Tópicos | relatam

Para alguns usuários, não é possível visualizar tela inicial do aplicativo. (Marília Parente/LeiaJá Imagens)

##RECOMENDA##

Nesta sexta-feira (4), clientes do Nubank usaram suas redes sociais para relatar dificuldades no acesso ao aplicativo da empresa e na realização de transações via pix. Para alguns usuários, nem sequer é possível realizar o login na ferramenta ou visualizar o saldo em conta. 

Por volta das 12h, o site Down Detector, que monitora dificuldades enfrentadas por usuários de diversas plataformas digitais, registava 160 reclamações sobre o Nubank. O problema mais notificado é o login do aplicativo (41%), seguido por saldo em conta (33%) e transferências (26%). 

"Eu quase tive um treco com a minha conta do Nubank porque o app não está mostrando meu saldo e extrato rssss, entrei em contato com todos os canais virtuais e NENHUM avisou dessa instabilidade do sistema operacional, só o pessoal do 0800 teve o cuidado de explicar o problema", escreveu uma usuária, nas redes sociais.

Outro correntista, publicou a imagem da tela inicial de seu aplicativo, sem as informações financeiras. "Cadê meu saldo?", questionou.

Em seu perfil no Twitter, o Nubank confirmou a a existência de oscilações em seus serviços e informou que está retomando suas operações de maneira gradual. "Uma base de clientes encontrou oscilações em alguns de nossos serviços e lamentamos o ocorrido. As nossas operações estão sendo retomadas de forma gradual, tá? Tente novamente em alguns minutos", diz a publicação. 

"Passo o dia limpando cocô", lamenta a protetora Verônica. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

##RECOMENDA##

Para conseguir conversar com a reportagem, Verônica* se tranca no quarto, o único cômodo de seu apartamento, localizado na Zona Sul do Recife, que não foi destruído pelos cerca de 80 gatos que resgatou das ruas. Fora do compartimento, a protetora de animais, atualmente desempregada, só dispõe de móveis deteriorados, paredes sujas e um piso invariavelmente coberto de fezes. “Eu passo o dia limpando cocô, não tenho um minuto de sossego. Só quando falta material de limpeza, aí é outra agonia. O cheiro não sai só com água, dependo de doações”, comenta. Endividada e enfrentando quadro de depressão, Verônica experiencia uma situação descrita como comum pelos protetores residentes no Recife, que se queixam da morosidade da prefeitura na assistência aos animais de rua.

“Minha situação piorou depois que um pessoal entrou em contato me pedindo para socorrer os gatos que viviam em um hotel desativado em Boa Viagem. As pessoas tinham medo de o prédio ser demolido com eles lá dentro. Me prometeram que, se eu fizesse o resgate, me ajudariam com os custos de ração e saúde dos bichos. Alguns animais morreram, mas outros trinta e cinco ficaram comigo”, conta Verônica.

 Na tentativa de conter a proliferação da esporotricose, Verônica mantém os animais doentes em gaiolas. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

A ajuda financeira combinada, contudo, não vem dando conta dos altos custos com saúde e alimentação dos animais. “Oitocentos reais por mês para tantos gatos é muito pouco. Para piorar minha situação, alguns deles estão com esporotricose, uma doença contagiosa. O tratamento é feito com itraconazol de 100g, que agora está custando R$ 600 a mais na quantidade que compro, direto na distribuidora”, comenta.

Em um esforço desesperado no sentido de evitar a proliferação da esporotricose, Verônica mantém os gatos doentes em gaiolas. Ela mesma, contudo, já apresenta feridas causadas pela doença, transmissível para humanos. Falta dinheiro para o próprio tratamento. "Já devo pelo menos R$ 3 mil em ração que comprei fiada. Compro cerca de 140 kg por mês, dá mais de R$ 1 mil só de ração. Tem dias que não tenho o que comer”, lamenta. 

Protetora apresenta feridas na pele em razão de doença transmitida pelos gatos resgatados. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

Verônica também se queixa da dificuldade para conseguir agendar castração no Hospital Veterinário do Recife Robson José Gomes de Mello (HVR) , localizado no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste da capital pernambucana. “Nunca tive ajuda da prefeitura, nota zero. Eles só agendam uma castração por CPF, mas vivo com oitenta gatos resgatados. Como vou sair para o fim do mundo, pagando dinheiro que não tenho a Uber, para levar apenas um animal? Acabo fazendo em um veterinário por conta própria, pagando R$ 50 por operação”, conta.

Em processo depressivo, a protetora se diz arrependida de ter feito os resgates. “Choro todos os dias, porque não vejo saída para minha situação, estou sem autoestima, exausta. Às vezes, não tenho nem vontade de viver, meu medo é de morrer e deixar esses gatos sozinhos. Faço por amor, mas não dou mais lar temporário. Sinto muito pelos bichos”, desabafa.

Aumento do abandono

Protetores afirmam que pandemia de Covid-19 aumentou número de animais largados nas ruas e em mercados públicos. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

De acordo com o protetor Cláudio Braga, a pandemia de Covid-19 provocou o aumento do número de animais abandonados na Região Metropolitana do Recife. “Isso foi sentido por todos e se deve a coisas como as diversas informações falsas que circularam sobre os animais transmitirem o novo coronavírus. Além disso, a própria crise econômica levou muita gente a abandonar cães e gatos”, explica.

O cenário motivou uma reunião entre ativistas pelos direitos dos animais e a prefeitura do Recife. Presente no encontro, a vereadora Andreza Romero informou que, em levantamento promovido por seu gabinete, foi constatado o crescimento de 70% dos casos de abandonos de animais na capital pernambucana, durante o período de crise sanitária. “A vereadora nunca foi atrás de contato com as instituições, trabalha de forma individual com pessoas que a procuram pedindo isso ou aquilo. Enquanto isso, a prefeitura até hoje não possui uma ação mais efetiva no sentido de reduzir o número de abandonos e as dificuldades para se conseguir uma castração. Ninguém consegue atendimento pelos telefones que eles oferecem”, aponta Braga.

É por essa razão que, segundo o ativista, muitos protetores recorrem a clínicas particulares, acabando por criar dívidas. “Deveria haver um projeto de atendimento psicológico para essas pessoas, que já não conseguem cuidar dos animais, diante de uma demanda tão alta. Meu salário está comprometido, porque estou ajudando outros protetores. Vou deixar meus amigos passando fome?”, lamenta.

“Cheguei a comer a ração”

Renata alugou uma casa para viver com 42 animais resgatados. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

O sentimento de frustração diante da impossibilidade de suprir a alta demanda de acolhimento de animais de rua é compartilhado pela protetora Renata*, que também alugou uma casa para viver com 42 animais resgatados, dos quais 24 já foram adotados por outras famílias. “Eu devo aluguel, conta de água e luz. Me alimento porque meus vizinhos me dão comida. Um traz café da manhã, outro almoço, outro a janta. Eu já cheguei a comer a ração com os bichos”, relata.

A protetora costumava trabalhar vendendo bombons pelas ruas. “Com a pandemia, fiquei com medo de pegar Covid e desisti. Acho que minha situação estaria bem melhor se a prefeitura oferecesse ração para os protetores, assim como uma estrutura melhor de castração”, opina.

Renata também critica a atuação da vereadora Andreza Romero, que se elegeu em 2020, sob a promessa de transformar o HVR em unidade 24 horas, implementar o SAMU Animal, bem como de resgatar “todos os animais abandonados”. “Sabemos que isso não tem como acontecer, ninguém consegue tirar todos os bichos das ruas. Mas onde está o abrigo que ela prometeu? Essa vereadora não faz nada pelos animais, o que ela sabe fazer é pedir votos”, queixa-se.

Protetores denunciam dificuldade para conseguir agendar castração no Hospital Veterinário do município (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

Por meio de sua assessoria de imprensa, Andreza Romero informou que o abrigo para os animais de rua será construído com recursos próprios, oriundos de seu salário como vereadora. “Um projeto responsável como este, precisa ser bem planejado e executado. Está na fase de aquisição do terreno e o projeto do prédio já foi desenvolvido por arquitetos”, escreveu. A vereadora não respondeu sobre o prazo para entrega da estrutura.

Já a Prefeitura do Recife comunicou que, por meio da Secretaria Executiva dos Direitos dos Animais (SEDA), está estruturando um plano de expansão do Hospital Veterinário do Recife, bem como a ampliação dos atendimentos oferecidos no local. “Entre as medidas, está previsto construir um novo bloco cirúrgico para aumentar o número de procedimentos, sala de internamento para os pets e dotar o equipamento público com atendimento 24 horas”, diz a nota oficial.

Abandonar animais é crime previsto pela Lei Federal nº 9.605/98. Vale lembrar que, em setembro do ano passado, foi sancionada a Lei Federal nº 14.064/20, que aumenta a pena de detenção de até um ano para até cinco anos para quem cometer este delito.

A prefeitura do Recife mantém um canal específico para denúncia de casos de abandono e violência animal, por meio do telefone 3355-8371, com funcionamento de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. As queixas também podem ser feitas através da Ouvidoria Geral da administração municipal, pelo telefone 0800-281-0040. A denúncias são analisadas em conjunto pela SEDA e pela Delegacia de Polícia do Meio Ambiente (Depoma). De acordo com a prefeitura, de janeiro deste ano até o dia 30 de abril, a pasta já recebeu 291 denúncias de suspeitas de maus-tratos.

*Nome fictício

A morte de Célia Cezaria de Barros, de 60 anos, que passava pela calçada do Edifício São Cristóvão, na Rua da Aurora, quando foi atingida de uma pedra que se desprendeu do prédio, para atingir sua cabeça às 8h49 da última segunda (8), chocou a opinião pública do Recife. Para os comerciantes e moradores da via, contudo, o incidente não se deu por obra do acaso. São muitos os relatos de queda de componentes das edificações da área, em alguns casos causando ferimentos e prejuízos materiais a transeuntes e comerciantes.

O ambulante Gilson José da Silva, que trabalha na calçada de um edifício de três andares na altura do cruzamento com a Rua Imperatriz, relata que quase foi atingido por uma pedra que caiu da fachada. “Já faz uns dois anos. Eu estava aqui na frente com um colega e nos afastamos para conversar. Poucos momentos depois, a pedra caiu, se espatifando em cima da minha mercadoria. Se eu tivesse lá, poderia ter morrido”, lembra. Desde então, Gilson dispensa a sombra da fachada. “Fico mais afastado, mas me arrisco aqui porque a prefeitura não me dá outro local para trabalhar”, completa.

##RECOMENDA##

Gilson já teve mercadoria atingida por pedra que se desprendeu de edifício, na Rua Aurora. (Arthur Souza/LeiaJá Imagens)

Em novembro de 2020, um ar-condicionado despencou da parte de trás do Recife Plaza Hotel- cuja entrada se dá pela Rua da Aurora e os fundos ficam na Rua da União- caindo ao lado de um fiteiro. “Eu escutei o estrondo e saí correndo para olhar. A base do motor do equipamento, totalmente enferrujada, cedeu e caiu. Poderia ter acontecido uma tragédia, chegou a derrubar as mercadorias do rapaz”, conta o gerente comercial Roberto Silva, que presenciou a situação. O dono do fiteiro se recusou a dar entrevista para a reportagem do LeiaJá, mas informou que entrou em acordo com o edifício, para reparação dos danos.

O ambulante Edvaldo Holanda, lamenta que os incidentes ocorram na Aurora, que é um dos cartões-postais do Recife. “Deveriam fazer um reparo nesses prédios, colocar fiscalização para cobrar a revitalização dessas fachadas, até porque é a área histórica da cidade. Ficou todo mundo abalado quando soube da morte da mulher [Célia Cezaria de Barros]. A gente trabalha aqui com medo”, completa.

[@#video#@]

A moradora do Edifício São Cristóvão Raimunda do Carmo conta que, antes do acidente, já evitava andar pela calçada onde ficam os edifícios da Rua da Aurora. “Sempre venho pelo lado do rio [Capibaribe], porque já tinha medo de algo assim acontecer. E agora mais ainda, não tem quem não fique apavorado com uma coisa dessas”, conclui.

Defesa Civil

Depois da ocorrência, a Secretaria-Executiva de Defesa Civil (Sedec) intimou o condomínio a realizar a instalação imediata de uma tela de proteção, para evitar novos acidentes. O órgão apontou ainda a necessidade de manutenção da fachada e da instalação de “bandejas”, equipamentos de segurança que bloqueiam a passagem de componentes estruturais soltos para o chão. Vale lembrar que, no Recife, a lei 13.032, de 14 de junho de 2006, determina que o proprietário do imóvel e o condomínio são responsáveis por realizar, a cada três anos, a vistoria da edificação.

Por meio de nota, a Prefeitura do Recife informou que, qualquer cidadão, sendo morador de algum imóvel ou transeunte, pode acionar a Defesa Civil do Recife pelo 0800 081 340, com o intuito de verificar possíveis problemas na conservação dos imóveis que gerem riscos. "Os técnicos realizam vistorias nestes locais e elaboram pareceres técnicos, que são encaminhados para a Secretaria Executiva de Controle Urbano (Secon), responsável por exigir que os proprietários executem as medidas recomendadas para restaurar a segurança das edificações", diz o posicionamento.

[@#galeria#@]

 Ministro assumiu erros na correção de algumas provas. (Divulgação)

Estudantes de Viçosa, no interior de Minas Gerais, repararam grande incoerência entre acertos e pontuação obtida Após o anúncio do resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cerca de cinquenta alunos do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (UFV), o Coluni, localizado no interior de Minas Gerais, denunciaram a possibilidade de erros nas correções de suas provas. A desconfiança dos estudantes surgiu devido a incoerência entre o alto número de acertos no gabarito de alguns em detrimento de notas consideradas baixas, contabilizando entre 300 e 400 pontos.

##RECOMENDA##

Ao jornal O Tempo, o estudante Vítor Brumano, um dos que questionam o resultado das provas, contou que tomou um susto ao se deparar com a pontuação obtida. “Minha nota foi de 378 em matemática e 422 em ciências da natureza! Eu já fiz Enem anteriormente, e minhas notas eram entre 700 e 800 [...] Eu tinha acertado 35 de 45 questões em matemática. Não faz sentido”, colocou. Na próxima terça (21), o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) abrirá a inscrição de notas do Enem em concorrência por vagas em universidades de todo o país, complicando ainda mais a situação dos estudantes que se dizem prejudicados. Os alunos do Coluni cogitam a possibilidade de erro relacionado às provas aplicadas no Pavilhão de Aulas B (PVB) da UFV.

Em suas redes sociais o Ministro da Educação, Abrahim Weintraub, assume que houve inconsistência no gabarito de algumas provas. “Por isso, candidatos foram surpreendidos com os resultados de suas notas. O número é muito baixo. Até segunda-feira, dia 20, tudo será resolvido. Pedimos desculpas aos participantes do exame pelo transtorno”, escreveu.

Foi como se todos os espaços espaços seguros tivessem sido extintos. No mesmo ônibus e horário de sempre, 17h20, segundo registravam as mensagens em sua conta no Whatsapp, Dandara* abriu uma foto da deputada Manuela D’Ávila, há pouco derrotada em sua empreitada de tentar a vice-presidência do país, no celular. Um homem alto o suficiente para olhar a tela de cima para baixo passou a encarar a moça. “Ele vestia uma camisa do Brasil. O ônibus estava lotado e só eu e um senhor sentado, com a cabeça à altura da cintura dele, vimos quando ele tirou uma pistola preta da cintura e apontou para baixo junto ao corpo”, descreve Dandara.

Apavorada, ela teve que obedecer à uma ameaça do passageiro. “Eu estava na passagem dele para a porta de saída do ônibus. Ele ainda falou assim: ‘venha para cá e eu vou praí, que é melhor para todo mundo’. Quando troquei de lugar, ele guardou a pistola e desceu”, completa. “Estou assustada, depois disso cheguei em casa e chorei muito. Acho que a atitude dele tem a ver com os discursos de Bolsonaro”, continua. Bissexual, Dandara, desde então, não anda mais de mãos dadas com sua companheira na rua, por medo.

##RECOMENDA##

Para Igor Andrade, membro do Coletivo Rua-Juventude Anticapitalista, o pavor de Dandara diante da conjuntura política do Brasil não é exceção na comunidade LGBTI+. “Bolsonaro foi um dos propulsores do incentivo à intolerância e, por mais que ele tente negar isso, acaba atraindo para o campo dele pessoas intolerantes, que pregam supremacias de cor, gênero e orientação sexual. Como ele respalda esse discurso violento, acaba instigando pessoas que agora sentem que podem fazer tudo”, explica. De acordo o ativista, além do medo das agressões físicas, a comunidade enfrenta ainda mais atribulações emocionais. “Muita gente tem relatado depressão e ansiedade. Acompanhamos inúmeras declarações de ameaças verbais e físicas à população LGBTI+ diretamente relacionadas à vitória de Bolsonaro”, acrescenta.

Embora insista que não tem nada contra a comunidade LGBTI+, em novembro de 2017, Bolsonaro chegou a ser condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro por suas declarações homofóbicas ao programa CQC, exibido pela TV Bandeirantes, em 2011. Após ser questionado pela equipe da atração sobre o que faria se tivesse um filho gay, o político disparou: “Isso nem passa pela minha cabeça, porque eles tiveram uma boa educação. Eu sou um pai presente, então não corro esse risco”, afirmou.

O processo ainda tramita na Justiça, mas a pena estabelecida em 2015 era o pagamento de uma indenização de R$ 150 mil por dano moral coletivo. O histórico do presidente eleito, segundo Igor Andrade, ligou o sinal de alerta dos movimentos sociais. “Estamos nos organizando em grupos voluntários de ajuda psicológica, terapia e de troca de informações. À medida em que a opressão avança, nossa organização aumenta”, afirma.

Tão chocante quanto ter sido intimidada por um desconhecido no ônibus, foi receber mensagens ofensivas de familiares e amigos de longa data. “Gente que eu conhecia da Igreja me mandou recados pelo celular, me chamando de ‘vabagunda’ e ‘esquerdopata’. Meu melhor amigo do ensino médio me escreveu: ‘feminazi, Bolsonaro vai ter teu presidente’”, lamenta Dandara.

Um casamento feliz e uma vida na educação estavam nos planos da jovem, antes das eleições. “Acho que minha vida não vai ser mais nada do que eu imaginava, parece que meus projetos não existem mais. Porque meu único projeto está sendo sobreviver”, desabafa.

Camila vestia uma camisa com os dizeres "Ele Não" quando foi empurrada por um desconhecido. (Acervo Pessoal)

“Disse que a vontade dele era me jogar na frente do ônibus”

Dois dias antes do ato que levou centenas de milhares de mulheres de todo o país sob o mote “Ele Não”, a estudante Camila Vilanova estampava os dizeres em uma camisa quando foi surpreendida por um desconhecido, à luz do dia, na Avenida Conde da Boa Vista, uma das mais movimentadas do Centro do Recife. “O homem veio na minha direção, me empurrou forte e caí no meio da rua. Disse que a vontade dele era me jogar na frente do ônibus, que só não fez isso ‘porque Bolsonaro ainda não é presidente’ e me chamou de feminista nojenta”, relata Camila.

Após ver o agressor deixar o local sorrindo, Camila ficou perplexa com a inércia das pessoas que presenciaram o empurrão. “Tinha um monte de gente na parada do ônibus e ninguém fez nada. Fiquei muito assustada, em pânico, não consegui reagir”, surpreende-se. Lésbica, ela acredita que a homofobia cresceu com a ascensão política de Bolsonaro. “Estou amedrontada, a homofobia parece ter crescido e as pessoas estão claramente mais violentas”, completa.

“Quando o capitão ganhar vai acabar essa safadeza”

Meio dia, no Centro do Recife. O estudante Gabriel Silva caminhava despreocupado em uma rua pouco movimentada graças à ameaça de chuva. “Dois homens vestindo camisas de Bolsonaro começaram a me seguir. Eles falaram: ‘quando o capitão ganhar vai acabar essa safadeza’, que ‘essa safadeza não existia mais’. Eu não usava nenhum tipo de adesivo, mas eles me viram como gay”, lembra. Gabriel apressou o passo e conseguiu entrar em uma loja, despistando os agressores. A sensação de solidão, no entanto, ainda o acompanha. “É como se não tivesse ninguém por você. Me senti vulnerável, achei que fosse morrer. Depois de tudo que passei para aceitar quem eu sou, pela primeira vez tive medo de voltar para o armário”, afirma.

Após a perseguição, Gabriel passou alguns dias sem ir à faculdade, por medo do percurso. (Acervo Pessoal)

Depois do incidente, foi preciso muita coragem para voltar a frequentar a faculdade. “Estava voltando da aula quando aconteceu. Passei dois dias sem ir estudar, tentando evitar o caminho e ser espancado, torturado ou agredido”, conta Gabriel. Além da intimidação física, o estudante passou ainda por outras situações de agressão verbal, vindas de pessoas que se identificaram como eleitores de Bolsonaro. “Estava na frente da minha casa, era uma terça-feira. Um caminhão parou no sinal e os homens dentro dele começaram a gritar ‘Bolsonaro 2018’, me chamando de ‘viado’, dizendo que era ‘pra votar no mito’”, lembra.

Auto-defesa

Há dois anos e meio, o advogado Alisson Paes resolveu criar o próprio curso de auto-defesa para pessoas LGBTI+, o Piranhas Team. Vítima de violência física motivada por homofobia, ele participava de curso pré-vestibular para homossexuais e transgêneros, onde constatou que os incidentes de violência que vitimam pessoas da comunidade acontecem com frequência.

“Entrei em contato com uma academia, que me indicou instrutores de krav maga, que é basicamente defesa pessoal. Queríamos criar um grupo onde as pessoas se sentissem seguras para aprender, sem sofrer discriminação”, explica. Com duas turmas lotadas, o curso acaba de abrir uma nova, para dar conta dos novos interessados.

Para Alisson, o crescimento da procura pelas aulas está ligado à atual conjuntura política. “Participo de diversos coletivos LGBTI+, incluindo a Frente Ampla do Rio de Janeiro, que surgiu depois do resultado do primeiro turno das últimas eleições presidenciais, quando vários coletivos começaram a pensar em estratégias ligadas à nossa segurança”, comenta.

Com o objetivo de atingir quem não chega ao curso, o Piranhas Team acaba de lançar uma cartilha com dicas de segurança para LGBTI+’s, com orientações básicas para como reagir diante de situações de agressão ou a quem recorrer, caso seja necessário. “Comunicar o trajeto” a ser feito a pessoas de confiança e manter “a bateria do celular carregada” são algumas das recomendações expressas no material. “Toda semana depois do treino temos feito rodas de conversa para ouvir os relatos e estimular as pessoas a compartilhar experiências de como elas estão lidando com o momento”, acrescenta o ativista.

Curso de defesa pessoal para LGBTI+'s abriu nova turma para dar conta dos interessados. (Ana Júlia Costa/divulgação)

Procura por ajuda é grande

Movido pelo desejo de prestar auxílio jurídico a LGBTI+’s vítimas de violência durante o período eleitoral, Alisson chegou a disponibilizar o número do próprio celular nas redes sociais. O advogado ficou surpreso ao receber cerca de 15 mil mensagens via WhatsApp, o suficiente para travar o aplicativo, segundo ele. “Não tinha como responder. Vi que essa estratégia não funcionaria, então estou vendo outras formas de ajudar. As pessoas estão muito amedrontadas, sem se sentirem acolhidas”, conclui.

Com o objetivo de auxiliar pessoas que sofreram violência motivada por política, a Ordem dos Advogados do Brasil- Seccional Pernambuco (OAB-PE) lançou o Observatório da Intolerância Política. O projeto permite que o público encaminhe suas denúncias à instituição via e-mail (observatorio@oabpe.org.br), WhatsApp (81. 9.9247.2115) ou mesmo presencialmente, no setor de protocolo, localizado na sede (Rua Imperador Pedro II, 346, bairro de Santo Antônio, Centro do Recife).

Na ocasião do lançamento da plataforma, o presidente da OAB-PE, Ronnie Duarte, declarou que a ferramenta foi criada diante da “escalada de episódios, inclusive com agressões físicas perpetradas contra homossexuais e mulheres, geralmente tendo como pano de fundo questões relacionadas às opções políticas adotadas pelas pessoas”.

De acordo com a presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem, Maria Goretti Soares, a instituição não tem autonomia para tomar decisões. “A gente se reúne e analisa as denúncias, encaminhando o material enviado para os órgãos competentes, como a Polícia Federal, a Defensoria Pública e o Ministério Público. Também estamos à disposição para orientar o público sobre como proceder em cada caso”, explica.

Desde de o dia 15 de outubro, quando foi lançada a ferramenta, a OAB já recebeu um total de 195 contatos, incluindo elogios à iniciativa de denúncias sem provas. “Cerca de 50% são denúncias de fato, com provas anexadas. Nossa orientação é que as pessoas não fiquem caladas, pois o agressor denunciado tende a recuar”, completa Maria Goretti.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando