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O curso de Letras da UNAMA - Universidade da Amazônia promove nesta quinta-feira (18), às 20 horas, por meio remoto, mais um encontro literário do programa Rio de Nós, série #LetrasUnamaConvida, que ocorre mensalmente, com o apoio do programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura. O convidado é o poeta João de Jesus Paes Loureiro. O evento será na plataforma google meet (link disponibilizado nas mídias sociais do curso de Letras UNAMA).

João de Jesus Paes Loureiro possui graduação em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade Federal do Pará (1976), graduação em Direito pela Universidade Federal do Pará (1964), mestrado em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1973) e doutorado em Sociologia da Cultura - Université de Paris IV (Paris-Sorbonne) (1994). Com ampla experiência nas disciplinas de Estética e Literatura na UFPA, professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPA, é professor e pesquisador renomado. Atualmente é professor voluntário da Universidade Federal do Pará. Tem experiência nas áreas de Artes, Comunicação e Letras, nas quais atua com os seguintes temas: Arte, Comunicação, Imaginário, Amazônia, Cultura, Cultura Amazônica, Magistério, Criação Literária, Poesia, Encantaria e Mito.

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Poeta aclamado, publicado em diversos idiomas, francês, italiano, japonês, alemão, Paes loureiro escreve poesia e prosa. Em breve lançará seu segundo romance, "Andurá (onde tudo é e não é)", pela editora Valer, de Manaus, uma das mais renomadas editoras em se tratando de acervo amazônico.

A conversa com Paes Loureiro será mediada pelos professores Paulo Nunes e Elaine Oliveira.

Serviço

Link de acesso em https://www.facebook.com/letras.unama.5

 

“E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida.” 

Os versos de Morte e Vida Severina, obra mais famosa de João Cabral de Melo Neto, sintetizam uma vida devotada à arte e à diplomacia.  O trabalho que o consagrou é uma das poesias nascidas da sensibilidade do escritor nascido no dia 9 de janeiro de 1920 e que morreu em 1999. Modernista, tem versos simples e rigor formal. Inspirações para as obras nasceram, por exemplo, de seu inconformismo diante de dramas de seus conterrâneos nordestinos.  O recifense, que faria 100 anos, nesta quinta-feira, tem uma trajetória com cenários múltiplos e engajados, que lhe valeram prêmios e a imortalidade na Academia Brasileira de Letras.

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Parte da infância, João Cabral passou nos engenhos da família nas cidades de São Lourenço da Mata e de Moreno, paisagem de canaviais que marcaram a vida do poeta. Depois, voltou para o Recife e, nos anos 1940, mudou-se para o Rio de Janeiro.

A Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar, o aterro do Flamengo, as belezas da então capital brasileira não inspiraram a obra de João Cabral.  Ele não conseguia se desligar do Recife e das imagens de sua infância nos engenhos. Era um tema recorrente em uma obra diversa como a dele.

O Brasil da política e dos grandes centros de poder, foi secundário na poesia de João Cabral, se é que não foi alvo de crítica ou de ironia. O Brasil que o interesse é somente o Brasil do Nordeste.

Apesar de morar no Rio, João Cabral tinha uma espécie de implicância com a cidade, e também com São Paulo, como focos do poder do país. Ele as considerava como duas cidades – ou estados – que abafaram a autonomia e a vida do Nordeste.

No Rio, João Cabral se tornou diplomata e começou uma peregrinação por diversos países, do Senegal a Portugal. Mas foi no primeiro posto dele, ainda nos anos 40, em Barcelona, que ele sentiu-se confortável, principalmente em Andaluzia e Sevilla. A paisagem lembrava muito a de Pernambuco e isso se refletiu em sua poesia, dedicando às cidades e à paisagem espanholas muitos poemas.

Seja no Brasil, seja no exterior, João Cabral produzia. E foi premiado: Prêmio José de Anchieta, de poesia, do IV Centenário de São Paulo (1954); Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras (1955); Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; Prêmio Bienal Nestlé, pelo conjunto da Obra e Prêmio da União Brasileira de Escritores, pelo livro "Crime na Calle Relator" (1988), entre outros.

Também entrou para a Academia Brasileira de Letras em 1968. Morreu no Rio de Janeiro em 9 de outubro de 1999.

O poeta, ensaísta e crítico literário Antônio Carlos Secchin, membro da Academia de Letras, cursou mestrado e doutorado pesquisando a obra de João Cabral de Melo Neto e foi amigo do pernambucano durante quase 20 anos, até a morte do escritor. Com exceção dos dados biográficos, ele é a fonte das informações que estão na primeira parte desta reportagem (com exceção dos enxertos de poemas, é claro, que tem autoria de João Cabral de Melo Neto).

Os dois se conheceram em 1980, quando Secchin procurou João Cabral para fazer uma entrevista para sua tese de doutorado. “Ele gostou muito do trabalho que eu havia escrito sobre ele [no mestrado] e, a partir daí, nós cultivamos uma amizade muito fraterna, muito franca”, disse.

Para Secchin, a obra de João Cabral pode ser examinada por vários ângulos. “Do ponto de vista do conteúdo, é uma poesia importante porque ela enfatiza, com grande interesse, as questões sociais do Brasil, as condições de vida dos nordestinos, a injustiça social de um modo geral, essa parte geral engajada é importante, mas eu gosto de enfatizar também o aspecto da consciência literária”. O pesquisador considera que João Cabral foi um poeta extremamente preocupado com a qualidade do verso e com o rigor da construção do poema. “Então, essa combinação de uma consciência da forma junto com a questão social é o que faz da obra do João Cabral algo absolutamente fundamental na poesia brasileira.”

Na avaliação de Secchin, João Cabral, ao lado de Manuel Bandeira e de Carlos Drummond de Andrade são os três nomes mais importantes no campo da poesia brasileira no século 20.

Leia aqui alguns poemas de João Cabral de Melo Neto.

"Homem nacional"

Já o homem João Cabral de Melo Neto era uma pessoa completamente diferente do poeta, segundo Secchin. “Nós encontramos a imagem do poeta como alguém claro, alguém racional, alguém absolutamente senhor de tudo o que estava fazendo e o homem João Cabral me parecia inseguro, me parecia alguém um pouco assustado diante da vida e que ele usava essa literatura dele tão clara, tão racional, tão digamos, domada por ele, como uma compensação para aquilo que ele não conseguia fazer na sua própria vida particular”, disse.

Perfeccionista

Na confecção de sua poesia, João Cabral era um perfeccionista. Secchin conta que, no processo de criação de suas obras, nada podia fugir ao controle do pernambucano. “Ele planejava o poema em todos os detalhes e às vezes, como ele fez em dois livros pelo menos, um chamado ‘Serial’ e o outro ‘Educação pela Pedra’, não contente em trabalhar a arquitetura do poema, ele trabalhou a arquitetura do livro. Ele bolou um esquema de livro totalmente rigoroso e, a partir daí, ele foi fazendo poemas que se encaixavam como módulos no conjunto maior que era o próprio livro”.

Por todo esse perfeccionismo com o rigor estético de sua obra, João Cabral não acredita muito em inspiração. Ele abraçava apenas o trabalho. Secchin conta que o poeta delimitava o poema que ele queria fazer.

O pesquisador testemunha que “João Cabral admitia que, de vez em quando, não sabia a origem das inspirações. “Vinha uma ideia, vinha uma frase, uma palavra e, se essa frase e essa palavra ou esse verso viesse muito fácil, ele desconfiava. Achava que aquilo não era bom, achava já tinha ouvido aquilo de outra pessoa”. Para Antônio Carlos Secchine, João Cabral era alguém que voluntariamente se impunha muita dificuldade, se impunha muito obstáculo, mas tendo a esperança, a certeza de que conseguiria vencer esses obstáculos e fazer o poema praticamente, exatamente como ele queria”, disse.

Obras

João Cabral de Melo Neto tem 33 livros de poesias publicados e sete de prosa. Neste ano, em comemoração ao centenário, Secchin vai lançar, pela Editora Alfaguara, uma nova edição da poesia completa de João Cabral de Melo Neto com poemas inéditos descobertos pela pesquisadora Edineia Ribeiro.

Dos mais de 30 livros de poesias, um é considerado por Secchin como o maior sucesso da poesia brasileira de todos os tempos: Morte e Vida Severina. Para o ensaísta, a obra não apenas vai garantir a permanência da poesia de João Cabral, mas vai trazendo a reboque, como uma locomotiva puxa seus vagões, o conjunto da obra dele.

“O próprio Cabral lamentava que os outros livros dele não fossem conhecidos na mesma proporção que Morte e Vida Severina. Eu próprio não considero Morte e Vida Severina o grande livro dele, acho que tem quatro ou cinco pelo menos iguais”, disse Secchin.

Morte e Vida Severina virou peça em 1966, foi premiado e um sucesso de público e crítica. Depois virou disco, programa de TV e, mais recentemente, história em quadrinhos e filme de animação.

Antônio Carlos Secchin afirma que João Cabral apreciou as adaptações de poesias para cinema, teatro e TV.

João Cabral esteve presente na primeira montagem para o teatro que desencadeou todo o sucesso de Morte e Vida Severina em 1966, na França. O poema tinha sido escrito dez anos antes sem nenhuma repercussão no Brasil. Na França, a montagem venceu um festival e, segundo Secchin, foi a partir daí que o sucesso ocorreu.

“Na sequência, a peça foi para o Porto [Portugal], ele estava presente, ele se emocionou e apesar de às vezes ele ficar implicando, ‘não, esse poema meu é fraco, não é o melhor que surgiu’ eu tenho o registro de que ele sempre se emocionava quando ele assistia às montagens de teatro desse poema.”

A Casa das Rosas, em São Paulo, está com as inscrições abertas para o Curso Livre de Preparação do Escritor (Clipe) até o dia 16 de fevereiro.

O objetivo do curso, idealizado pelo Centro de Apoio ao Escritor (CAE), é ensinar como funciona o processo de criação literária em todas as suas etapas e gêneros com capacitação técnica e recursos de profissionalização.

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São três turmas de trinta alunos e cada uma tratará de um gênero literário: a prosa, a poesia e o ensaio. As aulas começam no dia 1º de março e serão às quintas-feiras, das 19h às 21h, e aos sábados, das 10h30 às 12h30 – com duração de oito meses.

Serviço

Clipe 2018

Inscrições até dia 16 de fevereiro, através do site www.casadasrosas.org.br.

Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura (Avenida Paulista, 37 – próximo à estação Brigadeiro do metrô).

(11) 3285-6986 / (11) 3288-9447.

Redor da Prosa, porque esta coluna é reservada não só à ficção, mas também aos livros de filosofia, sociologia, política, história etc. Ou, lembrando frase do saudoso Luiz Carlos Monteiro (enviada por e-mail, pouco antes de seu encantamento), coluna dedicada aos “universos que se desdobram através da palavra escrita, plantando insônias ou revoluções”.

Redor da Prosa, também, porque depõe sobre a crítica que tentarei (entre tantas possíveis). Redor é o trabalhador das salinas, aquele que leva água salgada até os viveiros para que, sob o sol, seja coalhada até que reste o ouro branco de nossos alimentos. Assim como acontece com o redor, cabe ao crítico oferecer caminhos, suas opiniões estão a serviço das obras-águas. Estas, iluminadas pela atenção do leitor, tornam-se a especiaria que, bruta ou refinada, sempre muda o sabor de tudo que nos chega, ou, não menos importante, conserva-eterniza o que já temos como essencial. 

Mas, como sabemos impossível o exercício de crítica quase diária, também faremos da coluna Redor da Prosa um espaço para divulgar encontros, lançamentos, concursos, sites e blogs dedicados à leitura; enfim, veicular informações úteis aos leitores – esses navegantes que, apesar dos anúncios frequentes de morte dos livros ou da literatura, estão sempre à espera de maré que os convide aos oceanos infindáveis da palavra. 

Para fechar esta apresentação, recordo a abertura do primeiro livro que, há um bocado razoável de tempo, deixou-me a certeza de que um texto pode realmente nos tirar o sono ou revirar tudo em volta, o Moby Dick, de Melville:

Chamai-me Ismael. Faz alguns anos – não importa quantos, precisamente –, tendo na bolsa escasso ou nenhum dinheiro e nada que particularmente me interessasse em terra, achei que devia velejar um pouco e ver a parte aquosa do mundo.

Call me Ishmael. Some years ago—never mind how long precisely—having little or no money in my purse, and nothing particular to interest me on shore, I thought I would sail about a little and see the watery part of the world.     

Espero que Redor da Prosa funcione como modesto chamamento a essas águas que, para tantos, são o verdadeiro sal da terra!

*Dedicado a Luiz Carlos Monteiro, que faleceu em 25 de julho último, no município de Arcoverde.

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