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O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) agendou o julgamento dos dois recursos do processo que apura a responsabilidade de Sarí Corte Real pela morte de Miguel Otávio Santana da Silva para aa próxima quarta-feira (8), às 9h, no Palácio da Justiça, localizado no bairro de Santo Antônio, no centro do Recife. Sarí chegou a ser condenada, em maio do ano passado, por abandono de incapaz com resultado em morte, mas entrou com recurso e segue respondendo em liberdade. 

O recurso corre na 3ª Câmara Criminal do TJPE, com relatoria do desembargador Cláudio Jean Nogueira Virgínio. O julgamento também analisará o recurso da assistência de acusação, movido por Mirtes Renata de Souza, mãe de Miguel, que pede a reformulação da sentença para retirar trechos revitimizantes contra a família e a memória de Miguel. Estes trechos questionam e acusam o modo de Mirtes e Marta, mãe e avó de Miguel, criarem e educarem a criança, com base no depoimento de funcionários de Sarí e seu esposo, Sérgio Hacker, ex-prefeito de Tamandaré. 

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Mirtes publicou, nesta segunda-feira (6), um convite público para a participação da população em um ato em frente ao Palácio de Justiça, no dia do julgamento, em solidariedade à família da criança. “Esse é um momento muito importante para mim e para todos e todas que querem justiça por Miguel, por isso estamos convocando os movimentos sociais e sociedade civil para prestarem solidariedade à nossa família”, disse nas redes sociais. 

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Miguel morreu ao cair do 9º andar do prédio em que morava Sarí Corte Real e sua família, para quem Mirtes trabalhava como empregada doméstica. Ela deixou o filho aos cuidados da patroa para passear com o cachorro, quando ele fugiu do apartamento, entrou no elevador e foi parar em outro andar. O caso aconteceu em junho de 2020. Dois anos depois, em junho de 2022, Sarí foi condenada a oito anos e seis meses de prisão, mas recorreu à época. 

*Com informações da assessoria 

 

No mês em que a morte de Miguel Otávio completou três anos, Mirtes Renata demonstrou indignação ao saber que a condenada em primeira instância pelo crime, sua ex-patroa Sarí Corte Real, se matriculou em uma universidade particular de Medicina. Condenada como responsável pela queda do menino do 9º andar de um edifício de luxo do Recife, Sarí responde ao processo em liberdade. 

Na busca por justiça pela morte do menino de cinco anos, nesta quinta-feira (15) Mirtes compartilhou a informação publicada pelo jornalista Jonas Di Andrade e criticou a impunidade da ex-patroa.    

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"Gente é sério isso? Eu não tenho como suportar tanta injustiça, porque quem abandonou meu filho levando ele a morte goza de tantos privilégios, enquanto eu sou sufocada de dor! Cansativo!!!", reclamou a ex-empregada doméstica ao saber que Sarí agora é uma estudante universitária. 

Em junho de 2020, Miguel foi deixado sozinho no elevador antes de cair do prédio quando estava sob os cuidados da ex-patroa da mãe. Em 2022, Sarí foi condenada por abandono de incapaz com resultado morte, com a sentença de 8 anos e 6 meses de prisão, mas recorreu da decisão. O caso ganhou repercussão nacional e segue na Justiça. 

Nesta quarta-feira (12), data em que celebra-se o Dia das Crianças, Mirtes Renata, mãe do menino Miguel Otávio, morto após cair do nono andar de um prédio de luxo no Recife, lamentou não ter o seu pequeno no colo para comemorar essa data.

Em sua conta oficial no Instagram, Mirtes disse que, por mais um ano, o único presente que a família pôde dar para o Miguel foi um buquê de flores. "Hoje, dia das crianças, não tenho minha criança no colo pra dar cheiro, dar amor, carinho. Hoje é mais um dos dias tristes da minha vida, onde cada palavra que digito, caem lágrimas dos meus olhos", escreveu Renata.

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Ela aproveitou para pedir forças à Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. "Hoje, eu e o pai de Miguel fomos visitar seu túmulo, o único presente que em mais um ano pudemos dar ao nosso filho foi um buquê de flores, velas e nossas orações, pedindo a Jesus e a Nossa Senhora que cuidem do nosso neguinho e nos fortaleça pra suportar essa dor", pontuou.

A mãe do menino Miguel Otávio de Santana, Mirtes Renata, tem usado as redes sociais para cobrar celeridade na atribuição da sentença no caso que apura as circunstâncias da morte do filho. Miguel, à época com cinco anos, caiu do nono andar do Píer Maurício de Nassau, as “Torres Gêmeas” do bairro de São José, no Centro do Recife, em 2 de junho de 2020. A fase de instrução do caso já foi encerrada e as alegações de todas as partes entregues ao juiz José Renato Bezerra desde 7 de abril.

De acordo com o artigo 403 do Código de Processo Penal, “o juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008)”.

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O caso está prestes a completar dois anos e o desfecho ainda não tem data para acontecer. Nele, é ré, a empresária Sarí Corte Real, acusada pelo crime de abandono de incapaz com resultado morte, pelo qual pode pegar até 12 anos de prisão. O LeiaJá entrou em contato com Mirtes, que disse que deverá intensificar sua cobrança, dado os quase 40 dias de atraso. A estudante de direito também diz acreditar que o caso não deve acabar no judiciário pernambucano. 

“A minha expectativa é que haja a condenação e a prisão dela [Sarí], mas tenho plena consciência de que, infelizmente, o caso de Miguel não se acaba nessa instância aqui no Judiciário em Pernambuco, porque cabe recurso para ambas as partes. Estou ciente que infelizmente não vai acabar agora, que muitas águas vão rolar no andamento desse processo. Já era para ter a sentença, mas o juiz está atrasado, porque de acordo com o artigo 403, ele tem o prazo de 10 dias para analisar o processo e dar a sentença, mas ele não cumpriu”, declarou Mirtes.

A mãe de Miguel também diz que, ao procurar a 1ª Vara de Crimes contra a Criança e o Adolescente, que cuida do caso, foi informada que a chegada dos feriados e as supostas 80 folhas de alegações entregues pela parte de Sarí acabaram atrasando a avaliação do processo.

O advogado de Mirtes, Rodrigo Almendra, espera que a publicação da sentença ocorra ainda no primeiro semestre. “O processo de Miguel está concluso para sentença, ou seja, aguardando a decisão do magistrado. Todas as partes já se manifestaram e todas as provas já foram apresentadas.  Acreditamos que ainda no primeiro semestre haverá publicação da sentença. A nossa expectativa que a denúncia seja julgada procedente”, afirmou o representante legal.

O LeiaJá não conseguiu localizar a defesa de Sarí Corte Real para comentar o mérito dos recursos e a expectativa para a definição da sentença. O espaço segue aberto.

O caso 

No dia 2 de junho de 2020, o menino Miguel foi deixado sozinho por Sarí Corte Real no elevador do prédio de luxo onde a mãe, Mirtes Renata, trabalhava, no centro do Recife. A criança procurava a mãe, que tinha ido passear com o cachorro da patroa, e caiu de uma altura de 35 metros.

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A estudante de direito Mirtes Renata, de 34 anos, mãe do menino Miguel Otávio, foi prestar solidariedade à família da menina Beatriz Angélica e encontrou a mãe da criança, Lúcia Mota, na manhã desta terça-feira (28), na BR-232, próximo à entrada de Santo Aleixo, em Jaboatão dos Guararapes. Beatriz foi assassinada aos sete anos, em 2015, dentro da escola onde estudava em Petrolina, no Sertão do estado. Seis anos depois, o caso segue sem respostas. Por esta razão, os pais da menina organizaram uma manifestação com repercussão nacional e que se concretiza na capital pernambucana hoje.

As famílias de Miguel e Beatriz já trocam contato há meses e se consideram parceiras de luta, uma vez que o caso do menino recifense protagoniza uma batalha judicial há mais de um ano. O encontro deve seguir até o Centro do Recife, onde os familiares de Beatriz realizarão um protesto em frente ao Palácio do Governo do Estado, solicitando que a gestão estadual colabore com o pedido de federalização do caso, já enviado ao Ministério Público Federal.

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O ato "Caminhe por Justiça" chega ao Recife após 23 dias de execução. Para dar visibilidade ao assassinato sem desfecho, pais, amigos e familiares da vítima percorreram mais de 700 quilômetros de Petrolina até a capital. Nesta terça (28), o grupo realiza a primeira grande parada na Avenida Abdias de Carvalho e em seguida, realizarão concentração na Praça do Derby, às 11h.

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Conheça o caso

Em 10 de dezembro de 2015, a menina Beatriz Angélica Mota Ferreira da Silva foi assassinada por 42 golpes de faca, aos sete anos de idade. A menina atendia à uma festa de formatura no colégio Auxiliadora, instituição católica tradicional de Petrolina, e onde seu pai, Sandro, trabalhava como professor veterano de inglês. No dia, cerca de três mil pessoas circularam pelas dependências do colégio, que concentrou o evento na quadra de esportes. A última vez que Beatriz foi vista ela estava no bebedouro próximo à quadra e aos fundos da escola, por volta das 21h59. O momento foi registrado pelas câmeras de segurança.

Como Beatriz não retornou após pedir para beber água, com cerca de 20 minutos, os familiares anunciaram o desaparecimento da criança e uma busca geral foi iniciada. Momentos depois, o corpo da vítima foi encontrado atrás de um armário em uma sala de material esportivo desativada após um incêndio provocado por ex-alunos do colégio.

Um homem é apontado como possível assassino da menina, mas a Polícia Civil trabalha com a hipótese de que um grupo de cinco pessoas esteja envolvido no crime. O local exato da morte da criança também não foi descoberto. A família de Beatriz questiona a demora no caso e a ausência de respostas para algumas perguntas, como a localização dos DNAs encontrados na cena do crime; a reforma feita na sala de balé – que não foi periciada – próxima à sala onde a vítima foi encontrada; a demora para o isolamento do prédio; dentre outras questões.

Os familiares solicitaram ao Ministério Público Federal a federalização do caso e pede, por mais um ano, a ajuda do Governo de Pernambuco para a concretização do pedido.

Uma nova audiência no dia 15 de setembro foi marcada para dar continuidade ao processo que julga a morte do menino Miguel Otávio. No seguimento da instrução convocado pelo juiz José Renato Bizerra, da 1ª Vara dos Crimes Contra Criança e Adolescente do Recife, Sari Corte Real e mais uma testemunha de defesa devem ser ouvidas.

Em entrevista ao LeiaJá, Mirtes Renata criticou a lentidão do processo, mas considera  a intimação para os novos depoimentos como um aceno positivo da Justiça ao caso.

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"Tô bem satisfeita com a data porque foi rápida a marcação. Que ela seja ouvida e que seja logo concluída essa primeira 'chave' para poder seguir com o processo. Porque já poderia ter se resolvido há muito tempo e, infelizmente, o judiciário fica com certa morosidade", observou.

A audiência foi agendada às 9h, na própria sede da 1ª Vara dos Crimes Contra Criança e Adolescente, no bairro da Boa Vista, área Central do Recife.

"Só pelo fato de ter mandado prosseguir com o processo já é uma coisa boa", acrescentou Mirtes. Apesar da manutenção do julgamento, caso condenada, Sari não deve ser presa nessa etapa do processo, que ainda cabe recursos à defesa.

Mais uma oitiva de acusação

Os advogados de Mirtes também aguardam a expedição de uma carta precatória para marcar a oitiva da testemunha de acusação identificada como Luciene Raimundo Neves. Elas trabalharam juntas na casa de Sari em Tamandaré, Litoral Sul de Pernambuco.

Anulação de depoimentos da defesa

A mãe da criança já havia solicitado a anulação do depoimento de uma testemunha de defesa que mora em Tracunhaém, na Mata Norte de Pernambuco. Na ocasião, ela foi ouvida sem a presença de seus advogados. “A que foi ouvida de Tracunhaém não é funcionária dela, é funcionária da cunhada dela", ressalta Mirtes, que complementou: “não houve anulação da testemunha, mas mandou prosseguir com o processo".

O caso

Sari é ex-primeira-dama do município e foi acusada de homicídio doloso por negligenciar os cuidados a Miguel, que morreu em junho de 2020 após cair do 9º andar do condomínio de luxo Píer Maurício de Nassau, no Centro da capital. A ré chegou a ser presa em flagrante, mas pegou fiança de R$ 20 mil para responder em liberdade.

A vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos (PCdoB), recebeu em seu gabinete, na última segunda-feira (2), a estudante de Direito, Mirtes Renata, mãe do menino Miguel, morto no ano passado aos 5 anos. Ex-empregada doméstica, Mirtes recebeu no último sábado (31) o prêmio Faz Diferença, do Jornal O Globo, na categoria 'Diversidade', por sua luta contra a desigualdade social e o racismo.

A secretária da Mulher, Ana Elisa Sobreira, também participou do encontro. Na pauta, além dos desdobramentos da luta de Mirtes por Justiça pela morte de seu filho, estiveram os esforços no sentido de fazer cumprir a legislação relativa ao trabalho doméstico e as iniciativas para assistir as mães trabalhadoras.

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Mirtes deu novo rumo à sua vida, após a morte de Miguel, que não resistiu à queda do 9º andar do prédio em que ela trabalhava como doméstica. A criança estava sob os cuidados da patroa, que o deixou sozinho no elevador. No último sábado, Mirtes recebeu o prêmio Faz Diferença 2020, do Jornal O Globo, na categoria 'Diversidade', por sua luta contra a desigualdade social e o racismo

Após a tragédia que modificou sua vida, ela decidiu retomar os estudos e vai agora para o segundo período da faculdade de Direito. Seu objetivo é ajudar outras mães em situação de injustiça. Atualmente, trabalha na organização não governamental Curumim, que atua em defesa dos direitos da mulher e no combate o racismo.

No encontro na vice-governadoria, a secretária da Mulher convidou Mirtes para compor o Comitê das Mulheres Negras Metropolitanas, que tem por finalidade discutir, assessorar, formar, avaliar, propor, e monitorar as políticas públicas para as mulheres negras metropolitanas, de forma a assegurar seus direitos e de promover a equidade nas relações de gênero e de raça, combatendo as injustiças e as desigualdades étnico-raciais.

Mirtes disse que se surpreendeu com a premiação, uma vez que concorria com o Instituto Avon e a cientista da USP Ester Sabino, e afirmou que pretende usar a visibilidade da homenagem para que o caso de seu filho não caia no esquecimento.

“Agradeço aos que votaram em mim e reforço que ganhei esse prêmio, estão falando de mim, mas o foco maior é no caso de Miguel, que ainda não foi resolvido. E para que outras mães não passem pelo que estou vivendo”, destacou.

“Mirtes é uma gigante, uma mulher que transformou a dor do luto em luta. É uma inspiração. Reiterei aqui minha admiração e minha disposição de ajudá-la no que for preciso nesse seu caminho por Justiça. É muito importante, no governo, conversar sobre nossas políticas públicas com as pessoas que são as beneficiárias delas. Sobretudo, quando estamos falando de uma mulher consciente como Mirtes”, disse Luciana.

*Da assessoria de imprensa

Nesta quarta-feira (2), a morte de Miguel Otávio Santana da Silva, de cinco anos, completa um ano. O menino faleceu após cair do nono andar - uma altura de 35 metros - de um condomínio de luxo no centro do Recife. 

O garoto estava sob os cuidados de Sari Corte Real, ex-primeira-dama de Tamandaré e ex-patroa de Mirtes, mãe de Miguel. Ele foi deixado sozinho no elevador. Mirtes, que era empregada doméstica, passeava com a cadela da patroa. 

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A seguir, confira uma retrospectiva de fatos importantes relacionados ao caso, como o andamento da esfera penal e trabalhista, e a vida de Mirtes após a perda do filho.

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No próximo dia 2 de junho a morte do menino Miguel, menino de cinco anos que caiu do nono andar de prédio de luxo no Recife, completa um ano. Para lembrar a data, Mirtes Renata, mãe de Miguel, anunciou a Semana Internacional Menino Miguel, que ocorrerá de 30 de maio até 5 de junho.

A programação da Semana Internacional conta com uma série de transmissões ao vivo realizadas no Brasil e mais sete países. No dia 2 de junho, será realizada uma caminhada no Recife. 

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"A morte de Miguel é o símbolo de toda a crueldade cometida pelo racismo no Brasil e não pode ficar impude", escreve Mirtes Renata nas redes sociais. 

Conforme a agenda do evento, no próximo domingo (30) haverá o lançamento do vídeo de denúncia do caso Miguel em inglês. Os temas das lives serão "Implicações da branquitude na morte de Miguel", "Direitos da criança e do adolescente e o caso Miguel", "Direitos humanos internacionais", "Relações coloniais e as mortes de gente preta", "A luta das mulheres negras e o caso Miguel", "Miguel vive na luta: desafios das universidades em defesa da justiça antirracista" e uma grande live de encerramento em 5 de junho.

O caso

Miguel Otávio Santana da Silva morreu no dia 2 de junho após cair do nono andar, uma altura de cerca de 35 metros, do edifício de luxo Píer Maurício de Nassau, que integra o conjunto conhecido popularmente como "Torres Gêmeas", no bairro de São José, centro do Recife. A queda ocorreu durante os minutos em que Mirtes, que trabalhava como empregada doméstica no quinto andar daquele prédio, estava ausente levando a cachorra da patroa Sari Gaspar Corte Real para passear.

Miguel queria ficar com a mãe e tentou mais de uma vez usar o elevador para encontrá-la. Não suportando a desobediência do menino, Sari apertou o botão da cobertura no elevador e deixou o menino sozinho dentro do equipamento. Ele saiu no 9º andar, de onde caiu.

No dia do ocorrido, Sari chegou a ser presa em flagrante, mas pagou fiança de R$ 20 mil e pôde responder ao processo em liberdade. Posteriormente, após análise das câmeras de segurança, a Polícia Civil indiciou a primeira-dama por abandono de incapaz que resultou em morte. As gravações mostravam que o menino entrou várias vezes no elevador querendo encontrar a mãe, sendo retirado por Sari. Na última vez, a primeira-dama apertou o botão da cobertura e deixou ele sozinho, voltando para o apartamento, onde fazia as unhas com uma manicure. 

O Ministério Público de Pernambuco denunciou Sari com agravamento da pena, pelo crime ter sido contra criança e em meio à conjuntura de calamidade pública.

Em 3 de dezembro, no Recife, ocorreu a primeira audiência de instrução e julgamento do caso. Na ocasião, foram ouvidas oito testemunhas de acusação, entre elas, Mirtes, Marta e o pai de Miguel, Paulo Inocêncio da Silva. Sari estava presente, mas não foi interrogada.

O Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT) suspendeu o bloqueio de bens de Sérgio Hacker Côrte Real, ex-prefeito de Tamandaré, e de sua esposa, Sari Mariana Costa Gaspar Côrte Real. Sérgio e Sari são ex-patrões da mãe e da avó de Miguel Otávio, menino de cinco anos que morreu após cair do nono andar de prédio de luxo no Recife em 2 de junho de 2020.

O bloqueio de R$ 2 milhões do casal foi determinado em outubro de 2020 pela Justiça do Trabalho a partir de uma ação civil pública do Ministério Público do Trabalho (MP) de Pernambuco. O MPT solicitava a garantia de que os investigados conseguiriam pagar o valor de uma eventual indenização por dano moral referente as irregularidades empregatícias envolvendo Marta Maria Santana Alves e Mirtes Renata. 

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Sérgio e a esposa entraram com uma medida de segurança alegando que a decisão anterior foi tomada sem que existissem provas de que estivessem desviando ou dilapidando seu patrimônio, visando se esquivar de obrigações futuras. No documento, eles alegaram que a manutenção da decisão causaria prejuízo irreparável, "inviabilizando completamente a manutenção financeira de sua família."

Ainda em outubro de 2020, o desembargador Ibrahim Alves da Silva Filho deferiu decisão liminar suspendendo o bloqueio. Na última segunda-feira (1º), a relatora Virgínia Malta Canavarro decidiu conceder, em definitivo, o requisitado por Sérgio Hacker e Sari Corte Real. A decisão foi seguida, por unanimidade, pelo Pleno do TRT da 6ª Região.

Na decisão do desembargador em outubro, ele destaca que o Ministério Público justificou a necessidade da medida cautelar de indisponibilidade de bens com base na demora do processo "que dará tempo suficiente para que os réus dilapidem seu patrimônio, reduzindo ou eliminando as garantias de satisfação dos créditos e, com isso, inviabilizando a execução de uma eventual decisão de procedência dos pedidos". Para o magistrado, entretanto, não foram apontados elementos concretos mínimos ou indícios de que os réus da ação estariam desviando ou dilapidando o patrimônio. 

Em novembro, o MPT chegou a recorrer da liminar, alegando, por exemplo, que Sérgio Hacker ocultou patrimônio seu à Justiça Eleitoral para o processo eleitoral de 2020, "na qual apresentou apenas a existência de um veículo da marca Honda, no valor de R$ 50.000,00, enquanto que a consulta ao RENAJUD informou a existência de outros cinco veículos".  O órgão destacava que os bens declarados em 2016 eram mais que duas vezes superiores ao que foi indicado no pleito do último ano, "dando a entender que o patrimônio teria diminuído ao longo do primeiro mandato, o que não é minimamente verossímil." O MPT ainda destacou que o bloqueio não atingiu a totalidade do patrimônio do casal, que possuiria meios de prover o sustento da família.

Para o desembargador, entretanto, o agravo impetrado pelo MPT não trouxe qualquer fato ou fundamento jurídico novo. O provimento ao agravo do MPT foi negado. O LeiaJá procurou o MPT para se posicionar sobre a nova decisão e aguarda resposta.

O caso Miguel

Miguel Otávio Santana da Silva, de cinco anos, caiu do nono andar do prédio de luxo Píer Maurício de Nassau, no bairro de São José, no Recife, em 2 de junho. Ele estava aos cuidados de Sari, enquanto sua mãe levava a cadela da patroa para passear. O menino foi deixado sozinho dentro do elevador.

Naquele mesmo dia, Sari foi presa em flagrante, mas pôde responder em liberdade após pagar R$ 20 mil de fiança. A Polícia Civil a indiciou por abandono de incapaz que resultou em morte. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) a denunciou com agravamento da pena, pelo crime ter sido contra criança e em meio à conjuntura de calamidade pública.

Em 3 de dezembro, ocorreu a primeira audiência de instrução e julgamento do caso. Foram ouvidas oito testemunhas de acusação. Sari estava presente, mas não foi interrogada. Uma nova audiência será marcada.

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No coração do recifense, a saudade do Carnaval se mistura com o silêncio das ruas vazias em pleno sábado de Zé Pereira (13), quando o Galo da Madrugada costuma arrastar a felicidade em cortejo pelo Centro. Para Mirtes Renata, mãe de Miguel Otávio, a angústia do primeiro ano sem a celebração caminha com a tristeza do primeiro Carnaval sem o filho. Foliã apaixonada pelas cores da capital do frevo, ela prestou homenagens ao filho e lembrou da sua identificação a festa.

Seja como passista, super-herói ou pirata, Miguel não perdia um desfile do Pinto da Madrugada, nem escondia a ansiedade de cair no passo. O sorriso entre os confetes visto aos olhos da mãe garantia a presença na edição seguinte, como lembrou Mirtes.

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Às vésperas de ingressar na faculdade de Direito, a vida da doméstica mudou quando a criança morreu ao cair do nono andar do edifício de luxo Píer Maurício da Nassau, no Centro do Recife, em junho do ano passado. Desde então, ela tornou-se um símbolo nacional pela luta antirracista e trava luta judicial com a ex-patroa, Sarí Corte Real, acusada de homicídio por negligenciar os cuidados ao pequeno. 

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Há exatamente oito meses, Mirtes Renata viveu o dia mais triste da vida ao despedir-se do filho Miguel Otávio, de apenas cinco anos. Desde então, ela se desgasta em uma luta judicial pela condenação da ex-patroa Sarí Corte Real. Com o caso parado, a doméstica critica a agressão psicológica proveniente da morosidade da Justiça e garante que não vai abrir mão da luta contra a má cultura da 'mais-valia' judicial.

"Eles estão tentando me cansar psicologicamente, mas não vão conseguir porque eu tô firme e forte na luta. Eu não vou parar enquanto a Justiça não for feita”, reafirmou a mãe nesta terça-feira (2), em entrevista ao LeiaJá.

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Ela diz sentir na pele o descaso com a morte do filho e acredita que o julgamento é influenciado pelo status socioeconômico da ex-primeira dama de Tamandaré. “Eles só estão fazendo isso porque a gente tá lidando com pessoas da alta. Isso tá influenciando muito para que o caso não seja solucionado e isso me revolta muito, em saber que o judiciário só age de forma severa para quem é da classe baixa”, desaprovou.

Mirtes ainda não sabe quando será a próxima audiência, apenas indica que não foi informada sobre o prazo para a retomada do processo. “Quanto mais tempo se passa, mais fica difícil de resolver as coisas e isso beneficia Sarí, por que ela tá solta. Tá aí vivendo a vida dela, do jeito que ela quer, passeando ‘pra cima e pra baixo’”, rechaça.

Segundo a doméstica e futura estudante de Direito, faltam dois depoimentos da Defesa. Uma das testemunhas é de Tracunhaém e ainda não foi expedida a carta precatória. A outra é de Tamandaré e deveria ter sido ouvida no último dia 9 de dezembro, no entanto, não prestou depoimento, nem apresentou justificativa, relata.

No dia 2 de junho de 2020, Miguel morreu ao cair do nono andar de um edifício de luxo no Centro do Recife após ser abandonado no elevador pela acusada. Presa em flagrante por homicídio culposo, Sarí pagou fiança de R$ 20 mil e foi posta em liberdade. A estratégia adotada pelos advogados foi classificada por Mirtes como ‘violenta e agressiva’. “Se querem ‘adultizar’ meu filho, querem que meu filho se torne uma criança independente, então eu nem teria levado ele para o trabalho. Tinha deixado ele em casa”, discordou.

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Em uma apresentação intensa, a cantora recifense Diva Menner, de 36 anos, foi selecionada para a semifinal do The Voice Brasil e dedicou a conquista à família de Miguel Otávio. A música que lhe rendeu elogios nessa quinta-feira (10) foi "A carne", que debate sobre o racismo no país e foi interpretada em homenagem ao menino de cinco anos, que morreu ao cair de um edifício de luxo da capital Pernambucana.

Após a interpretação em tom de protesto, a representante do time Iza foi escolhida pelo público para prosseguir na disputa. "Essa vitória com A carne, eu queria dedicar a toda família preta brasileira, inclusive a minha, e a do jovem Miguel, lá de Recife, meus conterrâneos. A nossa luta nunca vai acabar!", disse a cantora após o resultado popular.

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Imortalizada na voz de Elza Soares, a versão original da canção foi gravada com a participação de Carlinhos Brown, que aprovou o arranjo escolhido por Diva. "Ela canta demais e essa versão rock in roll valorizou esse tema que é único", parabenizou o técnico.

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No Twitter, telespectadores mostraram-se admirados com a apresentação e com a escolha da música em homenagem aos negros brasileiros. "A recifense Diva Menner ocupando o palco e seu lugar de fala no The Voice Brasil. Passou pra semifinal e pediu pra dedicar a música "A Carne": "pra todas as famílias pretas e pra de Miguel". É entretenimento, mas também é luta. Que todos os espaços sejam ocupados por essas vozes"; "Diva Menner dedicando sua apresentação ao Miguel, filho de Mirtes. Que emocionante!"; "Achei o ponto alto do #TheVoiceBrasil de hj Diva Menner sendo salva pelo público e relembrando sobre o caso Miguel, ao vivo na Globo", comentaram alguns usuários que reforçaram a torcida pela cantora na semifinal.

Em frente ao local da audiência de Sari Corte Real, na 1ª Vara de Crimes contra a Criança e o Adolescente da Capital, no Centro do Recife, nesta quinta-feira (3), organizações voltadas à defesa dos direitos do povo negro cobram justiça no caso da morte de Miguel Otávio, de cinco anos. Sari foi denunciada por abandono de incapaz com resultado morte, com as agravantes de cometimento de crime contra criança e em ocasião de calamidade pública

Com a ajuda de um carro de som, os manifestantes dizem que a morte da criança deve ser usada para refletir sobre os reflexos do racismo estrutural no Brasil. Com cartazes cobrando justiça, cerca de 30 integrantes da Articulação Negra de Pernambuco (Anepe), do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), do Instituto Menino Miguel e outras entidades pedem pela condenação máxima de Sari.

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"O Brasil é um país que foi construído em cima de um mentalidade escravagista, o sangue preto sempre foi derramado para que ela fosse construída. Basta ver que mulheres e homens pretos foram trazidos com a finalidade de trabalhar como escravos. A gente precisa enfrentar esse racismo e as leis precisam ser mais contundentes", criticou o representante do Instituto Menino Miguel, Hugo Monteiro.

Diante de uma força policial considerada desproporcional pelos manifestantes, com quatro viaturas e cerca de 15 militares, a representante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Daniele Braz, diz que a própria Justiça precisa se reestruturar. "Eu acho que o caso de Miguel serve como um símbolo de como a estrutura de poder judiciário é racista. Se fosse Mirtes ao invés de Sari, ela já estaria na cadeia. A audiência só foi marcada porque houve muita pressão popular", complementou.

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Relembre o caso

No dia 2 de junho deste ano, Miguel morreu após cair do nono andar do condomínio de luxo, Píer Maurício de Nassau, localizado no Centro da capital pernambucana. Ele era filho da doméstica Mirtes Renata de Souza, que passeava com o cão da patroa e havia deixado o garoto sob os cuidados de Sari.

A primeira-dama de Tamandaré permitiu que Miguel pegasse o elevador do edifício sozinho até o andar de onde caiu. Sua morte resultou na lei municipal 17.020/20, que proíbe o uso do elevador por menores de idade desacompanhados no Recife.

Na ocasião, Sari chegou a ser presa em flagrante por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, contudo foi liberada após fiança de R$ 20 mil. Após a repercussão do homicídio, um esquema de contratação de funcionários fantasmas foi descoberto na gestão do prefeito Sérgio Hacker, que incluía na lista de servidores do município Mirtes e Marta Maria Santana Alves, avó de Miguel.

Nesta quinta-feira (3), ocorre a primeira audiência de instrução e julgamento do Caso Miguel. Por volta das 10h foi iniciada a ouvida da primeira testemunha. Também estão previstas as ouvidas de Mirtes e Marta e o interrogatório de Sari.

A primeira audiência de instrução e julgamento de Sarí Corte Real pela morte do menino Miguel Otávio Santana da Silva, de cinco anos, está agendada para as 9h desta quinta-feira (3) na 1ª Vara de Crimes contra a Criança e o Adolescente, localizada no bairro da Boa Vista, área central do Recife. O rito será conduzido pelo juiz titular do Centro Integrado da Criança e do Adolescente (Cica), José Renato Bizerra. O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) não informou a quantidade de testemunhas arroladas no processo, apesar de haver a informação de que seriam 16 inicialmente.

O objetivo da audiência é interrogar Sarí e ouvir testemunhas, tanto da defesa, quanto do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). A empregada doméstica Mirtes Renata Santana de Souza, mãe de Miguel, e a também doméstica Marta Maria Santana Alves, a avó, estão entre as pessoas a serem ouvidas. Sarí foi denunciada por abandono de incapaz com resultado morte, com as agravantes de cometimento de crime contra criança e em ocasião de calamidade pública.

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Depois da fase de Instrução e Julgamento do processo, o MPPE e a Defesa deverão apresentar as alegações finais, e o Juízo da 1ª Vara de Crimes contra a Criança e o Adolescente da Capital profere a decisão.

Miguel estava sob os cuidados da patroa quando caiu do 9º andar do condomínio de luxo Píer Maurício de Nassau, um dos prédios que formam as Torres Gêmeas, no Centro do Recife.

A acusada é a atual primeira-dama de Tamandaré, município do Litoral Sul de Pernambuco. O caso revelou crimes da administração do marido Sergio Hacker (PSB), com a contratação de funcionários fantasma, visto que Mirtes e Marta constavam como servidoras da prefeitura. Sérgio Hacker disputou as eleições deste ano, mas não conseguiu se reeleger.

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Faltando pouco para o primeiro Dia das Crianças sem Miguel, a sala da casa de Mirtes, no Barro, Zona Oeste do Recife, está lotada de brinquedos. São 100 ao todo, que ela vai distribuir neste domingo (11) no Centro Comunitário Mário Andrade de Lima, no Ibura, bairro periférico na Zona Sul. A tarefa coube a ela de forma inesperada. 

Mirtes Renata Santana de Souza faz parte há dois anos do Coiotes Corredores, um grupo de atletas amadores que corre todas as quartas-feiras no 2º Jardim de Boa Viagem, também na Zona Sul da capital. Mensalmente eles fazem uma ação solidária para alguma instituição. A pessoa que realizaria a distribuição do Dia das Crianças teve que viajar e coube a Mirtes fazer a entrega.

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"A ficha está caindo aos poucos", diz Mirtes, que na sexta-feira (9), enquanto separava os brinquedos nas grandes sacolas, ficava imaginando quais o filho gostaria de receber. No Dia das Crianças, Mirtes costumava comprar um presentinho e levar o garoto para passear em algum lugar da escolha dele.  

Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, morreu no dia 2 de junho ao cair do nono andar, uma altura de cerca de 35 metros, do edifício de luxo Píer Maurício de Nassau, que integra o conjunto conhecido popularmente como "Torres Gêmeas", no bairro de São José, centro do Recife. A tragédia ocorreu durante os poucos minutos em que a mãe, que continuava trabalhando de empregada doméstica durante a pandemia do novo coronavírus, se ausentou para levar Mel, a buldogue da patroa Sarí Gaspar Corte Real, para passear. Miguel queria ficar com a mãe enquanto Sarí queria fazer a unha. Não suportando a desobediência do menino, a patroa, primeira-dama de Tamandaré, apertou o botão da cobertura e o deixou só no elevador. Miguel saiu no 9º andar, de onde caiu.

Desde então, Miguel não mais passeou pela casa de bicicleta, para reclamação da mãe, pois não pode ficar correndo de bicicleta pela casa. Não mais brincou de Uber, empurrando os carros pelo chão de cerâmica. Não mais usou o vão do rack como garagem de seus carros. Ou gritou "ei, amigo" para os garis que passavam perto de sua casa, se pendurando no caminhão, algo que ele queria muito poder fazer. Ou puxou o banco com a estampa do Chaves para o meio da sala, entre a avó e a televisão. "Miguel, saia da frente", dizia Marta Maria Santana Alves. "A senhora está vendo a tv ou o celular?", rebatia o garoto, com a resposta na ponta da língua.

Miguel veio ao mundo com o rosto igual ao que a mãe havia sonhado. 4 quilos e 530 gramas, 52 cm, às 7h42 da manhã de 17 de novembro de 2014. A mãe fala todos esses números com a fluidez de quem conta até 10. Miguel nasceu "grande e roliço" no Hospital João Murilo de Oliveira, em Vitória de Santo Antão, a 76,5 km de Orobó, cidade em que a mãe morava.  "Ele era lindo, lindo, lindo", ela recorda. 

Mirtes sempre achou o nome Otávio forte, nome de médico. "Doutor Otávio, Doutor Miguel Otávio", as pessoas falariam. O sonho dela era ver o filho médico, com um futuro melhor do que o seu e por isso gastava muito com ele. Era escola, hotelzinho, plano de saúde, tratamento psicológico quando o menino ficou agressivo no período da separação dos pais, e fonoaudiólogo, devido à língua presa. No Moda Center de Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste, ela pagou R$ 400 em roupas para o filho e comprou nada para si. 

O 'Miguel' foi sugestão da madrinha, por causa do Arcanjo Miguel. Mirtes também costumava frequentar a capela de São Miguel Arcanjo na cidade de Bonança. "Dei nem chance do pai dele optar pelo nome", Mirtes lembra. O então companheiro dizia que escolheria o nome se fosse menina, ela concordou, mas acredita que decidiria o nome da garota do mesmo jeito.

 

Os Coiotes Corredores conseguiram arrecadar 300 brinquedos. Um terço desses será entregue no Sertão também neste domingo. Outros 100 serão levados por Mirtes e Marta para o Centro Comunitário Mário Andrade. Os últimos 100 devem ser distribuídos para crianças do UR-05, também no Ibura, no domingo seguinte, dia 18.

Mirtes comprou brinquedos para a ação, mas não mexeu nos de Miguel. Brinquedos, roupas e sapatos estão todos guardados. A mãe diz que quer chegar em casa e encontrar tudo do jeito que o filho deixou. "Eu não consigo me desfazer de nada dele ainda. Meu coração não deixa tirar nada do meu filho daqui". Os carros seguem na garagem do rack, logo abaixo da TV. Mirtes diz que está faltando o carro de polícia, que ficava mais à esquerda e que provavelmente Miguel deixou no hotelzinho e ela vai buscar para colocar de volta. O menino gostava muito daquele carro. Queria ser policial. A mãe tinha que levá-lo todo ano para o desfile de Sete de Setembro. Miguel ficava encantado vendo os soldados marchando. Pedia o colo da mãe para conseguir ver o mais de perto possível.

Além dos brinquedos, Mirtes e Marta vão levar bolo, refrigerante e ingredientes para fazer cachorro-quente. O Centro Comunitário também vai distribuir sacolinhas de doces e máscaras de proteção. "Para mim vai ser uma satisfação ver uma criança feliz por ganhar um brinquedo desse. No sorriso das crianças eu vou ver o sorriso dele. Não é fácil, mas vai ajudar, acho que vai aliviar um pouco a dor que eu sinto, ver outras crianças sorrindo, satisfeitas, felizes, como Miguel era", comenta Mirtes.

No mês passado, ela foi convidada para receber cestas básicas em uma escolinha de futebol perto de onde mora. Ao chegar lá, foi abraçada pelas crianças. "Foi tão gostoso aquele abraço. Parece que Miguel tinha falado com eles: 'abraça a minha mãe, minha mãe está precisando'". Um menino fez um gol e correu para abraçá-la. "Esse gol é pra senhora", disse o garoto, que se chamava Miguel, ela soube posteriormente. "E aquilo mexeu tanto comigo", lembra.

Marta ficou preocupada ao saber que a filha teria que lidar com uma casa cheia de brinquedos. Seria uma provação. "Depois de uma morte dessa, cada um tem um sentimento, pode ter rancor. Ela poderia se recusar a receber. Mas se você cria o ódio, a raiva, você só anda para trás", diz a avó de Miguel.

O Centro Comunitário Mário Andrade de Lima, onde ocorrerá a distribuição dos presentes, foi criado por Joelma Lima com a ajuda de movimentos sociais. O local recebe o nome do filho de Joelma, que foi assassinado aos 14 anos por um ex-sargento da Polícia Militar em julho de 2016 sem qualquer chance de defesa após ter batido a bicicleta na moto do policial. O ex-sargento foi condenado a 28 anos e seis meses de reclusão, não sem antes Joelma promover vários atos, como interdição de via e vigília, cobrando justiça, que o caso não caísse em esquecimento e contra as tentativas de criminalizarem seu filho.

Mirtes e Joelma se aproximaram após a tragédia com Miguel. "O centro está dando forças a Mirtes para ela ver que, por mais difícil que seja a gente estar sem nossos filhos, tem outras crianças que precisam receber amor, receber carinho. Uma certeza eu tenho, que ela vai sentir Miguel ali na presença dessas crianças assim como eu sinto Mário", diz Joelma.

Sarí Gaspar Corte Real é ré por abandono de incapaz com resultado morte com as agravantes de cometimento de crime contra criança e em ocasião de calamidade pública. A audiência de instrução e julgamento está marcada para 3 de dezembro. No dia da tragédia, Sarí chegou a ser autuada em flagrante por homicídio culposo, mas foi liberada após pagar fiança de R$ 20 mil.

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Na próxima quarta-feira (2), será lançada uma campanha em alusão aos três meses na morte do menino Miguel Otávio, de cinco anos, que faleceu após cair do nono andar de condomínio de luxo no Recife enquanto estava aos cuidados da então patroa de sua mãe. Entre as participantes da campanha estão a apresentadora Angélica, a atriz Mariana Ximenes e a cantora e compositora Lia de Itamaracá.

Também participam da ação militantes, ativistas, advogados e familiares de Mirtes Renata Souza, mãe de Miguel. Será lançado um vídeo em que os participantes usam camisetas com frases ditas por Mirtes.

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"Muito grata a todos que estão participando da campanha, que vai fortalecer a nossa batalha e nossa busca de justiça por Miguel", afirma Mirtes, que na última semana sofreu ataques virtuais por conta de ação cível que pede indenização da família Corte Real.

A concepção artística da camiseta, com cores azul cobalto e branco, em referência à fé católica da mãe de Miguel, foi desenvolvida pela artista plástica Mana Bernardes. "A fala de Mirtes precisa ser ouvida. Ela quer justiça por amor ao filho. Essa narrativa tem o poder de mover as estruturas", disse.

Também participam da ação as atrizes Erika Januza, Fabiana Karla, Eliane Giardini, Isabela Garcia, Cris Vianna, Débora Nascimento, Júlia Lemmertz, Débora Falabella, entre outras.

O vídeo da campanha será disponibilizado nas redes sociais e foi realizado conjuntamente pela Articulação Negra de Pernambuco (Anepe), Mana Bernardes e a família de Miguel em parceria com o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), Coletivo Negritude do Audiovisual em Pernambuco e outros movimentos sociais. Às 18h da quarta-feira será realizada uma transmissão ao vivo no Facebook da Anepe de lançamento da campanha com participação de Mirtes e apoiadores.

Miguel morreu no dia 2 de junho após ser abandonado no elevador pela ex-patroa de Mirtes e primeira-dama de Tamandaré, Sarí Corte Real. Sarí é ré por abandono de incapaz com resultado morte, com as agravantes de cometimento de crime contra criança e em ocasião de calamidade pública. Ela chegou a ser presa no dia do ocorrido, mas foi liberada após pagar fiança de R$ 20 mil.

A Câmara dos Vereadores de Tamandaré, no Litoral Sul de Pernambuco, arquivou, na noite dessa quarta-feira (6), uma denúncia de improbidade administrativa contra o prefeito da cidade, Sérgio Hacker (PSB). O texto foi arquivado com o apoio de sete vereadores. 

Na mesma sessão, também estava para ser votado o pedido de impeachment contra o gestor pessebista, apresentado pelos advogados Liana Cirne e Higor Araújo, mas no momento da análise a transmissão ao vivo da reunião foi interrompida e não voltou mais. 

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O LeiaJá entrou em contato com a Câmara de Tamandaré para saber o resultado da votação. De acordo com o gabinete do presidente da Casa, Adriano Cândido (PSB), os vereadores também rejeitaram o pedido de abertura do processo de impeachment contra o prefeito.

Tanto a denúncia de improbidade administrativa quanto o pedido de destituição do cargo de Sérgio Hacker estavam baseados em funcionários fantasmas da prefeitura, entre os quais estavam Mirtes Renata e Marta Santana, respectivamente mãe e avó de Miguel Otávio, de 7 anos, que morreu ao cair de um edifício no Recife, quando estava aos cuidados de Sarí Corte Real, esposa do prefeito de Tamandaré. Mirtes e a mãe eram empregadas da casa do gestor e constavam como funcionárias da prefeitura.

Enquanto Sarí Côrte Real tentava explicar o motivo de ter abandonado Miguel Otávio em um elevador minutos antes da sua morte, a família da criança de cinco anos promoveu um panelaço durante a entrevista, na noite desse domingo (5). Para os familiares, a primeira-dama de Tamandaré, Região Metropolitana do Recife (RMR), se esquivou das perguntas e usou a visibilidade em rede nacional para tentar se vitimizar.

A campanha para protestar durante a fala de Sarí foi ampliada por apoiadores de várias partes do Brasil, que também reivindicam Justiça pela morte da criança. “Queremos a sociedade gritando com a gente, estamos cansados de privilégios”, aponta o comunicado enviado pelos próprios familiares.

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Após ser autuada por homicídio culposo, a acusada pagou fiança de R$ 20 mil e foi liberada pela Polícia Civil. Para colher seu depoimento, a delegacia abriu duas horas antes do expediente, o que gerou revolta.

A doméstica Mirtes Renata, mãe de Miguel, questiona o fato da ex-patroa ter se pronunciado apenas ao término do inquérito policial, que tipificou o crime como abandono de incapaz e pode deixá-la atrás das grades por 12 anos. Para ela, o arrependimento exposto por Sarí é falso com intuito de atenuar a futura pena. “A sociedade não aguentou a frieza no qual a mesma demonstrou, não respondendo absolutamente nada... Nem para pedir perdão!”, completa.

Em entrevista ao Fantástico nesse domingo (5), a primeira-dama do município de Tamandaré e ex-patroa de Mirtes Renata, Sarí Côrte Real, deu sua versão sobre a morte de Miguel Otávio, de cinco anos, que caiu do 9º andar de um condomínio de luxo no Recife. O caso comoveu o Brasil no início de junho devido à conduta irresponsável da acusada, que abandonou o garoto no elevador do edifício. Ela diz estar arrependida e classificou o episódio como uma “tragédia”.

"Eu sinto que fiz tudo que eu podia. E se eu pudesse voltar no tempo, eu voltava. Se eu soubesse que ia acontecer. Eu esperava mais, não sei, só sei que naquela hora eu fiz tudo que eu podia. Não fiz nada temendo o que ia acontecer", afirmou.

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Com um terço em mãos e uma blusa branca, Sarí deixou de lado a vaidade e respondeu às perguntas sem maquiagem ou joias extravagantes. No momento da queda, ela era atendida por uma manicure, que relatou em depoimento que, mesmo após o garoto cair de uma altura de aproximadamente 35 metros, a contratante tinha o desejo de finalizar as unhas.

Nas mãos da Justiça 

A criança ainda aprendia os números e passou a frequentar o condomínio Píer Maurício de Nassau durante a pandemia, pois a falta de acompanhantes obrigou a mãe a levá-lo ao trabalho. Ele não estava habituado ao prédio, nem ao uso do elevador, ainda assim foi deixado sozinho por Sarí, que aparentemente acionou o botão para a cobertura após retirar o menino do elevador em quatro oportunidades. “O maior contato que eu tive com Miguel foi na pandemia e nas vezes que precisou chamar atenção dele, solicitei a mãe ou a avó. Nunca repreendi ele. Não me senti segura pra isso”, contou.

Sarí chegou a ser acusada de homicídio culposo, mas pagou fiança e foi liberada horas depois. Ela também foi ao velório do menino e chegou a ser expulsa por familiares da sua ex-empregada. Com o término do inquérito e da rodada de depoimentos, houve uma mudança na tipificação do crime e ela responderá por abandono de incapaz, com pena de até 12 anos de reclusão. “Até hoje eu tô aqui firme, porque muita gente depende de mim. Se lá na frente o resultado for esse, vou cumprir o que a lei pedir. Está na mão de Justiça. Eu vou aguardar o que a Justiça determinar”, garantiu ao entender que precisa cuidar dos seus dois filhos.

"Não tenho mais meu filho por causa da vaidade dela"

Para Mirtes, não há sinceridade, nem arrependimento nas palavras da ex-patroa. A doméstica e a avó de Miguel pediram demissão da residência, contudo, após mais de um mês, elas ainda não receberam nenhuma indenização ou quantia garantida pelos serviços prestados. “Tenho certeza que se fosse o contrário, se fosse com a filha dela, eu estaria indo para a delegacia dentro de um camburão”, ressaltou.

“Ela não tem arrependimento nenhum pelo que ela fez com meu filho. Não tenho como perdoar, ela acabou com a minha vida. Não tenho mais meu filho por causa da vaidade dela. Eu não tenho mais meu filho pra dar carinho, amor, atenção. Quero que ela pegue a pena máxima”, concluiu.

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