Tópicos | terreiros

As ruas do Recife foram ocupadas, nesta quarta-feira (1º), por nações e terreiros de religiões de matriz africana para a celebração sagrada da 17ª Caminha de Terreiros de Pernambuco. O evento, que acontece em todo início de novembro, marca a abertura do mês da consciência negra, e levanta como tema principal a luta contra a discriminação religiosa e o racismo. A concentração acontece na Avenida Alfredo Lisboa, no Marco Zero, localizado no bairro do Recife, e a caminhada segue até o Pátio de São Pedro, no bairro de São José, também no centro da cidade, onde é celebrada a Jurema, tradição religiosa que faz parte de várias religiões afroameríndias do nordeste brasileiro. 

[@#galeria#@] 

##RECOMENDA##

A caminhada chega na sua 17ª edição contando com o apoio dos poderes executivo e legislativo, e levando uma multidão de fiéis às ruas, como explica o coordenador de cerimonial, Demir da Hora. “[A celebração serve para] abrir o mês da consciência negra, e sempre naquela luta contra o racismo, contra a intolerância religiosa, e dando mais atenção à cultura afro em geral, à religiosidade afro. A gente vive em um país laico onde a cultura negra é a mais escanteada, por causa de preconceito, discriminação, e a caminha de terreiro veio justamente pra isso, para abrir espaço com a cultura afro, com a religiosidade afro. Você vê um mar de gente de branco passeando pela cidade do Recife, essa é a marca principal da caminhada de terreiros, para mostrar a força que tem a religião afro-brasileira", comenta da Hora. 

Demir da Hora. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

O trajeto tradicional da caminhada perpassa ruas importantes do centro da cidade, mesmo havendo alguns bloqueios atuais determinados pela Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), devido às obras na ponte 12 de setembro, conhecida como Ponte Giratória. A caminhada, no entanto, deverá passar pelas avenidas Guararapes e Dantas Barreto, no bairro de Santo Antônio, para terminar no Pátio de São Pedro. 

Dedicação e fé na caminhada 

Há 17 anos que a Caminhada de Terreiros de Pernambuco é coordenada por Mãe Elza de Yemanjá, que é a responsável pela articulação e realização das celebrações no Recife, concentrando terreiros e nações de maracatu de todo o estado. “Nós vamos hoje comemorar as datas votivas exatamente a questão antirracista. A caminha é isso, é combater racismo, é trazer cultura de paz, é falar com outros credos. Muita gente envolvida, os budistas, os batistas, os Fé Bahá'í, os espíritas, candomblé, Jurema e Umbanda, as religiões estão todas muito ‘linkadas’ a esse combate. Existe um fórum, chamado Diálogos, que traz esse recorte de viabilizar políticas públicas que combatam realmente o racismo, que tragam recortes pra população negra e de terreiro. A caminha é esse misto de emoção”, comentou. 

Mãe Elza de Yeamanjá. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

Ela contou a origem da caminhada, e de onde veio a necessidade de reafirmar as religiões de matriz africana na cidade. “A prefeitura [do Recife] tinha esse movimento com a igualdade racial, os governos tinham, e falaram aos terreiros da necessidade de celebrar religiosamente a questão da abertura do mês da consciência negra. E aí, nós estávamos na reunião, e eles perguntaram ‘como a gente faria isso?’, e eu disse ‘por que não ir às ruas? Por que não fazer uma caminhada?’. E aí a ideia pegou todo mundo, congelou todo mundo. Hoje nós temos um decreto, uma lei, que diz que a gente celebra o mês da consciência negra, ou seja, os terreiros celebram, sempre com um tema primordial, que é contra o racismo e contra a discriminação religiosa”, relatou a Ialorixá. 

Conquistas das religiões 

Mãe Elza ainda falou das conquistas alcançadas pelas religiões de matrizes africanas por meio de leis e estatutos criados e sancionados pelo governo do estado. “Estamos esperando essa política começar a compreender todo o entorno. Muito importante que agora temos o estatuto de igualdade racial no estado, sancionado por Raquel Lyra (PSDB). E é isso, é batalhar, correr atrás das políticas voltadas à população de terreiro”, afirmou. 

Caminhada tomou as ruas do Recife. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

A caminhada concentra cerca de 40 a 45 mil pessoas, com a participação de milhares de terreiros de todo o estado. “A cada ano se compreende melhor o processo. É importante frisar que estamos falando de racismo, e os terreiros desacreditaram no governo. Então esses terreiros se fecharam em copas, até compreender que de fato é preciso estar na rua, reclamando seus direitos, para poderem ser ouvidos pelos governos. Agora eles estão chegando mais, se aproximando mais”, disse Mãe Elza. 

A passeata reúne representações de terreiros de Caruaru, Petrolina, Gravatá, Goiana, Limoeiro, Carpina, Catende, além dos municípios da Região Metropolitana do Recife. 

Homenageados 

A cerimônia de início da caminhada contou ainda com homenagens feitas a personalidades de terreiros e de outros poderes, como o judiciário, além de políticos que estão à frente dos debates pela causa racial no legislativo. Estiveram presentes na celebração as deputadas estaduais Dani Portela (PSOL), Rosa Amorim (PT), e o deputado estadual João Paulo (PT). 

Dani Portela (PSOL). Foto: Júlio Gomes/LeiaJá 

São 11 pessoas homenageadas, entre elas três pessoas de terreiro que foram escolhidos no momento da cerimônia. Ainda foram nomeados: o advogado Évio Silva Junior; o senador Humberto Costa (PT-PE); duas juízas, entre elas Luciana Maranhão; o deputado federal Carlos Veras (PT-PE); o professor da Universidade Federal de Pernambuco, Carlos Tomas; Fábio Sotero, da Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (AMANPE); entre outros. 

 

A Prefeitura de Paulista realizou, nesta terça-feira (29), mais uma edição da ação Saúde e Cidadania nos Terreiros. Desta vez, a iniciativa aconteceu no Terreiro Ilê Asé Omòlomím, localizado na Rua Barão de Cotegipe, 59, em Arthur Lundgren I. Além de diversos serviços oferecidos pelo governo municipal, também houve uma palestra com o Babalorixá Marcelo de Iemanjá, em alusão ao Dia da Consciência Negra.

A iniciativa tem como objetivo levar serviços da gestão, por meio da Coordenação da Saúde da População Negra, vinculada à Secretaria de Saúde, e da Diretoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, vinculada à Secretaria de Políticas Sociais e Direitos Humanos do município. 

##RECOMENDA##

Em relação à palestra, o intuito é ressaltar a importância dos povos de comunidades tradicionais de matriz africana e afro-indígena, assim como as lutas e barreiras enfrentadas na atualidade. “Essa ação está sendo muito importante para a comunidade. Aqui, o pessoal precisa muito, e esses serviços são muito bem-vindos. Se Deus permitir, que venham mais ações “, disse Carla da Paz, moradora da Comunidade Barão de Cotegipe. 

Foram ofertados serviços à saúde como a aferição de pressão e glicose; avaliação nutricional; atendimento clínico geral; citologia (preventivo do câncer de colo de útero) para mulheres de 25 a 64 anos. Também houve distribuição de hipoclorito; orientação de saúde bucal; testagem e orientações sobre IST/Aids e distribuição de preservativo; vacinação contra a Covid-19 e a Influenza, e vacinação antirrábica.

Já em relação a Políticas Sociais e Direitos Humanos, a população foi beneficiada com cadastro de crianças com autismo; Vem Livre Acesso; inclusão e atualização do Cadastro Único; Programa Auxílio Brasil; encaminhamento para solicitação de segunda via de certidão de nascimento, casamento e óbito; orientações sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC - LOAS) ; orientações sobre o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV); cadastramento das comunidades tradicionais de matriz africana e afro-indígena (manhã e tarde); orientação sobre o enfrentamento ao racismo; orientação jurídica de Direitos Humanos.

“Agradecemos a Prefeitura do Paulista por fazer essa ação aqui. Esses serviços de saúde e de políticas sociais, serviços do CRAS, são importantes para as pessoas, e trazer isso para dentro da comunidade ajuda bastante”, destacou o Babalorixá Marcelo de Iemanjá.

Da assessoria

Em Paulista, Ação de Saúde e Cidadania nos Terreiros chega ao bairro do Fragoso  Mamografia, emissão do Cartão SUS e orientações jurídicas são alguns dos serviços  O bairro do Fragoso, em Paulista, receberá nesta sexta-feira (26) o programa Ação de Saúde e Cidadania nos Terreiros. As atividades acontecerão, das 9h às 16h, no Terreiro Ilê Omim Axé Ôboto Lein, na Avenida Benjamin, 1456, no Fragoso. O templo religioso é coordenado pelo Babalorixá Fernando T’Obotô.   

A população será atendida com mamografia, emissão do cartão SUS, testagem e orientações sobre IST/AIDS, distribuição de preservativos, orientações jurídicas, cadastramento das comunidades tradicionais de matrizes africanas e afro-indígenas, entre outras iniciativas. 

##RECOMENDA##

O trabalho é fruto de uma parceria selada pelas secretarias de Saúde e de Políticas Sociais e Direitos Humanos da cidade.

*Da assessoria 

A Prefeitura de Paulista vai realizar na próxima sexta-feira (29), das 8h às 17h, mais uma edição do programa Ações de Saúde e Cidadania nos Terreiros. O trabalho ofertará ao público atendimento médico, mamografia, citologia, vacinação contra Covid-19. 

As atividades ficarão concentradas no Centro Espiritualista a Caminho de Aruanda, no Loteamento Nossa de Fátima, na Rua São Francisco, 70, em Jardim Maranguape. 

##RECOMENDA##

Na programação constam também orientações sobre saúde bucal, nutrição, saúde do idoso, IST/AIDS e abordagens acerca das vigilâncias Ambiental, Sanitária e Epidemiológica, além do repasse de informações de enfrentamento ao racismo. Os serviços serão promovidos, sob a coordenação das secretarias de Saúde e de Políticas Sociais e Direitos Humanos.

O município de Sumaré, no Interior de São Paulo, sofre uma onda de intolerância religiosa contra terreiros de Umbanda. Três casas foram vandalizadas desde setembro e fieis estão apreensivos pela falta de uma atuação mais contundente do Poder Público.

Imagens quebradas e roupas de santo rasgadas junto com peles de tambores utilizados nas giras (cultos) descrevem o rastro de destruição deixado nas casas pelos criminosos. As informações são da Folha de S. Paulo.

##RECOMENDA##

"Sumaré está esperando um corpo de um pai ou uma mãe de santo estendido no meio do terreiro, com um tiro no peito, para selar a intolerância religiosa e o racismo religioso", afirmou Fabiana Cavalcanti, dirigente da Casa de Caridade Pai João de Oyó, que fala pela maioria dos pais e mães de santo da cidade. 

Em um intervalo de 90 dias, o primeiro ataque ocorreu na madrugada de 11 de setembro, no Terreiro Oxalá e Iemanjá, no Jardim Bela Vista, onde até o relógio de energia foi arrancado do poste. Menos de um mês depois, na manhã do dia 7 de outubro, o alvo foi a casa espiritual Pai João da Guiné, no Jardim Picerno. O terceiro local foi depredado no início de novembro, mas não chegou a ser invadido. Teve a fachada vandalizada e o toldo removido.

Os relatos convergem sobre a presença de um Chevrolet Corsa, que costuma rondar os terreiros antes dos ataques. A placa foi levantada e consta como um modelo Meriva. "Vários pais e mães reclamaram sobre isso. Disseram que ele passa bem devagar, tira várias fotografias e sai cantando pneu. Estamos bem apreensivos", comentou Fabiana.

Devido ao medo de novos ataques, religiosos começaram a vigiar as casas na tentativa de identificar os criminosos. "Cada casa coloca um dos filhos para vigiar a entrada. É perigoso, mas orientamos para apenas tentar tirar fotos e filmar", apontou a representante.

Os pais e mães de santo destacam que procuraram políticos locais desde a primeira invasão e acionaram o Ministério Público, mas nenhuma ação foi percebida na prática e eles ainda teme pela insegurança.

"É dever do Estado proteger o cidadão e a casa de oração, seja ela católica, evangélica, budista, kardecista, seja de matriz africana. Sentir esse racismo religioso, essa intolerância religiosa comendo a gente vivo, deixa a gente bastante chateado", critica Fabiana.

O Ministério Público comunicou que um inquérito foi instaurado, mas não sabe a quantidade de boletins relacionados à intolerância religiosa que foram registrados desde o ano passado. A justificativa é que o Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo ainda não repassou as informações.

Na quinta (25), o presidente da Câmara Municipal, o vereador William Souza (PT), encaminhou ofícios à Secretaria Municipal de Segurança Pública, ao comandante do 48º Batalhão da Polícia Militar do Interior e ao delegado de Sumaré.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado confirmou a investigação no 2º Departamento de Polícia de Sumaré do caso ocorrido em outubro. "A unidade também investiga um fruto de fios em um centro espírita ocorrido em 11 de setembro. Diligência prosseguem visando a identificação dos autores de ambos os delitos. Quanto ao B.O registrado pela Delegacia Eletrônica, o mesmo foi indeferido por divergências nos dados", complementou.

O 2º Seminário Patrimonialização e Musealização de Bens Culturais de Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, também chamado de Seminário de Terreiros, está com inscrições abertas para um minicurso sobre inventário de acervos. O evento acontece de 1º a 5 de março, com programação on-line transmitida pelo canal do YouTube da Secult-PE/Fundarpe.

A agenda inclui ainda rodas de conversa e até uma visita guiada virtual à Comunidade do Ilê Axé Oya Megue, conhecida como Terreiro da Nação Xambá. Na edição deste ano, a organização precisou abrir mão dos encontros presenciais, por causa da pandemia da Covid-19. Com as mesas e as lives abertas ao público geral pela internet, a necessidade de inscrição será apenas para o minicurso que acontece nos dias 4 e 5 de março, das 14h às 16h.

##RECOMENDA##

O tema será Inventário de Acervos de Terreiros, com aulas ministradas por Shari Almeida (museóloga do Iphan-PE) e Daiane Carvalho (museóloga do Museu da Abolição e do Instituto Brasileiro dos Museus). São 30 vagas e os encontros acontecem pela plataforma Google Meet. 

*Da assessoria

Em meio ao caos da pandemia do coronavírus, os terreiros de matriz africanas localizados na Região Metropolitana do Recife resolveram suspender suas atividades por tempo indeterminado. O Conselho Religioso do Terreiro Nagô Ilé Àṣẹ Òrìṣànlá Tàlábí emitiu um comunicado no Facebook a respeito da disseminação do Covid-19 no estado.

"Comunicamos aos familiares, amigos, consulentes, visitantes e moradores do entorno do Terreiro que as festividades, as consultas espirituais, as visitas pré-agendadas e as atividades socioculturais (oficinas, vivências, seminários, ações e projetos) estão temporariamente suspensas, até que se reestabeleça a segurança para convivência social comum", diz um trecho da nota.

##RECOMENDA##

De acordo com o Terreiro Nagô, a ideia de interromper os trabalhos religiosos é um dever de zelar pela vida e saúde dos membros das comunidades, além de preservar a segurança da população que está assustada com o avanço da doença.

[@#video#@]

O Museu do Estado de Pernambuco, localizado na Zona do Norte do Recife, recebe nesta terça-feira (23), o lançamento da exposição ‘Agô’, da fotógrafa Roberta Guimarães. A mostra fica disponível para visitação até o dia 2 de junho e exalta os terreiros de candomblé de Pernambuco.

Com 40 imagens, o trabalho é fruto de três anos de pesquisa realizada por Roberta em 14 terreiros de xangô do Estado. O trabalho também resultou no livro “O Sagrado, a pessoa e o orixá”, lançado em 2013. Nos registos, são mostrados particularidades dos rituais, respeitando a tradição e a religiosidade. “O xangô faz parte da nossa identidade, da nossa cultura, e nos ensina sobre amor, afeto e tolerância”, diz Roberta.

##RECOMENDA##

A exposição contará com áudiodescrição para as fotos expostas, com libras e legendas, além de visitas guiadas direcionadas a pessoas com deficiência visual e auditiva. A entrada na abertura da exposição é gratuita. Nos outros dias, a entrada é o valor de acesso do museu: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia).

Serviço

Exposição 'Agô'

Terça a sexta | 9h às 17h; Sábados e domingos | 14h às 17h

 Museu do Estado de Pernambuco (Av. Rui Barbosa, 960 - Graças, Recife) 

R$ 6 e R$ 3 (meia)

“Tudo se resolve com amor e respeito”. É assim que Mãe Sônia da Silva, da Nação Ketu, sintetiza a 11ª edição da Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, realizada pela Associação Caminhada dos Terreiros de Pernambuco (ACTP) nesta quarta-feira (1). Concentrados no Marco Zero desde as 14h, representantes de quase todos os 3 mil terreiros do Estado se reuniram para pedir respeito às religiões de matriz africana. 

De acordo com Pai Cleiton de Oxum, uma das lideranças religiosas presentes, o objetivo da caminhada é tão político quanto religioso. “Essa caminhada abre o mês da consciência negra e tem a intenção de reivindicar políticas públicas para o nosso povo e dizer não à intolerância religiosa, que está muito forte. Serão muitas as falas políticas, voltadas para questões como a inclusão das pessoas LGBT, o fim do extermínio da juventude negra e a igualdade racial”, comenta. De acordo com Pai Cleiton, a Caminhada deve agregar representações de terreiros de todo o estado. “Temos aqui pessoas de cidades como Serra Talhada, Goiana, Itambé, Caruaru, Paudalho e Palmares”, completa. 

##RECOMENDA##

Nicole Ellen, Antony Alef e Anne Beatriz mostram com orgulho os trajes do candomblé durante a Caminhada. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens) 

Adepto do candomblé, Antony Alef exibe com orgulho as vestimentas de sua religião. “Muitas pessoas tem medo de se mostrar com nossos trajes, por medo. A intolerância é muito grande, mas se a gente não botar a cara, se a gente não se vestir com as nossas roupas e se esconder, não vai conquistar nossos direitos nunca”, afirma. A filha de santo Anne Beatriz destaca ainda a oportunidade de fortalecer sua fé no evento. “Todo ano estou presente. Nos deixa mais firmes mostrar para as pessoas que o candomblé é uma religião de acolhimento. Num terreiro se constrói uma família de axé, onde um ajuda o outro. Também temos Deus em nossa vida”, coloca. 

[@#galeria#@]

Um dos organizadores da caminhada, o “Abiã” (iniciante na religião) Ricardo Veríssimo pontua que o itinerário do cortejo reforça seu teor político. “O trajeto inclui trechos históricos do Recife para as mobilizações sociais, como o Palácio do Campo das Princesas e a Rua do Sol, sendo finalizado no Pátio de São Pedro, local que sempre sediou manifestações afro-brasileiras”, explica. 

A “Frevioca” foi disponibilizada pela Prefeitura do Recife para acompanhar a Caminhada. A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) também preparou operação especial de trânsito para acompanhar o evento, com agentes de trânsito sendo destacados para a Ponte Giratória, ruas da Moeda e Vigário Tenório, além da Avenida Alfredo Lisboa. 

Diálogos


A budista Floridalva Cavalcanti foi ao cortejo para demonstrar apoio à diversidade religiosa. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

Em meio à multidão trajada de branco, as vestes monásticas vermelhas de Floridalva Cavalcanti, uma das integrantes do Centro de Estudos Budistas Bodsatva (CEBB), logo se destacam. “O CEBB Recife compõe o Fórum da Diversidade Religiosa de Pernambuco (Diálogo), junto a instituições de diversas religiões, como o judaísmo e o islamismo. Nosso objetivo é promover ações de combate à intolerância religiosa”, explica. Lançado em dezembro de 2012, o Fórum é produto da reunião de diversas lideranças religiosas de Pernambuco, unidas pelo desejo de promover a tolerância. “Vimos uma possibilidade de nos conhecermos e nos respeitarmos. A gente veio mostrar que está junto ao povo dos terreiros”, conclui.

[@#video#@]

O Grupo Teatral Ariano Suassuna, de Igarassu, abre temporada de encenações do espetáculo 'Ganga meu Ganga, o rei', por oito terreiros de Candomblé e Umbanda da Região Metropolitana do Recife. Com o propósito de desmistificar o preconceito religioso e difundir a influência africana no Estado, o espetáculo é aberto a todos os públicos. As apresentações serão seguidas de debates com a plateia e contarão com intérprete de libras.

Com oito atores em seu elenco, 'Ganga meu Ganga, o rei', tem como palco os próprios espaços religiosos. Em cena, os personagens falam de romance e drama dentro da perspectiva da religião de matriz africana. No próximo domingo (8), a encenação será no centro Espírita Palácio de Iemanjá, em Araçoiaba. Em seguida, o circuito passará por por Abreu e Lima, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista e Itamaracá, sempre aos domingos, até novembro.

##RECOMENDA##

Programação

Domingo (8) | 19h

CENTRO ESPÍRITA PALÁCIO DE IEMANJÁ

Rua João José De Freitas, Nº 40, Centro.

ARAÇOIABA/PE

Gratuito

15 DE OUTUBRO | 19h

AXÉ LAYRA OMIM KAIA LOFIMRua transamazônica, nº 575

ABREU E LIMA/PE

Gratuito

22 DE OUTUBRO | 19h

ILÊ AXÉ OMÔ OGUNDÊ

Travessa Joaquim Távora, 794.

PAULISTA/PE

Gratuito

29 DE OUTUBRO | (a definir: local e horário)

OLINDA/PE

[@#relacionadas#@]

A 1ª Plenária Povo de Terreiro e Políticas Públicas será realizada, nesta sexta (5), no Nascedouro de Peixinhos, a partir das 14h, em Olinda. A finalidade da reunião é ampliar o debate sobre a participação das lideranças do segmento na disputa eleitoral, bem como na construção de políticas públicas de promoção de igualdade racial, de cultura e educação das gestões atuais.

São oferecidas 100 vagas e será concedido certificado aos participantes. Os interessados em participar podem se inscrever através do e-mail quilombo.cultural.malunguinho@gmail.com fornecendo o nome completo, RG, nome do terreiro ou instituição a qual é ligado e o telefone. 

##RECOMENDA##

Mais informações pelo número (81) 9 9901-3736 ou 9 9525-7119.

Confira na íntegra a programação: 

14h - Palestra: Povo de Terreiro e Políticas Públicas

Conferencista: Dra. Vera Baroni - Advogada e militante histórica da luta do povo negro e de terreiro - Rede Estadual de Mulheres de Terreiro e Uiala Mukaji.

Debatedores:

Alexandre Dias – Professor Pedagogo e Diretor do Afro Educação – São Lourenço da Mata/PE

Alexandre L’Omi L’Odò – Historiador e mestrando em Ciências da Religião e coordenador do Quilombo Cultural Malunguinho – Olinda/PE

14:45h – Debate

15h30 - Mesa Redonda: Povo de Terreiro e Eleições 2016 – Construção de um entendimento político coletivo para o bem comum

Coordenação de Mesa: Professor Omo Xangô João Monteiro – Historiador e Coordenador do Àbámodá.

16h30 - Debate

17h - Lançamento da campanha: “Quem é de Terreiro Vota em quem é de Terreiro”!

Ritual de encerramento

No Brasil, as religiões de matriz africana são perseguidas desde que chegaram às terras do pau-brasil, no início do século 16. Mais de 500 anos depois, apesar de na teoria a Constituiçao Brasileira garantir que o país é um Estado laico e resguardar a liberdade de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos pela Legislação Federal, ainda há muito chão a se conquistar na prática. Visto como algo penoso pela sociedade, o sacricício de animais, para adeptos do Candomblé e de outras religiões oriundas da África, representa uma troca de energia vital com os deuses e com a natureza. 

De acordo com o último censo do IBGE, de 2010, menos de 1% da população brasileira pratica as religiões de matrizes africanas. O balanço detalha ainda que há cerca de 407 mil praticantes da umbanda, 167 mil do candomblé e cerca de 14 mil de outras religiões com diretrizes africanas. Em uma pesquisa divulgada pelo Instituto Pew Research Center, com sede nos Estados Unidos, 5,2 bilhões de pessoas, 75% da população do mundo,] vivem em locais com restrições a crenças. 

##RECOMENDA##

Para o Candomblé, o sacrifício animal e a alimentação dos adeptos são pilares essenciais na perpetuação da religião. "Nós comemos diferente porque fomos escravizados e obrigados a comer coisas que não comíamos na África. Descobrimos nesses alimentos temperos e valores diferenciados, mas que tinham um grande sabor", explica Mãe Elza de Iemanjá, do terreiro Ilê Asé Egbé Awo, localizado em Salgadinho, Olinda.

[@#galeria#@]

Para ela, o preconceito e a desinformação são empecilhos para o entendimento da prática da imolação dos bichos. "Somos demonizados. Isso é uma grande hipocrisia. O ato de se alimentar é uma necessidade para se manter vivo. Cada tradição e cada país come de uma maneira diferente", argumenta a religiosa.

Historicamente contestadas, as religiões afro­brasileiras têm de enfrentar combates também no campo político. Em 2015, entrou em votação o projeto de lei (PL 21/2015) da Deputada Estadual Regina Becker (PDT) do Rio Grande do Sul, que visa proibir o sacrifício de animais em rituais religiosos. Especialista no estudo das religiões afro­brasileiras, o doutorando Cauê Fraga, explica que é impossível que o culto aos orixás seja realizado sem o abate dos animais.

"O orixá não existe sem se alimentar. O sangue é o alimento mais forte, por excelência, o orixá só é assentado [quando se cria local para o culto ao orixá] através do sangue. E não existe a religião sem orixá, porque eu acredito que esses orixás não estão dispostos a deixar de comer”, diz o estudioso. Nas cerimônias de liturgia dos cultos, após alimentar o orixá, grande parte do animal sacrificado é consumida entre os presentes no culto.

Defensora animal critica "seitas africanas"

Para a a ativista da causa animal Goretti Queiroz, o sacrifício de animais em cultos religiosos deveria ser considerado crime. "Eu acho um absurdo que os animais sejam alvo de maus-tratos por parte dessas seitas africanas. Eu vejo isso como um crime. Outras religiões oferecem pra frutas e vegetais pra entidades, acho que tem que ser por esse caminho. Acredito na espiritualidade dos animais e acho inaceitável essas cerimônias, principalmente em locais públicos", explicou.

Por outro lado, o pesquisador de religião e mídia Evandro Bonfim contesta a visão da ativista. "A argumentação das entidades de proteção aos animais geralmente são fundamentadas em um evolucionismo, taxando os rituais como obscurantistas, e um universalismo, como se as relações das pessoas com os animais – e os deuses – fossem as mesmas que encontramos no capitalismo ocidental", salienta.

Ele assevera que a ideia de tornar crime o sacrifício de animais é puramente racista. "É importante perceber como velhas ideias entram novamente em pauta, cassando direitos como a liberdade religiosa de grupos secularmente perseguidos justamente por tentarem resistir ao apagamento de tudo que realizaram como povo, como é o caso das diversas etnias africanas que fazem parte da população brasileira", diz Bonfim. 

Para a Mãe Elza de Iemanjá, que é uma das organizadoras da Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, tudo não passa de hipocrisia. "Algumas pessoas dizem que fazemos um massacre animal. As mesmas compram galinha passaram dias sendo maltratadas em granjas. Ou em grandes, vivem pedindo carnes mal passadas com o sangue escorrendo", diz a religiosa.

[@#video#@]

Ela argumenta ainda que a sociedade fecha os olhos para os verdadeiros maus-tratos dos animais em grandes abatedouros. "Quando eu crio uma galinha ou um bode, por exemplo, pra que esse animal no futuro me alimente, eu faço isso de forma muito sagrada. Ele passa anos sendo criado no ambiente que eu convivo. Não existe o massacre que tanto falam", completa.

Intolerância

A liberdade de crença é uma das garantias do Estatuto da Igualdade Racial, Lei Federal12.288/2010. Já a Lei 9.459, de 1997, considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões. Ninguém pode ser discriminado em razão de credo religioso. Apesar do respaldo na Lei, a realidade de quem cultua os orixás diariamente ainda é dura.  "Sempre houve uma intolerância religiosa e perseguição contra tudo que é vindo da África.  Mas nós temos o direito da crença, da nossa liberdade religiosa e o direito de comer diferente", afirma a Mãe Elza.

Entre a resistência da demonização da sociedade às práticas culturais das religiões de matriz africana, os projetos de lei que tentam criminalizar o ato e a grande cadeia de desinformação divulgada pela mídia, os terreiros ainda resistem em Pernambuco. "Bancadas de outras religiões possuem participação ativa nesses projetos. Chamamos de guerra santa contra os cultos afro-brasileiros vestidos sob a forma de demandas mais seculares, como razões sanitárias e direitos dos animais", argumenta Bonfim.

Para a Mãe Elza, a luta continua diariamente contra o preconceito e o racismo. "Ninguém resistiria a essa perseguição histórica. Nós temos uma força que eles não nos tiram, temos a natureza presente em nós", aponta. A religiosa conta que os terreiros estão sempre de portas abertas para receber novos adeptos que queiram aprender mais sobre a cultura africana e seus rituais.


Integrantes de terreiros de Olinda, receberão treinamento de combate a Dengue, em oficiana que acontece nesta terça-feira (3), no auditório no auditório da Policlínica Barros Barreto, rua Rufino Gonçalves, Carmo, das 8h às 12h, promovido pela  Coordenação da População Negra da Secretaria de Saúde de Olinda em parceria com o Centro de Vigilância Ambiental de Olinda (CEVAO).

A idéia é inibir a proliferação do mosquito causador da doênca, formando agentes multiplicadores. A oficina será ministrada pela diretora do Centro de Vigilância Ambiental (CEVAO), Dra. Ridelane Veiga. Cerca de 30 lideranças religiosas do Candomblé, Umbanda e Jurema irão participar do evento. 

##RECOMENDA##

Além de debates sobre o tema, será exibido filmes para o público alvo.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando