Tópicos | sobreviventes

Os sobreviventes do terremoto na China, que matou 131 pessoas conforme um balanço atualizado, estavam abrigados em barracas nesta quarta-feira (20), no momento em que uma onda de frio afeta o norte do país.

O terremoto aconteceu na segunda-feira à noite, em uma região 1.300 km ao sudoeste de Pequim.

##RECOMENDA##

"As operações de busca e resgate terminaram ontem", declarou nesta quarta-feira um dos coordenadores do serviço de gestão de emergências de Gansu em uma entrevista coletiva.

"A principal missão agora é atender os feridos e realocar os desabrigados", acrescentou.

O terremoto, que também deixou quase 1.000 feridos, segundo a agência estatal Xinhua, foi o mais letal no país desde 2014, quando mais de 600 pessoas morreram em um tremor em Yunnan (sudoeste).

Correspondentes da AFP observaram famílias refugiadas em barracas no condado de Jishishan, na província de Gansu (noroeste), perto do epicentro do terremoto.

Uma mulher afirmou que teme retornar para casa. "Não podemos voltar, é muito perigoso", disse à AFP, recusando-se a revelar seu nome.

"Tudo pode desabar a qualquer momento", explicou.

O terremoto provocou 113 mortes na província de Gansu, e 18, na província vizinha de Qinghai. Quase mil feridos foram hospitalizados, segundo o canal estatal CCTV.

O papa Francisco afirmou que seus "pensamentos estão com as vítimas e os feridos do devastador terremoto" e se declarou "próximo das populações que sofrem, com afeto e oração".

Apenas na província de Gansu, 87.000 pessoas foram levadas para "abrigos temporários", segundo a CCTV.

Para as famílias que dormem ao relento, as únicas fontes de calor são os fogões e cobertores carregados às pressas de suas casas.

- Temperaturas polares -

Na localidade de Liugou, os habitantes estão aglomerados em grandes barracas montadas pelas autoridades locais em uma quadra de basquete.

Algumas barracas recebem até 35 pessoas.

As esperanças de encontrar sobreviventes parecem mínimas quase dois dias após o terremoto, ainda mais com as temperaturas polares na região.

A meteorologia indica que o termômetro deve atingir -17ºC nesta quarta-feira em Jishishan.

O norte da China enfrenta uma onda de frio sem precedentes. Na cidade histórica de Datong, província de Shanxi, o termômetro chegou a 33,2 graus abaixo de zero na terça-feira.

As autoridades enviaram bombeiros e equipes de emergência às regiões afetadas.

A imprensa estatal chinesa informou que 2.500 barracas, 20.000 casacos e 5.000 camas dobráveis foram enviadas para a província de Gansu.

O tremor de segunda-feira teve 6,2 graus de magnitude, segundo a Xinhua (ou 5,9, de acordo com Centro Geológico dos Estados Unidos, USGS), e foi seguido por vários tremores secundários.

As autoridades chinesas alertaram que, nos próximos dias, podem ser registrados mais tremores com magnitude superior a 5.

bur-tjx-cmk-etb/chv/lch/pz/mab/meb/fp/tt

Moradores e voluntários buscam, nesta segunda-feira (9), sobreviventes soterrados nos escombros após o forte terremoto de magnitude 6,3 que deixou mais de 2.000 mortos no sábado (7), em uma zona rural do oeste do Afeganistão.

Caminhões carregados com alimentos, água e cobertores chegaram em massa às aldeias de difícil acesso localizadas cerca de 30 quilômetros a noroeste da cidade de Herat, a área mais afetada pelo terremoto, ao qual se seguiram oito réplicas.

Os voluntários levaram picaretas e pás, na esperança de encontrar sobreviventes.

"Muitas pessoas vieram de distritos distantes para tirar pessoas dos escombros", disse Khalid, de 32 anos, na aldeia de Kashkak, no distrito rural de Zinda Khan. "Todo mundo está procurando por corpos, embora não saibamos se ainda restam pessoas debaixo dos escombros".

As autoridades locais e nacionais forneceram números contraditórios de mortos e feridos. No domingo, o ministério responsável pela gestão de catástrofes anunciou que este "terremoto sem precedentes" deixou 2.053 mortos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que 11.000 pessoas e 1.655 famílias foram afetadas pelo terremoto e suas réplicas.

Os talibãs, que recuperaram o poder em agosto de 2021, enfrentam o enorme desafio logístico de realocar os habitantes antes da chegada do inverno.

As autoridades mantêm relações complicadas com organizações humanitárias internacionais, depois que proibiram as mulheres de trabalhar para a ONU e para ONGs, dificultando, assim, a avaliação das necessidades das famílias nas regiões mais conservadoras do país.

A organização Save the Children afirmou que esta é "uma crise que se soma a outra crise". Segundo o diretor da ONG no país, Arshad Malik, "a magnitude dos danos é assustadora. O número de pessoas afetadas por esta tragédia é realmente chocante".

- "Soterrados" -

Na cidade de Sarboland, perto do epicentro do terremoto, um jornalista da AFP viu casas destruídas, com pertences pessoais espalhados, enquanto homens removiam os escombros.

"Assim que ocorreu o primeiro tremor, todas as casas desabaram", disse Bashir Ahmad, de 42 anos. "Quem estava dentro das casas ficou soterrado. Há famílias, das quais não temos notícias", acrescentou.

Nek Mohammad, de 32 anos, estava trabalhando quando sentiu o primeiro tremor. "Voltamos para casa e vimos que não havia mais nada. Tudo virou areia", explicou, acrescentando que foram encontrados cerca de 30 corpos.

A província de Herat, na fronteira com o Irã, tem cerca de 1,9 milhão de habitantes, segundo dados do Banco Mundial de 2019.

O Afeganistão sofre frequentes terremotos, especialmente na cordilheira Hindu Kush, perto da junção das placas tectônicas da Eurásia e da Índia.

Em junho de 2022, um terremoto de magnitude 5,9 matou mais de 1.000 pessoas e deixou dezenas de milhares de desalojados na empobrecida província de Paktika, no sudeste do país.

O Afeganistão já se encontra imerso em uma grave crise humanitária, após o retorno dos talibãs ao poder, em 2021, e da consequente retirada da ajuda internacional.

As equipes de resgate intensificaram os esforços nesta quarta-feira (13) para ajudar as localidades do Marrocos devastadas pelo terremoto que matou mais de 2.900 pessoas, mas as esperanças de encontrar sobreviventes são cada vez menores, cinco dias após a tragédia.

O tremor, que afetou na sexta-feira (8) uma área da Cordilheira do Atlas, ao sudoeste da cidade turística de Marrakech, também deixou 5.530 feridos, segundo o balanço oficial mais recente.

##RECOMENDA##

Diante da magnitude dos danos, o governo marroquino aceitou a ajuda da Espanha, Reino Unido, Catar e Emirados Árabes Unidos, que enviaram equipes de busca e resgate ao reino.

A Cruz Vermelha solicitou mais de 100 milhões de dólares (quase R$ 500 milhões) para atender as necessidades mais urgentes, que incluem saúde, água, saneamento e higiene, depois de liberar um primeiro fundo de emergência.

O terremoto destruiu várias casas em vilarejos na montanha, de difícil acesso.

Em Amizmiz, localidade que fica a uma hora de viagem de Marrakech, militares distribuíram barracas aos desabrigados.

"Eu peço apenas um lugar para viver, um lugar digno para um ser humano", disse Fatima Oumalloul, 59 anos.

- Fila de barracas -

A fila de barracas que começa perto das casas destruídas ou danificadas é um sinal de que a ajuda está chegando, mas deixa os sobreviventes em um cenário de incerteza para o futuro.

Fatima Benhamoud, cuja residência é considerada de "risco" devido à profundas fissuras, recebeu uma barraca para seis pessoas.

"Não podemos dormir dentro de nossa casa, temos que dormir do lado de fora", relata a marroquina de 39 anos, tensa com a proximidade da temporada de chuvas.

O primeiro-ministro do Marrocos, Aziz Akhannouch, anunciou na segunda-feira que as pessoas que perderam suas casas serão indenizadas.

O exército instalou hospitais de campanha para atender os feridos nas zonas isoladas, como na localidade de Asni, na província de Al Haouz.

As equipes governamentais prosseguiam com os trabalhos para liberar as rodovias que levam aos pequenos vilarejos montanhosos da província.

"Liberamos a estrada que segue até a cidade de Ighil, epicentro do terremoto, e ao vilarejo próximo de Aghbar", afirmou uma fonte do governo.

O rei Mohamed VI do Marrocos visitou na terça-feira os feridos em um hospital da cidade de Marrakech, onde doou sangue, segundo a agência oficial MAP.

O terremoto atingiu 7 graus de magnitude, segundo o Centro Marroquino para a Pesquisa Científica e Técnica, e 6,8 para o Centro Geológico dos Estados Unidos.

Este foi tremor mais forte já registrado no reino e o que provocou o maior número de vítimas em mais de seis décadas.

O papa Francisco, que visitou Marrocos em 2019, afirmou nesta quarta-feira que seus pensamentos estão com o "nobre povo marroquino".

"Rezamos por Marrocos, rezamos por seus habitantes. Que o Senhor dê forças para que se recuperem", afirmou o pontífice argentino.

As operações de resgate prosseguiam nesta terça-feira (12) no Marrocos, mais de 72 horas após o terremoto devastador que deixou quase 2.900 mortos, mas as esperanças de encontrar mais sobreviventes são cada vez menores.

O epicentro do terremoto, que provocou 2.862 mortes e deixou 2.562 feridos, segundo o balanço atualizado divulgado na segunda-feira à noite, fica em uma zona montanhosa da Cordilheira Atlas, onde os deslizamentos de terra dificultam ainda mais o acesso às localidades afetadas.

A Cruz Vermelha solicitou mais de 100 milhões de dólares (493 milhões de reais) para atender as necessidades urgentes, que incluem saúde, água, saneamento e higiene.

As equipes de resgate marroquinas, apoiadas por unidades estrangeiras, tentam acelerar a busca por sobreviventes e encontrar abrigo para centenas de famílias que perderam suas casas.

Em algumas áreas isoladas, no entanto, os moradores afirmam que não receberam qualquer tipo de ajuda.

Na localidade de Imoulas, os moradores parecem perdidos entre os escombros de suas casas.

"Nos sentimos completamente abandonados, ninguém veio nos ajudar. Nossas casas desabaram e não temos para onde ir. Onde todas essas pessoas vão morar?", lamenta Khadija, residente na cidade de difícil acesso.

"O Estado não veio, não vimos ninguém. Depois do terremoto, vieram contar o número de vítimas. Desde então, não restou ninguém. Nem proteção civil, nem as forças de emergência. Ninguém está aqui conosco", reclama Mouhamed Aitlkyd em meio aos escombros.

Correspondentes da AFP observaram helicópteros, que entregaram alimentos em alguns pequenos vilarejos isolados.

- Soluções? -

O chefe de Governo marroquino, Aziz Akhannouch, presidiu na segunda-feira uma reunião que abordou a reconstrução das casas destruídas.

"As pessoas que perderam suas casas receberão indenizações (...) em breve anunciaremos uma oferta clara", declarou.

O Exército marroquino instalou hospitais de campanha para atender os feridos nas zonas isoladas, como o vilarejo de Asni, na província de Al Haouz, a pouco mais de uma hora de viagem de Marrakech.

Mais de 300 pacientes foram atendidos, afirmou à AFP o coronel Youssef Qamouss.

"Avaliamos a gravidade e os pacientes em estado grave são enviados a Marrakech. Também temos uma unidade de radiologia, um laboratório e uma farmácia", disse.

O governo do Marrocos aceitou as ofertas de quatro países para o envio de equipes de busca e resgate: Espanha, Reino Unido, Catar e Emirados Árabes Unidos.

Jornalistas da AFP observaram socorristas espanhóis na segunda-feira em duas localidades ao sul de Marrakech, Talat Nyaqoub e Amizmiz.

"A grande dificuldade está nas áreas remotas e de difícil acesso, como aqui, mas os feridos são transportados de helicóptero", declarou a comandante da equipe espanhola de bombeiros, Annika Coll.

Ao comentar a possibilidade de encontrar sobreviventes, ela disse: "Na Turquia (afetada por terremoto violento em fevereiro), conseguimos encontrar uma mulher viva após seis dias e meio. Sempre há esperança".

"Também é importante encontrar os corpos, porque as famílias precisam saber e cumprir o luto", acrescentou.

O terremoto de sexta-feira à noite atingiu 7 graus de magnitude, segundo o Centro Marroquino para a Pesquisa Científica e Técnica, e 6,8 para o Centro Geológico dos Estados Unidos.

Este foi terremoto mais forte já registrado no Marrocos e o que provocou o maior número de vítimas em mais de seis décadas.

Em 60 anos de ministério, o pastor Arza Brown nunca tinha celebrado um culto calçando sandálias. Mas não teve opção neste domingo (13), depois que o incêndio florestal que devastou uma comunidade no Havaí o deixou com pouco mais que sua fé.

"Ajudei muitas pessoas a superar muitos desastres, incêndios, muitas coisas", disse Brown neste domingo em seu primeiro culto desde que as chamas devastaram Lahaina, cidadezinha da costa oeste de Mauí.

"Mas é a primeira vez que sou uma delas", emendou.

A igreja batista onde Brown trabalhou durante cinco décadas foi reduzida a cinzas, assim como sua casa, de onde conseguiu fugir com a esposa.

Um de seus fiéis abriu as portas de sua cafeteria em Kahului para reunir a comunidade desta igreja de Lahaina, que tenta digerir a tragédia que deixa quase cem mortos e milhares de desalojados.

"Uma das coisas que me incomodam como pastor é que deveria visitar as pessoas e oferecer o ministério, mas não nos deixam voltar", diz, referindo-se à proibição das autoridades que até o sábado só haviam varrido 3% da área devastada pelo fogo em busca de corpos.

"Por isso, o que estamos fazendo é nos reunir e dar ânimo uns aos outros".

"A igreja não é um edifício, é sua gente. Assim, a igreja ainda está de pé aqui", disse o pastor Brown à AFP.

Cerca de 200 pessoas assistiram ao culto, que durou duas horas, com moradores de Lahaina relatando, aos prantos, os minutos de tensão que viveram ao ver "uma bola de fogo" se aproximar a toda velocidade.

"Se tem algo que vão ouvir é que aconteceu muito rápido", disse o pastor Caleb Woodfin, que auxiliava Brown em Lahaina.

"O único que podia fazer era manter a fé de que veria vocês de novo".

Mirasol Ramelb, devota da igreja e que perdeu a joalheria que funcionava havia quase duas décadas na turística Front Street de Lahaina, abraçou o pastor ao final do culto.

"O culto trouxe conforto ao meu coração de que Deus ainda está aí, que ainda está no comando".

Ramelb foi ao culto com sua sobrinha, Glorymae Lorenzo, que fugiu da cidade de aproximadamente 12.000 habitantes com o marido, a sogra e os dois filhos.

"Temos que agradecer por ainda estarmos aqui, de não termos ficado presos neste incêndio porque alguns dos nossos vizinhos não conseguiram", disse Lorenzo.

Duas semanas após o naufrágio de um navio de migrantes na costa grega, que deixou centenas de desaparecidos, cinco sobreviventes ouvidos pela AFP perto de Atenas acusam a Guarda Costeira de não querer salvá-los.

Desde a tragédia, as autoridades gregas culpam exclusivamente os traficantes de pessoas.

"A responsabilidade é das gangues criminosas que encheram o navio com pessoas desesperadas (...) sem fornecer coletes salva-vidas", disse o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, na quinta-feira em Bruxelas.

Longe dos policiais gregos que controlam rigidamente o acesso ao campo de refugiados de Malakasa, ao norte de Atenas, Hasan, um refugiado sírio de 26 anos, expressa sua raiva pela Guarda Costeira. Sua lenta resposta na operação de resgate foi denunciada por diversas ONGs e pela mídia.

"Não tive a impressão de que a Guarda Costeira grega queria nos salvar", diz ele.

Hasan é um dos 104 sobreviventes do naufrágio.

Segundo seus depoimentos, cerca de 600 a 750 passageiros a bordo, entre mulheres e crianças no porão da embarcação, que não puderam ser resgatados.

"Não sei exatamente quantos eram, mas os ouvíamos chorando e gritando", lembra Ahmad, um sírio de 27 anos.

O naufrágio na costa grega do navio de pesca que saiu da Líbia com destino à Itália deixou pelo menos 82 mortos, segundo a contagem oficial, além de centenas de desaparecidos.

O drama levantou inúmeras questões sobre a responsabilidade das autoridades gregas, enquanto uma investigação judicial está em andamento.

- "Não foi um acidente" -

A Guarda Costeira divulgou a conta-gotas as informações do naufrágio ocorrido no dia 14 de junho, a 47 milhas náuticas de Pylos, na península do Peloponeso.

Na segunda-feira, a agência de fronteira europeia Frontex indicou que a Grécia ignorou uma oferta para enviar ajuda aérea adicional.

Os cinco sobreviventes entrevistados afirmaram que a Guarda Costeira lançou cordas em duas ocasiões em direção à embarcação, para tentar rebocá-la. A primeira corda se rompeu.

Na segunda tentativa, "a corda foi amarrada na proa pelo navio militar, que de repente começou a 'ziguezaguear' muito rápido, criando ondas. Nesse momento o navio virou", conta Salim, um sírio de 28 anos que, assim como os outros, pediu anonimato.

"Não foi um acidente", diz ele.

Na manhã do dia 13 de junho, os passageiros do navio de pesca enviaram um sinal de alerta para a ONG Alarm Phone e em seguida dois fuzileiros navais mercantes se aproximaram do local e deram água e comida para eles.

Segundo o governo grego, a Guarda Costeira abordou a embarcação e lançaram uma corda para a estabilizar, mas os migrantes recusaram a ajuda.

O Ministério da Marinha, questionado pela AFP sobre o desenvolvimento da operação, indicou que "essas questões fazem parte de uma investigação que decorre em estrita confidencialidade".

- "A Guarda Costeira nos observou de longe" -

Um drone e um helicóptero sobrevoaram o navio, segundo os sobreviventes.

"O motor parou completamente pouco antes da meia-noite (de 13 de junho). A Guarda Costeira grega chegou mais tarde", disse Ahmad.

Por volta das 02h00, horário local de 14 de junho (20h00 do dia anterior no horário de Brasília), Salim pulou na água depois que o navio de pesca virou.

"Por pelo menos dez minutos, a Guarda Costeira nos observou de longe antes de enviar dois botes infláveis para nos ajudar", acrescentou, em lágrimas.

Azad, de 21 anos, teve que nadar por uma hora para chegar à embarcação da Guarda Costeira.

"Havia pessoas que não sabiam nadar e tentavam se segurar em nós, tínhamos que pensar em sobreviver", lembrou.

Rukayan, um homem curdo de Kobane, no norte da Síria, diz que não sabe por que sobreviveu. Seu primo de 17 anos continua desaparecido.

A Grécia prosseguia nesta quinta-feira (15) com as buscas por sobreviventes do naufrágio de uma embarcação de migrantes no Mar Jônico, uma tragédia que matou 78 pessoas.

Dois barcos de patrulha, um helicóptero e seis navios foram mobilizados para as operações no mar, ao oeste da península do Peloponeso, uma das zonas mais profundas do Mediterrâneo.

A Guarda Costeira informou que recuperou 78 corpos do naufrágio, que aconteceu na quarta-feira (14) e pelo qual a Grécia declarou três dias de luto.

Na véspera, a Guarda Costeira havia anunciado o balanço de 79 cadáveres recuperados.

Uma fragata da Marinha grega deve atracar nesta quinta-feira com os cadáveres, segundo a Guarda Costeira.

"Esta pode ser a pior tragédia marítima dos últimos anos na Grécia", disse Stella Nanou, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), ao canal público ERT.

As autoridades anunciaram o resgate de 104 pessoas, mas temem que centenas continuem desaparecidas, com base nos depoimentos dos sobreviventes e no fato de que não há mulheres e crianças entre eles.

"São todos homens", disse uma fonte da Guarda Costeira a respeito dos sobreviventes.

O porta-voz do governo da Grécia, Ilias Siakantaris, afirmou na quarta-feira que, de acordo com relatos não confirmados, quase 750 pessoas estavam a bordo do barco de pesca.

- Superlotado -

"Não sabemos o que está por vir (...) mas sabemos que muitos traficantes prendem as pessoas para manter o controle", declarou Siakantaris ao canal estatal ERT.

Um sobrevivente disse aos médicos do hospital no porto de Kalamata que viu centenas de crianças no porão do navio.

"O pesqueiro tinha de 25 a 30 metros de comprimento. O convés estava lotado de pessoas e presumimos que o interior também estava cheio", declarou o porta-voz da Guarda Costeira, Nikolaos Alexiou, ao canal ERT.

A Frontex (Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira) detectou a presença da embarcação na terça-feira, mas os passageiros "recusaram ajuda", de acordo com um comunicado divulgado pelas autoridades portuárias gregas na quarta-feira.

Também informaram que, no momento do naufrágio, ninguém a bordo usava colete salva-vidas.

Tudo indica que o barco partiu da Líbia e tinha a Itália como destino, segundo as autoridades. Os sobreviventes são, em sua maioria, da Síria (47), Egito (43) e Paquistão (12).

Eles ainda aguardam a identificação e entrevista com as autoridades gregas, que investigam a presença de um possível contrabandista de pessoas.

"É realmente espantoso", declarou à AFP Erasmia Roumana, da agência de refugiados da ONU. Os sobreviventes estão em "péssima situação psicológica".

Uma imagem de baixa qualidade divulgada pela Guarda Costeira mostra o barco de pesca azul em péssimas condições e com pessoas aglomeradas. Alguns migrantes estavam no teto da cabine.

O motor da embarcação apresentou problemas durante a noite de terça-feira e o pesqueiro naufragou a 87 km de Pilos, no Mar Jônico, afirmou Siakantaris.

Um jovem começou a chorar. "'Preciso da minha mãe' (...) Essa voz está nos meus ouvidos e continuará para sempre", declarou Ekaterini Tsata, enfermeira da Cruz Vermelha em Kalamata.

A maior tragédia de migrantes na Grécia aconteceu em 3 de junho de 2016, quando 320 morreram ou foram declaradas desaparecidas após um naufrágio.

No início da tarde desta sexta-feira (28), o Corpo de Bombeiros segue em busca de sobreviventes após o desabamento de um prédio em Olinda, na Região Metropolitana do Recife (RMR).

Já são 14 horas de trabalho e, segundo a Major Wilza Germano, agora eles revezam entre um trabalho manual de retirada dos escombros, uso de cães farejadores, detector de sons e técnica de chamada, que consiste em incentivar algum ruído por parte das vítimas no local. O Edifício Leme, localizado em Jardim Atlântico, desmoronou por volta das 22h dessa quinta (27).

##RECOMENDA##

"É um trabalho lento, para tentar fazer a identificação da posição exata das vítimas. Não podemos entrar com maquinário. A técnica de chamada foi como resgatamos a última vítima”, explicou.

Vítimas

Entre os cinco sobreviventes, duas mulheres, de 25 anos, foram levadas à UPA de Olinda com escoriações leves. Elas foram atendidas e liberadas ainda na noite de ontem. 

Uma mulher, 30, foi encaminhada ao Hospital Miguel Arraes, em Paulista. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou apenas que ela segue em observação e apresenta quadro estável. 

Dois homens, de 45 e 53, deram entrada no Hospital da Restauração, na área Central do Recife. O mais novo chegou à Unidade de Trauma, às 23h57, com uma fratura na mão e passou por cirurgia nesta manhã.

O mais velho foi resgatado após cerca de 10h entre os escombros. Ele deu entrada às 9h, com um trauma na perna esquerda e aguarda o procedimento cirúrgico. O estado de saúde dos dois é estável.

*Com informações da repórter Elaine Guimarães

Três mulheres e dois homens foram salvos pelo Corpo de Bombeiros em meio aos escombros do edifício que desabou na noite dessa quinta-feira (27), em Olinda. Os sobreviventes foram encaminhados a três unidades de saúde. 

O incidente no Edifício Leme, em Jardim Atlântico, causou duas mortes. Quatro pessoas ainda são procuradas no local pelos bombeiros. 

##RECOMENDA##

De acordo com a prefeitura, a construção foi condenada há 23 anos e deveria ter sido demolida. A gestão culpa a seguradora, então responsável pela vigilância do prédio e por evitar que os apartamentos fossem ocupados. 

[@#video#@]

LeiaJá também:

---> Sobrevivente relata como conseguiu deixar prédio em Olinda

---> Jardim Atlântico: Lyra não deve ir ao local da tragédia

Situação das vítimas

Entre os cinco sobreviventes, duas mulheres, de 25 anos, foram levadas à UPA de Olinda com escoriações leves. Elas foram atendidas e liberadas ainda na noite de ontem. 

Uma mulher, 30, foi encaminhada ao Hospital Miguel Arraes, em Paulista. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou apenas que ela segue em observação e apresenta quadro estável. 

Bombeiros realizam buscas no entorno do edifício. Júlio Gomes/LeiaJá Imagens

Dois homens, de 45 e 53, deram entrada no Hospital da Restauração, na área Central do Recife. O mais novo chegou à Unidade de Trauma, às 23h57, com uma fratura na mão e passou por cirurgia nesta manhã.

O mais velho foi resgatado após cerca de 10h entre os escombros. Ele deu entrada às 9h, com um trauma na perna esquerda e aguarda o procedimento cirúrgico. O estado de saúde dos dois é estável.

Quatro crianças que sobreviveram ao ataque à creche em Blumenau, em Santa Catarina, seguem internadas no Hospital Santo Antônio. Após serem socorridas na manhã dessa quarta-feira (5), elas foram levadas à enfermaria pediátrica e seguem juntas no mesmo quarto. 

As crianças chegaram assustadas à unidade, mas foram se acalmando no decorrer do atendimento. Elas também receberam acompanhamento psicológico. Todas dormiram bem, já brincam e conseguem se alimentar. 

##RECOMENDA##

A vice-prefeita Maria Regina Soar anunciou que as vítimas devem receber alta ao longo do dia. Os pais de outra criança ferida a levaram ao Hospital Santa Isabel. Ela apresentava um ferimento no ombro, foi atendida e recebeu alta na tarde de ontem. 

O ataque à creche particular Cantinho Bom Pastor ocorreu no início da manhã dessa quarta (5). Três meninos e uma menina entre 4 e 7 anos foram mortos por golpes de machadinha. O assassino, de 25, foi preso ainda dentro da unidade.

A pandemia deixou muitos impactos nas vidas dos sobreviventes da Covid-19 e dos familiares que perderam alguém para a doença. Para essas pessoas, o pesadelo ainda não passou. No caso da enfermeira Heloísa Garcia Claro Fernandes, por exemplo, a doença assombrou durante todo um ano.

Heloísa contraiu Covid-19 três vezes em 2022. Na primeira, estava no sétimo mês de gestação de seu terceiro filho. “Frequentava muitos serviços de saúde por conta do pré-natal. Provavelmente peguei enquanto fazia ultrassom”. Por estar no grupo de risco, ela teve muito medo.

##RECOMENDA##

“No Brasil teve uma gravidade maior de letalidade entre as gestantes. Obviamente, não foi fácil quando eu descobri que estava com Covid. Tenho certeza que se eu não tivesse me vacinado teria sido muito pior, porque a gente vê os dados. A vacina impediu os casos graves”.

Ela conta que, além da baixa saturação, teve outros sintomas mais pesados de Covid-19 na primeira vez que contraiu no ano passado. “Passei a gravidez inteira evitando sair, de estar junto da família, pois era do grupo de risco. Então me privei de várias coisas e acabei pegando [Covid-19] quase no final da gestação. E eu tenho sinusite e rinite alérgica, o que ficou bem ‘atacado’. Eu fiquei praticamente de janeiro até o final do ano passado com tosse o tempo todo”.

A enfermeira, que também é professora de saúde mental na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), relembra também que os conhecimentos de sua profissão a ajudaram durante uma viagem. “A gente tinha ido a passeio numa cidade pequena do litoral, mas tive os primeiros sintomas ainda em São Paulo. Quando estava lá [no litoral], fiz o teste no segundo dia, mas não tinha como ir para o pronto-socorro ali, afastada de tudo. Como eu sou enfermeira, pedi ajuda para os meus amigos que são profissionais da saúde, pois sei que nem toda medicação pode ser tomada na gestação. Então fiz a consulta por telefone, foi o que me ajudou, passar com um profissional para me orientar”.

Além de Heloísa, a família toda, o marido e os dois filhos, testou positivo. “Depois ainda tive [covid] em junho, quando o meu bebê era pequenininho, e também em novembro, mesmo depois de tomar todas as doses da vacina. Se eu tive alteração de saturação quando estava grávida, mesmo vacinada, imagina se eu não tivesse tomado?”.

Sequelas

O presidente do Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (CES-RS), Claudio Augustim, de 66 anos, já defendia protocolos mais efetivos de proteção à Covid-19 quando ele mesmo, em dezembro de 2020, pegou o vírus, mesmo tomando todas as precauções. Entrou no hospital com pneumonia bacteriana e dias depois foi diagnosticado com o coronavírus. A partir de então, sua situação de saúde só piorou.

“Fiquei muitas semanas entubado. Peguei 20 pneumonias no hospital. Acordei da sedação em fevereiro, mas só me dei conta que estava vivo, que tinha consciência, em abril. Vim para casa em agosto [de 2021] e só me alimentava por sonda, nem água podia tomar”, relata.

O período no hospital foi pesado, ele conta. “Tomei muita morfina para a dor. Como tive câncer no pulmão, só tenho parte do pulmão esquerdo, com isso eu não podia virar para o lado esquerdo, e com as pneumonias, meu pulmão direito também estava comprometido”. Muitas vezes, ele pensou que ia morrer. “Minha filha dizia: pai, você já passou por tanta coisa e chegou até aqui, não é agora que vai morrer. E eu seguia vivo!”.

“Mesmo assim, depois de todos as vacinas, peguei novamente a covid”, relembra. Em novembro do ano passado, foi infectado mais uma vez, em casa, apesar de todos os protocolos continuarem firmes na residência: quem o visita precisa estar de máscara, lavar as mãos e passar álcool, além de manter a distância mínima.

Para Claudio, as informações oficiais com os números dos recuperados da covid não significam exatamente um dado positivo. “Recuperada é aquela pessoa que não está mais transmitindo a doença. Mas tem muitas sequelas que atingem as pessoas. Muita gente, por exemplo, desenvolveu diabetes depois, problemas mentais e outras doenças. São as sequelas da Covid. Até em pessoas que tiveram a doença, mas ficaram assintomáticas, elas apareceram”.

Ele mantém as atividades do conselho ainda de casa. Faz tudo de forma virtual, não participa de mais nada presencialmente. Um das propostas foi o Comitê Estadual em Defesa das Vítimas da Covid, que trabalha nas reivindicações e ampliação dos recursos públicos para atendimento às vítimas com sequelas da doença. O comitê entrou com uma ação, em 2021, junto aos deputados, para aprovar uma emenda garantindo a aplicação de 12% de arrecadação de impostos na área da saúde, como previsto na Constituição Federal.

“O Estado deve destinar 12% para a área da saúde pública, mas não estava destinando o percentual. A emenda não foi aprovada. Este ano, vamos tentar novamente, para que esses recursos sejam usados na recuperação das pessoas com sequelas da covid e para a atenção básica, o que é muito importante. Porque, se há atenção e prevenção, as pessoas não adoecem tanto”, destaca.

Claudio conversa bem, ainda que tenha uma tosse entre as falas, mas já precisou fazer sessões de fonoaudiologia quase diárias. Hoje, faz fisioterapia cinco vezes por semana, acompanhamento psicológico e o serviço de enfermagem é 24 horas. A filha, que é médica neurologista, o visita com frequência para avaliá-lo também e ele segue acompanhado pelo médico que o assiste há 20 anos, onde mora, em Porto Alegre (RS).

“Até hoje eu não consigo sair de casa sozinho. A minha mão direita está caída, sem força, e com isso eu não consigo escrever, pois sou destro. Nem sei se conseguirei um dia”, lamenta. Outra sequela, ele diz, são as crises de ansiedade. “Tem hora que não consigo respirar, é mais uma sequela bastante ruim”, completa Claudio.

Legados perdidos

Legado pode ser definido como algo que fica para a posteridade após o fim de um ciclo, de uma vida, sejam obras materiais ou não. Ou seja, como alguém será lembrado pela história, amigos e familiares. Uma dessas vítimas da covid-19 deixou um legado de estudos sobre os tubarões na costa pernambucana.

O professor e pesquisador Fábio Hissa Vieira Hazin morreu em 2021, vítima de covid-19, em Recife, aos 57 anos. Hazin era referência em pesquisa sobre a megafauna marinha. Graduado em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal Rural do Pernambuco (UFRPE), o professor possuía mestrado e doutorado em Marine Science and Technology/ Fisheries Oceanography na Tokyo University of Marine Science and Technology; e pós-doutorado em Avaliação de Estoques de Recursos Pesqueiros Pelágicos Migratórios no Southeast Fisheries Sience Center, em Miami (EUA).

Também obteve especialização em Direito Internacional do Mar, pela Rhodes Academy (Center for Oceans Law and Policy/ University of Virginia School of Law). Em 2015, exerceu o cargo de Secretário Nacional de Pesca do Ministério da Pesca e Aquicultura e, interinamente, de Ministro de Estado da Pesca e da Aquicultura.

Sua atuação principal era em Oceanografia Pesqueira e Engenharia de Pesca, com ênfase em grandes peixes pelágicos (atuns, agulhões, tubarões), atuando principalmente em biologia reprodutiva, distribuição, comportamento, migração; Gestão Pesqueira e Direito Internacional do Mar e exerceu diversos cargos relevantes no Brasil e no mundo.

Hazin foi professor associado da UFRPE, no Curso de Engenharia de Pesca e no Programa de Pós-graduação em Recursos Pesqueiros e Aquicultura, e na UFPE, no Programa de Pós-graduação em Oceanografia. Até adoecer, era coordenador Geral Científico do Programa Arquipélago de São Pedro e São Paulo.

O currículo é ainda mais extenso, com diversas participações em palestras, comitês e comissões. Mas, sua atuação como professor era singular, conta um de seus ex-alunos e atual professor e pesquisador do Departamento de Pesca e Aquicultura da UFRPE, Paulo Oliveira. “Ele era incrível em sala de aula! Extremamente didático, usava exemplos e analogias simples para explicar diversos processos oceanográficos. As aulas ministradas por ele eram sempre riquíssimas e repletas de informações, tanto que era muito comum os alunos gravarem para não perder nenhuma informação”.

Na opinião do ex-aluno e colega de profissão, o oceanógrafo foi um dos legados perdidos para a covid. “Infelizmente. Mesmo sendo muito cuidadoso, o professor usava sempre duas máscaras, mesmo assim foi infectado, testou positivo cinco dias antes da vacina ser liberada para a sua faixa etária e ele estava consciente disso”, lamentou.

Para Paulo, a genialidade de Hazin e sua dedicação incessante à pesquisa geraram contribuições preciosíssimas para a ciência e gestão marinha no Brasil e no mundo. Ele acredita que o trabalho do pesquisador fortaleceu a ciência e abriu caminhos para a pesquisa brasileira no cenário mundial. “Seu comprometimento com a transmissão deste conhecimento e capacidade extraordinária de transbordar o amor pela ciência em sua oratória encantou e inspirou seus alunos e a todos que o ouviam”.

Hazin também ficou conhecido pelo trabalho de pesquisa sobre a presença de tubarões no litoral pernambucano e foi presidente do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) entre 2004 e 2012.

“No litoral pernambucano as pesquisas foram desenvolvidas durante duas décadas, de 1994 até 2014. Quando as pesquisas começaram não sabíamos nem quais eram as espécies envolvidas. Hoje, sabemos confirmar quais as espécies envolvidas nos ataques, o tamanho, as áreas e períodos mais propícios para ocorreram os incidentes, a existência de um canal adjacente à linha de praia”, explica Paulo. As pesquisas em andamento conduzidas por Hazin continuam sendo desenvolvidas pela equipe que trabalhou com ele.

“O seu legado segue inspirando e orientando, e será sempre lembrado como uma referência na formação de futuras gerações de pesquisadores. Estamos certos de que sua ausência será sempre apenas física. Ele permanece vivo em tudo que enriqueceu na pesquisa e gestão pesqueira e na vida de todos que com ele conviveram”, finalizou Paulo, que também teve Hazin como seu orientador de mestrado e doutorado.

Órfãos da Covid

As mortes causadas pela pandemia de covid-19 deixaram 40.830 crianças e adolescentes órfãos de mãe no Brasil, em 2020 e 2021, segundo estudo publicado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O estudante Lucas Luis Ferreira da Silva, de 11 anos, é um desses. Ele perdeu a mãe para a doença em 2021. A educadora social Clébia Kelly Ferreira Paiva morreu repentinamente aos 37 anos, contou a avó do menino, a auxiliar de limpeza Nilza Ferreira Henrique da Silva.

“Ela sentiu os sintomas e foi para ao hospital. E a morte foi muito rápida, ela não chegou a ficar internada, a ficar ruim. Ela passou mal na madrugada, foi para o hospital e não deu 20 minutos, teve um infarto e morreu”. Ela não tinha comorbidades conhecidas, disse Nilza, que está criando os netos. Clébia, que era separada do marido, ainda tinha outros dois filhos, Yasmin, de 18 anos e Pedro, de 7.

Nilza diz que durante o período que Lucas fez acompanhamento psicológico, ele “deu uma melhorada”, mas não apresenta mais progressos. “De repente ele fica ansioso. Só no período do tratamento que ele mudou um pouco. Mas, de sofrimento, ainda continua a mesma coisa”. A criança descontinuou o tratamento e para voltar tem que aguardar na fila.

Lucas passou por atendimento no Programa de Acolhimento ao Luto (Proalu). A iniciativa faz atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para todo o país.

O medo da pandemia ainda ronda a vida da criança, conta Nilza. “Se ele for na esquina, ele coloca a máscara. É um trauma que ele ficou e uma culpa, porque foi ele que primeiro [da família] que sentiu os sintomas, depois todos fizemos testes e deu positivo. Mas falo com ele que não é assim, que ele não tem culpa”.

A mãe, que perdeu a filha, também sofre e se emociona ao lembrar da dor imposta pela morte precoce de Clébia. “É difícil, quero tentar normalizar, mas eu crio eles, que sempre dizem ‘estou com saudade da minha mãe’. Sofremos todos juntos, é uma dor que não passa”.

Pessoas idosas

O risco de contrair covid-19 é igual para todos, mas, para os idosos, por terem mais comorbidades e a queda da imunidade comum à faixa etária, a probabilidade de desenvolver a forma grave da doença é maior.

Por essa razão, idosos e idosas são os primeiros a receberem a vacina bivalente contra a covid-19, que melhora a imunidade contra o vírus da cepa original, contra a variante Ômicron e tem perfil de segurança e eficácia semelhante ao das vacinas monovalentes, de acordo com o Ministério da Saúde.

No primeiro ano da pandemia, em setembro de 2020, quando a vacina ainda não estava disponível, a vendedora aposentada Maria Enedina da Silva, então com 80 anos, contraiu covid-19 em Fortaleza (CE). Sua filha, a comerciante Juliana Mara da Silva Morais, contou que a idosa ficou um mês internada em estado grave.

“Ela pegou covid logo na primeira etapa, no pesado mesmo da pandemia. Ficou muito mal mesmo, foi internada em UTI, entubada, traqueostomizada e tudo mais que você imaginar”, detalha a filha. “Além do mais, ela tinha pressão alta, diabetes tipo 2, o kit completo”, brinca hoje, passado o susto.

Mas, apesar de ter passado vencido a doença, Maria Enedina ainda sente sequelas deixadas pela covid. “Nunca mais ela foi a mesma. É uma dor de cabeça que não passa com medicação nenhuma, ela amanhece o dia com dor. Todos os médicos que ela consulta dizem que é sequela da covid”.

Passada a covid, Maria Enedina, ainda foi internada e operada, tirou uma pedra na vesícula. “Tudo consequência da pancreatite aguda, de muita medicação que foi introduzida nela”, diz Juliana. Maria Enedina já tomou todas as doses da vacina, só falta a bivalente da Pfizer, afirma a filha.

A aposentada diz que tem esperança de que a pandemia acabe. “Agora que a pandemia está indo embora meu sentimento é de alívio. Quando peguei covid fiquei muito doente, só não fiz morrer”. Com o fim da pandemia, ela deseja também o fim das sequelas. “É uma dor de cabeça que eu sinto diariamente, já acordo com dor de cabeça, é muito triste!”.

Dores de cabeça, insônia, dificuldade para respirar, tosse incessante e ansiedade são sintomas da chamada covid longa. Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo mostrou que esses problemas são mais frequentes em pacientes que foram internados por covid-19 e tiveram perda muscular.

A pesquisa acompanhou 80 pacientes. Casos graves ou moderados que ficaram internados no Hospital das Clínicas, em São Paulo, no ano de 2020, no período em que ainda não havia vacinas para todos. Os participantes foram acompanhados durante e após o período de hospitalização.

A perda de massa muscular costuma ser comum durante períodos prolongados de internação. Mas o estudo constatou que em pacientes por covid essa perda é mais acentuada a ponto de, em alguns casos, comprometer a mobilidade da pessoa.

Depois do Rio de Janeiro, o livro “Nós, Sobreviventes do Ódio”, de Cristina Serra vai ser lançado em São Paulo no próximo dia 20, na Livraria da Vila, na Vila Madalena, zona oeste da capital. A obra reúne 224 crônicas da autora, publicadas no jornal “Folha de S. Paulo” entre 2020 e 2023.

O livro discorre sobre a ascensão da extrema direita ao poder no Brasil, com Bolsonaro, medidas ultra liberalizantes de Paulo Guedes e a pandemia global do coronavírus.

##RECOMENDA##

Publicado pela Editora Máquina de Livros, a obra conta com apresentação do jornalista Janio de Freitas e o texto da contracapa é assinado por Juca Kfouri. As versões impressas e digitais chegam às prateleiras das principais livrarias e sites do país em março.

Serviço

LANÇAMENTO EM SÃO PAULO DO LIVRO "NÓS, SOBREVIVENTES DO ÓDIO"

Data: 20 de março de 2023 (segunda)

Horário: a partir das 19h

Local: Livraria da Vila da Vila Madalena

Endereço: Rua Fradique Coutinho, 915

 FICHA TÉCNICA

Título: Nós, sobreviventes do ódio – Crônicas de um país devastado

Autores: Cristina Serra

Editora: Máquina de Livros

Preços: R$ 59 (impresso) e R$ 40 (e-book)

Páginas: 248

 

 

Na cidade turca de Antakya, uma das mais afetadas pelo terremoto do início do mês, Bilal Jawir termina de carregar uma van com os pertences de sua família, que está prestes a deixar sua residência.

"Não sabemos quando poderemos voltar (...) Não temos nenhuma esperança. Não temos trabalho, não temos vida. Como poderíamos continuar vivendo aqui?", lamenta ele.

Durante o terremoto de magnitude 7,8 que atingiu a Turquia e a Síria em 6 de fevereiro, deixando mais de 44.000 mortos, Jawir, sua esposa e as duas filhas conseguiram sair ilesos ao se refugiarem sob algumas laranjeiras que cercam sua propriedade.

Embora sua casa não tenha sido seriamente danificada à primeira vista, a família não quer permanecer no local por medo de que a estrutura tenha sido comprometida.

"Nosso retorno vai depender da existência de serviços (públicos)” em Antakya, explica.

Assim como a família, milhões de pessoas na região enfrentam o mesmo dilema de não saber se poderão voltar às suas casas, precisarão esperar que sejam inspecionadas ou terão que se mudar para outros locais.

"É difícil fazer as malas e ir embora. Tenho muitas lembranças daqui (...) Minhas filhas nasceram aqui, nos casamos aqui", conta o homem.

A família vai para a casa do tio de Jawir em Andana, uma cidade a três horas de distância, que foi menos afetada.

- "Não sabemos o que vai acontecer" -

Alguns vizinhos de Jawir, no bairro de Kislasaray, também recolhem seus pertences e se preparam para deixar o local.

É o caso de Adnan, sua esposa e a filha, Dilay, que colocam bolsas com roupas em uma van.

"Não sabemos o que será de nossa casa, se será destruída, não sabemos o que vai acontecer", diz Adnan.

Assim como Jawir, eles não querem arriscar voltar à residência em meio à destruição após o terremoto.

A família vai se mudar para um apartamento em Mersin, a 270 quilômetros de Antakya, na costa mediterrânea da Turquia.

No entanto, alguns não hesitam em tirar proveito da situação.

No norte da cidade, um homem que trabalha com a locação de plataformas elevatórias aumentou seus preços para US$ 80 (cerca de R$ 416) a hora para usar o aparelho, capaz de alcançar até o quinto andar de um edifício.

Ele também cobra US$ 50 (aproximadamente R$ 260) por carregador e US$ 50 pelo aluguel de um caminhão.

"Aumentamos os preços por causa do perigo", contou à AFP, afirmando também que esvazia seis ou sete apartamentos todos os dias.

Já na Cidade Velha de Antakya, Cuneyt Eroglu, tenta recuperar o que sobrou de sua ótica.

"Sra. Hacer, se está me vendo, suas lentes de contato chegaram", diz ele rindo, enquanto coloca pacotes recuperados dos escombros em uma caixa de papelão.

Ao contrário de outras partes da Cidade Velha, sua rua ainda não foi limpa da enorme quantidade de entulho e pedaços de metal que cobriam grande parte da região.

"Vamos limpar e continuar morando aqui, diz, esperançoso.

Após o terremoto, o homem de 45 anos e sua família se refugiaram em uma tenda nos arredores de Antakya.

"Partir é fácil, ficar é importante (...) Depois disso, quero ficar nesta rua pelo resto da minha vida", diz ele.

Serkan Tatoglu conseguiu salvar seus quatro filhos do violento terremoto que destruiu sua casa no sudeste da Turquia. A família agora está segura, mas a filha de seis anos continua perguntando: "Papai, vamos morrer?"

A província de Kahramanmaras - com 1,1 milhão de habitantes antes do terremoto - tem tido nas últimas semanas ares de filme apocalíptico, com seus prédios desabados, o som de sirenes de ambulâncias e caixões colocados na beira das estradas.

São cenas assustadoras para as crianças que sobreviveram ao terremoto de 6 de fevereiro, com um saldo de 32.000 mortos na Turquia, segundo um balanço ainda provisório.

"Meus filhos foram gravemente afetados pelo terremoto", disse à AFP Serkan Tatoglu, cuja esposa e filhos de 6, 11, 14 e 15 anos se refugiaram em um aglomerado de barracas construídas ao lado de um estádio na cidade de Kahramanmaras.

"Perdi dez membros da minha família. Meus filhos não sabem, mas a mais nova está traumatizada com as réplicas do terremoto. Ela fica me perguntando 'Papai, vamos morrer?'", conta.

"Não quero mostrar os corpos para eles. Eu e minha esposa os abraçamos e dissemos que tudo vai melhorar", diz.

Hilal Ayar, de 25 anos, está muito preocupada com seu filho de sete, Mohamed Emir: "Ele não está bem mentalmente, não consegue dormir".

- "Políticas de emergência" -

Sueda Deveci, psicólogo da filial turca da ONG Doctors Worldwide, enviado a Kahramanmaras, trabalha com os pais, também traumatizados.

"Uma mãe me confessou: 'Todo mundo deve ser forte, mas eu não posso fazer nada, não posso cuidar dos meus filhos, não tenho nem vontade de comer'".

Algumas crianças parecem ainda não ter consciência do terremoto, diz ele, enquanto três delas desenham ao seu lado.

"Não falo muito sobre o terremoto com elas. Nós as colocamos para desenhar e veremos até que ponto isso será transmitido em seus desenhos", diz.

"Políticas centradas nas crianças devem ser elaboradas com urgência", pediu Esin Koman, especialista em proteção dos direitos da criança, que agora trabalha na província de Kahramanmaras.

Segundo ela, os menores se adaptam mais rápido que os pais, mas é preciso fazer o que for necessário para que eles passem nesse teste.

O psicólogo Cihan Celik compartilhou no Twitter uma mensagem que recebeu de um motorista de ambulância voluntário enviado para a zona do terremoto.

Durante a retirada, várias crianças foram tomadas pela angústia. "As crianças feridas perguntaram várias vezes ao longo do caminho 'Onde está a mamãe, onde está o pai? Vocês estão nos sequestrando?'".

- "Enxurrada de ligações" -

O vice-presidente turco, Fuat Oktay, afirmou que 574 crianças retiradas dos prédios desabados foram encontradas desacompanhadas. Cerca de 76 foram entregues a familiares.

Um grupo de cerca de 200 voluntários, entre psicólogos, advogados e médicos, montou centros de coordenação nas dez províncias devastadas pelo terremoto. O objetivo é identificar as crianças desacompanhadas e entregá-las às suas famílias, com a ajuda da polícia.

"Recebemos milhares de ligações", conta Hatice Goz, voluntária do centro de coordenação da província de Hatay (sul).

Ela entra em contato com as famílias que procuram suas crianças, recebe informação sobre a idade, características físicas e moradia, antes de informar os centros de coordenação.

"Temos equipes especializadas nisso. Elas analisam permanentemente todas as informações obtidas, comparando-as com os registros hospitalares", diz Hatice Goz.

"Quando vi a lista ontem, o número de crianças desaparecidas de que fomos informados chegou a 180. E entregamos 30 para suas famílias", acrescenta.

As crianças foram retiradas com vida dos escombros e levadas aos hospitais mais próximos, sem necessariamente estarem acompanhadas de um familiar.

Mas enfatiza, "se a criança ainda não fala, a família não consegue encontrá-la".

O avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que o governo federal usou para levar ajuda humanitária à Turquia regressou nesse domingo (12) ao Brasil. A aeronave trouxe  a bordo 17 pessoas que sobreviveram ao terremoto que atingiu parte da Turquia e da Síria na última segunda-feira (6).

Quatro crianças integram o grupo de nove brasileiros e oito estrangeiros que desembarcou nesta madrugada na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro. A repatriação dos brasileiros foi coordenada pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), que aproveitou o voo de volta do KC-30 da FAB.

##RECOMENDA##

Equipe de resgate

Logo após os fortes tremores de terra que chegaram a atingir 7,8 na escala Richter, o governo brasileiro acionou a Aeronáutica para que levasse à Turquia uma equipe de brasileiros especializados em resgate urbano e socorro a vítimas de desastres naturais.

Os 42 profissionais brasileiros, incluindo bombeiros, agentes de saúde e da Defesa Civil, chegaram à capital turca, Ancara, na noite da última quarta-feira (9). Eles devem permanecer por ao menos duas semanas no país prestando apoio humanitário à população que, além das consequências do terremoto, enfrenta um inverno rigoroso, com temperaturas abaixo de zero.

Desespero e correria

Segundo a FAB, o resgate das 17 pessoas trazidas ao Brasil contou com a ajuda de outros cidadãos que permanecem na Turquia, incluindo brasileiros. Ainda de acordo com a Aeronáutica, entre os nove brasileiros, há uma mulher, grávida, identificada como Fernanda Lima.

“Quando eu entendi que aquela situação não era habitual, comecei a gritar para meu marido e meu filho acordarem. Então, arranquei o meu filho do berço, dei na mão do meu marido e falei: corre, que isso é um terremoto. Salva a vida dele! Me deixa, vai na frente com ele! E foi só o tempo da gente sair de casa. Quando saímos de casa, nós a vimos desabar. Perdemos tudo”, relatou Fernanda aos militares da FAB.

O professor Guilherme Brito, de 22 anos de idade, também integra a lista de brasileiros repatriados. Entrevistado por uma equipe da TV Brasil que viajou a Ancara a convite da FAB, Brito contou que tinha acabado de chegar à cidade de Adana para participar de um intercâmbio estudantil quando foi surpreendido pelo terremoto que, segundo fontes dos governos turcos e sírio, já matou ao menos 33 mil pessoas.

“Eu tinha acabado de chegar. Estava bem cansado, mas muito feliz. Jantei, fui dormir e, por volta de 4h da manhã, senti tudo tremer”, contou Brito. Segundo o estudante, pouco depois, houve um segundo tremor, ainda mais forte, que o fez correr para a rua. Brito lembra de, ao chegar na rua, olhar e ver ao menos três prédios próximos caídos e muitos outros com rachaduras graves. Além disso, segundo ele, fazia muito frio, o que pode ter causado a morte de muitas pessoas presas em meio aos escombros. Segundo Brito, os termômetros marcavam em torno de 3 graus Celsius (°C), mas a sensação térmica era de -1°C.

“Começamos a andar pelas ruas com um amigo turco, e ele nos alertou para que não andássemos por ali porque havia risco de demolir, de cair. Acabei decidindo não ficar [na Turquia] justamente por isso. Minha ideia era ajudar, mas percebi que aquela zona ainda era de risco, embora não fosse uma área tão afetada. O medo começou a tomar conta”, disse Brito sobre porque decidiu pedir ajuda das autoridades diplomáticas para deixar o país.

Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) deixa a Turquia rumo ao Brasil com 17 pessoas neste fim de semana. A aeronave pousou no país para desembarcar uma equipe de ajuda humanitária em razão do terremoto registrado em cidades turcas e sírias na segunda-feira (6).

O voo de volta ao Brasil deve durar cerca de 14 horas e o pouso está previsto para acontecer no início da madrugada deste domingo (12), no Rio de Janeiro.

##RECOMENDA##

O professor brasileiro Guilherme Brito, de 22 anos de idade, integra a lista de passageiros. Ele estava fazendo um intercâmbio na cidade de Adana quando o primeiro tremor aconteceu.

“Tinha acabado de chegar. Estava bem cansado, mas muito feliz. Jantei, fui dormir, e, por volta de 4h da manhã, senti tudo tremer”, disse. Pouco tempo depois, segundo ele, um segundo tremor, ainda mais forte, aconteceu. Já fora do dormitório, ele chegou a ver pelo menos três prédios caídos, mas muitos outros com rachaduras graves.

Fazia bastante frio na cidade no momento em que o terremoto aconteceu e muitas pessoas, segundo Guilherme, perderam a vida em meio aos escombros não somente por conta dos ferimentos, mas também por causa das baixas temperaturas. Ele disse que os termômetros marcavam em torno de 3 graus Celsius (°C), mas a sensação térmica era de -1°C.

“Começamos a andar pelas ruas com um amigo turco, e ele nos alertou para que não andássemos por ali porque havia risco de demolir, de cair. Acabei decidindo não ficar [na Turquia] justamente por isso. Minha ideia era ajudar, mas percebi que aquela zona ainda era de risco, embora não fosse uma área tão afetada. O medo começou a tomar conta”.

Missão humanitária

De acordo com o coordenador geral da missão brasileira na Turquia, Rafael Machado, o acampamento que vai abrigar militares pelas próximas duas semanas fica próximo ao aeroporto da capital, Ancara. Foram montados postos de comando e médicos e demais barracas e a equipe já efetuou buscas para resgate de corpos e de possíveis sobreviventes.

“Agora, com tudo instalado, nossas condições operacionais melhoram, temos mais perspectivas de responder rapidamente. Nossos cães também estão em campo, foram com as equipes, requisitados junto com equipamentos especiais que as equipes brasileiras possuem. É um novo cenário pra gente”, disse o coordenador.

*Colaborou Paula Laboissière

As equipes de emergência na Turquia e na Síria enfrentam nesta quarta-feira (8) horas cruciais para encontrar sobreviventes entre os escombros do potente terremoto de segunda-feira, cujo balanço supera 9.500 mortes nos dois países.

Em um cenário de frio e devastação, os socorristas, auxiliados pelas primeiras equipes de emergência procedentes de outros países, lutam contra o tempo para encontrar pessoas com vida após o terremoto de 7,8 graus de magnitude registrado na madrugada de segunda-feira, com epicentro no sudeste da Turquia.

A imagem esperançosa de uma recém-nascida resgatada dos escombros na Síria contrasta com a desolação de um pai na Turquia, que segura a mão da filha falecida que permanecia com o corpo preso entre dois blocos de concreto.

O ministério do Interior da Turquia alertou na terça-feira que as próximas 48 horas seriam "cruciais" para encontrar sobreviventes. Ancara decretou luto nacional de sete dias para as vítimas do terremoto.

O número de vítimas fatais superou 9.500 nesta quarta-feira.

A Turquia registrou 6.957 mortes, de acordo com o balanço atualizado da Autoridade de Gestão de Desastres e Emergências (AFAD).

Na Síria foram contabilizados 2.547 óbitos: 1.250 em áreas controlados pelo governo, segundo o ministro da Saúde, Hassan Ghabbash, e 1.297 nas zonas dominadas pelos rebeldes, segundo os Capacetes Brancos (grupo de voluntários de proteção civil).

"O balanço deve aumentar consideravelmente na Síria porque centenas de pessoas continuam presas sob os escombros", afirmaram os Capacetes Brancos.

Este foi o terremoto com mais vítimas na Turquia desde 1999, quando um abalo sísmico matou 17.000 pessoas, incluindo mil em Istambul.

- "Onde está o Estado?" -

Na localidade síria de Jindires, as equipes de emergência resgataram uma recém-nascida dos escombros de um prédio.

A criança ainda estava unida pelo cordão umbilical a sua mãe, que morreu como os demais integrantes da família.

"Ouvimos um barulho e cavamos (...) limpamos o local e encontramos esta bebê, graças a Deus", disse Khalil Sawadi, amigo da família.

O resgate chegou tarde para Irmak, uma adolescente de 15 anos. Em silêncio, seu pai Mesur Hancer segura a mão inerte da jovem presa nas ruínas de um edifício em Kahramanmaras (sudeste da Turquia).

Localizada no epicentro do terremoto, a ajuda ainda não chegou à cidade de mais de um milhão de habitantes e de difícil acesso.

"Onde está o Estado? Onde está? (...) Já passaram dois dias e não vimos ninguém", afirma, desesperado, Ali, que tem esperanças de encontrar com vida o irmão e o sobrinho presos entre os escombros de seu apartamento.

O terremoto devastador foi seguido por vários tremores secundários, alguns potentes, que provocaram pânico entre milhares de moradores, que temem retornar para suas casas.

Na cidade turca de Gaziantep, muitas pessoas procuraram refúgio no aeroporto. "No momento, nossas vidas estão marcadas pela incerteza", declarou Zahide Sutcu, que abandonou sua casa com os dois filhos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que 23 milhões de pessoas foram "expostas" às consequências do terremoto, "incluindo cinco milhões de pessoas vulneráveis".

- Ajuda internacional -

Na terça-feira começaram a chegar as primeiras equipes de emergência estrangeiras. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que decretou estado de emergência por três meses em 10 províncias afetadas, afirmou que 45 países ofereceram ajuda.

A União Europeia mobilizou 1.185 socorristas e 79 cães farejadores para enviar à Turquia e trabalha com associações humanitárias na Síria para financiar operações de assistência.

O governo dos Estados Unidos prevê a chegada de duas equipes de emergência nesta quarta-feira à Turquia e também trabalha com ONGs locais na Síria para socorrer as vítimas.

O secretário de Estado, Antony Blinken, insistiu que "os recursos serão destinados a todo o povo sírio, não para o regime" de Damasco liderado por Bashar al Assad, cujos apelos por ajuda receberam resposta apenas da aliada Rússia até o momento.

O diretor de operações da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Stephen Allen, afirmou em Ancara que todo o "apoio humanitário está direcionado agora para o noroeste da Síria".

O terremoto destruiu a passagem de fronteira de Bab al Hawa, por onde transita quase toda a ajuda humanitária da Turquia para as zonas rebeldes da Síria, segundo a ONU.

A tragédia desencadeou uma onda de solidariedade que vai da China à Ucrânia, passando pelos Emirados Árabes Unidos, que prometeu uma ajuda de 100 milhões de dólares.

Até a Arábia Saudita, que não tem relações diplomáticas com a Síria desde 2012, anunciou a criação de uma ponte aérea para ajudar as populações afetadas dos dois países.

Desabrigados pelo terremoto que deixou ao menos 268 mortos na Indonésia solicitavam, nesta quarta-feira (23), todo tipo de ajuda aos serviços de emergência, que enfrentam dificuldades para encontrar sobreviventes devido a tremores secundários e fortes chuvas.

As autoridades alertaram que os escombros precisam ser removidos com urgência na cidade de Cianjur, a mais atingida pelo terremoto, devido a possíveis enchentes e deslizamentos de terra que podem ser desencadeados por fortes chuvas esperadas para os próximos dias.

Um terremoto de 5,6 graus de magnitude atingiu a província de Java Ocidental, a mais populosa do arquipélago do Sudeste Asiático, na segunda-feira.

O balanço mais recente do desastre é de 268 mortos, 1.000 feridos e 151 desaparecidos.

Mas as fortes chuvas e os novos tremores secundários do terremoto desaceleraram as operações de busca por sobreviventes em uma dúzia de cidades, onde mais de 20.000 casas foram destruídas.

Um tremor secundário de magnitude 3,9 provocou pânico entre vários deslocados, que fugiram dos abrigos esta manhã, observaram jornalistas da AFP.

Dois vilarejos remotos permanecem isolados, segundo Henri Alfiandi, chefe do serviço de emergência, em um vídeo publicado nas redes sociais.

"As pessoas de lá não podem nem pedir ajuda", disse, lembrando que três helicópteros foram enviados para a área.

Os moradores estão bloqueados, sem água nem eletricidade, e alguns tiveram que dormir ao lado de mortos, detalhou.

Nas cidades mais próximas de Cianjur, os moradores tentavam recuperar fotos de família, livros religiosos e certidões de casamento entre os escombros.

- Risco de nova catástrofe natural -

"Temos ajuda alimentar, mas não é suficiente. Temos arroz, macarrão instantâneo e água mineral, mas não é suficiente", comentou à AFP Mustafa, 23 anos, morador da cidade de Gasol.

O jovem vasculhava os escombros da casa da vizinha idosa, a pedido dela. Ele então voltou com uma pilha de roupas, arroz, fogão a gás e panelas.

"Não temos roupa e não tomamos banho há dias", confessou.

"Precisamos de ajuda", diziam faixas colocadas em frente a casas e tendas danificadas no vilarejo de Talaga.

Mais de 58.000 pessoas foram deslocadas pelo terremoto, informou a agência de gerenciamento de desastres na terça-feira.

O governo mobilizou milhares de militares e policiais. Também fornece ajuda alimentar e tendas, mas as necessidades são imensas.

Yunisa Yuliani, 31 anos, detalha que não há mais nada no local.

"Meu filho está com febre e não consegue comer. Tem muitos idosos e crianças que precisam de leite, fraldas e remédios", diz.

Neste cenário desolador, moradores de Cianjur começaram a enterrar seus parentes de acordo com os ritos islâmicos depois que foram autorizados a retirar seus corpos dos necrotérios.

As autoridades alertaram para o risco de uma nova catástrofe natural.

Durante a estação de chuvas, que já começou e terminará em dezembro, o arquipélago é propenso a deslizamentos de terra e inundações repentinas.

Os serviços meteorológicos anunciam tempestades, que são potencialmente perigosas após um terremoto.

Localizada no "círculo de fogo" do Pacífico, onde as placas tectônicas se encontram, a Indonésia enfrenta regularmente terremotos ou erupções vulcânicas.

As equipe de resgate procuravam sobreviventes nesta terça-feira (22) entre a devastação provocada por um terremoto na ilha indonésia de Java que deixou 162 mortos, centenas de feridos e provavelmente muitas vítimas presas entre os escombros.

O epicentro do terremoto de segunda-feira (21), de 5,6 graus de magnitude e pouca profundidade, foi registrado nas proximidades da cidade de Cianjur, na província de Java Ocidental, a mais populosa do país.

Enquanto as equipes de resgate cadáveres dos edifícios destruídos, o foco era encontrar sobreviventes e chegar às áreas de difícil acesso devido aos bloqueios nas estradas.

Dimas Reviansyah, um socorrista de 34 anos, explicou que as equipes utilizam motosserras e escavadeiras para abrir caminho entre árvores caídas e escombros até os locais onde acreditam que podem encontrar civis.

"Não dormi desde ontem, mas tenho que continuar porque há vítimas que não foram encontradas", disse.

O presidente indonésio Joko Widodo deve visitar a região nesta terça-feira.

A Agência Indonésia de Gestão de Desastres (BNPB) afirmou na segunda-feira à noite que pelo menos 25 pessoas continuavam sob os escombros dos edifícios.

O comandante militar da região, Rudy Saladin, afirmou que o número de pessoas sepultadas pode ser maior.

Entre as vítimas há estudantes de um internato islâmico. Muitas vítimas fatais foram sepultadas por deslizamentos de terra ou pelo desabamento de suas casas.

"O quarto desabou e minhas pernas ficaram enterradas nos escombros. Tudo aconteceu tão rápido", disse à AFP Aprizal Mulyadi, uma estudante de 14 anos.

Ele conseguiu escapar graças à ajuda do amigo Zulfikar, que pouco depois faleceu ao ficar preso entre os escombros.

"Fiquei arrasado ao vê-lo preso, mas não consegui ajudá-lo porque minhas pernas e costas estavam feridas", explicou.

- "Não restou nada" -

A operação de resgate é prejudicada por bloqueios nas estradas e cortes de energia elétrica em algumas áreas desta zona rural e montanhosa.

Na manhã desta terça-feira, 89% da rede elétrica de Cianjur havia sido restabelecida, segundo a agência estatal Antara.

O governador de Java Ocidental, Ridwan Kamil, afirmou que quase 300 pessoas ficaram feridas e mais de 13.000 foram levadas para abrigos.

Muitas pessoas acamparam ao ar livre na escuridão quase total, cercadas por escombros, vidros quebrados e grandes pedaços de concreto.

Os médicos atendem os feridos em hospitais de campanha que foram improvisados após o terremoto, que também foi sentido na capital Jacarta.

Pessoas de luto aguardavam que as autoridades entregassem os corpos de seus familiares para os enterros de acordo com os ritos islâmicos.

Em um abrigo na localidade de Ciherang, perto de Cianjur, as pessoas tentavam entender a tragédia.

Nunung, uma mulher de 37 anos que como muitos indonésios tem apenas um nome, conseguiu retirar o filho de 12 anos dos escombros de sua casa.

"Gritei e pedi ajuda, mas ninguém veio. Tive que cavar para nos libertar", disse à AFP, com o rosto ainda coberto de sangue seco.

"Não restou nada. Não há nada que possa ser salvo, exceto as roupas que estamos vestindo", afirmou.

A destruição foi agravada por uma onda de 62 tremores secundários, com magnitudes de 1,8 a 4 graus, na cidade de 175.000 habitantes.

A Indonésia registra com frequência terremotos por estar localizada na região conhecida como "círculo de fogo" do Pacífico, ponto de encontro de placas tectônicas.

O país continua marcado pelo terremoto de 26 de dezembro de 2004, de 9,1 graus de magnitude, na costa de Sumatra.

O tremor desencadeou um tsunami devastador que matou 220.000 pessoas na região, incluindo 170.000 na Indonésia, uma das maiores catástrofes naturais registradas na história.

Bombeiros e militares procuravam nesta terça-feira (6) sobreviventes entre os escombros após um forte terremoto no sudoeste da China, que matou pelo menos 65 pessoas e provocou muitos danos em edifícios e infraestruturas.

O balanço atualizado inclui 37 vítimas fatais no município autônomo tibetano de Garze e 28 no condado vizinho de Shimian, o que eleva o total a 65, informaram o canal CCTV e o jornal People Daily, vinculado ao Partido Comunista.

A imprensa também anunciou que o terremoto deixou quase 250 feridos e 12 desaparecidos.

O canal estatal CCTV informou que quase 200 pessoas estão bloqueadas no vale de Hailuo, uma zona turística de geleiras que fica a mais de 2.850 metros de altitude.

O terremoto de 6,6 graus de magnitude aconteceu na segunda-feira pouco antes das 13H00 (2H00 de Brasília), a 10 quilômetros de profundidade na província de Sichuan, segundo o Centro Geológico dos Estados Unidos.

O epicentro foi localizado no condado de Luding, uma área de vales, rios caudalosos e estradas estreitas perto do planalto tibetano, quase 200 quilômetros ao oeste da capital provincial Chengdu.

A CCTV exibiu nesta terça-feira vídeos dos bombeiros retirando o corpo de uma mulher dos escombros ou transportando um ferido em uma maca por uma ponte improvisada sobre um rio.

Outras imagens mostraram imóveis de madeira e concreto com as marcas do terremoto: alguns desabaram parcialmente.

Algumas estradas, que viraram ruínas ou foram divididas pelo terremoto, não podem ser utilizadas, o que obriga as equipes de emergência a atravessar rios por pontes improvisadas ou com cabos posicionados entre as duas margens.

- Militares mobilizados -

O exército chinês anunciou a mobilização de 1.900 militares para participar nas buscas dos desaparecidos e socorrer a população.

A imprensa estatal também divulgou imagens de moradores temporariamente realojados em grandes barracas azuis e recebendo comida e água dos soldados.

O terremoto também foi sentido em edifícios na capital provincial de Chengdu, onde milhões de pessoas estão em confinamento por um surto de covid, e na grande cidade de Chongqing.

"Escutei um barulho muito alto. A casa sacudia tão forte que acordei na mesma hora", disse ao jornal Beijing News uma moradora do condado de Lu, identificada apenas como Zheng.

"A casa do meu irmão desabou. A casa dele é antiga, construída há mais de 10 anos. A minha é nova, a situação é melhor", explicou.

Depois do terremoto, a zona registrou ao menos 10 tremores secundários de 3 graus de magnitude ou superiores, de acordo com o Centro Chinês de Redes Sísmicas.

- Previsão de chuvas -

O presidente Xi Jinping fez um apelo na segunda-feira à noite para que o país faça "todo o possível para ajudar as pessoas afetadas e minimizar as perdas humanas", informou a agência oficial Xinhua.

A meteorologia prevê chuvas para os próximos dias na área mais afetada, o que pode complicar as operações de resgate.

Os terremotos são relativamente comuns na China, em particular em Sichuan. Em junho, ao menos quatro pessoas morreram e dezenas ficaram feridas em dois terremotos.

Em 2008, a região foi cenário de um terremoto de 7,9 graus de magnitude, que deixou 87.000 mortos ou desaparecidos, incluindo milhares de estudantes.

O sul da China também sofreu nos últimos meses uma onda de calor extremo, com temperaturas recordes que provocaram a seca dos rios de Chongqing.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando