meio a um forte dispositivo de segurança. Cerca de 50.000 pessoas estiveram presentes, segundo a assessoria de imprensa do Vaticano.

"É algo único, fascinante, ver o papa tão de perto", disse à AFP Levente Kiss, um estudante húngaro de 21 anos, elogiando "o apelo do papa em apoiar os refugiados, especialmente aqueles que fogem da guerra na Ucrânia".

“Embora sua opinião nem sempre corresponda à de diferentes organizações ou do governo, é importante que, além dos discursos políticos, cumpramos nossa missão cristã”, disse o jovem.

A guerra na Ucrânia - país que faz fronteira com a Hungria - também foi um dos temas centrais desta segunda visita do papa em menos de dois anos a este país da Europa Central.

Em mais um apelo do papa para buscar a paz na Ucrânia, ele denunciou a ascensão do nacionalismo e pediu "recuperar a alma europeia".

Desde o início do conflito, em fevereiro de 2022, mais de dois milhões de ucranianos transitaram por solo húngaro, embora apenas 35 mil tenham solicitado o status de “proteção temporária” implementado pela União Europeia (UE), segundo dados do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur).

A posição ambígua de Orbán em relação ao conflito não os encoraja a permanecer na Hungria.

- Reunião com opositor -

Em um encontro que não foi anunciado no programa da sua visita, o papa reuniu-se na tarde de sábado com o prefeito de Budapeste, Gergely Karácsony, um ferrenho opositor de Orbán.

Ele também se reuniu com o metropolita Hilarion, o ex-chefe de relações exteriores da Igreja Ortodoxa, destituído por sua relutância em relação à invasão russa da Ucrânia.

Um mês após sua internação por bronquite, Francisco parecia bem.

O argentino é o segundo pontífice a visitar a Hungria, depois de João Paulo II em 1991 e 1996.

Apesar da idade avançada e das dores no joelho que o obrigam a deslocar-se com bengala ou cadeira de rodas, prevê visitar Lisboa em agosto e Marselha (França) em setembro, além da Mongólia.

O governo britânico anunciou nesta quarta-feira (29) que, em sua luta contra a migração irregular, abrigará temporariamente demandantes de asilo em antigas bases militares e possivelmente em embarcações para reduzir as contas dos hotéis onde atualmente estão alojados.

No ano passado, um número recorde de pessoas - mais de 45 mi l- chegaram ilegalmente às costas britânicas em pequenas embarcações, contribuindo para saturar o sistema de asilo do Reino Unido.

O governo conservador quer dissuadir os migrantes irregulares de viajarem ao país e pretende enviá-los a Ruanda, país africano a 6.500 km de Londres, em um polêmico plano que está atualmente paralisado a espera de uma decisão judicial.

O primeiro-ministro, Rishi Sunak, quer reduzir pela metade o custo de alojá-los em hotéis que, afirmou, representam o equivalente a 2,8 bilhões de dólares (cerca de 14 bilhões de reais) anuais aos contribuintes britânicos.

"O alojamento dos imigrantes deve satisfazer suas necessidades básicas, nada mais", destacou o ministro de Estado de Imigração, Robert Jenrick, nesta quarta-feira no Parlamento. "Não podemos nos arriscar a nos tornarmos um imã para milhões de pessoas que se deslocam todos os anos e que buscam melhores condições financeiras", acrescentou.

Ele afirmou que o governo pretende acolher "milhares de solicitantes de asilo" em instalações adaptadas e edifícios pré-fabricados em duas antigas bases das forças aéreas britânicas no leste e sudeste da Inglaterra.

Além disso, continua "analisando a possibilidade de alojar imigrantes em barcos", acrescentou.

Esta possibilidade, evocada pela imprensa nesta quarta, foi denunciada por organizações de defesa dos refugiados.

Em uma tentativa de vencer a resistência local, Jenrick assegurou que as instalações oferecerão serviços médicos básicos e contarão com funcionários em tempo integral.

O Executivo britânico anunciou na terça planos para realocar 8.000 afegãos que chegaram ao Reino Unido fugindo dos talibãs e foram alojados em hotéis, o que suscitou duras críticas da oposição e organizações de refugiados.

Um incêndio em um centro de detenção de migrantes na cidade mexicana de Ciudad Juárez provocou, na noite de segunda-feira (27), a morte de 39 deles na mais recente tragédia envolvendo pessoas que tentam entrar sem documentos nos Estados Unidos.

Confira a seguir a lista dos incidentes mortais mais recentes envolvendo migrantes que cruzam o território mexicano.

- Em 19 de fevereiro passado, um ônibus transportando cidadãos de Venezuela, Colômbia e América Central por uma rodovia que liga os estados de Oaxaca e Puebla (centro) deixa ao menos 17 mortos e 15 feridos.

- Em 7 de fevereiro passado, oito guatemaltecos e um hondurenho morreram quando a caminhonete em que viajavam caiu em um córrego no estado de Nuevo León (norte). Cinco mexicanos morreram no acidente.

- Em 27 de junho de 2022, 56 migrantes morreram asfixiados em um trailer abandonado em San Antonio, Texas (estado fronteiriço com o México), entre eles 26 mexicanos. O trailer passou pelo território mexicano.

- Em 9 de dezembro de 2021, um caminhão de carga levando 160 migrantes irregulares se chocou contra uma ponte para pedestres em uma rodovia do estado de Chiapas (sul), deixando 56 mortos, originários de Guatemala, República Dominicana, Honduras e Equador.

O papa Francisco pediu o fim do tráfico de pessoas neste domingo (05), uma semana após o naufrágio de um barco que matou pelo menos 70 pessoas no sul da Itália.

"Que os traficantes de seres humanos sejam detidos, que não continuem dispondo da vida de tantos inocentes!", pediu o papa argentino, fervoroso defensor dos refugiados, no final da oração do Angelus.

O papa, de 86 anos, pediu para "que as viagens de esperança nunca mais se transformem em viagens de morte! Que as águas límpidas do Mediterrâneo não sejam mais ensanguentadas por acidentes tão dramáticos!".

Ao discursar, o papa Francisco ficou muito comovido e depois calou-se perante a multidão reunida em frente à Praça de São Pedro, em Roma.

A tragédia ocorrida no último domingo (26) na costa de Crotone, na Calábria, deixou aproximadamente 70 mortos, entre eles, cerca de 15 menores. Os socorristas ainda procuram vítimas.

Três suspeitos de tráfico de pessoas foram presos.

Segundo os meios de comunicação italianos, cada um dos migrantes pagou entre 5.000 e 8.000 euros ( 27.000 a 44.000 reais) ao embarcarem na Turquia, três dias antes.

Mais de 30 migrantes, incluindo um bebê de poucos meses, morreram em um naufrágio neste domingo (26) nas proximidades da cidade italiana de Crotone, na Calábria (sul), informaram várias fontes locais.

Os bombeiros italianos confirmaram no Twitter que recuperaram 28 corpos e que outras três pessoas foram arrastadas pela corrente marinha. Quase 40 pessoas foram resgatadas.

De acordo com meios de comunicação italianos, que citam quase 40 mortos na tragédia, o barco transportava entre 150 e 250 pessoas.

Procurada pela AFP, a Guarda Costeira italiana não fez comentários até o momento.

De acordo com a agência AGI, a embarcação de migrantes, com excesso de peso, partiu ao meio depois de ser atingida por uma grande onda. Entre as vítimas está um "recém-nascido", segundo um bombeiro que participa nas operações de resgate.

O naufrágio aconteceu poucos dias depois da aprovação no Parlamento italiano de novas e polêmicas regras para o resgate de migrantes, apoiadas pelo governo dominado de extrema-direita.

A primeira-ministra Giorgia Meloni, líder do partido 'Fratelli d'Italia' (FDI, extrema-direita), chegou ao poder em outubro com uma coalizão que prometeu a redução da chegada de migrantes ao país.

A nova lei obriga os navios humanitários a fazer apenas um resgate por saída ao mar, o que, segundo os críticos da medida, aumenta o risco de mortes no Mediterrâneo central, área considerada a travessia mais perigosa do mundo para os migrantes.

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