Tópicos | Priscila Lapa

Os 100 dias do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), completos nesta segunda-feira (10), foram marcados por diversos eventos, sobretudo em ações econômicas, relações internacionais, políticas públicas, e políticas sociais. 

O primeiro mês do governo foi movimentado, com a tentativa do chefe do Executivo federal de tentar estabelecer prioridades. Ele realizou a posse dos ministros e ministras, assinaturas de leis e medidas, reuniões com governadores e governadoras, com representantes de países, viagens a eventos fora do Brasil, ataques à Praça dos Três Poderes e crise dos povos yanomamis. 

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De acordo com a cientista política Priscila Lapa ao LeiaJá, já se pode falar sobre a nova condução que Lula está dando ao Brasil, que é numa linha do retorno à institucionalidade, sobretudo nas relações internacionais. “A gente pode dizer isso também olhando para o Congresso, a relação com os governadores. Nesses primeiros 100 dias a gente tem claramente um retorno às perspectivas institucionais. A institucionalidade dentro do País. Isso por si só é extremamente positivo e louvável. A gente sente que as instituições políticas com seus defeitos e virtudes voltam a uma lógica de funcionamento institucional que tinha se perdido, sobretudo com o clima de campanha de 2022”, afirmou. 

Segundo Lapa, pode-se observar muito mais alicerces no governo do que medidas já em curso, “o que é natural sobre transições”. Mas que é um movimento de atuação política totalmente diferente do que o colocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Ele [Bolsonaro] atuava na linha do conflito. Enquanto ele se fortalecia, se forjava politicamente atuando de forma conflitiva. Lula tem uma postura de alinhamento, concertação, cooperação, entendimento, diálogo. E isso por si só já faz diferença”, observou. 

 

Bolsonaro e Moro

No entanto, a especialista pontuou que em alguns momentos o presidente Lula aparenta estar ressentido politicamente, quando fala de Bolsonaro e do senador Sergio Moro (UB) na linha político-ideológica, mas que é um movimento comum na política brasileira. “Não consigo imaginar como poderia ser diferente. Não temos a cultura política de separar o estadista do político. A gente não é assim, culturalmente falando no Brasil. Claro que, em alguns momentos, isso toma tom de exagero, mas em linhas gerais, descer de palanques não é trivial. Acho que são momentos muito mais de exceção do que efetivamente a marca dos 100 dias de governo Lula, já que foram feitas medidas de pacificação dessas instituições e entre os diálogos. Havia muito tempo que a gente não via isso acontecer no Brasil”, relembrou. 

Para Priscila Lapa, considerando a transição de gestão, 100 dias é pouco tempo para avaliar se as ações feitas pelo petista coadunam com as promessas feitas durante a campanha eleitoral, o que é razoável. “Você imagina que em três meses ou pouco antes de três meses você consiga realizar algumas ações. Mas num governo de ruptura, isso se torna um pouco mais difícil, desafiador. O que podemos dizer é que ele [Lula] está seguindo a linha que propôs na campanha, que já era esperada de um governo Lula ou dos governos petistas. Inclusive, essa tem sido uma fragilidade observada de que, até o momento, ele não mostrou novidades de uma nova era Lula. Ele tem reciclado agendas e retomando programas que marcaram as suas gestões, por enquanto. Mas ainda não deu uma nova roupagem ao seu alicerce de governo”, complementou. 

Uma das áreas de atuação do novo governo federal que foi destacada pela cientista política foi a econômica, que está sob o comando do ministro Fernando Haddad. Segundo ela, a postura que está sendo construída positivamente vem chamando atenção dos especialistas. “É um modelo que eu acho que tem sido uma marca importante e, de certa forma, até surpreendente. A condução do ministro Fernando Haddad à frente do Ministério da Economia. No mais, [as ações] são medidas de grandes lançamentos, anúncios que tem muito a ver com as marcas de programas esperados. 

Além do arcabouço fiscal, uma das medidas de responsabilidade de Haddad e pelo Ministério da Economia foi o reajuste do salário mínimo de R$ 1.032 para R$ 1.320 a partir de maio. A medida provisória deve ser publicada no Diário Oficial da União. Houve a expectativa, no início do ano, de que o reajuste seria imediato, mas o governo adiou a medida por conta dos impactos nas contas públicas.  A faixa de isenção do Imposto de Renda para pessoas físicas também será ampliada. A partir de maio será de R$ 1.903,98 para R$ 2.112. Ela também deve ser oficializada por medida provisória. 

“Podemos dizer que, até o momento, o governo federal se desenha nas linhas que foram colocadas durante o processo eleitoral, seguindo as linhas das promessas de campanha. Agora, claro, têm coisas que se mostraram muito mais difíceis de realizar do que se pode imaginar, apesar de que ele conseguiu, até o momento, os remanejamentos orçamentários que precisava para garantir a continuidade do Bolsa Família de R$ 600 e outras medidas”, acrescentou Priscila Lapa.

O professor da Universidade Federal da Paraíba Augusto Teixeira, afirmou que o contexto econômico encontrado por Lula neste terceiro mandato como presidente é diferente do contexto que ele encontrou no primeiro e segundo mandato. “Mesmo com o contexto da crise internacional do governo Fernando Henrique Cardoso contou, o Brasil estava relativamente arrumado.  

Agora, Lula recebe o Brasil com problemas orçamentários relevantes. Uma peça orçamentária mal elaborada que passa por uma PEC de trnasição para poder dar mais fundo ao governo, somando a um contexto de desorganização e descontinuidade de políticas públicas em todos os níveis, não apenas no caso da saúde e educação, mas também na área ambiental e política externa, quadro muito diferente do que Lula ou até a Dilma encontrou no primeiro mandato”, observou ao LeiaJá

 

Ações 

O preço da carne teve a maior queda dos últimos 15 meses em março deste ano, com uma queda de 1,22%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre as baixas, a picanha teve a maior redução: 2,63%. O filé mignon caiu 1,77%. Economistas deram três explicações para a queda: a suspensão das exportações para a China; a quaresma, quando o consumo da carne vermelha diminui; e a queda no preço das rações, que são usadas para a engorda dos animais. 

O governo federal realizou mudanças nos programas sociais e lançou propostas econômicas, como a volta do Mais Médicos, por exemplo, que foi relançado por Lula em março, com o objetivo de aumentar a quantidade de profissionais da área e incentivar a continuidade no projeto. 

O Bolsa Família também foi reestruturado e o presidente conseguiu manter o pagamento mínimo de R$ 600 por família pelo programa de assistência social, além de implementar um adicional por cada criança de até 6 anos de idade. Ainda sobre o Bolsa Família, a Caixa Econômica chegou a anunciar, em fevereiro, a suspensão definitiva de empréstimos consignados pelo programa. O Ministério da Cidadania alegou que o banco era responsável por 80% das contratações do serviço. 

As novas regras fiscais para substituir o atual teto de gastos e controlar os gastos públicos, o novo arcabouço fiscal, também foi anunciado em março. O texto prevê que as despesas podem crescer acima da inflação, ou seja, poderão ter alta real entre 0,6 a 2,5%. Além disso, os gastos vão poder crescer apenas entre 50 e 70% da variação da receita. No entanto, a proposta ainda precisa ser aprovada no Congresso Federal.

A cobrança dos impostos sobre os combustíveis, que haviam zerado na gestão anterior, voltaram a valer. A ação aumentou o preço do litro da gasolina em R$ 0,47 e o etanol em R$ 0,02. A medida vale até junho e os impostos podem aumentar ainda mais a partir de julho, quando as alíquotas vigentes, que são maiores, voltarão a ser colocadas em prática. 

Política internacional 

O cientista político e professor da UFPB Augusto Teixeira avalia que a situação do Brasil é "complicada" economicamente cenário internacional. “É um cenário desfavorável. Apesar de ocorrer um leve aumento no valor das commodities, tem-se a guerra na Ucrânia e um contexto hostil para interesses externos, dado o amplo processo de polarização internacional”, disse.

Como mencionado pela cientista política Priscila Lapa, a relação do Brasil com os outros Países fazem parte desses 100 dias de governo. O presidente Lula fez três viagens internacionais, sendo duas na América Latina. Ele faria uma viagem à China, mas teve de ser adiada porque ele teve uma pneumonia. 

A escolha foi na tentativa de estreitar os laços alargados por Bolsonaro durante a sua gestão. A primeira viagem foi à Argentina logo após ter assumido o comando da Presidência. Ele se encontrou com o presidente Alberto Fernández e pediu desculpas pelas “grosserias” de Bolsonaro com ele. 

De lá, ele foi ao Uruguai, reunir-se com o presidente Luis Alberto Lacalle Pou e com o ex-presidente Pepe Mujica, que marcou presença na sua posse, no dia 1º de janeiro. 

Dias depois o petista foi aos Estados Unidos se reunir com o presidente democrata Joe Biden. Eles trataram de acordos climáticos. Havia, ainda, uma expectativa de que Biden anunciasse valores para o Fundo Amazônia, mas não foi concretizada. 

 

O machismo que marca a sociedade brasileira e causa diversos problemas às mulheres em seus cotidianos se faz presente também no meio político, causando um distanciamento feminino dos espaços de disputa direta de poder. Essa é uma realidade refletida em números: de acordo com dados da Câmara dos Deputados, a casa legislativa conta com apenas 77 mulheres em um total de 513 deputados. 

Neste 8 de março, data que marca a celebração do Dia Internacional da Mulher, o LeiaJá ouviu mulheres engajadas na política para entender quais são os obstáculos que se apresentam no caminho daquelas que trilham uma carreira na vida pública e o que é necessário para mudar esse quadro e aumentar a presença de mulheres em postos de comando do meio político. 

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Izabel Urquiza (PSC) disputou as eleições para a Prefeitura de Olinda mais de uma vez e no ano de 2016 chegou perto de passar para o segundo turno contra o candidato (e atual prefeito) Professor Lupércio. A política já está presente em sua família há bastante tempo: sua mãe, Jacilda Urquisa, foi a primeira prefeita eleita no município. Quando perguntada sobre as razões que distanciam as mulheres da política, Izabel aponta as obrigações com o trabalho doméstico, muitas vezes incompatíveis com a rotina de uma pessoa que está em campanha ou ocupa um cargo eletivo. 

“A política exige muito da pessoa no sentido de que você não tem sábado, não tem domingo, não tem feriado, não tem noite, e isso para as mulheres é uma questão muito mais complicada, conciliar as atribuições políticas com as atribuições de casa e com as atribuições profissionais exige muito mais da mulher do que do homem. Apesar dos avanços, a gente ainda constata que as mulheres sempre tiveram mais atribuições, mas não se eximiram das tarefas de casa. Eu acho que isso faz com que muitas mulheres não tenham condições de entrar na política competindo em condições de igualdade”, declarou ela. 

Para além disso, Izabel também aponta dificuldades impostas pelas estruturas partidárias que, via de regra, beneficiam os homens em detrimento das candidaturas femininas. “As candidaturas masculinas conseguem uma articulação maior para financiamento da campanha, mesmo agora com a verba partidária, se analisar os recursos que são gastos com candidaturas masculinas, há uma disparidade muito grande. Há um movimento de mulheres compondo chapas majoritárias, mas sempre como vice. Uma mulher na cabeça de chapa é mais raro. A candidatura de Priscila Krause, por exemplo, foi uma dificuldade grande de conseguir um vice, na maioria das vezes eles querem ter o protagonismo e não colocar a mulher como protagonista”, afirmou Izabel. 

Quando questionada sobre o que falta para que as mulheres tenham mais espaço, mais recursos em suas campanhas e apoio do eleitorado feminino, Izabel aponta para a necessidade de maior estruturação das candidaturas femininas dentro das estruturas partidárias. “A gente quando vai entrar numa campanha política tem que ter a disposição da pessoa. Ninguém é candidato de si mesmo, então tem que ter o reconhecimento e a musculatura política de partidos e de pessoas envolvidas que estejam acreditando naquela candidatura, e tem também o aporte financeiro”, disse a ex-candidata. 

Izabel continua, afirmando que a falta de visibilidade para as candidaturas de mulheres diminui o conhecimento das eleitoras a respeito das ideias dessas mulheres e, consequentemente, as chances de sucesso eleitoral. 

“Quando vai para a mídia, sempre vão candidaturas masculinas. Não acho que a mulher não vota em mulher, as pessoas votam naquilo que elas veem. Se ela não vê mulheres na política, se não tem oportunidade de avaliar que aquelas mulheres defendem causas em que elas acreditam, vai votar fazendo uma política muito clientelista”, declarou Izabel. 

A deputada federal Marília Arraes (PT-PE) tentou viabilizar sua candidatura ao Governo do Estado de Pernambuco no último pleito, mas já nos últimos momentos uma movimentação interna do partido decidiu pela retirada de sua candidatura e apoio à reeleição do atual governador Paulo Câmara (PSB). Membro de uma família com tradição na política do Estado e com anos de carreira política no currículo, a deputada não hesita ao afirmar que o machismo do meio político teve peso na decisão da cúpula de seu partido. “Sem dúvida foi um episódio extremamente machista. Se fosse um homem no meu lugar no mínimo teria tido um tratamento diferente. É injusto dizer que as mulheres não querem estar na política, existem vários fatores.”, declarou a deputada.

Quando perguntada sobre as razões que levam ao distanciamento feminino dos espaços de disputa de poder e representação política, Marília faz uma análise da maneira desigual como a sociedade cria homens e mulheres desde a infância. “A sociedade faz as mulheres acharem que só serão felizes se casarem, mantiverem o casamento, forem bonitas, gera diferenças de anseios. Para o homem ser bem-sucedido a sociedade acha que ele tem que ter dinheiro, mulheres. Para a mulher, ela pode ter uma carreira, mas se o casamento acaba ou fica pouco com os filhos apontam que não foi bem-sucedida”, afirma a deputada. 

Além disso, Marília também aponta para uma hostilidade do mundo político, majoritariamente masculino, em relação às mulheres. “Quando comecei meu primeiro mandato nem mesmo tinha banheiro feminino na câmara. E na câmara federal temos dificuldade de nos integrar nas atividades mesmo eleitas com mais votos porque é de fato um ambiente masculino”, disse ela. A deputada segue o raciocínio contando que passa por situações de preconceito político no exercício do mandato frequentemente. 

“A gente passa todos os dias. Desde ser barrada todo dia na câmara porque tem espaços que só deputados podem passar, e os seguranças discretamente liberam e depois veem se está com broche ou crachá e as mulheres primeiro barra para depois olhar. Até coisas mais sérias de dificuldades partidárias. Homens mais velhos de histórias consolidadas que não aceitam uma mulher com mais destaque e popularidade que eles e não as apoiam. Eu sou mulher jovem, apesar de privilegiada, mas em todas as esferas as mulheres sofrem preconceitos”, disse ela. 

Sheyla Lima, de 55 anos, trabalha há 36 anos no Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e também é a primeira presidenta do Sindicato dos trabalhadores de TI em Pernambuco (SINDPD-PE). O que a motivou a entrar para o movimento sindical foi o fato de trabalhar em uma categoria majoritariamente masculina e “a necessidade de ter uma representação das mulheres, que geralmente por conta das triplas jornadas não têm condições e disponibilidade de fazer movimento de classe”, de acordo com ela. 

As lutas das trabalhadoras, de acordo com Sheyla, geraram muitos ganhos importantes ao longo dos anos e houve avanço na própria estrutura sindical do Brasil, mas ainda com muitas marcas do machismo. “Para sermos ouvidas foi e é muita luta diária, recebemos 25% a menos que os homens, mesmo com o nível de escolaridade das mulheres sendo maior. Para ter o respeito muitas vezes é preciso gritar. Para sermos ouvidas, ter nossas pautas respeitadas e abraçadas, por muitas vezes só através de grandes debates, discussões, votação e briga”, disse ela. 

Dani Portela é historiadora, advogada, militante feminista e concorreu nas últimas eleições ao Governo do Estado de Pernambuco pelo PSOL. Filha de um ex-preso político da ditadura militar brasileira, ela conta que já tinha uma atuação política em outras frentes, não partidárias, mas que isso mudou a partir do ano de 2016. 

“Meu pai falece aos 86 anos sofrendo de insônia e se repetia um pesadelo que tinha vindo de uma vivência real, de gritos de uma mulher. Ele escutou isso ao longo de uma noite toda e no final ele escutou o choro de uma criança. Essa mulher e essa criança morreram e quem estava nessa prisão era o Coronel Brilhante Ustra. Em 2016 meu pai contraiu Chikungunya e entrou em coma no dia da votação do impeachment da ex-presidenta Dilma. Me peguei sentindo um misto de alívio por meu pai ter desacordado justamente naquele momento sem ter assistido o então deputado Jair Messias Bolsonaro subir no plenário e reverenciar o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra que não foi só o pavor de Dilma Rousseff, foi o pavor na vida de muitas pessoas. Naquele leito de hospital prometi ao meu pai que eu tinha que mudar meu papel de atuação política, eu decido virar uma página e colocar o meu nome, o meu corpo, minha luta e a minha história nessa disputa”, contou ela. 

Dani aponta para dificuldades na estruturação e financiamento das campanhas das mulheres, apoio dos partidos e distribuição de tempo de TV, além do machismo estrutural da sociedade brasileira como razões que dificultam o acesso das mulheres aos espaços de poder e decisão política. Como consequência dessa lógica, segundo ela, há uma redução da atenção dos governantes para a criação de políticas públicas que atendam às necessidades das mulheres. 

“Aqui no Recife, de 39 vereadores, você tem seis mulheres. Essa caneta precisa estar na nossa mão pela alternância de poder. As mulheres precisam ocupar espaços de poder e decisão não só na política, mas profissionalmente falando. A gente precisa pensar que o feminismo acima de tudo uma grande busca por igualdade, para que a gente possa pensar numa sociedade que seja mais justa, porque uma sociedade melhor para a mulher é melhor para todas as pessoas”, declarou ela. 

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Luciana Santos (PCdoB) foi prefeita de Olinda e atualmente é vice-governadora do Estado de Pernambuco. O interesse dela por política surgiu do convívio com seu pai, que foi preso político, e de sua participação no movimento estudantil durante a universidade, quando decidiu se filiar ao partido. “O ex-presidente do partido sugeriu que eu fosse candidata a vereadora em Olinda. Era uma candidatura para construir o partido, a gente não imaginava que eu pudesse me eleger, mas fiquei como primeira suplente, viram que eu tinha vocação e nunca mais saí”, contou ela. 

Em sua trajetória, Luciana já ter sofrido com machismo no meio político. “Nos primeiros momentos para ser escutada, respeitada, para escutarem suas opiniões na política no início não é fácil. Foi um processo, uma trajetória longa de afirmação das opiniões, das ideias ditas. Nada explícito, mas é natural que você perceba posições sendo ignoradas”, afirmou Luciana, que avalia essa situação como não sendo exclusiva do meio político. “Eu penso que não só na política isso acontece em todas as áreas a mulher tem que se esforçar em dobro”, disse ela. 

O problema, na avaliação da vice-governadora, também está presente nas organizações internas dos partidos e, por mais que exista uma lei que busca reduzir a desigualdade de gênero na política, Luciana avalia que essa iniciativa não tem bastado. “Instâncias partidárias e as instituições são feitas de gente, por mais avançado que seja o programa de um partido, o machismo é cultural e histórico. Quando se faz marcos legais para promover a participação das mulheres, na prática, em Pernambuco só tivemos cinco mulheres deputadas federais na história. Quando se formam as chapas, isso se rebate porque o machismo contamina essas instituições. Passou a ser obrigatória a participação, o fundo eleitoral, o tempo de tv, mas há uma dificuldade para tirar do papel essa legislação. Essa política afirmativa tem sido insuficiente”, afirmou ela. 

De acordo com a cientista política Priscila Lapa, o distanciamento das mulheres do meio político se dá, em grande parte, por uma questão cultural fortemente estabelecida de um processo histórico de definição de papéis. “Política é um espaço de exercício de poder, é como se esse papel fosse naturalmente atribuído aos homens, isso não fomentou nos quadros políticos a participação das mulheres. Isso se reflete não só no número de candidaturas, mas no número de mulheres que chefiam mulheres. Tem um viés de cultura comportamental. A gente não passa a imagem de que as mulheres podem ter carreiras de chefia, de poder. Essa é uma das principais barreiras, se você não forma pessoas para uma tarefa elas não vão se ver ali”, explicou ela. 

Além disso, o modo como se formam não somente as chapas e lideranças políticas também tem interferência nesse processo. “A formação dos partidos tem clãs, famílias, isso causa esvaziamento ideológico e acaba não dando espaço às mulheres. Geralmente quando a mulher tá na política é como herança de um homem na família, mas o acesso das mulheres não é pela mesma via dos homens, de ocupar os espaços. Não é algo que é conquistado com essa mesma naturalidade”, explicou a cientista política. 

A associação da figura feminina com assuntos ligados ao cuidado e não a uma posição de liderança é outra questão que, na visão de Priscila, gera o preconceito no ambiente político, uma vez que além de ser dominada por homens, a disputa política exige da mulher características que a sociedade enxerga como tipicamente masculinas. 

“Normalmente a mulher vai cuidar da saúde, educação, assistência social. Desenvolvimento, infraestrutura, são áreas vistas como masculinas em que as mulheres não se saem bem. As mulheres tão se tornando candidatas competitivas mesmo com problemas. É como se ela tivesse que provar competência duas vezes, conseguir ser racional, falar grosso, firme. Quando se tem essa presunção de que não vai dar certo, se acha que ela vai ser engolida. Os papéis que tem que ser exercidos na política tem que corresponder aos papéis que precisam ser exercidos na sociedade”, declarou a especialista. 

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Com quase 40 anos de vida pública, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) tem consolidado seu protagonismo político e ampliado o espaço do clã dos Coelhos em Pernambuco ao longo dos anos. O sucesso é inegável com o senador ocupando a liderança do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) no Senado e seus três filhos com mandatos eletivos: Fernando Filho (DEM) é deputado federal, Antônio Coelho (DEM) deputado estadual e Miguel Coelho (sem partido) prefeito de Petrolina, no Sertão de Pernambuco. Mas a custo de que isso se deu?

FBC, como é chamado, foi um ator político volátil nos últimos anos. Seu perfil articulista e pragmático, segundo avaliações de estudiosos da ciência política, possibilitaram a ele, no âmbito federal, a estar sempre do lado governista - exceto durante o hiato de 2014 a meados de 2016, quando se colocou em oposição à então presidente Dilma Rousseff (PT), de quem, inclusive, chegou a ser ministro.

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Sim, Bezerra Coelho esteve ao lado dos últimos dois presidentes: Dilma Rousseff e Michel Temer. Com Dilma, ele foi ministro da Integração Nacional de 2011 a 2013, quando o PSB, seu partido à época, resolveu concorrer à Presidência da República com o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos - que faleceu durante a campanha eleitoral de 2014. Na oposição a petista, ele votou favorável ao impeachment  da sua ex-chefe, argumentando na ocasião que “o governo se isolou, abandonou o caminho da concórdia, preferiu o caminho do enfrentamento e perdeu o apoio que precisava”.

Já após o impeachment, no governo Temer ele também chegou a exercer o papel de líder e vice-líder governista no Senado e teve Fernando Filho ocupando o cargo de ministro de Minas e Energia. A defesa ferrenha que passou a fazer do agora ex-presidente, a partir de meados de 2016, foi um dos motivos que fez Fernando Bezerra deixar o PSB, que se declarou opositor a Temer, em setembro de 2017 e voltar ao MDB, partido que já foi filiado na época na Assembleia Constituinte.

Com papéis estratégicos seja ao lado de Dilma, Temer ou Bolsonaro uma coisa é certa, durante diversas visitas presidenciais ao Estado desde 2011 os pernambucanos viram Fernando Bezerra Coelho em todos os palanques, elogiando ou arrancando elogios. A mais recente passagem presidencial por Pernambuco, inclusive, partiu de uma articulação dele. No último dia 24, Jair Bolsonaro cumpriu sua primeira agenda na região Nordeste desde que assumiu o comando do país após um apelo do seu líder no Senado, a quem o presidente já chamou de “cabra da peste” - expressão popular nordestina usada para classificar pessoas valentes e corajosas.

“Fernando Bezerra Coelho tem esse perfil articulador que explica muito dessa participação dele em diferentes governos e momentos da história do país. Ele tem o perfil de ser esse político que tem essa visão de articulação, de construção de grupo político; inevitavelmente foi alguém que soube ter a visão estratégica de antever o que estava se avizinhando, em termos de mudança de comportamento eleitoral do Brasil”, considerou a cientista política Priscila Lapa ao analisar a postura do senador nos últimos anos.

De acordo com Lapa, FBC “conseguiu se conectar com esse sentimento de mudança e fez as articulações necessárias, pulando do barco do PT na hora correta, na hora que ele achou que o barco estava naufragando e automaticamente participando da construção desse grupo político que hoje está aí como a grande força política do país”.

Liderança x confiabilidade

A volatilidade e o pragmatismo de Fernando Bezerra Coelho são notórios. Nos bastidores da política ele já chegou a ser visto, por antigos pares, como alguém que “nasceu para ser governista”. Sua postura, contudo, pode ser de sucesso agora, mas na ótica da cientista política não há garantias de que isso se perdurará.

“Do ponto de vista de olhar a política como estratégia e possibilidade de negociação entre atores a postura dele é comum, mas quando a gente traz para a discussão outros elementos, sobre como o cidadão vê isso, as pessoas veem esse tipo de postura não como o normal da política, elas veem como traição a princípios e valores, um esvaziamento ideológico que sem dúvida existe”, argumentou Lapa.

“Se por um lado fortalece ele, que tem a facilidade de navegar nos diversos partidos e caminhos exatamente por essa isenção de uma agenda mais ideológica, por outro lado isso o fragiliza, o coloca em uma condição de ‘Maria vai com a as outras’, de que não tem fidelidade aos seus princípios políticos. Então para o momento atual representa uma fortaleza, mas isso lá na frente pode representar justamente a fraqueza. Ele acaba se tornando uma liderança reconhecida, mas pouco confiável”, acrescentou a estudiosa.

Impacto eleitoral

Apesar da incerteza futura - pulando do leque de alianças do PT, migrando para o MDB e agora defendendo Jair Bolsonaro - Fernando Bezerra Coelho tem pavimentado ainda mais o caminho para as disputas eleitorais de 2020 e 2022. Como líder do governo, ele tem facilitado o aporte de recursos federais em Petrolina, seu reduto eleitoral, e há uma expectativa positiva para a recondução do seu filho, Miguel, no comando da prefeitura da cidade sertaneja em 2020.

Já para 2022, se o governo Bolsonaro tiver sucesso, ele cacifa seu nome para finalmente concorrer ao Governo de Pernambuco, desejo que vem reprimindo desde 2014.

“Ele já desenhou isso para as eleições de 2018 aqui no âmbito do Estado, de ser um grupo alternativo, ele puxou o cordão de oposição ao PSB e do poder central em Pernambuco”, ponderou Priscila Lapa, ressaltando ainda que de todas as lideranças pernambucanas que ascenderam nos últimos anos no âmbito federal, Fernando Bezerra foi quem conseguiu se manter firme e com protagonismo.

A dúvida, entretanto, é se Fernando Bezerra Coelho, estando no MDB, vai conseguir levar para o campo de oposição ao PSB em Pernambuco nomes como os do senador Jarbas Vasconcelos e do deputado federal Raul Henry, caciques emedebistas no Estado e aliados de primeira hora do governador Paulo Câmara (PSB).

Em 15 dias o país foi palco de três grandes manifestações, duas contra os cortes do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) nas verbas destinadas às universidades públicas e uma a favor do presidente, colocando em xeque a atuação de deputados e senadores no Congresso Nacional e de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Os atos reuniram milhares de pessoas erguendo as bandeiras pró e contra Bolsonaro, o que na avaliação da cientista política Priscila Lapa endossou ainda mais a divisão mostrando “existência de duas grandes narrativas a respeito do país, que divide direita e esquerda”.

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Em defesa da educação, os protestos aconteceram nos dias 15 e 30 de maio; já em 26 de maio foi pró-Bolsonaro. Nos dois organizados por estudantes e professores, o primeiro teve um alcance maior e atingiu cerca de 220 cidades, já nessa quinta-feira o balanço é um público menor e atos espalhados por 100 municípios brasileiros.

“Notadamente menores do que as do dia 15 de maio, as manifestações de ontem mostram a disposição de segmentos da sociedade de não arrefecer em sua luta em defesa das universidades públicas, congregando segmentos da sociedade que não estão alinhados com a condução do governo Bolsonaro”, observou a estudiosa.

“Por outro lado, as manifestações de domingo [26] demonstraram a capacidade do presidente Bolsonaro capitalizar para si as insatisfações mais diversas com as instituições e com o sistema político”, completou Priscila Lapa. A mobilização organizada por aliados do presidente ocorreu no último domingo em pouco mais de 150 cidades. No Recife, os organizadores pontuaram a participação de 50 mil pessoas.

Apesar da adesão maciça a favor do presidente, para Priscila nada mudará na popularidade governista. “As manifestações do domingo possivelmente não vão interferir na popularidade do governo ou no aumento da sua avaliação positiva. Elas têm o peso do reforço ao discurso oficial,  mas, ao mesmo tempo, instigam essa luta ideológica entre os lados”, finalizou.

*Fotos Rafael Bandeira e Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

Uma bandeira branca foi hasteada na relação entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), após episódios explícitos de disputa de poder entre os dois. Contudo, o peso do desentendimento entre eles - que trocaram alfinetadas pessoais e sobre a condução do país - pode tornar ainda mais tensa a tramitação da reforma da Previdência, que já é um projeto polêmico.

A proposta, que altera regras constitucionais, precisa de, no mínimo, 308 votos na Câmara para ser aprovada e necessidade de um bom relacionamento do próprio presidente, ator principal do Executivo, com os parlamentares para que isso aconteça é latente. 

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Bolsonaro, mesmo pregando uma tese de “nova política” sem o famoso “toma lá dá cá” para a conquista de apoios, terá que dialogar constantemente e minimizar as críticas contra Maia, que tem ao seu lado grande maioria dos deputados. E, com esse apoio, o democrata, caso haja novos desentendimentos, pode, apesar de ser defensor da reforma, atrapalhar a tramitação do texto. Já que o número de aliados a Bolsonaro eleitos em outubro passado não é sinônimo de base de apoio consolidada.

“A relação fundamental entre os dois Poderes não tem sido estrategicamente tratada pelo presidente Bolsonaro. Ele insiste na retórica entre velha e nova política, como se a política pudesse prescindir dos partidos e de negociações. A questão que ficou escancarada [com o desentendimento] é que não existe uma base de apoio consistente ao governo no Congresso e essa não é uma prioridade para Bolsonaro”, observou a cientista política Priscila Lapa.

Na avaliação da estudiosa, “se nenhuma interlocução for criada, o governo será o maior perdedor, porque não conseguirá emplacar a sua agenda e ainda colherá os desgastes da opinião pública, passando a ideia de um governo desarticulado, desorganizado e incompetente”.

Mesmo com esse impacto das ideias, onde de um lado há um combate à velha política e do outro a tradição de barganhas e diálogos, o cientista político Antônio Henrique ressaltou que na história do país “todos os presidentes que não tiveram uma boa relação com o Congresso sucumbiram”.

“Assim aconteceu com Getúlio Vargas no segundo mandato, Jânio Quadros, Fernando Collor de Mello e, por último, com Dilma Rousseff, que o presidencialismo de coalizão simplesmente implodiu e ela não conseguia responder adequadamente aos processos”, lembrou o estudioso.

Então, se Bolsonaro quer aprovar a reforma da Previdência, ele precisa ir à mesa com as lideranças partidárias e ouvir o presidente da Câmara dos Deputados. “Se isso não for feito, não é condizente com a tradição da relação entre Legislativo e Executivo. Pode, em certa medida, atrapalhar a tramitação da reforma da Previdência, gerando dificuldades para o governo aprovar o texto, que é de interesse também dos governadores, mas eles não falam nisso porque não querem arcar com os custos transacionais disso. É um reforma impopular, que termina prejudicando parte da população, apesar de todos entenderem que ela precisa passar”, ponderou Antônio Henrique.

As rugas entre Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro, que iniciaram por críticas pela falta de diálogo do Executivo com o Congresso, segundo o presidente foram "chuvas de verão" e para Maia "a página está virada". Bolsonaro já começou, inclusive, a dar sinais de abertura do diálogo. Nessa quinta-feira (28), na agenda, estavam previstas reuniões com deputados de diversos partidos para tratar da reforma da Previdência, que após a 'bandeira branca', já teve avanços na Câmara com a indicação do relator na Comissão de Constituição e Justiça, o deputado Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG).  

O cientista político Adriano Azevedo continua o trabalho iniciado durante o período eleitoral desse ano, em que faz uma análise sobre o cenário brasileiro. Nessa nova etapa do programa, o professor da UFPE conversa com Priscila Lapa sobre a nova perspectiva política, com a vitória do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).

Confira o programa completo no link.

O PT perdeu apoios regionais na eleição presidencial deste ano e isso é inegável, mas e o lulismo, ainda resiste após a derrota do candidato Fernando Haddad (PT)? Especialistas ouvidos pelo LeiaJá apontam que sim, apesar da argumentação constante dos opositores ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que segue preso cumprindo pena por corrupção e lavagem de dinheiro, de “extirpar” a força deste segmento do país.

O que mudou, contudo, é o cenário em que o lulismo saiu do auge de conquistar quatro mandatos presidenciais seguidos para o declínio dos escândalos de corrupção e a crise político-econômica instaurada no Brasil - que gerou o movimento antilulismo e antipetista.

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O retrato disso foi visto nas urnas, com a vitória de Jair Bolsonaro na disputa presidencial. Segundo levantamento publicado nesta semana pelo jornal Folha de São Paulo, o PT registrou queda nos votos em todas as regiões do país.

Se comparado a 2014, por exemplo, apenas na região Nordeste o segmento manteve força hegemônica e Haddad conquistou uma votação parecida com a da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), eleita naquele ano, mas, mesmo assim, houve uma perda de eleitores. Para se ter uma ideia, em 2014 o PT recebeu 71,7% dos votos válidos dos nordestinos e com Haddad 69,7%. A leve diferença não é vista nas outras regiões, onde a redução foi de quase dez pontos percentuais.

“O lulismo não foi enterrado em 2018. Existe uma força ainda presente, ainda que não tenha a mesma intensidade. A expressiva votação de Fernando Haddad foi uma votação de apoio ao lulismo. Agora, ao trilhar o caminho da oposição, o lulismo terá que se revisar. Terá que adotar as novas demandas da sociedade, que certamente virão com as reformas empreendidas”, considerou a cientista política Priscila Lapa.

O pensamento da estudiosa foi corroborado pelo professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e cientista político Adriano Oliveira. “O lulismo mostrou força nesta eleição, apesar da derrota, em particular na região nordeste. A diferença [de votos] de Bolsonaro para Fernando Haddad declinou nos últimos dias e a expressiva votação de Haddad não significa que seja, por inteiro, em virtude do lulismo, o candidato tem sua participação. Entretanto, quando olhamos o resultado pela região Norte/Nordeste, observamos que essa região era lulista e continuou a ser”, observou. 

Após a derrota no último domingo, surgiu o debate sobre uma espécie de “luladependência” do partido eleitoralmente. Alguns petistas refutaram a tese e outros admitiram que a ausência física de Lula na disputa teria sido prejudicial. Para Oliveira, o PT transformou-se em um partido dependente do líder-mor. “Existe sim uma ‘luladependência’ do PT e a derrota de Haddad é uma oportunidade para ela terminar. Isso é possível se o PT autorizar Fernando Haddad a liderar a oposição, caso isso não corra e a oposição fique fragmenta, essa ‘luladependência’ vai continuar”, salientou.

O argumento foi contraposto por Priscila Lapa, que viu na ausência física de Lula uma oportunidade de diminuir o tamanho da derrota de Haddad. “A derrota tem a ver com o emblema do combate à corrupção, cuja prisão de Lula é o seu símbolo maior. Tem a ver com o estado da economia, que restringiu conquistas de um público com o qual o PT sempre dialogou. A ausência de Lula no cenário pode, inclusive, ter ajudado a diminuir o tamanho da derrota. A presença física dele na eleição agregaria para o eleitor que já votaria no PT, mas impediria em angariar outros apoios que o PT conquistou ao longo da campanha”, ressaltou.

Um PT opositor e em renovação

Com 45 milhões de votos, Fernando Haddad já deixou claro, logo após a confirmação da derrota eleitoral, que pretendia protagonizar a liderança da oposição ao governo de Bolsonaro pontuando que “um professor não foge à luta”, pedindo coragem aos seus eleitores e já mencionando a disputa de 2022. A incógnita, porém, é se o PT abrirá espaço para o ex-candidato comandar as ações oposicionistas, lugar até agora ocupado com afinco, e ainda que da prisão, pelo próprio Lula.

Na avaliação de Lapa, Haddad se revelou capaz de aglutinar a esquerda. “O PT se fortaleceu em relação a 2014 no número de governadores eleitos e a sua bancada na Câmara foi a maior de 2018. A esquerda como um todo fez uma bancada expressiva, com a qual o presidente eleito precisará estabelecer diálogos. O PT revelou Fernando Haddad como um líder com capacidade de agregar a esquerda. Além do mais, os movimentos sociais certamente buscarão o partido e o partido os buscará num momento de muita repressão aos ativismos”, disse a estudiosa.

Para esta relação mútua com os movimentos sociais de base e outros partidos ser de sucesso, o PT também precisará de uma renovação interna. Já alertada por Fernando Haddad na campanha.

“Todo partido que sai do poder e toma o caminho da oposição ou se renova ou morre. Mas o PT dificilmente morrerá. Ele tem base consolidada em todo o território nacional, está no poder em diversos Estados e deverá, naturalmente, angariar as novas demandas que a sociedade terá nesse novo ciclo político. Com seu líder maior preso, inevitavelmente ele perde essa conexão. Logo, haverá um caminho de se renovar por essas novas forças políticas em atuação”, ponderou Priscila Lapa.

“A questão da auto crítica, explícita, como uma espécie de pedido de desculpas, não vai acontecer. Mas a história está se encarregando de mostrar ao PT que houve muitos equívocos. Mudar é um caminho para a sobrevivência. O tempo vai mostrar”, acrescentou a cientista política.

Um dos pontos essenciais que o partido deve expor para seus adeptos e os demais brasileiros, na ótica de Adriano Oliveira, é que mudou de prática. “É claro que o PT precisa de renovação e ela pode existir com Fernando Haddad, em vista do seu desempenho eleitoral. O PT precisa, de modo mais contundente, de uma nova agenda e colocar para os eleitores que mudou de prática, ou seja, aquilo que ocorreu no passado, em forma de corrupção, não irá mais ocorrer”, argumentou o professor.

O espaço conquistado na eleição

Apesar de ter perdido a disputa pela Presidência da República, o Partido dos Trabalhadores (PT) será a sigla com o comando de mais Estados do país a partir de 2019. A legenda elegeu quatro governadores: Rui Costa na Bahia, Camilo Santana no Ceará, Wellington Dias no Piauí - para o segundo mandato - e Fátima Bezerra no Rio Grande do Norte, sendo ela a única mulher a conquistar o cargo no país.

Além disso, o PT elegeu 56 deputados ficando com a maior bancada na Câmara Federal, à frente, inclusive, do PSL de Jair Bolsonaro que conquistou 52 cadeiras. Já no Senado, o PT elegeu três nomes: Rogério Carvalho Santos pelo Sergipe, Humberto Costa por Pernambuco e Jaques Wagner pela Bahia.

O quadro nacional desenhado pelos primeiros dias das convenções partidárias tem imprimido uma previsão dos estudiosos da ciência política de que o pleito pelo comando da Presidência da República deste ano será fragmentado e as chapas terão dificuldades em compor com alianças amplas. 

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Dos cinco candidatos já homologados pelos seus partidos, apenas o do PSOL, Guilherme Boulos, e a do PSTU, Vera Lúcia, apresentaram a chapa fechada (postulante e vice). O primeiro com uma coligação com o PCB e a segunda sem aliados. Já os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PSL) e Paulo Rabello de Castro (PSC) ainda estão sozinhos na disputa.

Até agora, dos que aguardam a homologação partidária, somente o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) reúne mais partidos. Com o apoio do chamado centrão, formado por DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB, ele desponta na lista dos presidenciáveis. O postulante do MDB, partido do presidente Michel Temer, e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também é um retrato de postulação sem apoios.

Entre pré-candidatos dos partidos de esquerda, Ciro Gomes (PDT) e Manuela D’Ávila (PCdoB) seguem isolados, além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, pelo peso da situação jurídica, não conseguiu ainda conquistar aliados eleitorais apesar das conversas travadas com PSB e PROS. Fora disso, PDT e PCdoB também nutrem um flerte considerável já para o primeiro turno.

A incógnita maior entre os campos de direita e esquerda, na avaliação do cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira, é como se posicionará o PR, de Valdemar Costa Neto.

“Estamos entrando em uma fase decisiva onde ocorrerá a formação de alianças. O centrão já se definiu apoio a Geraldo Alckmin, a expectativa é que PSB e PCdoB também se posicionem em relação ao PT e, particularmente o PSB se terá candidato ou apoiará o PT, mas a incógnita nesse momento é o PR, se apoiará Lula ao invés de Alckmin, embora antecipadamente tenha declarado apoio a Alckmin. Mas ele pode rever esses apoio, até porque o Josué Gomes [cotado para vice do tucano], já recuou. Não será novidade o PR migrar para o PT”, observou o estudioso. 

A partir do delinear da postura dos partidos ainda indefinidos, Oliveira também acredita que a disputa voltará a ter os moldes de outras corridas presidenciais: a polarização entre PT e PSDB. “Com as convenções vemos PT e PSDB sendo fortalecidos, e Ciro Gomes, Marina e Bolsonaro, três candidatos que foram vistos como viáveis, revelando que não terão apoios políticos e deixarão de ser viáveis”, conjecturou o cientista.

A tendência de polarização também foi comungada pela cientista política Priscila Lapa, na ótica dela  “quando a campanha começar e o direcionamento dos recursos [dos partidos] forem delimitados haverá polarização entre duas candidaturas”. Quanto ao peso das alianças, ela ponderou que os presidenciáveis terão “dificuldades de uma aliança mais ampla, de unificação de projetos e de forças” no primeiro turno.  

“Todos estão tentando recolher as forças que podem. Geraldo Alckmin rendeu-se ao centrão. Então tem muito discurso que vai ser demovido com o tempo, a partir de variáveis que qualquer candidatura que queira ganhar vai levar em consideração. Mesmo que se queira reduzir os efeitos dessas coligações, com as reformas políticas, a realidade é que essas composições são fundamentais. Não tem candidatura puro sangue que vença”, argumentou Lapa. 

O enfraquecimento de Bolsonaro

Já candidato, o deputado federal Jair Bolsonaro aparece liderando as pesquisas de intenções de votos sem a presença de Lula, mas no quesito aliança eleitoral foi rejeitado por dois partidos. O fato, para Adriano Oliveira, se dá porque “os partidos não creem na vitória e na força eleitoral de Bolsonaro e, por consequência, é um candidato que tenderá a murchar”. 

A inviabilidade do presidenciável, segundo Priscila Lapa, é observada no fato dele liderar as pesquisas apenas na pré-candidatura, sem chances de crescer na fase da campanha quando “os recursos dos partidos entram em cena”.

“Ele se beneficia de uma característica do eleitor brasileiro onde seu olhar é mais para a pessoa do que para o partido, mas os partidos não são tão irrelevantes assim, são eles que trazem para as candidaturas os recursos necessários para ganhar uma eleição como tempo de TV e do Fundo Partidário”, ponderou Lapa. 

“Além da existência de palanques estaduais também, no caso da eleição presidencial, que sirvam de base para expor e construir a base do voto que vem dos governadores e deputados construídos nos estados”, completou a estudiosa, reforçando que a fragilidade de Bolsonaro já fica evidente na inexistência de palanques estaduais consolidados. 

Ainda para a cientista política, “os partidos não enxergam em Bolsonaro a força da vitória, isso sem levar em conta o discurso e o radicalismo”. 

 A 12 dias do fim do prazo para as convenções partidárias, quando as legendas definem suas coligações e candidatos para as eleições, o quadro de alianças em Pernambuco ainda não está tão consolidado como se espera nessa reta final do período pré-eleitoral. Enquanto de um lado, o senador Armando Monteiro (PTB) enfrenta dificuldades para eliminar os ruídos que surgem no conjunto dos oito partidos que endossam sua candidatura, do outro o governador Paulo Câmara (PSB), que buscará à reeleição, tenta não ser alvo de mais baixas na Frente Popular e pleiteia o alinhamento do PT ao seu nome, limando uma terceira candidatura competitiva, como a da vereadora Marília Arraes. 

Hoje a dificuldade exposta pela aliança formada em torno do nome de Armando Monteiro é  o fato dele se colocar como eleitor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tendo no palanque partidos como PSDB e DEM - adversários históricos do petista. No fim da última semana, inclusive, o deputado federal e presidente da sigla tucana no Estado, Bruno Araújo, chegou a sugerir um rompimento da aliança com o petebista. 

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A medida, que ainda está em discussão entre os tucanos, é pelo desejo de que o palanque da ‘Pernambuco Vai Mudar’ dê lugar de preferência para o presidenciável do PSDB que é o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O grupo que endossa a candidatura do petebista, tem ainda outras postulações presidenciais como a do senador Álvaro Dias (Podemos) e a do economista Paulo Rebello de Castro (PSC), mas as legendas não vem impondo questionamentos sobre o fato de pedir votos. 

Além de PSDB, DEM, Podemos e PSC, ao lado de Armando ainda estão PPS, PV e PRB. E, apesar do prazo curto para a composição da chapa, o senador e seus aliados continuam flertando com legendas aliadas a Paulo Câmara, como o Solidariedade. 

Mesmo com insatisfações já apresentadas, o Solidariedade deve definir apenas no dia 4 de agosto, quando fará sua convenção, se permanece com o governador ou vai para o palanque petebista. O Solidariedade, entretanto, não é o único desafio entre os aliados de Paulo Câmara, o PROS, do deputado federal João Fernando Coutinho, ensaia um desembarque da base para endossar a eventual candidatura de Marília pelo PT, que vem nacionalmente atirando para todos os lados na expectativa de conquistar ao menos um partido aliado em prol da candidatura de Lula. Se com o PSB a aliança não vingar, a legenda tem o PROS na gaveta para marchar juntos. 

Apesar das eventuais perdas, o governador ainda ostenta um grupo com 14 legendas (PCdoB, PSB, MDB, PTC, PRP, PR, PSD, PPL, PHS, PSDC, PP, PEN, PSL e PDT) e se mantém com a maior frente, até agora, para a corrida eleitoral. 

Um fator comum 

O quadro, entre as duas principais chapas que disputam o comando do Palácio do Campo das Princesas, ainda tem um fator comum: a manutenção ou não do vice-governador Raul Henry no comando do MDB de Pernambuco, que aguarda uma decisão do Supremo Tribunal Federal. No momento, a legenda integra a base da Paulo, mas se a direção do partido for diluída e o senador Fernando Bezerra Coelho passar a responder pelo partido, o MDB, inevitavelmente, migrará para o palanque de Armando. 

Hoje FBC é uma espécie de dissidente emedebista, por não estar alinhado a Paulo Câmara e não cessar nas críticas direcionadas a gestão pessebista, da qual ele próprio já fez parte, uma vez que era filiado ao PSB até setembro de 2017.

Pendências nacionais ditarão os palanques em Pernambuco

Com o panorama traçado, a cientista política Priscila Lapa ponderou, em conversa com o LeiaJá, que as indefinições estaduais estão diretamente ligadas à conjuntura nacional e a expectativa dela é que este ano, mais do que normalmente, a disputa em Pernambuco seja “mais nacionalizada”. “Enquanto o cenário nacional ficar indefinido, no plano local vão postergar ainda mais o anúncio completo das chapas”, salientou a estudiosa.  

O reflexo disso é que até agora ainda não foram anunciadas as chapas completas tanto de Paulo quanto de Armando. Com as definições previstas para os ‘45 do segundo tempo’, Priscila disse que as duas chapas podem se prejudicar, mas como Paulo Câmara tem a máquina pública ele não perde tanto. 

“Todo mundo está mais ou menos na mesma situação. A chapa da oposição, de Armando Monteiro, demorou e ainda enfrenta problemas em algumas definições dentro da construção da própria aliança. Se a demora fosse exclusivamente do governador, talvez sofresse o prejuízo do tempo para confirmar com que forças ele sai para a disputa pela reeleição. Contudo, isso tem atingido igualmente todas as candidaturas e tem uma vantagem para quem está no cargo. Quem menos se prejudica nessa demora é quem já está no governo. Ele tem um time com o eleitor já construído”, observou a cientista política. 

Armando e o voto a Lula

Sob a ótica de Priscila Lapa, o posicionamento de Armando condiz com o peso da avaliação do pensamento dos eleitores pernambucanos. No Estado, segundo ela, “nenhum dos postulantes vai, principalmente pensando no eleitorado do interior, fazer um discurso sem considerar o legado de Lula” e, a partir do início da campanha, os eleitores vão “fazer a distinção de quem é herdeiro e aliado mesmo de Lula, daqueles que querem pegar apenas carona nesse legado”. 

“Armando tem uma história ligada a Lula, de ter sido ministro no governo petista, mas a aliança que ele firmou não vai permitir um discurso de alinhamento total como nesse primeiro momento de pré-campanha”, ponderou Lapa. 

“Obviamente a partir de agosto as pessoas vão ter palanques e lados, elas vão ter que defender esses lados. Existe uma tentativa dos partidos que apoiam Armando de descolar do governo Temer, por exemplo, mas é inevitável dizer que esse palanque representa bem mais o grupo que rompeu o lulismo do que ser herdeiro dessa herança política”, completou. 

Neste sentido, o que vai pesar para o senador, segundo a estudiosa, é a trajetória política dele da eleição de 2014, quando teve uma aliança formal com o PT, até agora. “É uma candidatura forte no ponto de vista das alianças, mas talvez tenha problemas na coerência do discurso”, finalizou Priscila Lapa.  

Um mandato de oito anos enche os olhos de qualquer político e, não à toa, Pernambuco já tem nove nomes colocados como pré-candidatos as duas das três cadeiras que o estado tem no Senado Federal. A incógnita, porém, é: quem tem chances de ser eleito e garantir estabilidade política até 2026? A corrida deve se concentrar entre o senador Humberto Costa (PT), que busca pleitear à reeleição, e os deputados federais Jarbas Vasconcelos (MDB) e Mendonça Filho (DEM), mas Rede Sustentabilidade, PSOL, PSC e Avante também desejam as vagas.

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Dos três considerados mais competitivos, apenas o ex-ministro da Educação do governo do presidente Michel Temer (MDB) foi oficialmente confirmado para a disputa pelo cargo. Mendonça, que chegou a ser cogitado para ser candidato a governador, ganhou maior visibilidade nacional ao administrar o setor educacional público no país e promover iniciativas como a reforma do ensino médio. A atuação rendeu ainda avaliações positivas de prefeitos pernambucanos, inclusive de partidos que fazem oposição ao democrata.

Mendonça concorrerá na chapa montada pela frente “Pernambuco Vai Mudar” e já disse que se sente “credenciado” para representar o estado na Casa Alta. “Serei um senador para lutar em defesa do Estado e apoiar o governador nas demandas principais, fato que está ligado aos cargos que já ocupei", afirmou o democrata, durante o evento que lançou sua pré-candidatura, na última segunda (11). O que pesa contra ele, contudo, é o fato de estar ligado ao governo Temer, mal avaliado no estado, ou melhor, no país.

Peso que apesar de ser do MDB, mesmo partido de Temer, Jarbas Vasconcelos não carrega por apresentar um deslocamento claro do presidente brasileiro. Jarbas já foi senador e, em 2014, abriu mão de pleitear a reeleição para que o correligionário, Raul Henry (MDB), fosse vice-governador na chapa da Frente Popular de Pernambuco. Agora, com o movimento inverso, o deputado federal pretende voltar ao Senado.

"Sou candidato ao Senado da República. Acho que tenho nome, tenho história, tenho tradição, credibilidade junto ao eleitorado. Construí minha vida política com determinação, força e honestidade”, salientou recentemente o parlamentar. Nos bastidores, já é certa a vaga dele nas candidaturas majoritárias que serão apresentadas pelo grupo de partidos aliados ao governador Paulo Câmara (PSB), o que resta saber é quem será seu parceiro de disputa pelas duas vagas no Senado.

A resposta disso deve vir a partir do fim das articulações entre PSB e PT, para a retomada da aliança entre os dois partidos, previsto apenas para julho. A convergência entre as legendas fará com que o senador Humberto Costa busque a recondução ao posto pela chapa da Frente Popular, dando ao cenário eleitoral pernambucano um feito inédito: PT e MDB lado a lado em busca do voto.

Adversários históricos no estado, Jarbas Vasconcelos, que é ferrenho opositor e dono de declarações ácidas contra membros da legenda petista, já afirmou que não terá dificuldades em pedir voto para Humberto e começou a ponderar mais as avaliações sobre o PT.

“Vou pedir voto para quem for meu companheiro de chapa. O comando dessa questão é do governador. Ele está num diálogo com o PT e eu acho positivo. Quanto mais ele puder fazer um governo abrangente, melhor para o Estado. O PT não é nenhum bicho de sete cabeças, o governador integrando o PT à aliança não me oponho em coisa nenhuma, vamos trabalhar juntos, peço [voto para Humberto] sem nenhuma dificuldade, se esse for o caso”, considerou o pré-candidato a senador, nesta semana.

Outros nomes oficializados e o desejo de candidaturas

Além dos que centralizam a disputa, a Rede Sustentabilidade vai concorrer com uma chapa que terá como pré-candidatos Antônio Souza e Pastor Jairinho. Os dois tentam sair do isolamento e buscam alianças com outros partidos para dar mais competitividade às suas postulações. Os presidentes de PMN, PTC, PPL e PRP já declararam apoio a Antônio, mas não há uma aliança firmada oficialmente ainda com a Rede.

O PSOL, que protagoniza nesta eleição uma chapa majoritária feminina e feminista, também vai apresentar as candidaturas de Albanise Pires e Eugênia Lima ao Senado. A legenda firmou aliança com o PCB e deve arrastar votos de opinião e de movimentos feministas pernambucanos. Albanise já concorreu ao cargo em 2014, contra o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) e o ex-prefeito do Recife, João Paulo (PT) - que também perdeu o pleito. 

Outro nome que está entre os pré-candidatos é o do deputado federal Silvio Costa (Avante). Nos últimos dias, ele tem divulgado a conquista do apoio de prefeitos pernambucanos, contudo, o parlamentar ainda não tem uma chapa. Uma das esperanças dele é que o PT e PSB não firmem aliança e possa concorrer no mesmo palanque da pré-candidata petista ao Governo de Pernambuco, Marília Arraes. Isso fica claro porque Silvio é defensor da postulação da vereadora e tem se intitulado como o “senador de Lula”.

Completando a lista dos que desejam um lugar na Casa Alta, está o deputado estadual André Ferreira (PSC). Ele tenta costurar a candidatura, considerada como prioridade pelo partido, e tem dito que apenas fechará alianças que garantam a participação dele na majoritária. Entretanto, até o momento, nada foi concretizado.

Atualmente o PSC é aliado do governador Paulo Câmara, que ainda não definiu como montará a chapa, mas já iniciou um namoro com a frente “Pernambuco Vai Mudar”, de Armando Monteiro. No bloco oposicionista, os partidos abriram espaço para Ferreira, inclusive com o PSDB abrindo mão da vaga. Tanto governistas como opositores sabem que ter na chapa o deputado estadual, duas vezes o vereador mais votado do Recife, atrai os olhares do segmento evangélico.

Avaliação do cenário

A competitividade entre os pré-candidatos pernambucanos ao Senado e a viabilidade de vitória entre eles foi analisada pela cientista política Priscila Lapa, em conversa com o LeiaJá. A estudiosa também ponderou as articulações firmadas entre os partidos para a construção das postulações e disse que o eleitor ainda confunde o cargo de senador com o de deputado federal.  

“A vaga para o Senado na chapa é o cargo de barganha que dá definição e modelagem as alianças. É um cargo de muito valor, com mandato de oito anos. Um exemplo disso vimos na negociação para que Mendonça trocasse a liderança da chapa para a disputar o Senado”, observou a cientista, lembrando que o ex-ministro da Educação foi cotado para concorrer ao Palácio do Campo das Princesas.  

“Mendonça vem com grande capital político, pois como ocupou o cargo de ministro e vem se capitalizando como um dos candidatos mais competitivos. Ele agrega por ter ganho muita visibilidade como ministro da Educação, vem com a candidatura fortalecida, mas se ele usasse isso para disputar o cargo de governador teria o problema de rejeição, por estar ligado ao presidente Michel Temer. No Senado, deixa de ser vitrine e não capitaliza essa rejeição”, completou.

Do outro lado, Lapa também disse que “o grande peso” será se o PT e o PSB vão estar juntos ou não na disputa. “Se eles saem separados, vejo dificuldades para Humberto, por isso que ele é o grande defensor de não haver a candidatura de Marília. O PT esta esvaziado, não tem bancada federal que dê sustentação ao palanque e a estadual está frágil”, argumentou, lembrando que, apesar disso, o senador petista tem a favor dele o fato de ser considerado “uma liderança” em Brasília e “alguém que tem interlocução”.

Mesmo com o peso para o PT do retorno à Frente Popular de Pernambuco, a cientista política salientou que haverá uma “estranheza” do eleitor diante das eventuais candidaturas de Humberto Costa e Jarbas Vasconcelos na mesma chapa. Jarbas que, na ótica de Priscila, pode se sobressair pelo “recall [de votos] e a memória positiva de quando ele foi governador”, além da independência partidária, “mas isso não garante vitória”.

Questionada se seria uma disputa competitiva, Lapa argumentou que as pré-candidaturas postas não apresenta um quadro de renovação, como vem pedindo o eleitorado, e a “tendência é ser uma eleição mais conservadora”. A cientista política ainda esclareceu que normalmente os eleitores escolhem o senador pelo candidato a governador e que candidaturas solo não tendem a ser vitoriosas.

 

As eleições deste ano carregam consigo uma expectativa forte de mudança da conjuntura do país, mas não apenas isso. Uma parcela da sociedade nutre também a esperança de ampliar a participação de mulheres na política para, desta forma, reforçar a pauta feminista no Congresso Nacional. Feminismo este que, em síntese, defende a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade e virou uma das palavras do momento no país. 

Nessa perspectiva vem surgindo movimentos e iniciativas que pretendem endossar candidaturas que hasteiam a bandeira, mas esbarram nas dificuldades dentro dos partidos - principalmente de direita e centro. Um grupo que vem trabalhando para reverter o quadro é o  PartidA, movimento nacional que, inclusive, encabeça uma campanha chamada “Meu voto será feminista”. 

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Para a militante da organização, Daiane Dutra, a subrepresentação das mulheres em espaços políticos tem gerado um cenário caótico para o gênero no Brasil e a ideia do PartidA é garantir que  as pautas feministas passem a ser contempladas de forma mais significativa no setor que rege a sociedade com leis predominantemente criadas por “homens conservadores”.

“Queremos garantir que mais mulheres sejam eleitas em 2018 e as pautas feministas estejam contempladas nas plataformas políticas, agora isso não significa que não façamos intervenções em mandatos liderados por homens, por exemplo. Acreditamos que alguns homens são aliados a luta feminista e isso é importante”, observou. 

“A prioridade total, contudo, é que possamos garantir que as mulheres sejam candidatas, mulheres feministas principalmente. Não é porque ela é mulher que defende nossas pautas”, completou, lembrando da atuação da vereadora do Recife, Michele Collins (PP), que é contra a legalização do aborto considerada uma das pautas mais importantes para o feminismo.

Liderando uma chapa feminista que disputa o Governo de Pernambuco, a pré-candidata do PSOL a governadora e advogada, Daniele Portela, acredita que as eleições deste ano podem abrir espaço para as mulheres que, na ótica dela, são a base da sociedade.  

“As mulheres estão reivindicando o seu lugar depois de um apagamento quase total ao longo da nossa história. Ainda é muita pequena nossa participação nos espaços políticos, mesmo com a cota de 30% de candidaturas femininas por partido. Essas posições são tradicionalmente ocupadas por homens, héteros, cis e na sua maioria brancos. Neste sentido, acredito que a pauta feminista traga um novo olhar para os problemas postos nos estados e no país. Um olhar que, a partir do recorte de gênero, consiga trazer soluções para problemas históricos como o desemprego de mulheres”, salientou. 

Na avaliação de Danielle, a maioria da população “tem mostrado profundo descontentamento com a classe política” e, uma parte dela, por conta disso, “tende a se aliar com pautas e candidatos que apresentem discursos mais conservadores”. Para reagir a tal tendência, a psolista disse que defender a participação feminista no pleito “é questão de princípios”.

“É preciso delimitar os espaços e saber onde nos colocamos. Defender um recorte feminista nessa eleição é uma questão de princípios. E por isso creio que, quem se coloca como postulante defendendo essa pauta, necessariamente será uma candidatura forte”, reforçou a pré-candidata a governadora.  

A quebra de estereótipos e identificação de candidatura feminista

A palavra feminismo tem sido cada vez mais utilizada no país e passou a pautar até o mercado, mas na política ela ainda é carregada de estereótipos dosados pelo preconceito, o que dificulta a vida dos movimentos e de quem defende a iniciativa. Questionada sobre como fazer para quebrar paradigmas negativos diante das defesas feministas e, principalmente neste período eleitoral, Daiane Dutra disse que a primeira ação deve ser de conscientização entre as próprias mulheres. 

“Vivenciamos um movimento bem interessante em relação a palavra feminista que o próprio movimento traz com uma carga muito forte de conquistas de direitos. O próprio capitalismo está trazendo como algo que precisamos inserir na sociedade, mas a grande questão é como que esse termo está sendo passado para as pessoas e, sobretudo, para as mulheres? Não basta ser da moda”, argumentou a militante do PartidA. 

Para ela, outra questão salutar, é o fato do feminismo pautar candidaturas de partidos de esquerda. “Nos partidos de direita e centro-direita o mote de mulheres no poder está bem presente, mas não basta que sejam mulheres. Mulheres de direita não necessariamente vão defender o direito das mulheres negras, periféricas e da população LGBT”, destacou.

Um exemplo do reforço de candidaturas feministas serem predominantes em partidos de esquerda são as iniciativas do PSOL e do PT neste viés. Em Pernambuco, além da chapa majoritária feminista, a legenda psolista também está construindo projetos como o “Juntas” que apresentará candidaturas de cinco mulheres para a Assembleia Legislativa e a Câmara dos Deputados com a mesma linha de defesa, pautando temas como o feminismo e a luta LGBT. 

Já no PT, foi criada a iniciativa “Elas por Elas” que pretende “impulsionar, formar e dar condições materiais e políticas para que mulheres feministas ocupem cargos políticos, dentro e fora do partido”.  

Feminismo: da sociedade para a política

A conscientização das próprias mulheres sobre a abrangência do feminismo também baseou um panorama feito pela cientista política Priscila Lapa. Sob a ótica da estudiosa, nas últimas eleições “não foi possível ver uma evolução das candidaturas” do gênero e a pauta feminista não tem ganhado uma abrangência no debate eleitoral. 

Para que isso cresça, segundo ela, é necessário a quebra dos tabus que permeiam a pauta feminista e isso acontecerá somente a partir de uma mudança na sociedade.  

“A medida que a mentalidade das pessoas muda sobre isso vai se refletindo na política. A gente caminha positivamente no debate público, quando se traz para as escolas, por exemplo. É possível enfrentar esse tema com menos tabus, como o que fala que feminismo é algo restrito ou ultrapassado. Dentro da esfera política, porém, ainda precisa percorrer um longo caminho. É uma esfera muito machista. A classe política não dá a devida importância ao tema”, disse a estudiosa.

Na classe política, Lapa disse que a pauta feminista é atendida apenas diante de apelos e comoções a partir de tragédias que abalem a sociedade, como foi o caso da morte da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL). 

A decisão pelo voto feminista

Apesar da falta de candidaturas competitivas e dos meses que ainda faltam para o início da campanha eleitoral, há quem já tenha definido que votará apenas em mulheres no pleito deste ano. Como é o caso da estudante de enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco, Mirella Santana, 20 anos. A universitária acredita que, em sua maioria, os deputados e senadores não servem ao povo e, por isso, decidiu guiar a posição político-eleitoral a partir do que chamou de “um voto integralmente representativo”.

“Não cabe mais votar em quem não representa essas ideias, em partidos afundados em escândalos de corrupção. Não cabe mais votar naqueles que se dizem ‘neutros’, pois neutralidade já é um posicionamento”, salientou a eleitora.

“Esse ano eu decidi votar só em mulheres. Uma decisão que considero óbvia pra mim, que luto por uma democracia verdadeiramente representativa. Ao contrário do que vemos hoje: um estado majoritariamente composto por homens brancos, cis, héteros, de alta classe social e herdeiros de uma trajetória política familiar. E não basta ser mulher, tem que levantar as minhas bandeiras e me representar de verdade”, completou, pontuando ter se descoberto, diante do cenário político do país, uma pessoa “feminista, social democrata e progressista”.

A postura de Mirella Santana e tantas outras mulheres que já definiram o voto dão aos movimentos a esperança de que os dados atuais de candidaturas e de eleitas podem mudar com a eleição deste ano. Para se ter uma ideia, atualmente elas estão representadas em 10% dos mandatos nas casas legislativas, o que deixa o Brasil no ranking atrás de países como Arábia Saudita, Síria, Iraque e Emirados Árabes. Em 2014, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 29,73% dos quase 25 mil candidatos eram mulheres. 

 

 

A cinco meses das eleições presidenciais, os brasileiros estão tendo que absorver discursos e defesas diferenciadas de 16 nomes que já se colocaram para a disputa, considerada por estudiosos como a mais fragmentada desde 1989. A retórica dos pré-candidatos tem perpassado por temas como a efetivação de reformas, entre elas a da Previdência, questões indígenas, ambientais e de moradia, além das empresariais e de cunho mais conservador. 

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Entretanto, apesar da disposição dos pré-candidatos em apresentarem suas posturas nas andanças que têm feito pelo país, o desafio inicial deles quanto a absorção dos seus discursos, de acordo com a cientista política Priscila Lapa, é lidar com o “total desligamento do eleitor” e o “distanciamento da sociedade” com a classe política.    

Sob a ótica da estudiosa, com o espaço de tempo que ainda falta para a campanha eleitoral, a população ainda não está “prestando atenção” nos discursos dos presidenciáveis. Por outro lado, ao analisar o impacto das falas dos postulantes ao cargo de presidente da República a partir do início do período de campanha, ela ponderou que a expectativa será pela transformação das múltiplas exposições feitas em propostas concretas. 

“Quando falamos de eleição presidencial cabe tudo, desde as questões econômicas até as morais. Na última, por exemplo, teve um debate sobre o aborto. No contexto atual, que é um diferencial, as pessoas estão naquela de vamos ver onde tudo isso vai dar, ou seja, se o discurso se sustenta com propostas mais consolidadas ou não”, argumentou.

Como exemplo, Lapa pontuou a retórica do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que aparece em segundo lugar nas intenções de votos. Segundo ela, ainda não há uma proposta clara do pré-candidato. 

“Ele apresenta seu discurso, fala um monte de coisas, mas não consegue concretizar nada, não há uma proposta clara. O desejo de uma proposição viável e concreta que vá além da fala é uma característica apreciada pelo eleitor”, ressaltou a cientista política.

A advertência de Lapa pela ausência de propostas concretas também foi exposta pelo cientista político Antônio Henrique que, além disso, salientou que o nível de fragmentação dos discursos “deixa os votos mais pulverizados pelas diversas matrizes políticas e pensamentos econômicos” apresentados. 

Na análise do estudioso, a possibilidade de sucesso eleitoral é para o postulante que alinhar seu discurso com os anseios do chamado “eleitor mediano”. “Com este nível de fragmentação relativamente elevado a população pode ficar perdida, sem identificar exatamente a centralidade da candidatura de um presidenciável especificamente. A única certeza que nós temos, por hora, é que esta eleição é de dois turnos, por causa desta fragmentação elevada. Neste sentido, o candidato que tem maior chances de vencer o pleito eleitoral é aquele que vai se alinhar ao eleitor mediado, seus anseios e interesses”, explanou. 

Para Henrique, o presidenciável “que ficar colado a algum tipo de elite ou defenda a alguma área específica” deve ter poucos votos. “Qualquer candidato que passar esta imagem de rico, ligado a população mais abastada do Brasil, tende a ter uma quantidade de votos diminuída”, observou, citando o pré-candidato do Novo, João Amoêdo. 

“Assim como também os que defendem a redução de direitos, como por exemplo o caso da reforma trabalhista. Isso, inclusive, explica porque que a reforma da Previdência não conseguiu passar no Congresso ainda este ano, por ser muito mal avaliada, apesar de ser necessária para a manutenção da saúde e da conta do estado”, complementou o cientista político. 

Debate que predominará o pleito

Apesar das identidades defendidas pelos presidenciáveis, o cientista político Elton Gomes acredita que durante o debate eleitoral no período da campanha será predominado por dois pontos: segurança pública e corrupção. 

“Os discursos para candidaturas majoritárias passam pelo entendimento da classe econômica, mas nos últimos anos por conta da operação Lava Jato e do descontrole da segurança pública nos centros urbanos, fez com que se fortalecesse o discurso no ponto de vista da política. A pauta da corrupção e da segurança pública se exacerbaram no Brasil tornando marginal o histórico discurso sobre a estabilidade econômica, que funcionou nas campanhas durante esses últimos 20 anos”, disse. 

De acordo com Gomes, isso se justifica porque a retórica militante, apresentada pela maioria dos pré-candidatos, “não é interessante do ponto de vista do eleitor médio”. “O eleitor médio não é ativista e é ele quem define a eleição. Ele não vê isso como determinante”,  sustentou.

Efeito do discurso na escolha do voto

A cientista Priscila Lapa ainda fez um panorama sobre o efeito das múltiplas falas diante da escolha do voto pelo eleitor. Segundo ela, a absorção, que já não é tão intensa assim, varia de acordo com o perfil do eleitorado.  

“As discussões ideológicas não dominam o eleitorado, estão com quem tem maior instrução e renda, por exemplo. Já o segmento maior, com o menor grau de instrução, vai seguir a escolha pragmática: quem vai resolver o problema do país e como vai. A agenda ideológica perde espaço. O que tem decidido as últimas eleições majoritariamente é a questão econômica. A segurança e confiança na retomada do crescimento da economia”, ponderou, esclarecendo que “apesar das outras questões”, no pleito deste ano isso não vai ser diferente.

Caso seja condenado em segunda instância, nesta quarta-feira (24), pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não está impedido de disputar as eleições em outubro deste ano. Já anunciado pelo PT como pré-candidato ao pleito, segundo especialistas, o que poderá retirá-lo da disputa é a conclusão da análise de embargos de declaração ou infringentes, que devem ser apresentados pela defesa do líder-mor petista, a partir da quantidade de votos que receberá no pleno do Tribunal Regional Federal da 4ª região (TRF). 

Sendo condenado por unanimidade, a defesa poderá ingressar apenas com embargos de declaração, que tem a tramitação mais célere e no próprio TRF4, mas se for por maioria dos votos cabem embargos infringentes e a tramitação desses recursos dura entre seis meses e um ano e o registro das candidaturas eleitorais acontece em agosto. 

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Entretanto, segundo o especialista em direito criminal Paulo Pimentel, ainda que a apelação do ex-presidente seja negada nos dois moldes há brechas na legislação que permitem a ida dele para a disputa nas urnas. 

“De acordo com a ficha limpa ele não poderá se candidatar se todos os recursos existentes tiverem sido julgados e negados… Mas existe na legislação eleitoral a possibilidade de Lula obter uma liminar que tenha força de suspender a sua cassação, caso antes de agosto ele seja condenado e obtenha uma liminar no Tribunal Superior Eleitoral ele pode sim se candidatar”, explicou. 

Paulo Pimentel deixou claro que com a posse dessa eventual liminar o ex-presidente poderá, inclusive, assumir o comando do país caso obtenha a maioria dos votos e seja eleito em outubro. 

“Se a liminar cair e ele for eleito, essa cassação só vai até a diplomação que ocorrerá em dezembro. Ocorrendo a diplomação e ele sendo condenado, com recurso no STF, pode tomar posse e somente sairá do mandato caso haja um novo processo pedindo a cassação do seu mandato, como aconteceu recentemente com o presidente Michel Temer”, destrinchou. “Ele se tornaria o segundo presidente ficha suja. O primeiro foi Michel Temer, acrescentou Paulo Pimentel. 

O que pesará, neste contexto, é a reação do eleitorado diante da possibilidade de se repetir o cenário instável vivido pelo país com Temer. “São variáveis que temos que perceber como o eleitor vai entender isso e como isso vai ser trazido para a eleição. Pode se firmar, por exemplo, um discurso na oposição de que o país poderia correr o risco de ter um presidente que assumiria, mas não terminaria seu mandato”, argumentou a cientista política Priscila Lapa. 

Os argumentos, sob a ótica de Lapa, surtiriam efeitos negativos diante da candidatura de Lula, mesmo com ele liderando as pesquisas de intenções de votos. “Esse discurso da oposição de que votar em Lula é uma escolha incerta ou ainda que ele seja candidato e eleito, o Brasil aguenta ter um presidente que não termine o seu mandato de novo, pode pesar negativamente para Lula”, salientou. 

O PT já afirmou que irá aos aspectos judiciais para garantir a participação do ex-presidente na disputa e vem pregando que uma “eleição sem Lula é fraude”. Outros pré-candidatos e partidos, inclusive, também defendem que o líder-mor petista esteja presente na disputa. 

Processo em julgamento

O TRF4 julga, nesta quarta-feira, os recursos impetrados pelo ex-presidente contra  a sentença do juiz Sérgio Moro que o condenou a cumprir 9 anos e 6 meses de prisão, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. 

O processo diz respeito a Lava Jato e é referente ao pagamento de propina da empresa OAS, a partir de um triplex no Guarujá, litoral de São Paulo. Além da detenção, a sentença de Moro também o proíbe de exercer cargos públicos por 7 anos e a pagar uma multa de R$ 669,7 mil.

Trezentos e sessenta e cinco dias. É este o tempo exato que falta para as eleições gerais de 2018, quando os eleitores de todo o país vão às urnas para escolher, entre outros, quem ocupará os cargos de presidente e governador. Em Pernambuco, a disputa pelo comando do Palácio do Campo das Princesas está começando a ser desenhada com as tratativas para endossar a candidatura à reeleição do governador Paulo Câmara (PSB) e as articulações de uma frente que quer desbancar o PSB da hegemonia de 12 anos à frente da gestão estadual.

Este grupo é liderado pelos senadores Fernando Bezerra Coelho (PMDB) e Armando Monteiro (PTB), além dos ministros da Educação, Mendonça Filho (DEM); das Cidades, Bruno Araújo (PSDB) e de Minas e Energia, Fernando Filho (ainda no PSB). Eles intensificaram as conversas depois do ingresso de FBC no PMDB que, apesar de ser atual aliado de primeira hora do PSB, pode passar a integrar a base de oposição com a pretensão de protagonizar a disputa pelo o comando do governo. 

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A postulação, entretanto, vai ter que enfrentar o diretório estadual do PMDB que é contrário a dissolução da aliança com os pessebistas e, nos últimos dias, conseguiu duas decisões judiciais que impedem o andamento de um processo interno na legenda peemedebista solicitando a dissolução da direção do partido no estado. 

Apesar de a frente ser composta por políticos de peso, ainda não há uma definição de quem será o candidato. Há rumores de que a chapa seja capitaneada por Fernando Filho, que deve deixar o PSB e migrar para o DEM. Por outro lado também tem Armando Monteiro, considerado candidato natural ao governo. O petebista foi derrotado em 2014 por Paulo Câmara, mas ainda é uma incógnita no campo articulado por Fernando Bezerra. 

Na conjuntura atual também se vê a afirmação do PT de que disputará o cargo, mesmo nas últimas eleições tendo apresentado quadros de derrota. Nos bastidores já existe um consenso em torno do nome da vereadora do Recife Marília Arraes. A direção estadual alega, no entanto, que o momento não é ainda para discutir nomes e não confirma a participação da parlamentar. Porém também há a expectativa de que o PT se alinhe ao PSB e suba no palanque de Paulo Câmara

Já entre os partidos menores, o PSOL anunciou que vai concorrer ao comando do Palácio, mas ainda não definiu nomes. O foco principal da legenda é ampliar as vagas na Assembleia Legislativa de Pernambuco e na Câmara Federal. 

Um cenário ainda indefinido

Diante do quadro eleitoral pernambucano, a doutora em ciência política Priscila Lapa acredita que a disputa não vai ser fácil para Paulo Câmara, nem para os demais governadores do país que desejam concorrer à reeleição, uma vez que a crise econômica vai predominar o debate. 

“Os governadores estão mal avaliados e assumindo um papel de coadjuvante no dia a dia. A insatisfação com economia, o medo de ficar desempregado e não honrar com os compromissos, mesmo que haja uma sinalização de melhora, é o que predomina para o eleitor. O eleitor tende a avaliar de forma negativa quem está no poder. Não vai ser fácil a reeleição nem para Paulo nem para outros governadores”, ponderou, lembrando que em 2016 não se chegou nem a 50% de reeleições no país. 

Indagada se o apelo pelo voto oriundo do chamado eduardismo pode reverter tal dificuldade, a estudiosa argumentou que sim. “Temos uma herança forte do legado de Eduardo em Pernambuco. A figura dele era muito forte e isso pesa negativamente para Paulo, ele não tem o perfil de liderança, de encabeçar as ações como Eduardo. Mas por outro lado, Paulo também tem coisas para mostrar e o argumento de que ‘não parou’”, disse. 

“Tem o legado do partido, ninguém fica 12 anos sem nada para mostrar. Talvez o discurso do governador caminhe na linha de que é melhor apostar nos partidos que já mostraram que trabalham, com a lembrança também do eduardismo, do que apostar numa mudança, em um grupo político que ainda não tem o que mostrar. No cenário de instabilidade econômica é mais fácil o eleitor confiar em algo que já conhece do que na mudança”, complementou. 

Já sobre a oposição, Priscila Lapa ponderou que falta um alinhamento. “Será uma oposição mais ligada ao governo federal, dessa agenda de reformas, mais para o centro-direita ou se a gente vai ter uma oposição tradicional, mais popular, voltada a esquerda?”, indagou, citando as articulações do senador Fernando Bezerra Coelho. Na análise dela, apesar dos nomes que surgem como lideranças nacionais, em Pernambuco eles são pouco conhecidos.

“Depois de Eduardo tivemos dificuldade de projeção de lideranças. Na oposição temos pessoas que acabam assumindo um protagonismo nacional, mas não revertem isso no  estado. Os eleitores não acreditam que essas pessoas conseguem assumir a liderança de uma chapa. São lideranças que ainda não se estabeleceram em Pernambuco. Fernando Bezerra Coelho construiu tudo, menos consenso. Eles estão tendo dificuldades e quanto mais a oposição se fragmenta mais beneficia Paulo Câmara”, observou.

Quanto a participação do PT, a doutora em ciência política disse que não acredita em uma candidatura própria. “A oposição do PT é enfraquecida. Temos um partido que está recuperando um pouco a credibilidade, mas teve um desempenho eleitoral ruim em 2016 e perde o poder de barganhar alianças. A tendência para o PT é não ter candidato próprio e se aliar ou ao governo ao a oposição”, sentenciou.

O pensamento foi corroborado pelo professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e cientista político Adriano Oliveira. Segundo ele, em Pernambuco haverá dois palanques em 2018: o de Lula e o de Temer.  

“A eleição tende a ser nacionalizada, de um lado o candidato apoiado pelo lulismo e ancorado no eduardismo e do outro o candidato apoiado pelo Temer. Se o Temer recuperar a economia e esse candidato terá chances reais e Paulo vai buscar pelo lulismo e eduardismo. Vejo que o PT deve caminhar nacionalmente com o PSB e em virtude disso provocará a aliança estadual”, observou. 

Oliveira aposta que o candidato da oposição será Fernando Bezerra Coelho. “A oposição não decidiu ainda se vai ter candidato, embora eu acredite que deve ser Fernando Bezerra Coelho, a vida da oposição é fácil de resolver, pois existem vários cargos a ser distribuídos com as demais lideranças”, salientou o estudioso. 

As cobiçadas vagas para o Senado

Além do Executivo, Pernambuco também tem duas vagas em aberto no Senado para a disputa e alguns nomes começam a ganhar fôlego ou a despontar de forma solo. O deputado federal Silvio Costa (Avante) é um dos que pretende participar da corrida. Defensor ferrenho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele vem se apresentado como o “senador de Lula” e firmando alianças pelo estado para endossar sua eventual candidatura.

Da base eleitoral, entre os nomes que despontam está o do deputado estadual André Ferreira (PSC). Ele foi um dos deputados estaduais mais bem votados em 2014 e já recebeu, inclusive, o apoio de prefeitos como o do Cabo de Santo Agostinho, da Região Metropolitana do Recife (RMR), Lula Cabral (PSB). O deputado e presidente do PSD em Pernambuco, André de Paula, está entre a lista dos cogitados para uma das vagas. Ele, porém, nega que esteja trabalhando com a intenção de compor a majoritária e alega ter como foco à reeleição para a Câmara Federal. 

Quem também pretende voltar a disputar um assento na Casa Alta é o deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB). A incógnita, entretanto, é  se isto se dará pela Frente Popular de Pernambuco ou a oposição. No campo oposicionista ainda existem especulações de que o ministro Mendonça Filho (DEM) alce voos eleitorais mais altos e deixe a Câmara para concorrer ao Senado. 

Há ainda o advogado Antônio Campos que confirmou recentemente ter recebido o aval da direção nacional do Podemos para articular e lançar uma candidatura solo ao Senado em 2018, garantindo um palanque em Pernambuco para o senador Álvaro Dias, pré-candidato à presidência pela legenda.

Com as indefinições,  a expectativa no meio político é de que as definições das composições de chapas que disputarão em Pernambuco sejam efetuadas entre fevereiro e maio, quando também já terá ocorrido a janela partidária. Seguindo o calendário eleitoral de 2016, os candidatos serão anunciados oficialmente a partir de 20 de julho de 2018, quando acontecem as convenções partidárias. 

A investida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo Nordeste vem causando reações diversas entre aliados e oposicionistas. O reflexo disso pôde ser observado em Pernambuco, na última semana, quando entre afagos e protestos, ele foi recebido para atos no Recife e em Ipojuca, na Região Metropolitana. Sob a ótica de cientistas políticos, a caravana protagonizada por Lula confirma a força e a popularidade dele, apesar da condenação a 9 anos e 6 meses por lavagem de dinheiro e corrupção, além de outras acusações que pesam contra o ex-presidente. 

Na avaliação da doutora em ciência política Priscila Lapa, Lula percebeu no périplo pela região em que politicamente ele é mais benquisto como uma “oportunidade” para reagir aos episódios negativos e refazer sua imagem. “Toda ação tem uma reação. Em política isso é bem evidente. Há muito tempo ele vem sendo alvo de ações negativas, o que é normal diante das acusações, mas agora chegou a hora da reação e ele percebeu [na caravana] esta oportunidade para recuperar sua imagem. Essa agenda dele não é à toa. Ele veio confirmar aquilo que já vinha ensaiando que é candidato até que isso não aconteça, não se viabilize [com a condenação em segunda instância]”, salientou. 

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Para Lapa, mesmo com as acusações da Lava Jato, Lula ainda é visto como “o candidato que representa o grupo de esquerda no país” e, de acordo com a estudiosa, o ex-presidente “veio testar um pouco a sua popularidade” e a tendência é de que “os votos de quem ele já tinha, do público mais cativo, não perca”. “Ele continua extremamente forte. Se fosse apenas Lula o condenado e acusado neste cenário, o eleitor diria que ele errou sozinho, mas não é isso que acontece. Além do mais, ainda é muito forte na memória do eleitor as ações implementadas por ele durante seu governo, por isso ele continua alimentando e tem grandes chances de ser eleito se for candidato e, caso não, de atrair uma boa votação [como cabo eleitoral]”, argumentou. 

A popularidade é um item que vem sendo bastante questionado diante da participação do público nas agendas de Lula. Algumas, como a de Ipojuca para sindicatos da indústria petroleira e naval, são marcadas por um esvaziamento perceptível, o que, em contrapartida, não foi visto na capital, quando aconteceu um ato em defesa da inocência dele e pela democracia no Pátio do Carmo.  

“Não devemos avaliar a vinda dele a partir da quantidade de gente que o acompanhou, isso é importante, mas com a caravana ele consegue o seu objetivo principal: manter vivo o lulismo e sua capacidade de influenciar a decisão dos eleitores. Ele tem feito uma agenda que desperta a atenção da imprensa e da opinião pública”, ressaltou o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e cientista político, Adriano Oliveira. 

“Mesmo com as denúncias e condenação ele continua sendo um político fortíssimo e o lulismo vai estar presente em nas eleições de 2018 com capacidade de levar o PT ao segundo turno”, acrescentou, projetando. Apesar da presença na disputa, Adriano não acredita que o candidato do PT à Presidência será Lula. “Não acredito que ele seja candidato, mas o lulismo estará vivo na hora da escolha do eleitor e ele tanto vai ser cabo eleitoral em Pernambuco quanto no Brasil. Os dois candidatos do PT vão ter chances de chegar ao segundo turno com votos atraídos pelo lulismo”, observou o estudioso. 

Lula iniciou a caravana pelo Nordeste no último dia 17 e segue até o próximo dia 5, quando encerra as agendas no Maranhão. Antes de chegar a Pernambuco, onde cumpriu agenda de quinta (24) a sábado (26), ele passou pela Bahia, Sergipe e Alagoas.

Diante da polarização, consequência da instabilidade política atual, é cada vez mais comum ouvir, pensar e debater sobre política na roda de amigos ou nas redes sociais. No entanto, a necessidade de uma opinião especializada para o entendimento e análise imparcial dos fatos traz à tona a figura do cientista político. Mas, afinal, o que faz esse profissional?

A ciência política surge como disciplina na metade do Século XIX e se dedica ao estudo dos fenômenos ligados à esfera política com argumentos sustentados em dados precisos e provas de fatos. Participa juntamente com a antropologia, história, sociologia, entre outras do ramo das Ciências Sociais, portanto, lida com questões relacionadas ao comportamento político, atividades governamentais, processos de distribuição de poderes e sistemas de governo.

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O cientista político está apto a atuar nas esferas públicas e privadas, instituições políticas e é responsável pela construção e avaliação de políticas públicas e sociais. Adriano Oliveira, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e colaborador do Instituto de Pesquisas UNINASSAU, explica que a profissão possui duas vertentes: a docência e o mercado. Mesmo com essa divisão, o profissional pode executar essas funções paralelamente, ou seja, ao mesmo tempo em que ministra aulas, também pode coordenar campanhas políticas e pesquisas.

Ele ressalta que uma dessas atribuições envolve pesquisa de eleitorado, isto é, uma análise do perfil e intenção de voto. Além disso, reafirma o compromisso com a veracidade e imparcialidade nas colocações e análises. Sendo assim, este profissional está habilitado a realizar análise de cenários, de pesquisas sociais, políticas e atividades governamentais e na construção de estratégias eleitorais e políticas.

Formação acadêmica

O profissional deve possuir a graduação em ciência política. Em Pernambuco, o curso é oferecido desde 2009 na UFPE, com duração de quatro anos.

A doutora em ciência política Priscila Lapa ressalta que a formação prepara para exercer uma função acadêmica, que envolve pesquisa e ensino. Segundo ela, atualmente a academia permite que o profissional explore outras possibilidades. “Isso vem mudando ao longo dos anos, com uma formação que permite, além de atuar nas universidades, realizar análises em institutos de pesquisas, empresas de consultoria, entidades governamentais e não governamentais, assessoria legislativa e agências de marketing político”, afirma Priscila.

Estudante do quinto período de ciência política na UFPE, Rodrigo Assis fala que a motivação na escolha do curso foi o desejo de trabalhar com o setor público. Agora, pretende atuar com avaliação de políticas públicas. O estudante conta que antes de iniciar os estudos, tinha uma visão sobre a área que foi mudada após seu ingresso na universidade. “O que eu sabia de ciência política não tem muito a ver com o que de fato é o curso. O que é natural, até porque, quando a gente é de fora e pensa em política, é automático ligar à militância, partidarismo. Mas, ainda bem, que me identifiquei muito com o curso e estou bem feliz”, afirma o estudante.

Ao todo, além da UFPE, seis universidades públicas oferecem a graduação, entre elas estão a Universidade de Brasília (UNB), Universidade do Piauí (UFPI) e Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).

Mercado e remuneração

Adriano Oliveira frisa que o profissional da ciência política, para entrar no mercado de trabalho, não pode viver apenas do pensamento teórico, mas deve aplicá-lo a realidade social. “Um cientista político, acima de tudo, não pode descriminar o seu objeto de estudo que é o político, o ser político. É importante para um cientista político, que enverede para o mercado, possa estar numa função em que ele oriente empresários, políticos e instituições a tomarem as melhores decisões. Já no campo acadêmico, dedicando-se ao ensino e pesquisa, o profissional deve ter uma dedicação forte, sempre buscando novos temas para encontrar os motivos de determinado fenômeno”, aponta.

Priscila Lapa destaca que o mercado, aqui no Nordeste, ainda não é muito amplo, mas vem crescendo. Para ela, ainda há desconhecimento sobre a área e formação. “Ainda existe um grande desconhecimento do mercado sobre a formação desse profissional, assim como existe certo preconceito de setores mais tradicionais da academia de promover uma maior aproximação do mercado, achando que isso pode, de alguma maneira, 'precarizar' a formação dos profissionais. Isso não é exclusivo da ciência política, mas sim das Ciências Sociais como um todo, aqui no Brasil”, ressalta.

A remuneração varia bastante. Como a maioria dos profissionais é absorvida pelo setor público, assim, a remuneração está mais alta do que em outras esferas. A Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) em seu último concurso, em 2014, ofereceu um salário de cerca de R$ 7 mil. A depender do cliente, o cientista político pode alcançar um faixa salarial de R$ 20 mil. Para quem deseja seguir carreira acadêmica em universidades federais, o salário está em torno de R$ 10 mil, para quem possui doutorado. A seguir, confira uma entrevista em vídeo com o cientista político Adriano Oliveira: 

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A inesperada vitória de Donald Trump para presidir os Estados Unidos reascendeu a discussão sobre a chamada “onda de conservadorismo” que invade a política mundial. A tese eleitoral de conduzir perfis sem um histórico político para as chefias dos executivos tem endossado as últimas eleições, gerando conquistas como a do empresário republicano e trazendo à tona uma imprevisibilidade na condução dos países.

Para especialistas ouvidos pelo Portal LeiaJá, um fator que já deve ser levado em consideração é o primeiro discurso do novo presidente após a consolidação da vitória, com um tom apaziguador e indo de encontro com as defesas e ataques feitos por ele durante a campanha.

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“Após a vitória, Donald Trump já demonstrou outro discurso, que sugere o apaziguamento do conflito, chamando, inclusive, a Hillary Clinton para conversar. O contexto faz com que neste instante não saibamos ao certo como será a postura dele nos próximos anos e isto é resultado da imprevisibilidade da vitória dele, afinal de contas, existiam eleitores envergonhados em declarar que votariam em Trump”, ponderou o cientista política e professor da Universidade Federal de Pernambuco, Adriano Oliveira.

No período de campanha, o novo presidente norte-americano colocou-se contra, por exemplo, a imigração e o livre comércio visando preservar empregos no país e reduzir o déficit americano nas transações com o resto do mundo. Posturas que podem prejudicar o Brasil visto que o EUA é considerado a “potência econômica mundial”.

“Se isso se mantiver, qual será o futuro da economia dos países emergentes, entre eles o Brasil? O impacto para o país pode estar presente na economia, pois temos um mercado de agronegócio forte, precisamos exportar e no momento que os EUA se fecham para o livre comércio atinge a economia, que já vai mal no Brasil”, salientou Oliveira.

Impacto político

A postura conservadora de Donald Trump, sob a ótica da cientista política Priscila Lapa, será refletida justamente nas questões nacionais porque a maioria dos “segmentos sociais que votaram nele são imersos pelo sentimento nato americano”.

“Ele reascende este sentimento conservador voltado para as próprias questões nacionais e nos dá a possibilidade de prever, entre outras coisas, um impacto econômico não de rompimento, mas de inquietação. Ele combina com esta questão de uma política apolítica, onde a falta de histórico na área reforça a esperança [para os americanos] de uma boa gestão”, argumentou.

Para Lapa, uma variável que pesou para a vitória do republicano foi a suposta utilização indevida de um cargo público por Hillary. “Os eleitores de Trump já estão pedindo a investigação e prisão dela”, destacou. “Não ser de berço político também foi um beneficio para ele”, emendou a estudiosa. 

Donald Trump será o 45º presidente dos Estados Unidos da América. Ele alcançou os 276 votos de delegados do colégio eleitoral na madrugada desta quarta-feira (9), depois de uma acirrada disputa contra Hillary Clinton. Ele teve a maioria dos votos na Flórida, Carolina do Norte, Ohi e a Pensilvânia.

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