Tópicos | relatos

Era a última semana de dezembro de 2022. Thiago Vieira, analista de 26 anos, morador do bairro de Campo Grande, Zona Norte do Recife, decidiu ir com amigos ao Pagode do Didi, roda de música que acontece toda sexta-feira no Bar do Didi, localizado no bairro de Santo Antônio, no centro do Recife. Em um local sempre lotado, Thiago se sentia seguro e estava à vontade. "Eu sempre soube que no Pagode do Didi é razoavelmente ok quando você está ali perto da movimentação, mas as ruas adjacentes são muito perigosas”, relembra Thiago, em entrevista ao LeiaJá

Perto do fim da festa, quando todos já estavam se preparando para ir embora, Thiago se afastou um pouco do seu grupo. Foi nesse momento que ele percebeu alguém passando por trás, conseguindo levar sua bolsa pequena, onde guardava celular, carteira e outros pertences. Thiago conta que o movimento do furto foi tão preciso, “como se [o ladrão] já soubesse tanto fazer aquilo”, que ele só percebeu depois que ainda estava com a alça pendurada no ombro. A bolsa em si, apresilhada na alça, havia sido levada. Mesmo tendo tentado correr atrás do suspeito, o perdeu de vista na primeira esquina dobrada. 

##RECOMENDA##

O relato de Thiago faz parte da estatística de tantas pessoas que tiveram seus bens roubados ou furtados nos arredores do bairro de Santo Antônio durante a noite. De acordo com dados da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), o bairro de Santo Antônio é inserido na Área Integrada de Segurança 1 (AIS-1), que registrou, em todo o ano de 2022, mais de 4,6 mil casos de crime contra o patrimônio, como roubo. A AIS-1 é composta pelos seguintes bairros: Boa Vista, Cabanga, Coelhos, Ilha do Leite, Ilha Joana Bezerra, Paissandu, Recife Antigo, Santo Amaro, Santo Antônio, São José e Soledade, todos localizados no Recife. De janeiro a setembro de 2023, a SDS-PE registrou 3.705 casos na mesma região. 

Outra vítima nesse período foi Agay Borges do Nascimento, de 36 anos, morador do bairro da Várzea, Zona Oeste da capital pernambucana. No início de setembro deste ano, o desenvolvedor de sistemas estava com sua namorada e outros amigos no evento de pagode. Assim como aconteceu com Thiago em dezembro, eles se afastaram por um momento do grupo com o qual estavam, quando um homem se aproximou deles. “Ele chegou perto e ficou mexendo na cintura, e eu achei muito estranho. Quando a gente foi saindo, voltando [para o grupo], o cara continuou, veio para o lado da gente, puxou uma faca e anunciou o assalto”, relata.

Como Agay havia deixado seu próprio celular com uma amiga, o assalto resultou no roubo de um relógio seu, além do celular e outros pertences da namorada.

Com os relatos constantes de roubos e furtos no centro do Recife, principalmente à noite, a população teme participar de eventos e outros momentos de lazer na cidade, com receio de ser vítima de algum tipo de violência. Segundo fontes, até um dos pandeiristas do Pagode do Didi já foi assaltado na região.

Frequentadores do evento afirmaram que o problema da falta de segurança nos arredores do Pagode do Didi não é novidade. Os relatos das vítimas costumam se assemelhar: foram abordadas por alguém portando uma faca.

A reportagem apurou que a gerência do bar chegou a solicitar à polícia, há mais de seis meses, que agentes de segurança fossem colocados de plantão nos arredores do estabelecimento, principalmente no dia do pagode, para evitar os assaltos. Não houve resposta à solicitação. 

Ruas nos arredores do Pagode do Didi são palcos de assaltos. Imagem: Reprodução/Google Maps 

A gestão de Raquel Lyra (PSDB) chegou a anunciar o programa http://leiaja.com/politica/2023/07/31/raquel-lyra-lanca-programa-juntos-...">Juntos Pela Segurança, no final de julho deste ano, garantindo investimentos e implementação de um plano de ação de segurança pública, http://leiaja.com/politica/2023/10/04/governo-lyra-atrasa-apresentacao-d...">que deveria ter sido divulgado ainda no final de setembro. Agora no mês de outubro, o governo federal, por meio do http://leiaja.com/politica/2023/10/11/em-pe-flavio-dino-anuncia-investim...">Ministério da Justiça, assinou a liberação de cerca de R$ 160 milhões para a segurança pública do estado e de municípios, inclusive Recife. 

LeiaJá também:

http://leiaja.com/politica/2023/08/01/pe-juntos-pela-seguranca-desagrada...">PE: 'Juntos pela segurança' desagrada oposição e sindicato  

www.leiaja.com/politica/2023/10/04/ouvir-para-mudar-como-raquel-agira-di...">https://www.leiaja.com/politica/2023/10/04/ouvir-para-mudar-como-raquel-...">Ouvir Para Mudar: Como Raquel agirá diante das demandas? 

Os acontecimentos relatados no início da reportagem não desestimularam as vítimas entrevistadas, que continuam aproveitando a vida noturna do Recife. Thiago até contou que foi novamente ao Pagode do Didi na semana seguinte a do furto que sofreu. “Recife respira muito ‘rolê de rua’, é uma parada que eu gosto muito. (...) Não foi uma novidade para mim isso, tipo 'descobrir que [nas imediações do] Pagode do Didi acontecem furtos e assaltos'. É que nem Carnaval, eu não vou deixar de curtir”, exemplificou. 

Thiago acrescentou: “Eu volto a defender que a gente tem que estar tanto nesses lugares, nas ruas. Eu acho que, a partir do momento que vira uma bola de neve e a pessoa diz 'na rua é perigoso, vou ficar em um lugar fechado', cada vez mais a rua fica vazia, fica um lugar mais perigoso.”

Agay Borges, assaltado na companhia da namorada, apresenta opinião semelhante. “Uma escolha que eu fiz pra mim é não ficar com medo das coisas, não me privar de nada por causa dessa sensação de insegurança”, enfatizou.

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) afirmou, por meio de nota, que o policiamento nos bairros centrais do Recife é organizado pelo 16º Batalhão, “com o lançamento de Guarnições Táticas, equipe de Contrarresposta e do Grupo de Ações Táticas Itinerante (GATI), que realizam rondas com abordagens, na localidade”. A corporação informou também que ações especializadas vêm sendo realizadas na região, “na busca da diminuição dos crimes violentos contra o patrimônio”. 

As eleições para conselheiro tutelar, neste domingo (1º), fizeram moradores irem às urnas em todo o Brasil. No Recife, 149 locais de votação foram preparados pela comissão especial do Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica) para receber os eleitores aptos. Os locais concentram diversas seções eleitorais, fazendo com que o eleitor que costuma ir a um local tenha que se deslocar para outro, onde sua seção foi alocada. 

Apesar da divulgação no site do Comdica, muitos eleitores tiveram dificuldades para encontrar a sua seção, causando transtornos. No Vasco da Gama, na Zona Norte da cidade, duas escolas foram pontos de votação. No entanto, moradores do bairro viram sua seção relocada para outro endereço, chegando a haver desistência por parte de algumas pessoas. 

##RECOMENDA##

Filas curtas em escola no Vasco da Gama. Foto: Rachel Andrade/LeiaJá 

Juvenil Lourenço de Souza, que trabalha como segurança, relatou ao LeiaJá o problema que enfrentou. Ao chegar na seção indicada, na Escola Estadual Almerinda Umbelino de Barros, no Vasco da Gama, seu nome não constava na listagem da urna. “Eu cheguei na mesária e entreguei meu título e meu documento com foto, que é minha identidade. Aí ela me respondeu que na relação não constava o meu nome. Mas no meu título já foi feita a transferência pro bairro aqui [do Vasco da Gama]”, comentou. 

De acordo com Rosemeri Maria da Silva, designada pelo Comdica para trabalhar como coordenadora de prédio na mesma escola, os problemas de eleitores que não acharam seu nome na listagem da urna podem ser relacionados à regulamentação perante o Tribunal Regional de Pernambuco (TRE-PE). “Pelo que passaram pra mim, é caso assim, se alguém tem algum problema no título aí não ia constar o nome da pessoa ali na listagem”, explicou. 

Rose comenta que o problema pode ser ocasionado pela ausência dos cidadãos em eleições passadas, além da falta de justificativa. Ela afirmou que, durante boa parte da manhã, houve poucos problemas dessa natureza, e garantiu que a maioria dos eleitores que compareceram não experimentou nenhuma intercorrência. 

Menos problemas listados 

Além do Vasco da Gama, o LeiaJá visitou outras duas escolas no Recife, e encontrou poucos problemas decorrentes de falta de comunicação. A Escola Estadual Governador Barbosa Lima, no bairro das Graças, é o local de votação que concentra o maior número de seções da Região Político Administrativa (RPA) 3. Segundo Eduardo Alves, um dos coordenadores de prédio, as poucas situações atípicas que acontecem no dia vêm sendo resolvidas. “Eu acho que, na parte de organização, graças a Deus a gente conseguiu, na medida do possível, a gente conseguiu fazer tudo direitinho, a gente conseguiu distribuir o pessoal pras salas. A única dificuldade que a gente tá tendo não é da gente. É que as pessoas têm dúvidas de onde votar. Um exemplo, ‘ah, eu voto em tal seção’, certo, mas seu colégio, qual é? Tem que buscar o colégio e perguntar, e a gente também tá ajudando”, afirmou. 

Corredores de escola com pouca movimentação na zona norte do Recife. Foto: Rachel Andrade/LeiaJá 

A distribuição das seções nas escolas da cidade foi feita pela comissão especial do Comdica responsável pelo processo eleitoral. O LeiaJá tentou entrar em contato com uma das pessoas responsáveis pela comissão, mas não obteve resposta. 

Na Zona Sul do Recife, a movimentação tranquila é semelhante, como explica o coordenador de prédio da Escola Municipal Oswaldo Lima Filho, Gabriel Arantes. “Antes de abrir os portões já tinha gente na porta. Tá uma movimentação boa, mas por enquanto tá tudo certo, e tenho certeza que a disponibilização das urnas pelo TRE-PE ajudou bastante a facilitar o processo. O fluxo tá bom, eu não esperava que fosse isso tudo, já que a votação é facultativa, mas por enquanto tá tudo tranquilo por aqui”, informou. 

Gabriel ainda relatou que houve dois problemas pontuais de eleitores que não encontraram seu nome cadastrado na seção, devido à mudança de domicílio eleitoral, informação que não foi atualizada no sistema do TRE-PE a tempo para o sufrágio.  

Na última semana, a Folha de São Paulo divulgou que suicídios em série entre servidores do Ministério Público de São Paulo (MPSP) estariam gerando preocupação entre os colaboradores e a diretoria do órgão. Os principais motivos por trás dos episódios seriam a ocorrência de assédio moral e cobrança excessiva por resultados. Nesta sexta-feira (23), o portal Metrópoles divulgou, com exclusividade, relatos de servidores sobre a rotina de assédio no MPSP. 

Entre junho de 2022 e maio deste ano, três funcionários do órgão se suicidaram e um foi socorrido após uma tentativa de suicídio. A Comissão de Saúde chegou a fazer um levantamento para entender o que estava acontecendo na rotina dos servidores. Na nova denúncia, os colegas de trabalho das pessoas falecidas contam, também, que presenciaram as ocorrências e o impacto do luto por suicídio nos que ficaram.  

##RECOMENDA##

O Metrópoles ouviu 12 servidores e três ex-funcionários do Ministério Público que relataram ter sofrido assédio moral ou sexual de membros do MPSP, a maioria promotores e procuradores de Justiça. Os relatos apontam para uma rotina de intimidação, xingamentos, ameaças, sobrecarga de trabalho, desvio de função, falta de acolhimento a quem procura ajuda, omissão dos superiores e punição aos denunciantes. Algumas vítimas não foram identificadas. 

“A pessoa que escolhe se matar no local de trabalho, durante o expediente, quer passar uma mensagem sobre esse lugar”, diz um dos denunciantes. “Em uma reunião com uma promotora e um superior, me disseram que eu precisava me adaptar ao MP, e não o contrário”, conta uma outra servidora, promotora. Ela deixou a sala aos prantos e se abrigou no banheiro para desabafar com uma amiga por telefone: “Aqui eles tratam a gente feito bandido, parece que eu fiz alguma coisa muito grave”, disse na ocasião. 

A sequência de episódios motivou a criação de um movimento batizado “Nenhum Servidor a Menos”, um protesto de funcionários em frente ao prédio-sede do Ministério Público paulista e uma audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).  

“Em 17 anos de Ministério Público, nunca recebi ameaça de criminoso, mas recebi ameaça de promotor”, desabafa o oficial de promotoria Bruno Bertolo, de 41 anos, outro servidor que afirma ser vítima de assédio moral dentro da instituição.  

“Isso ficou para trás, superei com muita ajuda dos meus familiares e amigos. Mas eu ia deixar uma carta explicando toda essa situação do MP que desgasta a gente e nada é feito”, afirma. 

Na carta, que seria endereçada à cúpula do MPSP, ele questionava: “Quando farão algo a respeito? Quando tivermos um suicídio por mês? Ou somente se algum cadáver atingir o automóvel de algum membro ministerial na queda? Até quando adotarão essa alienação deliberada? Como dormem tranquilos à noite? Em janeiro, eu tinha planejado me matar, ia cometer suicídio dentro do Ministério". 

Mortes por suicídio no MPSP 

Em menos de um ano, três servidores do Ministério se suicidaram. Um quarto funcionário tentou se matar, mas foi impedido. Os últimos três casos ocorreram em menos de 24 horas. Segundo apontado anteriormente, os servidores afirmam que colegas adoeceram por causa da deterioração na rotina de trabalho, sobrecarga e pressão psicológica. 

A primeira morte aconteceu em 29 de junho de 2022 e a vítima foi um analista jurídico; a segunda morte foi com um diretor de engenharia, em 10 de maio de 2023; e a última de um auxiliar de promotoria, em 11 de maio de 2023. O comando do órgão afirmou que os casos foram pontuais, de pessoas com problemas pessoais. 

Diante das perdas, a Comissão de Saúde do MPSP encomendou, no ano passado, uma pesquisa de riscos psicossociais na instituição e levantou que 77,2% dos participantes afirmaram ter sofrido algum tipo de constrangimento emocional; 50,1% se declararam vítimas de assédio moral; e 6,7% afirmaram já terem pensado em se matar. 

 

Pela primeira vez em quatro anos, o Ministério da Defesa do Brasil não comemora o aniversário do golpe militar de 1964. Geralmente, a celebração é adicionada à ordem do dia e lida em batalhões e quartéis ao redor do país. Neste dia 31 de março, que marca 59 anos desde o golpe, três vítimas do ex-coronel e torturador Carlos Brilhante Ustra revelaram os episódios de violência dos quais fizeram parte durante a ditadura. Os depoimentos foram publicados na coluna do jornalista Chico Alves, do UOL. 

Ustra, que morreu em 2015, foi um coronel do Exército Brasileiro, ex-chefe do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) em São Paulo. O órgão tinha como atividade principal a repressão a grupos de oposição à ditadura militar, especialmente “agitadores” de esquerda, artistas e professores. 

##RECOMENDA##

Em 2008, Ustra tornou-se o primeiro militar condenado pela Justiça Brasileira pela prática de tortura durante a ditadura militar. Ele chegou a ser homenageado, mais de uma vez, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando era deputado federal e também após o ex-mandatário assumir o Planalto. 

Um dos relatos publicados pela coluna menciona o dia em que duas crianças, de quatro e cinco anos, assistiram a mãe ser torturada após ter sido estuprada. A mulher é a jornalista Amelinha Teles, hoje com 78 anos. Ela foi sequestrada por agentes da ditadura e levada para o DOI-Codi de São Paulo, junto com o marido, Cézar, e com Carlos Nicolau Danielli. Nicolau foi um dos dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PCB), do qual Amélia também fez parte. 

O episódio se passou em dezembro de 1972, ano em que Carlos Nicolau morreu. As vítimas ficaram reféns do DOI de 28 de dezembro a 14 de fevereiro, por 48 dias. 

Os depoimentos 

Amelinha relatou que, primeiro, os agentes do DOI-Codi tiraram o seu marido e o colega de partido do carro no qual foram sequestrados. A ação aconteceu na Vila Clementina, bairro nobre da Zona Sul de São Paulo. Os homens foram agredidos com chutes e socos no estômago e no rosto. A sessão de tortura foi comandada por Ustra, que à época era major e utilizava os codinomes "Doutor Silva" e "Doutor Tibiriçá". 

A jornalista diz que chegou a questionar Ustra diretamente sobre as agressões, mas levou um tapa na cara e foi levada à sala de tortura junto aos outros dois.  

"Passei por diversos tipos de torturas. Tinha choque elétrico na vagina, no seio, na boca, no ouvido. Tinha palmatória, com uma madeira toda furada, de maneira que a pele vai soltando. Fui espancada por vários homens, além dele. Naquela primeira noite mesmo eu fui estuprada por um deles que era Lourival Gaeta, que tinha o codinome Mangabeira", compartilhou Amelinha.  

Segundo a vítima, cerca de oito homens participavam das sessões, enquanto obedeciam a ordens de Ustra. "Um dia, Ustra foi buscar em casa meus dois filhos, Edson, de 4 anos, e Janaína, de 5 anos, e minha irmã, Criméia, grávida de oito meses. Ele espancou a minha irmã. E teve a desfaçatez de levar meus filhos para dentro de uma sala onde eu estava sendo torturada, nua, vomitada, evacuada", completou Teles. 

Outras vítimas 

O segundo relato publicado neste dia 31 pertence a Gilberto Natalini, médico e ex-vereador paulistano. Hoje ele tem 71 anos, mas à época, tinha apenas 20 anos e estava no início da faculdade de medicina. Foi preso pelo DOI também em 1972. Apesar de ser opositor, não era vinculado à luta armada e nem a organizações políticas. 

"Alguns dias depois, já comecei a apanhar. Eles batiam, davam socos, tapas, choque no corpo, na orelha. Eu sem roupa. Em uma noite, o próprio Ustra me colocou descalço em cima de duas latas grandes. Jogou água no chão e ligou os fios elétricos, para dar choques. Além disso, me batia com um cipó", disse o ex-político. 

Os episódios de Natalini são similares aos do ex-guerrilheiro Emilio Ivo Urich, hoje com 75 anos. Ele fez parte da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e tinha 23 anos quando foi preso, antes dos demais, em 20 de novembro de 1970.  

"Na chegada já mandaram que eu tirasse a roupa, lá no pátio. Subi imediatamente para uma sala de tortura. Fui recebido pelo Ustra e passei a ser torturado. Me perguntavam onde estava Yoshitane Fujimori", disse. 

Fujimori foi um guerrilheiro que coordenava ações de inteligência à época. "Nos primeiros 15 dias fui muito torturado pelo Ustra e pelas outras equipes apenas com o objetivo de dizer onde estava o Fujimori. Não queriam saber se eu tinha assaltado banco, se eu tinha sequestrado alguém. Eu ficava à disposição dos torturadores 24 horas. Tomei a decisão de não entregar Fujimori, porque se entregasse ele teria que entregar outros. Há 15 anos processei o Estado brasileiro por danos morais, por conta das torturas, e ganhei. Nesse processo está comprovado que eu era torturado até três vezes por dia", finalizou Ivo. 

As denúncias de assédio moral e sexual contra Marcius Melhem, diretor da área de humor da TV Globo, ganharam novo capítulo nesta sexta (24). O colunista Guilherme Amado e a e a jornalista Olívia Meireles, do portal Metrópoles, publicaram uma entrevista com 11 pessoas, que integraram ou integram a área de humor da Globo. No material, elas dão detalhes da convivência com o ex-diretor. 

No grupo, a atriz Dani Calabresa, a primeira a denunciar Melhem, deu sua versão dos fatos e contou que tentava lidar com os assédios fazendo “brincadeiras”. “Para a gente é um aprendizado usar a palavra ‘assédio’. A gente fala: ‘Ele tá chato. Que tarado! Ele também fica passando a mão em você?’. É difícil a gente usar a palavra ‘assediador’. É difícil a gente chegar nesse estágio, mas acho que quanto mais a gente vai falando, as pessoas vão se identificando”, disse. 

##RECOMENDA##

Outras atrizes e roteiristas, também contaram situações que viveram com Marcius. Muitas disseram que chegaram a ser afastadas do trabalho por conta de crises de pânico e estresse pós-traumático. “Ele detonava a nossa autoestima para manter todo mundo sob controle”, disse a atriz Veronica Debom.   A roteirista Carolina Warchavsky também deu seu relato: “Precisei entrar no INSS e fiquei em casa uns três meses. Foi um processo muito difícil”.

Um dos municípios mais afetados do litoral paulista com as chuvas deste final de semana foi São Sebastião. Moradias foram destruídas por desabamentos, deslizamentos e alagamentos. "Tudo é lama, tudo é barro, destroços, entulhos e escombros. É realmente traumatizante" relata Pauleteh Araújo, vereadora suplente do município e moradora da região de Juquehy.

Pauleteh estava em casa durante as fortes chuvas, como não teve a residência muito afetada, agora auxilia outros moradores da região e conversou com o Estadão esta tarde.

##RECOMENDA##

Ao menos 23 pessoas morreram vítimas das fortes chuvas que atingiram o litoral entre a noite de sábado, 18, e a madrugada deste domingo, 19. Somente em São Sebastião são 22 mortes confirmadas pelo prefeito Felipe Augusto (PSDB). Outra vítima é uma menina que morreu ao ser atingida pelo deslizamento de pedras em Ubatuba. Até a noite deste domingo, 228 pessoas estão desalojadas e 338, desabrigadas.

Como a casa de Pauleteh não chegou a ser inundada, ela afirma que abrigou três pessoas em sua residência e agora auxilia outras famílias em um dos alojamentos na cidade, localizado na igreja Assembleia de Deus Ministério de Belém. "A região está completamente destruída, é um outro local, irreconhecível, parece cenário de guerra", diz ela que cresceu no local.

Uma das pessoas na igreja que viveu e ainda vive o desespero da destruição no bairro é Priscila Silva, de 23 anos, moradora de Juquehy que acompanha sua irmã e o cunhado que perderam a casa com tudo dentro após alagamento. "Eu tinha acabado de chegar do trabalho, uma hora da manhã, foi quando eu fui ver que estava tudo alagado, eu só fui ter contato com ela (a irmã) era quatro horas da manhã", explica.

As duas irmãs ainda esperam notícias da mãe que mora na vila da Baleia e se encontra incomunicável desde sábado. De acordo com boletim divulgado pelo governo estadual, o bairro da Baleia é uma das regiões mais afetadas de São Sebastião junto com Camburi.

A moradora e líder comunitária de Barra do Sahy, no litoral de São Sebastião, Nalda Araújo também relatou os momentos de terror vividos por moradores e turistas durante a madrugada. Segundo ela, dezenas de casas foram soterradas.

"Era em torno das 3 horas da manhã quando a gente ouviu uma gritaria. Saímos na rua e o pessoal estava gritando, corre que o morro está desabando. Eu moro a mais de 100 metros, mas quando olhei para trás o morro estava descendo com casa, com carro, com pessoas. A gente saiu correndo...", disse.

Segundo o governo do Estado de São Paulo, os maiores acumulados de chuva das últimas 24 horas se deram em Bertioga (683mm). Guarujá (395mm), Santos (232mm), São Vicente (194mm), Cubatão (117mm), Praia Grande (209mm), Mongaguá (112mm), Itanhaém (94mm), Peruíbe (98mm), Ubatuba (335mm), Caraguatatuba (234mm), Ilhabela (337mm) e São Sebastião (627mm).

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) anunciou que o alerta vermelho para o litoral paulista permanece até segunda-feira, 20, com chance de chuva superior a 60 mm por hora ou acima de 100 mm por dia. Após segunda, o alerta deve diminuir para a categoria laranja, com previsão de chuva entre 30 e 60 mm por hora e entre 50 e 100 mm por dia. (Colaborou José Maria Tomazela)

Após relatos de clientes com diversos problemas de saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou a restrição e o recolhimento de pomadas capilares para modelar tranças. Ao todo, 11 pomadas modeladoras estão com a venda suspensa para que a haja investigação das substâncias contidas nesses produtos e as marcas possam regularizá-las.

Segundo a tricologista e cabeleireira Rosi Ribeiro, os efeitos negativos com o uso das pomadas capilares podem ser sentidos tanto pelo profissional que aplica o produto quanto pelo cliente. Os relatos são de coceira e vermelhidão nos olhos, irritação na pele, inflamação no folículo capilar e até cegueira provisória. Há casos em que o uso reiterado da pomada pode levar ao entupimento do folículo e à queda do cabelo. 

##RECOMENDA##

"Houve um caso em que a cliente usou trança durante três meses, o cabelo caiu e o folículo fechou. Em vez de retirar a trança, ela refez o penteado. O maior problema é que, com fechamento desse folículo, o cabelo não nasce mais", contou a profissional. 

Informação

A pomada é um cosmético geralmente usado para fixação de penteados. De acordo com a tricologista, substâncias conservantes permitem validade maior do produto, mas podem causar efeitos adversos nos usuários. Esses problemas surgem após contato do produto com água, que faz a pomada escorrer pelo rosto e os olhos. Para Rosi Ribeiro, a melhor forma de prevenção de efeitos negativos é a informação.

"Há um mito de que a mulher precisa sofrer para ficar bonita, mas isso não é verdade. O essencial é ter informação", disse. "Atualmente, cada um pode fazer seu produto. Vai ao laboratório e faz um produto sem controle de quantidade desses conservantes e coloca em excesso. Não é que as substâncias não podem ser usadas, mas que devem seguir regras específicas e com a possibilidade de enxague - o que não acontece atualmente. Assim, as pessoas precisam saber quais são as substâncias que podem provocar riscos à saúde", explicou.

De acordo com a Anvisa, os produtos são alvo de investigação por parte da própria agência reguladora e dos órgãos de Vigilância Sanitária locais devido a relatos de pacientes sobre a ocorrência de eventos adversos graves após o uso. Todos esses produtos podem oferecer risco à saúde.

A Anvisa explica que a interdição das pomadas é uma medida cautelar que visa proteger a saúde da população e que permanece vigente enquanto são realizados testes, provas, análises ou outras providências são requeridas para investigação mais aprofundada do caso.

O que fazer se tiver adquirido o produto

No caso de o consumidor ter um dos produtos em casa, a recomendação é que não o utilize e entre em contato com a empresa para verificar a forma de devolução.

Se o produto já tiver sido usado, em caso de qualquer efeito adverso, o conselho da agência é procurar imediatamente o serviço de saúde e informar a Anvisa pelas páginas de cidadão e profissional que maneja o produto ou de empresas e profissionais da saúde.

De acordo com a tricologista, a instrução é que os clientes procurem produtos com base em substâncias naturais, sem conservantes e por consequência, com validade curta.

"Há uma carência de informação na área de cachos e cabelos afro. Profissionais precisam entender que é possível o serviço ser feito com a mesma qualidade, sem até mesmo o uso da pomada", afirmou. "Muitas pessoas optam por determinadas opções pelo preço, mas a recorrência de produtos muito mais baratos, sem nenhuma regulamentação, a curto prazo. Só que a longo prazo, ou até médio prazo (de 3 a 6 meses), a pessoa pode ter uma calvície permanente", explicou.

Segundo Rosi Ribeiro, os efeitos negativos da pomada podem impactar na autoestima das mulheres. "O uso desses produtos pode levar a uma calvície permanente e isso vai abalar psicologicamente a sua autoestima, sua parte física, além de levar a gastos com diversos profissionais como dermatologistas e psicólogos”, apontou.

Atendimento social

Rosi Ribeiro conduz o projeto social Alisa não, mamãe, uma iniciativa gratuita para ajudar a família a cuidar dos cabelos crespos e cacheados dos pequenos. Voltado para crianças de dois a 14 anos, a proposta é ensinar técnicas para cuidar dos cabelos crespos e cacheados. A profissional avalia o cabelo das crianças e orienta sobre as possibilidades de cuidar do cabelo sem danificá-lo.

Relato

A influenciadora digital Bielle Elizabeth contou em sua conta no Instagram a experiência com uma pomada capilar e o susto ao ficar temporariamente sem a visão. A pomada modeladora usada para fixar penteado no cabelo, caiu nos olhos em virtude de uma chuva.

"Usei a pomada para poder finalizar o baby hair, porque é isso que a gente faz. É uma coisa normal, não tem culpado a não ser a marca da pomada que não tem as indicações corretas para deixar circular no mercado", disse. "Usei a pomada e fui para um evento, eu estava fazendo a publicidade, e choveu. Peguei chuva e automaticamente a pomada escorreu e veio nos meus olhos. Na mesma hora, tive reação", acrescentou.

Com fortes dores nos olhos e sem enxergar, Elizabeth foi recuperando a visão gradualmente após ter sido socorrida e medicada em um pronto-socorro.

"Quem aqui já não deixou um pingo de shampoo cair no olho ao lavar o cabelo no banho? É a regra ficar cego por isso? Não. O mesmo pensamento deve ser aplicado para a pasta modeladora. É de uma extrema irresponsabilidade e covardia culpar as vítimas. Choveu, suou. Algo natural, que em nenhum momento deve ser colocado em xeque para justificar um produto que cause dor ao cliente", disse. "Uma irritação é aceitável até e na exceção. Mas o que estamos vendo aqui é a regra de apenas um dia 140 pessoas tendo reações a um produto que tem em sua química o poder de cegar uma pessoa", completou.

[@#galeria#@]

“Sempre que temos uma conquista, damos três voltas no morro”: esse é o relato de Beatriz Krishna, uma jovem devota de Nossa Senhora da Conceição. Seguindo os passos da família, a universitária de 19 anos declara com orgulho a satisfação que sente em estar próxima da Imaculada. Atualmente residindo no Recife, a jovem tem a tradição de subir o morro desde pequena, quando ainda morava em Gameleira, no interior do estado. 

##RECOMENDA##

A caminho do Santuário para deixar suas preces, ela esteve acompanhada dos pais, e o trio estava vestido à caráter: nas cores azul e branco, com a imagem de Nossa Senhora estampada no peito. 

“Eu creio muito. Sempre que temos uma conquista, damos três voltas no morro. Graças primeiro a Deus, depois à Nossa Senhora. É uma tradição de família. Compramos um carro? Três voltas no morro. Uma casa? Três voltas no morro. Esse ano não tenho nada urgente para levar até ela, mas algumas coisas pessoais. Já conseguimos muitas graças através dela. E sempre fazemos isso juntos, eu e meus pais”, relatou a estudante. 

Segundo ela, é difícil lembrar das primeiras vezes que foi ao morro, pois o seu entendimento do significado da celebração ainda era pouco, mas são memórias que marcaram e compõem a fé que hoje ela tem na santa. “Tenho lembranças através das fotos, porque era muito pequena quando comecei a vir, mas lembro principalmente por causa da minha avó, que é devota. Agora, por estar mais debilitada, ela não consegue subir o morro, então nós viemos por ela também”, acrescentou. 

Essa herança geracional foi um relato comum entre os fiéis que chegavam ao Santuário da Conceição. Mislândia Carmo, de 30 anos, é uma analista contábil que mora em Casa Amarela, também na Zona Norte e próximo ao Morro da Conceição. Ela já nem se lembra de quando começou a subir as escadarias e ladeiras, mas sabe que foi uma promessa da mãe.  

“Todo ano ela vinha e me trazia. Nossa família sempre foi católica, da congregação de Nossa Senhora de Fátima, mas também fazemos parte da comunidade aqui do morro, então todo domingo estamos aqui na missa. É algo que veio de geração em geração e eu herdei da minha mãe, também quero passar para os meus filhos. Independente da festa, estamos aqui. Não é preciso uma promessa, basta o propósito da fé”, declarou a devota. 

Ao lado de Mislândia estavam os seus filhos, Ana, de nove anos, e Bernardo, de cinco. Ana era mais tímida e não quis comentar suas preces pessoais, mas Bernardo abriu o coração de imediato: “rezo pela minha avó, meu avô, minha tia, meu tio, minha mãe e meu pai”. Sob a aprovação da mãe, ele disse que gosta de subir as escadas, apesar da genitora saber que a criança ainda não entende muito bem o período de celebração.  

"A gente amadurece com o passar do tempo e entende todo o sentido da fé, a intercessão que ela faz. Mesmo não tendo uma promessa, tenho a devoção. Eles dois [os filhos] não entendem tão bem, mas é o momento de amadurecer. O sentido da igreja e da fé, mas eles já sabem porque vêm aqui e a importância de agradecer. Eu sei que eles virão na procissão comigo no futuro”, concluiu a mãe. 

O nascimento de Maria 

Em clima de festa, uma nova Maria poderá nascer neste dia 8 de dezembro: o parto da filha dos jovens Gleice e Ícaro está previsto para o Dia de Nossa Senhora. Gleice Soares, de 30 anos, é professora e mãe de primeira viagem ao lado de Ícaro Santos, de 34 anos. 

"A festa é a data provável do nascimento da nossa filha. Moro em Recife, mas subi a escadaria pela primeira vez. Viemos pegar a benção dela. Não sou devota por tradição, mas quando soubemos a data, na primeira ultrassom, pensei 'meu Deus, é o dia de Nossa Senhora'. Fiquei tão feliz. Pode até ser depois [o parto], mas só de saber que a chegada de Maria pode ser no dia, fico muito emocionada. Desde pequena frequento a missa com a minha avó e ela era devota. Jovem, também fiz parte do EJC [Encontro de Jovens com Cristo] e tive esse contato”, disse a jovem, emocionada. 

O futuro pai, que também estava emocionado, acredita que a filha virá com o propósito de reaproximar o casal da igreja, retorno que já era um plano desde o início da pandemia. 

"Durante a pandemia, nos afastamos um pouco da igreja, então também viemos nos renovar, estar mais próximos do templo. Não que nossa fé tenha diminuído, mas a gente precisava disso. O último ano foi muito intenso para a gente e perdemos um pouco o contato. Quando descobrimos essa possibilidade de ser no Dia de Nossa Senhora, decidimos apresentar Maria a ela, pedir que dê tudo certo. É nossa primeira vez na festa e na paternidade, mas estamos achando tudo muito tranquilo e bonito. O morro é lindo”, acrescentou Ícaro. 

LeiaJá também 

- - ‘Veja o que abre no feriado de Nossa Senhora da Conceição’ 

- ‘Fiéis seguem tradição de devoção à Nossa Sra da Conceição’  

- ‘Movimento fraco impacta comércio no Morro da Conceição’ 

[@#galeria#@]  

Chegada a 118ª edição da festa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira do Recife, o momento também se torna propício para esquentar o comércio ao longo do Morro da Conceição, na Zona Norte da cidade. Apesar do registro de comércio formal e informal não ser exclusivo aos moradores do morro, a maior parte dos comerciantes registrados na Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife (Dircon) para o trabalho durante o período de celebração são moradores do local. 

##RECOMENDA##

Tradicionalmente, a festa da Imaculada dura 10 dias e este ano, vai de 28 de novembro, Dia da Bandeira, a 8 de dezembro, dia da celebração. O novo tema é “Com a Imaculada Conceição do Morro, caminhar juntos: em Comunhão, Participação e Missão”. 

Este é o segundo ano de festa desde o cancelamento em 2020, quando a pandemia da Covid-19 enfrentava seus primeiros picos, ainda na ausência de vacinas. Em 2021, a procissão foi realizada com diversos requisitos de proteção e, em 2022, pela primeira vez, as atividades ao ar livre podem concentrar mais pessoas e serem feitas de forma mais relaxada, ainda que o coronavírus tenha surgido, novamente, de forma mais forte em Pernambuco. 

A expectativa dos comerciantes do Morro da Conceição, porém, não foi correspondida este ano. De acordo com vendedores ouvidos pelo LeiaJá, apesar do Santuário esperar um público maior, o movimento nas ruas tem sido baixo e até mesmo a véspera da festa, nessa quarta-feira (7), deixou a desejar. Segundo os trabalhadores, 2022 repete a tendência das últimas edições, de 2019 até agora. 

Pouco lucro 

Para poder vender nas barracas ao redor do santuário, o comerciante precisa buscar a Dircon dentro do prazo de registro e pagar a taxa de R$ 114 por metro quadrado que a venda ocupa. O valor cobre todos os dias da celebração. Além disso, o consumo de energia também fica por conta do vendedor. Como a maior parte dos produtos vendidos ali são alugados por sistema de comissão ou comprado de terceiros, é preciso prestar contas após a festa e nem sempre o retorno compensa. 

"No dia da bandeira [28 de novembro] eu não vendi nada, mas foi também porque eu não estava com a barraca montada, não chamou atenção. Mas não estou tirando nada, se a gente apurou cem 'conto' [sic], foi muito. No dia mesmo apuramos um trocado, mas quando faz as contas do que a gente tem que pagar de volta, fica nada. Isso aí que a gente vende é dos outros. Está tudo caro, a comida já não é mais o mesmo preço, aí a gente não ganha. Está tudo fraco esse ano, o Dia da Bandeira nem parecia que era o dia, não tinha gente, passou por aqui que 'nem bala' pegava. Espero que dê tudo certo, pra gente pagar ao menos o nosso prejuízo”, disse dona Lúcia de França, de 58 anos. 

Lúcia é moradora do morro e barraqueira há 50 anos, ou seja, trabalhava ao lado da família desde pequena e se tornou uma figura tradicional no comércio da festa. A comerciante vende velas, camisas, fitas e escapulários, mas só abre a barraca no período de celebração. Sem trabalho formal, disse que costuma depender da assistência social, pois não possui mais saúde para trabalhar. Como o ritmo de vendas na barraca é intenso, já que a festa entra para a madrugada, Lúcia conta com a ajuda da prima, Thelma dos Santos, de 48 anos, para revezar os turnos.  

“A gente não dorme nessa madrugada da festa. Viramos a noite, ficamos debaixo do sol forte, nossas mercadorias também levam chuva. A tenda que eles exigem que a gente coloque também é a gente que compra, custa R$ 600. Até o fim do dia os 'negócios' vão até pela metade do preço. Tudo fica mais barato”, disse Thelma, que é ambulante. 

Dona Lúcia, que é devota de Nossa Senhora, diz que só continua participando da festa pela devoção e porque já é tradicional à sua família, mas que em 2023 provavelmente não retornará ao comércio do morro. 

"Eu trabalho na igreja todo ano. Só não trabalhei esse ano, porque por questões de saúde, o padre me pediu para repousar. Já pedi muitas graças à Nossa Senhora, ela me deu [sucesso] na cirurgia, que foi um problema na vesícula. Foi tudo pra mim. Fiquei na UTI do hospital, sozinha, por quatro dias no Otávio de Freitas. Não podia entrar ninguém por causa da Covid-19. Quem me deu a benção foi ela. Primeiramente Deus, depois ela"”, conclui a trabalhadora. 

Janaína Barbosa, comerciante. Foto: João Velozo/LeiaJá Imagens

Negócio de família 

“Quando eu estava grávida, fiz uma promessa para Nossa Senhora, pedindo coisas boas para a minha filha. Agora ela tem três anos e ainda estou pagando minha promessa. Todo mundo na minha família é devoto e todo mundo é barraqueiro. Esse ano não vou conseguir vivenciar muito o momento, porque estou aqui na barraca, mas quando eu puder, vou. Sou católica e vou permanecer católica até que Deus toque meu coração para algum outro sentido. Ter sido criada aqui no morro me influenciou, eu sinto, mas é o que serei eternamente”, disse Ivete, uma jovem vendedora que cuida da barraca da mãe. 

Ivete Barbosa, de 29 anos, é outra moradora do Morro da Conceição que se tornou figura frequente na festa através de uma tradição de família. A barraca é da mãe, Lindinalva, que é barraqueira há mais de 30 anos, desde antes do nascimento da primeira filha. A venda, por ser temporária, não é a principal fonte de renda da família, mas tem ajudado a suprir as despesas. Novamente, o desempenho foi considerado baixo e mãe e filha agora tentam medir o prejuízo.  

"Nessa véspera a gente esperava mais movimento, por não ter tido uma festa tão aberta durante a pandemia, mas o comércio do morro caiu e não é mais o mesmo. Dá para cobrir as despesas, mas do jeito que a gente esperava, não. Desde o dia 28, está bem aquém, mas é normal que fique mais intenso com a proximidade da festa. Sai muita coisa mais barata ou mais tradicional, como os calendários e as imagens de gesso. A gente tenta segurar o preço e estabilizar o que já gastamos, porque se diminuirmos o preço antes, só dá prejuízo. No fim da festa mesmo, todo mundo quer fazer o que custa R$ 10 sair por R$ 5. A gente tenta fazer pelo menos 70%, porque pela metade não dá”, completou Ivete. 

A barraca de Ivete fica ao lado da de Janaína Barbosa, uma amiga de infância. Ela tem 32 anos e é agente de saúde. De férias, está aproveitando o tempo livre para cuidar da barraca da tia, Maria Eunice, que tem o negócio há cerca de 40 anos. Janaína é do candomblé, religião afrobrasileira, e contou um pouco da história da sua devoção. Segundo ela, é comum que fiéis de religiões de matriz africana se unam à festa. Apesar do preconceito, no geral, todos são acolhidos e a figura da Imaculada faz sentido para grupos diversos. 

"A fé é tudo. Se eu não tiver fé, não tenho nada. Lembro de quando eu era pequena, essa igreja [o santuário] ainda era pequena, de 'tijolinho', tinha muro de barro. Eu vivia subindo as escadas durante a festa do morro, a gente ficava bem perto da imagem mesmo. Era bem mais tradicional, mas mudou muito, ficou mais moderna. Toda a minha família é religiosa, mas há um equilíbrio. Tem os evangélicos, os católicos, e os do candomblé. Eu sou do candomblé. Alguns não gostam, mas aqui, com os católicos, não há muito preconceito", disse. 

Perguntada se já teve alguma graça alcançada, Janaína compartilhou uma promessa que pagou por oito anos, também associada à gestação: "Na minha gravidez, tive uma complicação no parto. Quase que Deus guardava o meu filho. Na hora, gritei para Deus e Nossa Senhora, fiz uma promessa e ela me deu a graça. Prometi subir o morro com meu filho vestido de anjinho, durante oito anos. A promessa terminou no ano passado". 

LeiaJá também 

- - ‘Veja o que abre no feriado de Nossa Senhora da Conceição’ 

- ‘Fiéis seguem tradição de devoção à Nossa Sra da Conceição’  

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já efetuou 6.550 rescisões de contratos de trabalhadores temporários recrutados para o Censo Demográfico 2022. As desistências ocorrem em meio a relatos de agressões e hostilidade contra os recenseadores por parte de moradores que deveriam prestar informações para o levantamento censitário.

O órgão informou que as rescisões representam 4,7% do total de contratados, "número dentro do previsto", informou o instituto, em nota.

##RECOMENDA##

Os relatos dos trabalhadores sobre problemas com moradores entrevistados incluem até um caso de injúria racial em Belo Horizonte, Minas Gerais. Houve também queixas sobre o atraso do órgão em efetuar os pagamentos devidos aos temporários, o que o instituto afirma já ter praticamente regularizado.

"O IBGE enviou ao banco, no dia 10.08.22, todas as folhas de pagamento da ajuda de treinamento, relativas a julho de 2022, praticamente zerando as pendências do mês passado. Hoje temos 99% dos pagamentos regularizados. Os residuais que faltam estão sendo resolvidos até hoje", respondeu o órgão estatístico, em nota.

Os recenseadores estão em campo desde 1º de agosto coletando informações para o Censo Demográfico em todos os cerca de 75 milhões de lares brasileiros, nos 5.570 municípios do País. O trabalho de campo começou com um déficit estimado de 15 mil entrevistadores, que o IBGE ainda tentava recrutar para alcançar ao número ideal de 183 mil funcionários temporários. O órgão não informou o tamanho desse déficit após as desistências.

"O sindicato atribui essas desistências essencialmente ao corte no orçamento do Censo imposto pelo governo federal. O corte de R$ 800 milhões tanto determinou a piora na remuneração do recenseador em relação ao previsto originalmente, quanto inviabilizou uma divulgação mais ampla da pesquisa, o que dificulta demais o trabalho. Sem saber sobre o Censo, sem estar confiante sobre o que ele é e como é feito, uma parte da população não tem aberto a porta para os recenseadores e em alguns casos até age agressivamente contra eles. Sem recomposição do orçamento, o IBGE não vai conseguir terminar o Censo com qualidade", declarou, em nota, o sindicato de servidores do IBGE, através do Núcleo Chile do Assibge - Sindicato Nacional.

Realizado a cada dez anos, o Censo Demográfico visita todos os domicílios brasileiros. A operação deveria ter ocorrido em 2020, mas foi adiada em decorrência da pandemia. A falta de destinação de verbas pelo governo federal também foi um obstáculo. Em 2021, o orçamento não trouxe os recursos necessários para a condução do Censo, que acabou cancelado novamente, mas desta vez sob uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) de que ocorresse em 2022.

A operação censitária foi orçada inicialmente pela equipe técnica do IBGE em mais de R$ 3 bilhões para ir a campo em 2020. Em meio a pressões do governo pela redução no orçamento, os questionários originais foram enxugados, e a verba encolheu para R$ 2,3 bilhões. No ano de 2021, o valor de apenas R$ 53 milhões no orçamento sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro inviabilizava até os preparativos. Mais tarde, após a decisão do STF, o IBGE conseguiu assegurar uma complementação orçamentária para os trabalhos preparatórios em 2021 e a verba para a coleta em 2022.

O sindicato dos servidores do IBGE defende uma nova complementação orçamentária para assegurar os recursos a uma coleta de qualidade. Em meio a um cenário de inflação pressionada, com elevação de custos de combustíveis, a possibilidade de um novo aporte de recursos chegou a ser defendida pelo Diretor de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, mas o órgão refutou essa opção posteriormente, afirmando publicamente que as verbas já solicitadas e obtidas no orçamento federal eram suficientes para garantir a operação.

"Sobre os casos de agressão, as unidades estaduais onde eventualmente há ocorrências são orientadas a informá-los. Os que são informados são encaminhados aos órgãos de segurança, além de apoio da área médica e social ao contratado", completou o IBGE. "A recomendação do IBGE aos recenseadores é inicialmente registrar em delegacia um boletim de ocorrência e comunicar ao coordenador ou ao supervisor para as providências cabíveis."

O órgão estatístico lembra que agentes, pesquisadores ou recenseadores são servidores públicos federais e que "crimes contra eles são sujeitos a investigações federais com base no art. 144, § 1º, inc. I, da Constituição da República Federativa do Brasil".

"O mesmo art. 144 se aplica quando alguém se faz passar por agente, recenseador ou pesquisador do IBGE. Em todos os casos, o infrator fica sujeito a penas previstas em lei", ressaltou o instituto.

No site do IBGE, uma ferramenta possibilita que moradores confirmem se o entrevistador que se apresentou como recenseador é mesmo contratado pelo órgão estatístico. Basta informar o número da matrícula que consta no crachá do entrevistador. Também são aceitos no processo de checagem online os números do CPF ou RG do trabalhador temporário.

[@#video#@]

Celebrado no Brasil anualmente no segundo domingo de agosto – neste ano, comemorado no dia 14 –, o Dia dos Pais homenageia aqueles que se dedicam a oferecer o melhor para os filhos. A figura paterna tem papel importante na formação das pessoas.

##RECOMENDA##

Para Aloísio Carvalho Junior, propagandista vendedor da indústria farmacêutica, ser pai é preparar os filhos, por meio de exemplos e atitudes, a viver em um mundo cheio de desafios. “Nós nunca sabemos tudo e sempre estamos prontos para aprender e ensinar, e precisamos ter um equilíbrio em todas as áreas; pessoal, profissional e espiritual”, acrescenta.

O propagandista diz que possui uma boa relação com as duas filhas – Anne Louise Monteiro e Vitória Monteiro – e, por ter sido pai cedo, teve muito o que aprender e isso acabou refletindo no relacionamento com Anne Louise, que é especial. Ele conta que procura conversar, estar presente e procura não influenciar nas decisões delas, mas mostra as consequências de cada escolha.

Aloísio relata que aprendeu sobre as responsabilidades da paternidade antes da hora e fala sobre a beleza da experiência. “Tudo que sou hoje é consequência dessa situação. Foi cedo demais, amadureci precocemente, mas amo minhas filhas e não sei o que seria de mim sem elas”, afirma.

Ser pai também é saber lidar com os desafios do dia a dia. Aloísio acredita que o mundo atual traz informações que podem edificar ou prejudicar a formação do caráter dos filhos. Devido à necessidade do sustento familiar, os pais são forçados a transformar a quantidade do tempo em qualidade – o que demanda sabedoria diária.

Ainda sobre desafios, o propagandista comenta a respeito de uma situação inesperada que viveu com a filha no supermercado e relata que se tratava de algo que, geralmente, a esposa costumava lidar. “Tentei manter a calma e conversar sobre a situação com minha filha, pois ela paralisa nessas horas e eu também [risos]”, relembra.

Para ele, os ensinamentos mais valiosos da paternidade envolvem a empatia e a compreensão ao próximo. “Buscar a outra verdade e entender que, muitas vezes, a idade, o ambiente e outros podem explicar algumas decisões. Ouvir antes de julgar e tentar levar a reflexão e não impor minhas ideias”, acrescenta.

O professor Silvio Tadeu e a esposa Ana Paula Simões Castro estão à espera do primeiro filho, o Arthur – nascimento previsto para setembro. O pai de primeira viagem já consegue dizer o que é a paternidade no ponto de vista dele. “Entendo que ele [Arthur] é a materialização de todo o amor que eu sinto pela mãe dele. Hoje, ele é, junto com minha esposa, a coisa mais importante da minha vida”, define.

Silvio conta que já conversava com a esposa a respeito de terem um filho há algum tempo e que a experiência de descobrir que seria pai foi incrível. “Quando tivemos a certeza, ficamos extremamente felizes e esperançosos. Acho que realmente acreditamos em um futuro com propósito”, relembra.

Desde a descoberta, o professor revela ter aprendido que há a existência de um propósito. “Entender que existe uma pessoa que depende de mim e que aprenderá comigo. Falando em aprender, estamos estudando bastante, desde o parto até o desenvolvimento cognitivo, postura e alimentação”, acrescenta.

Silvio também confessa estar empolgado com a espera de Arthur e diz que quer muito conhecer o filho e mostrar o mundo todo a ele. Ainda sobre as expectativas, o professor explica que a rotina é adaptável e que o importante é participar de todos os momentos, ver e sentir todas as evoluções.

O professor acredita que comemora o Dia dos Pais todos os dias e revela o que pretende fazer nesta data. “O feriado vai ser o dia em que vou visitar o meu pai e ouvir todas as histórias que eu puder”, diz.

Para o coordenador comercial Moreno Lima, pai do Bernardo – um anjinho no céu, como carinhosamente o nomeia – e Benício, 4 meses, a paternidade é um dos momentos mais solenes da vida. “É o teu coração batendo fora do teu corpo. É uma experiência única para quem tem a oportunidade de ser agraciado por um filho ou filha. Nós pedimos muito a Deus para estar vivendo esse momento. Eu só tenho gratidão por esse status, por essa condição de ser pai”, afirma.

Para Moreno e a esposa Raynara Lima, após perdas gestacionais, com a chegada de Benício, este ano, as comemorações trazem mais sentido. “Quando a gente perdeu o nosso filho, se ela já não deixava esse momento passar, agora que não deixa. Isso me remete às lembranças que me emocionam, que me fragilizam, mas ao mesmo tempo eu tenho alegria de compartilhar. Com o Benício vai ser o primeiro ano, mas eu já vivenciava isso com as memórias do meu filho, com a minha esposa”, relembra.

Apesar da vivência corrida, Moreno fala que depois que se torna pai é que, então, há uma determinação e sentido na vida. “Fazer do mundo propício para que seu filho tenha o melhor. E, realmente, tudo o que a gente faz agora é em prol dele. É algo que evidencia, digamos assim, a sua existência no mundo. Agora a gente ganha mais esse entusiasmo, mais alegria, vontade de crescer, de fazer melhor e de explorar muito mais o mundo”, diz.

Moreno enfatiza que, para que os filhos tenham um reflexo de caráter, amor e alegria, o pai deve ser o exemplo. “Como vou cobrar uma atitude se eu não inspiro essa pessoa? Ser pai é justamente isso: é ter atitude; é ser exemplo; é, realmente, olhar para si e pensar ‘eu preciso ser o melhor’”, pondera.

Para quem pretende ser pai, o coordenador comercial deixa o recado: “Não há alegria maior. Eu tenho um exemplo disso – tenho um superpai, que até hoje é muito presente na minha vida. Você se descobre e não imagina tudo o que é capaz de fazer por uma pessoa”. Moreno também avalia as responsabilidades. “Não é somente o mar de rosas. É uma vida que vai ficar sob sua responsabilidade por toda uma eternidade”, conclui.

No vídeo acima, veja outros depoimentos sobre a experiência da paternidade.

Por Even Oliveira, Isabella Cordeiro e Clóvis de Senna (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

[@#galeria#@]

 

[@#galeria#@] 

Um deslizamento de barreira no Córrego do Tiro, comunidade no Alto de Santa Terezinha, na Zona Norte do Recife, deixou um morto e três feridos na madrugada desta terça-feira (7). O incidente ocorreu sob muita chuva na capital pernambucana, enquanto a localidade ainda estava escura, e os primeiros socorros foram realizados pela própria população. Uma das pessoas a participar do resgate foi o churrasqueiro Júnior Ribeiro, de 25 anos, e vizinho das vítimas. Quatro meses atrás, ele morava no mesmo conjunto de casas que foi ao chão após o deslizamento. 

##RECOMENDA##

De acordo com o relato do morador, o adolescente Lucas Daniel Nunes da Silva, de 13 anos, vítima fatal da tragédia, foi o último a ser socorrido. As demais vítimas conseguiram ser vistas e ouvidas com rapidez, pois não foram completamente soterradas. De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, Lucas chegou a ser socorrido com vida. O vizinho, no entanto, relatou que o rapaz provavelmente já foi retirado dos escombros sem sinais vitais. 

“Depois disso, a gente percebeu que só faltava Lucas. Só que as duas casas caíram totalmente em cima [do quarto] dele. A gente foi tirando, tirando, mas tinha muita coisa. Ele dormia no último quarto, sempre dormia só. Foi muito sufoco, até que os bombeiros conseguiram achá-lo. Quando achou, já deu pra ver que ele tava sem vida. Desacordado, com a boca aberta e cheia de barro. Conseguiram colocá-lo na ambulância mesmo assim e socorreram”, informou o homem. 

Ainda segundo Júnior, as vítimas foram resgatadas nesta ordem: Vânia Nunes da Silva, proprietária das casas destruídas e tia de Lucas; uma mulher identificada como Danúbia, vizinha que dormia na casa de Vânia, à ocasião; um homem identificado como Marcos; e Lucas Daniel. Ivaneide Nunes da Silva, mãe do adolescente, estava no local, mas escapou apenas com arranhões e não precisou de resgate. Ao todo, cinco pessoas estavam na área que desabou. 

- - > LeiaJá também: ‘'Preciso de um coração novo', diz mãe de jovem soterrado’ 

“Eu estava dormindo e escutei o desespero da minha esposa. Pensei logo nos meus filhos. Quando saí, perguntei 'o que foi?', e ela gritando 'as barreiras, as barreiras'. Quando eu cheguei na frente de casa e olhei pra cima, as casas estavam todas desmoronadas já. Eram cinco casas, duas atrás, duas na frente e uma para o lado. Consegui chamar uns vizinhos. Quando já tinham uns três rapazes para ajudar, corri, a gente foi pegar uma enxada, pá. Aí conseguimos tirar a primeira pessoa, a dona da casa, dona Vânia, porque a escutamos pedindo socorro”, continua Júnior. 

O churrasqueiro informou que Danúbia, a segunda vítima resgatada, havia pedido para dormir na casa de Vânia por medo da chuva também atingir a sua casa. “Um dia antes, ela perguntou pra dona Vânia se podia dormir lá e dormiu no sofá da casa. Ela estava muito soterrada, tinha muita lama. A gente conseguiu tirar tudo, rasgamos um sofá e tiramos ela. É uma senhora, a gente recebeu a informação de que ela foi entubada”, disse. 

O deslizamento aconteceu por volta das 3h30 da madrugada desta terça-feira (7). De acordo com o Corpo de Bombeiros, a ocorrência foi iniciada por volta das 4h20, quase uma hora depois. Neste intervalo, o trabalho foi realizado totalmente por populares.  

“A gente escutou a voz de outro rapaz, Marcos, que morava na casa de trás. Quando a gente acendeu a lanterna, só dava pra ver os dedos dele mesmo. A gente conseguiu tirar o que estava em cima dele, mas não o que o cobria da cintura pra baixo, porque ele estava muito soterrado. Ele disse que sentia muita dor e não sentia mais a parte de baixo. A gente viu que o braço dele estava quebrado, dava pra ver uma fratura muito feia”, informou Júnior. Pela complexidade, o resgate de Marcos foi finalizado pelos bombeiros, que fizeram o uso de máquinas para retirar os escombros. Por fim, Lucas foi retirado da lama.

*Com informações de Jameson Ramos 

[@#galeria#@]

A gravidez na adolescência transforma a vida e a rotina de mulheres. Entre as experiências e desafios, essa realidade faz com que meninas precisem abrir mão da juventude para assumir as responsabilidades da maternidade. Em homenagem ao Dia das Mães, comemorado no domingo (8), o LeiaJá Pará mostra histórias de mulheres que se tornaram mães ainda jovens. 

##RECOMENDA##

A estudante de Segurança do Trabalho Laís Gomes, de 30 anos, descobriu a gravidez aos 16 anos, quando ainda estava no ensino médio. Ela conta que foi muito julgada por ser nova e não recebeu apoio da família, que passou a aceitar a situação somente perto da filha de Laís nascer. 

"No começo foi muito difícil encarar a gravidez. Eu sabia que ia ter que largar tudo para cuidar de uma criança. A minha mãe não aceitava, quase não tive apoio de ninguém e foi um dos piores momentos e melhores, porque a minha filha ia chegar. Eu sabia que não ia ser nada fácil, tanto para eu aceitar quanto para a minha família", disse. 

Estar na maternidade sem rede de apoio é difícil e quando o pai não está presente, as complexidades aumentam. Laís lembra que as dificuldades foram muitas. "Tive um filho atrás do outro e, no segundo filho, eu perdi o pai deles e tive que lidar só, fazer o papel de pai e mãe", conta. 

A técnica em Saúde Bucal Elaine Rodrigues, 47 anos, engravidou pela primeira vez aos 17 anos, período em que viajou de Joanes, no Marajó, para Belém em busca de um ensino melhor. Para a técnica, a descoberta da gravidez foi inacreditável devido à falta de experiência. "A sensação era de medo, pois era tudo novo e, principalmente, por não ter estrutura alguma. Fiquei paralisada diante da realidade", relembra. 

Apesar do suporte psicológico que recebeu dos pais, Elaine conta que as condições financeiras não eram as melhores. "Tive que arregaçar as mangas e ir à luta. Foi aí que travei uma busca incansável, por causa da responsabilidade. Fui trabalhar de gari em Joanes para dar uma condição de sobrevivência ao meu filho", relata.

Lívia Natividade, estudante de Pedagogia e auxiliar de coordenação pedagógica, de 21 anos, engravidou aos 17 anos e, entre os 5º e 6º meses de gestação, descobriu que havia sido aprovada na faculdade. Desde então, começou sua rotina entre maternidade, estudos e trabalho. “Na época em que eu descobri que estava grávida, foi um susto, um baque. Imagino como para todas as outras mães. Eu fiquei muito nervosa, comecei a pensar muito nas coisas. Desde aí, comecei a me organizar com minha família, a fazer pré-natal”, fala.

No início da gestação, Lívia sofria crises de ansiedade e, após o nascimento da filha, teve depressão pós-parto e recebeu tratamento por três meses. “Tive que conciliar o tratamento com cuidar dela, porque eu também não poderia deixar de me cuidar”, comenta. Atualmente, a estudante equilibra seu dia a dia intenso com o auxílio da mãe e não romantiza a maternidade.

A designer de sobrancelhas Thassiane Ferreira, 35 anos, teve sua primeira gestação aos 19 anos. Ao descobrir, buscou ajuda da família do pai do bebê que, por sua vez, sugeriu que a mesma abortasse, algo que não estava em seus planos. Sua família, em contrapartida, deu suporte. “Apesar da idade, de toda a dificuldade que eu iria viver a partir daquele momento, eu não queria abortar. Minha família abraçou, apoiou”, ressalta.

Após o nascimento da filha, a designer decidiu terminar o Ensino Médio, mesmo confusa com tudo o que estava acontecendo. “Eu ia para a escola com ela, os professores me ajudavam na hora das provas, seguravam ela. Eu era uma aluna inteligente, os professores gostavam muito de mim, então todos eles me deram esse apoio, esse suporte para terminar o Ensino Médio”, conta. Thassiane relembra começou a trabalhar quando filha tinha quatro meses. Desde então, foi se aperfeiçoando para receber um salário melhor. Hoje em dia, é mãe de três e afirma que tudo o que faz é por eles.

A estudante de Serviço Social Júlia Moraes, de 20 anos, engravidou na reta final do vestibular, aos 17 anos. Júlia relembra que, na época, teve problemas pessoais e de saúde. Por isso, decidiu não contar a ninguém e, durante os três primeiros meses, cogitou abortar. “Desde o início, por ter escondido a minha gravidez por quase quatro meses, todo o período em que minha vida se encontrava, minha gestação nunca foi fácil ou tranquila; me arrependo muito de não ter aproveitado mais”, pondera.

Júlia reforça que sua família e a do pai da criança são sua rede de apoio e que, se consegue estudar, trabalhar e cuidar do filho, é por incentivo delas. Apesar das dificuldades, reforça que o filho é sua fonte de vida e razão pela qual permanece buscando evoluir. 

“Ele me salvou de mim mesma e trouxe luz para meus olhos. Maternidade não é um mar de rosas; em todos os momentos da vida de uma mulher haverá percalços, principalmente na geração e criação de uma nova vida, uma nova pessoa. Muitas responsabilidades, muita paciência e resiliência para todo esse processo; mas ainda bem que nós, mulheres, tudo podemos. Nada como um dia após o outro”, afirma.

Luiza Maria Moraes de Freitas, estudante de Técnica em Enfermagem, aos 17 anos descobriu que estava grávida após fazer vários exames para solucionar problemas de saúde. Para a estudante, a notícia foi assustadora pela inexperiência e o medo de revelar a gestação para os pais. Quando contou para a família, Luiza recebeu todo o apoio, principalmente do pai, que tinha um sonho em ser avô. “Meu pesadelo era meu pai e confesso que foi o cara que me acolheu e me abraçou. Pronto, todo mundo da família soube do primeiro neto do meu pai, que sempre sonhou com isso”, relembra.

Durante a gestação, Luiza passou por problemas psicológicos e teve um parto conturbado. Apesar disso, sua relação com o filho se constrói de maneira saudável e regada de carinho.

“Eu sei que meu filho me ama incondicionalmente, esse amor não se mede. Esse é o amor mais puro, o amor mais doce e frágil. Tenho que regar todo dia esse amor, tenho que abraçar, tenho que acolher e tenho que ser forte. Meus problemas eu até esqueço”, conclui.

As inseguranças deram vez ao amor 

De todos os sentimentos que pulsam dentro de uma mãe, desde a ansiedade até o medo, o que caracteriza e eterniza o elo com o filho é o amor. Quando perguntadas sobre qual o significado de ser mãe, elas responderam: 

Laís Gomes – “Não foi nada fácil, como até hoje não está sendo, mas graças a Deus vejo com outros olhos. Sou uma mulher realizada por tê-los. Se eu voltei a estudar, se eu procurei a minha melhora, foi por causa dos dois, para dar o melhor para eles. Hoje, a melhor coisa que eu tenho na vida são meus dois filhos.”

Elaine Rodrigues – “Hoje eu só tenho gratidão a Deus por tudo. Por ter me permitido ser mãe, pois foi através desse grande desafio que me tornei uma mulher determinada. Amadurecer em meio às lutas foi uma das experiências mais difíceis que vivi, mas a maternidade me trouxe a oportunidade de viver experiências maravilhosas também. É um grande privilégio ter uma família para cuidar. Filhos são heranças concedidas pelo Criador.”

Lívia Natividade – “Ser mãe para mim é sinônimo de força, coragem, é saber que eu vou ter alguém pra vida toda do meu lado. É um sentimento inexplicável que só sabe quem é mãe mesmo. O amor que a gente sente pelos filhos é algo surreal, é cuidado, é carinho. Às vezes é um estressezinho também, mas, no final, ver aquele serzinho sorrindo e falando que te ama não tem preço.”

Thassiane Ferreira - “Para mim, ser mãe, é um misto de loucura, de ter que se abster de vontades suas para suprir e fazer vontades de outras pessoas, que são tão importantes que chegam a te anular. Muitas vezes, eu preciso olhar para mim e dizer: ‘Ei, eu sou uma pessoa! Isso aqui eu posso fazer por mim!’. Na maioria das vezes, na maior parte do tempo, eu estou fazendo por eles, para eles. Ser mãe é um amor que eu descobri que eu não sabia que eu poderia oferecer e um olhar diferente em mim, como mulher, como pessoa, em me autoanalisar e em perceber que eu sou a melhor mãe que eu posso ser. Quando eu paro para olhar para eles, o amor que eu sinto é inexplicável. Tudo que eu faço é por eles.”

Júlia Moraes – “Para mim, ser mãe é conhecer uma força inexplicável que te torna capaz de tudo. Seja escalar montanhas ou andar quilômetros só para ver a felicidade no rostinho dos nossos filhos. Ser mãe do Gael me trouxe esperança de que, através dele, eu consigo melhorar o mundo, ou pelo menos o nosso.”

Luiza Freitas – “Ser mãe me fez entender que ficamos para depois, mas não podemos esquecer de nós. Ser mãe me ensinou que o maior amor da minha vida nasceu de mim. Ser mãe não é fácil. Ser mãe é ser colo, alimento, psicóloga, professora, conselheira e uma coisa que eu sempre vou responder para alguém que me perguntar “como é ser mãe?” é: eu amo meu filho, mas não amo a forma que romantizam a maternidade. Cada mãe é diferente, cada filho é diferente. Ser mãe na juventude é bom e, ao mesmo tempo, traumático, temos que mudar nossos planos e rotinas, mas no final um sorriso do filho cura e compensa tudo. Hoje em dia eu amo e aceito a fase que estou vivendo.”

Por Amanda Martins, Even Oliveira, Isabella Cordeiro e Lívia Ximenes (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

[@#galeria#@]

"Vou confessar que eu não queria, estava com muito medo, porque não sei qual é reação que possa dar nela, mas também me surgiu uma esperança de vida", diz Inabela Tavares, de 37 anos, mãe de Graziela Vitória, de seis anos. Nesta segunda-feira (17), a mulher levou a filha, que tem microcefalia, ao Centro UFPE, um dos locais de vacinação de crianças contra a Covid-19 no Recife. Apesar do receio, a mãe tomou a decisão porque perdeu pessoas da família para a doença. 

##RECOMENDA##

O Centro UFPE, um dos pontos de vacinação pediátrica contra a Covid-19 no Recife, teve um dia agitado nesta segunda-feira (17), que marca a segunda semana de imunização das crianças com idades entre cinco e 11 anos na capital pernambucana. Pais e responsáveis, ainda que com dúvidas e ansiosos sobre o avanço da vacinação infantil, compartilhavam de um sentimento mútuo de alívio e esperança por dias livres da pandemia que afeta a rotina e saúde de famílias em todo o mundo há quase dois anos. 

O Recife começou a vacinar o novo público oficialmente no último sábado (15). Respeitando a prioridade estabelecida às faixas etárias anteriores, os pequenos que estão sendo imunizados devem, neste primeiro momento, ser parte do grupo de comorbidades acobertado (ver lista no fim da publicação). Por se tratar de um grupo de risco, é comum que o cuidado e as incertezas sejam redobrados, diante das "polêmicas" e desinformação associados aos imunizantes anticoronavírus. 

Apesar de admitir ter medo de vacinar a filha, Inabela Tavares diz que foi aconselhada por amigos e médicos a realizar a imunização. Ao mesmo tempo, vê na vacina esperança de dias melhores. 

"Chega de morte, de pessoas com covid; eu já perdi pessoas na família por covid. Isso que me deu vontade de agendar e trazê-la. Em casa está todo mundo vacinado, menos ela, aí fica complicado, porque a gente anda muito de coletivo. Agendei, mas o friozinho na barriga ainda está aqui. Essas crianças têm problemas neurológicos, meu medo é que afete alguma coisa, dê reação. Eu tive reação das outras que tomei, tive febre, fiquei com medo dela ter alguma coisa", disse a mãe. 

Tavares também declarou que não se sente "100% segura com a vacina" e que já viu casos de pessoas que tomaram a segunda dose e a terceira, mas pegaram covid. 

A dúvida de Inabela é muito comum à população e pode gerar confusão e desconfiança diante dos imunizantes. De acordo com as autoridades sanitárias do Brasil e do mundo, e também segundo os laboratórios das fabricantes, uma pessoa com o esquema vacinal completo, ou seja, que tomou as duas doses ainda pode pegar Covid-19 e transmiti-la a outras pessoas; o mesmo para os que possuem a dose de reforço. O objetivo primordial da vacinação é diminuir as internações clínicas, nas quais predominam casos graves de síndrome respiratória, também responsáveis pelas mortes por covid. 

No país, não vacinados representam cerca de 90% das internações pela doença, segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia. Em algumas regiões, o número pode ser maior. A eficácia das vacinas foi a principal razão para o crescimento do índice de confiança entre os brasileiros, presente em mais da metade da população. 

Enxergam-se nesse número o casal Kelly Cristina Queiroz e Luciano Henrique Matos, ambos de 41 anos, pais de Davi, que tem seis anos e foi tomar a primeira dose da Pfizer nesta segunda-feira (17), no Centro UFPE. 

“[O momento é de] ansiedade. A gente esperava muito por esse momento, pois nós já tomamos e só faltava ele, essa era a nossa preocupação. Graças a Deus, chegou esse dia, Davi está aqui vacinado com a primeira dose. Isso emociona, né? Estou feliz. É um alívio. Primeiro, pelo fato de serem crianças, já requer mais cuidado. Davi, apesar de funcionar bem, tem suas demandas, que precisam de cuidados especiais”, disse a mãe do menino. 

Luciano estava mais preocupado com a volta às aulas em fevereiro, pois queria ver o filho seguro e vacinado. O homem disse ter se preocupado com a discussão geral envolvendo a desconfiança sobre a vacinação pediátrica. 

“É lamentável a gente passar por tudo isso que estamos vivendo. Estamos hoje dentro de uma universidade, sendo vacinados. Acredito que tudo parte daqui, do conhecimento, da ciência. Então quando a gente começa a pôr em risco e em dúvida todo esse trabalho que é feito por trás da produção de vacinas, de medicamentos, e tudo o que venha a agregar e salvar vidas, a gente fica triste. Triste por ter um governo que representa a gente dessa forma, que não cuida do seu povo. É obrigação do governo. A gente vê que a vacinação tem resultado”, completou o pai. 

Vacinação pediátrica no Recife 

A imunização infantil é segura e foi autorizada pelo Ministério da Saúde em dezembro, mas iniciada apenas neste mês. O primeiro grupo de crianças contemplado nesta nova fase é o com idades entre cinco e 11 anos, considerando comorbidade ou deficiência permanente. A vacinação terá ordem decrescente (das crianças mais velhas para as mais novas), ou seja, as próximas fases devem incluir os pequenos até quatro anos. Crianças com 12 anos ou mais já podem se vacinar contra a covid desde dezembro. Na capital pernambucana, as doses administradas serão da Pfizer. 

Os pontos de vacinação para este público no Recife são exclusivos. Sendo eles: Centro UFPE (Cidade Universitária), Centro Sest/Senat (Avenida Beberibe), Centro Universo (Avenida Mascarenhas de Morais) e Centro Católica (Rua do Príncipe). O agendamento deve ser feito pelo aplicativo do Conecta Recife ou acessando conectarecife.recife.pe.gov.br.   

É necessário levar documento oficial da criança, comprovante de residência em nome de um dos pais ou responsável legal, documento oficial que comprove filiação/responsabilidade e declaração no modelo da Prefeitura do Recife ou laudo médico. Apenas as crianças com Síndrome de Down estão isentas da declaração ou laudo, tendo em vista que a informação poderá ser autorreferida. Informações complementares estão disponíveis no site indicado. 

- - > LeiaJá também: Saiba como agendar e onde vacinar crianças na RMR 

Lista de comorbidades e síndromes  

- Insuficiência cardíaca  

- Cor-pulmonale e hipertensão pulmonar  

- Cardiopatia hipertensiva  

- Síndromes coronarianas  

- Valvopatias  

- Miocardiopatias e pericardiopatias  

- Doenças da aorta, grandes vasos e fístulas arteriovenosas  

- Arritmias cardíacas  

- Cardiopatias congênitas  

- Próteses e implantes cardíacos  

- Talassemia  

- Síndrome de Down  

- Transtorno do Espectro Autista  

- Diabetes mellitus  

- Pneumopatias crônicas graves  

- Hipertensão arterial resistente e de artéria estágio 3  

- Hipertensão estágios 1 e 2 com lesão e órgão alvo  

- Doença cerebrovascular  

- Doença renal crônica  

- Imunossuprimidos (incluindo pacientes oncológicos)  

- Anemia falciforme  

- Obesidade mórbida  

- Cirrose hepática  

- HIV 

 

O registro de ao menos três ataques a banhistas nas últimas duas semanas no litoral de São Paulo despertou a preocupação de moradores e turistas às vésperas da alta temporada nas praias. A presença de tubarões na região e a ligação deles com os casos ainda está sob apuração, mas o que especialistas ponderam é que, até aqui, os indícios não são suficientes para configurar um padrão de risco.

Os ciclos naturais dos animais na busca por alimento e reprodução, além de mais gente dentro da água, podem estar favorecendo os registros vistos neste mês, apontam pesquisadores. Também deve ser considerada a possibilidade de os casos não envolverem tubarões, mas sim outras espécies marinhas. No dia 3 e no dia 15 deste mês, pessoas acabaram feridas após ataques em Ubatuba e em Ilha Comprida, respectivamente. Um terceiro caso, também em Ubatuba no dia 15, está sob apuração.

##RECOMENDA##

De acordo com Otto Bismark, professor de biologia de peixes marinhos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), são esperados mais relatos de casos durante o verão. "Os tubarões aparecem mais próximos da costa nesse período para se reproduzir e nesta época tem mais gente na água, o que aumenta a possibilidade de contato", disse.

Pesquisador de tubarões há mais de 20 anos, Bismark disse que esses eventos exigem investigação cuidadosa. "É mais difícil investigar um ataque de tubarão do que a aparição de um Ovni (Objeto Voador Não Identificado). A divulgação apressada, sem confirmação, ajuda a criar um clima de histeria, em que as pessoas ficam mais atentas a qualquer acidente que acontece na água, independente de ser ou não com tubarão. É um fenômeno mais psicológico."

"Como é também a época com mais banhistas nas praias, pode acontecer um acidente. Se, em todo verão, a gente tiver um ou dois acidentes com tubarão aqui em São Paulo, isso não será nada de mais. Quando o tubarão está perto da praia, o problema maior é para ele, que pode ser capturado por um pescador, cair em uma rede ou engolir um pedaço de plástico", acrescentou o professor.

No caso da Ilha Comprida, um menino de 11 anos relatou ter sido ferido por um tubarão. O que a equipe técnica do Projeto Elasmocategorias, que analisou o caso, concluiu nesta terça-feira, 16, foi que o ferimento é compatível com um cardume de raia ou outro peixe ósseo.

Os especialistas descartaram a possibilidade de ataque de tubarão, como havia sido divulgado pela prefeitura e pelo Corpo de Bombeiros. "A análise do ferimento não foi compatível com ataque de cação (tubarão). É possível que alguma outra espécie de peixe possa ter sido responsável, ou até mesmo um esbarrão dessas raias", diz a nota divulgada na tarde desta terça-feira, 16, pela prefeitura.

Bismark lembra que os casos reportados no litoral paulista não se comparam em gravidade com os que acontecem no litoral do Pernambuco.

Em julho deste ano, um homem de 51 anos morreu após ser atacado por um tubarão em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Duas semanas depois, outro banhista de 32 anos ficou gravemente ferido, mas sobreviveu.

Prefeituras investigam, mas não vão restringir acesso a praias

Apesar da presença de tubarões, as prefeituras do litoral paulista não pretendem, ao menos por enquanto, restringir o acesso às praias. "Até o momento, não temos nenhuma restrição para banhos de mar", disse, em nota, a prefeitura de Ubatuba.

Segundo a nota, em conjunto com especialistas, o município está buscando mais informações sobre o ataque à idosa, que é moradora do interior de Minas Gerais.

Testemunhas relataram terem visto peixes de porte médio acompanhando as ondas. Conforme relatos em redes sociais, assim que a mulher foi socorrida, os salva-vidas retiraram os banhistas que estavam próximos ao local.

Em Ilha Comprida, a prefeitura informou que as praias continuam à disposição dos turistas e estão com movimento normal. A recomendação é que, ao perceber a presença de cardumes, o banhista evite se aproximar dos peixes.

O município vai aguardar a investigação do caso que resultou no ferimento à criança para estudar eventuais medidas. O acidente é investigado pela equipe do Elasmocategorias, projeto que monitora a pesca de tubarões e raias em todo o litoral sul de São Paulo.

Conforme o biólogo Paulo Santos, coordenador do projeto, a equipe técnica, integrada por outros três especialistas, já realizou a coleta de informações e analisa os vídeos e fotos feitos da praia e dos ferimentos.

"Ainda é cedo para confirmar um acidente com um tubarão. Os vídeos disponíveis não apresentam evidência concreta. Por exemplo, cardumes de raia são comuns nessa região e fazem movimentos semelhantes aos registrados nos vídeos que, inclusive, já foram relatados por pescadores que participam do projeto", disse. Segundo ele, assim que as análises forem concluídas serão apontadas as possíveis causas do acidente.

Para o oceanógrafo Rodrigo Cordeiro Mazzoleni, os tubarões sempre estiveram nos oceanos e, nas últimas décadas, sua população vem se reduzindo devido à pesca predatória. "Não acredito que os acidentes recentes estejam relacionados a ter mais tubarão perto das praias. O risco de contato sempre existiu, mas hoje a maioria das espécies está ameaçada de extinção, ou seja, existem em quantidade menor. O que há de novo é que temos muito mais pessoas no mar hoje do que há 20 ou 30 anos. Quanto mais pessoas procurarem os oceanos, maior a chance de acontecer algum tipo de incidente com seus seres vivos normais. Não só com tubarões, mas também com arraias, ouriços, siris e outras espécies de peixes."

Com obra na faixa de areia, Balneário Camboriú vê aproximação de tubarões

Em Santa Catarina, desde fins de agosto começaram a aparecer tubarões próximos da orla de Balneário Camboriú, um dos principais destinos turísticos do estado.

Até então, avistar estes animais perto da praia era fato raro. Até esta terça-feira, 16, foram registradas 34 aparições, mas não houve registro de ataques. A maior presença dos tubarões coincidiu com as obras de alargamento da faixa de areia da Praia Central, de 25 para 70 metros.

Conforme Jules Soto, curador do Museu Oceanográfico da Universidade do Vale do Itajaí, os tubarões foram atraídos pela movimentação do fundo do mar durante a remoção de areia para colocar na praia.

O especialista explicou que, neste período, por motivos naturais, como a busca de alimentação, a reprodução e a proteção dos filhotes, os tubarões se aproximam da costa.

Houve ataques em outras regiões do país. No dia 24 de janeiro, um domingo, um surfista foi mordido por um tubarão em uma praia de Navegantes (SC).

Ferido na sola e no peito do pé pela dentada, ele subiu na prancha e seguiu até a faixa de areia, onde foi socorrido por guarda-vidas e levado a um hospital. O curador do Museu Oceanográfico, Jules Soto, identificou como mordida de um tubarão-mangona que, provavelmente, estava em busca de alimento.

Segundo o especialista, o tubarão-mangona era bastante encontrado na costa catarinense, até ser praticamente dizimado pela pesca predatória.

Em fevereiro de 2019, o surfista Carlos Vinicius Cavalcanti, de 31 anos, relatou em redes sociais ter sido mordido por um tubarão na praia Cacimba do Padre, em Fernando de Noronha. Ele sofreu ferimentos na face, orelha e pescoço.

Ele contou que o ataque foi de um tubarão-limão, espécie comum no arquipélago, mas ressalvou que o caso foi uma fatalidade. Ele surfava sobre um cardume de sardinhas e, mesmo após avistar o tubarão, continuou surfando no local. Segundo postou, o espécime estava interessado apenas nas sardinhas, mas ele estava entre elas.

[@#video#@]

Hoje é o dia deles. Profissionais incansáveis que buscam superar todas as dificuldades por amor ao ensino. Os professores, apesar dos desafios diários e de nem sempre serem reconhecidos da forma devida, têm o poder de transformar a vida das pessoas para além das salas de aula.

##RECOMENDA##

Ivana Oliveira, professora doutora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Linguagens e Cultura (PPGCLC) e do curso de Comunicação Social na UNAMA - Universidade da Amazônia, leciona há 23 anos, tendo iniciado a sua trajetória no curso de Relações Públicas. Ela afirma que dar aula é o que ela realmente gosta e sabe fazer bem, e que possui várias recordações dos seus alunos durante esse período.

A professora comenta sobre os laços criados com os alunos para quem deu aula, e que alguns lecionam com ela atualmente. Outros chegaram também a chefiá-la. Ivana diz que recentemente encontrou com um aluno que afirmou que ela mudou a vida dele. “É tão legal ouvir isso, saber que a gente foi uma luz para alguém, que a gente iluminou o caminho”, complementa.

Ivana ressalta que sempre aprende com seus alunos e que a troca de experiências com eles é rejuvenescedora. “São os alunos que me transmitem essa juventude e essa vontade de estar aprendendo o tempo inteiro, para compartilhar com eles, para discutir com eles, para interagir com eles em cima desse conhecimento”, acrescenta.

Andreza Elaine Silva, 41 anos, é formada há 18 anos e professora na rede municipal de Ananindeua há 15 anos. Ela conta que as experiências vividas em meio à pandemia marcaram a trajetória dela enquanto profissional.

Mesmo diante das dificuldades do ensino remoto, Andreza afirma que houve um avanço em relação ao aprendizado das crianças para quem lecionou nesse período, graças também ao apoio e interesse das famílias. “Eu recebia de volta o carinho dessas crianças, recebia o retorno das famílias com fotos com vídeos das crianças fazendo as atividades”, relembra.

No início, ninguém estava preparado para interagir com os alunos remotamente, mas aos poucos os professores aprenderam a lidar com as mudanças da melhor maneira. “No meu caso, deu certo. Eu fico muito feliz e satisfeita com isso, porque o retorno é muito gratificante”, diz.

Agora que as aulas estão voltando presencialmente, Andreza acredita que a relação que estabeleceu com seus alunos vai ser fortalecida. “[Eles] só me conheciam por meio de foto e vídeo, e o carinho já era enorme. Agora essa relação só vai se fortalecer nesse retorno. Então, eu não tenho como relatar outra experiência que não seja essa, e que com certeza vai ficar para sempre na nossa memória”, afirma.

Luciane Sousa é pedagoga, especialista em Informática, e a história dela na educação teve início em 1998. Ela recorda que tinha muitos sonhos e ideias sobre o contexto educacional quando começou a cursar Pedagogia, e durante esse período teve a experiência de estagiar por cinco anos no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC.

Após terminar a sua pós-graduação, em 2003, a educadora assumiu a Assessoria Educacional de Informática Educativa, na Secretaria Municipal de Educação, em Castanhal. “[Foi] um período excepcional, em que a informática na educação ganhou pilares nacionais, onde tivemos a honra de fazer parte da equipe vencedora do prêmio Inovação Educacional, promovido pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), em 2008”, relata.

Neste período, Luciane também fez parte da equipe em que formaram diversas pessoas em cursos profissionalizantes, atendendo a comunidade nos telecentros comunitários, abertos nas escolas aos finais de semanas. Atualmente, ela é coordenadora pedagógica da rede estadual, no distrito de Apeú, na Escola Maria Pia dos Santos Amaral, em Castanhal.

Luciane afirma que o aprendizado com os professores, com as famílias e com os alunos é diário. “Ser coordenadora pedagógica é ser o elo da escola. Um pilar onde tudo se inicia, e com planejamento, verificamos o quanto as conquistas vão surgindo, pois nossa maior conquista é o aprendizado do aluno”, destaca.

A educadora também atua como formadora na área de informática na educação, na Secretaria Municipal de Educação. “Essa é a minha vida acadêmica. Essa é minha vida na educação, onde amo atuar, pois educação é um ato de amor”, finaliza.

Por Isabella Cordeiro (com produção de Dinei Souza).

 

Desde que criou a força-tarefa para investigar o caso Prevent Senior há duas semanas, o Ministério Público de São Paulo foi procurado por 12 pessoas que disseram ter intenção de relatar irregularidades atribuídas à operadora de planos de saúde. Os novos contatos, que segundo os promotores responsáveis pelo caso crescem quase diariamente, se somam a um universo de nove pacientes supostamente usados como 'cobaias' em um estudo com o chamado 'kit-covid' realizado entre março e abril do ano passado.

Nesta primeira fase, o MP paulista se concentra na tomada de depoimentos de parentes de vítimas e de pacientes que sobreviveram ao coronavírus. Ao todo, seis pessoas já foram ouvidas. Uma delas teria dito que só ficou sabendo que o familiar tomou medicamentos ineficazes contra a Covid-19 mais de um ano após a morte, pelo prontuário médico. O diretor-executivo da operadora de saúde, Pedro Benedito, também já foi ouvido. Os relatos serão retomados na próxima quinta-feira, 14.

##RECOMENDA##

A linha inicial de apuração se debruça sobre suspeitas de administração de cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes sem o seu consentimento e de ocultação de mortes. Os relatos de adoção indevida do tratamento paliativo e de coação de médicos devem ficar para uma segunda fase e podem, inclusive, ser desmembrados em frentes de investigação paralelas, segundo a força-tarefa.

De acordo com os promotores Heverton Zanella, Nelson dos Santos Pereira Júnior e Maria Fernanda de Castro Marques, há relatos de segurados da Prevent Senior que disseram ter recebido o 'kit-covid' neste ano, após orientação contrária da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Além dos depoimentos, a equipe de trabalho analisa documentos obtidos em quatro frentes: compartilhados pela CPI da Covid, que revelou as suspeitas sobre a operadora de saúde; fornecidos pela advogada Bruna Morato, que representa o grupo de médicos que denunciou a Prevent Senior; repassados por familiares de pacientes, como exames, prontuários, receitas médicas e termos de consentimento; e transmitidos pela própria empresa em uma defesa prévia entregue aos investigadores.

Uma eventual quebra de sigilo da empresa, segundo a força-tarefa, só será solicitada após a análise da documentação que ainda está em fase inicial.

O principal objetivo do Ministério Público é verificar se houve dolo da Prevent Senior e se há, de fato, uma relação entre a administração do 'kit-covid' e das nove mortes no estudo realizado pela operadora. O promotores contam com peritos médicos do próprio MP para ajudar na análise técnica. Outro ponto a ser esclarecido é a condição em que os termos de consentimento para uso dos medicamentos, quando fornecidos, foram assinados - isto é, se os pacientes ou familiares tinham conhecimento do que estavam autorizando.

A operadora de saúde nega irregularidades e diz ser alvo de 'denúncias infundadas' na CPI da Covid. Também afirma que 'confia' nas investigações e vai prestar todos os esclarecimentos ao Ministério Público de São Paulo.

[@#galeria#@]

A preparação para o vestibular exige foco nos estudos. Porém, a pandemia do novo coronavírus dificultou o aprendizado. Estudantes relatam pressão e dificuldades na adaptação do formato remoto de aulas.

##RECOMENDA##

O primeiro colocado no vestibular da Universidade Estadual do Pará (Uepa), Victor Hugo da Costa, de 18 anos, disse que assistia às aulas remotas nos assuntos em que tinha mais dificuldade e também as que tinham conteúdos além da grade curricular do Enem. “Passava algumas horas fazendo os exercícios presentes nos livros do colégio (os materiais do Poliedro) e alguns livros mais complexos, que eu utilizava mais para olimpíadas científicas (Halliday para física e Atkins, para química). Talvez mais fundamental que os exercícios, a leitura me ajudou bastante”, relatou.

O estudante falou também sobre como recuperou seu hábito da leitura. “Minha habilidade de leitura havia aumentado consideravelmente, e isso havia melhorado meu desempenho em praticamente tudo. Eu passei a ter uma dificuldade bem menor em aprender novos assuntos, interpretar questões e escrever, habilidades essenciais para realizar um vestibular. Por isso, eu atribuo à leitura boa parte do meu resultado. É realmente uma pena que boa parte da população não seja incentivada a ler e a ver a leitura como uma atividade lúdica que resulta no aprimoramento pessoal”, destacou.

Victor Hugo passou no curso de Medicina e comenta que deseja no momento entrar na área de Neurologia ou Neurocirurgia. “No ano de 2020, participei de algumas olimpíadas científicas de neurociências (OPNeuro, da UFPA, e OBN, da UFRJ). Gostei bastante das aulas e dos assuntos que aprendi nelas. Cheguei até a utilizar algumas informações na redação”, disse.

Ele relatou também que sua maior dificuldade foi o Ensino a Distância, pois estava acostumado a estudar à tarde na escola e que rende mais no ensino presencial. Ele disse ser mais confortável estudar em um ambiente escolar. “Minha casa não é exatamente um lugar barulhento, mas também não é silencioso. Eu tenho uma baixa resistência a barulho, então geralmente eu botava música para estudar”, contou.

“É complicado estudar quando seu caderno, sua mesa de estudos, ou qualquer outra coisa, está a poucos metros do local em que você dorme, ou quando é fácil mudar da tela do aplicativo pelo qual o professor ministra a aula para a tela do Whatsapp, ou qualquer outra rede social. São diversas distrações terríveis que muitos alunos enfrentam na hora da preparação”, assinalou.

Victor também tem uma dica aos candidatos: não perder a esperança. “É fato que a educação no Brasil é bem desprezada pelo governo, como foi observado nos recentes cortes nas universidades federais. Conseguir emprego também é difícil e ensino superior não é garantia de adquirir um ótimo trabalho, como costumava ser. É difícil dedicar-se a algo tão complicado e tão desgastante quanto o vestibular com tão poucas garantias, mas, no final, acho que é um passo importante para mudar de vida”, disse.

“A sociedade infelizmente não é justa para todos. Contei com muito apoio e sacrifícios da minha família para chegar até aqui, porém nem todos possuem esse privilégio”, observou Victor. “Eu posso ter passado em primeiro, mas creio que as verdadeiras lendas e vencedores sejam aqueles que superaram condições e origens terríveis para entrar em uma universidade.”

“Para os alunos de ensino médio, de escolas públicas e privadas, eu recomendo estudar para olimpíadas científicas (OBMEP e OPM, de matemática, OPAQ, de química, OBA, de astronomia, OBF, de física, OBB, de biologia, OBG, de geografia etc.)”, falou Victor. “Infelizmente, nem todas as escolas podem fornecer uma preparação adequada e, caso forneça, o aluno deve ser bastante esforçado”, finalizou.

Desamparo e incertezas

Eduardo Lobato, de 18 anos, passou em 2º lugar geral na Uepa (Universidade Estadual do Pará) e disse que enfrentou momentos de insegurança no início. “Durante a pandemia, eventualmente ocorriam aqueles momentos de sensação de incerteza, desamparo, principalmente no começo, quando quase todos foram pegos de surpresa com tudo isso”, afirmou.

Ele também disse que sua principal estratégia foi fazer exercícios como forma de fixação, pois era a melhor maneira de absorver os assuntos. “Pela manhã, via as aulas, anotava. De tarde, relia as anotações, e partia pro exercício. Se sentisse alguma dúvida, partia para um livro, ou videoaula. Treinar redação também é essencial, fazia de uma a duas por semana”, relatou.

O estudante disse que, mesmo com a rotina de estudo, dificuldades existiam durante o ano de preparo. “Acredito que a maior dificuldade é a incerteza, aquela certa pressão que colocamos em nós mesmos para ter resultados, isso acaba desestabilizando muita gente. Acho fundamental refletir sobre isso, e tentar estar em sintonia com seu eu interior”, contou.

Para Eduadro, ainda é necessária a criação de ações que ajudem outros estudantes a ter a oportunidade de um estudo digno. “Fui muito privilegiado por gozar de condições materiais e familiares que me permitiram a dedicação integral ao estudo, principalmente no período da pandemia, que agravou tantas desigualdades socioeconômicas, reforçando ainda mais a necessidade de programas de ações afirmativas. Elas são muito necessárias para garantir mais equidade no acesso ao ensino superior”, afirmou.

Segundo dados da Uepa, Eduardo concorreu com 5.655 candidatos inscritos para concorrer a uma vaga no curso de Medicina e foi classificado em 2º lugar. “Escolhi com base na afinidade que tenho pela área, mas principalmente pela atuação dos profissionais, na forma como muitos a exercem e desempenham uma função essencial para o bem comum. Também me espelhei em pessoas da família, que tenho como referência de profissionais exemplares”, disse o jovem. Ele também contou que ficou surpreso com a classificação. “Não esperava, pelo menos até corrigir a prova, ter tido um desempenho do nível que eu tive. O estudo que fiz ao longo do ano me garantiu certa confiança de ter um resultado bom, mas ainda sim me surpreendi muito com o resultado final, foi muito gratificante e recompensador.”

Eduardo também deu dicas para quem vai se candidatar a uma vaga este ano: “Busquem formas, além do estudo, de satisfazer as necessidades sociais e de lazer. Pode ser um hobby, amigos, parceiros, família. Essas atividades devem ter um tempo reservado, porque auxiliam muito para desestressar. Quanto ao estudo, sugiro o equilíbrio, para não desgastar muito. É mais vantajoso dosar ao longo da semana os conteúdos, para ter uma abordagem mais eficaz”. Ele relatou o quanto é gratificante ingressar no curso dos sonhos. “Depois de ver o resultado, de entrar no curso que queres, percebes que valeu a pena, e a realização pessoal compensará os momentos de esforço.”

Conteúdos da prova

A professora e psicanalista Cindy Hage, professora também do segundo colocado, falou sobre como ela prepara seu conteúdo para as aulas de redação e literatura. “O conteúdo em si das aulas é todo baseado na matriz de referência do Enem, só que eu busco sempre trazer atualidades em alguns acervos”, disse. “Eu percebo que o aluno está apresentando uma dificuldade, faço uma revisão e posso mudar o meu cronograma para reforçar um tópico”, destacou a professora.

Cindy também analisou o desempenho de seus alunos. “Sinceramente, eu esperava, porque o professor conhece o seu aluno. Eu faço acompanhamentos com eles desde o início, trabalhando um pouquinho a questão do equilíbrio emocional e autocuidado. Eu percebia nos meu alunos uma vontade muito grande de vencer, eu via a dedicação mesmo no período de pandemia com o sistema remoto as aulas híbridas”, assinalou.

A psicanalista relatou que a maior dificuldade foi a autocobrança de seus alunos. "Acaba dificultando a aprendizagem porque eles estão querendo buscar sempre um nível de superação e às vezes eles não conseguem entender que a preparação precisa ser intermitente, é periódica. Cada período você vai subindo um degrau e vai conseguindo atingir as suas metas.”

Cindy destacou a importância de se abordar esse assunto e deu um conselho para os alunos do vestibular deste ano. “Organizar direitinho por dia como eles vão revisar as matérias sempre de maneira estratégica, para que eles possam perceber quais os conteúdos de cada disciplina em que eles ainda estão instáveis, quais são as questões que eles ainda podem estar errando. Horário de estudos e principalmente uma organização quanto à resolução de questões são muito importantes”, orientou. “É importante cuidar da saúde mental, praticar também uma atividade de yoga, meditação, para ter um ano mais leve, equilíbrio”, concluiu.

Por Sabrina Avelar e Yasmin Seraphico.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[@#galeria#@]

O mundo inteiro virou de ponta-cabeça com a pandemia da covid-19. No Brasil, o número de mortes causadas pela doença se aproxima dos 300 mil e muitas pessoas continuam perdendo familiares e amigos diariamente há um ano. Nas ruas de Belém, sob lockdown, o jornalista e fotógrafo Sidney Oliveira tem acompanhado de perto o drama e a dor daqueles que estão vivendo essa dura realidade.

##RECOMENDA##

Sidney é carioca, mas mora em Belém há mais de 30 anos e conta que aos 10 anos de idade já fotografava em frente a uma igreja, no bairro onde morava, em São João de Meriti, no Rio de Janeiro. Ele conta que começou a trabalhar como motorista no jornal O Liberal, em 2000, mas já tinha o foco no fotojornalismo. Passados 15 anos, decidiu cursar jornalismo de fato. Hoje, Sidney diz que gosta de escrever, de contar as histórias da profissão e fala que deseja, cada vez mais, contribuir com a sociedade.

No ano passado, ainda que autorizado a trabalhar, Sidney saía de casa para coberturas jornalísticas. Ele conta que perdeu pessoas na família e que no Rio de Janeiro também tinha um parente em estado grave por causa da covid-19. 

“Esse ano eu pensei: vou sair pra fazer diferente, não pra fazer a foto pela foto. A gente diz que uma foto fala mais do que mil palavras, mas por que a gente não pode ir além dessas mil palavras, saber da historia da pessoa”, diz Sidney.

O jornalista diz que a grande mídia, no caso do lockdown, conversa com o empresário, principalmente pela questão econômica envolvida, e que isso o faz se questionar sobre o outro lado da história – o lado dos autônomos. “Mas e as pessoas autônomas, os empregados, o que eles pensam disso? O que eles estão sentindo? Quais são suas dores? Quais são as suas necessidades? Quais são as suas ansiedades? Eu resolvi, além de fazer a cobertura no geral, buscar o âmago, a alma, o sentimento. Não só aquele sentimento, aquela expressão na foto, o olhar da pessoa. Mas saber realmente o que ela está sentindo”, revela.

Sidney fotografa pessoas sendo atendidas, pessoas sendo socorridas. Procura, no meio do turbilhão, alguma imagem, alguma expressão, para saber, com todo o cuidado, o que a pessoa está sentindo e o que ela está pensando sobre a situação. Durante as rondas, deparou com pessoas e histórias que o marcaram. 

“Teve o seu Alves Costa, um senhor lá do Ver-o-Peso. Tem o seu Cláudio Santos que, à noite, eu encontrei de joelhos com os braços levantados em frente à Basílica de Nazaré e tem a história da Roseli Queiroz, que foi a última que eu fiz. Esses três foram os personagens com quem eu consegui conversar, botar a empatia. Roseli foi a que mais me marcou”, relata.

Roseli Queiroz, autônoma, 32 anos, estava em frente ao Hospital de Pronto-Socorro Municipal do Guamá quando Sidney a encontrou. O fotógrafo relata que começou a questionar o que Roseli poderia estar sentindo e pensando quando observou o semblante dela.

“Parecia que ela estava precisando de alguém para ouvir os seus sentimentos, as suas dores. Naquele momento, começou a falar que estava muito cansada, que há quatro dias ela não dormia e que o pai dela de 83 anos estava internado. Há uma semana ele estava com sintomas de covid-19. Ela estava muito frustrada pela questão do pai ter se recusado a tomar a vacina, por isso contraiu a covid-19 e estava internado”, relata Sidney.

O fotógrafo diz que pessoas humildes costumam estar de acordo com o lockdown e reclamam de quem está na rua, desafiando a covid-19. “A Roseli precisava de alguém pra ouvi-la. Eu conversei com ela, ouvi, eu sempre desejo melhoras, dou uma palavra de conforto e fico pensativo. As pessoas estão sofrendo, elas estão morrendo. Quando a gente vê uma foto, a gente pode ter uma ideia, mas quando você vai buscar, vai conversar com a pessoa, você vai além da foto, vai além daquilo que você está vendo, você vai pro profundo e vai buscar no âmago da pessoa. Eu tenho procurado fazer isso”, complementa.

Sidney afirma que procura fugir do trivial, que busca contar essas histórias de forma mais humanizada, sem romantizar a pandemia. Ele revela que os trabalhos são bem recebidos e que muitas pessoas enviam mensagens para ele, outras compartilham e também o estimulam a dar continuidade ao trabalho.

“Não é brincadeira, não é uma gripezinha, não é mimimi. Então é humanizar, não romantizar nem dar o estardalhaço do terror total, porque as pessoas estão aterrorizadas, e com razão. Eu procuro contar a história, os detalhes e outras coisas envolvidas”, diz.

Sidney cita o descaso nas ruas, a mistura da questão política com a insensatez das pessoas e conta que, na opinião dele, o lockdown deveria ser total. “Eu sei que as pessoas ficam: 'Ah, mas a economia...', mas como vai ter economia se as pessoas morrerem, se elas estiverem doentes? Lá atrás, se as tivessem feito um trabalho, se tivessem as vacinas, aí tudo bem. Mas agora não dá. Eu tenho 48 anos e não sei quando eu vou tomar essa vacina”, diz.

“Como a Roseli fala, as pessoas não devem desafiar a covid e o lockdown, e ela tem razão. Ontem (18), tinham pessoas na rua, sem máscara, sorrindo. Muita gente na rua. E tudo isso é muito triste. Parece que as pessoas se acostumaram com essa questão e a gente está passando por um dos piores momentos da pandemia. Mais de duas mil pessoas morrendo por dia, o sistema de saúde saturado, em colapso. Eu vejo as pessoas e parecem que elas perderam o senso, perderam a sensatez”.

Para acompanhar o trabalho de Sidney Oliveira, acesse o Instagram @sidneyoliveiraimagem. Na galeria, veja fotos do jornalista.

Por Isabella Cordeiro.

 

 “Pelo amor de Deus, quem puder ajudar, trazer bomba de oxigênio aqui pro SPA, Policlínica da Redenção, ajudem”. O apelo da psicóloga Thalita Rocha que circula em forma de vídeo nas redes sociais, durante esta quinta (14), expõe o agravamento da situação do sistema público de saúde de Manaus, capital do Amazonas, em decorrência do grande número de casos da covid-19, conforme apontam os relatos de profissionais de saúde de linha de frente e de administradores de hospitais.

Nas imagens, Thalita mostra o momento em que um grupo de homens descarrega, às pressas, um cilindro de oxigênio na porta da SPA Policlínica Dr José Lins. “Pessoal, peço misericórdia de vocês. Nós estamos numa situação de deplorável. Simplesmente acabou o oxigênio de toda uma unidade de saúde”, denuncia.

##RECOMENDA##

Em outro momento, Thalita aparece ao lado de uma profissional de saúde, identificada como diretora do hospital, e afirma que a unidade só possui 12 cilindros de oxigênio. “Graças a Deus tem muitas pessoas entrando em contato para oferecer cilindros, mas o que precisamos é de muita ajuda com a remoção das pessoas...Que isso aqui é uma unidade básica”, completa a psicóloga, que lembra que a policlínica não possui UTI.

Também nesta quinta, o pesquisador da Fiocruz-Amazônia Jesem Orellana confirmou, à Folha de São Paulo, que está recebendo vídeos, áudios e relatos telefônicos de profissionais de saúde, que relatam a situação dramática dos hospitais da capital amazonense. "Estão relatando efusivamente que o oxigênio acabou em instituições como o Hospital Universitário Getúlio Vargas e serviços de pronto atendimento, como o SPA José de Jesus Lins de Albuquerque", afirmou.

[@#video#@]

Orellana disse ainda que há informações de que uma ala inteira de pacientes faleceu devido à falta de oxigênio. "Os pacientes que conseguirem sobreviver, além de tudo, deve ficar com sequelas cerebrais permanentes”, completou.

Ainda de acordo com a Folha de São Paulo, uma profissional de saúde do Hospital Getúlio Vargas (HUGV) revelou que os pacientes estão sendo "ambuzados", isto é, recebendo oxigenação de forma manual. Segundo ela, cada profissional de saúde só seria fisicamente capaz de realizar o procedimento por 20 minutos, sendo necessário o revezamento, de maneira cansativa e arriscada, entre eles.

Transferências

Nesta quinta, o governador do Amazonas, Wilson Lima, informou que 235 pacientes serão transferidos para outros seis estados para receber atendimento médico. A média móvel de mortes em decorrência do novo coronavírus no Amazonas cresceu 183% nos últimos sete dias.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando